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Tendo visto muitas cartas sobre como criar camarão de água salgada, eu decidi criar um FAQ

sobre a cultura de artêmia. Esta não é, de modo algum, a fonte definitiva, e será expandida à
medida que eu for colhendo informações. Eu reuni essas informações com base em vários
livros, publicações e em minha própria experiência em criar esses “sujeitos”. Existe uma
abundância de informações lá fora, que eu não incluí neste FAQ, visto não fazerem parte do
nosso objetivo de criar essa pequena “criatura”. De qualquer modo, aqui está, espero que você
o ache útil.
O que este FAQ contém?
1. Descrição Geral
2. Requisitos para o cultivo
3. Colheita
4. Alimentação
5. Artêmias adultas
6. Manutenção
7. Localização de pequenos problemas
8. Armazenamento
9. Descapsulando cistos
1. Descrição Geral
O camarão de água salgada (artêmia), pertence ao filo Arthropoda e à classe dos crustáceos.
Artêmias são zooplanctons como Copepoda e Dáfnia, os quais também são usados como
alimento vivo em aquários. O ciclo da artêmia começa através de cistos hibernantes
encubados ("ovos"), que são embriões enclausurados metabolicamente inativos. Os cistos
podem permanecer adormecidos por muitos anos, desde que sejam mantidos secos e livres de
oxigênio. A melhor forma de armazenarmos cistos de artêmia é em recipientes
hermeticamente selados, em um ambiente frio e seco e se possível no vácuo. O refrigerador é
geralmente o melhor lugar.
Quando os cistos são devolvidos à água salgada, eles se reidratam e reassumem o
desenvolvimento. Depois de 15 ou 20 horas, a uma temperatura de 25°C, os cistos se rompem
e o embrião abandona a carapaça. Por algumas horas, o embrião fica preso abaixo da casca do
cisto ainda envolvido em uma membrana. Esse estágio é chamado de “guarda-chuva”. Durante
esse estágio, o náuplio completa seu desenvolvimento e emerge como um livre nadador. Em
seu primeiro estágio larval, o náuplio é de cor laranja castanho devido à sua reserva de
alimento. A artêmia recém eclodida não se alimenta, porque sua boca e ânus não estão
totalmente desenvolvidos. Aproximadamente 12 horas após a eclosão, eles assumem o
segundo estágio larval e começam a se alimentar de partículas de microalgas, bactérias e
detritos. Os náuplios irão crescer e passar por 15 mutações antes de atingir a fase adulta em
no mínimo 8 dias.
A artêmia adulta mede em média 8 mm de comprimento mas pode atingir 20 mm em
condições ideais. É 20 vezes maior e possui 500 vezes mais biomassa do que quando é um
náuplio. Em baixa salinidade e níveis de alimentos favoráveis, as fêmeas fertilizadas
normalmente produzem náuplios que já nadam livremente numa taxa de até 75 náuplios por
dia. Elas irão produzir em média de 10 a 15 ninhadas durante os seus 50 dias de vida. Em
condições propícias, uma artêmia adulta pode viver até 3 meses e produzir até 300 náuplios ou
cistos a cada 4 dias. A produção de cistos é induzida pelas condições de salinidade alta,
escassez de alimento e/ou baixa oxigenação (menor que 2 mg/L).
Os adultos podem tolerar breve exposição a temperaturas tão extremas quanto 18°C e 40ºC,
sendo que a temperatura ideal para o cultivo é de 25°C a 30°C, mas existem diferenças de uma
região para outra. As condições ideais para a Baía de São Francisco é de 22ºC, contra 30°C para
a artêmia do Great Salt Lake. O camarão de água salgada (como é conhecida em muitas
regiões) prefere uma salinidade entre 30-35 ppt (densidade entre 1.020 e 1.025) e pode viver
em água doce por aproximadamente 5 horas. Deve-se tomar cuidado para não superalimentar
o aquário de água doce, pois após morrer, a artêmia se decompõe muito rapidamente. Muitos
peixes de água doce toleram e até mesmo prosperam em água salobra (1-5 ppt) o que torna
possível o acréscimo de sal na água do aquário e prolongando assim, se necessário, a
sobrevivência das artêmias.
