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Rachel Van Dyken

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Rachel Van Dyken

Disponibilização: Eva

Tradução: Lindinha

Revisão: Blossom

Leitura Final: Docinho

Formatação: Eva

Outubro/2018

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Rachel Van Dyken

Perder a capacidade de falar aos dezessete anos de idade não é normal e nem justo.

Mas traumas tem um jeito de jogar a normalidade pela janela.


Dani vive tudo, menos uma vida normal.
Sua irmã é casada com um dos maiores nomes de Hollywood.
Seus melhores amigos são os integrantes da dupla rockstar AD2.
E ela tem mais amor a sua volta do que a maioria das pessoas experimenta durante toda a
vida.
Mas isso não muda o fato de seus pais estarem mortos.
Ou de que a culpa é dela.
Parece que o novo normal dela é ser muda, vivendo dentro de si, incapaz de se comunicar
verdadeiramente no exterior.
Isso até que o mais novo galã de Hollywood, Lincoln Greene, a contrata como sua assistente
para o verão.
Ele é lindo, completamente indisponível e inatingível.
Mas isso não a impede de pensar... se as coisas fossem diferentes ... ele a desejaria?
Se ela fosse completa, ele seria a sua outra metade?

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CAPÍTULO UM

Dani

O elevador dá uma sacudida e para. Com dedos suados,


pressiono o botão para o andar da cobertura.

Um barulho de gemido se infiltra de algum lugar de fora do


elevador. Agarro o corrimão lateral, em seguida, lentamente me
afundo até ficar de cócoras, inspirando e expirando e repetindo a
mim mesma que não é uma grande coisa. Elevadores param o
tempo todo, certo? Em poucos segundos, tudo estaria bem e eu
estaria contando a história para minha irmã Pris e seu marido
estrela do cinema.

Eles dariam risadas.

Eu fingiria rir.

E esqueceríamos o assunto.

Ou eles esqueceriam e eu teria pesadelos mais tarde naquela


noite sobre estar presa em um elevador enquanto ele despencava
por doze andares.

Dois minutos se passam, talvez três e o elevador ainda não


está se movendo. Nunca fui à Disneylândia e nunca fui a qualquer
dos seus brinquedos, mas imagino que a Tower of Terror deve fazer
você sentir exatamente o que estou sentindo neste momento...
puro horror e de repente a ausência de peso.

Por favor, não deixe haver ausência de gravidade.

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Logicamente, sei que estou bem. Sei que vou ficar bem.

Mas a lógica estava tirando umas longas férias do meu


cérebro — e ainda precisa regressar desde a morte dos meus pais
há um ano.

Porque lógica é aquela coisa que me mantém sã, é a voz na


parte de trás da minha mente, dizendo, “Ei, está tudo bem. Quais
as chances de que, de todos os elevadores do mundo, o seu seja a
única porcaria que vai despencar e te jogar uma morte prematura
aos dezessete anos?”

A lógica teria perguntado sobre as chances que tenho de me


envolver em um acidente de carro. Além disso, quais são as
chances que eu fosse a única sobrevivente? Aparentemente,
minhas chances são muito, muito altas. Em um momento de
fraqueza, uma vez digitei esta pergunta em um mecanismo de
busca.

Assim como já fiz com todas as outras paranoias que tenho.

Choque anafilático por picada de abelha? Quarenta por


cento.

Ser pisoteada por um hipopótamo? Maior do que a chance


de ser comida por um tubarão. Sim, vamos apenas dizer que não
vou participar de nenhum safari Africano tão cedo, não importa o
que o marido da minha irmã possa pensar.

E isso é outra coisa. Quais as probabilidades, entre todas as


pessoas do mundo, que minha irmã certinha acabasse se casando
com o herói dos filmes de ação, Jamie Jaymeson? Um dos homens
vivos mais sexys, segundo a People Magazine, que também é o
melhor amigo dos integrantes da dupla de rock, AD2?

Sim, você não pode jogar no Google essa porcaria.

Não que isso tenha importância.

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As probabilidades de isso acontecer estão na casa de uma


em um bilhão.

Então faz sentido que os meus pais estejam mortos, certo?

Quero dizer logicamente?

Odeio lógica.

Tremo quando o elevador faz outro alarme estranho. As


luzes ainda estão acesas, então pelo menos não perdemos a
energia elétrica — ainda.

Outra sacudida, como se o elevador tivesse sigo pego por


alguma coisa, e depois começou a se mover rápido, rápido demais
para meu conforto, quase me jogando tombada contra as portas
da frente.

Ouço um barulho de campainha, em seguida, ele para no


andar mais alto.

Com um grito estrangulado, pulo do elevador sem pensar.

E faço contato com carne quente e musculosa.

As portas se fecham rapidamente atrás de mim, o ar faz


cócegas na parte de trás das minhas pernas nuas.

Envergonhada por ainda estar agarrada ao pobre indivíduo,


que provavelmente não estava esperando ser abordado por uma
maníaca paranoica de dezessete anos, cuja ideia de diversão é
pesquisar um site de sintomas de doenças às duas da manhã,
recuo, pronta para me desculpar.

Mas, é claro, as palavras morrem em meus lábios.

Porque em um mundo cheio de chances, matemática,


cálculos e lógica, eu simplesmente acabei agarrada ao mais novo
galã de Hollywood.

Lincoln Greene.

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Olhos cinzentos e ardentes, cabelo castanho avermelhado


selvagem que me faz lembrar aquele cara do Outlander, e um corpo
que você poderia usar para afiar facas, o que junto, resulta no
espécime masculino perfeito.

E... ainda estou agarrada a ele.

Com movimentos bruscos, liberto minhas mãos e coloco o


meu longo cabelo loiro atrás das orelhas.

Ele se eleva sobre mim.

Dou mais um passo cauteloso para trás. A este ritmo, vou


acabar de volta no elevador dos infernos.

Seu sorriso é grande, amigável, e ele não parece afetado


pelos meus dedos úmidos e corpo trêmulo. “Dani, certo? Sua irmã
está te procurando.”

Ha, então ela enviou um deus de filme atrás de mim?

Obrigada, Pris. Sério. Não é como se eu estivesse tendo


problemas para ter conversas completas com um psiquiatra ou até
mesmo com nosso carteiro. Você tinha mesmo que enviá-lo?

Minha língua parece grossa dentro de minha boca quando


consigo soltar um gemido fraco e um aceno de cabeça. Seu grande
poder de atração não tem nada a ver com minha incapacidade de
falar. Sou eu. Sou a responsável. Conversar significa atenção,
atenção significa que as pessoas vão me perguntar sobre meus
sentimentos, perguntar por que não sorrio ou por que pareço
cansada o tempo todo. Falar se transformou, oficialmente, em uma
daquelas coisas que me aterrorizava.

Pris já havia me enviado para tantos psiquiatras que estou


começando a achar que ninguém poderia ajudar. Não é normal
uma menina de dezessete anos, de repente, parar de falar.

Mas eu havia parado.

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Uma mulher aproximou-se por trás dele e passou um braço


possessivo ao redor do seu peito. “Oh que bom, baby. Você a
encontrou!”

Meus olhos se aguçam em um perfeitamente esculpido


exemplar do tipo boneca Barbie, com cabelo loiro brilhante e
hipnóticos olhos verdes. Unhas vermelhas batem contra seu
queixo enquanto inclina a cabeça em simulada diversão. Posso não
falar, mas não sou estúpida. Ela está delimitando sua
reivindicação.

Se eu falasse, teria dito a ela para não desperdiçar sua


energia ou qualquer pequeno poder que resta dentro daquele seu
cérebro.

Não sou uma ameaça.

Talvez um ano atrás eu pudesse ser.

Mas, então, um ano atrás, eu era a garota mais popular da


escola, capitã das cheerleaders, namorando o quarterback e minha
maior queixa era sobre minha melhor amiga ter derramado leite
com chocolate por toda minha nova bolsa branca da Coach.

“Ela fala?” Ela ri.

Lincoln continua olhando para mim. “Por que você não nos
dá um minuto, Jo-Jo?”

Que raio de nome é Jo-Jo? E por que de repente estou com


vontade de comer batatas?

Com molho ranch.

Jo-Jo deixa escapar um suspiro que faz o cabelo balançar


em torno de seu rosto antes de bater no botão do elevador, entrar
nele de forma bastante afetada e soprar um beijo na direção de
Lincoln e desaparecer.

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Talvez tenhamos sorte e desta vez o elevador realmente


acabe despencando.

Eu me encolho internamente. Quando foi que me


transformei numa cadela?

“Então...”, a voz de Lincoln sacode minha atenção para longe


das portas do elevador.

Lentamente, encontro seu olhar, meus olhos piscando


devagar o suficiente para absorver seu sorriso lindo. É um
daqueles sorrisos que realmente mostram as fileiras de dentes —
um sorriso que por todas as intenções e propósitos deveria
realmente parecer assustador, mas que é agradável em vez disso,
como se todo o seu rosto se iluminasse com aquele simples gesto.
Seus olhos se enrugam.

Ele está feliz.

E imediatamente sinto-me esfaqueada no peito pelo ciúme,


porque ele tem uma coisa que de alguma forma eu havia perdido.

E nunca fui capaz de recuperar. Não importa o quanto tenha


tentado.

Eu não falo. Ele provavelmente deve pensar que sou uma


aberração. Mas meu embaraço já foi embora há muito tempo no
que se refere a este assunto. As palavras se formam; posso senti-
las rolando na minha língua, mas é impossível deixar que
escapem. Uma parede invisível me impede de dizer oi. Vergonha é
minha constante companhia, juntamente com mágoa... e pesar.

Pisco duas vezes.

“Por que não te levo de volta para a suíte? Uma vez que isso
me envolve também?”

Com a curiosidade aguçada, faço uma careta e caminho com


ele até a porta. Ele não bate, simplesmente entra.

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Sigo atrás dele.

Estamos em Portland para o fim de semana enquanto Pris e


Jaymeson fazem a publicidade do segundo filme de sua mais
recente série de enorme sucesso — que minha irmã também
estrelou.

Você pode imaginar o quão feliz a imprensa ficou ao


descobrir que não só o Casanova se acomodou e casou com a filha
de um pastor, como ela também é uma atriz estreante, realmente
incrível e que os dois estão esperando seu primeiro filho.

Foi como se o Natal tivesse sido jogado em cima deles e me


perdi completamente. Jaymeson ajudou Pris superar a morte dos
nossos pais.

E ele tentou me ajudar.

Juntamente com Demetri e Alec, e os integrantes da dupla


de rock do AD2. Honestamente, se há alguma esperança de eu sair
desta, aposto em Demetri dizendo algo ridiculamente inadequado
que vou acabar respondendo.

Eles também estão em Portland para filmar o clipe da


música tema do filme.

“Dannae Garcia!” Pris vem na minha direção com as mãos


nos quadris. Ela se parece tanto com minha mãe que chega a doer.

A dor toma conta de mim novamente, enquanto me seguro


no balcão de granito e abaixo a cabeça.

“Estava preocupada com você! Você disse que estava saindo


para dar uma volta quatro horas atrás!”

Estremeço, então, ofereço um encolher de ombros.

“Dani...”, ela lambe os lábios e toca seu abdômen


suavemente arredondado. “... você tem um telefone. Use-o.”

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Culpada, puxo meu telefone e digito uma mensagem


rapidamente.

Dani: Desculpa? Vou comprar sorvete e com muito afinco


tentar encontrar um unicórnio vivo, de verdade, para a minha nova
sobrinha.

Adiciono um emoji sorrindo e com uma auréola, para tentar


apaziguar os ânimos.

Com uma risada, ela levanta a cabeça. “Sim? Bem, é melhor


mesmo.”

Jaymeson vem andando de um dos quartos dos fundos, seu


celular pressionado contra a orelha enquanto faz gestos largos com
as mãos. “Apenas faça isso!”

Dani: O que é isso?

Pris olha para Lincoln, que eu convenientemente vinha


ignorando, mas não esqueci. “Dirigir seu próprio filme é mais difícil
do que se pensava inicialmente.”

Lincoln bufa.

Pris sorri enquanto Jaymeson anda até mim lentamente, em


seguida, com mais velocidade.

Recuo, levantando minhas mãos em sinal de rendição e


balançando a cabeça violentamente enquanto um não se forma
dentro do meu peito.

Ele havia dito que me perseguiria como um touro até que eu


fosse forte o suficiente para gritar pare.

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E como ainda não estou falando...

“Ahhh.”

Rio quando ele me levanta no ar e gira ao redor. Pelo menos


ainda tenho isso, meu riso. Não que isso possa transmitir muito,
mas o som é reconfortante, como um lembrete de que talvez um
dia esta não seja mais a minha realidade.

“Como está minha cunhada favorita?” Jay me coloca de volta


em pé.

Lambo meus lábios e encolho os ombros, em seguida, ergo


o dedo e digito uma mensagem para ele.

Ele já está pegando seu telefone antes que qualquer coisa


tenha sido enviada.

Dani: Metendo-me em confusão. Pris será uma ótima mãe!


Ela tem este olhar de mãe brava que é bem assustador.

O emoji em seguida é uma foto de Pris fazendo a exata cara


que eu estava falando.

Jaymeson começa a rir. Sempre amei o seu senso de humor,


e seu ligeiro sotaque britânico junto com o cabelo recém-raspado
que apenas o faz parecer atraente demais para o seu próprio bem.

“Ela me dá este olhar o tempo todo”, ele pisca e assente uma


vez para Lincoln. “Já contou a ela?”

Minha pele começa a formigar.

“Sem chance”, diz Lincoln suavemente enquanto cruza os


grandes braços e encosta-se à parede. “Não com Pris a
repreendendo e você atacando.”

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Jaymeson esfrega as mãos. “Oh que bom, porque quero ver


a cara dela.”

Estou me coçando para perguntar sobre o que estão falando.


Estou prestes a enviar uma mensagem para um deles quando
Jaymeson envolve um braço em meu corpo, fazendo-me soltar um
gemido uma vez que ele havia ficado bem mais forte e ainda não
está bem adaptado a sua própria força.

“Dani, conheça o seu novo emprego.”

Sinto meus olhos se arregalarem quando Lincoln dá um


passo à frente. “Não acho que já fomos devidamente apresentados.
Sou Lincoln Greene e Jaymeson me ofereceu seus serviços durante
as filmagens.”

Balanço a cabeça algumas vezes. Serviços?

“Palavras”, Jaymeson desafia.

Afastando-me dele, digito vigorosamente em meu telefone,


certificando-me que o emoji enviado junto tenha uma bela
saudação com o dedo médio.

Dani: Mas que porra é essa?

“Veja, é justamente isso”, Jaymeson dá de ombros. “Você


não pode se esconder dentro de casa para sempre, especialmente
desde que Pris e eu vamos ficar tanto no set. Não é saudável. Você
terminou o ensino médio e se recusa a fazer qualquer coisa além
de malhar, assistir ao canal Bravo, cozinhar e olhar para o oceano
como se ele fosse te comer viva. Portanto, arranjei um emprego pra
você.”

Jogo minhas mãos para o ar e digito.

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Dani: Eu não preciso de um maldito emprego!

“Oooo.” Jaymeson mostra seu telefone para Lincoln, “Você


vai amar a linguagem pitoresca dela. Ela também tem uma
afinidade com cada emoji do planeta, embora nenhum deles faça
qualquer sentido com o que ela digita. Ela só gosta de enviá-los. O
número dela já deve estar no seu telefone. Vou mandá-la para o
seu trailer amanhã de manhã às seis.”

Bato meu pé para chamar a atenção de Jaymeson.

Ele não olha para mim.

Piso duro novamente.

Em seguida, mando uma mensagem.

Dani: Seis da manhã? Você está maluco?

“Ela nunca solta a bomba com F, entretanto.” Jaymeson


mostra a Lincoln meu último texto. “Filha de pastor e tudo isso.”
Ele hesita, então parece compelido a acrescentar, “Entretanto,
você saberá quando ela quis dizer isso. Confie em mim.”

Solto um gemido.

“Então, acho que isso vai funcionar muito bem.” Jaymeson


solta um suspiro e olha para Pris. “Você não acha, amor?”

Ela sorri. “Se os dois não se matarem antes.”

Levanto minha mão.

As sobrancelhas de Jaymeson se erguem enquanto


rapidamente disparo outro texto.

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Dani: Não tenho direito a um voto?

“Não.” Ele está sorrindo, mas é um daqueles sorrisos que


vem junto com preocupação... pena.

Odeio estes.

“Mas se isso faz você se sentir melhor, nem o Lincoln. Seu


último assistente foi pego tentando vender algumas merdas
autografadas no Ebay, e para alguém que afirma ser bastante
independente, ele ainda não sabe nem lavar roupas.”

Dani: Não sei lavar roupas!

“Ela sabe lavar roupa, certo?” Lincoln pergunta.

“Ela pode até ter operado sua própria lavanderia em outra


vida.” Jaymeson assente encorajadoramente.

“Ótimo.” Lincoln parece aliviado. “E ela é capaz de manter a


calma no set?”

Dani: Cara. Da última vez que você estava falando com a


estrela da NFL, Wes Michels, desmaiei e caí na piscina — foi preciso
fazer reanimação.

Adiciono uma plaquinha médica.

“Ah...” Jaymeson acena em minha direção. “Ela já está


acostumada a ficar perto de celebridades. Inferno, ela anda
comigo. Ela vai ficar bem no set.”

Lincoln esfrega as mãos. “Bem, ótimo!”

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Não. Não ótimo! Não tem nada bem!

“Mandarei uma mensagem para você mais tarde, então.”

Fico olhando para o balcão, tentando descobrir como


realmente manobrar tempo, espaço e matéria para poder saltar
para dentro das pequenas fendas e me fundir ao granito.

“Dani?” Jaymeson repete.

Minha cabeça se ergue.

“Lincoln estava falando com você, não comigo.”

Fico boquiaberta. Consigo dar um aceno apertado na direção


de Lincoln, em seguida, levanto meu telefone como se dissesse:
“Sim, me envie uma mensagem. Vou responder e tentar não agarrar
você, olhar demais, suar abundantemente ou tropeçar em meus pés
na sua presença.”

Devo ter parecido convincente porque aquele sorriso


devastador está de volta, e então ele se vai.

“Isso vai ser bom para você”, Pris sussurra em meu ouvido,
dando um aperto em meu corpo. “Prometo.”

Foi o que ela disse sobre ser líder de torcida.

E veja como terminou?

Com a morte de nossos pais — tudo porque eu queria


competir.

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CAPÍTULO DOIS

Lincoln

Ela deve ser a pessoa mais estranha que já encontrei na


minha vida inteira. Apesar de ter apenas vinte e dois anos, mal
vivi, mas estou em Hollywood por completo.

Conheço o estranho.

Estou cercado por ele diariamente.

E essa garota? Não é o fato de que ela não falou porque


estava nervosa ou simplesmente não deu a mínima para mim —
eu poderia encarar isso. É esquisitice total.

Ela opta por não falar.

E como estou de pé com apenas duas horas de sono na noite


passada, passei os últimos minutos fantasiando como seria o som
de sua voz.

Jo-Jo está me esperando no lobby quando salto para fora do


elevador.

“Aí está você!” Ela grita com vigor, o suficiente para que
meus ouvidos reclamem um pouco enquanto minha pele se arrepia
como se estivesse sofrendo uma reação alérgica a alguma coisa.
“Onde você esteve?”

Ao contrário de Dani, Jo-Jo fala. Muito. E sua voz? Bem, a


única coisa que posso relacionar ao som que seus lábios emitem é
pensar no açougueiro mais próximo esfaqueando um porco.

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Ela ri.

Talvez dois porcos.

Outra risada.

Ou cinco.

Por que mesmo ela está aqui?

“Então...” Suas unhas cravam em meu antebraço. “... meu


agente diz que só precisa que algumas fotos comecem a circular.
Então estarei longe de você, baby.”

Oh, e ela chama tudo e todos de baby.

Não é bonito.

Ou cativante.

Nem mesmo um pouco engraçado.

É irritante, como a voz dela, e lá estou eu novamente


fantasiando sobre Dani. A menina de olhos brilhantes e lábios
macios.

A menina que é muda.

“Odeio o oceano, peixes, multidões e cafés que tentam muito


parecer locais e pitorescos.” Estou sendo empurrando em direção
à porta, e por que diabos ela está listando as coisas que odeia?

“Oh...” Outro puxão no meu braço enquanto meus pelos se


eriçam e recuo como se fosse repelido pelo toque dela. “... e odeio
qualquer restaurante que afirme ser orgânico e ainda assim utiliza
óleos não orgânicos.”

Vou falar — quase consigo, mas ela simplesmente continua


tagarelando.

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“E acho que seria extremamente desagradável se fossemos


fotografados em um shopping. Quer dizer, e as pessoas pobres,
como ficariam?”

Porque as pessoas pobres não precisam de alimentos ou


roupas? Onde mais ela acha que eles compram e pagam por suas
necessidades diárias?

“Escute...” Consigo me soltar dela. “... acho que esqueci uma


coisa lá no quarto de Jaymeson. Por que você não me envia uma
mensagem dizendo aonde quer ir, e te encontro lá.”

Ela começa a fazer beicinho de novo, seus lábios cheios de


Botox se apertando em um gigante borrão inchado.

“Além disso...” Tusso na minha mão. “... minha caminhonete


ainda está carregada com todas as minhas merdas, então...”

“Caminhonete?” Ela cospe a palavra alto o suficiente para


que a cabeça do carregador gire em nossa direção.

Suas sobrancelhas se levantam e ele dá alguns passos para


trás, fora da linha de fogo. Homem inteligente.

“Você dirige uma caminhonete?”

“Sim.” Balanço a cabeça lentamente. “Quer dizer, tem só


vinte anos, mal chega a ser antiga e com certeza está com um
limpador faltando e, às vezes, solta uns barulhos meio estranhos
pelo escapamento quando estou parado em algum sinal de
trânsito, mas foi um ótimo negócio na loja de usados e...”

Jo-Jo ergue a mão. “Quer saber? Acho que podemos marcar


de nos encontrar, ainda hoje, talvez amanhã mesmo. Tenho uma
agenda bastante cheia nos próximos dias, e uma vez que você vai
começar a filmar suas primeiras cenas na sexta-feira...” Ela
continua andando para trás, colocando seus grandes óculos de sol
Prada no rosto. “Vamos manter contato.”

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Espero até que desapareça, em seguida, aceno para o


manobrista.

Poucos minutos depois, ele traz minha caminhonete.

Não é uma lata velha.

Mas uma pick-up nova, da marca Ford, totalmente cheia de


acessórios e aerofólio e realmente prefiro dormir nela do que no
meu trailer.

“Isso é tudo, senhor?” O manobrista pergunta.

“Sim.” Entrego-lhe uma nota de vinte e entro no veículo, mas


não parto imediatamente porque vejo um flash de cabelo loiro.

Dani está saindo do lobby do hotel. Seu tênis Converse


branco está limpo — muito limpo — dando a impressão de que ela
não faz nada do lado externo do edifício. Ou isso, ou ela é uma
daquelas pessoas que limpam os sapatos antes de colocá-los de
volta no armário.

Seu jeans skinny está rasgado na altura dos joelhos — não


de uma forma elegante, quase como se tivesse pegado uma tesoura
em uma tentativa de fazer shorts e acabou decidindo não fazer.

Com os ombros caídos, sua camiseta preta pende contra o


corpo. Será que a menina come? Ela faz alguma coisa? E por que
diabos, de repente, estou me incomodando se ela parece magra
demais? Se há círculos pretos marcando a pele sob seus olhos.
Sim, eu realmente preciso dormir mais, porque da última vez que
fiquei assim tão obcecado por causa de uma menina foi na quarta
série, quando puxei as tranças de Mary Bailey e perguntei se ela
queria um pouco do meu Doritos.

Não sou obcecado por mulheres.

Porque as mulheres me cercam. Constantemente. Se quero


uma, tudo o que preciso fazer é falar e fazer minha escolha — não
é minha arrogância falando, apenas um fato simples da vida — e

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é por isso que continuo abençoadamente solteiro e qualquer


relação minha só dura vinte e quatro. Há muita diversão
compartilhada, e depois a diversão termina. Ambos os lados ficam
satisfeitos. Fim da história.

Faço uma careta e olho para o relógio. São quase seis.


Tecnicamente ela não deveria começar até amanhã, mas minha
agenda acabou de ficar livre.

Rapidamente envio um texto.

Linc: Você é boa em fazer as malas?

Dani pega seu telefone e olha para ele, então manda uma
mensagem de volta.

Dani: Quem é?

Linc: Seu novo chefe. Olhe para a esquerda.

Ela olha para cima.

Dou um aceno.

Lentamente, ela caminha até minha caminhonete que está


ligada, os olhos sobre os pneus em vez de meu rosto enquanto
metodicamente digita uma mensagem.

Dani: Hmm, me disseram para nunca entrar em um carro com


estranhos.

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Começo a rir. “Graças a Deus você tem senso de humor.”

Meu telefone apita. Olho para baixo.

Dani: Eu não estava brincando.

Eu me encolho um pouco e vejo um sorriso brincar em seus


lábios, transformando o rosto triste em triunfante.

“Tudo bem...” Rio baixinho. “... entre aí. Prometo que não
vou morder, nem contar.”

Meu alerta de texto soa enquanto ela sobe no banco do


passageiro.

Dani: Contar?

Jogo o telefone no porta-copos e espero que ela afivele o cinto


de segurança antes de responder. “Que você tem um sorriso muito
bonito.”

Suas maçãs do rosto ficam coradas enquanto ela


rapidamente desvia o olhar.

“O que?” Saio do hotel e entro no trânsito da cidade.


“Nenhuma mensagem de texto?”

Quando estamos no semáforo, meu telefone apita.

Dani: Não use o celular enquanto dirige, idiota. Pare de ler!


Sinal Verde!

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Naturalmente, a luz ficou verde. Solto uma maldição e deixo


o telefone cair, em seguida, lanço um olhar para ela. “Você vai ser
difícil, não é?”

Ela dá de ombros inocentemente.

“Estou de olho em você, sabe.”

Ela não responde. Não esperava que respondesse, mas o


anseio ainda está ali. Talvez porque ela seja um desafio. E Deus
sabe que não tenho qualquer um destes há muito tempo. Ok,
talvez desde o incidente com o Doritos?

“Só porque você não está falando não significa que seu
cérebro não esteja prestes a explodir. Tenho certeza de que tem
algumas conversas bem assassinas com você mesma, e, para sua
sorte, sou um especialista em linguagem corporal. Então, embora
você fique quieta, sei todos os seus segredos.”

Ela congela.

“Fiz você sorrir”, anuncio com um sorriso arrogante. “Isso


significa que hoje? Eu venci.”

O caminho até o pequeno apartamento que estou alugando


no centro é silencioso e estranho. Já esperava estranho. O que não
esperava é a menina literalmente fingir que sou a pessoa mais
chata do planeta.

“Você gosta de música?” Solto, aumentando o volume.

Ela balança a cabeça negativamente.

Bato meus dedos contra o volante enquanto nervosismo gira


em torno de mim. O silêncio não é algo que estou acostumado.
Quem não gosta de música?

Devo ter dito isso em voz alta, porque ela dá de ombros.

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Algo sobre o meu jeito de dirigir a está deixando ansiosa —


isso, ou minhas habilidades de conversa unilateral precisam ser
trabalhadas. Toda vez que olho para ela, suas mãos estão
apertadas no colo, drenando todo o sangue de seus dedos. Se ela
continuasse apertando assim, acabaria perdendo um polegar, e
isso acabaria ficando na minha consciência.

“Então...” Agarro o volante com os dedos, o suor de minhas


palmas fazendo um som de deslize sobre o couro. Preciso de algum
tipo de ruído para evitar ficar louco. “... você gosta do Jaymeson?”

Um aceno de cabeça.

“Certo”, assobio uma lufada de ar entre os dentes, assim que


estaciono em uma vaga na rua e desligo a caminhonete.

O cinto de segurança de Dani quase acerta seus olhos


enquanto rapidamente solta a fivela e salta do veículo como se
estivesse em chamas. Quando seus pés pousam no chão, ela solta
alguns suspiros desesperados.

E fico me perguntando se aquilo é por causa da minha


caminhonete, da companhia, ou ambas.

“Não posso dizer que já causei esse tipo de reação antes”,


sussurro.

Meu telefone soa.

Dani: Eu sou muda, não surda, seu idiota, e não gosto de


caminhonetes.

“Por quê?” Faço uma careta desviando o olhar da tela do


meu telefone.

Com mãos trêmulas, ela digita rapidamente e começa a


caminhar para longe de mim em direção ao prédio.

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Dani: Porque foi uma que bateu no carro dos meus pais na
noite em que morreram. Uma caminhonete. Vermelha.

“Merda.” Olho para minha caminhonete vermelho cereja,


sentindo-me um idiota por fazê-la anda nela. Mas não é como se
eu soubesse. Droga, Jaymeson! Ele deveria ter enviado a garota
com um manual ou algo assim!

Corro atrás de Dani e abro a porta para o lobby do prédio.


Ela atravessa, com os olhos vazios de emoção.

Então, claramente, não está impressionada por estarmos em


um dos mais bonitos conjuntos de apartamentos de Portland.

Então, novamente, ela provavelmente está acostumada.

À opulência.

Ela é a cunhada de Jaymeson. O cara está a caminho de


possuir Hollywood.

Andamos em silêncio no elevador.

Andamos pelo corredor... em silêncio.

Abro a porta — sim, você adivinhou — em silêncio.

O silêncio vai me matar.

Graças a Deus deixei ligado o sistema de som. Entramos ao


som do mais novo lançamento de Ne-Yo.

Jogo minhas chaves sobre a mesa e quase engulo a língua


inteira quando Dani começa a bater o pé, e em seguida, move os
quadris para a esquerda, direita, e vice-versa. É bonito pra
caramba.

“Então?” Limpo a garganta.

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Ela para de dançar.

“Você odeia música, hein?”

Corando, abaixa a cabeça e levanta um ombro.

“Apenas certos tipos de música?”

Um aceno de cabeça.

“Merda”, murmuro, passando a mão pelo meu cabelo


desgrenhado. “Temos que fazer algo sobre essa conversação. Não
sou um daqueles caras que curtem silêncio, provavelmente por
isso Jaymeson pensou que esta seria uma boa ideia. Inferno, sou
um desordeiro, odeio bibliotecas, e se tiver que sentar e ouvir a
mim mesmo engolindo — ou respirando já que estamos neste
assunto — por mais cinco minutos, vou acabar enlouquecendo.
Então digite aí o tipo de música que você quer e pelo menos solte
uns grunhidos quando acenar com a cabeça.”

Pego meu telefone.

Dani: Tipo assim?

Olho para cima quando ela grunhe em voz alta, fazendo um


barulho que parece muito como um agricultor depois de
inspecionar uma vaca e considera-la digna de um açougueiro.

“Você é um grunhidora de merda. Diga-me que pelo menos


consegue suspirar? Ou gemer?”

Ela cora.

“Ah, qual deles? Ou ambos?”

Dani: Você nunca saberá, Hollywood.

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Rachel Van Dyken

“Ha.” Solto uma gargalhada com o emoji de um unicórnio


aleatório que acompanha seu texto. “Tudo bem, estou aumentando
o som então, já que, aparentemente, Ne-Yo é bom, mas por alguma
razão Wiz-Khalifa está fora.”

Suas bochechas rosadas ficam pálidas.

Balanço minha cabeça, em seguida, xingo em voz alta. “É a


nova canção, não é?”

Dani: Não se preocupe com isso.

“Mas...” Encosto-me ao balcão. “... você vê, isso é o oposto


da minha personalidade — eu me importo, me preocupo. Sou como
uma menina, só que no corpo de um cara muito gostoso.”

Isso a faz sorrir.

“Sinto muito...” A este ritmo, provavelmente vou falar o


suficiente para nós e ficar rouco. Quando foi que achei que me
comunicar com uma garota poderia ser tão difícil? Nunca. “... sei
que deve ser complicado...”

Ela levanta a cabeça enquanto digita alguma coisa de um


jeito maníaco em seu telefone, em seguida, bate a mão contra a
bancada.

Bochechas vermelhas, olhos selvagens, ela olha para mim,


em seguida, aponta para o telefone na minha mão.

Olho para baixo.

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Rachel Van Dyken

Dani: Você não sabe. Nunca saberá. Ninguém tem ideia, mas
todo mundo diz isso. Estou aqui para trabalhar. Você é meu chefe,
não meu terapeuta.

Engolindo em seco, abaixo meu telefone e então o coloco na


parte de trás da minha calça jeans. “Tudo bem, vamos fazer as
malas então.”

Ela exala, seu corpo indo de nervoso e com raiva a relaxado,


enquanto estou tenso como um tambor.

Não estou acostumado a ser repreendido por ninguém.


Gostaria de pensar que, considerando que cresci em uma casa com
dois pais muito distantes emocionalmente, quer dizer muito sobre
mim o fato de que pelo menos sei como me comportar socialmente e
me preocupar com outro ser humano. Inferno, meus pais foram
capazes de esquecer meu aniversário, mas deram uma festa para a
família Chihuahua.

Mas nunca reclamei.

Sinto-me estúpido por até mesmo ter aberto minha maldita


boca, pois vim da fama, dinheiro. Nasci privilegiado. Por sorte.
Mesmo que meus pais tenham sido uma droga.

Minha irmã não teve vida fácil também.

Um vício após o outro acabou finalmente jogando-a na


reabilitação, graças ao Alec Daniels, um dos caras do AD2. Ela
ainda não havia me confiado os detalhes de alguns anos atrás,
mas, considerando-se que todos estão se dando bem novamente,
só posso supor que ele foi a pessoa que conseguiu fazê-la ir atrás
da ajuda que precisava, razão pela qual, quando recebi a audição
para este filme, sabia que tinha que experimentar.

AD2 está fazendo a trilha sonora e Jaymeson é meio parente


dos caras. Soube, sem sombra de dúvida, que este seria um

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Rachel Van Dyken

sucesso de bilheteria, e depois de todo o drama e merda do meu


último filme, passar alguns meses filmando na costa de Oregon me
pareceu como um período de férias.

Uma garganta é limpa.

Dani coloca as mãos nos quadris, em seguida, abre os


braços, como se dissesse, “E então? Você só vai ficar aí parado feito
um idiota ou vai me dizer o que fazer?”

A voz que estou usando para ela dentro da minha cabeça


não é nem de longe tão sexy quanto deveria ser, porque a garota é
sexy, desde aquela sua bela cabeça loura até os tornozelos.

Meus olhos descem.

O que há em seus tornozelos?

Duas palmas em frente ao meu rosto.

Minhas sobrancelhas se erguem. “Você não pode falar, mas


pode bater palmas na minha frente como se eu tivesse cinco anos?”
Lentamente afasto suas mãos, um contato breve.

Ela não responde.

Odeio isso.

Aponto para uma das caixas. “Então, acho que podemos


começar pela sala de estar. Não vou ficar muito por aqui já que a
maior parte das filmagens será realizada no Litoral, mas achei que
seria bom ter um lugar para voltar, sabe?”

Nenhuma resposta.

“Eu mudo muito...” Realmente não consigo parar de falar. É


um hábito nervoso realmente deplorável, quando se está na
companhia de alguém que sofre de mudez. Aposto que ela vai
acabar me esfaqueando antes do fim da noite. “... você sabe, por
causa dos filmes.”

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Rachel Van Dyken

Idiota. Claro que me mudo bastante por causa dos filmes.


Sou um ator, pelo amor de Deus. Talvez deva pegar uma dica com
ela e apenas não falar. Nunca mais.

Dani começa a arrumar uma das caixas, em seguida, levanta


um pequeno porco azul, que ganhei quando fiz meu primeiro
comercial, aos dez anos, para uma empresa de poupança e
empréstimo.

“Este é Wilbur.”

Ela segura o porco como se a enojasse. Mas, olhando bem,


de algum jeito ele foi de um bonito azul-marinho para um branco
sujo, com estranhas marcas pretas que de repente apareceram.
Chorei por aquele porquinho quando era pequeno. Minha mãe,
vadia como sempre foi, disse que meu porco devia ter câncer — e
depois riu. Afasto a lembrança, arrebato o porco de Dani e o coloco
na caixa, tomando o cuidado de colocar vários pedaços de jornal
em volta dele.

“Ele sempre tem status especial durante a viagem.”

Meu telefone toca.

Dani: Eu gosto de porcos.

Começo a rir, não esperava isso e olho para seu sorriso


tímido. “Existe uma razão para isso?”

Meu telefone vibra com um texto e o emoji de um porco


sentado na lama.

Dani: Eles têm rabinhos bonitos.

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Rachel Van Dyken

Balanço a cabeça. “Acho que vamos nos dar muito bem,


Dani.”

Ela rapidamente se vira e continua a arrumar a caixa — mas


não em completo silêncio. Porque se eu ouvir com muito cuidado,
posso escutar um ligeiro zumbido vindo de seus lábios.

Graças a Deus pelos interesses comuns.

Graças a Deus pelos porcos.

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Rachel Van Dyken

CAPÍTULO TRÊS

Dani

Lincoln se oferece para me levar de volta ao hotel, uma vez


que terminamos. Concordo só porque a única coisa mais
aterrorizante do que entrar na caminhonete dele, seria andar em
um carro com um estranho, cujo único objetivo na vida é o de me
levar do ponto A ao ponto B no menor tempo possível.

A viagem de volta não é tão estranha quanto foi a de ida.

Principalmente porque estou me acostumando com ele, mais


ou menos. Isto é, se for possível se acostumar com homens de boa
aparência e que sorriam — muito.

Ele é todo sorrisos.

Eu não esperava isso.

Na maioria das fotos que vi dele, ele estava sem camisa e


com cara séria e angustiada — completamente o oposto do cara
sentado ao meu lado. O cara embala um porco e leva onde quer
que vá.

Um porco.

Esteve na ponta da minha língua contar sobre o porco que


meus pais me deram quando era pequena. Eu lhes disse que era
estúpido contar carneirinhos; assim, Patsy, o porco, chegou e me
ajudou a ter somente bons sonhos.

Eu ainda a tenho.

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Rachel Van Dyken

É mais um ponto em comum, uma coisa que senti que


precisamos, uma vez que eu poderia muito bem ser um alien para
ele.

Mas no minuto em que abri minha boca para tentar, tentar


realmente, a única coisa que consegui forçar foi um ruído fraco
que parecia que estava tentando cantarolar.

Totalmente embaraçada — pelo que fiz. Cantarolei porque


não queria que ele pensasse que tinha síndrome de Tourette além
de todo o resto. Isso é exatamente o que ele precisa, alguém que
apenas deixa escapar ruídos aleatórios sem motivo.

Seguro meu gemido até que ele me deixa, fazendo-me


prometer que apareceria para trabalhar na próxima manhã...

Dou um aceno.

E ele acena de volta, algo que não estou acostumada.


Normalmente, quando as pessoas descobrem que sou muda, eles
param de me notar, quase como se não merecesse sua atenção
porque não posso contribuir adequadamente para a conversa. É
uma droga. Às vezes, minha própria irmã faz isso, embora saiba
que é de propósito.

Foi por isso que um dos meus melhores amigos, Demetri,


saiu com esta coisa toda de enviar mensagens de texto.

Isso basicamente salvou a minha vida.

Então, novamente, ele basicamente salvou a minha vida,


tanto ele quanto Alec, ambos cantores da AD2.

Foi estranho, passar de Fã-Girl a ter os caras ao meu lado


depois do acidente. Eles deveriam ter deixado Seaside, mas
quiseram criar raízes, por isso, quando não estão viajando, moram
lá em tempo integral.

Demetri é meu vizinho da porta ao lado.

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Ele esteve lá na primeira noite que as coisas ficaram difíceis.

Ainda não sei por que isso aconteceu, ou como...

