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Por outro lado, os marxistas, de certa forma com mais justiça, saúdam
Smith como a inspiração suprema de seu próprio Pai Fundador, Karl
Marx. Com efeito, se pedíssemos ao cidadão comum para citar dois
economistas históricos dos quais ele já ouviu falar, Smith e Marx
provavelmente seriam os vencedores disparados da pesquisa.
A vida de Smith
Como se isso não fosse o suficiente, Adam Smith foi um dos principais
contribuidores e editores da malogradaEdinburgh Review (1755-56),
dedicada amplamente à defesa de seus amigos Hume e Kames contra a
linha dura evangélica do clérigo calvinista da Escócia. A Edinburgh
Review foi fundada pelo jovem e brilhante advogado Alexander
Wedderburn (1733-1805), que viria a ser juiz, depois membro do
parlamento inglês e finalmente Juiz Supremo britânico (1793-1801).
Wedderburn era latitudinário a ponto de defender a licença de bordeis.
Outros luminares da Edinburgh Review eram membros da elite
moderada: o político John Jardine (1715-60), cuja filha se casou com o
filho de Lord Kames; o poderoso reverendo William Robertson, e o
reverendo Hugh Blair (1718-1800), professor de retórica da Universidade
de Edimburgo.
Após Smith publicar sua filosofia moral em sua obra A Teoria dos
Sentimentos Morais (1759), sua crescente fama lhe valeu uma posição
altamente lucrativa em 1764 como tutor do jovem Duque de Buccleuch.
Por causa desses três anos de tutoragem, os quais ele passou com o
jovem duque na França, Smith foi premiado com um salário anual vitalício
de £300, duas vezes seu salário anual em Glasgow. Durante esses três
agradáveis anos na França, ele foi apresentado a Turgot e aos
fisiocratas. Tendo completado sua tarefa tutorial, Smith voltou à sua
cidade natal Kirkcaldy, onde, tranqüilo com seu ordenado vitalício, ele
trabalhou por dez anos para finalizar A Riqueza das Nações, a qual ele já
havia começado durante sua estadia na França.
A fama de A Riqueza das Nações levou seu orgulhoso pupilo, o Duque
de Buccleuch, a dar a Smith, em 1778, o altamente bem pago posto de
comissário da alfândega escocesa em Edimburgo. Com um salário de
£600 anuais por esse posto governamental, o qual ele manteve até o dia
de sua morte em 1790, acrescido de sua bela pensão vitalícia, Adam
Smith estava ganhando perto de £1000 por ano – uma ‘receita
principesca’, como um de seus biógrafos descreveu. O próprio Smith
escreveu nessa época que ele estava ‘tão rico quanto eu poderia
sonhar’. Ele lamentava apenas ter de comparecer ao seu posto de
trabalho na alfândega, o que lhe roubava tempo de suas ‘atividades
literárias’.
A divisão do trabalho
A mais famosa acusação de plágio lançada por Smith foi contra seu
amigo Adam Ferguson sobre a questão da divisão do trabalho. O
professor Hamowy mostrou que Smith não terminou a amizade com seu
velho amigo, como anteriormente havia se pensado, por causa do uso
que Ferguson fez do conceito de divisão do trabalho em seu Ensaio
Sobre a História da Sociedade Civil, de 1767. Pela visão de todos os
escritores que haviam empregado o conceito anteriormente, esse
comportamento seria ridículo, mesmo para Adam Smith. O professor
Hamowy supõe que o fim da amizade veio no início dos anos 1780, por
causa de uma discussão proposta por Ferguson, em seu clube, sobre
aquilo que viria a ser publicado mais tarde como parte de seuPrinciples of
Moral and Political Science, de 1792. Nesse seu livro, Ferguson
sumariza o exemplo da fábrica de alfinetes que constitui a passagem
mais famosa de A Riqueza das Nações. Smith descreve uma pequena
fábrica de alfinetes na qual dez trabalhadores, cada qual especializado
em um diferente aspecto do trabalho, poderiam produzir mais de 48.000
alfinetes por dia, ao passo que se cada um desses dez fizesse todo o
alfinete sozinho, eles poderiam não fazer sequer um alfinete por dia, e
certamente não mais do que 20. Dessa forma, a divisão do trabalho
multiplicou enormemente a produtividade de cada trabalhador. Em seu
livro Principles, Ferguson escreveu: ‘Um agrupamento consistente de
pessoas, no qual cada uma delas executa apenas uma parte da
fabricação de um alfinete, pode produzir muito mais em um determinado
intervalo de tempo do que talvez o dobro do número de trabalhadores
seria capaz caso cada um fosse produzir um alfinete inteiro ou executar
todas as etapas da construção desse diminuto artigo’.
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Notas
[1] Das AdamSmithProblem referia-se a apenas um dos numerosos
enigmas e contradições presentes na saga de Adam Smith: a enorme
disparidade entre os direitos naturais – as visões laissez-faire contidas
em sua obra A Teoria dos Sentimentos Morais – e as visões muito mais
limitadas contidas em sua posterior e decisivamente influente A Riqueza
das Nações.
[7] Citado em Ronald Hamowy, ‘Adam Smith, Adam Ferguson, and the
Division of Labour’, Economica (August 1968), p. 253.