Outras variáveis de grande importância são: pH, luz e oxigênio. Um pH por volta de 8,0 é
melhor. pH menor que 5,0 e maior que 10,0 matará a cultura. O pH pode ser aumentado com
bicarbonato de sódio e diminuído com ácido clorídrico bem diluído. Uma boa iluminação será
necessária para a criação, uma lâmpada normal tipo growlight, dessas disponíveis em lojas de
aquário é adequada. O mais importante é o nível de oxigênio na água. Com um bom
fornecimento de oxigênio, as artêmias assumem uma cor rosa pálido ou amarelo, ou se forem
alimentadas intensamente com algas, serão verdes. Nessas condições ideais, o crescimento e a
reprodução serão rápidos e será possível um fornecimento auto-suficiente de artêmias. Se
houver um nível baixo de oxigênio na água com excesso de matéria orgânica, ou uma
salinidade alta devido à evaporação natural, as artêmias irão se alimentar de bactérias,
detritos e células fermentadas, mas nenhuma alga. Sob essas condições, elas produzirão
hemoglobina e apresentarão uma a cor vermelha ou laranja. Se essa condição persistir, elas
começarão a produzir cistos e a colônia poderá falir. É muito importante ter um fornecimento
de ar vigoroso no tanque por dois motivos: Primeiro, para manter o alimento disponível em
suspensão, onde ele será filtrado pelas artêmias, e segundo, para promover a boa oxigenação
do sistema. [Início]
2. Requisitos para o cultivo
As condições favoráveis para o cultivo de artêmia são: Temperatura de 25°C, densidade de
1.030, aeração forte e contínua, iluminação constante de 2000 Lux e pH 8,0. A boa circulação é
essencial para manter os cistos em suspensão. Um recipiente em forma de V seria o ideal mas
duas garrafas de 1 litro funcionam muito bem. O melhor que encontrei foram colunas de
separação encontradas em qualquer fornecedor para laboratório mas, infelizmente, são muito
caras. Cole uma válvula na tampa da garrafa (pode ser registro usado em compressores) e
inverta a garrafa. Dessa forma cistos não eclodidos, carapaças vazias e náuplios poderão ser
separados mais facilmente. Outra idéia que eu recomendaria, que foi dada por Ken
Cunningham, é a de usar garrafas de cerveja. Algumas das quais possuem um ponto cônico na
parte inferior. Ken coloca três ou quatro delas em um recipiente de 40 litros e as aquece pelo
método de “banho Maria”. Coloca tubos de ar rígidos dentro delas, sem pedra porosa, e os
conecta através de mangueiras flexíveis a um distribuidor múltiplo. Temperatura de 27°C e luz
brilhante o tempo todo. Em cada garrafa coloca-se ½ colher de chá de sal, ½ ou ¼ de cistos e
deixa borbulhando por 24 horas. Para colher os náuplios, desconecte a mangueira flexível,
deixe o tubo rígido dentro da garrafa e tire a garrafa de dentro do “banho maria”. Deixe a
garrafa no escuro por 10 minutos e então sifone as artêmias usando uma mangueira de
aquário, para um recipiente contendo água doce, para enxaguar. Usando as garrafas em
rotatividade, é possível ter artêmias recém eclodidas a toda hora.
Existem vários métodos para se eclodir cistos de artêmia. Uma vez que você tente algum
método próprio para tentar eclodir os cistos, provavelmente seu resultado será tão bom
quanto ao de qualquer outro método já utilizado. Não tenha medo de experimentar! A
porcentagem de cistos eclodidos está diretamente ligada à qualidade da água, circulação e
origem dos cistos. Recipientes com fundos planos possuem áreas mortas (sem circulação de
água) não sendo indicados para se conseguir altas taxas de cistos eclodidos. Existem de
200.000 a 300.000 náuplios por grama de cistos, deste modo, ½ colher de chá em dois litros de
água é mais que o suficiente para se manter um aquário tropical. Com a instalação de duas ou
mais garrafas, uma começando em um dia e outra noutro, você poderá ter um fornecimento
contínuo de náuplios recém eclodidos para aquele aquário de recifes. Esse é o método que
costumávamos usar quando eu trabalhava na Scripps Aquarium. [Início]
3. Colheita
Para colher os náuplios, basta desligar o ar ou retirar a pedra porosa de dentro do recipiente e
deixar assentar por 10 minutos. Os náuplios recém eclodidos vão se concentrar logo acima dos
cistos não eclodidos que se encontrarão no fundo do recipiente. Visto que os náuplios recém
nascidos são atraídos pela luz, direcionando uma lanterna no centro do recipiente você irá
concentra-los onde será mais fácil sifoná-los. Você poderá também drenar os cistos que estão
no fundo usando a válvula que você instalou e depois drenar os náuplios para outro recipiente.