Minha perna ainda estava se curando do acidente, e haviam


me dito para exercitá-la, tanto quanto possível.

Caminhar à noite era uma coisa que eu e minha mãe


adorávamos fazer, então saí para uma caminhada e para conversar
com as estrelas e, às vezes, eu realmente acreditava que elas me
respondiam.

Não ouvi o carro chegando.

Tudo o que vi foram as luzes.

E, em seguida, gritos.

Tantos gritos que tive que cobrir meus ouvidos porque pensei
que meus tímpanos iriam explodir.

Demetri estava comigo, não que ele pudesse ter feito qualquer
coisa para evitar, assim como eu não pude fazer nada para impedir
os gritos.

Minha voz ficou rouca.

Desapareceu completamente.

No exterior eu estava bem.

Na hora certa, o carro conseguiu evitar me acertar.

Mas por dentro?

Estava absolutamente destruída.

Não fazia ideia de quem estava dirigindo aquele carro, só que


era um Mercedes AMG preto. As placas foram um borrão. Não que
isso importasse já que a pessoa não chegou realmente a me
machucar.

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Rachel Van Dyken

Acho que fui ferida antes daquela noite, minhas emoções


estavam penduradas por um fio, e, em seguida, o carro acabou
agindo como tesoura, rompendo o fio ao meio, deixando-me cair
em um poço de desespero.

Pressiono o botão para a cobertura novamente e espero,


rezando para que o elevador não faça aquela coisa assustadora de
antes.

Uma menina asiática e pequena, com cabelo escuro corre


para o elevador. “Você pode segurar, por favor?”

Balanço a cabeça e aperto o botão, mas as portas não


reabrem. Fecham-se com ela gritando “cadela” na minha cara.

Isso é outra droga sobre ser muda.

As pessoas constantemente pensam que sou esnobe ou


rude.

Meus próprios amigos — amigos que não estão mais na


minha lista de contatos — já haviam me dito que ajo como uma
cadela.

E isso me feriu.

Ainda dói. E às vezes me pergunto se isso é verdade, ou


talvez esta seja minha punição por não ter sido grata o suficiente
durante o ensino médio.

O elevador balança, em seguida, sobe para o andar mais alto


e abre.

Rapidamente entro na grande suíte e silenciosamente vou


para meu quarto. Amanhã estamos retornando para Seaside, uma
vez que as filmagens começariam.

Estremeço.

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Rachel Van Dyken

Seaside costumava ser meu lar.

Agora? Traz todas as memórias ruins que tenho dentro de


mim.

Porque, por todos os lugares que ando, vejo meus pais e toda
vez que fecho meus olhos, acordo pensando que ainda estão vivos.

Só para perceber em poucos segundos que não foi apenas


um sonho ruim — eles realmente estão mortos.

Enfio alguns travesseiros nas minhas costas, então estou


sentada na cama e pego meu telefone para verificar as mensagens
de texto. Preciso de uma boa distração.

Demetri: Um passarinho, também conhecido como meu irmão,


me contou que você é a nova assistente de Lincoln Greene? Conte-
me; ele é tão assustador quanto sua irmã? Essa cadela ainda me
faz querer bater em uma mulher, e você me conhece, sou todo amor
— completamente contra a violência. Está nas canções...

Com uma risada, escrevo de volta e envio alguns emojis de


rostos sorridentes com corações nos olhos.

Dani: Não posso imaginá-lo dando tapas em ninguém. Isso


não estragaria sua manicure?

Demetri: Retire isso já!

Ele me envia uma foto de sua cara brava. O cara é muito


sexy. Casado, realizado e completamente feliz — mas muito
gostoso. Nenhuma menina sã é capaz de ignorar suas covinhas,
seu cabelo loiro e aqueles olhos azuis cristalinos. Ele é uma versão

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mais jovem do Brad Pitt e do Paul Walker — o que está em sua


própria hashtag.

Dani: Desculpa. Você é bonitinho?

Demetri: Vou aceitar.

Dani: Ele acha que sou estúpida.

Demetri: Impossível. O bastardo realmente disse isso?

Dani: Não, fui *eu*.

Demetri: Será que precisamos ter aquela conversa


novamente? Tenho que fazê-la listar todas as coisas que mais adoro
em você, irmãzinha?

Sorrio através das minhas lágrimas. Nunca tive irmãos; não


conto os dois caras que meus pais costumavam sustentar no Haiti,
embora minha irmã sempre o fizesse. Demetri e Alec são o mais
próximo de irmãos que já tive. Acho que eles são ainda melhor do
que a coisa real.

Dani: Não, momento de fraqueza. Desculpa.

Demetri: Quer saber? Quando você chegar à cidade amanhã,


vou te levar para tomar sorvete e também podemos jogar balinhas
no Alec quando ele estiver ensaiando.

Dani: Uma das minhas coisas preferidas no mundo!

Demetri: Minha também. Além disso, aviso, ele está


basicamente sem dormir desde que o bebê nasceu. Então, se
descontar em você, não é culpa sua.

Dani: Ok

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Demeti: Você jura que ele foi legal com você?

Dani: Quem?

Demetri: Não se faça de boba. Você sabe quem. Lincoln-


quero-arrancar-minhas-roupas Greene.

Dani: Que merda! Você acha que eu deveria ter bancado a


difícil?

Demetri: O QUÊ?!

Dani: Brincadeira. Rsrsr. Ha ha?

Demetri: O cara teria sorte de ainda estar respirando. Não


me assuste assim. Estou ficando velho. Tenho um coração fraco.

Dani: Você não tem vinte e dois?

Demetri: Espere, deixe-me buscar meus óculos para poder ler


esta sua letrinha tão pequenininha.

Dani: Vá para a cama.

Demetri: Só se você for para a cama e me prometer que vai


tentar neste verão.

Dani: Tentar?

Demetri: Divertir-se como uma adolescente normal. Não estou


sugerindo drogas, álcool ou todas estas orgias noturnas. Talvez
assistir um filme, ainda se lembra o que é isso? Nadar nua no
oceano, mas não diga a sua irmã que incentivei tal comportamento.
Apenas viva, Dani.

Dani: Está tarde.

Demetri: Não me venha com essa! Apenas diga sim, Demetri.

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Rachel Van Dyken

Sorrio e mando uma mensagem de volta, com os polegares


para cima e uma menina dormindo.

Dani: Sim, Demetri.

Demetri: Boa menina.

Dani: Bom menino.

Demetri: Engraçadinha.

Dani: Diga oi a Lyss por mim.

Demetri: Digo sim.

Solto meu telefone na mesa de cabeceira, em seguida,


levanto e ando pelo meu quarto. Talvez ele esteja certo. Preciso
fazer algo divertido neste verão. Afinal de contas, só terei dezessete
anos por mais um mês. E então serei uma adulta.

Sem qualquer pista sobre o meu futuro ou o que ainda quero


fazer.

Toda vez que penso em me mudar de Seaside, começo a


entrar em pânico, mas pensar em continuar por lá, tem o mesmo
efeito em mim.

É como se, independentemente do que faça, a ansiedade


ainda está lá.

Sacudindo os pensamentos sombrios, tiro minhas roupas e


me arrasto para a cama... outra peculiaridade engraçada. Se eu
vestisse roupas para dormir, acabava suando tanto que precisava
trocá-las.

São os pesadelos.

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Rachel Van Dyken

A terapeuta me disse para deixar meu quarto sempre gelado.


E ela pensou que talvez minhas roupas acabassem gerando em
mim um ataque de pânico por causa da restrição, o que me fazia
suar.

Então comecei a dormir sem roupa.

E, graças a Deus, isso acabou dando certo.

Sobre a mesa de cabeceira, meu telefone apita novamente.


Sorrio, pronta para enviar uma mensagem de volta para Demetri,
dizendo que ele precisa dormir um pouco já que precisa gravar
amanhã. Mas não é Demetri. Meu dedo congela sobre o pequeno
teclado enquanto rapidamente me deixo cair sobre a cama e leio o
texto.

Linc: Diga-me algo engraçado.

Dani: Isso está na descrição do trabalho? Entretê-lo?

Linc: Agora está.

Dani: Você está entediado?

Linc: Com insônia, e Wilbur foi para a cama horas atrás,


então...

Solto uma risada e envio para ele uns dez emojis de porco.

Dani: E ele normalmente faz esse trabalho?

Linc: Inferno sim, ele faz. Claramente, você subestima nosso


relacionamento.

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Rachel Van Dyken

Linc manda uma mensagem de volta com um emoji de


agricultor.

Dani: Não tenho piadas, mas posso lhe enviar uma foto de
Demetri Daniels pegando fogo. Será que isso ajudaria?

Linc: Você sabe que era eu quem estava filmando o cara,


certo? A foto da festa de elenco na pré-produção?

Dani: Não. Mesmo assim. Continua sendo engraçado,


independentemente de quem fez as imagens ou quantas vezes você
já as viu.

Linc: Vou ver isso agora. Você acha que os pelos do braço dele
voltaram a crescer?

Dani: Da última vez que perguntei a ele, ouvi um monte de


palavrões e um dedo médio foi exibido.

Linc: Ainda sensível, pelo jeito.

Dani: Ele tem medo de pássaros, o que você acha?

Rio quando envio o emoji que Demetri menos curte: um


corvo voando em círculos.

Linc: Você está brincando.

Dani: Escondi um passarinho debaixo do travesseiro dele,


achando que seria engraçado e cimentaria nossa amizade. Ele teve
de escondê-lo em minha casa, porque cada vez que acordava,
soltava um palavrão, pensando que o bicho era de verdade.

Linc: Por que não o escondeu fora de seu quarto?

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Rachel Van Dyken

Dani: Porque ele ainda podia senti-lo. Palavras dele, não


minhas.

Linc: Ha ha, obrigado pela munição.

Dani: Sim, bem, não tenho piadas, mas pelo menos posso
jogar meu melhor amigo na fogueira.

Linc: Como ele conquistou esse cobiçado título?

Engulo a emoção na minha garganta e me pergunto se


deveria responder a verdade ou apenas fazer uma brincadeira.

Dani: Fácil. Ele entende a minha obsessão com aquelas


balinhas Sour Patch Kids.

Linc: Então, se eu fosse até o mercado e lhe comprasse um


estoque anual...

Dani: NÃO ZOA!!

Linc: Um estoque de dois anos?

Dani: Demetri quem?

Linc: Agora me sinto como se tivesse acabado de dominar o


mundo.

Dani: Hum, de nada?

Linc: Acho que vou dormir com um sorriso no rosto agora...


obrigado por responder. Mais uma coisa…

Dani: ?

Linc: Quantos anos você tem?

Dani: Se eu tivesse preenchido um formulário de emprego


normal, como uma pessoa normal, você saberia disso.

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Rachel Van Dyken

Linc: Isso significa que preciso abrir uma vaga falsa apenas
para descobrir? Ou você vai ter pena de mim e simplesmente
responder?

Não sei por que estou envergonhada com a minha idade.


Talvez seja porque ele parece muito mais velho. Não que realmente
seja. Antes de perder a coragem, rapidamente digito de volta.

Dani: Dezessete, fazendo dezoito anos em um mês.

Ele não responde de imediato.

Faço uma careta para a tela. O que? Será que ele achava que
eu era mais nova?

Linc: Obrigado.

Dani: Claro.

Linc: Durma um pouco, seu chefe é um verdadeiro bundão.


Não quero que ele te coma amanhã de manhã porque chegou
atrasada.

Meu rosto se aquece.

Dani: Boa noite.

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Rachel Van Dyken

CAPÍTULO QUATRO

Lincoln

Merda! Eu sou um idiota. Primeiro perguntei a sua idade.


Então quase caí da minha cama quando ela mandou uma
mensagem de volta, dizendo que tem a porcaria de dezessete anos
de idade. Chutaria uns dezenove anos. Se ela tem dezessete,
quantos anos tem a irmã dela?

E por que a idade dela tem alguma importância?

Não é como se precisasse que ela fosse maior de idade para


trabalhar para mim.

Os lençóis frescos fazem cócegas contra minhas pernas.


Chutando-os para longe, olho para o meu telefone outra vez. Meu
bom senso claramente tirou férias. Realmente disse que o chefe
iria comê-la na parte da manhã?

Não idiota, você digitou!

Então, se alguém hackear um de nossos telefones posso


acabar na prisão por flertar com uma menor!

Ótimo. Isso seria mesmo muito bom! Mas que porcaria!

Por que ela tem que ter dezessete anos?

Preciso ficar com alguém. Claro e simples.

Talvez seja assim que você descubra que está beirando a


exaustão.

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Rachel Van Dyken

Você começa a sonhar acordado com menores de idade —


ou fica obcecado sobre algo tão bobo como o som do seu nome
saindo daqueles lábios exuberantes.

“Infeeerrno...” Soco o travesseiro com meu punho, em


seguida, cubro o rosto com o mesmo travesseiro. Ele tem cheiro de
mofo, como se tivesse ficado tempo demais armazenado e
empacotado na caminhonete.

Não estava mentindo sobre a necessidade de algo para me


ajudar a adormecer.

Os primeiros dias no set sempre trazem um monte de


ansiedade e nervosismo.

É como voltar ao primeiro dia de escola tudo de novo. Será


que vão gostar de mim? Será que não vou falhar completamente?
Com quem vou sentar no almoço?

Gemendo, jogo o travesseiro no chão e levanto para me servir


um copo de vinho. Pelo menos isso me ajudaria a relaxar um
pouco.

E, tomara, tiraria minha mente da menina que não tem


nenhum problema em escrever suas palavras em mensagens de
texto, mas não é capaz de dizê-las em voz alta.

Lincoln: Escolha seu veneno.

Mando uma mensagem com uma foto da Starbucks e espero


sua resposta.

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Rachel Van Dyken

Dani: Açúcar e cafeína — surpreenda-me.

Ainda estou sorrindo para meu telefone quando o barista


toma meu pedido, e, porque meu cérebro ainda está no mesmo
modo de férias que estava ontem, minha mente fica completamente
em branco.

“Uh.” Ótimo começo. E hoje vou ter mesmo que despejar


linhas sobre amor verdadeiro? Pode me matar agora.

“Lincoln?” A voz de Jo-Jo é como uma unha arranhando um


quadro-negro. “Lincoln, é você?” Parece quinhentas unhas sendo
simultaneamente arrastadas no quadro. Em modo repeat.
“Lincoln?” Quinhentas vezes.

“Sim?” Eu me viro e forço um sorriso fácil, embora realmente


esteja com vontade de saltar sobre o balcão, roubar o avental e a
viseira do barista, e gritar, “Sósia!”

Com um biquinho bem ensaiado, Jo-Jo aperta os lábios, em


seguida, faz uma grande cena, balançando seus quadris enquanto
caminha em direção a mim. “Você não me enviou uma mensagem
de texto ontem à noite.”

“Acabei pegando no sono”, minto, recuando em direção ao


balcão. Talvez o barista ficasse com pena de mim e despejasse café
quente sobre minha mão, então teria uma desculpa para escapar.

“Oh.” Jo-Jo franze a testa. “Bem, tenho algum tempo livre


esta manhã, se quiser fazer alguma coisa...”

“Não será possível.” Levanto meu ombro. “Vou me encontrar


com minha nova assistente daqui a pouco e então vou dirigir até o
set.”

“Na sua caminhonete?”

Qual o problema dela com minha caminhonete?

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Rachel Van Dyken

“Sim.” Faço um “Desculpe” com minha boa para o barista,


enquanto a fila triplica de tamanho. Começo a fazer meu pedido,
mas Jo-Jo me interrompe. Outra vez.

“Oh, bem...” Ela passa as unhas pelo meu braço. “... acho
que podemos fazer uma selfie aqui. Isso não terá o mesmo efeito
que passar o dia comigo, mas é melhor que nada.” Antes que possa
protestar, ela levanta o telefone e aponta para nós, tirando uma
foto sua beijando minha bochecha, e depois dá um tapa na minha
bunda. “Muito bom. Vamos manter contato.”

Minha bunda está formigando — e não de um jeito bom.


Mais como um aviso de que pode realmente deixar de existir se
aquela mulher tentar tocá-la novamente.

“Cara, você vai fazer seu pedido ou não?” O barista bate o


pincel marcador contra um dos copos e estreita seus olhos para
mim.

“Sim”, falo entrecortado. “Dois lattes grandes com baunilha.


Triplo.”

Empurro uma nota de cem para ele, enquanto ele anota o


meu pedido, e sussurro, “Para os clientes atrás de mim.”

Ele olha para a nota de cem dólares, então estreita mais os


olhos. Eu me atrapalho com meus óculos de sol quando o
reconhecimento toma conta do rosto dele. “Cara, você é Lincoln
Greene!”

“Shh.” Aceno as mãos à minha frente e colo um sorriso falso


no rosto. “Vamos manter isso entre nós, cara. Tudo bem?”

“Certo.” Ele lambe os lábios e desliza o marcador preto para


mim. “Mas você pode me dar seu autógrafo?”

“Sim.” Rapidamente rabisco meu nome no copo que ele me


entregou e vou esperar pelas bebidas.

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Rachel Van Dyken

As pessoas em Portland não se preocupam com meu status


de celebridade. Pediam meu autógrafo mais quando eu estava em
Hollywood. Talvez não se importem, ou talvez realmente estejam
chapados o tempo todo — como Jaymeson acredita.

Ele disse que as filmagens em Portland e Seaside seriam


como um período de férias, e estou começando a acreditar.

Droga, preciso mesmo de férias.

“Lincoln...”, o barista acena para mim e avisa que minhas


bebidas estão prontas. “... está pronto, bro, e obrigado por ser tão
legal.”

“Imagina, cara.” Pego minhas bebidas e corro para fora da


cafeteria para minha caminhonete, um pouco ansioso demais para
encontrar Dani e irritado que iria encontrar minha assistente. Dou
um passo em falso e quase deixo cair os cafés por todo a calçada.

Minha assistente.

Ela me intriga.

E não é porque ela não se jogou em cima de mim. Muitas


meninas mantêm distância. Quer dizer, a maioria delas
normalmente é cega ou passou dos oitenta, mas ainda assim. Não
é como se eu nunca tivesse sido rejeitado.

Simplesmente não acontece muitas vezes.

Rapidamente volto para meu apartamento, batendo os


dedos contra o volante, nervosismo escorrendo de mim. Não por
causa de Dani. É o filme.

E o estúpido papel que tenho que encenar.

Meu estômago se aperta.

Ha, bem, pelo menos encontrei o motivo do meu nervosismo.


O fato de que tenho que interpretar um macho alfa taciturno, que
disputa a atenção da menina. Eu seria a segunda metade da

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Rachel Van Dyken

história de amor, o cara por quem todas as meninas caem de


amores mesmo sabendo que ele é ruim... o irredimível. Inferno,
porque não me dão uma motocicleta e uma jaqueta de couro?
Assim já estaria pronto.

Já interpretei esse personagem antes.

Mas alguma coisa sobre este específico, Dean Elis, me


incomoda. Ele é tão... apaixonado. Sobre tudo. Não apenas pela
garota, mas pela vida em geral. Nunca experimentei esse tipo de
paixão. Na verdade, tenho certeza que experimentar muita paixão
na vida é insalubre. E nunca estive apaixonado, não que isso já
tenha sido um problema para mim ao interpretar esta merda
antes.

Mas, às vezes, me sinto uma fraude.

Começo a rir. E por isso, preciso de café.

“Tire sua cabeça da bunda, Linc”, rosno para mim enquanto


estaciono, desligo o motor e salto da caminhonete, dois cafés na
mão. “Você está adiantada”, digo para minha nova assistente.

Dani está do lado de fora do meu prédio, e seu telefone está


em sua orelha. Seus lábios se movimentando — rápido.

Que diabos?

Que tipo de pessoa finge uma doença como essa? Raiva ferve
dentro de mim enquanto vou até ela, pronto para agarrar o telefone
de suas mãos e jogá-lo longe, sentindo-me um pouco hipócrita,
porque como alguém pode ser tão egoísta? Quer dizer, pobre de
sua família! E ela realmente é capaz de falar?

“Sinto sua falta”, sua voz baixa é quase um sussurro


tornando difícil ouvir como a voz dela realmente deve ser. “Começo
um novo emprego hoje”, ela faz uma pausa. “É culpa de
Jaymeson.” Ela gira seu cabelo loiro em volta do polegar. “Eu te
amo tanto. Sinto muito.”

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Rachel Van Dyken

“Bem...” Limpo a garganta, sem me importar de estar


invadindo sua conversa particular. “... quem é você? A menina que
grita ‘olha o lobo’ como naquela historinha infantil?”

Lentamente, Dani levanta os olhos e encontra meu olhar. O


brilho áspero do sol da manhã revela que seu rosto está branco
como cera. Sua boca se abre, um pequeno grito emerge e seu lábio
inferior treme.

“Oh, por favor”, zombo. “Ouvi você falando, então pode parar
com a ceninha, Dani. Deus sabe que não sou do tipo que faria
fofoca para sua irmã e para seu cunhado. Não é da minha conta
se você gosta de mentir para sua família.”

Com um grito rouco, ela me dá um tapa no peito. Dou um


passo para trás e parte do café derrama dos copos.

Ela puxa o telefone da orelha e começa a digitar.

Meu telefone toca.

Reviro os olhos. “As mãos estão meio cheias, querida. Por


que você simplesmente não usa suas palavras?”

Ela balança a cabeça e aponta para o meu bolso frontal.

“Vamos tentar isso de novo.” Posso sentir minha irritação


crescendo. “Diga-me o que é que você quer dizer. Como uma
adulta.”

Ela bate o pé.

“Oh, ótimo”, solto uma risadinha “Eu me livro de uma


assistente Clepto só para ficar com uma adolescente irritadinha
que pensa que a única maneira de chamar a atenção é fingindo ter
uma doença de verdade, que afeta pessoas REAIS, e pisando duro
para chamar a atenção. Diga-me que estou enganado.”

Lágrimas enchem os cantos dos seus olhos.

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Rachel Van Dyken

“Uau.” Suspiro pesadamente, cansado demais para


continuar com aquela besteira. “Já pensou em começar a atuar?
Você provavelmente é melhor do que sua irmã, e ela é a melhor
que já vi em anos.”

Lágrimas derramam em suas bochechas. Ela simplesmente


continua furiosamente apontando para meu telefone.

Olho-a de cima a abaixo. “Desculpe, querida. Sua família


pode permitir isso de você, mas eu não. De fato, a partir de agora,
considere-se demitida. Não preciso de drama na minha vida. Já
tenho o suficiente como está.”

Ela solta um gritinho e agarra meu braço.

“Solta”, digo com uma voz gelada.

Dani balança a cabeça, em seguida, ergue o telefone, a tela


apontando na minha direção. É o texto que ela me enviou.

Dani: A única pessoa com quem posso falar é meu pai. Escuto
a última mensagem de voz que ele me deixou a cada manhã, e
quando termina, respondo.

“Bem... merda”, murmuro deixando cair o meu olhar para o


chão, onde seus joelhos estão quase batendo, de tanto que ela está
tremendo.

Ergo a cabeça.

Seu peito arfa, as bochechas coradas.

Lentamente, ela digita novamente em seu telefone.

Dani: Você é um idiota.

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Rachel Van Dyken

“Merda”, digo de novo, levantando os cafés para o ar em


frustração. “Eu sei. Olhe, sinto muito... eu vi você falar, ouvi você
falando e simplesmente assumi o pior. Não sabia.”

Ela levanta seu telefone novamente.

Dani: Agora você sabe.

Ela agarra um dos cafés, ergue seu queixo e marcha para


longe de mim. Sentindo-me como um dos maiores idiotas do
mundo, chamo por ela, e, quando ela não para, solto uma
maldição.

“Espere!” Largo meu café na calçada, corro atrás de Dani, e


a agarro “Olha, já disse que sinto muito. Fiz uma suposição errada.
Não podemos começar de novo?”

Ela se afasta de mim e balança a cabeça negativamente.

“Dani...” Merda, eu realmente preciso de uma assistente,


Jaymeson não estava brincando quando disse que minha vida é
caótica. Tenho um assistente desde o meu primeiro comercial. Não
ter uma pessoa ao meu lado seria como ficar sem meu telefone, ou
andar nu pelo set. Extremamente desconfortável e desnecessário.
“… espere, eu preciso de você.”

Ela continua andando.

“Não me faça ligar para Jaymeson!” Golpe baixo. Sei disso,


mas estou desesperado.

Ela congela, seus ombros tensos.

“Vou fazer isso.” Levanto meu telefone. “Você não quer


decepcioná-lo, não é?”

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Rachel Van Dyken

Os punhos ao lado de seu corpo ficam cerrados, e ela olha


para mim com o canto dos olhos, narinas dilatadas.

“Sinto muito”, repito, apenas um pouco distraído com a


forma como o peito dela sobe e desce. Menor de idade. Menor de
idade. Menor de idade. “Preciso de ajuda. Não podemos dizer que
esta foi nossa primeira discussão e simplesmente seguir em
frente?”

Ela joga as mãos no ar, em seguida, pega o telefone.

Dani: Quanto você está me pagando?

“Claramente não é o suficiente uma vez que você precisa me


aturar gritando”, brinco.

Ela não ri. Bem, pelo menos tentei.

Dani: Quero o dobro do que Jaymeson acordou com você.

“Uau, uma negociadora durona.”

Ela se vira e cruza os braços.

“Combinado”, resmungo. Posso pagar, mas a menina


realmente não faz ideia de quanto ela iria receber. Oficialmente,
agora ela é uma das assistentes mais bem pagas da história — ou,
pelo menos, parece que vai ser assim. “Então, vou apenas
depositar os quinze mil ao final de cada mês, ok?”

Seus olhos se arregalam.

“Brincadeira.” Sorrio.

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Rachel Van Dyken

Com uma carranca, ela continua andando para longe de


mim.

“Espere!” Grito atrás dela. “Você não vai comigo para


Seaside?”

Ela aponta para a caminhonete, faz um movimento de corte


com a mão sobre o pescoço e então balança a cabeça
negativamente.

“Mas como você vai, então?”

Sua mão dispara para o ar, pressiona um botão na chave


que estava segurando e uma luz pisca em um novíssimo Jeep
Cherokee preto.

“Seu?”

Ela assente com a cabeça e começa a entrar no lado do


motorista.

“Nos vemos em Seasi...”

A porta bate, cortando o resto da minha frase.

Nunca antes vi um carro sair tão rapidamente de uma vaga


de estacionamento. Sim, algo me diz que ela não vai tentar me
seduzir e nem vai vender minhas coisas online. Talvez eu precise
ficar de olho nela, apenas no caso dela trocar meus recipientes de
açúcar e sal, ou de colocar meu número no Twitter ou algo assim.

Não é o melhor começo para a nossa relação.

Mas, por outro lado, nosso relacionamento só vai durar


enquanto as filmagens estiverem em andamento. Três meses, e eu
seria, esperançosamente, uma lembrança semi-não-traumática
que ela poderá colocar no fundo da memória.

Três meses sem uma conversa de verdade.

Ótimo.

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Rachel Van Dyken

CAPÍTULO CINCO

Dani

Não era toda manhã que eu conversava com meu pai; na


verdade, não tinha realmente falado com seu correio de voz em
algumas semanas. Esta manhã esperava que minha voz fosse
rouca, como em um daqueles comerciais de alerta aos fumantes,
contra os perigos do tabaco, em vez disso, estava do jeito como
lembrava. Luminosa, delicada. Sufoco os soluços crescendo em
minha garganta enquanto minhas memórias vêm à tona.

“Quem é minha menina favorita?” Meu pai me girou em seus


braços. Eu tentei lutar, mas fui ofuscada pelo seu tamanho. Ele
sempre foi um homem tão grande, enquanto eu estava pouco acima
de um metro e sessenta.

“Papai!” Ri enquanto ele continuava me girando até que fiquei


tonta. “Eu tenho dezesseis anos! Pare!”

“Ah...” Ele parou, colocando-me de pé. “Você sempre será


minha menina, Dani. Você sabe disso, não é?”

Revirei os olhos. “Pai, eu sei.”

“Você é linda.” Ele suspirou. “E lembre-se, sou o único que


pode lhe dizer isso. Se algum garoto aparecer usando palavras
bonitas e convidando-a a entrar em seu carro, ele só está atrás de
uma coisa.”

“Minha flor”, digo com uma voz inexpressiva. “Mensagem


recebida em alto e bom tom. Oh, também, se você pudesse parar

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Rachel Van Dyken

com esta história de limpar sua arma e falar sobre suas ligações
com a máfia italiana sempre que Elliot vem aqui, isso seria ótimo.”

“O que?” Ele deu de ombros inocentemente. “Somos


italianos.”

“Ah, na verdade somos meio Hispânicos...” Dei-lhe um


tapinha no rosto. “... mas boa tentativa.”

“Máfia mexicana.” Ele estalou os dedos. “Isso soaria mais


convincente.”

“Você parece ainda mais branco do que mamãe e ela é bem


branquinha”, aponto. “Portanto, provavelmente não dará certo
também.”

Ele franziu a testa. “Vou pensar em alguma coisa.”

“Por favor, não.” Eu ri, segurando seus ombros. “Você criou


uma boa menina, sabe disso. A última coisa que quero é acabar
grávida. Quer dizer, estou no topo da pirâmide, pai. Meninas
grávidas não podem voar.”

Ele deu um tapinha na minha bochecha. “Nem os porcos, mas


eles voam.”

“Não, eles não voam.”

Ele sorriu.

Revirei os olhos. “Tudo bem, legal esta conversa, como


sempre, pai.”

“Ei...” Ele pegou minha mão e beijou. “... Eu só faço ameaças


porque me importo. Eu te amo, snuggle bug. Você é minha filha mais
nova.”

“E alguns podem dizer que sou a mais brilhante também”,


acrescentei.

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Rachel Van Dyken

“Shhh, não diga isso a Pris.” Ele piscou e deu um tapinha na


minha bochecha novamente. “Basta ter cuidado. Faça boas
escolhas. E se ele tirar a calça, use o Taser.”

“E se a calça dele estiver pegando fogo?”

“Taser primeiro — perguntas depois. Isso é como no Grupo


das Escoteiras, querida.”

“Você foi demitido como líder dos escoteiros.”

Ele suspirou e pressionou o coração. “Você jurou segredo! Não


diga nada à mamãe. Ela ainda acha que foi porque eu estava muito
ocupado aconselhando na igreja.”

Fiz um movimento de lábios selados. “Vou levar isso comigo,


para minha sepultura.”

“Sabia que estava criando você direitinho.”

“Diz o homem que está me pedindo para mentir.”

“Omitir.” Ele assentiu encorajadoramente. “Grande diferença,


cuddle bug.”

“Boa noite, papai.” Abri a porta de tela e a deixei bater atrás


de mim.

“Diga não às drogas!” Ele gritou.

A janela do carro de Elliot estava aberta, e ele gritou de volta,


“Somente abraços!”

“Nada de abraços também!” Pai chamou. “Abraços levam a


sexo!”

“Assim como dança!” Elliot concordou. “Boa conversa, Sr.


Garcia!”

“Dani!” Pai chamou. “Eu gosto mais deste do que daquele


último.”

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Rachel Van Dyken

“O que aconteceu com o último?” Elliot apenas pergunta.

“Enterrei lá nos fundos... quer ver?” Papai sorriu. “Vocês dois:


divirtam-se no baile!”

Paro o carro no lado da rodovia e limpo as lágrimas dos meus


olhos. Geralmente sou muito boa em mantê-las escondidas, mas a
briga com Lincoln me deixou emocionalmente drenada.

Eu só queria falar com meu pai.

Ele sempre foi aquele que eu mais procurava. Não que não
amasse minha mãe, mas meu pai e eu... sempre nos entendíamos
melhor. Tínhamos visões semelhantes sobre a vida. Ele sempre foi
hilário e fazia tudo com cem por cento de dedicação. Nunca houve
hesitação em qualquer área de sua vida. Tudo o que fazia, ele fazia
bem feito. Era o exemplo perfeito para uma jovem. Não tentava ser
bom em tudo, não tentava dar conta de tudo; em vez disso, pegava
algumas coisas e as fazia bem. Seja o melhor nessas áreas e você
vai se sobressair na vida.

Então, eu havia escolhido ser cheerleader.

Estudos.

Confeitaria.

E era boa em tudo isso. Enquanto meus outros amigos


estavam estressados sobre praticar vários esportes e acabarem
sentados no banco — eu estava ocupada vivendo e fazendo coisas
que me deixavam feliz, e as fazia bem.

Era uma espécie de lema da família.

Faça bem feito, ou nem faça.

Aperto o volante com as duas mãos. Meus nódulos ficam


brancos, e os meus dedos doem, mas ainda assim continuo. Agora
não estou fazendo nada bem feito.

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Exceto respirar. Acho que posso contar a respiração. Minha


terapeuta sempre diz para focar no positivo. Bem, pelo menos
minha respiração não está irregular. Ok, então isso estou fazendo
muito bem.

E continuo assim — respirando.

As lágrimas lentamente começam a secar, mesmo que a dor


ainda esteja cortando meu peito. Uma vez ouvi falar que a memória
é tão poderosa quanto experimentar algo no presente.

Seu passado realmente pode definir o seu futuro, se você


deixar.

Toda vez que você se lembrar de algo doloroso ou algo


emocionante, seu corpo responde àquilo como se estivesse
experimentando pela primeira vez de novo.

Então toda vez que eu pensava no meu pai? Na morte dos


meus pais? É como se estivesse de volta no carro, vestida com
minhas roupas de cheerleader, adormecendo ao som de Echosmith
enquanto nosso carro era atingido de frente por aquela
caminhonete.

Ele havia caído no sono.

Meu pai.

A culpa de ele estar tão exausto que acabar dormindo é


minha.

Uma buzina me sacude dos meus pensamentos novamente.

Seaside.

Estou indo para casa.

Pelo menos não moro mais naquela casa. Na verdade, farei


questão de evitar todos os lugares que visitei com meus pais,
porque estou cansada de reviver coisas.

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Já estou em um inferno.

Não preciso piorar ainda mais.

E se Lincoln quisesse taffy da loja de caramelos ou qualquer


coisa mesmo que remotamente relacionada com minha antiga
vida, ele poderia simplesmente ir se danar.

Volto para a rodovia e ligo a música.

Lincoln Greene não será minha ruína. Não permitirei que


faça eu me sentir mal comigo mesma. Já chega de autopiedade —
estou satisfeita com ela — e mesmo que o jeito como ele me tratou
tenha me deixado mal, tão enjoada que quase vomitei em cima dos
seus sapatos caros e brilhantes, sua atitude não vai me definir.

Não vou deixar.

Meu celular toca.

Demetri.

“Ei”, ele diz pelo alto-falante do carro, “sei que você não vai
responder, mas só queria que soubesse que Lyss e eu temos bolo
de chocolate para você em nossa casa quando entrar em Seaside.
Ah, e ela tem algumas roupas para você também, já que está
grávida e não cabe em mais nada, então se certifique de vir para
cá. Dirija com cuidado!”

Solto uma expiração.

Bolo.

Esqueça Lincoln Greene. Esqueça Seaside.

Concentre-se no bolo.

Bolo de chocolate.

Minha terapeuta disse que preciso de objetivos. Bem, meu


novo objetivo? Comer esse bolo enquanto, mentalmente, mostro
meu dedo médio ao grande Lincoln Greene.

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Dou um sorriso.

Sim, isso será bom.

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CAPÍTULO SEIS

Lincoln

“Chuva.” Entro na cidade pela segunda vez em minha vida


e, lentamente, vou para a casa de praia que aluguei para ficar
durante as filmagens. “Chuva, chuva e mais chuva.” Está jorrando
em baldes, tornando a manhã triste, como algo saído de um
romance gótico deprimente.

Durante os meses de verão, Seaside é um grande destino


turístico para as pessoas que vivem no Oregon. Mas o inverno é
algo menos atrativo.

E estamos em outubro, o que significa que está nublado ou


chovendo todo o maldito tempo.

O romance pede o tempo úmido.

Bem, realmente está bem molhado por aqui.

Saio do tráfego e entro por uma rua A, em seguida, B, então


C. Quem diabos dá o nome das ruas por aqui?

Finalmente, paro no meu destino e desligo a caminhonete.

Meu novo lugar é uma casa de praia de seis quartos que já


viu tempos difíceis e recentemente foi reformada. Os proprietários
investiram quase um quarto de milhão em atualizações e ficaram
mais do que excitados com uma estrela de cinema ser o primeiro
inquilino.

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A casa é branca com janelas azuis e tem um deck fechado


de vidro, com dois patamares que permite sentar do lado de fora e
fazer churrasco sem precisar desenvolver brânquias ou usar um
snorkel.

A lareira ao ar livre também fica coberta. A vista é incrível e


o aluguel, mesmo sendo caro, é ainda mais barato do que ficar em
Laguna.

Pulo da caminhonete e corro em direção à porta da frente.


As chaves tilintam quando enfio uma na fechadura e giro a
maçaneta. Então entro na casa e dou uma olhada em volta.

Totalmente mobiliada.

Agradável.

E solitária.

Olho para o relógio. Onde diabos está Dani?

Linc: Você está em Seaside? Ou se afogou?

Dani: Aqui.

Linc: Ok... você vem me ajudar?

Dani: Não me lembro de você ter pedido.

Frustrado, quase jogo meu telefone contra a parede.

Linc: Preciso de ajuda para desfazer as malas e também com


compras de supermercado. Tenho uma lista para você. Talvez
precise plastificá-la com este tempo...

Dani: Ok. Chego aí em cinco minutos. Vou parar no Demetri


primeiro.

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Rachel Van Dyken

Linc: Que tal você vir aqui agora, e irmos juntos para lá?

Dani: Ok.

Linc: Nem mesmo um rostinho sorridente?

Dani: Hmm, não, desculpe, acabou o estoque delas depois


que alguém me acusou de mentir para minha família. Mesmo assim,
obrigada por perguntar!

Linc: Eu disse que estava arrependido.

Dani: Eu sei.

Linc: Então, vejo você em alguns minutos.

Dani: Sim, mas eu vou dirigir.

Linc: Ok!

A buzina soa na frente da minha casa cinco minutos depois.


Corro para fora e salto no lado do passageiro. Tremendo, balanço
a chuva do meu cabelo.

“Por que não estamos em movimento ainda?” Pergunto a


Dani.

Ela olha para o cinto de segurança.

Suspiro. “Você percebe que Demetri mora a cerca de um


quilômetro daqui?”

De braços cruzados, ela olha firme, seus olhos azuis


brilhantes piscando.

“Certo, então.” Afivelo meu cinto de segurança. “Alguém está


espinhosa esta manhã. Então, novamente, sei que é minha culpa,
então sim, sinto muito por isso.”

Silêncio.

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Minha respiração é alta. Muito alta. Droga, a menina


consegue me fazer querer prender a respiração e saltar de um
veículo em movimento.

“Então”, digo uma vez que estacionamos na frente da casa


de Demetri. “Como foi a viagem de carro...”

A porta do carro bate.

“Ela realmente tem que parar de fazer isso”, murmuro


enquanto corro atrás dela.

Subindo as escadas de três em três degraus, ela já está


dentro da casa antes que eu consiga chegar ao topo da escada.

“Dani!” Demetri grita. “Muito tempo sem te ver, irmãzinha, e


por que diabos arrastou esse perdedor com você?”

“É bom te ver também, Demetri.” Estendo minha mão.

Ele olha fixamente para ela. “Ainda estou chateado por você
ter colocado meu vídeo pegando fogo no YouTube.”

“Foi engraçado”, argumento. “E você teria feito a mesma


coisa.”

“Verdade.” Ele pega minha mão, então me puxa para um


abraço. “Então, que sorte você estar precisando de uma nova
assistente e Dani Srta. Sabe-tudo não precisar mais ir à escola
neste outono?”

