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Algumas considerações
1 – Meio de cultura
# Farinha de arroz integral: melhor moer a sua própria, 1 dia antes de fazer o
meio, mas a comprada pronta também funciona. Procure em lojas de produtos
naturais. Elas têm arroz integral e às vezes a farinha. Evite as que são muito
torradas. Pode-se moer também arroz com casca, em vez do arroz integral.
# Água: use uma água mineral sem gás, de pH tendendo a neutro, em TODO o
processo. A água de torneira geralmente tem cloro, e prejudica o crescimento do
micélio. Água doce de fonte, de rios, de lagos, etc. é uma boa alternativa, desde que
sem poluentes.
# Preparação
Meça o volume necessário das sementes de pássaros, secas. Elas devem ser colocadas
em água e levadas ao fogo. Para cada copo de sementes coloque 2 a 3 copos de água.
Esquente até ferver. Deixe fervendo por meia hora em fogo baixo. Complete a água para
não secar, se necessário. Em seguida escorra em um escorredor ou coador por meia
hora. A água escorrida pode ser reservada para usar na mistura. É cheia de nutrientes.
Após serem escorridas por meia hora as sementes estão prontas, com a quantidade certa
de água. Cada copo de sementes secas, após fervido e escorrido, fica com o volume
aproximado de 2,5 a 3 copos. Meça e misture a vermiculita e a farinha de arroz integral,
secas, nas proporções correspondentes. A quantidade de água a ser adicionada nessa
mistura de vermiculita e farinha de arroz é de 40 a 60 ml para cada copo da mistura. Se
você reservou a água da fervura das sementes use-a agora, no lugar de água mineral.
Junte as sementes de pássaros fervidas e escorridas. Após tudo misturado o meio não
pode ficar cheio de água. Ele fica no máximo úmido ao toque. Se ficar sobrando muita
água é porque algo deu errado. Como norma de regra, falta de água é melhor do que o
excesso. Após misturar bem, prepare-se para colocar o meio nos vidros.
Para retirar o bolo do vidro prepare primeiro o terrário. Em seguida tenha junto uma
base para o bolo. Você pode fazer uma de papel alumínio, no formato e tamanho da
tampa do vidro, ou usar um pires, por exemplo. Tire a(s) tampa(s), coloque a base
inverta o vidro e solte o bolo com tapas suaves, se ele não se soltar com o próprio peso.
Contaminação: Nem sempre a cultura ocorre que nem o esperado. A maior fonte de
problemas é a contaminação por outros fungos e bactérias. O micélio de P.cubensis é
branco, brilhante ou quase. Áreas amareladas podem ocorrer em contato com gotas ou
acumulo de água no vidro. Qualquer outra cor indica crescimento de contaminantes. São
comuns contaminantes amarelos, pretos, verdes e marrons. Contaminantes brancos são
raros em vidros de cultura, mas podem ocorrer. Nesse caso você vai distingui-los pela
textura diferente da do micélio. Se ocorrer contaminação, aborte o vidro, mesmo que o
micélio pareça estar sufocando o contaminante. Você não vai querer arriscar ter
substâncias tóxicas junto aos seus cogumelos. Mesmo se a colonização transcorrer
normal, se quando você tirar o bolo do vidro sentir um cheiro forte de azedo ou amargo
pode haver contaminação por bactérias. Descarte o vidro. O cheiro normal da cultura é
suave. Dependendo da pessoa é percebido como levemente doce/azedo ou cheiro de
mofo. Mesmo com o vidro 100% colonizado e com a cor correta, branco, podem surgir
manchas de outra cor na fase final da colonização. Descarte o vidro contaminado.
Se você perder uma percentagem grande de vidros para a contaminação revise seus
métodos de cultura e esterilização. Seja mais rigoroso nas técnicas.
É o lugar onde vai ocorrer a fase final da cultura, onde vão surgir os cogumelos.
Basicamente o terrário é um recipiente que serve para proteger os bolos e os cogumelos,
e manter um meio ambiente propício à produção.