Os cistos não eclodidos não deverão ser jogados fora, pois poderão ser utilizados em uma
próxima cultura, visto que parte deles ainda poderão eclodir. [Início]
4. Alimentação
Visto que as artêmias possuem filtros não seletivos (não escolhem o que retiram da água), uma
ampla variedade de alimentos têm sido usada com sucesso. O critério para se escolher o tipo
de comida é baseado no tamanho da partícula, digestibilidade e solubilidade (leite em pó não
funciona). Os alimentos mais utilizados incluem microalgas, tais como nanochloropsis e uma
ampla variedade de alimento inerte, o que é mais prático para nós aquaristas. Deve-se tomar
cuidado para não superalimentar o tanque. Entre os alimentos inertes usados estão
fermentos, tanto ativos como inativos (os fornecedores para cervejarias são a melhor fonte; o
fermento de padaria é muito caro!), pó de arroz, farinha de trigo, farinha de soja, farinha de
peixe, gema de ovo, fígado homogeneizado e soro de leite. Eu nunca utilizei os últimos quatro.
Microalgas secas tal como spirulina também tem sido usadas com sucesso e podem ser
encontradas em lojas de produtos naturais, mas são um pouco caras.
Uma maneira simples de se medir a quantidade de comida que colocamos no tanque é
observar a transparência da água. Isso é feito com um bastão graduado em centímetros com
um disco branco e preto preso em uma das extremidades. Introduza o bastão no tanque com o
disco voltado para baixo. A profundidade onde o contraste entre o branco e o preto
desaparecem mede a intensidade de luz que penetra dentro do tanque. Quanto mais
partículas estiverem em suspensão na água, menor será a transparência ou visibilidade. Com
uma densidade de 5000 náuplios por litro, a transparência deverá ser de 15 a 20 cm na
primeira semana e de 20 a 25 cm nas seguintes. Sem dúvida seria melhor se mantivéssemos
uma quantidade ideal de alimento o tempo todo, dessa forma uma alimentação freqüente ou
um gotejando contínuo seria fundamental para um crescimento ideal. O alimento não é
consumido diretamente, é transferido para a boca em forma de pacotes. O espaço entre as
pernas de uma artêmia alarga-se à medida em que as pernas se movem para a frente. A água é
sugada para dentro dele e pequenos filtros capilares coletam as partículas, inclusive alimento,
do fluxo entrante. Quando retorna, a água é expulsa e a comida é retida na abertura. Essa
abertura possui glândulas que secretam material adesivo que aglomera a comida em bolinhas
e então os capilares levam essas bolinhas em direção à boca. O tamanho ideal do alimento
deve estar entre 50-60 mícrons. [Início]
5. Artêmias adultas
Quando alimentamos peixes grandes ou invertebrados, a artêmia adulta é preferida ao invés
do náuplio. Por ser 20 vezes mais pesada que o náuplio, a artêmia fornece mais alimento.
Existe um mito de que a artêmia adulta não é tão boa para o peixe quanto o náuplio, mas
embora haja um pouquinho de verdade nisso, isso vai depender do que ou de quem você
estiver alimentando. As artêmias recém eclodidas são ricas em gordura, cerca de 23% de seu
peso seco. No estágio juvenil este índice cai para aproximadamente 16% e quando são quase
adultas, esse índice cai para mais ou menos 7%. Por outro lado, as proteínas aumentam para
substituir a gordura perdida nesta fase, passando de 16%, em uma artêmia recém eclodida,
para 63% em uma artêmia adulta. Baseado nisso você deverá determinar o que é melhor para
o seu peixe. Os alevinos precisam de uma taxa alta de gordura para crescerem saudáveis,
enquanto que os adultos e os mais velhos necessitam de proteínas para se manter saudáveis e
para a reprodução. Além disso, os náuplios são conhecidos por terem deficiência em vários
aminoácidos essenciais, enquanto a artêmia adulta é rica em todos os aminoácidos essenciais,
portanto, a artêmia adulta provê mais biomassa e é mais completa nutricionalmente do que o
náuplio.