“Grande sorte”, resmungo enquanto Dani encontra meu


olhar com um absoluto aborrecimento. A última vez que recebi um
olhar como este, estava na quinta série, e não queria participar do
jogo de girar a garrafa com as meninas da minha turma.

“Dani...” Alyssa segura a mão dela. “... fui em frente e


coloquei um montão de roupas no seu quarto, lá na casa do Jay.
Espero que esteja tudo bem.”

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Dani acena vigorosamente e dá em Alyssa um abraço bem


apertado.

Uma pontada de inveja passa por mim. Não faço ideia de por
que diabos estou com ciúmes de duas meninas que têm um bom
relacionamento. Talvez porque naquela manhã estraguei qualquer
chance com Dani.

“Você precisa de algo para beber?” Demetri pergunta,


desviando minha atenção para longe de Dani, e da forma como ela
está se agarrando a Alyssa — como se fosse sua tábua de salvação.

“Nah.” Lambo os lábios secos. “Acho que vamos voltar para


minha casa logo de qualquer maneira. Sou um feitor de motoristas
escravos e tal — preciso deixar tudo pronto antes de amanhã de
manhã.”

Demetri bate uma garrafa de água do balcão. “Ouvi que Jay


tem que chegar lá às cinco da manhã. Você também tem um
horário tão ruim?”

“Sim.” Sento-me em uma das banquetas. “A boa notícia é


que tenho uma assistente incrível e louca que pode buscar café
pra mim, assim não vou adormecer na cadeira de maquiagem.”

Dani faz uma careta em minha direção.

“Acho que ela gosta de você”, Demetri brinca.

“Não seria surpresa para mim se ela tivesse um pôster com


meu rosto no quarto dela”, balanço a cabeça.

Dani revira os olhos, em seguida, enfia o dedo na boca e faz


um movimento de ânsia de vômito.

“Você sabe, em alguns países isso é um termo carinhoso”,


Demetri diz num tom otimista.

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“Sim...” Eu me encolho. “... mas na América significa apenas


que ela me atropelaria com seu carro, mesmo que eu estivesse
vestindo um colete refletor laranja.”

“O que você fez?” Demetri sussurra apenas para que apenas


eu possa ouvir. “Parece que ela realmente quer lhe dar uma boa
joelhada — mais de uma vez. Este não é o comportamento habitual
dela. Ela sempre foi um pouco mais gentil do que isso, ela ajuda
patos a atravessarem a estrada.”

“Ela ajuda patos?” Olho para a menina que joga a cabeça


para trás e ri livremente com algo que Alyssa diz. “Você tem certeza
disso?”

“Positivo”, Demetri diz com uma risada suave. “Você deve ter
feito alguma coisa para deixa-la muito irritada, porque a última
vez que a vi olhar deste jeito para alguém foi... nunca... Bom
trabalho, fazendo a menina mais doce que já conheci passar a
odiar os homens em todos os lugares.” Ele bate em minhas costas.

Fazendo uma careta, me viro para ele. “Posso tê-la ouvido


conversando com o correio de voz do pai em seu telefone, e posso
ter assumido que estava fingindo.”

“Ah merda!” Demetri desaba na banqueta ao meu lado.


“Você é um idiota! Sabe disso, certo?”

“Não é como se alguém tivesse me dito alguma coisa!” Digo


em um silvo. “Jaymeson deveria ter me contado!”

“É que Jaymeson não sabe!” Demetri olha para trás para se


certificar de que Dani não está nos ouvindo. “Ela conta tudo a uma
pessoa. Adivinha quem é essa pessoa?”

“Você?” Tento.

“Eu, ou, às vezes, em raras ocasiões, Alec. Escolha.


Estávamos lá quando ela se feriu. Ela falou então...”, Demetri
suspira. “… e depois...”

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“Vocês provavelmente devem sair agora se querem passar no


mercado e fazer algumas outras corridas antes que seja o horário
de saída da escola”, Alyssa grita atrás de nós. “Fica tudo meio louco
no centro com aquele grande tráfego de ônibus.”

“Seaside?” Faço uma careta. “E tem tráfego aqui?”

“Você não faz ideia”, Demetri murmura. “É ridículo às vezes.


PS, vá se divertir um pouco no Safeway.”

“Safe o quê?” Repito. “Isso é um hospital?”

“Mercado”, Demetri assente. “Lá tem um Starbucks, e por


isso, não nos importamos por ter uma seção muito pequena de
comida orgânica.”

“Diz o cara que come batatas fritas no café da manhã”,


Alyssa suspira.

“Cara...” Demetri ergue as mãos. “... da última vez que


chequei, as pessoas comem batatas para o café da manhã.”

“Batatas e batatas fritas...” Balançando a cabeça e me


levanto da banqueta. “... não é a mesma coisa, mano.”

“Tudo bem, traidor dos homens do planeta...” Demetri


aponta para a porta. “... certifique-se de tratar Dani do jeito certo
para que eu não precise chutar o seu traseiro.”

Começo a rir.

Ninguém mais se junta a mim.

“Merda, você está falando sério?” Olho para Demetri. “Achei


que fossemos bros.”

“Família supera amizade.” Ele ergue a mão para fazer um


high five com Dani. “Desculpe por festejar.”

Reviro os olhos. “Prometo devolvê-la nas mesmas condições


que a encontrei.”

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“Bom garoto.” Demetri me cumprimenta.

Aceno uma despedida e sigo Dani para fora de casa.

Ela pula para seu lado do carro, parecendo estar em um


humor melhor. Só espero que isso dure depois que veja a lista de
coisas que tenho que terminar antes de ir pro set.

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CAPÍTULO SETE

Dani

Dani: Alguma vez você usa sua lavanderia?

Lincoln pisca um sorriso para mim enquanto continua


guardando nossos mantimentos. “Não, nunca precisei.”

Dani: Precisa aprender.

Reviro os olhos e continuo separando as roupas dele, a


maioria roupa de treino, o que me deixa curiosa para saber o que
ele faz. Ele seria um corredor? Dou uma espiada em suas pernas
cobertas pelo jeans. Não posso saber de qualquer maneira. Seus
braços são enormes, bem delineados sob a camisa cinza de manga
comprida.

“Oh, ei.” Ele tira a camisa do corpo, jogando-a em minha


direção. “Se você for lavar as roupas escuras, coloque esta aqui
também. Alguém derramou café nela esta manhã. Não que não
tenha sido merecido.”

Se eu já não fosse muda, a visão de seu peito nu e de seus


abdominais teria feito isso. Seus músculos abdominais são
sólidos; ele não só tem seis gominhos bem definidos, mas tem a
porra de um caminho da felicidade delineado naquela pele dourada

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e entrando na sua calça jeans. Puta merda! Ele é musculoso e


ainda continua guardando coisas — não está se exibindo,
flexionando músculos... só está respirando — e de alguma forma
isso se traduz em flexões musculares que estão deixando minha
boca seca.

Seus bíceps são maiores que minha cabeça.

Uma grande tatuagem envolve seu braço até o pulso. Não


notei isso antes; na verdade, na última capa de revista que ele
estampou, não havia a tatuagem. Quero perguntar sobre isso.
Talvez eles a cubram o tempo todo? Talvez seja nova?

“Não que eu me importe...” Lincoln não se vira. “... porque


estou acostumado a isso, mas já que você não fala, isso fica ainda
mais assustador; tê-la olhando abertamente para mim desse jeito.”

Forço minha atenção de volta para as pilhas de roupas


separadas, minhas bochechas queimando de vergonha.

Dani: Desculpa. Você só me pegou de surpresa.

Sua risada quente enche o ar. “Está tudo bem. Sério.”

Alguém por favor, abra um buraco no chão para eu me


esconder.

Dani: Eu não estava olhando para você por causa do seu


corpo — estava apenas curiosa com sua tatuagem.

Isso soou melhor, certo? Menos assustador?

“Bem...”, Lincoln escolheu falar em vez de enviar mensagens


de texto de volta. “... saí em uma caminhada pela floresta, com um

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mês de duração, tentando me encontrar e no meu último dia, fiquei


tão desidratado que quase morri. Implorei por água quando uma
cobra deslizou na minha frente, e quando olhei além dela, ouvi um
riacho. Aquela cobra salvou minha vida, então fiz uma promessa a
mim mesmo para nunca esquecer o quão sortudo sou, por isso, a
tatuagem.”

Oficialmente a história mais estranha do mundo.

Dani: Hum, legal.

Lincoln começa a rir. “Estou zoando com você, Dani. Eu


tinha dezesseis anos, estava bêbado e fui estúpido. Queria fazer
uma tatuagem de python para parecer durão. Acabou ficando uma
merda, então fechei meu braço para que parecesse algo diferente
de um pênis de homem, porque, honestamente, era isso que aquilo
parecia, não tem como dizer que não.”

Cubro minha boca para evitar minha risada.

“Tudo bem, sabe...” Lincoln olha para mim por cima do


ombro. “... se você rir... isso não significa que gosta de mim.
Significa apenas que sou ainda mais idiota do que você achou
inicialmente.”

Dani: Verdade.

Lincoln sorri para mim, em seguida, olha para seu armário.


“Merda, esquecemos de comprar mistura para waffle.”

Dani: E?

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Rachel Van Dyken

Ele fecha os armários. “Só outra coisa para você poder tirar
sarro de mim.” Ele pega suas chaves do balcão. “O primeiro dia em
um novo filme sempre começa com um café da manhã com waffles
e manteiga de amendoim.”

Eca, oficialmente a combinação mais nojenta. Faço uma


careta de nojo.

“Isso é por causa dos waffles ou da manteiga de amendoim?”


Ele encosta-se ao balcão, seu abdômen flexionando, piscando para
mim, implorando pelo meu toque.

Dani: Ambos.

Lincoln ofega. “Bem, acho que não vamos nos casar agora.”

Dani: E eu tinha tantas esperanças de um noivado rápido.

Ele solta uma gargalhada. “Posso buscar a mistura, se


quiser, ou você pode vir comigo, e posso te comprar outro café no
Starbucks... talvez possamos dar as mãos sobre o copo e prometer
tentar recomeçar?”

Minha mão hesita sobre a roupa.

“Por favor?” Sua voz é sexy demais para seu próprio bem.

Essa é a última coisa que preciso — achar que o diabo é


sexy. Porque isso é o que ele é. Completamente Hollywood, um
homem que tira conclusões apressadas antes mesmo de saber toda
a verdade.

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Rachel Van Dyken

Demetri já me avisou.

Assim como Alec.

E Jaymeson, não que isso importe. Um cara como Lincoln


nunca estaria interessado em mim, mesmo que não fosse muda.

Dani: Claro.

O Safeway está lotado. Mando uma mensagem a Lincoln


dizendo que vou pegar a mistura de waffle e se ele quer esperar na
fila no Starbucks. Sei que ficará grato. Ele já está recebendo alguns
olhares estranhos das pessoas. Está nos jornais que a filmagem
vai acontecer nos próximos meses, e ele está se entregando com
aquele boné dos Lakers e Ray-Ban.

Rapidamente ando por entre os carrinhos de supermercado


e chego às misturas de panqueca e waffle.

Ele não especificou que marca queria.

Então, apenas pego a que diz ser orgânica, presumindo que


esta provavelmente seria a que ele pegaria de qualquer maneira.

“Dani?” Uma familiar voz masculina me chama. “É mesmo


você?”

Arrepios percorrem minha espinha quando me viro e fico


cara a cara com o meu ex-namorado.

“Você voltou”, ele sorri, parecendo um menino inocente. Ele


parece como eu deveria parecer com a mesma idade... olhos
inocentes, grandes e animados com a vida. “Você vai terminar o
último ano?”

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Rachel Van Dyken

Tento falar. Quero tanto falar. Peço à minha boca estúpida


para que se mexa. Oro a Deus para que não seja constrangida ou
que ele não pense que sou uma completa cadela, achando-me boa
demais para ele.

Faço um ruído parecido com um coaxar.

Ele franze a testa.

Tento novamente.

“Oh”, ele dá um passo para trás. “Você ainda está doente,


hein? Isso deve ser uma droga, não falar... já tentou apenas
melhorar?”

Se já tentei apenas melhorar? Uau, que grande ideia! Por que


não pensei nisso antes? Alguém pode dar um premio a este garoto!

“Quero dizer...” Ele dá um passo para frente. “... não acha


que é meio imaturo usar isso para chamar a atenção?”

Lágrimas ardem em meus olhos enquanto outra figura vem


até o corredor.

“Elliot, se apresse... oh...” Amanda, sua nova namorada,


minha ex-melhor amiga, para no meio da frase. “Dani, você está
de volta!”

Sorriso falso.

Peitos falsificados — com os cumprimentos de seus pais


ricos.

E pelo que parece, lábios falsos. Que beleza.

“Sentimos sua falta.” Ela estende a mão para me abraçar.

Dou um passo para trás.

Revirando os olhos, ela acena para Elliot. “Temos que correr,


comitê de boas vindas aos veteranos e tal... Tenho certeza que

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Rachel Van Dyken

entenderia se realmente parasse de fingir estar traumatizada e


fosse para a escola.”

Irritada, tão zangada que as palavras não sairiam, abro


minha boca novamente. Desta vez, um ruído estranho, um
choramingo, sai — um som que nunca antes proferi. Parecia um
carneiro preso na cerca de alguém.

Amanda começa a rir. “Alguém já lhe disse que poderia ser


atriz como sua irmã? Como ela está, a propósito? Engravidou de
uma estrela de cinema, como é mesmo o nome dele?”

“Jamie Jaymeson”, vem a voz suave de Lincoln. “Vamos nos


certificar que ele fique sabendo que você mandou um oi.” Ele
envolve um braço possessivo em mim e me puxa para perto de seu
peito. Uma guerra está sendo travada dentro de mim — devo me
recostar nele como se realmente precisasse de sua ajuda e
estivesse grata por ser salva ou me afasto e me envergonho ainda
mais.

Eu me reclino.

Ele tem cheiro de café do Starbucks e couro.

“Não é possível!” Amanda bate no ombro de Elliot. “Você é


Lincoln Greene!”

“Sim.” Ele coloca um sorriso tenso. “Sinto muito, e você é?”

“Amigos.” Amanda revela. “Somos velhos amigos de Dani.”

“Bem, isso é estranho.” Ele troca um olhar comigo e


pressiona. “Conheço Dani aqui por um tempo, e ela nunca
mencionou você. Nem uma única vez.”

O rosto de Amanda fica vermelho. “Bem, ela não fala, então


talvez seja por isso.”

Lincoln ri abertamente. “Ela fala.”

Ah não. O que ele está fazendo!

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Rachel Van Dyken

“Mas apenas com pessoas extremamente próximas a ela,


certo, baby?” Ele beija o topo da minha cabeça e suspira. “De
qualquer forma, estamos atrasados. Prazer em conhecê-los. Qual
é seu nome mesmo?”

“A-amanda.” Ela ergue o queixo.

“Certo.” Lincoln exibe um olhar de gentinha, olhando para


baixo como um especialista. Mesmo eu vacilo quando ele
arrogantemente dispensa aqueles dois e me guia pelo corredor.

“Idiotas”, murmura de forma quase inaudível enquanto com


raiva pega a mistura de minhas mãos, em seguida, puxa seu
cartão.

“Você participa do clube de recompensas?” O caixa


pergunta.

Lincoln o encara de cima a baixo.

O atendente engole lentamente. “Vou tomar isso como um


não.”

Pego o mix enquanto Lincoln pega o recibo e me puxa em


direção à caminhonete. Ele abre minha porta, e subo.

Ele não fecha.

Faço uma careta enquanto ele se apoia contra a moldura da


porta. “Você está bem?”

Dou de ombros.

Ele lambe os lábios, em seguida, pega o telefone e começa a


digitar.

Linc: Posso voltar lá e envergonhar aqueles dois


publicamente, só tem que me dizer uma palavra.

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Rachel Van Dyken

Dani: Ex-namorado, ex-melhor amiga. Ambos têm ex na


frente por uma razão.

Lincoln lê o texto e olha para cima, seus olhos fixos em mim.


“Você namorou aquilo?”

Afundo no assento e digito em meu telefone.

Dani: Ele é o Quarterback.

O rosto de Lincoln se retorce em um sorriso amargo. “Não


dou a mínima. Ele é um idiota.”

Dani: Todos lidamos com a dor de maneiras diferentes. Ele


amava meu pai. Para ele foi difícil perder nós dois.

“Mas você viveu.” Lincoln argumenta.

Dani: É isso que estou fazendo agora?

Ele não responde. Olha para a mensagem, em seguida, olha


de volta para mim. “Jaymeson nunca me disse nada. Apenas falou
que você precisava de um emprego e que sofria de mudez seletiva.
Tive que pesquisar isso na internet.” Ele parece envergonhado.
“Além disso, não sei nada sobre sua história Mas uma coisa eu sei:
você sobreviveu por uma razão. Então, o que faz agora — mesmo
que seja tão simples quanto sair da cama todos os dias — é
importante.”

Ele fecha a porta.

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Rachel Van Dyken

O silêncio estático me cumprimenta, fazendo meu corpo se


retesar com uma sensação de formigamento, quase como se
alguém tivesse acabado de pressionar as pás frias de um
desfibrilador contra meu peito, gritando, “Afastem-se!”

“Então”, Lincoln salta para dentro da caminhonete, limpa a


garganta e dá partida no motor. “Jaymeson me disse que você sabe
cozinhar. Por favor, me diga que é especialista em waffles.”

Dou um aceno solitário.

“Graças a Deus.”

E é assim.

Ele não me importuna sobre o acidente ou pede detalhes


sobre o que havia acontecido no mercado, o que me incomoda,
porque pela primeira vez desde que tudo aconteceu, quero entregar
essa informação voluntariamente. Quero que ele saiba.

Talvez seja porque ele me defendeu, uma estranha.

Ou talvez seja porque foi brusco, quase ofensivo mesmo,


quando até agora todos vem me tratando com luvas de pelica.

Talvez o que eu precise seja de amor difícil e feio.

Sempre fui uma pessoa de abraços.

Agora, me pergunto se o acidente me transformou em uma


lutadora.

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Rachel Van Dyken

CAPÍTULO OITO

Lincoln

Linc: Conte uma piada.

Dani: Wilbur realmente deve ser péssimo em te manter


entretido.

Linc: E você vem dizer isso pra mim…

Dani: Vou ter que começar a pesquisar por algumas piadas


para entretê-lo à noite? Além disso, você precisa estar de pé em
quatro horas — correção NÓS temos que estar de pé em quatro
horas. VÁ DORMIR!

Linc: Você acabou gritar comigo?

Dani: Meu dedo escorregou?

Linc: Dedo escorregou minha bunda. Acho que você acabou


de gritar com uma pessoa mais velha.

Dani: Oh, por favor. Tenho quase dezoito anos. Você tem
apenas vinte e dois.

Linc: Esteve visitando minha página no IMDb, hein?

Dani: Seu ego adoraria saber, não é?

Linc: Sim. Ele precisa de constantes afagos. Anda logo, me


faça um elogio!

Dani: Você tem uma tatuagem de morrer.

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Rachel Van Dyken

Linc: Agora isso é simplesmente cruel. Fique sabendo que Bo


e eu temos uma história, mesmo que ela pareça uma merda.

Dani: Você deu um nome à sua tatuagem?

Linc: As pessoas não fazem isso?

Dani: Talvez pessoas que ficam em quartos com paredes


acolchoadas...

Linc: Você diz paredes acolchoadas. Eu digo fofinhas.

Dani: Ainda assim é um manicômio.

Um emoji amarelo pisca em minha tela, com olhos girando


e língua rolando.

Linc: Bo está ofendida.

Dani: Você nomeia tudo?

Linc: Seria estranho demais se eu dissesse que dei o nome


de Chuck a minha máquina de fazer waffles?

Dani: Sim.

Linc: Então não, eu não dou nomes a tudo... *sussurro*


Desculpe Chuck.

Dani: VÁ DORMIR!

Sorrio com vontade para meu telefone. Estou nervoso


demais para dormir, não que vá admitir isso a ela. Ajuda muito
que os próximos emojis enviados por ela sejam de cobras, aranhas,
e depois uma bomba explodindo e matando todos eles. Não tenho

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Rachel Van Dyken

certeza de como isso deveria me colocar para dormir, mas acabo


dando boas risadas.

Linc: Uma piada, ou talvez até uma história para dormir.

Recosto-me contra meus travesseiros, esperando sua


resposta.

Dani: Era uma vez um ator mimado chamado Linc. Ele


engasgou com Chuck, enquanto fazia carinho em Wilbur, e Bo gritou.
Fim.

Linc: Você se esqueceu de Penny.

Dani: Quem é Penny?

Linc: Você não vai querer saber.

Dani: LINCOLN GREENE — vá dormir. Você precisa. Eu


preciso. O mundo precisa que nós dois tenhamos uma boa noite de
sono, caso contrário, estarei muito, muito irritada amanhã.

Linc: Quando foi a última vez que você gritou?

Dani: Essa é uma pergunta estranha.

Linc: Desculpe, pessoal demais?

Talvez tenha ultrapassado meus limites. Espero que não,


porque realmente gostaria de saber quando foi a última vez que ela
levantou a voz.

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Rachel Van Dyken

Dani: Provavelmente foi depois do acidente, quando estava


em uma cadeira de rodas e o estúpido Demetri achou que seria
engraçado me empurrar pelo centro de Seaside em uma velocidade
assombrosa. Gritei até ficar rouca. Foi um dia divertido.

Linc: Suponho que você estava na cadeira de rodas porque


algo estava quebrado, e ele teve a audácia de empurrá-la
rapidamente?

Dani: Este é Demetri. Mas ele me deixou animada. Até então,


todos estavam me tratando como se fosse muito frágil, por isso foi
bom me sentir normal. Ele faz isso comigo.

Linc: Estou começando a achar que não é só por causa das


balinhas Sour Patch Kids.

Dani: Não é.

Linc: Sinto ciúmes de sua capacidade em ser seu amigo,


quando pareço ofendê-la cada vez que abro minha boca.

Dani: Você é melhor enviando textos.

Linc: Obrigado, eu acho.

Dani: Vá para a cama.

Linc: Ok. E Dani?

Dani: ?

Linc: Você não é frágil.

Dani: Obrigada.

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Rachel Van Dyken

CAPÍTULO NOVE

Lincoln

Dani: Lembre-me de novo por que peguei esse trabalho?

Linc: Você não teve escolha. Quase chegando?

Dani: Sim, estou na Starbucks, já chego aí.

A mensagem termina com alguns rostinhos atordoados, um


bocejo e, em seguida, a imagem da ridiculamente longa fila na
Starbucks.

Linc: Pode entrar direto quando chegar.

Meu chinelo faz um barulho de tapa contra o piso de


madeira enquanto ando para trás e para frente, para trás e para
frente em minha sala. Nervosismo se agita em torno de mim
enquanto estalo primeiro meus dedos e, em seguida, meu pescoço.

O som me relaxa mais do que a sensação.

Estalo minha mão esquerda novamente, então a direita.

Sopro o ar das minhas bochechas que vinha segurando,


sento no sofá e começo a fazer respirações profundas. Inspirando
por oito segundos, expirando por oito segundos, oito vezes.

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Já tentei parar com o meu ritual de primeiro dia, mas a


única vez que não fiz todos os estalos, respirações e relaxamentos,
uma das luzes caiu sobre mim durante as filmagens.

Durante uma cena de sexo.

Eu estava nu.

Ela também.

Vamos apenas dizer que acabamos com algumas contusões


engraçadas em lugares que ninguém, nunca, deveria se machucar.

O que me traz de volta para as respirações profundas.

Solto meu último suspiro, olhos fechados, imaginando


minhas primeiras falas. Gesticulo as palavras com boca, em
seguida, olhos ainda fechados, interpreto algumas vozes.

“É muito mais fácil...” Minha voz ressoa baixinho na


garganta. “... lutar pelo mal... ceder à tentação, você não acha?”

Não, isso não está dando certo. Minha voz não está
suficientemente áspera; está parecendo meio forçado. Tento
novamente, desta vez limpando a garganta.

“É muito mais fácil...” recomeço. “Merda”, limpo meu rosto


com mãos úmidas. Não estou conseguindo sentir isso. Quando foi
que já fiquei tão obcecado por alguém que meu único objetivo na
vida era trazê-la comigo? Trazê-la para o meu nível apenas para
poder experimentá-la?

Dani.

O nome dela brilha como uma placa de néon em meu cérebro


estúpido. Flash, flash, flash. Com um gemido, lambo meus lábios
e a imagino em pé na minha frente. O fruto proibido, alguém que
me intriga, desperta minha curiosidade, uma menina que me faz
desejar.

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“É muito mais fácil...” Meu íntimo se aperta quando seguro


a mão dela, meus dedos formigando na antecipação de acariciar
sua pele. “... lutar pelo mal.” Vejo-me dando um passo adiante
quando meus dedos roçam o pulso dela, sua pulsação irregular
entregando seus sentimentos, embora ela ainda permaneça
indiferente. “Ceder à tentação...” Levanto o pulso dela em direção
aos meus lábios e sussurro com voz rouca contra sua pele. “Você
não acha?”

O som de palmas me arranca do devaneio, quase me


causando um ataque cardíaco que poderia deixar minha vida bem
mais curta.

“Merda!” Fico de pé e me viro.

O rosto de Dani está corado enquanto estende meu café e


um pacote de Skittles.

“Isso foi...” Coço meu pescoço em ansiedade. “... um ensaio.


Os atores, eles fazem isso.”

Inferno, alguém pode me afundar no oceano ali fora.

Ela assente com a cabeça, um sorriso brincando nos cantos


de sua boca.

“Obrigado.” Voz rouca, como a de um fumante de oitenta


anos, limpo minha garganta — bem alto — e abro o saco de
Skittles, evitando seu olhar. “É tradição. Só como os vermelhos.”

Meu telefone apita; eu o levanto.

Dani: Vermelhos são os mais gostosos.

“Graças a Deus você concorda comigo. Não queria ser


obrigado a demiti-la no primeiro dia.” De novo. Mas que merda.

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Ela revira os olhos e olha ao redor da sala, o rosto


impaciente, fazendo com que eu me sinta uma diva.

“Bem.” Jogo alguns Skittles vermelhos na boca e mastigo. A


acidez açucarada me lembra, mais uma vez, que hoje é o dia D. O
primeiro dia de filmagem.

Tenho que ser mais do que incrível.

“Vamos fazer isso.” Finjo a bravata em minha voz, ajeito os


ombros, e coloco meu Ray Ban como já fiz antes, um milhão de
vezes, no primeiro dia no set. Nervosismo sempre fará parte do
meu trabalho. No minuto em que não ficar mais nervoso, será hora
de abandonar o negócio.

Dou partida na caminhonete e jogo meu pacote de Skittles


no porta-copo, enquanto Dani afivela seu cinto de segurança.

Com mãos tremendo, agarro o volante, esperando que de


alguma eu consiga me centrar. Ainda estou balançado com a cena
que inventei dentro da minha cabeça.

Sobre a pele dela.

Sobre como ela correspondeu.

Meu telefone soa.

Puxo-o do bolso da frente.

Dani: Quebre a perna!

“Vamos torcer que não.” Pisco para ela, em seguida, jogo o


telefone junto com o Skittles. “Mas, obrigado, Dani. Fico feliz com
isso.”

Meu telefone toca de novo, mas sei que Dani faria uma birra
se eu o pegasse enquanto estou dirigindo, então espero por

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agonizantes oito minutos, enquanto nos dirigimos até uma praia


isolada que fica fora da cidade.

Alguns reboques estão parados no estacionamento


normalmente deserto. Há seguranças em todos os lugares —
andando, falando em rádios. Jaymeson está em pé no meio da
praia falando em seu fone de ouvido.

Engulo o nervosismo e olho para o meu telefone.

Dani: Meu pai sempre dizia que o nervosismo significa que


você está vivo. Então... hoje, prove porque você está vivendo. Não
pense em outra coisa que não seja conseguir atravessar isso. Os
filmes devem ser reflexos dos sentimentos reais, da vida real.
Mostre a vida.

“Quando ficou tão inteligente?”

Dani dá de ombros e puxa os Skittles do porta-copo, em


seguida, me entrega mais três vermelhos.

“Obrigado.” Eu os saboreio, girando-os com a minha língua


até que virem pequenos pedaços mastigáveis de açúcar. “Tudo
bem. Estou pronto.”

O primeiro dia sempre consiste em muita espera. Isso não


ajuda com o nervosismo porque me dá tempo para pensar e
analisar demais tudo. Confesso que já fiz uma tonelada de leitura
e marcação de falas com o resto do elenco. Mas estar vestindo o
figurino no set traz tudo a um novo patamar.

Jaymeson é o mocinho.

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Eu sou o cara mau.

De acordo com Jaymeson, vamos basicamente recontar a


história de amor de Nat, sobre como ela se apaixonou pelo AD2.
Pouco depois de se casar com Alec, ela decidiu escrever sua
história, e, por causa de seu status de celebridade, foi rapidamente
comprada por uma produtora. Até então, Jaymeson já tinha
reivindicado seu papel, dizendo que sempre quis interpretar um
idiota egocêntrico — achei que ele estivesse falando de Alec. E bem,
isso fez com que sobrasse para mim o papel de Demetri.

O que parece meio estranho já que ele e Dani são tão


próximos.

O que significa que, de certa forma, estou exatamente assim


tão próximo também? Certo?

Ha. Sim, nem mesmo um dia e já estou perdendo minha


cabeça.

Eu deveria estar apaixonado por Pris, que está interpretando


Nat, mas estou tendo sérias dificuldades para sentir isso — ou em
saber que terei que beijar a irmã de Dani.

Já fiz isso um milhão de vezes antes, mas me sinto...


esquisito.

E para completar, vamos filmar uma das nossas cenas de


pegação na praia, no primeiro dia, e já estou sonhando com a
palavra corta ou com a frase pausa de cinco minutos.

“Se você beijar minha esposa e curtir o momento, corto suas


bolas durante o sono.” Jaymeson diz para mim em uma voz
vigorosa enquanto me dá um tapa nas costas.

“É sempre muito bom trabalhar com um verdadeiro


profissional, Jaymeson”, murmuro.

“Aqui vai uma dica”, Jaymeson sussurra, para que Pris não
nos ouça. “Faça direito já na primeira tomada, assim não

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precisarei causar um acidente no set. Destes que seu trailer


acabaria em chamas e eu culparia Deus dizendo que isso foi uma
punição por você ser um pagão de Hollywood.”

“Pagão?” Repito com um sorriso. “Não é este o papel que


estou fazendo? Achei que Demetri fosse caído por Nat. Isso não
quer dizer que tenho que estar caidinho por sua esposa? Sua
muito...” Olho para Pris. “... adorável esposa?”

“Bastardo. Eu nunca deveria ter te chamado para isso!”

Começo a rir. “Jay, sabe que estou brincando com você. Sou
profissional. É por isso que me convidou, porque em um mar de
pagãos de Hollywood, sou o único que não daria em cima de sua
esposa.”

Ele encolhe os ombros. “Verdade. Além disso, você pode ser


aceitável em termos de aparência, ou, pelo menos é o que dizem
por aí no set.”

“Com ciúmes?”

“Dificilmente.” Ele revira os olhos. “Sou Jamie Jaymeson.


Mulheres tatuam meu nome nas nádegas e me pedem para
autografar seus seios.”

“Você autografou os peitos de quem?” Pris pergunta,


esgueirando-se em nossa conversa.

“Da minha avó”, solto. “Ela é uma...” Passo um braço em


volta de Jaymeson e aperto. “Grande fããã...”

“Certo.” Jaymeson tosse. “É sempre uma emoção, assinar os


seios de senhoras idosas. Ei, você acha que eu deveria fazer uma
turnê por alguns lares de idosos?”

“Sim cara.” Balanço a cabeça. “Sonhe grande.”

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“Bem, então.” Pris balança a cabeça divertida. “E com este


comentário assustador, estou pronta.” Ela vai andando até seu
lugar marcado na praia.

Balanço a cabeça e começo a segui-la, quando Jaymeson


agarra meu braço e me puxa de volta. “Lembre-se: uma tomada.”

“Quando foi a última vez que você fez uma cena de beijo em
uma única tomada, homem? Sério. Já pensou que, se eu fizer isso
em uma tomada, significaria que rola uma química entre nós?”

Ele franze a testa.

Balanço a cabeça e solto meu braço. “Exatamente. Inferno!


Você deveria ficar feliz se ficarmos aqui o dia todo tentando
conseguir essa cena direito. Posso estar beijando sua esposa, mas
vou pensar em alguém completamente diferente.”

“Demetri.” Jaymeson assente. “Ele tem este efeito em muitos


caras.”

“Você é um idiota. Sabe disso, não é?”

“Ele me deu uma camiseta escrito BUNDÃO e com o desenho


de um burro. Então, sim, estou bem ciente disso.”

“Valeu. Foi uma boa conversa.” Nos cumprimentamos e me


reúno a Pris sobre o cobertor. Ela se deita na areia enquanto monto
sobre seu corpo e, de um jeito divertido, me inclino para ela.

“E... Ação”, diz Jaymeson em um tom brusco e irritado.

“Então, Seaside?” Ela pergunta, apoiando-se sobre os


cotovelos.

“Seaside”, repito, tentando olhar mais para sua boca do que


seus olhos, para que possa realmente evocar algum tipo de
sentimento romântico ou desejo — qualquer coisa, realmente.

“Vou conseguir a história verdadeira?”

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“Não”, sussurro. Meus olhos fixados em sua boca enquanto


me inclino para baixo, e ela se arqueia. Nossos lábios se encontram
e, em seguida, de alguma forma, pela primeira vez desde não sei
quando, experimento meu primeiro beijo estranho — bato nos
dentes dela. Na porra dos dentes dela!

O tinir pode ser ouvido por todo o mundo.

Ela começa a rir.

“Merda!” Sibilo, meus dentes um pouco abalados com o


impacto. “Você está bem?”

Pris esfrega a boca e me dá um aceno divertido.

“Corta!” Jaymeson grita, em seguida, vem marchando.


“Odeio ter que te perguntar isso, mas você tinha um dublê de beijos
nos seus outros filmes? Porque isso foi uma absoluta porcaria.”

Eu me inclino para trás em meus quadris, o vento frio à


beira-mar mordendo a parte de trás das minhas panturrilhas.
“Desculpe, areia no olho?”

“Areia, minha bunda.” Jaymeson resmunga. “Lábios se


encontram, faça um pouco de ação, alguns movimentos, língua
permanece no interior da boca em todos os momentos, solte alguns
gemidos, talvez um gemido ofegante.” Ele aponta para Pris. “Isso é
você, amor...” Ele esfrega as mãos. “... e as coisas serão ótimas.
Acha que pode lidar com isso, Linc?”

“Sim.” Gotas de suor, de puro nervosismo, brotam por toda


minha pele e ameaçam congelar ali como o vento frio me atingindo.
Simplesmente maravilhoso. No meu primeiro dia, já consegui
agredir minha coestrela fisicamente. “Sem problemas.”

“Ótimo.” Ele volta para seu lugar.

Pairo sobre Pris novamente.

“Tomada dois.”

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Rachel Van Dyken

A cena foi censurada novamente. O nervosismo está


atacando cada célula do meu corpo enquanto dou uma bela olhada
em todos no set. Eles já parecem irritados, desde o técnico de som
até o maquiador. A pior coisa possível é filmar uma cena ao ar livre,
ou congelando sua bunda ou ardendo até a morte, só para assistir
o ator esquecer cada maldita fala.

“Então, Seaside?” Pris pergunta mais suavemente desta vez,


seus olhos castanhos brilhando com humor.

“Seaside.” Inclino-me, como se fosse beijá-la. Não faz parte


do roteiro, mas estou tentando me colocar no estado de espírito
certo, que, para mim sempre foi o ponto de ruptura antes do beijo,
quando está pensando sobre ele e a pessoa que você quer beijar
sabe que você está pensando nisso. Antecipação é a melhor parte.

“Vou conseguir a história verdadeira?”

Hesito propositadamente. Pálpebras pesadas, concentro-me


nos lábios, lambendo meus próprios lentamente, metodicamente.

E posso sentir.

Não é o desejo.

Mas ela.

Dani.

Eu não sei como diabos posso senti-la, talvez realmente


esteja perdendo minha cabeça aos vinte e dois. Com o canto do
meu olho, seu Converse cinza brilha ao lado dos chinelos de
Jaymeson.

“Não.” Inclino-me, os meus lábios roçando os de Pris. Como


prometido, mantenho minha língua dentro da boca, mas mordo
seu lábio inferior como se fosse a mais doce delicadeza que já
provei em toda minha existência. Minha língua bate ao longo da
junção de seus lábios enquanto enfio minhas mãos em seus
cabelos e aprofundo o beijo, puxando seu corpo para cima. Sua

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Rachel Van Dyken

mão aperta contra meu peito. Agarro-a, em seguida, afasto-a para


longe. O beijo deve ser agressivo, ardiloso e de repente com raiva.

Ela geme.

E eu sinto... absolutamente nada.

Sem sangue correndo para todos os lugares errados, o que


não é a regra geral. Se alguma coisa, é estranho pra caramba ficar
excitado durante uma cena, mas é anatomia humana
simplesmente. Se ficar excito, seu corpo vai demonstrar isso,
independentemente de você querer ou não.

“Corta”, Jaymeson sibila.

Afasto-me e sorrio.

“Uau.” Pris limpa a boca com as costas da mão. “Muito bem,


Linc.”

“Oh, por favor.” Jaymeson se junta a nós. “A primeira vez


que ele tentou foi como assistir uma tartaruga encalhada de
costas.”

“Obrigado, cara.”

“Sempre que precisar.” Jaymeson esboça um sorriso.


“Precisamos reorganizar tudo aqui para a próxima tomada, então
pode descansar alguns minutos e conferir seu trailer enquanto me
certifico que o pessoal não colocou fogo na casa.”

“Casa?”

“Para a festa”, explica Jaymeson. “E também o set para o


videoclipe da música. Vamos matar dois coelhos com uma só
cajadada.”

“Ótimo.”

Jaymeson franze a testa. “Você está bem?”

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Rachel Van Dyken

“Hã?” Empurro minha cabeça para longe de Dani e sinto


meu rosto esquentar. “Sim. Claro. Por quê? Não pareço bem?” Pode
me matar agora.

“Apresentar-se embriagado no primeiro dia é algo altamente


desaconselhado”, Jaymeson sussurra.

“Estou sóbrio.” Começo a andar para longe e aponto atrás


de mim. “Vou fazer essa pausa.”

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CAPÍTULO DEZ

Dani

Observá-lo beijar minha irmã deve ser a coisa mais estranha


que já experimentei em toda a minha vida. Estou tremendo com o
tamanho do erro que é isso. Quero dizer, é minha irmã.

Tenho que reconhecer que ela é casada.

E que eles estão encenando.

Mas a forma como ele a tocou, a maneira como pairava sobre


ela, a protegendo com seu corpo maciço, seus lábios acariciando
os dela... e eu desejei tanto ser a pessoa do outro lado daquele
beijo.

Nenhum cara jamais olhou para mim assim.

Elliot nunca me beijou como se realmente quisesse


aproveitar seu tempo. Ele foi um bom namorado até que acabei
tendo muita bagagem para ele...

“Porque você não pode apenas ser feliz, Dani?” Ele gritou.
“Uma vez! Há mais coisas acontecendo no mundo que não seja o
acidente, certo? Eu sei que é chato, sei que dói, mas pelo amor de
Deus, já se passaram alguns meses! Pelo menos faça ALGUMA
COISA!”

Vacilei com suas palavras, com o tom de sua voz. Ele nunca
gritou comigo antes. Envolvi os braços no meu corpo e balancei a

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Rachel Van Dyken

cabeça, tentando desesperadamente apenas ficar bem. Quer dizer,


o quão difícil poderia ser? Forcei um sorriso no rosto e balancei a
cabeça.