# Umidade: É desejável que a umidade do terrário seja alta. Isso pode ser conseguido
com uma ou a combinação de várias técnicas.
Umidificador: produz vapor d’água, que se for quente deve ser resfriado antes
de chegar ao terrário.
Fundo de material poroso: mantendo-se um fundo destes parcialmente
umedecido, há uma evaporação contínua, que aumenta bem a umidade. O ideal é
usar perlita, mas esse material não é disponível no Brasil na forma ideal para uso
em culturas. Na falta de perlita uma mistura de pedra pome, areia e vermiculita
deve ser a melhor alternativa. Pode acumular água no fundo e ser necessário
drenar de vez em quando. Materiais orgânicos como xaxim em pó se
contaminam rapidamente, então são inúteis.
Borbulhadores de aquário: servem para aumentar um pouco a umidade. Se o
circuito for interno, quer dizer, com o borbulhador dentro do terrário, é mais
eficiente em elevar a umidade. Com o borbulhador fora do aquário a troca de ar
é favorecida, e você praticamente não precisa se preocupar com o acúmulo de
CO2. Em um terrário sem troca de ar, pelo menos uma vez ao dia você deve
abrí-lo e deixar ventilar, para a entrada de oxigênio e a saída de gás carbônico.
Lembro que fungos não são plantas, e não fazem fotossíntese. Eles respiram
oxigênio e excretam gás carbônico o tempo inteiro.
Pulverizador: esses pulverizadores comuns de jardins. O spray de água não
deve ser dirigido diretamente para os bolos. Estes não conseguem absorver água
dessa maneira. Para usar um pulverizador você deve colocar um anteparo, um
escudo, acima dos bolos, e pulverizar água nesse anteparo.
Umidificação direta dos bolos: no site de PF é descrita uma técnica de "duplo
casing" que nada mais é do que umedecer a camada de vermiculita que ficou
entre o suporte e os bolos, e adicionar no topo destes outra camada úmida de
vermiculita. Essas camadas inferior e superior de vermiculita devem ser
mantidas úmidas, evitando-se o excesso, como chegar a escorrer água pelos
lados, enquanto não houver cogumelos surgindo nelas ou nas proximidades. Nos
intervalos dos fluxos elas podem voltar a ser umedecidas. Esta técnica funciona
muito bem.
Coloque os bolos no terrário sobre a base escolhida. Evite o contato dos bolos com o
material do fundo. Os cogumelos não necessitam de luz para crescer, só para indicar a
direção certa do crescimento. Se estiverem em um armário ou local fechado, basta uma
luz suave durante algumas horas por dia. Cuidado com o super aquecimento. Não
cozinhe suas culturas.
5- A secagem
Bem, digamos que agora você tenha em mãos os cogumelos adultos. Podem ser
conservados até uma semana em um saco de papel, na geladeira. Se não forem usados
nesse tempo começarão a apodrecer. Congelar não é um bom método, vai estragá-los.
Há algumas formas de conservação. A secagem é a mais usada, talvez a mais prática e
eficiente. Em resumo são esses os métodos de secagem:
a. Usar dissecante, somente: Coloque os cogumelos em um recipiente
hermeticamente fechado, junto com dissecante. Não deixe em contato direto,
entretanto. Use papel, pano ou um anteparo qualquer para separá-los. Prós: é a
maneira mais "limpa", e que afeta menos a potência. Se o dissecante for sílica
gel pode ser reaproveitado. Os cogumelos ficam realmente secos a ponto de se
esfarinhar quando pressionados na mão. Contras: precisa de uma grande
quantidade de dissecante, mais ou menos 1kg de sílica gel para cada 20
cogumelos médios, de uns 10cm cada, para ser rápido. Se for usado pouco
dissecante, demora muito, e os cogumelos podem se apodrecer, especialmente os
grandes, que devem ser cortados em pedaços antes, manipulação que leva à
perda de potência. Cogumelos podres não devem ser consumidos, mesmo que
venham a ser secos. Se o dissecante for sílica gel 1kg custa R$ 100 no varejo, o
que eleva muito o custo. Há um tipo de dissecante vendido em supermercado,
mas não sei se é eficiente.