O melhor modo de cultivar artêmias adultas é conseguir um aquário de 40-80 litros. Pegue
uma folha fina de fórmica e coloque no fundo do aquário criando um fundo oval. Isso é feito
para eliminar as áreas mortas já mencionadas e melhorar a circulação da água. Cole todas as
bordas com silicone. A circulação pode ser aumentada colando-se uma divisão no meio do
tanque. Melhores taxas são obtidas com a boa circulação de alimento, distribuição dos cistos e
forte aeração. O próximo passo é o mais difícil de se descrever sem desenhos. Você precisará
fazer 6 ou 8 tubos de ar, dependendo do tamanho do aquário, que ficarão em pé dentro do
aquário. São tubos simples, de 1 polegada em PVC, cortados a 45º na parte inferior com um
cotovelo de 90º na parte superior. O nível da água deverá alcançar até a metade do cotovelo
com a parte inferior do tubo tocando o fundo do aquário. Fure a parte do cotovelo de cima
para baixo de modo que você possa colocar uma mangueira de ar até o fundo. Cole os tubos
no centro do aquário de modo que os cotovelos de 90º fiquem todos na mesma direção a um
ângulo de 45º ao divisor. Você criou então um mecanismo que movimentará constantemente
a água em sentido horário ou anti-horário. Aqui é onde eu devo trazer à tona o assunto da
aeração. Resista à tentação de usar aquelas pedras porosas de madeira para aumentar a taxa
de aeração, pois embora elas produzam belas bolhinhas e criem uma excelente circulação de
água, estas mesmas bolhinhas poderão acabar com as artêmias. Isso porque as bolhas podem
alojar-se em seus apêndices de natação ou até mesmo ser ingeridas pelas artêmias, fazendo
com que elas flutuem, impossibilitando-as de se alimentarem e por fim levando-as à morte.
Quando se tratar de produção em pequena escala, a filtração não se faz necessária visto que
não se tem grandes problemas quanto à qualidade da água. Caso se sinta tentado a realizar a
filtração, isso exigirá que a água transborde através de uma telinha para um reservatório ou
para um cartucho de filtragem. A aeração moderada com pedras porosas (que soltam bolhas
grossas) ou nenhuma, boa qualidade da água e limpeza são fatores importantíssimos para se
obter altas taxas de artêmias adultas. Visto que as artêmias se alimentam constantemente, um
crescimento mais rápido e melhor será alcançado se forem alimentadas várias vezes ao dia ou
continuamente. Melhores taxas de crescimento também são alcançadas a uma temperatura
de 25-30ºC, densidade entre 1.025-1.030 e baixa luminosidade. Lembre-se que as artêmias são
atraídas pela luz forte, portanto se você instalar aquela lâmpada de halóide de 175 W que você
retirou de um aquário de recifes, os pequenos malandrinhos irão aumentar as suas atividades
natatórias, desperdiçando energia e diminuindo assim a taxa de crescimento. Em baixa
luminosidade as artêmias irão se espalhar por toda a coluna de água, nadando vagarosamente
e alcançando uma conservação de alimento mais eficiente. [Início]
6. Manutenção
Por se tratar de um volume muito pequeno, a qualidade da água pode deteriorar-se muito
rapidamente quanto ao aumento de biomassas. O problema acontece normalmente devido à
superalimentação, o que leva a um baixo nível de oxigenação. Existe uma linha muito fina
entre a alimentação ideal e o extermínio do nosso tanque, especialmente quando usamos
alimentos inertes. Para superar este problema você precisa cuidar do seu tanque dando a ele a
mesma atenção dada ao seu aquário. Eis o que você deve fazer: Limpe o fundo a cada 2 dias.