“Olha...” Ele aproximou-se lentamente, como se eu estivesse


quebrada, falando comigo suavemente, como se eu fosse estúpida...
“... isto não está funcionando.”

“Mas...” Segurei as lágrimas. Deus, como isso doía. “... mas


prometo que vou melhorar!”

“Você está prometendo isso há meses, Dani. E olha? Ainda


estamos presos aqui dentro, isolados e longe do mundo. Você se
recusa a comer panquecas, não assiste TV porque se lembra deles,
e da última vez que me perguntou sobre o meu dia foi porque eu
disse pra você fazer isso.”

As paredes em torno de meu coração se despedaçaram. Ele


era a última coisa que eu tinha da minha antiga vida, a última
pessoa, que não fosse minha irmã, que fazia parte da antiga Dani.
A líder de torcida feliz sem qualquer preocupação no mundo.

Perdê-lo fazia eu me sentir como se estivesse perdendo meus


pais outra vez, porque ele estava certo. Eu nem sequer me
reconhecia mais. Meu cabelo normalmente com luzes estava
castanho escuro, os círculos sob meus olhos eram enormes e a
última vez que coloquei maquiagem foi para o funeral deles.

“Entendi.” Abracei-me mais forte, imaginando os braços do


meu pai em volta de mim, dizendo-me que tudo seria melhor no dia
seguinte.

Mas nunca ficou melhor.

Se qualquer coisa, em Seaside, tudo parecia imensamente


pior.

“Dani.” Elliot amaldiçoou e se afastou de mim como se o


tivesse esbofeteado. Mas eu era a única que estava lidando com o

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golpe emocional de ter um dos meus melhores amigos não só me


dando o fora, mas basicamente dizendo adeus a mim para sempre,
porque não sabia lidar com a minha tristeza.

Não o culpo.

Às vezes, nem eu podia lidar com isso também.

“Está tudo bem”, sussurrei. “Apenas vá.”

“Dani...”

“Vá!” Lamentei, lágrimas nublando minha visão.

Ele me deixou naquele dia.

E começou a namorar minha melhor amiga na semana


seguinte.

Eu deixei a equipe de lideres de torcida e abandonei a escola


uma semana mais tarde.

“Corta!” Jaymeson grita.

Sacudo minha cabeça para voltar a atenção e observo


Jaymeson interagir com Pris e Lincoln. Sentindo-me
desconfortável de apenas estar ali, enfio minhas mãos nos bolsos
e espero.

Meu trabalho, enquanto Lincoln está filmando, é garantir


que tudo esteja perfeito para quando ele tiver seus intervalos. Será
que ele tem água suficiente? Já comeu alguma coisa? Está bem
agasalhado? Feliz? Está tenso? Será que tem seus malditos
Skittles? O que? A água tem que estar em temperatura ambiente
— não muito fria. Não gostaria de causar dores de estômago ao
astro. E nem me falem de seu trailer.

Há uma lista.

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Cumpri apenas dois itens dela antes de estar pronta para


rasgar o papel ao meio.

Voltei para o set para perguntar sobre a lista, esperando


para pegá-lo em um intervalo.

Não para pegá-lo alegremente beijando minha irmã.

“Ei, Dani.” Ele acena e corre até mim. “Vou fazer uma pausa
rápida. O trailer está pronto?”

Faço uma careta e levanto minha mão, acenando um gesto


de mais ou menos.

“Por sua expressão vou supor que botou fogo no meu trailer,
e que agora terei que pegar uma cadeira de lona e um guarda-
chuva.”

Sorrio e balanço a cabeça.

“Ótimo, adoro surpresas.” Ele esfrega as mãos, em seguida,


as sopra como se estivesse com frio. “Você viu o beijo que deu
errado?”

Faço uma careta.

“A primeira tomada”, explica, rindo, “Posso ter nocauteado


os dois dentes da frente de sua irmã e, possivelmente, ela está com
um ferimento na cabeça. Meu beijo foi mais entusiasmado do que
suave, e tenho certeza que se alguém ficar sabendo deste vídeo,
vou virar motivo de chacota em Hollywood.”

Rapidamente pego meu telefone.

Dani: Você bateu nela?

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“Ha”, Lincoln coloca a mão nas minhas costas e me leva


através de alguns trailers próximos uns aos outros. “Não, acertei
os dentes dela.”

Começo a rir.

“Bote pra fora agora”, ele resmunga. “Fico feliz por diverti-
la.”

Dani: Ela está bem?

“Você deveria se importar com ela.” Lincoln me dá um


sorriso irônico. “Ela está muito bem, embora meu ego esteja um
pouco ferido. Beijo mulheres desde meus doze anos. Não faço ideia
de por que este simples ato de repente pareceu ser tão difícil
quanto resolver a fome no mundo.”

Paramos na frente de seu trailer.

Seus olhos se arregalam uma fração de segundo enquanto


cruza e descruza os braços, em seguida, bate com o dedo em seu
queixo. “Hm, Dani?”

Estremeço.

“Por que a placa do meu trailer diz LG?”

Dou de ombros.

“Parece coisa de mano.”

Dou de ombros novamente.

Suspirando, ele abre a porta.

Entro na frente dele e me preparo para uma birra.

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Em vez disso, ele pega um punhado de Skittles — apenas os


vermelhos, uma vez que eu os escolhi em um saco de dois quilos
— e se deita no sofá de couro preto.

Ainda esperando que ele diga algo, fico perto da porta,


apenas no caso dele arremessar alguma coisa. Não estaria tão
assustada se não tivesse visto um dos atores fazendo isso com seu
assistente alguns minutos antes de correr até a praia.

O ator, cujo nome é tão pequeno que é até ridículo ele pensar
que tem o direito de agir de modo privilegiado, ficou irritado porque
seu assistente esqueceu de providenciar suas uvas.

Uvas, pessoal!

“Parece bom.” Lincoln corre a mão pelo cabelo ruivo e dá um


tapinha no assento ao seu lado. “Você sabe que pode se sentar,
não é? Você de pé faz com que eu me sinta na obrigação de me
levantar também.”

Pego meu telefone.

Dani: Você não está bravo?

Lincoln pega seu telefone e o joga no sofá. “Por que diabos


eu estaria bravo?”

Dani: As garrafas de água não têm seu rosto estampado


nelas.

Lincoln começa a rir, então franze a testa. “Oh... você está


falando sério?”

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Dani: A lista dizia que suas garrafas de água deveriam estar


em temperatura ambiente e que os adesivos com seu rosto
precisavam cobrir a marca, porque você odeia o nome das marcas.
Mas eu não consegui encontrar os malditos adesivos.

Lincoln sorri. “Adoraria ouvi-la xingando. Em voz alta.


Tenho a sensação de que seria bem... excitante.” Ele empalidece.
“Não é isso, que eu quis... Quer saber? Deixe-me ver essa lista.”

Ele acabou de dizer que o excitava?

Envergonhada, tento recuperar a lista no bolso dianteiro


direito, em seguida, a entrego a ele. Nossos dedos se tocam, por
pouco tempo, o suficiente para ainda sentir o formigamento na
minha pele, embora não estivéssemos mais nos tocando.

“As persianas devem ser baixadas a três quartos sempre que


o trailer estiver voltado para o leste?” Lincoln lê em voz alta com
sua voz grave. “Quem diabos se importa com isso?”

Digito no meu telefone.

Dani: Você não se importa?

“Querida, eu nem sei pra que lado fica o leste, pelo menos
não sem sair e verificar onde o sol nasceu. Além disso, por que isso
importaria?”

Dou de ombros.

Ele vira a lista para ler do outro lado. “Uh, Dani?”

Balanço a cabeça.

“Lista errada.” Ele a estende para mim. “Esta é de Matty


Rose.”

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“Matty?” Gesticulo com a boca. Devo ter surpreendido


Lincoln porque seus olhos ficam presos nos meus lábios durante
pelo menos cinco segundos antes que ele sacuda sua cabeça.

“Algum galã punk de dezesseis anos que pensa que esta vai
ser sua grande chance, porque vai interpretar o melhor amigo,
Evan.”

Dani: Ops?

“Sim, só espero que o assistente dele não seja demitido pelo


incidente com as persianas.”

Rio.

Lincoln fica me olhando. Não de um jeito assustador estou


assistindo você rir, porque quero matá-la, mas como se estivesse
curioso.

“Linc!” Jaymeson bate na porta. “Pronto para a cena da


festa?”

“Sim.” Ele fica de pé quando a porta se abre.

Jaymeson parece mais frenético do que o habitual. “Dani,


eu preciso de um favor.”

Aperto os olhos.

“Por favor!” Jaymeson cruza as mãos. “Eu te dou um pônei.”

“Ela tem dezessete anos, não doze”, Lincoln aponta.

“Um carro?” Jaymeson dá de ombros.

“O carro dela é novinho em folha”, Lincoln diz em uma voz


entediada.

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“Puta merda!” Jaymeson tira o fone de ouvido e aponta para


Lincoln, “Ajude um homem, companheiro! Estou morrendo aqui!”

Bato no ombro dele e balanço a cabeça como se dissesse,


“Fale logo.”

“O avião da Party Girl One está atrasado. Ela não estará


aqui, e a menina que preciso tem o cabelo loiro.” Ele olha para o
meu cabelo e sorri brilhantemente. “Por favor?”

“Sour Patch Kids”, Lincoln deixa escapar. “Eu digo que você
deveria oferecer a ela um estoque anual de Sour Patch Kids.”

Jaymeson estende a mão. “Fechado.”

Pego sua mão e aperto, assim que Lincoln pergunta, “A Party


Girl One não está em uma cena comigo?”

“Sim.” Jaymeson já está andando para longe de nós, em


seguida, se vira e grita, “Ela é a garota com quem você fica na
festa.”

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CAPÍTULO ONZE

Lincoln

Filho da mãe.

Eu beijei a irmã dela e quase fiz seus dentes sangrarem


porque não consegui entrar na cena — então me imaginei
beijando-a e foi aquele arco-íris todo.

E agora? Agora tenho que beijá-la.

Bem, pelo menos não preciso interpretar — não... Seria tudo


Lincoln Greene.

Naquele momento, gostaria que ela falasse. Preciso ouvi-la


fazer uma piada sobre me beijar. Preciso da conversa antes do
beijo, para ficar à vontade. Porque, pelo menos através da
conversa, poderia talvez ter alguma ideia dos seus sentimentos.
Mas tudo que tenho é sua linguagem corporal. E como de costume,
ela parece indiferente sobre tudo aquilo.

Olho mais atentamente.

Talvez ela esteja suando?

Olho seu pescoço, esperando por um pulso acelerado.

Em vez disso, ela vira a cabeça para o lado e tropeça quando


faz um, “O quê?” com a boca.

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“Desculpa.” Quase gaguejo. Ótimo. Acrescente isso a minha


lista de falhas épicas do dia. “Apenas, achei que, tivesse visto um
pernilongo te picando.”

Calma, Lincoln, calma.

Ela rapidamente toca seu pescoço.

“Já se foi.” Você sabe, porque ele nunca esteve lá, em


primeiro lugar, e estou olhando para o pescoço dela como um
vampiro esfomeado. Bons tempos.

Limpo a garganta e silenciosamente espero que Jaymeson


tenha de alguma forma alterado a cena.

A casa de praia está arranjada com pelo menos duas


centenas de figurantes. Um enorme palco iluminado foi construído
em frente a ela. A ideia era filmar a cena da festa e depois ter os
caras fazendo um falso concerto ao vivo, para que pudessem fazer
as imagens para o vídeo da música.

“Ei!” Demetri pula do palco e corre. Se o cara fosse solteiro,


eu o odiaria com todas as fibras do meu ser. Ele é como um surfista
californiano perdido, que de alguma forma foi trazido da costa do
Oregon, como uma sereia em pânico com poderes mágicos para
música.

Sim, realmente estou pensando demais nas coisas. Que


merda.

“Como está minha menina?” Ele puxa Dani em seus braços


e a gira no ar. “Lincoln está lhe dando muito trabalho?”

Reviro os olhos. “Dificilmente.”

Ela balança a cabeça negativamente, em seguida, afaga a


cabeça de Demetri como se ele fosse um cão. Ele parece gostar
daquilo. Agarra a mão dela, em seguida, beija-a e chama Alec para
se juntar a nós.

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“Bem, bem, bem.” Alec pula do palco. Suas botas pretas


pisam duramente no chão, e há areia voando por toda parte. Tenho
certeza que a figurante não se importa. Na verdade, parece tão
encantada com a areia que lhe acertou as pernas, que eu não
ficaria nada surpreso se ela a recolhesse e colocasse em um frasco
etiquetado com o dizer Alec Daniels.

Imagino como é a vida deles. Muitos famosos apenas olham


para eles com admiração. O que há com os músicos? Bastardos.
Todos eles.

“Você cresceu.” Alec pisca, puxando Dani em seus braços,


em seguida, beijando sua cabeça. “Embora...” Ele beija a cabeça
dela de novo, seu pescoço esfregando contra seu cabelo macio. “...
você parece bem, Dani.”

A familiaridade que eles têm com ela me irrita. Não porque


estou com ciúmes. Eu mal a conheço! Talvez seja porque tenho
certeza de que se eu tentasse beijar sua cabeça, ela provavelmente
me acertaria com um golpe de karatê me ou me daria uma joelhada
nas bolas.

Limpo a garganta.

Alec volta sua atenção na minha direção, seus olhos azuis


se estreitando. “Lincoln está te tratando bem?”

Dani balança a cabeça negativamente.

Fico boquiaberto.

Então ela sorri e pisca — sim, pisca para mim. Meus joelhos
tremem, quase preciso me sentar por um momento. A última coisa
que preciso é de uma reputação ruim, e, no entanto, a razão pela
qual estou tremendo? Ela piscou pra mim, porra.

Maldição, ela é linda quando está feliz.

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E talvez essa seja a parte mais triste de tudo — ela parece


tão estressada o tempo todo, como se ser feliz fosse uma tarefa
árdua, mas ser triste? Como se a vida fosse assim.

Não é meu trabalho corrigir isso.

E não sou um daqueles caras que encaram como um projeto


espalhar por todos os lados alguns estúpidos cartazes para
melhorar a autoestima e então, dizem à menina para fazer um
makeover e gastam o limite do cartão de crédito enchendo o
guarda-roupas dela. Além disso, ela é linda do jeito que é. Só
queria que ela aproveitasse a vida. Inferno, ela é tão jovem.

Muito jovem para ficar tão triste o tempo todo.

“Como está indo o primeiro dia?” Demetri pergunta.

“Bem...” Concordo com a cabeça. “... interpretar você


oficialmente é uma droga. Você sabe que foi um grande bastardo
com Nat, certo?”

Alec começa a rir. “Incrível como ele acabou de cair nas


minhas boas graças.”

“Para ser justo”, Demetri argumenta, “Eu estava chapado a


maior parte do tempo então... sim, eu culpo as drogas.”

“Que merda que agora ele não pode mais usar as drogas
como desculpa”, Alec murmura.

“HA!” Demetri o empurra. “Muito engraçado, e você está


irritadiço porque não dormiu nada na noite passada, e derramou
o café no seu jeans favorito.”

“Droga, era da Diesel!”

“Cara, é só uma calça jeans”, digo.

Os dois rapazes olham para mim boquiabertos, como se eu


tivesse acabado de anunciar que era fã de usar collants de
leopardo e tiaras.

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“O que?” Dou de ombros quando meu telefone apita na


minha calça.

Dani: Nunca se coloque entre estrelas do rock e seus jeans.

“Uh, desculpe?” Ofereço.

“Mudanças no script.” Uma assistente de produção vem até


nosso grupo e revisa a cena comigo e Dani. “Vocês vão se beijar
duas vezes aqui e novamente no videoclipe.”

Os olhos de Dani se arregalam.

“Uh, videoclipe?”

Demetri revira os olhos. “Uh, por que mais estaríamos aqui?”

“Não quero dizer... por que vou participar do videoclipe?”

“Porque você está fazendo meu papel...” Demetri sorri. “... e


eu sou um deus do rock, então sim, você vai participar do clipe.”

“Mas...”

“Em seus locais!” Jaymeson grita em seu megafone, que


justamente está bem próximo à orelha de Alec.

Para seu crédito, ele só se encolhe e mostra o dedo médio a


Jaymeson.

Eu teria feito muito mais do que isso.

“Calma aí.” Demetri agarra Dani por sua camisa e a puxa de


volta. “Isso significa que vão dar início às filmagens. Você pode
ficar aqui trás com a gente.”

Seu rosto fica vermelho.

Ela está com vergonha por ter que me beijar?

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“Ela está comigo.” Gentilmente agarro sua mão e começo a


guiá-la.

“O que?” Os olhos de Demetri se estreitam. “Mas você está


prestes a começar sua cena.”

“Ela está na cena.”

“Dançando?” Demetri supõe enquanto Alec e Jaymeson


começam a discutir sobre algo no roteiro.

Dani sacode a cabeça.

“Fingindo derrubar a cerveja?”

Outra negativa com a cabeça.

“Diga-me que você será uma garota tímida que fica no canto.
Aquela que veste toneladas de roupas.”

Ela engole em seco.

“Nem ferrando!” Alec grita.

“Acho que ele descobriu”, sussurro para Dani.

Ela aperta minha mão com mais força.

“Provavelmente é melhor correr e te colocar na maquiagem


para que não precise testemunhar uma briga. Se você assistir,
pode ter que depor.”

Ela ri.

Nós nos viramos e partimos para o trailer de maquiagem. Só


preciso de alguns retoques, mas sei que provavelmente vão colocar
uma tonelada de maquiagem sobre ela, porque um, ela é uma
garota, dois, deveria parecer uma vagabunda — provavelmente o
motivo de Alec estar tentando arrancar a cabeça de Jaymeson — e
três, ela tem que ficar gostosona.

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Seus grandes olhos de corça olham para mim através do


espelho; seu lábio inferior treme um pouco quando a maquiadora
puxa para trás seu cabelo e começa o tedioso processo de
sombreamento.

“Você está bem?” Pergunto.

Um aceno de cabeça.

“Quer que eu fique?”

Seus ombros caem como se ela se sentisse mal por pedir


algo assim.

“Na verdade...” Puxo uma cadeira ao lado dela e coloco


minhas mãos atrás da cabeça. “... sou um especialista em
maquiagem. Eu até sei a diferença entre batom e rímel.”

“E ainda assim ele ganha mais grana mais do que eu.


Imagine só.” Jean, a maquiadora principal diz baixinho com uma
risadinha.

Finjo engasgar e depois sorrio. “Jean me ensinou tudo que


sei.”

“Pobre menino... chorou a primeira vez que passei o batom


nele.”

“Jean”, aviso.

“Chorou como um bebê maldito porque o fiz parecer tão


bonito.”

Uma explosão de risos vem da direção de Dani antes que ela


aperte os lábios bem fechados.

“Sério...” Jean bate um corretivo escuro em todo rosto e


nariz de Dani. “... finalmente, precisei dizer-lhe que aquilo era suco
mágico de homem que ajudava na construção muscular.”

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“Eu tinha doze anos.” Levanto minhas mãos. “E você


mentiu!”

“Nós o pegamos tentando roubar batom do set. Quando o


diretor o encurralou, ele começou a chorar e disse: ‘Eu só quero
ser forte!’”

Neste momento, Dani está morrendo de rir.

“Ótimo! Tem mais alguma história constrangedora que


queira colocar para fora do seu peito, Jean?”

“Ele tinha que fazer xixi em suas calças para um papel, e


quando tentaram prender uma bolsa ao seu corpo, para parecer
de verdade, ele gritou: ‘Não, eu faço todas as minhas partes.
Deixem comigo.”

Meu telefone toca.

Dani: Diga-me que você ainda tinha doze anos.

Estremeço. “Sim, talvez já estivesse nos quatorze.”

Jean ri.

“Eu deveria ter conquistado um Oscar por aquele


desempenho, e você sabe disso!” Grito.

Jean começa a maquiar; em movimentos rápidos, ela corre


o pincel sobre a frente do rosto de Dani.

Incrível o que o contorno faz a uma mulher.

Inferno, é incrível o que aquilo faz com um cara.

Suas bochechas estão mais pronunciadas, quase salientes.


O nariz parece um pouco mais proeminente e os olhos estão cheios
de brilho.

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E só estamos na camada de base entre tudo que vão fazer


com ela, diabos.

“Linc, já falaram com o pessoal do Figurino?”

“Não.” Lambo meus lábios e afasto meu olhar de Dani. “Por


quê?”

“Bem, disseram-me para fazer a maquiagem dela bem


pesada. Não quero que haja conflito com a sua roupa.”

“Vou ver isso.” Pego o walkie-talkie e falo nele. “Figurino.”

Ninguém responde.

“Figurino, é Jean e Linc na Maquiagem.”

“Figurino?” Uma mulher atende.

“Ei, precisamos do traje da Party Girl One.”

“Você pode enviar alguém para buscar? Estamos todos


ocupados atrás do jeans do piromaníaco do AD2.”

Dani sorri, como se dissesse, “eu avisei.”

Suspiro. “Eu vou.” Levanto-me e coloco o walkie em meu


bolso. “Já volto. Deixe-a linda, Jean.”

“Ela já é”, Jean repreende.

“Sim...” Meus olhos se encontram com Dani no espelho. “…


Eu sei.”

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CAPÍTULO DOZE

Dani

“Ele é um dos meus favoritos, sabe?” Jean diz, uma vez que
a porta do trailer se fecha. “Sempre um cavalheiro, nunca reclama.
A única peculiaridade estranha que esta criança tem são os
Skittles vermelhos.”

Não tenho certeza se Jean sabe que eu não falo, e não quero
ser rude, então rapidamente escrevo um pequeno texto.

Dani: Eu não sei se Jay contou a você, mas não posso falar.

Jean lê o texto sobre meu ombro. “Oh, docinho, eu falo o


suficiente por nós.” Ela joga o cabelo roxo brilhante por cima do
ombro e olha para mim através do espelho, seus olhos verdes
encontrando os meus antes de se voltar e borrifar outra coisa em
meu rosto.

A névoa contra minha pele é legal — a sensação é boa e


cheira a coco.

“Você sabe por que ele gosta dos Skittles vermelhos, certo?”
Ela não espera eu escrever um texto para ela. “Ele gosta do sabor,
mas é mais do que isso. Seu primeiro filme foi com algum ator
famoso que se recusou a falar diretamente com outras pessoas,
como se a normalidade delas pudesse contagiá-lo. Eu não vou

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dizer o nome dele, mas tenho certeza que você saberia quem é.
Enfim...” Ela espalha um pouco de creme nos meus olhos. “... você
vai ter que manter seus olhos fechados enquanto passo a sombra
e coloco os cílios.”

Quero ouvir mais sobre Lincoln e seu motivo para amar


Skittles vermelhos, mas não posso olhar para meu telefone, e
quando abro minha boca para falar, mais uma vez, não vem nada.

Que droga! Porque ela me deixa confortável, e estamos


sozinhas. Se eu fosse falar, seria em uma situação como essa, onde
ninguém poderia ouvir, apontar ou rir. Por alguma razão, falar na
frente de um completo estranho, que não dá a mínima para isso
parece muito mais fácil do que falar na frente da minha família e
acabar gaguejando algo estúpido, deixando-os decepcionados.

“Vou apenas aplicar as diferentes sombras. Se você quiser,


pode tirar um cochilo. Posso inclinar a cadeira para trás.”

Concordo com a cabeça. Um cochilo realmente parece bom.


Talvez possa ajudar a afastar o nervosismo.

Aparentemente alguns segundos mais tarde, estou sendo


gentilmente acordada com alguns tapinhas. “Acorde, raio de sol.”
Jean sorri. “Você está pronta! Acho que ele vai ficar satisfeito.” Ela
pisca.

Ele quem?

A porta do trailer abre. Linc tem um vestido em suas mãos,


junto com alguns colares enrolados em torno do cabide, e sapatos
de salto alto roxos. “Então, não sei se você vai querer colocar todos
estes colares porque são realmente pesados. Dependendo da
composição, podemos só...”

Levanto-me e ando até ele, pegando o vestido. O curto


vestido de festa prateado parece seda entre meus dedos. Tem tiras
que vão ao redor do pescoço e caem nas costas completamente
descobertas. E é curto. Provavelmente teria que ter cuidado se

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precisasse me sentar, isso se fosse capaz de me sentar vestindo


aquilo.

“Linc?” A voz de Jean oscila com diversão. “Tudo certo?”

“Uh...” Ele empurra o cabide no meu rosto. “... sim,


desculpe. Eu só... fiquei com a garganta seca, e estava pirando
porque não quero ficar doente.”

“Certo”, Jean diz lentamente. “Bem, acho que você deveria


usar todos os colares. Fiz um olho esfumado em tons de roxo e
deixei seu cabelo mais liso. Vou me certificar de reaplicar o batom
depois de cada tomada, então não se preocupe com isso.” Ela junta
as mãos. “Agora, Linc, sei que você está acostumado a se vestir e
despir em torno do sexo oposto, mas essa menina não está. Então,
xô.” Ela faz um movimento de varredura com a mão direita. “Vá
em frente. Vou mandá-la para fora quando estiver pronta.”

“Mas...”

“Vá!”

“Bem!” Ele me dá um sorriso. “Estou indo. E Dani, você


realmente está com uma aparência ótima.”

Devolvo-lhe o sorriso e tento me impedir de desmaiar na


cadeira. Independentemente de como me sinto sobre atores ou os
homens em geral, eu teria que estar morta para não corresponder
ao seu sorriso. É mais que bonito. Não há nada que eu mudaria
nele, mas não é apenas seu sorriso brilhante ou a maneira como
seus olhos parecem olhar para mim, em vez de através de mim. É
o simples modo que ele anda — ou olha. É como se ele não pudesse
deixar de ser sedutor, mesmo a cadência de sua voz me faz tremer
em resposta, o que é realmente, muito, muito estúpido.

A única coisa que me traz de volta à terra é o simples fato de


que ele é meu chefe. Isso, e o fato de ser Lincoln Greene. O cara
namora supermodelos, não garotas mudas de dezessete anos de
idade. Não, eu sou o caso de caridade que ele leva para jantares

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extravagantes, a fim de conseguir uma boa publicidade. Não a


menina que ele surpreendeu em seu aniversário, levando-a para o
Caribe.

“Bem.” Jean esfrega as mãos. “Vamos colocar você dentro


desta coisa.”

Deslizo para fora da minha calça e puxo minha camisa por


cima da cabeça enquanto ela abre o zíper do vestido.

“Você é tão pequena”, Jean medita, me fitando de cima


abaixo.

Quero dizer a ela que é porque parei de comer depois que


meus pais morreram — perdi o apetite e tenho que me forçar a
comer desde então. Não tem nada a ver com querer ser magra e
tudo a ver com o fato de que, depois de algumas mordidas, já me
sinto enjoada.

Minha terapeuta disse que é parte da ansiedade.

É por isso que como bolo.

Bolo me deixa feliz, assim como as balinhas Sour Patch Kids.


Embora não possa comer uma tonelada, ainda sinto alegria em
comer novamente.

“Pronto.” Jean fecha o zíper e coloca os sapatos no chão.


Entro neles e me viro para o espelho.

Meu queixo cai.

“Como eu disse, ele vai adorar.” Jean pisca pelo espelho, e


prende cerca de vinte diferentes colares dourados em volta do meu
pescoço, com vários pingentes presos neles, variando de longo a
curto. “E antes que argumente, eu vi o jeito que ele olha para você.
Você o intriga e isso é metade da batalha com um ator de
Hollywood. Ele é jovem, mas já está cansado.”

Penso nas palavras dela.

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Intriga.

Isso não quer dizer que sou um quebra-cabeça?

Será que a velha eu teria feito Lincoln virar a cabeça? Ou a


razão dele estar tão curioso é o fato de que sou diferente?

“Pronto!” Jean sorri.

Meu cabelo loiro e liso cai pelos meus ombros, quase


tocando os seios. Está brilhante, mas ainda tem bastante
movimento nele, ao invés de grudado nas laterais da minha cabeça
— que é como meu cabelo normalmente se parece sempre que
tento alisá-lo.

Cílios escuros e longos acariciam meu rosto enquanto olho


para mim no espelho. Posso senti-los a cada piscar. Meu batom é
rosa clarinho e os olhos escuros, mas a diferença real está nos
contornos.

Estou parecendo ter vinte e cinco em vez de dezessete anos.

Bem, pelo menos, finalmente estou com uma bela aparência!

“Arrase.” Jean me conduz para a porta.

Lincoln está me esperando do outro lado, vestindo um jeans


skinny escuro e uma camiseta sem marca, de decote V que mostra
parte de seu braço e da tatuagem no peito.

“Pronta?” Ele estende a mão.

Aceito-a e cambaleio ao lado dele. Faz tempo que não uso


saltos altos.

Quero fazer uma piada sobre Bo estar aparecendo em seu


peito. Mas, novamente, as palavras não estão lá — elas
simplesmente não vêm. Em vez disso, aponto para o peito dele e
sorrio.

Ele olha para baixo. “Sim, Bo está fazendo uma aparição.”

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“Finalmente!” Jaymeson aponta para nós. “Lincoln, mostre


a ela sua posição. Dani, nesta cena, você simplesmente precisa
olhar para ele como se quisesse comê-lo. Acha que pode fazer
isso?”

Balanço a cabeça.

Qualquer mulher poderia fazer isso.

A maioria dos homens também.

“Música!” Jaymeson grita. “E ação!”

Um mix techno da mais recente gravação do AD2 enche o ar


enquanto os figurantes começam a dançar em torno de nós. Fico
colada à parede, enquanto Lincoln recita suas falas à Pris, e então
levanta a cabeça, encontrando meu olhar.

É apenas um filme. É apenas um filme.

A respiração deixa meu peito em uma expiração lenta


quando ele se move para mim, seu corpo fazendo movimentos
fluidos e intencionais entre a multidão.

Meus lábios se separam; meu corpo inteiro está pesado


enquanto ele se aproxima.

Ele para na minha frente, sua testa roçando a minha


quando se inclina alguns poucos centímetros. Nossas respirações
se misturam e a música e a cena toda desaparece a minha volta.

“Corta!” Jaymeson grita.

Caramba! Quase sofri meu primeiro acidente vascular


cerebral — aos dezessete anos.

“Você está bem?” As sobrancelhas de Lincoln se unem em


preocupação.

Dou uma lambida no batom de meus lábios e concordo com


a cabeça rapidamente.

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Jaymeson se aproxima. “Hora do beijo. Lembre-se: é um


beijo e não um jogo de hóquei. Claramente, você estava meio
confuso antes.”

Lincoln cerra os dentes e solta um pequeno gemido.

Dou um tapinha em seu braço e sorrio, a minha maneira de


incentivá-lo. Ele parece mais pálido.

Meu estômago fica gelado.

Talvez seja por minha causa.

Eu sou o problema.

Não o beijo, mas eu. Se ele teve problemas para beijar minha
linda irmã, como será capaz de me beijar?

“Ei...” Lincoln segura meu rosto. “... se concentre em mim,


nada mais, está bem? Somos apenas nós.”

Eu assinto.

“Você já foi a uma festa?”

Reviro os olhos.

“Já ficou com algum cara em uma festa que não fosse seu
namorado?”

Penso sobre isso depois, lentamente, balanço a cabeça.

“Então, esta cena é sobre isso. É sobre um cara que enxerga


uma menina do outro lado da sala e a deseja com tanta força que
está disposto a trair sua própria namorada apenas para prová-la.
Com certeza, ele supostamente está bêbado e chapado, mas isso
meio que acaba com a ideia de romance, não é?”

Ele solta minha bochecha e se afasta. “Imagine que você está


tentando me atrair, faça seu corpo ser tão convidativo quando
possível. Inferno, apenas fique aí e olhe para mim, e você vai
convencer todo mundo.”

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Convencer. Repito essas palavras em minha mente.

Posso fazer isso.

Porque quero que ele me beije.

Ele faz o meu coração bater mais rápido.

Faz meu sangue ser bombeado com mais força.

E pela primeira vez desde a morte dos meus pais, estou


realmente animada sobre algo. Nervosa, mas animada.

“Ok”, gesticulo com a boca.

Devo tê-lo surpreendido novamente, porque seus olhos


escurecem, e então ele sorri. “Um dia, Dani. Um dia vou ouvir meu
nome saindo desta sua linda boca, e não vou ser responsável por
minhas ações... dane-se as consequências.”

Minha respiração fica presa.

“Silêncio no set! E ação!”

Não há aviso prévio. De repente, a boca de Lincoln está


fundida contra a minha, sem dentes, apenas lábios suaves
empurrando, cutucando, movendo-se lentamente para lá e pra cá
até sua língua deslizar para dentro e fazer contato com a minha.

Com o coração acelerado, abro minha boca o suficiente para


aprofundar o beijo enquanto o calor toma conta de mim.

Ele geme e cava seus dedos em meus ombros, em seguida,


desliza as mãos pelas minhas costas e agarra minha bunda. Solto
um grito de surpresa quando toco sua língua com a minha.

“Corta!” Jaymeson grita.

Eu continuo beijando.

Assim como Lincoln.

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Seu peito roça rudemente contra o meu; meus seios doem


no contato brusco. Deixo escapar um pequeno chiado no momento
exato que Linc solta um gemido e empurra seu joelho entre minhas
pernas.

“Corta!” Jaymeson grita novamente.

Lentamente, Lincoln se move para longe de mim, seu peito


arfando.

“Bom demais”, diz Jaymeson.

“Não”, Lincoln argumenta sem tirar os selvagens olhos


cinzentos de cima de mim “eu saí do script. Precisamos fazer isso
de novo.”

“O inferno que você vai fazer de novo”, alguém resmunga.


Não fico surpresa ao ver Demetri lançando punhais com os olhos
nas costas de Lincoln. Alec está ao lado Jaymeson, dando-lhe uma
bronca. Posso notar a forte marca na sua mandíbula.

“Bem.” Jaymeson acena para que ambos se afastem. “Vamos


fazer novamente.”

“Tomada dois, e ação!”

Desta vez, o beijo é lento e lânguido em seus movimentos.


Ondas quentes de prazer percorrem meu corpo enquanto sua
língua desliza sedutoramente pelos meus lábios. Seu gosto, a
sensação de sua boca é diferente de tudo que já experimentei.
Avidamente, solto um gemido, desesperada por mais dele
enquanto estendo minha mão para sua camisa, agarrando-o com
as mãos e puxando-o mais perto contra o meu corpo, querendo
mais contato com ele. Sinto cada músculo plano enquanto ele
lentamente nos vira de forma que suas costas fiquem meio de
frente para a câmera. Seu joelho cutuca minhas pernas e a pressão
dentro do meu corpo aumenta ainda mais. Eu realmente não olhei
muito para o script, mas tenho certeza que isso não é parte dele.

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Rachel Van Dyken

Não que estivesse reclamando.

Ele se balança contra mim, minhas costas presas à parede.


Com um grunhido possessivo, belisca meu lábio inferior, em
seguida, começa a beijar meu pescoço. Beijar em público nunca foi
uma coisa que eu curtisse fazer — mas talvez me sentisse assim
porque nunca beijou Lincoln.

Eu o beijaria em qualquer lugar.

Tudo o que ele precisaria fazer seria pedir.

Meu corpo cantarolando com prazer, deixo escapar um


pequeno suspiro quando os lábios quentes encontram a pulsação
em meu pescoço. Em seguida, sua língua lambe o ponto que seus
lábios acabaram de estar.

Seu joelho sobe mais e mais como meu corpo afunda-se


contra ele; o primeiro contato de sua perna deixa meu corpo
gritando com prazer — apenas um pouco mais alto, um pouco
mais.

“Corta!” Alguém grita, apesar de não soar como Jaymeson.

De repente, Demetri está puxando Lincoln para longe de


mim e olhando para nós dois com uma cara de poucos amigos.
“Acho que vocês já conseguiram a cena.”

Envergonhada, olho para baixo, colocando meu cabelo


sedoso atrás da orelha. Será que realmente quase montei a perna
de Lincoln Greene? Na frente de cerca de vinte pessoas, incluindo
minha irmã?

“Tem certeza?” Lincoln pergunta com a voz rouca. Olho para


ele, seu peito arfando com esforço, os lábios inchados. “Porque eu
poderia jurar que errei minhas falas.”

“Não existem falas, seu bastardo”, Demetri murmura.

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Rachel Van Dyken

“Droga!” Jaymeson grita. “Ei, pessoal, vou precisar que


vocês façam mais uma vez. Lembre-se, Lincoln, você deveria
convidá-la para transar com você.”

Lincoln sorri presunçosamente para Demetri.

Demetri não se move.

Suspiro e, em seguida, bato no ombro dele e faço com a


cabeça um gesto dizendo que estou bem.

“Eu vi língua.” Demetri aponta para Lincoln. “Nós dois


sabemos que isso não é necessário. Aqui não é um prostíbulo.”

Quase caio na gargalhada por Demetri conhecer a palavra


prostíbulo. Isso, misturado com sua proteção, não é algo que estou
acostumada a ver nele. Ele geralmente é muito tranquilo.

“Em seus postos!” Jaymeson grita.

Ansiedade percorre minha espinha enquanto a claquete é


posicionada, e Lincoln fica de frente para mim outra vez, suas
feições uma máscara de completa e absoluta sedução. Garganta
seca, espero pelo beijo.

Uma vez que sua boca está na minha de novo.

Eu percebo.

Seus beijos não são do tipo que você pode se preparar


fisicamente para receber — a sensação é algo que meu corpo
nunca vai se acostumar.

As mãos de Lincoln seguram meu rosto e depois o inclinam


para o lado quando ele sussurra em meu ouvido: “Podemos
continuar isso em algum lugar mais... privado.”

Um gemido estranho escapa entre meus lábios, e sua boca


está na minha de novo, desta vez sua língua delineando a junção
dos meus lábios antes que ele puxe meu lábio inferior com os
dentes, aproximando meu corpo mais perto dele.

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Rachel Van Dyken

“Corta!” Jaymeson grita.

Lincoln mantém o braço em volta de mim enquanto me leva


de volta até os caras. Minhas pernas tremem. Alec está andando
na frente de Jaymeson como uma mãe preocupada, e Demetri está
no processo de tirar sua camisa e esfregar seu peito com
guardanapos.

“Minha cena foi tão quente, hein?” Lincoln brinca.

Demetri olha, mas continua a acariciar seu corpo bronzeado


e perfeito. “Isso... isso é suor de preocupação, e não, um suor
lascivo e quente de que-grande-porra-é-Lincoln-Greene, seu
pequeno sacana pedaço de...”

“Bom trabalho.” Jaymeson empurra Demetri fora do


caminho, quase o fazendo colidir com um dos figurantes. Uma
maldição soa quando algo cai no chão. Acho que este algo é
Demetri. “Acho que a minha parte favorita foi quando certo galinha
aposentado decidiu arruinar toda a cena com o seu colapso
mental.”

Demetri se agita, levanta-se e aponta um dedo para


Jaymeson.

Mordo meu lábio inferior, ainda sentindo o sabor de Lincoln.

“Ok, Lincoln, de volta para Pris. Vamos filmar a reação dela,


e então você corre atrás dela, entendeu?”

Sou esquecida, de repente extremamente desconfortável em


minha própria pele, o meu vestido apertado demais e quente
demais, meus lábios ainda zumbindo com todas as sensações
experimentadas.

Alec vem até mim e fica ali quando a próxima cena é


organizada.

Sua raiva é tão palpável que posso sentir como se estivesse


nadando nela. Ele espera alguns minutos antes de falar.

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Rachel Van Dyken

“Ele é muito bom no que faz”, Alec sussurra.