b. Estufa com luz: Enrole os cogumelos em papel toalha e depois em um pano
bem escuro, que não deixe passar luminosidade nenhuma. Use uma folha de
papel toalha para cada dois cogumelos médios, e coloque umas 4 folhas em um
pano do tamanho de uma camisa. Coloque em um armário ou caixa fechada,
com uma lâmpada de 100watts a uns 10-20cm. Prós: é um método barato, que
gasta materiais do dia-a-dia, e exige somente a montagem de um local de
secagem. Contra: os cogumelos não ficam tão secos quanto com dissecante,
exceto os muito pequenos. Há alguma perda de potência se ficarem mais do que
4 ou 5 dias.
c. Com corrente de ar: esse esquema nunca vi em funcionamento, mas parece
simples, e há quem diga que é ótimo. Monte numa caixa ou armário uma tela
perfurada, protegida da luz, coloque os cogumelos nela e jogue em cima a
corrente de ar de um ventilador pequeno. Os relatos mais otimistas falam em
dois dias de secagem. Prós: é um método barato, que gasta materiais do dia-a-
dia, e exige somente a montagem de um local de secagem. Contra: Talvez você
fique muito dependente da umidade local do ar.
d. Estufa: Coloque os cogumelos em uma estufa, com temperatura controlada. A
temperatura máxima é de 60 graus Celsius, sendo melhor um pouco abaixo disso
(70 graus Celsius certamente destruirão a psilocibina). Deixar a porta entreaberta
pode ser ainda mais eficiente, pois o ar quente estará sempre passando pelos
cogumelos. Prós: esquema rápido, com secagem muito eficiente. Contra:
alguma perda de potência. Uma estufa é cara, no mínimo uns R$ 300. Se houver
algum acidente de superaquecimento, a perda pode ser total.
Fora esses 4 métodos há vários outros, com gás carbônico, por exemplo, ou com
outras formas de aquecimento, etc. O método com a estufa de luz ou com uma corrente
de ar são os mais simples e práticos. Se possível, fazer um estágio final em dissecante,
que pode ser guardá-los junto com. A secagem tem de estar bastante avançada em 4 a 5
dias, para não começarem a apodrecer. Guarde protegido da luz, em um recipiente
hermeticamente fechado, depois de secos.
6 – Prints
Para coletar esporos você deve deixar um cogumelo ficar bem grande e abrir o
chapéu. Escolha um bom exemplar e deixe-o passar do tempo ideal de coleta. O chapéu
se abre e comumente começa até a inverter as bordas. Essa é a hora. Limpe muito bem
as mãos e esterilize uma tesoura. Colete o cogumelo. Com a tesoura, corte o caule o
mais próximo possível do chapéu. Pegue o chapéu e coloque no vidro estéril. Tampe e
deixe em um lugar escuro por dois dias. O resultado deve ser um print púrpura, quase
preto de tão escuro. Se você usou um cogumelo grande, tipo 4 a 5 cm de diâmetro, um
print bem escuro dá para fazer 50 seringas novas. O vidro fica suado. Seque-o em um
local protegido da luz por uns dias, com a tampa frouxa. De preferência use dissecante.
Após o vidro ficar seco, feche bem a tampa e vede com fita ou durex. Um print
conservado seco, em temperatura amena e ao abrigo da luz pode durar mais de um ano.
Para ter certeza de que tem esporos viáveis colete prints de vários cogumelos, talvez
uns dez, de vários bolos, em vários estágios da cultura. Na hora de preparar as seringas
partes desses prints podem ser misturadas.
As seringas devem ser preparadas em condições estéreis, com água idem. Raspe os
esporos do vidro onde está o vidro, com uma faca ou cabo de talher, jogue em um outro
vidro e ponha água na quantidade planejada. Seringas caseiras não duram muito tempo.
O melhor é prepará-las até 1 dia antes de começar a nova cultura.
O caule e o chapéu do cogumelo usado para tirar prints podem ser secos. Só não serão
tão potentes quanto os exemplares coletados na idade ideal.