Para isso desligue o ar, deixe o tanque repousar e use novamente aquela lanterna (funciona
melhor à noite). Agora sabemos o que nossos amiguinhos irão fazer. Enquanto isso sifone a
sujeira do fundo do tanque. Lembre-se que eles irão “mudar de roupa” 15 vezes até se
tornarem adultos. É aconselhável que se troque 20% de água por semana. [Início]
7. Pequenos problemas
“Minhas artêmias eclodem e em seguida morrem”. As causas podem ser várias: A aeração é
insuficiente levando-as à asfixia, você não resistiu à tentação e usou aquela pedra porosa de
madeira que eu falei para você não usar, ou elas morreram por falta de alimento. O estado de
saúde pode ser checado por se observar como elas nadam. Ilumine o tanque com uma
lanterna para que elas se concentrem rapidamente no foco de luz, se isso acontecer é um bom
sinal. No entanto, natação dispersada e lenta indicam que as coisas estão indo para o brejo. Se
você tiver acesso a um microscópio, poderá observar seus aparelhos digestivos, que deverão
estar cheios de comida, (supondo que você as tenha alimentado, é claro). Se os apêndices de
natação e a boca estiverem limpos é um bom sinal, mas se estiverem cobertos por partículas,
isso é ruim. Isso pode ocorrer devido à má procedência da comida ou devido à condição
fisiológica das artêmias. Uma outra razão sugerida é que pode ter ocorrido uma infecção por
vírus, mas muito pouco se sabe a esse respeito e seria impossível para nós aquaristas
confirmar se isso aconteceu. Veja a seção de desencapsulamento no final desse FAQ.
Crescimento lento - A temperatura está muito baixa, o pH está fora, a salinidade está fora, a
comida é inadequada ou perdeu a qualidade. [Início]
8. Armazenamento de artêmia
As artêmias podem ser armazenadas de diversas maneiras. Uma artêmia adulta sobrevive por
muitos dias no refrigerador. Caso opte por refrigerá-las, não se esqueça de aquecê-las e dar-
lhes a última refeição antes de você alimentar seus peixes. Isso irá restaurar suas qualidades
nutricionais, afinal elas estiveram famintas durante alguns dias. Você poderá também congelar
os náuplios, mas isso irá matá-los. Uma forminha de gelo funciona perfeitamente. Utilize água
salgada (7-8 ppt) para congelá-los e obter melhores resultados. O congelamento é muito
prático, pois tudo o que tem a fazer é jogar um cubinho de artêmias no aquário e você terá um
excelente fornecimento de comida que durará um bom tempo. Você deve tomar cuidado para
não superalimentar o aquário, pois as artêmias afundam e se decompõem rapidamente
comprometendo a qualidade da água. [Início]
9. Descapsulando cistos
Tendo sido interrogado várias vezes de como e por que isso é feito, eu decidi adicionar esse
procedimento no fim deste FAQ. Este é um processo complicado e poucas pessoas escolherão
executá-lo. Separar os náuplios de suas cascas pode ser desejável por muitas razões. As cascas
dos cistos são indigestas e podem se hospedar no intestino de predadores causando
obstruções fatais. Especulações apontam as cascas como sendo forte fonte de contaminação
bacteriana. Acredita-se que o conteúdo nutricional do náuplio descapsulado é maior porque
ele não precisa gastar energia para quebrar a casca e sair dos cistos. Também a taxa de eclosão
aumenta e por fim, os cistos recém descapsulados podem ser servidos a filhotes pequenos
demais para se alimentar de náuplios. Durante tantos anos lidando com esses sujeitinhos, eu
nunca ouvi falar em alguém que tivesse tido problemas com qualquer uma das duas primeiras
razões. Certamente poucas lojas de aqüicultura se aventuram a enfrentar a dificuldade de
descapsular artêmias. A descapsulação se divide em quatro etapas:
· Re-hidratar os cistos;
· Lidar com a solução para descapsulamento;
· Desativar o cloro residual;
· Cultivar os embriões.
Os cistos, quando secos, têm uma pequena cavidade em suas cascas dificultando assim
removê-las por completo. Por essa razão, eles são primeiramente re-hidratados para assumir
uma forma esférica. Os cistos devem ser re-hidratados em água doce mole ou destilada a uma
temperatura de 25ºC por 60 a 90 minutos. Quanto mais baixa a temperatura, maior o tempo
para re-hidratá-los. Mas nunca os deixe por mais de 2 horas na água, não importa qual a
temperatura, pois após esse período alguns dos cistos terão reiniciado seus metabolismos e
não sobreviverão ao processo de descapsulamento. A re-hidratação deverá ser feita no mesmo
recipiente usado para cultivar cistos pelos mesmos motivos de circulação e aeração. Após a re-
hidratação, os cistos deverão ser filtrados com uma telinha de 100-125 mícrons e enxaguados,
mas essa etapa poderá estar perdida se você não possuir a telinha! O melhor é descapsulá-los
imediatamente, mas se for necessário os cistos poderão ser refrigerados por várias horas.