Engulo em seco. Sim, já entendi essa parte. Ele é um deus


no que faz. Se o beijo fosse uma ocupação efetiva, ele teria um
doutorado no assunto.

“Mas...” Alec pega minha mão e aperta.

Olho para ele.

“... é um trabalho, Dani. Não...” Ele exala asperamente. “...


não é real, você entende isso, certo?”

Empurro minha mão com horror. Não estou com meu


telefone aqui, assim não posso lhe escrever a mensagem que
gostaria; além disso, o texto teria um monte de xingamentos nele,
e sei que isso iria diverti-lo mais do que minha raiva dele.

“Aw, não fique chateada.” Alec agarra a minha mão de novo,


recusando-se a me soltar desta vez. Seu aperto é firme em torno
de meus dedos. “Eu sou protetor, ok? Você é importante para nós,
e não quero que pense que o que aconteceu significa algo além
desta cena hoje. Sei que é uma garota inteligente.”

Então me trate como uma! Quero gritar.

“Você tem dezessete anos”, explica lentamente, como se eu


não estivesse ciente da minha própria idade estúpida. “É tão jovem
ainda, e ele é...” Alec balança a cabeça e observa a cena que está
rolando agora. Lincoln sai correndo atrás de Pris. “Ele é Hollywood
— Eles nascem cínicos e ficam ainda piores com o passar dos dias.
Você não quer participar disso, não importa quão belo ele seja
ou...” Seus olhos encontram os meus. “quão gostoso.”

Alec Daniels realmente está tendo uma conversa de pai


comigo? E acabou de dizer gostoso? Nunca na minha vida me senti
tão desconfortável.

“Aqui.” Demetri se aproxima e me entrega meu telefone. É


uma dádiva de Deus. Mando um texto de grupo para os dois.

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Rachel Van Dyken

Dani: Se você começar a falar sobre os pássaros e as abelhas,


vou dar um soco neste seu rosto perfeito.

Demetri franze a testa para seu telefone. “O que perdi aqui?”

Aponto o dedo para Alec.

Alec ri. “Uau. Sabia que era ruim nesta coisa de conversa
profunda, mas acho que só consegui irritá-la ainda mais.”

Dani: A situação mais desconfortável que já vivi! E olha que


já peguei Jay e minha irmã transando!

Demetri sorriu. “Provavelmente seria preciso uma lupa para


qualquer coisa em Jay de qualquer forma. Estou certo?”

Reviro os olhos e cruzo os braços.

“Estava apenas te alertando”, Alec diz em voz baixa.

Fico entre os dois, nervosa e extremamente desconfortável.


É como ter dois guarda-costas irritantemente quentes e protetores.
Não seria como um choque se eles acabassem querendo me enviar
para um convento ou se decidissem encomendar um desses cintos
de castidade, não que isso importasse. Quem quer transar com
meninas mudas?

Lágrimas ameaçam cair.

Essa é a pior parte.

Que Alec está certo.

Lincoln é um bom ator — um ótimo ator.

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Rachel Van Dyken

Ele estava fazendo seu trabalho.

E fez bem.

Porque por alguns breves momentos, eu me senti como a


mulher mais desejada do mundo. A maneira como ele olhou para
mim, me fez acreditar que poderia ser verdade. E provavelmente é
melhor para todos que Alec seja contundente comigo sobre o tipo
de cara Lincoln é.

Porque, por mais que mantenha minha guarda — ele me faz


querer derrubar essa parede só para ver o outro lado. Só para me
lembrar da sensação de ser normal.

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Rachel Van Dyken

CAPÍTULO TREZE

Lincoln

Eu fiz merda.

Das grandes.

E já fiz muitas coisas estúpidas na minha vida, merdas que


poderiam ter me colocado na prisão, ou pelo menos em liberdade
condicional.

Se houvesse uma lista dos muitos pecados de Lincoln


Greene, o nome dela estaria no topo, circulado em caneta
vermelha, com a palavra LUXÚRIA escrita em gigantes letras
maiúsculas ao lado.

Merda-caralho-da-porra.

Engulo o último gole da minha garrafa de água e a jogo no


lixo, enquanto espero Pris e Jaymeson terminarem o resto da cena
da casa, onde o festival de amor entre ela e seu marido real, Alec,
começou.

Minhas mãos tremem enquanto checo meu relógio,


esperando que aquele maldito dia termine. Não quero ver Dani. Se
a encontrar posso acabar fazendo alguma outra coisa estúpida,
como dizer a ela que quero beijá-la novamente.

Ou pior, realmente seguir em frente sem aviso e assustá-la.

Quem faz isso? Apenas atacar uma menina porque não é


capaz de se controlar? A última vez que perdi o controle daquela

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Rachel Van Dyken

maneira foi na sexta série, quando alguém chamou minha mãe de


puta.

Tenho que concordar que era verdade. Tinha saído em todos


os jornais.

Mas ainda assim.

Aquilo me deixou chateado, então bati no garoto até


derrubá-lo e quando o professor me tirou de cima dele, eu
simplesmente dei de ombros e disse: “Temos que ir para a sala do
diretor agora?”

Fui um merdinha arrogante.

Atuar me ajudou a controlar um pouco da raiva que sentia


em ter uma vida tão pública. Estranho como, por vezes, a causa
pode acabar tendo um efeito diferente.

“Ei!” Alec corre até mim. Ótimo, a última pessoa com quem
quero falar. Ele poderia muito bem ser o pai de Dani pela forma
como é protetor com ela. Quase tão ruim quanto Demetri, apenas
menos verbal sobre o assunto.

Demetri diria que vai dar um tiro em você, em seguida,


puxaria o gatilho.

Alec puxaria o gatilho primeiro e depois diria: “Oh, a


propósito, você está morto.”

“Ela tem dezessete anos.” São suas primeiras palavras.

“Eu sei quantos anos ela tem.” Cruzo os braços sobre o peito.
“Também estou ciente de que ela é uma mulher. Era isso que você
ia dizer a seguir, certo? Ela tem dezessete anos, é menor de idade,
uma mulher, fora dos limites?”

Seu olhar se estreita. “Não brinque com ela.”

Reviro os olhos. “Eu sou um ator. Estava interpretando.


Esse é meu trabalho, Alec.” A mentira tem um gosto amargo na

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Rachel Van Dyken

minha boca; meu corpo grita em indignação com o ridículo das


palavras que estou despejando. “Ela é apenas uma garota.”

“Mesmo?” Se alguma coisa, Alec parece surpreso e seus


olhos azuis arregalam um pouco. “Isso é tudo que ela representa
para você?”

“Sou chefe dela.” Engulo em seco e desvio o olhar


novamente. Graças a Deus, Jaymeson está terminando sua última
fala. “Ela é uma ótima garota, mas é apenas uma criança. Agora,
você pode, por favor, parar de pensar sobre onde vai enterrar meu
corpo?”

“Focas.” Demetri diz atrás de mim. “Já elaborei alguns


planos e paguei uns belos tostões por elas também. Basicamente,
você é comido...”

Suspiro.

“... e morre”, completa.

“Legal falar com vocês, caras, como sempre.”

“Onde está Dani?” Demetri me ignora e olha em volta.

“A última vez que a vi ela estava...” Merda. Definitivamente,


não observando a cena a poucos metros de mim.

Engolindo em seco, ela coloca o cabelo loiro atrás da orelha


e nos dá um tímido aceno, então olha para a esquerda, direita,
quase fazendo um pequeno círculo como se estivesse confusa, e se
afasta.

“Acha que ela ouviu?” Sussurro.

Demetri se prepara como se fosse correr atrás dela, mas Alec


o puxa de volta.

“E se ela ouviu?” Alec pergunta. “Qual o problema disso para


você? Ela é apenas uma criança, lembra? Ou você estava
mentindo?”

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Rachel Van Dyken

“E antes de responder...” Demetri cruza os braços. “... Focas,


lembre-se das focas.”

“Como?” Afasto-me deles. “Tudo o que quero saber é como


suas esposas conseguem viver com vocês.”

“Fácil.” Demetri sorri. “Somos realmente bons na cama.


Mais alguma pergunta? Oh, e a resposta é não, não vou te dar
dicas. Mas se quiser saber como deixar uma menina irritada, com
certeza você acabou de fazer isso.”

“Não é possível perder para ganhar”, murmuro, em seguida,


saio disparado atrás de Dani.

Não preciso ir muito longe. Ela está encolhida nos degraus


do meu trailer. Dou alguns passos cautelosos em direção a ela.

A cabeça de Dani se levanta e um sorriso atravessa seu


rosto. Ela digita em seu telefone, em seguida, fica de pé.

Dani: Trailer trancado, preciso pegar minha bolsa para poder


ir para casa. A menos que você precise de mim para alguma coisa?

Preciso.

Na verdade, quero fazer uma lista, e no topo dela? Quero


colocar ficar beijando como se fosse um adolescente, algo que não
faço há anos. Por que ficar de beijos e agarração quando a maioria
das meninas com quem estive são tão agressivas que o beijo dura
talvez cinco minutos, e de repente minhas calças já estão no chão,
e suas blusas saem voando para a mobília mais próxima?

Não há saborear.

Mas com Dani? Quero aprender a saborear.

Dezessete.

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Rachel Van Dyken

“Hum, não.” Enfio as mãos nos bolsos, meus dedos entram


em contato com minha carteira e os ingressos para o Newport
Aquarium que minha agente me entregou há algumas semanas.

Ela queria que eu fosse quando tivesse um dia de folga das


filmagens. Algo sobre Shamu estar de volta, e ser uma boa
publicidade ser amigável com os animais.

Mas tenho uma coisa bem séria com... baleias.

Como, se ficasse um pouco apavorado com elas.

Então disse a ela que teria que enviar outra pessoa.

Dani começa a ir embora sem sua bolsa.

“Espere!” Corro para meu trailer, e pego a bolsa para ela, em


seguida, entrego, o tempo todo me perguntando como posso fazê-
la passar mais tempo comigo.

Ela se vira, seus olhos cautelosos.

“O Newport Aquarium, quão longe fica?”

Ela franze a testa, em seguida, começa a digitar em seu


telefone novamente.

Dani: Poucas horas, por quê?

“Nós precisamos ir até lá.”

Sim, eu acabei de dizer nós.

Dani: Nós?

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Rachel Van Dyken

Aceno com a cabeça. “É uma coisa de relações públicas. Não


tenho qualquer filmagem nos próximos dois dias, então pensei que
você poderia me levar e me ajudar.”

Dani: Você precisa de ajuda para dirigir?

Meu corpo sente coceira enquanto tento pensar em uma boa


desculpa.

“Não.” Limpo a garganta. “Não desse jeito. É só que... Nunca


é inteligente que eu saia sozinho. Se sou reconhecido e não estou
com alguém, geralmente acabo sendo atacado, mas se as pessoas
pensarem que você é minha namorada...”

Seus olhos ficam completamente mortos.

Como se a luz que de alguma forma deixei lá, agora tivesse


se apagado depois que ela me ouviu chamá-la de menina.

Ela balança a cabeça negativamente.

“Mas...” Lambo meus lábios. “... vou te pagar. Ser minha


assistente é seu trabalho, e isso inclui fazer coisas que às vezes
você não quer fazer.”

Estou realmente chantageando-a para ir ao aquário comigo


— para ver uma baleia cujo primeiro nome é Killer, e tudo porque
quero consertar esta situação.

Ou beijá-la?

Ou simplesmente passar mais tempo com ela?

Inferno, eu nem sequer sei mais.

Meu telefone soa.

Olho para baixo.

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Rachel Van Dyken

Dani: Só estou dizendo que sim, porque não quero ser


demitida.

Gemo em voz alta. “Dani, eu não vou demiti-la.”

Dani: Venha me buscar amanhã às seis. Vamos com meu


carro. A menos que queira contratar algum tipo de limusine para
carregar sua bunda para todos os lugares?

Sorrio com seu comentário sobre a limusine.

“Isso tornaria mais fácil para você? Ficaria mais fácil andar
de carona em um carro?” Pergunto honestamente.

Ela hesita, em seguida, revira os olhos e digita mais em seu


telefone.

Dani: Todos os carros são uma droga. Mas eu nunca andei


em uma limusine, então o júri continua em deliberação. Até amanhã.

Quando olho para cima, ela já está indo embora.

Sem perder o ritmo, clico no botão home no meu telefone e


falo. “Siri, qual é o serviço de limusine mais próximo?”

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Rachel Van Dyken

CAPÍTULO QUATORZE

Dani

Sonhar com Lincoln não é o que preciso. Mas sonho mesmo


assim. Sonho com seu beijo, sonho com seus lábios, e quando
acordo em um suor frio, meu corpo dói com algo que nunca
reconheci antes, quase como se ele tivesse despertado algum tipo
de paixão inexplorada ou desejo. Muito bom, ótimo. Não só sou
incapaz de falar, mas agora estou sexualmente frustrada.

Olho para o relógio. Duas horas. Pris me mataria se a


acordasse, especialmente porque ela tem algumas cenas bem
intensas com Jaymeson amanhã, razão pela qual Lincoln teria um
dia e meio de folga.

É terça-feira, e ele não precisaria se apresentar no trabalho


até quarta-feira ao meio-dia.

Recosto-me contra a cabeceira, batendo minha cabeça


suavemente contra o tecido.

Assim que alcanço meu telefone, ele dispara.

Lincoln: não consigo dormir.

Dani: Você tem um porquinho. Pare de me enviar mensagens.

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Rachel Van Dyken

Deixo meu telefone em cima da mesa e forço meus olhos a


se fecharem.

O sono dura até as cinco, quando meu alarme irritante me


acorda. Lincoln havia me enviado uma mensagem dizendo que iria
me encontrar na minha casa, o que é bom, já que estou me
arrastando. Tomo um banho rapidamente, prendo meu cabelo em
um coque baixo, bagunçado e visto uma camiseta vintage com um
jeans rasgado e meus Converse. Pareço mesmo ter dezessete anos.

Uma dor aguda atravessa meu peito.

Não é como se não soubesse que Lincoln pensava assim


sobre mim, mas ainda foi uma droga ouvi-lo dizer isso em voz alta.

Uma menina.

Posso muito bem ainda estar vestindo macacões e usando


tranças.

Ugh.

A porta do quarto de minha irmã e Jay está aberta, luzes


apagadas. Lembro-me vagamente deles dizendo que precisariam
estar no set às cinco. É uma droga ser eles.

Com um resmungo, entro na cozinha e bocejo enquanto me


sirvo de uma xícara de café instantâneo.

“Por favor, sirva-se”, diz uma voz masculina suave atrás de


mim.

Deixo cair o café quente pela lateral do meu corpo e deixou


escapar um pequeno grito quando uma queimadura arde nas
costas da minha mão direita.

“Ah Merda.” O homem desconhecido anda ao redor da ilha


na cozinha e gentilmente pega minha mão, abrindo a torneira de
água fria e empurrando-a debaixo do fluxo. “Normalmente, minha
primeira impressão é melhor do que isso.”

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Rachel Van Dyken

Olho para cima.

Zane Andrews.

O Zane Andrews está segurando minha mão debaixo da


torneira. Se eu não estava tremendo antes, tenho certeza que estou
agora.

Tento me afastar, envergonhada demais até mesmo de ainda


existir. Não posso falar com ele. Não posso fazer nada. Tudo o que
sou capaz de fazer é olhar para minha mão vermelha com raiva, e
rezar para que ele de repente sofra de amnésia.

Zane Andrews é...

Zane Andrews. Se você disser seu nome rápido o suficiente,


soa como St. Andrews, que é como ele acabou recendo o apelido
de Saint de seus muitos seguidores no Twitter.

Ele é a coisa mais quente que já atingiu a cena musical


desde que Ashton Hyde, ou, como eu o conheço, Gabe, saiu de seu
esconderijo e começou a gravar novamente.

E aquilo foi uma grande notícia.

Tão grande que, depois de um ano, as pessoas ainda estão


falando sobre isso.

Mas Zane Andrews? Ele é o equivalente a...

Se Madonna e Lenny Kravitz decidissem ter um filho


juntos...

... um bebê rock star sexy nasceria...

... e seu nome seria Zane.

Com o cabelo escuro como breu e olhos castanhos dourados


e misteriosos, ele está seriamente na fantasia de cada mulher viva.

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Rachel Van Dyken

Aos vinte e cinco anos, já ganhou mais de quinze Grammys,


e dizem que está de férias com amigos enquanto aproveita uma
muito necessária — oh merda — pausa.

Ele é amigo de Jay?

Lembro vagamente dele dizendo que talvez um amigo desse


uma passada por aqui por algumas semanas.

Mas foi meses atrás que tivemos essa conversa.

Porcaria.

“Ei, você está bem?” O sorriso de Zane é gentil, apagando


qualquer tipo de constrangimento que eu possa estar sentindo.

Com um aceno rápido, liberto minha mão e tropeço para


trás, quase colidindo com a geladeira.

“Uau.” Ele ergue as mãos em sinal de rendição. “Prometo


que não vou morder.”

Esperava que ele dissesse algo indecente como. “Prometo não


morder... muito.”

Mar ele não faz isso.

Também esperava que desse em cima de mim. Dizem que o


cara dá em cima de qualquer coisa, até mesmo de mulheres com
oitenta anos de idade — apenas porque podia.

Em vez disso, ele parece, quase... tímido.

Engolindo em seco, ele anda na minha direção, estendendo


a mão. “Sou Saint, mas meus amigos me chamam de Zane.”

Pego sua mão, em seguida, rapidamente levanto o dedo e


pego o bloco de notas que mantenho escondido na cozinha apenas
caso precise deixar uma nota para Pris ou Jay.

Com as mãos trêmulas, escrevo uma mensagem.

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Rachel Van Dyken

Desculpe. Não sei se Jay contou a você, mas eu não sei falar.
Mais como, não posso. Sou muda, mas é um prazer conhecê-lo, e
sinto muito se roubei o seu café.

Zane se movimenta para olhar por cima do meu ombro, seus


olhos sem pressa para ler cada palavra antes de olhar para mim e
dar uma piscada. “Tudo bem. Ainda não sou capaz de dormir sem
acender uma luzinha noturna. Ou seja, todos nós temos nossos
problemas, não é?”

Deixo escapar uma risadinha e assinto.

“Além disso...” Ele ainda está muito perto de mim, tão perto
que posso sentir uma onda de calor emitida por seu corpanzil de
mais de um metro e noventa. “... às vezes, acho que mensagens
são muito mais claras, sem palavras atrapalhando o caminho.”

É a coisa perfeita para se dizer.

Talvez ele seja um santo.

Meu telefone toca no meu bolso.

“Então”, Zane se move ao redor da ilha e serve outra xícara


de café, em seguida, a traz para mim. “... ouvi dizer que você é a
nova assistente de Lincoln. Espero que ele não esteja sendo um
idiota.”

Levanto minha mão e a balanço um pouco, indicando um


mais ou menos.

A risada de Zane é suave. Ele agarra sua caneca de cerâmica


com força, os músculos em seu antebraço tatuado flexionando.

Enquanto isso, meu telefone não para de zumbir.

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Rachel Van Dyken

“Sim, bem...” Zane levanta a caneca à boca e bebe, antes de


voltar a coloca-la para baixo. “Tenho certeza de que você é mais
difícil do que deixa transparecer.”

Sorrio para isso.

Uma batida raivosa acerta a porta, e as dobradiças quase


são arrancadas quando Lincoln explode pela entrada como se
estivesse pronto para rasgar alguém em pedacinhos.

“Que diabos!” Ele ruge. “Dani, pensei que você tivesse sido
sequestrada ou algo assim. Mandei uma mensagem. Liguei três
vezes. Tive que procurar pela porcaria da chave reserva escondida.
Isso me deixou apavorado! Nunca mais...” Ele para de gritar e olha
para Zane, em seguida, sem uma palavra se aproxima dele.

“Saint?” Ele diz isso como um rosnado, com os punhos


cerrados com força.

Zane olha por cima de sua xícara de café e sorri. “Mãe.”

A próxima coisa que sei é que a xícara de café se quebra


contra o balcão quando Lincoln acerta Zane no rosto. Duas vezes.

Corro na direção deles, não sei o que poderia fazer para


realmente parar aquelas duas bestas enormes em suas formas de
homem das cavernas, mas me preocupo com o sangue manchando
o tapete.

No minuto em que chego até eles, Lincoln se levanta, espana


a calça jeans, em seguida, estende a mão para Zane.

“Obrigado, cara.” Zane sorri.

“Sim, bem...” Linc passa as mãos pelo seu cabelo grosso. “...
você sabia que isso ia acontecer.”

“Verdade.” Zane faz uma careta quando limpa o lábio com o


dedo. “Mas você não poderia ter, pelo menos, tirado seu anel
antes?”

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Rachel Van Dyken

Lincoln assente seriamente. “Da próxima vez.”

“Impressionante.” Zane geme então rouba meu café e toma


um gole lento.

Fico boquiaberta. Eles são amigos? Inimigos? Rivais?

“Está pronta, Dani?” Lincoln estala os dedos.

Faço uma careta, em seguida, jogo minhas mãos no ar. Mas


que diabos!

“Não se preocupe com isso, menina do café.” Zane pisca.


“Apenas um velho acerto de contas que precisava ser resolvido.
Não é verdade, Linc?”

“Sim.” Lincoln pega minha bolsa, uma jaqueta e um boné.

“Uau, nunca pensei que veria o dia”, Zane diz baixinho.

“Dia do quê?” Linc devolve.

“Vai ser um belo dia.” Zane sorri na minha direção. Então,


quando Linc vira de volta para abrir a porta, ele pisca.

Uma limusine branca espera na frente, a porta traseira do


passageiro aberta e com a presença de um homem idoso em um
terno preto e luvas brancas.

“Espero que você não se importe”, diz Linc ao meu lado. “Mas
já que você nunca andou em uma, pensei, por que não
experimentar e ver se a experiência dela como passageira em um
carro não fica melhor.”

Feliz por ele ter feito algo tão cheio de consideração, tenho
que segurar um grito de alegria à medida que entramos na
limusine alongada.

No minuto em que minha bunda acerta os assentos de couro


macio, quero suspirar e, em seguida, tirar um longo cochilo. Por
alguma razão, talvez porque a forma é bem diferente, mas andar

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Rachel Van Dyken

na limusine não me afeta do mesmo jeito que estar como


passageira em um carro. Minha ansiedade não está disparada até
o céu e não estou pronta para gritar.

Sem dizer nada, Lincoln me entrega uma garrafa de água.


Levo um segundo e vejo quando ele fecha e abre seu punho, em
seguida, sacode a mão no ar.

Digito um texto, em seguida, o cutuco com o pé.

Ele olha para o telefone e sorri.

Dani: Que porra foi aquilo?

“Aquilo? Aquilo foi a vida.”

E o que? Na vida vocês foram autorizados a bater nas


pessoas às seis da manhã?

Dani: Vocês são amigos?

Lincoln bufa e toma um longo gole de café, seus olhos


penetrantes me encarando. “Somos... amigáveis.”

Grande escolha de palavra.

É uma droga que ele tenha que perder todo meu adorável
sarcasmo só porque não posso dizer isso em voz alta, embora
tenha certeza que o rolar de olhos e minha carranca tenham sido
bem úteis.

“Minha irmã... você pode ter ouvido falar dela, Angélica


Greene? Ela ficou atrás dele por meses, finalmente o encurralou e
ele pode tê-la dispensado...”

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Rachel Van Dyken

Faço uma careta. E? As pessoas normais são dispensadas o


tempo todo.

“Em frente à mídia, e vamos dizer apenas que suas palavras


não foram gentis, não importa se foram verdadeiras ou não. Pouco
depois disso, de acordo com minhas fontes, ela quase sofreu uma
recaída, embora agora esteja bem. Ele já se desculpou, mas eu
disse a ele que ainda precisava defender a honra dela. Assim, ele
me disse que eu poderia socá-lo na próxima vez que o visse.”

Dani: Caras são estúpidos.

Ele começa a rir. “Sim, bem, ninguém realmente defende


Angelica... provavelmente porque ninguém realmente gosta dela, e
ela é meio maluca. Mas sou seu irmão. É o meu trabalho ser
protetor. Assim, os socos? Ele mereceu aquilo, mesmo que
estivesse certo ao lhe dar um fora.”

Faço uma careta.

“O que?” Linc se inclina para frente. “O que está se passando


nesta sua bela mente?”

Não vou reagir às suas palavras.

Meu corpo não ouve quando um arrepio percorre minha


espinha enquanto digito outra mensagem.

Dani: Ele não parece ser o tipo que daria o fora em alguém ou
alguma coisa.

Um olhar conhecedor atravessa o rosto de Linc enquanto


seus olhos encontram os meus. “Eu não sei, aparências podem ser

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Rachel Van Dyken

muito enganadoras. Especialmente no nosso meio. Acho que você


ficaria surpresa.”

Hmm.

“Ei.” Linc estala os dedos na frente do meu rosto. “Não, eu


conheço esse olhar. Não vá até lá. Ele a convida para sair, você
responde ‘nem ferrando’ e sai correndo em outra direção.”

Rio e balanço a cabeça como se dissesse, “Sim, certo.”

“Estou falando sério.” Lincoln pousa o café e estala os dedos.


“Não me dê mais um motivo para chutar a bunda dele.”

Engasgo com uma risada.

“Quero dizer, você tem dezessete anos.” Será que ele conhece
quaisquer outros números? Sério? “Ele não sonharia com isso,
mas ainda assim...”

As palavras roubam a respiração de meus pulmões.

Ele não sonharia com isso, por que não? Por causa da minha
idade? Ou porque sou muda? Ou estou realmente apenas sendo
muito sensível aqui?

“Quero dizer...” Lincoln cruza os tornozelos, descruza-os, se


remexe em seu assento, em seguida, olha para o seu telefone. “...
é ilegal e... merda.”

Dani: Você está me deixando desconfortável.

“Sim, bem, então somos dois”, ele diz em voz baixa. “Não
dormi muito na noite passada. Acho que vou deitar um pouco, está
bem?”

Concordo com a cabeça.

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Rachel Van Dyken

E tento não ficar olhando enquanto ele lentamente se deita


e coloca o boné de beisebol sobre o rosto, cobrindo aquela boca
pecaminosa.

Ele vai realmente dormir?

Estou cansada, mas não tão cansada que seja capaz de


dormir ou ficar tão confortável na sua presença. Em vez disso, fico
me sentindo um pouco mal do estômago.

Sempre tento vestir uma máscara de coragem em meu rosto.


E gostaria de pensar que tenho feito um bom trabalho com ele. O
carro desvia um pouco. Seguro o couro com ambas as mãos e tento
ignorar o ardor de lágrimas.

Ele não me deixou desconfortável.

Ele me machucou, e nem sequer percebeu isso. Toda vez que


diz que tenho dezessete anos, é como se estivesse jogando minha
idade na minha cara. A maioria das pessoas vivem suas vidas
inteiras sem passar pelo que já passei, não que esteja sentindo
pena de mim mesma, mas ele me trata como uma criança.

Quando na verdade? Às vezes me sinto como uma mulher


de oitenta anos, se escondendo em sua casa, esperando que o resto
do mundo passe.

À espera de morrer.

Meu estômago se revira ainda mais. Porque realmente, é


assim que me sinto, às vezes, e a culpa por me sentir deste jeito é
maior do que posso suportar. Preciso estar feliz por Pris, por Jay,
pelo novo bebê que está a caminho.

Meus sentimentos parecem egoístas porque eles são isso


mesmo.

E é estúpido da minha parte pensar que posso apenas ficar


bem de repente. Mas, às vezes, me sinto como se estivesse apenas
atravessando as emoções. Escovo os dentes, porque preciso. Como

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Rachel Van Dyken

porque é necessário, o que meu terapeuta disse que significa que


eu realmente quero viver.

Deixei de fora a parte em que comecei a comer novamente


por causa do olhar de pânico no rosto de Jay e por causa da dor
nos olhos de Pris.

Estou comendo por eles, não por mim.

Saio da cama por eles, não por mim.

Estou vivendo porque meus pais não podem, e ainda assim,


por vezes, à noite, quando não consigo dormir, me pergunto se
Deus não fez alguma confusão.

Aff. Deixo minha cabeça cair para trás contra o couro,


batendo algumas vezes, saltando para cima e para baixo enquanto
continuo sofrendo. Odeio a autopiedade. Bebo mais café e tento
me concentrar no positivo. Estou em uma limusine com um cara
gostoso.

Um cara gostoso e famoso que pensa que sou uma criança.

Mas pelo menos ainda estou na limusine, ele trouxe café


para mim, e pela primeira vez na minha vida pude experimentar
um beijo, que por alguns breves momentos, fez com que me
sentisse viva outra vez.

Meu telefone toca.

Jay: Zane disse que te assustou esta manhã, e que você


queimou a mão. Está tudo bem?

Olho para minha mão. Ainda está vermelha, mas


honestamente, estar com Linc me fez esquecer tudo sobre isso.

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Rachel Van Dyken

Dani: Estou bem. A mão está bem. Quanto tempo Zane vai
ficar?

Jay: Não tenho certeza, pelo menos um mês. Vamos ver em


quanto tempo vai querer zarpar. Ele precisa de uma escapada.

Dani: Beleza.

Jay: Ele é um bom amigo. Não queria que ficasse em um hotel,


além disso, acabaria assediado em um minuto, e ele odeia ficar
sozinho.

Dani: Ficar sozinho?

Jay: Esqueça que eu disse isso, por favor? Ele ficaria


chateado. Divirta-se no aquário. Não mate minha estrela.

Dani: Droga, provavelmente não deveria ter colocado arsênico


nos seus ovos esta manhã. Oh bem, pelo menos sempre teremos
aquele beijo.

Jay: Ha ha. E se ele te beijar novamente, morda o lábio dele,


amor.

Dani: Tipo uma mordida de amor?

Jay: Tipo uma mordida de arrancar pedaço, cuspa e saia


correndo como se estivesse em chamas para que depois eu possa
acabar com ele.

Dani: Obrigada, pai.

Engulo em seco quando percebo através dos olhos


embaçados o que acabei de digitar.

A resposta de Jay é imediata.

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Rachel Van Dyken

Jay: Você sabe que serei o pai mais quente na história do


universo.

Rio baixinho enquanto ele me envia um emoji que diz Pai


número um. Ele sempre sabe o que dizer para eu me sentir melhor.

Dani: Tão, tão verdadeiro.

Jay: Amo você.

Envio-lhe um coração rosa.

Dani: Também te amo.

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Rachel Van Dyken

CAPÍTULO QUINZE

Lincoln

“Sinto muito.” Mãos tremendo, bloqueio minha vista com o


folheto e finjo estar interessado na exposição sobre o acasalamento
dos pinguins. Que diabos? “Eu realmente não posso fazer isso.”

Dani puxa o passador do meu jeans.

“Que se danem. Veja se eu me importo.”

Ela continua puxando.

“Tenho quase trinta centímetros a mais que você, Dani, sem


chance. É hora de ir. Já vimos tudo, menos uma sereia. Vamos
embora.”

Seu pé pisa em cima do meu.

Uma forte dor irradia para cima em direção a minha canela.

“Filha de uma...”

O folheto é arrancado de minhas mãos. Ela fica de pé na


minha frente, se preparando para uma batalha. Nunca vi um olhar
mais bonito. Rosto vermelho, peito arfando, olhos brilhando.

Puta merda, quero devorá-la ali mesmo.

De repente, esqueço do porquê estou tão assustado.

Meus olhos se concentram em sua boca.

Seus lábios se separam.

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Rachel Van Dyken

Se isso não é um convite, eu não sei o que é. Engulo em seco,


estendendo minha mão para o rosto dela.

Exatamente quando uma onda gigante de água colide com


suas costas e minha frente, quase expondo o quanto desejo seu
corpo colado ao meu.

“Desculpe por isso! Baleias podem ficar meio mal-


humoradas.”

Oh que bom! Algo que tenho em comum com o demônio


gigante atualmente espirrando sua cauda a poucos metros de
distância.

“Vocês estão prontos?” O treinador salta da água como uma


maldita foca que consumiu crack e ri.

“Não”, resmungo. “Não estou pronto.” Palavras. Preciso


encontrar mais palavras. Já mencionei que vou matar minha
agente?

“Oh.” O treinador ri. “Mas as crianças vão ficar


desapontadas se sua estrela favorita não fizer, pelo menos, um
truque com a gente!”

Como por sugestão, a multidão de crianças na plateia


aplaude e começa a cantar o meu nome.

“Um, só...” Levanto o meu dedo. “… um minuto.”

Roupas encharcadas, guincho em meu caminho de volta em


direção à cerca, puxando Dani comigo.

“Não posso fazer isso.”

Ela suspira e olha para a multidão. Realmente preciso do


encorajamento dela agora, e a pior parte é que ela não tem palavras
para me dar, nada. Sinto-me estúpido e egoísta por precisar de
ambos.

“Tenho medo de baleias”, murmuro.

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Rachel Van Dyken

Ela coloca uma mão em concha sobre sua orelha.

Reviro os olhos enquanto ela se inclina.

“Medo-” Tusso na minha mão. “de-baleias.”

Seu sorriso me faz sentir como uma adolescente que acabou


de ser pega encarando o professor de matemática gostoso.

“Pronto?” O treinador se volta. Será que alguém poderia —


qualquer um — apenas enfiar um tranquilizante de baleias na
bunda dele ou algo assim?

Dani pega minha mão e dá um aperto. Achei que fosse soltar


minha mão em seguida, mas em vez disso, ela a agarra como se
fosse entrar na água comigo.

Dado que estamos sem nossos sapatos, já é um passo.

Quando disse a minha agente que íamos usar os ingressos,


a mulher ligou ao aquário para avisá-los que eu ficaria mais do
que feliz em fazer uma aparição surpresa durante o show aquático
da tarde. Para minha sorte, não precisei nadar com uma baleia.

Tudo que preciso fazer é alimentar uma.

Estou tendo visões bem nítidas sobre muito sangue quando


cair em sua boca gigante e deixar de existir.

“Yay!” O treinador salta para cima e para baixo algumas


vezes, fazendo-me sentir náuseas, ou talvez seja apenas a baleia,
Zoe, que atualmente está nadando ao redor e sacudindo-se no ar.

“Vocês crianças estão prontas?” Outro treinador grita no


microfone. “Vamos dar um grande aplauso para Lincoln Greene!”

Dou um aceno fraco para a multidão enquanto Dani me


puxa para o primeiro degrau na direção do gigante tanque da
baleia.

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“Aqui está.” O treinador levanta um balde. “Zoe vai espirrar


em vocês novamente e vai abrir a boca. Você atira a comida, e
quando terminar com isso, tudo o que precisa fazer é estender sua
mão e esperar por um high five. Ela vai fechar a boca, engolir a
comida e fazer um truque .”

Enquanto meu corpo não estiver envolvido nesse truque.

O balde é empurrado na minha mão livre. Aperto Dani com


mais força. Ela se inclina para o meu lado, em seguida, começa a
cantarolar a trilha sonora de Tubarão.

“Não é engraçado”, digo com os dentes cerrados.

Ela cantarola mais alto.

Ótimo.

A maldita mancha gigante em preto-e-branco voa através da


água a uma velocidade vertiginosa, parando na nossa frente,
espirrando água com sua nadadeira caudal enorme e, em seguida,
abre a boca.

Dentes. Ela tem dentes.

E muitos deles.

Fico tonto só de pensar neles. Quem se importa se são


planos? Ainda são dentes, e não é tanto os dentes, quanto a
mandíbula que está me apavorando.

Dani me cutuca.

Solto sua mão e puxo os pequenos peixe do balde, deixando-


os cair na boca de Zoe.

Ela a mantém aberta.

Com a mão ainda tremendo, levanto-a no ar para fazer um


high five.

Sem aviso, ela espirra água em nós novamente.

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“Uh oh!” O treinador diz no microfone. “Parece que Zoe quer


um beijo!”

“Mas nem ferrando”, sibilo.

“Beijo! Beijo! Beijo!” As crianças cantam junto com o


treinador como se não fosse uma legítima questão de vida ou
morte.

Eles continuam cantando. Não posso me mover.

Dani rapidamente se ajoelha, encharcando seu jeans


quando se inclina sobre a água, segurando a cabeça tão perto da
baleia que fico com medo dela tomar uma mordida. Mas a baleia
não se move. Na verdade, parece apreciar a proximidade de Dani.

Dani fecha os olhos e esfrega o nariz contra a pele da baleia,


como se para me mostrar que está tudo bem.

Lentamente, eu me abaixo ao seu nível e me inclino. Zoe


cheira a peixe. Quaisquer movimentos rápidos e terei um sério
problema de desmaio e posterior afogamento na piscina gigante.

“Beijo! Beijo! Beijo!” O público grita.

Dani puxa meu rosto para baixo para a baleia; meus lábios
estão alguns centímetros longe da pele de Zoe. Em seguida, Dani
empurra meu rosto para a baleia. Não é nem mesmo um beijo. É
mais um empurrão com os meus lábios contra sua pele de
borracha. Ela me puxa de volta, em seguida, se lança em meus
braços.

E me beija.

Esqueço tudo sobre a baleia.

Ao longe, ouço aplausos e um respingo. Presumo que Zoe


tenha feito seu truque, mas estou ocupado fazendo um dos meus
próprios.

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Rachel Van Dyken

Sem hesitar, levanto Dani contra meu peito. Seus pés


pendem contra minhas canelas e eu nos giro, beijando-a com mais
força, necessitando-a mais do que a minha próxima respiração.

Sua boca é exatamente como me lembrava, quente, doce e


tão convidativa que é difícil puxar para trás.

O treinador ao meu lado dá uma tossida. “Temos crianças


presentes.”

Dani desliza pelo meu corpo duro enquanto lentamente a


solto e murmuro, “Obrigado.”

Ela pisca.

“É sério, você salvou minha vida”, sussurro.

Ela começa a rir e as crianças riem e aplaudem.

“Então...” Dani lambe os lábios. “... medo de baleias, hein?”

Minha boca se abre, ao mesmo tempo em que a dela se


fecha, como se tivesse acabado de perceber que havia falado em
voz alta.

O treinador, claramente não percebendo o momento épico,


tenta nos envolver em sua conversa. “Muito obrigado por terem
vindo e...”

“Sim! Sim.” Balanço a cabeça e aperto a mão dela enquanto


tento direcionar Dani para longe. “Obrigado novamente. Nós temos
um compromisso.”

Andamos de mãos dadas em direção aos nossos sapatos e


meias. Dani não diz nada. Gostaria que dissesse, mas não quero
pressioná-la também. Meu coração está batendo tão forte que meu
peito dói.

Uma vez que estamos longe da multidão e sozinhos, eu me


viro para ela e digo a única coisa em minha mente, “Sua voz é a
coisa mais linda que já ouvi.”

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Rachel Van Dyken

CAPÍTULO DEZESSEIS

Dani

A adrenalina toma conta do meu corpo. Minha voz! Essa é a


minha voz! A voz que não ouço fora da minha cabeça há meses!
Quero gritar em vitória, gritar a plenos pulmões. Mas em vez disso,
meus joelhos batem um no outro e manchas nublam minha visão
quando Lincoln me levanta em seus braços e me carrega pelas
escadas abaixo.

Pisco, quando nuvens negras começam a se mover na nossa


direção.

Chuva fria espirra no meu rosto antes de Lincoln nos levar


para um pequeno recanto.

Congelando, não consigo parar de bater meus dentes


enquanto ele me coloca de pé na frente da exposição de pinguins.

Está muito frio lá dentro.

Mas estamos sozinhos.

“Dani?” Ele segura meu rosto. “Você vai desmaiar?” Suas


sobrancelhas estão unidas em preocupação quando me apoia
contra a parede.

Quase posso saboreá-lo novamente —quero — mas então ele


saberia. Ele saberia que quero mais de seus beijos.

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É tão errado querer um beijo de alguém como ele? Um beijo


de verdade? Não um forçado ou encenado — mas um beijo de
paixão e espontaneidade?

Balanço a cabeça, engolindo a secura na minha garganta.

“Isso foi...” Seus olhos se iluminam com admiração. “... uma


loucura... certo?”

“A baleia ou isso?” Minha voz é quase um sussurro enquanto


meus olhos traiçoeiros se concentram em sua boca.

Linc se inclina, empurrando o cabelo para longe do meu


rosto. “Ambos, mas para registro, esqueci tudo sobre a baleia na
hora em que ouvi sua voz.”

Sorrio com sua explicação.

“É difícil?” Ele me olha com cuidado, quase como se eu fosse


um pedaço de porcelana chinesa prestes a oscilar de uma mesa e
quebrar em milhões de pedacinhos.

Achava que seria legal receber este tipo de olhar dele, mas
algo dentro de mim está desapontado; talvez seja porque ele olha
para mim com reverência, como resultado da minha fala, não por
minha causa.

Então, novamente, sempre fui dura comigo mesmo.

Dou de ombros.

“Não.” Ele sorri. “Não vou deixa-la voltar ao padrão antigo.


Pelo menos diga ‘eu não sei’.”

Lambo meus lábios. “Não.”

“Ok, isso funciona”, diz ele com uma risada suave. “Isso já
aconteceu antes? Você sabe, onde um ator sexy de morrer, com
medo de baleias te inspira tanto que um milagre acontece, e você
diz suas primeiras palavras em...” Ele inclina a cabeça em
questionamento.

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Reviro os olhos, embora esteja tão nervosa que me sinto


como se estivesse prestes a vomitar. Enviar mensagens de texto
era uma coisa, falar com ele... bem, difícil é um eufemismo.

“Oito meses.” Dizer isso em voz alta faz parecer muito pior
do que pensei inicialmente. Quase como se estivesse finalmente
admitindo que há este enorme elefante bloqueando meu caminho
para fora da sala. Minhas mãos vão para a minha garganta.
Lincoln ainda está olhando para mim em choque, então
imediatamente entro em modo sarcástico, defensivo. “E, para
registro, provavelmente isso foi provocado pela baleia... não vá
tuitar que você é mágico nem nada. Não é disso que o mundo
precisa, Linc.”

Ele fica boquiaberto.

Faço uma careta e empurro minha mão no meu jeans.


Merda, espero não ter ido longe demais. Realmente me transformei
em uma pessoa muito sarcástica desde que parei de falar, talvez
porque eu era minha única fonte de entretenimento. “O que?”

“Puta merda, você está falando por três minutos, e já me


insultou.” Ele ergue a mão para um high five.

“Não vou bater minha mão aí. Imagine os lugares por onde
já passou”, provoco, desta vez as minhas palavras fluindo um
pouco mais facilmente.

“No mesmo lugar que as suas, querida. Na boca de uma


baleia.” Ele estremece.

“Tenho certeza que esse não foi o pior lugar.” Eu lhe dou um
tapinha no ombro.

“Ha!” Ele dá uma risada seca e revira os olhos. “Com


ciúmes?”

“Imensamente.”

“Não esperava que fosse engraçadinha.”

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“E não esperava que você tivesse medo de peixes, mas aqui


estamos nós.”

“Mamíferos”, ele corrige, estreitando os olhos. “Baleias são


mamíferos.”

“Olha só você ficando na defensiva por Zoe. Devo avisá-la


que você quer outra rodada?” Viro em meus calcanhares, mas sou
puxada de volta pela minha camiseta.

“Zoe está dormindo.”

“Tem certeza disso?”

“Sim, ela se comunica telepaticamente comigo e se certificou


de me entregar a mensagem antes de quase me comer.”

“Isso foi legal da parte dela.”

“As baleias são generosas.” O olhar de Linc desce para meus


lábios.

Meus olhos disparam para os dele.

O que está acontecendo agora?

“Dezessete”, ele sussurra. Quase não consigo ouvi-lo.

“O que é que foi isso?”

“Nos limpar.” Seus olhos viajam pelo comprimento do meu


corpo, dos meus pés para a cabeça. “Provavelmente deveríamos...
tomar uma chuveirada.”

“Certo.”

“Separadamente.”

“Porque você normalmente toma banho com ajuda?”

“Ha, ha.” Ele engasga uma risada estrangulada. “Vamos?”

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Lincoln anda em torno de mim e abre a porta. No minuto


que pisamos do lado de fora, uma mulher e três crianças esbarram
em mim, enviando-me contra Linc. Suas mãos fortes agarram
meus ombros.

“Desculpa!” A mãe abatida sopra a franja do rosto enquanto


todos os seus três filhos correm para a exposição de pinguins.
“Eles ficam meio loucos com os pinguins.”

“Conheço a sensação”, Lincoln sussurra, seus lábios


roçando minha orelha.

Não sei quanto tempo fico olhando para a porta, ou quanto


tempo Lincoln me segura assim, mas nosso pequeno momento, ou
o que quer que tenha sido, é interrompido por mais gritos, só que
desta vez dirigidos a Lincoln.

“Lincoln Greene!” Uma pré-adolescente berra.

Seus dedos se enfiam na minha pele quando me usa como


um escudo humano. Elegante.

“Acha que podemos correr?” Ele pergunta, já se afastando,


comigo ainda bloqueando o caminho das meninas, enquanto elas
se agrupam e começam a vir pela calçada na nossa direção.

Não tenho tempo para responder, pois somos inundados


com gritos e risadas. Os telefones celulares apontados no ar,
tirando fotos nossas. Elas pedem autógrafo e, em seguida, uma vez
que a comoção diminui, olham na minha direção.

“Quem é você?” Uma menina, que parece ter uns dez anos,
colocou as mãos nos quadris e me encara.

Quero responder: “Ninguém.”

Abro a boca e... nada.

Murchando, apenas balanço a cabeça e lanço a Linc um


olhar suplicante.

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“Ela é minha assistente durante o verão.”

Dispensada.

Como se não tivéssemos acabado de compartilhar alguns


momentos.

Por que continuo fazendo isso comigo? Ah, certo, porque


amo me torturar. Balanço a cabeça enfaticamente e
silenciosamente me afasto para que ele possa terminar de
distribuir os autógrafos.

Uma cortina de chuva cai no momento em que termina.


Estou me escondendo debaixo de uma alcova enquanto lama e
água salpicam meu tênis.

Preciso reconhecer. Ele não reclamou nenhuma vez, apenas


continuou a tirar fotografias, mesmo com sua camisa agarrada aos
seus músculos abdominais como uma segunda pele, e seus jeans
skinny deixando absolutamente nada para a imaginação.

Estava beirando o indecente.

Mesmo as mães estão parando para tirar fotos. Inclino a


cabeça para o lado quando Lincoln solta uma gargalhada e assina
na camisa de uma menina.

Minha respiração fica presa. Ele tem uma risada


maravilhosa. Tem alguma coisa feia naquele homem?

Até mesmo a maneira como anda é cativante.

E atualmente está andando na minha direção.

É um daqueles momentos em que rezo para parecer fria e


indiferente, inclinando-me contra as latas de lixo que cheiram a
cachorro-quente velho e pelo de cachorro molhado.

“Desculpa.” Ele corre os dedos pelo cabelo ondulado,


alisando-o de volta, depois de sacudir algumas gotas. Imagino que

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não seria um exagero se visse algumas meninas tentando lamber


aquela água do ar.

Balanço a cabeça.

“O quê? Nenhuma palavra de sarcasmo?”

Sorrindo, abro minha boca para dizer alguma coisa no


momento em que seu celular toca.

“Ela está bem, Jay. Estou bem. Todo mundo está bem”, ele
declama, piscando na minha direção. “Oh.” Seu rosto passa de
tranquilo a tenso enquanto seus olhos correm de um lado para
outro, entre mim e algum objeto imaginário na frente dele. “Sem
problema. Vamos dar um jeito.”

Ele termina a chamada e me dá um longo olhar, quente.

“Jay?” Adivinho.

“Você deve ter sido detetive em outra vida.” Ele passa um


braço a minha volta e nos leva para a saída.

“Sim, eu ter ouvido o nome dele não tem nada a ver com
saber quem estava do outro lado da linha. Só precisei calcular o
tempo que faz desde que saímos e dividi pela distância percorrida
— e boom — temos Jamie Jaymeson ligando para checar
exatamente às três horas da tarde.”

“Você é uma espécie de espertinha.” Linc balança a cabeça


em aprovação. “Gosto disso. Não admira que você e Demetri sejam
melhores amigos.”

“Eu disse que não era só por causa das Sour Patch Kids.”

“Isso é verdade.” Ele envia um texto rápido, imagino que seja


para nosso motorista, e depois me encara. “Então, Jay quer que a
gente fique esta noite.”

“Na casa dele?” Pergunto confusa. Quer dizer, eu moro lá.


Por que precisaria de um convite da minha própria família?

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“Não.” Linc lambe os lábios.

Tento desesperadamente não acompanhar com meu olhar


faminto. “Aqui em Newport. Aparentemente, uma enorme
tempestade está chegando, e há avisos de enchente emitidos. Sua
irmã está pirando com a ideia de pegarmos a estrada por causa
da...” Ele engole em seco, desviando o olhar.

“Por causa do acidente dos meus pais, você quer dizer?”

Os olhos de Linc brilham com pesar. “Sim, ela só... não quer
que você tenha uma recaída como da última vez.”

Minhas bochechas queimam de vergonha. “Última vez.”

“Você não tem que me contar.”

“O que há para contar?” Olho para os meus sapatos


enlameados. “Houve uma tempestade, estávamos na estrada e
fiquei com tanto medo que acabássemos envolvidos em um
acidente de carro que acabei hiperventilando, quase desmaiei, em
seguida, comecei a gritar histericamente quando os faróis de outro
carro nos cegaram porque o motorista estava usando luz alta.”
Deixo escapar um longo suspiro, contando até cinco antes de
continuar. “Foi logo depois que parei de falar, então de alguma
forma ela acha que a coisa toda do carro quase batendo em nós,
em seguida, estarmos naquela tempestade, apenas agravou a coisa
toda do mutismo.”

Linc agarra minha mão. “Você não é muda.”

“Não com você. Mas me peça para falar com o leiteiro e


provavelmente estarei berrando e correndo na outra direção.”

Linc pisca. “Provavelmente porque leiteiros não existem


mais, e encontrar um seria como ver uma baleia andando na
terra.”

“É possível, sabe, baleias andando em terra firme”, provoco.

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“Sim, tanto quanto a entrega de leite e fitas VHS voltando


com força total.” Linc assente. “Mas obrigado pela imagem que vai
permear meus sonhos esta noite.”

Rio quando a limusine para na entrada principal.

“Então, onde vamos ficar? Na limusine?”

Linc começa a rir. “Claro que não. Pareço o tipo de cara que
dormiria em um carro?”

Olho para a camisa molhada e os cabelos desgrenhados, em


seguida, encontro seu olhar e dou um encolher de ombros
hesitante.

“Então, quer dizer que estou com uma aparência de merda.


Mensagem recebida. Vamos nos refrescar, em seguida, hora de
caranguejos.”

Suspiro. “Não sou esse tipo de garota.”

As bochechas de Linc ficam instantaneamente vermelhas.


“Você está insinuando que tenho caranguejos?”

“Ei, você disse isso, não eu.” Conversar está ficando muito
mais fácil.

“Acho que gostava mais de quando era muda.”

Não fico ofendida com isso. Sei que está brincando, e ajuda
que quando ele disse isso, não tirou os olhos de minha boca.

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CAPÍTULO DEZESSETE

Lincoln

Sua voz é muito bonita. Não é como eu esperava. Quando a


ouvi falando na rua em frente do meu apartamento, foi uma coisa
meio abafada, distorcida. Em todas as vezes que a imaginei falando
desde então, sua voz sempre soou baixinha na minha cabeça. Não
sei o porquê, talvez porque a voz de Pris seja baixa e um pouco
gutural?

Mas Dani? É lírica.

Poderia ouvi-la falar o dia todo.

Provavelmente estou pegando uma pneumonia por estar na


chuva — é a única explicação para estar olhando para sua boca
como se quisesse realmente experimentar o gosto das palavras
enquanto ela as diz contra meus lábios.

Todas as partes erradas tremem de emoção.

Uma em especial está tornando as coisas... mais duras, não


difíceis, mas duras....

Merda.

“Nunca fiquei em Depot Bay durante a noite”, ela oferece,


olhando para fora da janela enquanto amarra o cabelo para trás
em um coque baixo. Sua camisa vintage sobe acima de seus
quadris, dando-me um pequeno vislumbre de sua pele bronzeada.

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Rachel Van Dyken

Mal consigo conter meu gemido enquanto tento ajustar a forma


como estou sentado sem ela perceber.

“Eu também.” Isso é tudo que posso lhe oferecer. Duas


palavras e a nítida impressão de que, enquanto ela está se
transformando em alguém muito conversadora, de repente estou
sem a capacidade de formular frases completas que não incluam
palavras como lamber, morder, beliscar.

“Linc?”

Dou um pulo. Quando ela começou a me chamar de Linc?


Adoro isso.

Inferno, cada parte física em mim responde ao meu nome


saindo de seus lábios como se nunca tivesse ouvido uma mulher
dizer o meu nome antes.

“O que houve?” Minha voz rouca é um indício infalível. Rezo


para que ela seja suficientemente inocente para pensar em nada
disso e apenas supor que estou pegando alguma doença, que
tornaria minha voz imprestável. Maldição, onde está uma boa
cabeça fria quando preciso dela? Pelo menos eu teria que ficar
longe dela — longe da tentação.

“Você está bem?” Seus pequenos lábios se apertam, dando-


me a impressão de que está tentando não dizer mais. Droga, eu
venderia minha alma para lamber esses lábios.

O silêncio é seguro.

Seu silêncio significa que eu não conheceria realmente sua


personalidade ou pelo menos só saberia de seus sentimentos
através de mensagens de texto e linguagem corporal.

Agora que ela tem palavras? Uma linha totalmente diferente


de comunicação foi aberta, e com isso, as malditas comportas se
abriram e estou ferrado. Tão. Fodido.

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Rachel Van Dyken

A limusine para em frente ao apartamento que fui obrigado


a alugar no último minuto. Ele negligenciou a pequena cidade de
Depot Bay. Adicionando a ela a vista do Oceano Pacífico que bate
contra a ponte de pedra no centro da cidade, e temos algo idílico,
romântico, provavelmente não a melhor escolha que eu poderia ter
feito, mas é privado e depois de hoje, ser reconhecido em público
é a última coisa que preciso ou quero.

“Estou ótimo”, respondo cerca de cinco minutos depois,


como se fosse um aprendiz lento e tivesse acabado de compreender
suas palavras. As coisas estavam indo ladeira abaixo rapidamente,
e tenho que passar a noite com ela.

Porcaria. Meu corpo formiga todo em antecipação. Para


baixo, rapaz.

E não importa quantas vezes olhe para ela e pense em sua


idade, é como se aquilo não fosse registrado em qualquer nível.

Tudo o que vejo são seus lábios.

E aquela boca maldita enquanto se move, formando


palavras, cativando cada parte de mim e me fazendo ansiar por
ouvir mais.

Por que ela não está fazendo disso um grande


acontecimento? Inferno, por que não liga para Jay e lhe diz que
todo seu maior problema está basicamente curado?

“Senhor.” Nosso motorista abre a porta e ajuda Dani a


descer e depois eu saio. “A chave foi deixada sob o tapete, e toda a
cozinha está abastecida de acordo com suas especificações. Venho
buscá-lo às sete da manhã para levá-lo diretamente ao set.”

“Ótimo.” Aperto sua mão. “Obrigado.”

Ele dá um breve aceno e se vira.

Dani olha com olhos arregalados para o prédio de dois


andares; as faces coradas quando uma rajada de vento e chuva

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Rachel Van Dyken

bate em seu pequeno corpo. “Você tem uma sorveteria aqui


embaixo.”

“Não se esqueça da loja de bugigangas.” Aponto para a


esquerda, onde uma pequena loja está aninhada entre uma
sorveteria / café.

“Eu amo isso.” Olhos brilhantes, ela coloca as mãos nos


quadris. “Parece tão isolado.”

Solto uma risadinha. “Isso é porque é.” Balanço a cabeça em


direção à escada que leva até o apartamento. “Agora vamos entrar
antes que você congele até a morte, e Jay me cobre um
assassinato.”

“Ele não é tão dramático.”

“Certo, ele gritou comigo por comer sushi na frente de sua


esposa grávida, porque isso é normal. Esqueci de mencionar que
ele bateu o prato para longe da minha mão?”

Dani estende a mão para o corrimão e ri. “Sim, bem, ele


tende a ficar um pouco intenso às vezes.”

Sigo o balanço de seus quadris, o que não deveria nem


mesmo estar olhando, quando ela anda pelas escadas.

“Apenas sou grata por ele não me conhecer na escola. Ele


provavelmente teria tentado assassinar meu primeiro namorado.”

“Elliot”, cuspo. O bastardo teria que entrar na fila. “Que seja.


Ele é uma criança.”

“Eu sou uma criança...” Dani se vira e olha para mim. “... ou
pelo menos é como você continua se referindo a mim... Ou como
garota ou assistente ou... E esta é minha favorita...” Ela baixa a
voz e junta as sobrancelhas. “Dezessete.”

Na verdade, sinto meu rosto corar.

Quando foi que já me senti constrangido?

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E por uma adolescente?

“Bem”, balbucio. “Você é...” Minhas mãos fazem uma coisa


estranha, caindo na frente do meu corpo. “… jovem.” Boto para
fora a última parte enquanto meus olhos se concentram nos seus
seios empinados. Boa! Apenas me dê uma van para que eu possa
ficar estacionado na frente da escola secundária local, observando
as garotas. Belisco a ponte do meu nariz e solto um gemido
lamentável.

“Está bem.” Dani sorri calorosamente. “Já superei.


Prometo.” Seu sorriso é tenso. Duvido que tenha superado eu
insultá-la, mas não quero pressionar as coisas, porque, no meu
estado atual, provavelmente deixaria escapar que estou atraído por
ela e acabaria na prisão.

Estou sendo dramático.

Então, novamente, sou um ator... então...

Rapidamente arrebato a chave debaixo do tapete e a enfiou


na fechadura, abrindo a porta, uma vez que a fechadura faz o
clique.

O apartamento tem janelas do chão ao teto, de frente para o


mar e uma cozinha gourmet com granito branco e armários de
madeira brancos. O chão é de carvalho escuro, e cada peça do
mobiliário tem um tema náutico, até o sofá de tecido azul decorado
com almofadas na cor coral.

“Com fome?” Jogo a chave em cima do balcão e sacudo a


chuva do meu cabelo. “Posso preparar algo.”

“Você pode?” Dani ri. “Cozinhar?”

“Ha.” Balanço a cabeça. “Legal. Eu sou o que?”

Ela faz uma careta e aponta para a minha massa de cabelos.


“Bem, você parece um pouco abatido. Talvez uma chuveirada e vou
começar a cozinhar.”

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Rachel Van Dyken

“Ah, então ela cozinha?” Sorrio. “Viu o que eu disse? Ela,


porque você é uma menina?”

“Dezessete.” Ela pisca. “Não se esqueça desta parte muito


importante do cenário, não que eu ache que você está correndo
este risco, considerando que repete isso para si mesmo quando
acha que não estou ouvindo.”

“Pergunta.” Coloco minhas mãos contra o granito e me


inclino para frente. O cheiro de chuva flutua pela sala. “Você
sempre foi tão irritante?”

“Sempre.” Sua cabeça loira balança.

Luto para manter meu sorriso pequeno, para não assustá-


la e para ela não achar que vou atacá-la ou me transformar no
Coringa, porque, não consigo parar de sorrir na sua presença. Ela
parece tão... viva. E nos dias anteriores, era como se a morte fosse
uma melhor descrição da maneira como ela se comportava. “Está
ficando mais fácil?” Pergunto baixinho enquanto ela morde a unha
do polegar, como uma adolescente. Pelo menos ela está me
lembrando de uma, pelo jeito que está focada em roer aquilo e me
ignorando.

“O que?” Ela baixa a mão e me olha, seus olhos azuis


penetrando nos meus com tanta clareza que tenho que desviar
meu olhar.

“Falar.” Lambo meus lábios e lanço um olhar para sua boca.

“Só quando você olha para a minha boca como se eu tivesse


alguma coisa nela.”

Droga, queria que ela tivesse alguma coisa sobre ela — eu.
“Desculpa.”

“Está tudo bem”, ela diz em uma voz mais calma. “Então,
banho e, em seguida, caranguejos?”

“É este seu jeito de me fazer mudar de assunto?”

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Ela se afasta do balcão e passa por mim, indo em direção à


geladeira. “Sim.” E enfia a cabeça dentro. “Acho que se eu falar
sobre isso, então posso enlouquecer comigo mesma ou azarar a
mim mesma. Sei que é uma grande coisa, sério. Jay e Pris iriam
pirar, para não mencionar Demetri. Imagino que ele dedicaria uma
música para mim ou alguma coisa assim, pelo menos acariciaria
um pássaro.”

Era difícil acompanhar o raciocínio. “Acariciar um pássaro?


O quê?”

Ela puxa a cabeça da geladeira e sorri. “É verdade. Ele


realmente tem terror, eu não estava exagerando.”

“Registrado.” Cruzo os braços, olhando para ela porque


parece tão natural. Falar, estar na cozinha, preparar o jantar.

Eu poderia me acostumar com isso. Deus sabe que preciso


de coisas normais em minha vida depois da infância demente que
tive e de não ser capaz de ficar em um lugar por um grande período
de tempo.

Eu queria levá-la para sair.

Mas não em minha caminhonete.

Faço uma nota mental para que tragam meu carro de


Malibu.

“É uma grande coisa, Dani”, sussurro.

Sua mão agarra a frente da geladeira, com força suficiente


para os dedos ficarem brancos. Abaixando a cabeça, ela
lentamente fecha a porta e apoia-se nela, deixando escapar um
suave: “Eu sei.”

“E estar com medo...” Dou um passo cauteloso em direção a


ela. “... é normal, sabe? Quero dizer, esta é a primeira vez que você
fala em algum tempo e não posso imaginar o que está passando
pela sua cabeça neste momento.”

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Ela solta uma risada dolorosa. “Muitas coisas.”

Estendo a mão para ela, ou seja, para tocar seu braço; Em


vez disso, a puxo contra meu corpo e lhe dou um beijo. “Ignore o
medo. Abrace o triunfo.”

Seu corpo relaxa contra o meu. “Como faço isso?”

“É fácil.” Corro minhas mãos lentamente pelos seus braços.


“Você escolhe olhar para as montanhas ao invés de tentar se
concentrar nos vales. É mais fácil olhar para trás e ver os picos,
mas é preciso um esforço real para olhar para baixo, para a
escuridão onde você esteve.”

“Conselho prudente.” Dani se afasta, inclinando a cabeça


para cima para mim. “Obrigada, meu velho.”

Sei que ela está brincando, mas tenho a súbita sensação de


que ela está enfiando a faca em mim enquanto estendo a mão para
meu andador e óculos de leitura. Puta merda, é assim que ela se
sente quando a chamo de jovem?

O pensamento dói e me afasto dela. “Ok, então vou parar de


fazer um grande alarde por conta de sua idade, se nunca mais me
chamar de velho de novo.” Estalo meus dedos.

“Cuidado”, ela brinca, seus olhos brilhando com malícia,


“você pode acabar com artrite.”

Engasgo um “Ha” e balanço a cabeça. “E, para constar, não


sou velho. Sou apenas alguns anos mais velho do que você.”

“Eu sei.” Ela revira os olhos. “Este é exatamente o meu


ponto. Pare de me tratar como se ainda usasse fraldas. Tenho uma
tanga pelo amor de Deus, e tenho certeza que poderia beijar você
com loucura...” Ela concorda. “... então, não vamos mais falar
sobre minha fala esta noite. Vamos apenas... passar algum tempo
juntos.”

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Tempo? Que tal um strip? Isso soa como uma opção muito
melhor.

Tanga. Fralda. Beijo. Inferno, meu cérebro não sabe no que


focar.

“Eu só vou... tomar um banho.” Viro em meus calcanhares,


quase batendo em uma viga de madeira que poderia jurar que
havia aparecido do nada. Evitando-a, passo pela porta do banheiro
e bato a mesma atrás de mim. Graças a Deus, entrei no banheiro
mesmo e não em um armário.

“Foco.” Olho para o meu reflexo no espelho. “Dezessete.”


Sim, esse número já não tem mais qualquer efeito sobre mim. Bem,
maldição.

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CAPÍTULO DEZOITO

Dani

Ele finalmente sai. Não que eu queira que ele saia, apenas
preciso de um tempo sozinha para processar o fato de que, nas
últimas duas horas, disse mais frases do que consegui completar
no ano passado inteiro.

Respirações profundas. Isso é o que meu terapeuta sempre


diz: “E quando isso não der certo, tente contar até dez, enquanto se
imagina caminhando ao longo da praia e observando as ondas.”

Às vezes isso parece besteira de psicólogo.

Mas agora? Preciso de algo — qualquer coisa — para me


centrar. Rapidamente olho para fora da janela e começo a contar
as ondas que rolam na praia, minha mão apertando meu celular.

Sinto-me culpada que a primeira vez que falei tenha sido


com um ator de Hollywood que basicamente está me pagando para
buscar seu café, enquanto não sou capaz de dizer uma só palavra
ao redor da minha irmã ou cunhado, ou até mesmo dos meus
melhores amigos.

Meu cérebro dói de tentar entender isso.

Será que isso foi apenas uma espécie de apresentação única


e exclusiva? Ou, de repente, estou completamente curada? Foi a
baleia? Lincoln? O beijo?

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Talvez seja isso. Ele é meu príncipe perdido, e eu sou a


princesa. Seu beijo foi mágico. Ha. Só nos contos de fadas. E
nesses, a menina muda não é a estrela principal ou fica com o cara
gostoso — ela geralmente é a melhor amiga da princesa ou a
empregada.

Meu telefone toca na minha mão. Um texto de Demetri, por


que ligar quando não seria capaz de ouvir a minha voz?

“Apenas faça”, sussurro para mim mesma, olhando para o


telefone. Uma parte de mim precisa testar para ver se é real. Mas
eu sei que se tentar com Jay ou Pris, eles perderiam a cabeça só
de ver que eu os estava chamando. Isso é outra coisa. Se eu ligar,
isso significa que basicamente estou morrendo.

Se eu ligar duas vezes.

Já estarei morta.

Respirando fundo, pressiono o número de Demetri e trago o


telefone para minha orelha. Parece natural. Como deveria ser. Ele
toca, uma vez, duas, três vezes.

“Puta merda, Dani. Você está bem? Basta começar a gritar


se precisa que eu ligue para o 911. Ou coloque uma música alta.
Merda, merda, merda. Bata suas mãos, você está me ouvindo,
Dani? Bata as mãos uma vez para ligação por engano e duas vezes
se eu precisar ligar para a polícia!”

“E se eu bater palma três vezes?” Brinco com ele.

O telefone fica mudo.

“Demetri?” Faço uma careta e trago o telefone para baixo


para ver se a chamada caiu, mas ele ainda está na linha.
“Demetri.”

“D-Dani?”

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“Oh, desculpe, ela não pode atender esta chamada agora.


Você gostaria de deixar algum recado?”

“Você sempre foi uma espertinha.” Ele ri e, em seguida, ri


tanto que preciso afastar o telefone da minha orelha. “Puta merda,
você está falando! Nossa, senti falta desta sua voz sexy!”

Reviro os olhos. “Dezessete.”

“Por favor, me diga que este não é o apelido dele para você?
Droga, eu deveria ter parado de repetir aquela merda sobre todas
as focas vão te comer se você der em cima dela.”

“Espere o que?” Às vezes é difícil acompanha-lo. E agora que


ele está falando, e não enviando mensagens de texto, acho que é
quase impossível.

“Linc.” Demetri diz seu nome como um palavrão.


“Basicamente disse que se ele te tocasse, eu jogaria seu corpo para
as focas que passam fome, e elas se encarregariam de mata-lo.”

“Focas comem peixes, e não seres humanos.”

“Ele é um ator. Não é o mais esperto da turma.”

“Isso vindo do cara que chorou quando uma gaivota pousou


em sua cabeça no ano passado.”

“ELA SABIA MEU NOME!” Demetri grita.

“Elaaaa...” Prolongo a palavra. “... estava fazendo os sons


normais de uma gaivota. Nem uma vez ela proferiu um D.”

“Que seja. Não vou discutir com você sobre essa gaivota. Ela
estava me perseguindo de um jeito assustador, sabe disso. Ela
tinha branco em sua cabeça.”

Suspiro. “Todas as gaivotas têm branco... Quer saber? Não


importa.”

Ele fica em silêncio por um minuto e, em seguida, “Dani?”

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“Sim?” Meu coração bate forte contra meu peito.

“Não vá embora de novo, ok?”

Lágrimas brotam nos meus olhos, ameaçando transbordar.


“Vou tentar não fazer isso.”

“Não vou perguntar agora... mas vou perguntar mais tarde...


sobre como isso aconteceu, porque é importante para mim, e isso
deveria ser importante para você, mas a coisa que realmente
importa é que você está falando. Quer que eu conte a Jay e Pris?”

Limpo as lágrimas do meu rosto. “Vou contar para eles


quando puder, se eu puder. Quando voltar para casa.”

“Ei”, Demetri diz suavemente, “nada disso. Você será capaz


de contar. Eu prometo.”

Minha garganta se fecha com mais lágrimas, ficando tão


apertada que é doloroso para respirar. “E se eu não conseguir?”

“Então nós vamos dar um jeito. Mas, pelo menos agora você
já sabe de uma coisa.”

“Oh sim?”

Demetri ri. “Sim, aparentemente, tudo que precisava era de


um bom e quente beijo de Lincoln Greene para soltar estes seus
lábios.”

“Dois beijos.”

Silêncio.

Mais silêncio.

“Que diabos?!” ele grita. “Aquele desgraçado! Vou matá-lo!”

Lincoln sai do banheiro.

“Oops, tenho que ir. Te amo!”

“Ele tocou em você? Se ele colocar um só ded...”

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Desligo na cara dele e empurro meu celular no bolso de trás.

“Ei.” Lincoln limpa parte do excesso de água de seu pescoço


e move a toalha para baixo, pelos seus abdominais sarados.

Boca seca, não sei para onde olhar. Se fizer contato com
seus olhos, vai parecer que estou me esforçando muito para não
olhar para todos aqueles músculos firmes que contornam o centro
daquele corpo. E se olhar, então ele saberia.

Decido por um vacilar desajeitado, um gemido meio gutural,


e me viro para assistir a chuva batendo na janela. “Era Demetri.”

Soube no minuto que Lincoln veio até mim que não é apenas
o cheiro do sabonete de lavanda fresca ou o fato de que ele se eleva
sobre mim — mas é ele. Seu calor, seu magnetismo, seu tudo.

Engulo meu nervosismo e me viro para olhar para ele com o


canto do meu olho. Ainda sem camisa.

Ainda sexy.

Engulo em seco e encontro seu olhar divertido. “O que?”

“Perguntei o que ele disse.”

“Oh...” Provavelmente, enquanto eu estava dando uma boa


olhada nele pela segunda ou terceira vez. “... ele ficou animado, em
seguida, começou a desviar do assunto. Você conhece Demetri.
Num minuto posso falar e aconteceu algum milagre, no próximo
ele está gritando sobre gaivotas e dizendo que você é um bastardo.”

“Eu?” Os olhos cinzentos de Linc brilham. “Por quê? O que


fiz? Não sou o grande curandeiro em tudo isso?”

Dou uma risadinha. “Você bem que gostaria.”

“Realmente faz com que eu me sinta melhor sobre as


realizações da minha vida. Acha que posso colocar isso no meu
currículo?”

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“Uau, não sabia que seu ego era tão grande quanto o de Jay.”
Passo por ele, um sorriso fazendo cócegas nos cantos da minha
boca.

“Minhas coisas são maiores onde realmente importa”, ele diz


em voz baixa.

Ignorando-o e os arrepios que estão surgindo por toda a


minha pele, aponto para a cozinha. “Você não disse que ia cozinhar
caranguejos?”

“Sim.” Ele passa por mim e abre a porta da geladeira. “Você


não está vendo os bichinhos aqui no balde?” Ele puxa um balde
azul e o coloca sobre o balcão. Ainda sem camisa.

Não tenho certeza do que deveria me concentrar. Seus


músculos abdominais? Nos caranguejos lutando por suas vidas?
Ou na sensação de formigamento dos meus lábios enquanto
lembro-me de sua boca em detalhes dolorosos?

“Você não deveria vestir uma camisa?” Solto. “Não quero que
o caranguejo acabe se transformando em uma espécie de piercing
de mamilo. Poderia estragar sua noite.” Puxo uma banqueta.

“Ou...” Linc deixa cair o caranguejo e me dá um olhar


sensual, lambendo os lábios. “... isso poderia dar a nossa noite, o
tempero adicional que falta.”

“Estamos picantes o suficiente”, digo, confiante, mesmo que


minha mente esteja girando com a implicação daquilo. “Quer
saber? Acho que simplesmente vou...”

“Oh, desculpe.” Ele aponta para o corredor. “Pedi para que


trouxessem algumas roupas extras para você, juntamente com
sapatos. Não tinha certeza do tamanho ou qualquer coisa, por isso,
se não servir, então peço desculpas. Não posso responder pelo
estilo ou combinação uma vez que foi o cara da limo que buscou
estas coisas para nós, e fazer compras em Depot Bay é um pouco...
limitado.”

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“É por isso que você não está vestindo uma camisa?”

“Minha camisa tem...” Linc balança a cabeça e ri. “... tem


uma imagem de uma baleia gigante estampada.”

Caio no riso também. “Quais as chances?”

“Não é?” Ele coloca as mãos nos quadris.

Meus olhos se concentram no V em seu abdômen.

“Eu ia roubar a sua, mas imaginei que ostentar uma


camiseta de foca num tamanho cinco vezes menor que o meu
poderia causar alguns rumores por aí. E a última coisa que preciso
é de uma fofoca sobre ter sido viso vestindo roupas de mulher
apertadas a fim de encontrar minha satisfação.”

Oh, por favor. A camiseta provavelmente ficaria esgotada em


poucos minutos, se ele postasse algo parecido. Aponto para sua
barriga. “Tenho certeza de que esta seria a última coisa que alguém
o acusaria.”

Ele flexiona. “Você pensa assim?”

“Certo. E eu sou a imatura aqui, né?”

“Ei, nunca disse imatura. Eu disse dezessete anos.”

“Sei contar. E o seu caranguejo...” Aponto para o balcão


atrás dele. “... está tentando fugir. Vou me refrescar enquanto você
tenta me impressionar com suas habilidades culinárias.”

“Merda.” Lincoln pega o caranguejo que estava tentando


escapar do balcão para chegar ao chão.

Rindo, entro no banheiro e fecho a porta.

Só então me permito realmente processar o que está


acontecendo. Estou sozinha. Em um cenário romântico, com
Lincoln Greene. E ele está sem camisa.

E eu tenho…

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Suspiro.

... dezessete anos ainda.

Ainda estou quebrada, também, pelo menos na minha


mente.

E ainda sou estúpida por ter a esperança de que ele olharia


para mim e veria nada além da idade, e do fato de que ainda estava
lutando para superar a morte dos meus pais. Ainda estou
atravessando as fases do luto. E ainda estou tentando descobrir o
meu lugar no mundo entre as estrelas, quando todos os dias sinto-
me mais e mais como se minha própria estrela tivesse parado de
brilhar.

Talvez seja o início de algo. O falar? Talvez, seja apenas o


que preciso para finalmente voltar ao caminho que sempre estive
destinada a trilhar, o que não ajuda as coisas. Se alguma coisa,
isso me deixa mais nervosa. Só espero que não seja Lincoln quem
detém as chaves, porque minhas chances com alguém como ele?
São risíveis.

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Rachel Van Dyken

CAPÍTULO DEZENOVE

Lincoln

“Estou impressionada.” Dani limpa o último prato e o coloca


na máquina de lavar, em seguida, pega um pano e começa a limpar
o balcão. “Você realmente sabe cozinhar.”

“Um dos meus muitos talentos.” Viro para trás os últimos


goles da minha Corona e estremeço com a lembrança de como o
nosso jantar começou...

“Sabe, você pode beber cerveja, se quiser.” Dani pega uma


Pepsi e aponta para o pacote de cervejas que pedi antes de
realmente pensar sobre isso.

“Nah.” Recuso.

Ela revira os olhos, pega uma cerveja e joga na minha direção.


“Tenho dezessete anos, não sou uma santa. Não é como se nunca
tivesse testemunhado alguém beber.”

A cerveja está gelada. Giro a tampa e tomo um longo gole.


“Será que, uh, isso significa que você já foi a muitas festas onde
acabou completamente bêbada e precisou que sua irmã a levasse
para casa?”

Dani segura seu longo cabelo loiro dourado e o puxa para trás
em um rabo de cavalo baixo e apertado. “Bem, naquele tempo, sabe,

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Rachel Van Dyken

quando eu tinha dezesseis anos e ainda bebia leite durante a noite


e minha comida era bem tritura para que eu não engasgasse...”

Reviro os olhos. “Muito engraçada.”

“Sim. Eu tive um episódio de embriaguez que nunca, e eu quis


dizer NUNCA mesmo, vai se repetir.” Ela se remexe
desconfortavelmente em seus pés.

“O que você fez? Acabou presa?”

“Não.” Ela se lança em sua cadeira e começa a empilhar


comida no prato.

“Strip, em seguida, nadar nua?”

“Não.” Um sorriso aparece quando ela agarra a perna de


caranguejo e limpa as mãos no guardanapo de papel, em seguida,
olha para mim por entre seus cílios escuros. “Você já terminou
agora?”

“Mais um.” Levanto a garrafa de cerveja para o ar. “Você...


correu pelada na praia.”

Ela fica vermelho brilhante. “Sim.”

Cerveja voa da minha boca, quase a acertando, enquanto


começo a tossir descontroladamente e bato em meu peito. Talvez
seja o olhar de pura inocência no rosto dela ou o simples fato de que
admitiu estar nua, e meu cérebro não teve quaisquer problemas em
me presentear com imagens vívidas que mais provavelmente
poderia me conseguir um belo lugar na prisão.

“Legal.” Ela enxuga o rosto com o guardanapo e olha para


mim. “E, para que conste, não foi ideia minha.”

“De quem foi a ideia?” Querido Deus, tomara que tenha sido
de uma menina.

“Elliot.”

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O bastardo tem seriamente um desejo de morte.

“É mesmo?” Resmungo, tomando mais um gole de cerveja ao


imaginar meu punho se conectando ao nariz do cara. Sorrio com
imagens dele chorando depois de se urinar nas calças flutuando ao
redor da minha cabeça como em um sonho feliz.

Dani se recosta na cadeira, projetando o lábio inferior para


fora. “Bem, nós dois havíamos bebido demais, e ele achou que seria
engraçado. Aparentemente, pensei que seria hilariante... Não
importa. Não sou mais aquela garota. Eu nem sei se era este tipo de
menina então. Eu só...” Ela encolhe os ombros. “... acho que queria
ser notada. Estava presa na escola, presa com esta necessidade de
ser alguém importante. Sei que você fica dizendo que tenho
dezessete anos, mas às vezes, sinto-me com oitenta.”

A sala fica em um silêncio mortal.

“Bem...” Estendo a mão e seguro a dela. “... Acho que falo por
todos os homens quando digo que estou feliz que não tenha
realmente oitenta. Você pode imaginar como isso pareceria na
câmera? Você saltitando em torno na praia?”