Durante o processo de re-hidratação, você precisará preparar uma solução de cloro. Qualquer
alvejante doméstico ou cloro em pó para piscina misturado com água salgada serve. Como pré-
requisito para descapsulação, os cistos deverão ser colocados em uma solução pré-resfriada a
4ºC com um pH 10, consistindo em 0,33 ml de Hidróxido de Sódio (NaOH) e 4,67 ml de água do
mar por grama de cistos (você provavelmente vai gastar um bom tempo tentando encontrar
NaOH puro). A solução é preparada dissolvendo-se 40 g de NaOH em 60 ml de água doce. A
descapsulação ocorrerá quando você acrescentar 10 ml de alvejante na solução. Você
precisará de um termômetro porque a solução irá liberar calor. É importante manter a solução
entre 20-30ºC. Se começarmos com a solução pré-resfriada, fica muito mais fácil manter a
temperatura dentro do limite. Se necessário, um cubo de gelo poderá ser utilizado para ajudar
a baixar a temperatura. Uma segunda forma de descapsulamento é adicionar 0,70 gramas de
Cloro em pó seco usado em piscinas por grama de cistos. Nesse caso a solução será de 0,68
gramas de Carbonato de Sódio em 13,5 ml de água. Fica mais fácil se você dividir a quantidade
de água em duas partes, adicionando Carbonato de Sódio na primeira e Cloro na segunda.
Deixe que dissolvam e reajam, o que causará um precipitado. Refrigere as duas soluções,
misture e então adicione os cistos. Durante a descapsulação, mexa a solução continuamente
para minimizar a formação de espuma e para dissipar o calor.
Note que a cor da solução mudará de marrom escuro para cinza, depois branca e então para
um laranja claro. Essa reação leva normalmente de 2 a 4 minutos. Com o Hipoclorito de Cálcio,
os cistos mudarão apenas para o cinza e levará cerca de 4 a 7 minutos. Os cistos deverão ser
retirados depressa da solução, logo depois que as membranas dissolverem, conforme indicado
pela cor laranja claro ou cinza, caso contrário você simplesmente dissolverá o cisto inteiro em
vez de só a casca exterior. O Cloro deve ser removido em água doce ou salgada até eliminar
totalmente o odor de Cloro. O Cloro residual prende-se nos cistos e precisa ser neutralizado.
Isso é feito lavando-se os cistos em Tiossulfato de Sódio a 0,1% (0,1 grama em 99,9 gramas de
água) por um minuto. Como método alternativo usa-se Ácido Acético (1 parte 5% de vinagre
para 7 partes de água). O primeiro método funciona melhor, porém o segundo é mais fácil
visto que os materiais podem ser encontrados em qualquer cozinha. Os cistos são então
lavados novamente com água doce ou salgada e colocados no tanque de cultivo e cultivados
como artêmia comum.
Os cistos recém-descapsulados poderão ser guardados na geladeira por no máximo 7 dias e
então serem cultivados. Para um armazenamento mais prolongado, os cistos precisarão ser
desidratados. A desidratação de cistos descapsulados é feita transferindo-se um grama de
cistos descapsulados para uma solução de sal saturado, de 330 gramas de sal para 1 litro de
água. Areje isso usando uma mangueira de ar por 18 horas, trocando a solução a cada 2 horas.
A água contida nos cistos será liberada através de osmose, deste modo é importante manter a
concentração de sal bem alta. Após 18 horas, os cistos terão perdido 80% da água de suas
células. Interrompa o fluxo de ar e deixe tudo assentar, depois filtre os cistos. Estes cistos
poderão então ser colocados em um recipiente com água e sal, hermeticamente fechado, e
guardado no freezer ou geladeira. Cistos com 16 a 20% de água nas células poderão ser
guardados por alguns meses sem queda na taxa de eclosão. Para um armazenamento mais
prolongado, você deverá reduzir essa taxa de água para menos de 10%.
Kai Schumann (tradução - Anderson Grossi)

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