Dani começa a rir, os olhos azuis enrugando nas laterais,


fazendo-me desejar outra vez que as coisas fossem diferentes entre
nós. “Ei, não seja assim. Na última corrida de 5 km que participei
havia uma mulher de oitenta anos de idade, que chutou minha
bunda.”

“Mesmo?” Pego um rolinho quente. “Você ainda corre?”

O pedaço de caranguejo encontra seus lábios, mas, em


seguida, ela o coloca de volta e dá de ombros como se tivesse de
repente perdido o apetite. “Não mais.”

“Talvez devesse.”

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“Neste momento”, Dani pega o pedaço descartado de


caranguejo, “meu único objetivo é terminar o que está no meu prato.
Pequenas conquistas e tal.”

“Comer é uma vitória?”

“Para mim?” Ela engole em seco. “Você não faz ideia.”

“Obrigado.” Afasto a conversa da minha cabeça, tentando


limpar as teias de aranha, mas tudo que consigo é ficar ainda mais
curioso.

Um trovão parece ameaçar arrancar o telhado do


condomínio quando um relâmpago ilumina a sala toda.

E depois, com outro baque forte.

Ficamos na mais completa escuridão.

“Linc!” A voz de Dani está em pânico quando sinto suas


mãos se aproximarem e se acomodarem no meu peito.

“Aqui.” Puxo-a contra meu peito nu. Seu hálito quente se


espalha pela minha pele. “Estou bem aqui.”

“Odeio tempestades.” Seus lábios me acariciam quando as


palavras saem da sua boca.

“Eu sei.” Beijo sua cabeça. Não deveria fazer isso, mas faço
de qualquer maneira. “Vai ficar tudo bem, eu prometo. Duvido que
tenham lanternas aqui, então por que não vamos para o quarto e
ficamos perto da porta de vidro deslizante? Pelo menos os
relâmpagos nos ajudarão a ver um ao outro, e duvido que você já
queira ir dormir.”

“E então? Vamos apenas ficar sentados, olhando um para o


outro?” Ela murmura em meu peito.

“Sim? Muito cedo?”

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Sua risada me aquece de dentro para fora. “Muito


assustador.”

“Droga, eu que pensei que estivesse sendo tão sedutor. Oh,


bem. Sempre podemos trocar histórias sobre Demetri. É igual a
uma história de fantasmas, apenas o final inclui sempre algo de
ruim acontecendo com ele.”

“Você realmente o conhece bem.” Dani puxa para trás, em


seguida, pega minha mão, embora precise de alguns toques no
meu abdômen até finalmente encontra-la. Felizmente, ela não
atingiu nada mais embaixo, ou teria tido uma surpresa.

Aperto a ponta dos dedos. “Deixe-me mostrar o caminho


para que você não acabe com um olho roxo. É a última coisa que
qualquer um de nós precisa. Jay pensando que foi agredida no
tanque da baleia.”

“Certo, porque esse seria o primeiro pensamento dele, né?”

“É Jay. Seu primeiro pensamento é sempre o pensamento


errado. Ele presume demais.”

Dani fica tensa ao meu lado.

Merda. Disse a coisa errada novamente.

Mas corrigir significa admitir algo que pode nos colocar em


problemas, então deixo de lado, e me pergunto... Será que minha
relação com Dani seria daquelas que tem muitas coisas não ditas,
que no final da minha vida, sempre vou olhar para trás e me
perguntar se o resultado teria sido diferente se tivesse realmente
dito o que quis dizer, em vez de deixá-la presumir o que eu não
disse?

Caminhamos em silêncio pelo corredor. Vou tateando o


caminho para o quarto principal. Felizmente, deixei as cortinas
abertas para que, quando a tempestade parasse, teríamos pelo
menos a luz da lua do nosso lado. Uma grande poltrona de couro

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azul está posicionada em frente da porta de vidro. Saraivadas de


chuva forte atacam o vidro, deixando um ritmo de fúria crescendo
dentro do quarto.

Dani fica tensa ao meu lado.

“Vamos.” Vou até a cadeira, sento-me e, em seguida, a puxo


para meu colo. Não é a melhor ideia que já tive, mas ela está com
medo, e se eu não puder, pelo menos, confortá-la sem tentar
seduzi-la, então mereço o que quer que recaia sobre mim.

Ela se encolhe um pouco. Estremeço e mordo minha


bochecha para não fazer algo estúpido, como começar um terceiro
beijo ou apenas deixar escapar um gemido lamentável.
Finalmente, ela se acomoda contra mim, suas pernas lateralmente
sobre meu colo e sobre o braço da cadeira, enquanto seu corpo se
senta confortavelmente contra o meu.

Outro trovão retumba.

“E os relâmpagos atacam...” Digo em um sotaque


interiorano. “Outro amor esfria...”

“Em uma noite insone.” Ela se junta a mim com sua voz
suave. “Você está realmente cantando The Thunder Rolls de Garth
Brooks agora?”

Rio. “Ele parece se encaixar no clima.”

“Uma canção sobre o adultério se encaixa neste clima?”

“Estava focando mais na parte trovões... e apenas no caso


de estar se perguntando, não tenho nenhuma família escondida
em algum outro lugar que estou traindo por estar com você.” Rio
de novo.

Ela ri suavemente. Seus dedos tocam a frente do meu peito


nu, dançando em um ritmo que não tenho certeza que está
consciente de estar fazendo. “E quanto a Jo-Jo?”

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“As batatas?”

“A menina.”

“Ah.” Seus dedos continuam fazendo cócegas no meu peito.


Maldição! Aquilo é... bom demais. “Ela, uh...” Concentre-se
Lincoln. “... ela se foi. Seu publicitário pensou que ser vista comigo
poderia ajudá-la, uma vez que seu mais novo filme está prestes a
estrear e de acordo com ela, sou o mais novo pedaço de bunda
quente de Hollywood.”

“Uau.” Posso sentir sua respiração quando o cabelo dela faz


cócegas na minha garganta. “Você está bem com esse título?”

“Bem, eu tenho uma bunda bem legal.”

“Correndo o risco de aplacar seu ego... sim, você tem.”

“Jay sabe que anda olhando para minha bunda?”

“Bem, como você continua vivo então... vou dizer que não.”
Dani se mexe um pouco.

Aperto meu queixo enquanto ela afunda ainda mais em meu


corpo, seus suspiros pesados fazendo coisas realmente ruins com
meu autocontrole.

Nunca precisei exercer qualquer tipo de controle sobre meus


instintos mais básicos. Se quisesse alguma coisa, simplesmente
pegava. Talvez isso faça de mim um idiota, mas sou um cara, e se
uma garota se atira em mim, não é como eu fosse cuspir alguma
besteira sobre não respeitá-la pela manhã.

Mas com Dani, cada gota de energia que possuo está indo
na direção de não dar ouvidos ao meu corpo, e tentando
desesperadamente ouvir a lógica e a razão, algo que claramente
estou sem prática de fazer.

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A chuva alivia um pouco, o suficiente para que as ondas


brancas e furiosas fiquem visíveis ao baterem contra as rochas na
nossa frente.

“Eu gosto daqui”, Dani diz finalmente.

“Do meu colo ou de Depot Bay? Vai ter que ser mais
específica.” E então digo uma merda destas e apenas deixo tudo
pior.

Ela poderia segurar meu rosto com as mãos; estávamos


suficientemente familiarizados um com o outro para ela tomar
qualquer tipo de atitude neste relacionamento, e eu a teria seguido.
Em vez disso, ela cruza os braços e encolhe os ombros. “Ambos,
eu acho.”

Meu orgulho fica ferido. Aperto os olhos. “Então você está


me dizendo que entre a praia — com toda a coisa da baleia — e
meu colo, temos quase um empate.”

“Ei, é você que não gosta de baleias.”

Perplexo, olho para ela. Talvez por um tempo longo demais


para o se confortável, mas estou um pouco... surpreso. Ela está
sentada comigo, sozinha, sem eletricidade, e não está dando em
cima de mim.

Sou o único tentando me impedir de pular em cima dela,


enquanto ela parece apenas... bem. Como se minha presença não
fizesse absolutamente nada para ela, quando eu sei muito bem que
meu beijo a afetou tanto quanto o dela me afetou. Então, por que
diabos ela não está caindo de amores por mim?

“Conte-me alguma coisa.” Limpo a garganta e olho para


longe dela. É preciso. “Se as coisas fossem diferentes. Se seus pais
não tivessem morrido...”

Ela respira fundo.

“Se você fosse... mais feliz. O que estaria fazendo agora?”

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Rachel Van Dyken

“Isso é meio pessoal”, ela sussurra.

“Sou um cara bem pessoal.”

Dani aperta os lábios, seus olhos se estreitando.


“Honestamente, ainda preciso de um emprego de verão, então
provavelmente estaria no mesmo lugar que estou agora. Só que
teria implorado a Jay pela chance de ser assistente dele em vez de
ser forçada a isso.”

Ouch. “Você não foi forçada.”

“Hum, sim eu fui.” Ela ri suavemente. “Minhas escolhas


foram trabalhar para você ou ser mandada para um internato. Ok,
talvez não um colégio interno, mas a última coisa que quero fazer
é ferir Jay ou minha irmã, então fui obrigada a concordar.”

Ótimo. Então, estou com a única menina do universo inteiro


que realmente não quer estar perto de mim? Quão azarado um
cara pode ser? E ela é menor de idade? Que bom.

“Sou tão ruim assim?” Pergunto, a voz rouca.

“De acordo com os tabloides, você está completamente


limpo... nada de drogas, sem festas, sem orgias de fim de noite.”

“Ah bem.” Solto minha respiração. “Desculpe-me por


desapontá-la, mas participei de uma ótima orgia há algumas
semanas, com drogas em todos os lugares, álcool...”

Dani começa a rir. “Oh, tenho certeza que sim.”

“Tudo bem. Sou dócil. E chato. Gosto de ler. E a última vez


que fui a uma festa, saí cedo porque estava passando Outlander.”

“Eu gosto disso.” Sua voz é calma quando ela começa a


correr as mãos pelo meu peito novamente. Acho que é algo que faz
sem pensar, como bater o pé ou morder o lábio, mas me deixa
louco. “Isso faz você parecer mais... normal.”

“Eu sou normal.”

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“Galãs de Hollywood não são normais, desculpe-me


desiludi-lo. Você esquece que sou a melhor amiga dos AD2. Você
nem sabe quantas vezes eles tem sutiãs jogados na sua cara? Ou
a quantidade de cartas de fãs que Jay recebe por dia? Não é
normal. Normal é comer um hambúrguer sem alguém tirar uma
foto sua e publicá-la na Internet. Confie em mim, sou
suficientemente quebrada para saber como normal se parece.”

“Você está dizendo que é igual a mim? Não normal?”

Sua respiração fica presa. “Acho que sim. Só que sou uma
aberração de uma forma totalmente diferente. A única vez que falo
depois de meses sendo muda é na frente de alguém por quem eu
deveria estar intimidada, para não mencionar uma grande baleia
de dez toneladas.”

“Só para esclarecer, você quis dizer que eu era intimidante,


não a baleia, certo?”

Dani não ri.

“Gosto do seu jeito de estranho, Dani. Chato é normal.”

“Esquisita.” Ela bufa. “Eu não posso falar. Meu ex-namorado


e melhor amigo me chamou de frígida antes de terminar tudo
comigo, e a última vez que me beijou perguntou se eu era uma
lésbica enrustida. Idiota, como se lésbicas não soubessem beijar,
ou o que?”

“Frígida?” Fiquei pendurado nesta palavra. “Por que diabos


ele diria isso? Já beijei você. Eu saberia essas coisas. A última
palavra em minha mente é frígida. Na verdade, eu gostaria de ter
pensado isso de você na ocasião. Teria sido bem mais fácil me
afastar daquele beijo.”

Ah Merda! Disse isso em voz alta.

Dani congela.

“Você teve dificuldade de se afastar?”

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Não quero viver minha vida naqueles momentos de coisas


que eu deveria ter dito. Então, decido nos ferrar e admitir o óbvio.
“Independentemente de ser a segunda, terceira ou quarta vez
beijando você, mesmo durante uma cena, e mesmo que eu esteja
interpretando. Sempre me pareceu como a coisa mais real de toda
minha existência.”

Sua respiração volta mais pesada. “Isso seria uma bela fala
no filme.”

“Sim, bem”, resmungo, “é para isso que me pagam tanto


dinheiro. Minha execução é...”

Não termino.

Porque Dani descruza os braços e está tocando meu rosto.


Seus dedos se arrastam sobre minha boca.

“Dani”, assobio entre meus dentes. Seu toque inocente é


quase doloroso. “Você não pode.”

“Não posso o quê?”

“Olhar para mim assim e esperar que eu seja seu chefe ou


até mesmo o seu amigo. Você não pode fazer isso comigo.”

“Por quê?” Seus olhos meio entreabertos gritam sedução


enquanto lambe o lábio inferior.

Deixo escapar uma maldição amarga e tento desviar meu


olhar.

E falho.

Em vez disso, minha boca encontra a dela.

E imediatamente esqueço todas as razões pelas quais a


estava afastando, e pela primeira vez desde que a conheço, faço
exatamente o que sempre quis fazer.

Eu a reivindico.

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E me pergunto se essa é a última coisa egoísta que farei,


antes dos caras enterrarem meu corpo no oceano.

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CAPÍTULO VINTE

Dani

Ele está me beijando.

E não está interpretando.

Não há baleias.

Só eu e Lincoln e a sensação de formigamento de sua boca


quando explora a minha. Minha resposta deveria ser diferente.

Afastar-me teria sido sábio.

Rir disso, provavelmente mais sábio ainda.

Mas eu o beijo de volta.

Porque Lincoln Greene não olha para mim como um quebra-


cabeça que precisa ser resolvido para que sejamos amigos. Ele não
tenta juntar as peças. Simplesmente me aceita do jeito que sou.
Estragada.

É como se visse meu medo, mágoa, raiva — o feio — e me


aceitasse de qualquer maneira.

Seu beijo se aprofunda enquanto coloca a mão em volta do


meu corpo; suas mãos puxando a camiseta de foca para longe. O
ar frio morde minhas costas quando a peça faz seu caminho para
o chão.

Lábios suaves tocam ao lado do canto da minha boca


enquanto suas mãos encontram minha cintura e me levantam.

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Nossas bocas quebram o contato, e agarro seus bíceps, buscando


algum equilíbrio quando ele me eleva no ar e me leva para a cama.

O edredom macio beija minhas costas ao ser baixada sobre


a cama, em seguida, ele fica em cima de mim, seu peito arfando
com esforço, com o olhar pensativo, como se estivesse travando
uma guerra dentro de si mesmo.

Olhos cinzentos e selvagens olham para mim quando


lentamente começa a tirar a roupa. Não consigo evitar minha
inspiração acelerada quando ele sai de sua calça jeans. Engulo em
seco, e de repente sinto-me jovem, tão jovem, muito jovem para
estar com alguém tão bonito, tão maduro, tão experiente.

Este não é o quarterback do time de futebol.

Este é um homem — todo homem.

Ele se inclina sobre mim, colocando as mãos ao meu lado.


O colchão afunda sob seu peso, enquanto sua boca encontra a
minha em outro beijo profundo que me deixa tonta. Sensações que
nunca experimentei antes pulsam através de meu corpo. Sinto
Lincoln em todos os lugares — até mesmo em meus dedos do pé.

“Você é linda.” Sua boca deixa a minha, e sua bochecha


esfrega no meu pescoço enquanto seus lábios continuam a
exploração. Sua pele é áspera, precisando fazer a barba, enviando
arrepios pelo meu corpo a cada toque de sua bochecha, cada
carícia de sua língua. Fecho os olhos e aperto o edredom com os
dedos.

E então, não consigo mais evitar.

Quero tocá-lo.

Minhas mãos se estendem, precisando agarra-lo, querendo


explorá-lo como ele está me explorando. No minuto que meus
dedos roçam seu peito, então agarram em volta do seu pescoço, sei
que não há como voltar atrás. Meu corpo está em chamas por ele.

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E a menos que haja um incêndio de verdade.

E sejamos obrigados a evacuar o edifício.

Eu vou ficar.

“Você tem um gosto tão bom...” Seus lábios se fundem aos


meus e sua língua roça pelos meus lábios, entrando em contato
com minha boca. O beijo é suave. “Nunca provei nada como você...”
Ele me levanta novamente, desta vez mais para o alto na cama.

Ele quebra nosso beijo apenas por tempo suficiente para


puxar minha calça para longe do meu corpo e atirá-la no canto.

Com um sorriso sedutor, ele começa a beijar minha perna,


começando no tornozelo. Arqueio meu corpo enquanto sua língua
sobe em direção ao meu joelho, e então ele congela.

Eu me mexo e olho para baixo. “O que está errado?”

Com o rosto pálido, ele tropeça para trás, olhando para mim,
depois olhando para minha perna.

“O que?” Faço uma careta. “Linc, o que está errado?”

“Você tem uma tatuagem.”

Reviro os olhos. “É por isso que você parou? Pris me deixou


fazer uma tatuagem na panturrilha depois que meus pais
morreram. Foi a única coisa que ela me deixou fazer para honrá-
los, mesmo assim, fiquei semanas implorando.” Queria um
conjunto de asas de anjo, parecidas com o tipo de tatuagem que
Demetri e Alec tinham, embora a minha fosse maior, ocupando um
bom quarto de minha panturrilha. Ela é em preto e branco com
datas vermelhas se alastrando ao longo das pontas das asas.

“É apenas...” Lincoln balança a cabeça e, em seguida, coloca


as mãos nos quadris. “... é surpreendente, isso é tudo.”

Estendo a mão para ele.

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Mas ele se afasta, fora do meu alcance, tanto fisicamente, e


quando seus olhos se apertam fechados, percebo que,
emocionalmente também.

“Então é isso?” Minhas palavras soam pesadas flutuando no


ar, no universo, esperando que ele diga algo que fosse enterrar
aquelas palavras, fazendo-as parecer menos sombrias.

“Desculpa.” Lincoln dá um sorriso cauteloso. “Talvez isso


não seja inteligente, sabe? Quero dizer...”

“Se você disser mais uma vez que tenho dezessete anos, vou
empurrá-lo da varanda.” Meu corpo treme de raiva reprimida, e
depois, quando olho para baixo, uma onda de vergonha toma conta
de mim. Estou quase nua. Na cama dele. E agora ele está me
dispensando? Ele não poderia pelo menos ter feito isso quando
ainda estava com minhas roupas? Rapidamente, pego o cobertor e
envolvo meu corpo. “Você deveria ir.”

“Mas...”

“Durma no sofá ou no outro quarto. Estou cansada.”

“Droga, Dani. Apenas deixe-me explicar.”

“Ok.” Eu me jogo de lado, o edredom ainda cobrindo todos


os lugares necessários. “Você tem dois minutos.”

Ele engole em seco, seus olhos descendo pela silhueta do


meu corpo.

“Noventa segundos.”

“Tudo bem”, ele solta. “Eu não quero você deste jeito.”

Tudo o que ouvi foi: “Eu não quero você.” O deste jeito não é
importante. O deste jeito não importa. É apenas o final que faz a
frase parecer menos assustadora. O não é ruim o suficiente, o
quero, ainda pior, mas o deste jeito? É apenas a compaixão

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encerrando a frase. E já tive compaixão o suficiente para toda a


eternidade.

“Uau, Linc.” Consegui evitar o sarcasmo da minha voz. Mas


pelo menos ele mascara a dor. “Não sabia que era tão específico
com quem ou o que você dorme.”

Foi um golpe baixo.

Especialmente sabendo que ele não do tipo que tomaria um


insulto desses sem ficar com raiva.

E zangado? É um eufemismo.

“Besteira!” Ele grita. “Sério? Isso é o que você tem a dizer


quando estou tentando ser a pessoa superior aqui? Droga, você
realmente é imatura se acha que esta é a razão pela qual estou
indo embora agora.”

“Engraçado, porque você não parece estar se movendo.”


Preciso que ele saia; estou desesperada por isso. Não quero que
me veja chorar. Emoção está brotando na minha garganta,
ameaçando me sufocar. É quase pior agora do que quando as
palavras ficavam presas ali, e, pela primeira vez na vida estou
chateada com o fato de que sou capaz de falar; minhas palavras
deixaram tudo ainda pior. Normalmente meu silêncio faria isso.
Irônico. E odeio isso.

Seus músculos são flexionados quando ele cerra os punhos


e sussurra com voz rouca, “Observe.”

E ele sai.

Batendo a porta atrás de si.

Os soluços explodem segundos mais tarde, enquanto choro


contra aquele estranho travesseiro no estranho apartamento onde
nunca deveria ter ficado em primeiro lugar.

Não pertenço a seu mundo.

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Então, talvez seja bom que isso tenha acontecido. Porque


nunca haveria um lugar para mim. Eu teria sido um caso de uma
noite, certo?

Então, por que dói tanto?

E por que, no momento em que ele saiu, ficou parecendo que


uma parte do meu coração se foi com ele?

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CAPÍTULO VINTE E UM

Lincoln

O som do meu alarme é mais irritante do que o fato de que


de alguma forma acabei dormindo de um jeito errado e meu
pescoço está torcido para a direita e dói até para respirar. Maldito
sofá.

Solto uma maldição enquanto me coloco em uma posição


sentada e esfrego a parte de trás do meu pescoço, lembranças da
noite anterior me atingindo na cabeça como uma marretada.

Dani estava tão chateada — eu deveria ter sido honesto


sobre tudo o que aconteceu. Ver o rosto dela, ver aquela tatuagem
que poderia jurar já ter visto antes — isso me fez parar.

E essa pausa foi tempo suficiente para permitir que o meu


cérebro começasse a trabalhar. Dormir com ela depois de conhecê-
la por, o quê? Um pouco mais de uma semana? Não é uma boa
ideia. Inferno, é uma das piores ideias que já tive. Quem se importa
se eu a beijei? Quem se importa se estou atraído por ela? Dani não
é uma daquelas meninas, do tipo que você transa e depois deixa
logo no início do dia, escapando pela janela.

E a estava tratando dessa forma.

Tenho vergonha de mim mesmo.

E a acabei ferindo no processo. Droga, espero que ela saiba


apenas que não foi por falta de desejá-la. Foi justamente por querê-
la demais que não dormi com ela.

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Mas explicar isso a uma mulher excessivamente emotiva?


Não vai penetrar em sua consciência; tudo o que ela vai focar é no
que não fiz, o que não disse, quando ela deveria estar centrada no
simples fato de que parei com algo que nunca deveria ter
começado, pelo menos não ainda. Ainda sequer a levei em um
encontro, pelo amor de Deus! E o que? Já ia fazer sexo com ela?

Dou um soco na almofada do sofá.

Isso não me faz sentir melhor.

Nem o fato de que meu telefone não para de apitar com


alertas de mensagens de texto. Finalmente, toco na tela para
descobrir o que pode ser tão importante.

Maldições explodem de minha boca tão alto que devo ter


acordado Dani. Ela corre pelo corredor, sua camiseta mal cobrindo
sua bunda durinha. “O que aconteceu?”

Como se lembrando de que ainda estava chateada comigo, a


preocupação é rapidamente substituída pela raiva fria enquanto
cruza os braços e arqueia as sobrancelhas.

“Bem...” Lambo meus lábios. Não tem jeito fácil de lhe contar
o que está acontecendo, então jogo o meu telefone para ela. “...
nós fizemos a notícia.”

Está em todos os sites de fofocas.

E virou trending topic no Twitter.

Lincoln Greene transando com sua nova assistente menor de


idade.

Ler aquilo não é tão ruim quanto ver a foto de Dani e eu nos
beijando ou o fato de que de alguma forma, uma câmara nos
capturou indo para nosso “ninho de amor”.

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Dani deposita o telefone no balcão da cozinha, em seguida,


cai sentada em uma das banquetas, cobrindo o rosto. “Isso é...
ruim.”

“Estava pensando em sombrio, sabe, como a peste negra que


devastou a idade média, pelo menos no que se refere a minha vida.
Se você encontrar minha bermuda boiando ao longo da praia,
saiba que as focas são as responsáveis.”

Sua risada não é divertida, mas sua alegria com o


pensamento de algo acontecer a mim...

“A minha morte te diverte?”

“Neste momento?” Ela pula da banqueta. “Um pouco. Sim.”

“Ainda brava?” Pergunto com uma voz esperançosa.

Dani faz uma pausa, com a mão na porta do banheiro. Ela


não se vira. “Não brava. Um pouco irritada, um pouco
decepcionada, e me sentindo um tanto quanto envergonhada. Mas
vou superar isso. Já passei por coisa muito pior.”

As palavras bem que poderiam ter sido uma faca sendo


enfiada bem fundo dentro do meu peito antes de afundar
diretamente entre minhas costelas — ela ainda a retorce ali. Juro,
ela deve ter retorcido a faca.

“Dani, me desculpe. Estou tentando fazer a coisa certa.”

“E eu sou a coisa errada?” Ela se vira, suas bochechas


coradas. “Isso é o que você está dizendo, certo?”

“Mais ou menos.” Jogo minhas mãos para cima em


frustração. “Sim. Não. Inferno, nós mal nos conhecemos. Por que
você está chateada se estou sendo o cavalheiro?”

“Não pedi para você ser um cavalheiro”, sussurra.

“O que é isso?” Inclino-me, já emocionalmente esgotado.

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“Você não me perguntou o que eu queria. Você decidiu por


mim e as pessoas fazem isso muitas vezes. Não sei se é por causa
da minha idade ou por causa do que aconteceu comigo, mas pelo
menos uma vez — uma vez na minha vida —quero que alguém que
se importe o suficiente comigo para me perguntar antes de tomar
uma decisão que possa me afetar.”

A faca é enfiada ainda mais fundo. Figurativamente, uma


vez que, se fosse de verdade eu estaria sangrando meu coração por
todo o tapete.

E dane-se, ela está certa.

“Desculpe-me”, resmungo.

“Vou me arrumar e podemos ir embora. São quase sete, e


você precisa ir para o set. Tenho um trabalho a fazer. E você
também.”

Ela oficialmente merece todos os pontos por sua


maturidade, enquanto me afasto da porta do banheiro fechada e
tropeço para a cozinha, imaginando como fazer a coisa certa
acabou se transformando na pior coisa que poderia ter feito.

A viagem de limusine é desajeitadamente tensa. Meu


telefone fica sem bateria rapidamente depois que mostro a foto
para Dani. Quando estamos cerca de dez minutos fora de Depot
Bay, ele está finalmente carregado o suficiente para que possa ligá-
lo.

Demetri me enviou dezessete fotos. Todas elas têm uma foca


atacando algum tipo de ser humano ou animal. Ele chegou ao
ponto de colocar meu nome em uma legenda acima de uma foca

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com cara assustadora e que parece ter cerca de dez vezes o meu
tamanho.

O texto de Jaymeson é o próximo.

Jaymeson: Vou te matar.

Ótimo. Simplesmente fantástico.

Jaymeson: Acabar com você.

Gemo e lanço um olhar de lado para Dani. Ela leu a


mensagem por cima do meu ombro e está sorrindo.

“Que bom que você acha isso engraçado.”

Ela encolhe os ombros.

“Tratamento de silêncio?”

Ela assente com a cabeça.

“Então, só para ficar claro, você está optando não falar


comigo, mesmo que agora seja capaz?”

Um dedo médio é levantado em resposta antes que ela enfie


os pés debaixo de seu corpo, deite a cabeça contra a porta, e feche
os olhos.

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CAPÍTULO VINTE E DOIS

Dani

No minuto que a limusine para na casa de praia de


Jaymeson, eu salto. Lincoln tenta me seguir, então irrompo em
uma corrida.

Ele agarra a parte de trás da minha camiseta bem quando


meus dedos tocam a porta. “Dani, não, não desse jeito.”

Suspiro e me viro. “Olha, ainda sou sua assistente. Mas você


não precisa de mim no set hoje. Já mandei uma mensagem para
Pris e avisei do que você precisa em seu trailer quanto a lanches,
sua roupa foi entregue, e sua caminhonete já está te esperando no
local. Amanhã continuo de onde parei, mas por agora, posso
apenas ter o dia de folga para pensar? Ou vai me fazer ir para o
trabalho com você? Especialmente depois que nossa foto explodiu
em toda a Internet.”

O rosto de Linc fica pálido. “Tudo bem.” Ele solta minha


blusa. “Mas, para registro, você não precisava ligar e pedir para
fazerem isso tudo.”

“É meu trabalho”, digo em uma voz oca. “A menos que esteja


me demitindo?”

“Não.” Sua resposta é rápida. Mesmo usando aquela


camiseta de baleia estúpida, ainda está lindo. Seus olhos cinzentos
sempre parecem ter sido delineados com lápis preto. É fácil se
perder neles, é fácil esquecer.

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Até agora.

Agora, olhar para ele me lembra de que tivemos algo, um


momento, algo diferente, algo inexplicável. E ele acabou deixando-
o passar sem falar comigo sobre isso. Estou tão cansada de ser
tratada como uma criança, mas, ao mesmo tempo, sei que, às
vezes, minhas reações são culpa disso também.

Mas nos últimos dias, ele me tratou como igual.

Até que no pior momento possível, quando estive em meu


momento mais vulnerável, ele se transformou em apenas mais um
dos caras que querem me proteger, outro destes que me cercam.

Quero uma grande aventura. Quero algo. Ele me fez querer


sentir viva, e então pulou fora do jogo depois de começar.

Eu o odeio por isso.

Tanto quanto me odeio por ser um cara que me puxou de


alguma forma da escuridão.

“Linc”, sussurro, “você vai se atrasar.”

Antes que possa protestar, ele me puxa para um abraço e


beija minha cabeça. “Para constar... eu sinto muito.”

Ele não tem ideia de que está deixando tudo ainda pior. Não
quero conforto! Não quero palavras bonitas! Quero que ele me
beije! Quero que me pegue e me jogue contra a porta, beijando-me
muito, deixando-me louca. Quero o assustador. Finalmente desejo
o assustador novamente. Porque confio nele.

E ele me dá segurança.

“Tchau, Linc.” Espero que ele vá embora.

E então, como uma adolescente, porque eu posso, bato a


estúpida porta tão forte que tenho certeza de que haverá uma
rachadura na madeira mais tarde.

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“Ei, alto lá.” Zane se assusta de seu lugar no sofá. “Acho que
a lua de mel acabou?”

Olho para seu cabelo escuro, sorriso fácil e tatuagens


estúpidas. Por que estou completamente cercada por homens de
tão boa aparência? O TEMPO TODO. Ele pula do sofá, vindo em
minha direção. Sem camisa.

“Pelo amor!” Grito. “As pessoas usam camisas!”

“Uau.” Zane ergue as mãos. “Você está brava porque estou


sem camisa?”

“Sim!” Bato minhas chaves sobre a mesa. “As pessoas reais


usam roupas! Nem todo mundo é pago para tirar suas roupas.”

“Acho que você me confundiu com uma stripper.” Ele franze


a testa. “Quero dizer, isso já aconteceu pelo menos um punhado
de vezes, mas nunca em minha própria casa.”

“Esta não é a sua casa.”

“É agora.” Ele sorri.

“Estarei no meu quarto.” Tento passar por ele, mas ele me


pega pelo braço e me gira; seu aperto é forte. Então, claramente,
deve ser filho de Zeus.

“Não.” Seus claros olhos castanhos dourados veem através


de mim. Veem muitas coisas. “Talvez devêssemos falar sobre o fato
de que você está usando palavras.”

“Não tenho cinco anos.”

“Não. Você tem dezessete anos.” Ele disse dezessete anos em


uma voz autoritária que me faz relaxar em seus braços. “Confie em
mim, sei tudo sobre sua idade. O mesmo acontece com Linc.”

Ao som de seu nome.

Começo a chorar.

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Com Zane Andrews , em todas as pessoas do mundo.

Minhas lágrimas mancham sua pele dourada, mas eu não


me importo. Ele me deixa ali, chorando e chorando.

“Quer que eu o mate?” Ele sussurra em meu cabelo. “Sou


meio italiano. Conheço algumas pessoas, apesar de viver em
Chicago e desprezar este meu lado da família. Acho que é porque
somos meio irlandeses. Mas ainda assim, gosto de pensar que
Nixon me deve um favor. Afinal, eu salvei a sua bunda aquela vez
na caixa de areia, quando outra criança tentou pegar o tratorzinho
dele.”

“Então ele lhe deve um favor...” Eu fungo. “... porque você


salvou seu trator.”

“Nunca subestime o relacionamento de uma criança com


seus brinquedos, Dani. Roubar um trator é motivo de guerra.”

“T-tudo bem.” Deixo escapar uma última fungada e balanço


a cabeça. “E você está me dizendo que tem parentesco com a
máfia?”

“Shhh, os traidores morrem. Gosto de viver. E você vai


acabar com minha imagem de bom moço.”

Reviro os olhos. “Ficha limpa para você. Sodoma e Gomorra


para os outros.”

“Toca aqui.” Ele ergue a mão para um high five. “Olhe só


para você, capaz de fazer piadas e usando suas palavras. Não
deveríamos estar celebrando sua capacidade de formular frases
completas, ou seria apenas uma casualidade devido à sua relação
com Linc? E, por favor, não chore porque eu disse o nome dele.”

“Eu tenho dezessete. Pode também querer tatuar isso em


sua testa”, sussurro em tom hostil.

“Ele não parece ser o tipo que esquece”, Zane diz


amavelmente.

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“Oh, ele não esqueceu.”

Zane assente.

“Pelo menos ele teve um lapso momentâneo de julgamento


quando eu estava sem minha camisa...”

Zane faz uma careta.

“... na cama dele.”

O nariz dele fica franzido.

“E ele me rejeitou.”

Zane solta um assobio baixo, então dá risada. “Quando Linc


faz merda, ele faz isso bem feito, não é? Droga. Diga-me que, pelo
menos, ele deu uma explicação para a rejeição?”

Eu me afasto de Zane e debruço-me sobre o balcão. “Sim.”

As sobrancelhas de Zane se levantam como se esperasse


uma explicação.

Fazendo uma cara feia, limpo minhas bochechas molhadas


e xingo para fora todas as razões que Linc listou. Quando termino,
Zane me dá um olhar vazio.

“O que?”

“É estranho. Uma parte de você, realmente é bem madura.”


Ele cruza os braços sobre o peito nu. “Mas a outra parte de você,
a parte menina-adolescente, é realmente, muito estúpida e
imatura. Você percebe que ele estava te protegendo, certo?”

“Pareço precisar de proteção ou algo assim? Quero dizer, o


que é que eu tenho em mim que parece sempre gritar donzela em
perigo?”

“Não tenho certeza, mostre-me suas armas.” Zane aponta


para meus braços.

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Flexiono, tentando não sorrir.

“Hmm, e você nunca fez aulas de Karatê? Autodefesa? Ou


uma dessas aulas de dança estranhas que misturam movimentos
malucos de kickboxing com as batidas de uma das minhas
músicas?”

“‘Hip Hop’?”

“Não estas.”

“‘Body Combat’?”

Ele estala os dedos. “Isso mesmo. É isso.”

“Não.” Faço uma careta. “Talvez seja porque tive uns anos
meio complicados, mas isso não significa que estou impotente!
Posso tomar grandes decisões.”

“Você quer se casar comigo?”

“O que?” Deixo escapar um grito frenético.

Zane dá de ombros. “Você disse que era capaz de tomar


grandes decisões. Foi um teste.”

Reviro os olhos.

“Você não passou.”

“Zane, olha, aprecio sua ajuda, mas realmente não o


conheço assim tão bem, e até agora tudo o que você fez foi me dizer
que Linc é muito estúpido, e sou imatura por não entender seu
raciocínio.”

Zane caminha até o sofá e dá um tapinha no assento ao lado


dele.

Lentamente, vou até o sofá de couro e sento ao seu lado,


enquanto ele apoia os pés sobre a poltrona que fica em frente como
se aquela fosse sua própria casa.

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“Você pode tentar descobrir isso até que seu cérebro esteja
doendo. E vai acabar chegando à mesma conclusão que cheguei
no momento em que entrou pela porta?”

“O que?” Eu me inclino mais para o couro, desejando poder


simplesmente sumir de seu olhar pensativo.

“Você gosta dele. Ele gosta de você. Você está um pouco


emotiva agora. Dê um tempo. Se for pra dar certo, vai dar certo.
Agora.” Ele pega o controle remoto e clica no canal do Discovery
Channel. “Vamos assistir algumas pessoas construindo casas no
Alasca, e você vai parar de pensar sobre Linc. Acredite em mim, o
que precisa é uma distração.”

“Eu não posso.” Começo a me levantar. “Preciso olhar o


cronograma de filmagens de amanhã e planejar minhas tarefas de
assistente quando Linc vai estar...”

“Cinco da manhã ele precisa estar no set. As filmagens vão


até por volta de meio-dia. Ele terá uma pausa de dez minutos para
o almoço. Então, vai ter que voltar, mais provavelmente para
refilmar a cena do beijo. Há rumores de que ele bate nos dentes de
Pris na última tomada.”

Consigo disfarçar minha diversão, por pouco.

“E...” Os olhos de Zane se estreitam. “... oh bem, e esta noite


ele tem algum tipo de reunião estranha.”

Entro em pânico, corro para o meu quarto, pego minha


agenda, e dou uma olhada nela. “Aqui não diz nada sobre
publicidade na minha agenda para ele.”

Zane não tira seu olhar da TV. “Certo, esta pequena


informação me foi dada por Jaymeson. Aparentemente, a agente
de Linc está tentando falar com ele a maior parte da manhã, desde
que a foto vazou.”

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“Porcaria.” Sinto uma dor de cabeça chegando. “Você acha


que ele está em apuros?”

Zane baixa o volume e me dá um olhar do tipo ‘dã’. “Querida,


ele foi visto não só te beijando, mas entrando em, e cito, ‘uma
cabana de amor’ com você. Tudo isso estaria muito bem se você
não fosse A... menor de idade, B... irmã do diretor, e C... até agora?
Muda.”

Sinto meus joelhos enfraquecem. “Isto é tudo culpa minha.


Ele estava com medo de baleias e...”

“Interessante.” Zane se vira lentamente para me encarar, um


sorriso fácil iluminando seus traços escuros. “Gosto de sair com
você. É como ter acesso a informação privilegiada.”

“Nós não estamos saindo.”

“Estou sem minha camisa, meus pés estão para cima, estou
pensando em fazer pipoca, e você tem o dia de folga. Estamos
ficando juntos sim.”

“Porque você sabe fazer pipoca?” Era difícil se controlar com


ele. O cara conversando comigo e o que eu vi na TV são duas
pessoas muito diferentes. Seus olhos hipnóticos encontram os
meus em um gesto de provocação.

“Dani, eu não te conheço muito bem, mas conheço as


mulheres. Cresci com duas irmãs. Se você não matar tempo aqui
comigo, vai acabar no seu quarto de mau humor. E, honestamente,
o que me deixa triste é que você só começou a falar novamente. Se
qualquer coisa, você deveria estar comemorando o fato de que a
vida não é mais tão ruim como costumava ser. Agora, você vai fazer
a pipoca, ou quer que eu faça?”

“E nós temos pipoca?” Murmuro, caminhando até a cozinha


em busca de algo para jogar no microondas.

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Rachel Van Dyken

Um corpo duro e musculoso vem atrás de mim quando estou


alcançando a segunda prateleira da despensa. A mão de Zane roça
a minha, em seguida, puxa a pipoca para baixo. Espero que se
afaste, mas ele não se mexe.

“Só mais uma coisa”, ele diz em uma voz rouca.

Arrepios tomam conta de mim. Posso gostar de Lincoln, mas


não sou imune ao charme de Zane. Será que qualquer mulher com
hormônios seria? “O que?”

“Vire-se”, ele instrui.

Eu me viro, mantendo meus olhos para baixo.

Até seus pés são bonitos. São bronzeados assim como o


resto dele, chinelos brancos adicionados à pele dourada que já está
me deixando com ciúmes por não ter ficado muito no sol durante
todo o verão.

“Eu não vou dar em cima de você”, ele diz suavemente. “Sei
o que a minha reputação diz, mas sou mais do tipo melhor amigo.”

Empurro minha cabeça para cima, enquanto meu rosto fica


vermelho. “Juro que meu cérebro não estava indo lá. Quero dizer,
você é Zane Andrews.”

“Certo.” Seus olhos se estreitam. “Sou a merda de um santo.


Não é isso que dizem?”

“Eu não saberia o que dizer.” Engulo a secura na garganta.


“E obrigada por, uh... explicar.” Tento contorná-lo.

“Espere aí, estudante.” Zane agarra meu braço e me puxa de


volta para a posição original, pouco centímetros longe de seu rosto.
“Não é porque você não é realmente bonita ou porque é
inalcançável.” Seu rosto muda de sedutor para inocente. “Você
consegue guardar um segredo?”

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Rachel Van Dyken

Curiosa, balanço a cabeça e espero em antecipação quando


ele se inclina para frente, e sussurra no meu ouvido a última coisa
que eu poderia imaginar.

“Não.” Balanço minha cabeça. “Não.”

Ele sorri.

“Impossível.” Cruzo os braços. “Você está mentindo para que


eu me sinta melhor.”

“Então você vê...” Ele dá um passo para trás. “... timing


realmente é tudo. Estou lhe dizendo por experiência. Às vezes, um
cara diz que não, mesmo quando seu corpo grita sim. Às vezes, um
cara diz que não pelo simples princípio de que a garota que ele
quer que diga sim vale um inferno de muito mais do que apenas
alguns minutos baratos que ele não tem certeza que ela quer, em
primeiro lugar.”

Atordoada, observo-o sair da despensa e começar a abrir o


pacote de pipoca. Minha boca ainda está aberta de choque.

Quem teria pensado nisso?

Sr. Zane Andrews.

Santo.

É virgem.

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Rachel Van Dyken

VINTE E TRÊS

Lincoln

“Corta!” Jay grita pela centésima vez. “Olha, Lincoln, você


deveria estar tentando engolir a menina. Este não é seu primeiro
beijo. Você não está pedindo permissão. Que diabos há de errado
com você?”

Várias coisas. Uma é que estamos filmando uma cena de


quarto, e estou com a irmã de Dani. Isso é tão incrivelmente
errado.

Nunca tive dificuldades em atuar.

Não até agora.

“Cabeça no jogo”, Jay estala. “Alguns de nós querem ir para


casa jantar hoje à noite.”

“Desculpe, Jay.” Balanço a cabeça, limpando meus


pensamentos mais uma vez enquanto a cena é reorganizada.

Pris está de sutiã e calcinha. Eu deveria pegá-la no colo,


bater contra a parede, em seguida, tentar seduzi-la e depois sair.

Ha.

Eles dizem que a verdade é mais estranha que a ficção. Qual


a chance de terem mudado minha agenda de novo, e eu ter que
filmar essa cena logo após meu problema com Dani?

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Rachel Van Dyken

Com uma inspiração profunda, eu me concentro em afastar


todos os pensamentos sobre ontem à noite, mantendo apenas um.

O olhar faminto que Dani me deu.

Uso esse olhar e ataco Pris com tudo que há em mim,


disparo minha falas e quando Jay diz, “Corta”, rezo para ter sido o
suficiente.

“Eu ia lhe perguntar se você tinha certeza de que gosta de


mulheres”, Jay diz uma vez que a cena acaba, e estamos quase
sozinhos “mas claramente gosta desde que você estava dando em
cima da minha irmã ontem à noite.”

“Não é tecnicamente sua parente de sangue”, murmuro.

Jaymeson agarra meu ombro e me vira. “O que é que foi


isso?”

“Acerte-o.” A voz de Demetri ecoa pelo set. “Mas não o deixe


muito estragado. Quero bater um papo com ele também.”

“Entre na fila”, a voz de Alec acrescenta.

Gemo quando ambos os membros do AD2 vem caminhando


até mim, seus olhos loucos de raiva, combinando com o mau
humor óbvio de Jaymeson.

“O que?” Olho entre os três. “Vamos causar um tumulto ou


algo assim? Não é o que parece.”

“Então, o beijo foi invenção da minha imaginação?” Jay


pergunta.

“Não.” Engulo desconfortavelmente. “Mas a razão para


isso... Olha, não é como se eu a tivesse seduzido ou qualquer
coisa.”

“Será que Lincoln Greene está dizendo que não a seduziu?”


Demetri pergunta em voz alta, batendo no peito de Alec. “Ele não
percebe que só de respirar já seduz mulheres em todo o mundo.”

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Rachel Van Dyken

“Muito engraçado. Minha respiração?” Reviro os olhos.


“Mesmo?”

“Uma menina comprou seu suor no eBay por uma grana


preta”, diz Demetri num tom inexpressivo. “Não tenho mais nada
a acrescentar.”

“Veja.” Estendo minhas mãos. “Eu não quero brigar. Vocês


deveriam pelo menos estar felizes que tudo o que estava
acontecendo entre nós, acabou. Estraguei tudo. Ela está chateada
e tenho certeza que se eu chegar remotamente perto o suficiente
para beijá-la novamente, ela provavelmente vai morder meu rosto.”
Meus ombros despencam. “Ela até me mostrou o dedo do meio.”

“Ha.” Demetri ri. “Essa é minha garota.”

Alec olha. “Você precisa parar de ensinar estas coisas a ela.”

“O que?” Demetri levanta os ombros em um encolher


preguiçoso. “Ou isso ou joelhada nas bolas. Claramente ela está
ouvindo meus conselhos.”

“Demetri e conselhos...” Jaymeson suspira. “... duas


palavras que nunca deveriam estar juntas em uma frase. Quase
como ketchup e coelhos.”

“Drogas e álcool”, Alec acrescenta utilmente dando uma


piscadela. “Oh, eu sinto muito. É cedo?”

“Idiotas.” Demetri estala os dedos. “Todos vocês.”

“Boa conversa, caras.” Lentamente começo a recuar. “Agora,


se já terminaram de chutar minha bunda, tenho que ir encontrar
com minha agente, e gostaria de deixar alguma coisa para que ela
possa chutar também.”

Jaymeson bufa. “Acredite em mim, ela não vai ficar puta. O


que aconteceu nessas fotos é ouro para publicidade. Se eu não o
conhecesse tão bem, diria que foi planejado.”

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Sinto-me enjoado. “Eu nunca...”

“Eu sei.” Jaymeson suspira. “Eu sei.”

Demetri estreita os olhos para mim. “Vou ficar de olho em


você. Não me importo que tenha conseguido fazê-la falar
novamente. Você a deixa ferida. E haverá focas. Há mais fotos de
onde isso veio.”

“Espere aí.” Jay levanta a mão. “O quê? Falar? O que diabos


estão dizendo?”

Merda.

Demetri fecha os olhos e amaldiçoa enquanto Alec


rapidamente me dá um olhar que diz oh merda.

“Falem”, Jaymeson ladra. “Um de vocês, idiotas, me contem


o que diabos Demetri está dizendo?”

Demetri se afasta lentamente. “Dani falou com Lincoln.”

Jaymeson se vira para mim tão rápido que quase tropeça


para trás. “Que diabos, Linc? E você não pensou em me contar?”
Ele agarra a frente da minha camisa.

Eu o empurro de volta. “Não era minha novidade para


contar.”

“Ele tem razão”, Demetri diz baixinho.

“Agora não!” Jaymeson solta. “Onde ela está?”

Faço uma careta. “Em casa.”

“Com Zane?” Jaymeson diz, elevando a voz em um tom.


“Você deixou uma adolescente excessivamente emotiva sozinha, na
minha casa, com Zane Andrews?”

É como se o filme dos muitos pecados de Zane passasse


diante de nós. Ele nunca foi realmente pego fazendo alguma coisa,
mas há muitos rumores. E as mulheres não apenas o adoram; elas

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Rachel Van Dyken

o reverenciam, dizem até que há certa atração magnética sobre ele


que ninguém com ovários consegue ignorar.

“Cara”, os olhos de Demetri se arregalam. “Eu nunca


realmente cheguei a conhecê-lo pessoalmente antes, mas mesmo
eu não seria estúpido o suficiente para deixar uma garota menor
de idade e inocente com ele!”

“Merda!” É tudo que dizemos em uníssono enquanto


corremos para fora do set em direção ao estacionamento. Pulo na
minha picape assim que Demetri e Alec entram no banco da frente.
Jaymeson mal chega ao banco da sua caminhonete e já estou
saindo em dispara do estacionamento, e dirigindo como se o diabo
estivesse no meu calcanhar por todo o caminho de volta para a
casa de praia.

“Se isso terminar mal, você vai acabar mal”, Alec diz em uma
voz mortalmente sinistra.

Ótimo. Com um Demetri irritado sou capaz de lidar. Mesmo


um Jaymeson cheio de raiva não parece tão ruim — talvez seja
aquele sotaque Inglês? Mas Alec? Bem, vamos apenas dizer que
não quero ver seu lado ruim. Há algo muito escuro nele. Vamos
apenas dizer que parece que ele tem bastante potencial para
chutar minha bunda. Somos bem parecidos em altura e força, mas
definitivamente não temos o mesmo grau de loucura.

Vou até a casa de praia, nem sequer desligo a caminhonete,


e saio correndo pelas poucas escadas e quase acerto a porta da
frente fechada. No último minuto, lembro-me que preciso girar a
maçaneta a menos que queria simplesmente rebentar tudo e
deixar uma impressão do corpo de Lincoln através da madeira.

Uma vez que estou lá dentro, grito o nome dela.

Alec e Demetri colidem com o meu corpo por trás.

Muitos xingamentos de Jaymeson por ter sido o último,


chegam até mim também.

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“Shhh”, Zane diz enquanto lentamente, languidamente, se


levanta do sofá e estica os braços acima de sua cabeça em um
movimento felino. Ele está sem camisa, e vou mata-lo e seu corpo
será enterrado na casa de Demetri para que ele seja
responsabilizado pelo crime. “Ela está dormindo.”

“Zane...” Resmungo seu nome com a morte em minha


mente. “... se você a tocou...”

O rosto de Zane se abre em um sorriso divertido. “Será que


conta segurar a mão dela enquanto chora por acidentalmente ter
comido um grão de pipoca queimada?”

“Hã?” Demetri pergunta.

“Zane Andrews.” Zane estende a mão para Demetri.

Demetri olha para ele como se estivesse doente. Isso é uma


coisa que sempre gostei em Demetri. Ele é amigável, uma vez que
você conquiste sua confiança, e apenas então.

“Conheço seu tipo”, ele estala.

Seguro minha risada enquanto Alec caminha ao nosso redor


e olha por cima do sofá. Um sorriso se forma em seus lábios
quando ele dá um passo atrás e examina a cozinha, então,
finalmente, olha de volta para nós. “Ela está dormindo.”

“Acabei de dizer isso.” Zane boceja e depois se espreguiça de


novo. Estaria mentindo se dissesse que ele não é um cara
realmente bem constituído. Não é a toa que as meninas arrancam
suas roupas íntimas durante os seus concertos. “Eu a droguei.”

“Você o que?” Jay grita, empurrando através de Alec e


Demetri.

“Shhh!” Todos dizemos ao mesmo tempo, agitando as mãos


no ar.

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Rachel Van Dyken

“Você o que?” Seu sussurro é mais um sussurro-gritado,


mas que seja.

“Primeiro, eu a embalei com uma conversa sobre reallitys de


TV”, Zane diz em uma voz entediada enquanto anda mais para
perto de nós, “então prometi a ela pipoca, que foi seguida por
sorvete, chocolate, e, finalmente, fizemos alguns s'mores na
lareira.” Ele olha de volta para o sofá. “Esta pobre coisinha estava
exausta depois de tudo o que comeu...” Seus olhos se estreitam na
minha direção. “... e de tanto chorar.”

Você poderia ouvir um alfinete caindo naquela sala quando


todos os olhos se voltam para mim.

“O que?” Jogo minhas mãos para cima. “Sério? Eu a beijo de


volta, e vocês ficam putos, então digo a ela que não podemos...”
Paro de falar.

“Não podem?” Demetri bate no queixo. “Fazer sushi?”

“Não podemos... você sabe.” Coço meu braço nervosamente,


em seguida, sento-me em uma das banquetas. “O ponto é, estou
condenado se eu fizer isso e condenado se não fizer. Estou
tentando fazer o que é melhor para ela.”

Dani faz um pouco de barulho, gemendo em seu sono.

Meu coração se aperta ao olhar na sua direção. Só então


percebo que todos ficaram em silêncio outra vez e olho para os
caras.

Eles estão... intrigados. Como se pudessem ler cada emoção


na droga no meu rosto, e pudessem ver que mesmo estar no
mesmo cômodo que ela está me causando dor física —
especialmente já que não posso puxá-la em meus braços e pedir
desculpas. Novamente.

“Você não tem uma reunião no jantar?” Demetri aponta.

“Merda.” Pulo da banqueta. “Sim.”

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Desajeitadamente, vou em direção à porta enquanto os


caras continuam falando de Dani como se ela não estivesse ali na
sala dormindo. Droga. Quero ficar. Para ter certeza que está bem,
mas acima de tudo quero verificar se Zane não tentou nada com
ela.

Não descartaria isso tão rapidamente.

Então, novamente, Zane realmente não é o tipo que caça no


território de outro homem. Gemo em voz alta. É assim que eu a
vejo? Meu território?

Uma dor de cabeça cresce em minhas têmporas enquanto


salto em minha caminhonete e vou para o centro.

São apenas oito da noite.

Mas poderia muito bem ser meia-noite. Estou exausto e sei


que preciso de mais energia do que posso reunir, especialmente se
terei que lidar com minha agente.

Ela nunca dorme.

Ela raramente come carboidratos, ou seja, está sempre


irritada.

E deve ter que clarear os dentes diariamente por causa da


quantidade de vinho e café que bebe para evitar cair no sono
durante o dia, e cair em um estupor bêbado à noite.

Meu telefone toca no meu bolso. Leio o texto no sinal de


trânsito.

Cameron: Você está atrasado.

Lincoln: Estou chegando.

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Rezo por paciência quando entro no estacionamento da


Seaside Brewery e paro a caminhonete. Tudo o que preciso fazer é
me certificar de acalmar o ânimo dela e, então poderia ir para casa,
tomar alguns Nyquil que me forçariam a dormir.

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VINTE E QUATRO

Dani

O som de um vaso ressoando contra o chão me tira do meu


sono. Com um impulso, levanto e quase colido com o rosto de
Demetri.

“Uau.” Eu me afasto. “Por que você está pairando sobre mim,


mãe galinha? Eu poderia ter acertado uma cabeçada em você.”

Seus olhos brilham.

Sem aviso, ele me puxa para um abraço de urso apertado


contra seu corpo que estremece ao redor do meu. “Você realmente
está falando.”

“Uau, imagine o que teria acontecido se eu tivesse acordado


fazendo uma serenata para você.”

“Os pássaros...” Demetri me libera com um suspiro. “...


teriam sido atraídos com os gritos estridentes, voariam contra a
porta de vidro, de alguma forma conseguindo quebrá-la em um
milhão de pedaços, e ao ver meu rosto perfeito, atacariam,
bicando-me até a morte, deixando apenas um pequeno fragmento
de roupas que seria colocado em uma pequena redoma de vidro e
exposto no Rock and Roll Hall of Fame.”

Fico boquiaberta. “Pensou nisso tudo em tão pouco tempo?”

“Sim, bem...” Ele pisca. “... quando se trata de aves, tenho


todos as opções completamente cobertas.”

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“Assustador.”

“Paranoia”, diz a voz de Alec por trás enquanto vem em torno


do sofá e se ajoelha na minha frente. “Ok, Zane afirma que você
adormeceu em cima dele, mas se ele te tocou, vou arrancar os
dedos dele.”

“Você realmente precisa parar de assistir Mob Wives.”


Demetri sussurra.

Sorrio para a preocupação deles. “Gente, sério. Ele é


inofensivo.” Sorrio com a lembrança do segredo de Zane.
“Acreditem em mim.” Deixo escapar outro bocejo. “Que horas são?”

“Meia-noite”, respondem em uníssono.

“O que?” Pulo do sofá. “Isso é loucura! Fiquei fora o dia


todo?”

“Tecnicamente.” Zane entra preguiçosamente para a sala,


ainda sem camisa, ainda lindo, sua calça de agasalho preto
pendurada tão baixo nos quadris que é quase indecente. “Você
assistiu TV comigo por pelo menos quatro horas antes de
adormecer. Droga.” Ele abre a despensa, em seguida, fecha. “Você
comeu todos os marshmallows!”

“E isso é um crime punível com a morte?” Rio.

Zane não.

“Que tipo de obsessão estranha por junk food é essa?”


Demetri pergunta em voz alta. “Marshmallows? Eles são tão
macios...”

Zane estremece. “Conversa suja para mim. Continue.”

“... pegajosos e...” Demetri claramente não consegue evitar e


então abaixa a voz. “... e doces.”

“E com esta frase...” Alec fica de pé. “... vou voltar para casa
e me certificar que Nat descanse um pouco. Estão nascendo os

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primeiros dentes do bebê e acho que Nat está a ponto de


enlouquecer.”

“Até mais.” Aperto seu braço e olho para Demetri.


Duramente. Silenciosamente dizendo-lhe “Está tudo bem. Posso
dormir sem você me vigiando como um pai louco.”

“Bem.” Ele bufa. “Eu vou também, mas isso não terminou
ainda e... Dani?”

Olho para cima. “Sim?”

“É bom ouvir sua voz novamente.”

Sorrindo, eu o puxo para um abraço apertado. “Obrigada,


Dem.”

“Oh...” Demetri estala os dedos. “... e também, Jay precisou


ir para a cama, porque terá outro dia cheio e precisa acordar cedo,
mas disse que vai te acordar na parte da manhã para que ele e sua
irmã possam ouvir por si mesmos.”

Quero revirar os olhos, mas sei que seria rude e muito...


imaturo, e depois de toda a minha derrocada com Lincoln, de
repente estou bastante consciente de cada pequena coisa que faço
e que pode me fazer parecer jovem, tão jovem que ele não queira
me tocar nem mesmo com uma vara de dez metros.

“Certo.” Exalo lentamente. “Acho que deveria ir para a cama


também.”

“Não”, Zane chama da cozinha. “Precisamos de


marshmallows.”

“Cara...” Demetri vira-se. “... o que há com você e os


marshmallows?”

“Eu não sei.” Zane enfia as mãos no seu agasalho folgado.


“O que há com você e pássaros?”

“Eu não como aves.”

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“Você não come frango.”

“Eu quis dizer aves como...” Demetri funga. “... pombos.”

Zane solta uma risada baixa, sexy. “Isso é comestível?”

Demetri olha com raiva. “Seu abdominais estão me dando


dor de cabeça. Coloque uma camisa. Há crianças presentes.”

Levanto minha mão e aceno em tom de brincadeira, mas


Demetri me lança um olhar mortal, então rapidamente abaixo
minha mão e coloco um sorriso recatado.

“Fique longe de problemas”, ele fala, indo até a porta. “E


compre seus próprios malditos marshmallows, Zane!”

No minuto em que a porta se fecha, Zane se vira para mim


e diz, “Se eu colocar uma camisa, podemos ir até a loja juntos? E
por nós, quero dizer, eu posso lhe dar o dinheiro para correr até a
loja enquanto me escondo no carro de óculos escuros e chapéu?”

Reviro os olhos e me levanto, sem pressa estico meus


músculos doloridos. “Qual é o ponto em você ir comigo se vai ficar
sentado no carro?”

“Fácil.” Ele encolhe os ombros. “Posso te fazer companhia.”

“Enquanto faço suas tarefas?”

“Ei, vou vestir uma camisa. Achei que amizade funcionasse


desse jeito. Faço-lhe um favor... você me faz um favor.” Seu sorriso
cresce.

“Pare com isso.” Balanço o dedo para ele. “Eu me recuso a


deixar seu charme ter influência sobre mim. Além disso, como é
que você vestir uma camisa pode ser considerado um favor para
mim?”

“Você me pediu para colocar uma a um tempo atrás. Logo,


um favor.”

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Rachel Van Dyken

“Músicos. São. Tão. Estranhos.” Bocejo novamente, meus


olhos lacrimejando desta vez. “Tudo bem, vamos buscar seus
marshmallows, mas então irei para a cama. Tenho que acordar
cedo, e meu palpite é que você não tem nada para fazer pelo menos
até o meio-dia.”

“Por favor, mesmo de férias levanto sempre cedo.” Ele pisca.

“Marshmallows.” Pego minhas chaves do balcão. “Então,


casa. Sem desvios. Sem uma vontade súbita de comer balas taffy
tarde da noite ou sorvete.”

O rosto de Zane fica murcho. “Mas e se a sorveteria estiver


aberta? E se a única maneira de salvar o mundo...” Ele caminha
até mim, o rosto sério. “... for entrar...” Ele lambe os lábios
lentamente. “... pedir um sorvete... e...” Seu rosto inclina para
baixo para o meu. “... dar uma bela lambida?”

Meu coração bate forte contra meu peito. Ignoro. Porque ele
não é Lincoln, não importa o quão atraente ou mortal seja aquele
sorriso. “Continue me dando esse olhar, e vou lamber cada um dos
marshmallows antes de coloca-los de volta no saco, fechá-lo direito
e dizer que são frescos.”

“Não seria tão ruim.” Ele encolhe os ombros.

“Correção. Vou deixa-los cair no vaso sanitário e depois


voltar a coloca-los na embalagem original.”

“Tudo bem, então.” Zane recua, levantando as mãos para


cima em sinal de rendição. “Mas para registro, apenas gosto de
mexer com você. Eu nunca realmente conheci uma menina que
não ficasse caída pelo meu sorriso.”

“É bom saber que sou imune ao seu charme como Lincoln é


imune ao meu”, digo em uma voz amarga.

“Calma aí.” Zane me pega pelo pulso e me puxa para trás.


“Os amigos não deixam amigos dizerem coisas estúpidas. Confie

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em mim, ele não é imune. Você deveria ter visto o rosto dele quando
quase derrubou a porta e entrou aqui todo armas em punho.”

“Hã? Armas em punho?”

“Oh, certo.” Zane estala os dedos. “Você estava dormindo.


Lincoln invadiu aqui junto com Demetri, Alec e Jay. Ele presumiu
que te seduzi baseado na roupa que vestia, e no fato de que ele
tem, claramente, o pior timing do mundo e ficou parecendo que eu
simplesmente transei com você durante todo o fim de semana.”

“Que legal.” Gemo em minhas mãos, as chaves tocando


minha bochecha.

“Ei, ei.” Ele puxa minhas mãos para trás. “Não é tão ruim.
Como eu disse, o olhar em seu rosto era de puro ódio, e não era o
olhar do tipo tire suas mãos de cima da minha irmã. Era mais como
se você encostar um dedo nela, vou cortar sua mão só de pensar
nisso, junto com uma dose saudável de saudade. Imagino que uma
vez que ele consiga tirar sua cabeça de dentro da bunda, será a
qualquer momento.”

“Qualquer momento?”

“Que ele lhe dará o beijo.”

“O beijo?”

“Você vai repetir tudo que digo ou vamos comprar


marshmallow?” Zane desvia e abre a porta da frente.

Enquanto caminho por ela, ele sussurra, “O beijo que toda


garota secretamente deseja, mas nunca pede.”

Faço uma pausa, em seguida, me viro. “Hã?”

Sem qualquer tipo de aviso, Zane agarra-me pelos ombros,


bate meu corpo contra a porta, e me beija com tal ferocidade que
não sou capaz nem de respirar ou pensar. Minhas pernas deixam
de funcionar quando ele me levanta no ar, sua língua torcendo

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contra a minha, sua respiração quente e pesada quando


aprofunda o beijo, quase como se estivesse me desafiando para
detê-lo. Mas estou chocada demais para fazer qualquer coisa.

Ele solta meu corpo, e escorrego pela parede, minha bunda


colidindo com o chão de madeira enquanto olho para ele com a
visão embaçada. “O que acabou de acontecer?”

Zane sorri então se inclina para baixo, oferecendo-me sua


mão enorme. “Demonstração. Você quer que ele te beije desse jeito.
De nada. Além disso, na próxima vez que um cara tentar beijá-la,
sem ser Lincoln, você deve dar um tapa nele.”

“Mas foi você. Eu mal te conheço.” Aceito sua mão e fico


sobre meus pés vacilantes.

“Exatamente meu ponto. Caramba, eles não ensinam mais


autodefesa na escola?”

“Tem algo de errado com você.”

“Marshmallows”, resmunga. “Eles vão corrigir toda uma vida


de erros.”

“Tudo bem, mas nada mais de beijos.” Faço uma careta.


“Posso gostar de Linc, mas um beijo assim poderia deixar uma
menina grávida e não tenho nenhuma intenção de aparecer no
Teen Mom, da MTV, ok?”

“Mensagem recebida.” Ele pisca. “Oh, e também, quando


isso estiver espalhado nas redes sociais amanhã, o que vai
acontecer, lembre-se de parecer realmente culpada quando Linc te
encurralar.”

Não tenho nem tempo para digerir o que ele acabou de dizer,
porque ele já está correndo em direção ao meu carro e esperando
no lado do passageiro.

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Rachel Van Dyken

Algo sobre Zane não está certo, mas ele também foi
realmente... verdadeiro, e meio que... divertido. Como uma espécie
de filhote de cachorro.

Você sabe, se o seu cachorrinho tiver abdominais definidos.

Ou se parecer como um comercial de sexo ambulante.

Sim, ele definitivamente não precisa me beijar novamente.

Espere aí. Congelo no meio das escadas. Redes sociais? Olho


em volta, frenética para localizar quem poderia ter nos visto, mas
não há mais ninguém a curta distância, apenas um músico de boa
aparência inclinando-se sobre meu Jeep e bocejando. “Você vem?”

“Uh, sim.” Faço uma careta. “Estou indo.”

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VINTE E CINCO

Lincoln

O jantar com minha agente foi como esperado. Ela


perguntou por que eu estava transando com minha nova
assistente, que também casualmente é menor de idade, e de
acordo com o Twitter, um caso de caridade.

Disse a ela o porquê, e contei que havia terminado tudo...

Ela soltou um suspiro. “Bem, isso é estúpido. Pense no que


poderia fazer para a sua imagem. Um galã de Hollywood obcecado
com uma menina muda? Droga, não seja estúpido. Case-se com a
moça.”

Ofendido, só fui capaz de dar algumas mordidas no meu taco


de carne suína antes que estivesse pronto para lançar minha
cerveja em sua direção e rezar que a cegasse o suficiente para eu
sair correndo do restaurante.

“O quê?” Ela encolheu os ombros de seu corpo com aparência


desnutrida. “É bom para sua imagem.”

“Assim como dar dinheiro para os sem-teto.”

Ela soltou um ronco alto. “Dificilmente. Essa merda não


viraria viral. Mas isto? Isto é ouro para as mídias sociais. Se eu fosse
você, voltaria e jogaria bonito, pelo menos até ter alguma resposta
sobre sua última audição com Spielberg. Ei, talvez acabem até
transformando você em um embaixador para cegos.” Seus olhos
azuis-claros brilharam com entusiasmo, enquanto eu tinha certeza

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Rachel Van Dyken

de que seu cérebro estava fazendo planos para meu futuro na


presidência.

“Dos mudos, você quer dizer?” Eu a corrigi, tomando um gole


da minha IPA.

“Surdos?” Ela acenou com o garfo no ar. “Tudo a mesma


coisa.”

Até aquele momento, nunca percebi que pessoa horrível


minha agente é. Claro, ela é uma das melhores do ramo, faz
homens crescidos chorar, e demitiu sua própria irmã por causa de
algum tipo de fiasco com uma máquina de café — algo que ainda
está sendo sussurrado em torno dos escritórios em LA.

“Cabeça no jogo”, Pris brinca, me empurrando de volta para


o set de filmagem. Seu cabelo castanho cai em ondas ao redor de
seus ombros.

“Desculpa.” Tossi na minha mão, cuidando para não tocar


meu rosto. Droga, eles têm mesmo que rebocar meu rosto com
tanta maquiagem? Aparentemente, todo o romance de Demetri e
Nat ocorreu enquanto Demetri estava extremamente bronzeado,
ou seja, meu rosto está dois tons mais escuro que o meu gosto.
Sinto o gosto de batom e pó bronzeador cada maldita vez que passo
a língua em meus lábios.

“Além disso...” Pris se inclina. “... obrigada, por tudo o que


você fez.”

Suspirando, eu me inclino para trás. A porta do armário está


dura e fria contra minhas costas. Estamos filmando na escola de
Seaside High, e mal posso esperar para sair de lá. “Sim, bem, eu
quase me borrei na frente de uma baleia. Então, de nada, eu acho.”

Pris cobre o rosto com as mãos, sacudindo os ombros de


tanto rir. “Ela pode ter deixado essa parte de fora.”

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Rachel Van Dyken

“Agradeça ao pequeno coração-combatente de baleias que


ela tem.”

“Mas...” Os olhos de Pris brilham com diversão. “... achei


que deve ter sido um grande negócio. Não tinha ideia que era uma
baleia tão grande assim, mas...”

“Hilário.” Coço meu peito, tentando atenuar a dor que ainda


está fazendo sua presença conhecida exatamente onde meu
coração continua batendo. Tirá-la da minha cabeça é uma quase
impossibilidade, especialmente depois das imagens que foram
vazadas esta manhã, de Zane e Dani em um abraço que parecia
muito mais do que cordial junto à manchete, Nova amiguinha das
celebridades?

Pris toca meu ombro.

Vacilo com surpresa.

“Ei, você está bem?”

“Estou sim.”

“Sim, você parece mesmo. Bem, feliz, um pouco bronzeado


demais para o meu gosto mas...”

“Vocês estão prontos?” Jaymeson corre até nós. “Só temos a


escola pelas próximas horas, assim preciso que façam seu melhor.”
Ele está olhando diretamente para mim, como se eu estivesse
fazendo um trabalho mal feito ou algo assim. Suprimo um rolar de
olhos. Tanto faz.

“Entendemos”, Pris responde por mim.

Empurro os pensamentos sobre Dani para longe da minha


cabeça exatamente quando ela aparece por trás da câmera com
Jay. Ele entrega-lhe alguns fones de ouvido. Ótimo, então agora
ela pode ouvir todo o diálogo e a respiração pesada que emitimos.
Eu me pergunto se ela pode ouvir meu coração disparar ou o fato
de que no minuto em que seus olhos encontram os meus, minha

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Rachel Van Dyken

respiração fica presa, fazendo-me tossir descontroladamente no


rosto de sua irmã como se estivesse doente.

Dani franze a testa, em seguida, começa a digitar


furiosamente em seu telefone. Um sorriso aparece em seu rosto.

Melhor que sejam mensagens de texto de Demetri para ela.

Como se convocado pelo meu ciúme, Demetri aparece ao


lado de Dani e a puxa para um abraço. Sua esposa grávida, Alyssa,
está com ele. Ela rapidamente pega alguns fones de ouvido.

Dois minutos depois, Alec e sua esposa Nat entram no set;


eles devem ter conseguido uma babá ou algo assim, porque
raramente estão sem sua pequena Ella.

Ótimo, tenho um maldito público me observando.

“Sem stress.” Pris inspira pela boca, expira pelo nariz.


“Podemos fazer isso. É apenas uma cena de beijo, certo?”

“É o baile”, digo em um tom aborrecido. “Tenho certeza que


eu deveria agitar o seu mundo aqui.”

A próxima hora passa tão dolorosamente lenta que me sinto


como uma tartaruga cozinhando no sol quente.

“Corta!” Jay grita.

“Cara...” Demetri se aproximou de mim. “... você parece tão


bem quanto eu.”

“Oh, sinto muito. Somos amigos de novo?”

Ele ri, passando a mão pelo cabelo descolorido de loiro. “É


claro que somos, agora temos um inimigo comum.”

“Quem?”

“Zane”, Demetri fervilha quando Zane entra no set, seus


óculos de aviador no nariz. Seus olhos brilham consideravelmente

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Rachel Van Dyken

quando vê Dani correndo em direção a ele com um floreio e em


seguida, pegando sua mão, puxando-o até Jay.

Os figurantes no set começam a sussurrar.

Por que eles não sussurram a nossa volta?

“Cara, as meninas não reagem mais assim por nossa causa,


não mais”, Demetri diz, aparentemente lendo minha mente. “O
cara tem que sumir. Você coloca o carro dele em chamas. Posso
atraí-lo para o oceano.”

“E fazer o quê? Afogá-lo?” Cerro os punhos.

“Sinto muito. Será que você tem uma ideia melhor?” Demetri
volta seu olhar azul para mim. “Vamos ser honestos, você e eu não
exatamente gritamos violência como ele. O cara anda como se
aguentasse qualquer tranco, droga, e meu rosto vale muito para
correr qualquer risco.”

Reviro os olhos. “Ele é apenas um cara. Vai ficar entediado.”

“Oh, merda”, Demetri murmura. “Muito bem, Casanova.


Você só acabou de irritá-la ainda mais.”

“O quê? Que diabos você está falando?” Faço uma careta.

“Sua menina havia acabado de recolocar seu fone de ouvido,


e aposto que ela ouviu apenas a última parte de nossa conversa.”

Olho pra procurá-la, mas ela desapareceu.

Bem. Merda.

A porta do ginásio bate. Persigo Dani como se minha vida


dependesse disso. Ela está no meio do corredor deserto. Cheira a
lápis, água sanitária, e adolescentes suados, com uma pitada
persistente de desodorante spray.

“Ei...” Toco seu ombro. “Você não ouviu toda a conversa.”

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Rachel Van Dyken

É como se ela nem sequer ouvisse minhas palavras. Em vez


disso, seus olhos estão fixos em uma vitrine cheia de troféus.

A imagem principal é a de reis e rainhas do baile do ano


anterior.

Ela foi a Princesa Junior.

De pé, com Elliot, vestindo o mais sexy traje de cheerleader


que eu já vi. Não é algo que eu devesse ter notado, mas notei. Seu
sorriso é enorme, a coroa sobre a cabeça quase caindo enquanto a
mão de Elliot ajuda a mantê-la no lugar. O sorriso dele combina
com o dela, é nojento, como um chute no estômago.

E então vejo os troféus.

Muitos troféus para a equipe de cheerleaders.

E pelo menos três para Dani em cheerleading competitivo.

Saltos de costas, pirâmides, fotos de grupo. Ela está linda


em todas elas; a garota nas fotos não é a garota com quem venho
passando um tempo. É como se ela fosse uma pessoa
completamente diferente.

“Eu sinto falta dela”, Dani sussurra. “Não acho que já disse
isso em voz alta. Talvez tenha ficado com medo que se dissesse
isso, faria minha realidade muito mais cimentada dentro de minha
mente, deixando-a no passado ou algo assim.” Ela abaixa a cabeça;
fios de cabelo loiro cobrindo seu rosto para que eu não possa ler
sua expressão.

“Eu não”, sussurro. “Eu me recuso a sentir falta de um


fantasma, alguém que nunca conheci.”

Seus ombros caem.

“Mas tenho outra confissão.” Puxo seu cabelo para trás. “Eu
sinto falta de você. Esta que conheci agora.”

Ela não diz nada.

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Rachel Van Dyken

“Olha, Dani, eu...”

“Aí está você!” Uma voz que eu meio que queria esquecer que
existe grita pelos corredores. “Jay me disse onde encontrá-lo.”

Nota mental: Matar Jaymeson mais tarde.

Jo-Jo vem se esgueirando pelo corredor, os saltos parecendo


um martelo contra meu crânio. “Então, boas notícias! Consegui
alguns episódios desse show conto de fadas assustador que está
sendo filmado em Portland, então desci para Seaside durante o fim
de semana.”

Como no inferno isso poderia ser uma boa notícia?

“Ótimo, bem...” Forço um sorriso. “... eu tenho que


trabalhar, então divirta-se em Seaside.”

“Uau!” Jo-Jo segura meu bíceps, seus olhos colados ao


músculo antes de dar um apertozinho e se inclinar na minha
direção. “Pensei que poderíamos sair hoje à noite.”

“Tenho um compromisso”, minto.

“Na verdade”, Dani interrompe, “sua agenda está bastante


livre. Devo fazer reservas para vocês em algum lugar?”

Propositadamente dou um passo para trás e acerto o pé de


Dani.

Ela grita, em seguida, me empurra. “Então, onde você está


hospedada, Jo-Jo?”

“Oh...” Jo-Jo dá de ombros. “... espero que no Hotel de La


Lincoln.” Isto é seguido por um risinho meio brusco.

Sinto meu corpo inteiro ficar rígido de medo e partes de


minha anatomia ficam completamente flácidas.

“Uau”, Dani resmunga. “Ok, então. Só vou terminar o resto


das coisas em sua lista, em seguida, sairei do seu caminho, Linc.

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Ainda bem que você não vai ficar entediado agora, com Jo-Jo para
te fazer companhia.”

Maldição, ela me ouviu.

Dani se afasta. Eu a observo até que seu Converse


desaparece do meu ponto de vista, e então a porta do ginásio bate
atrás dela.

“Achei que ela não pudesse ouvir?”

Querido Deus, as pessoas realmente precisam aprender a


diferença entre mudez e surdez.

Eu me afasto de Jo-Jo. “Provavelmente devem estar


precisando de mim no set.”

“Oba! Eu vou assistir.” Ela enlaça seu braço no meu, e


contemplo brevemente remexer meu próprio braço para tentar
ficar livre.

Em vez disso, acabo dizendo, “Mal posso esperar”, no tom


mais seco, mais sarcástico que posso emitir, mas que para ela deve
ter sido uma declaração de amor eterna, uma vez que solta outro
grito e me puxa para mais perto.

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Rachel Van Dyken

VINTE E SEIS

Dani

“Vai com calma.” Zane afasta minha lata de Coca-Cola Zero


e senta no meu colo. Como diabos ele me encontrou na minha
varanda, e por que sempre insiste em invadir meu espaço pessoal?
Ugh, a primeira coisa amanhã, eu compraria uma pacote de
camisetas para ele.

“Uffff.” Empurro suas costas. “Por que é tão pesado?”

“Trabalho minha forma física”, ele brinca. “Além disso, não


vou sair até que me diga por que há duas latas vazias no lixo e
uma terceira aqui como se estivesse tentando se embebedar com
cafeína, adoçante e corante caramelo.”

“Sou muito entediante?” Pergunto, genuinamente curiosa


para saber se minha vida havia chegado a este ponto — de menina
festeira a garota tristonha num fim de festa.

“Todo o tempo”, diz ele sério. “Mas gosto de me torturar,


então fico com você de qualquer maneira.”

“Você não tem amigos”, aponto.

Ele abre a boca.

“E coelhinhos de marshmallow não contam. Já discutimos


isso!”

Ele sorri descaradamente. “Você não é engraçada.”

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Rachel Van Dyken

“Viu só!” Grito.

Revirando os olhos, Zane segura minhas mãos e dá um beijo


nelas. “Conheço você, o quê? Há três dias?”

“Parecem anos”, resmungo, pegando minha lata.

Ele golpeia minha mão do caminho e fica de pé.

“O que?” Olho para sua forma alta.

“Você sente falta do Lincoln, certo?”

“Não”, minto com minhas bochechas ficando quentes.

“Aqui vamos nós, Pinóquio.” Ele me ergue. “Noite na cidade.


Estamos invadindo qualquer que seja o encontro dos infernos que
Lincoln tenha ido e vou roubar a menina.”

“Jo-Jo?” Começo a rir. “Você não quer fazer isso, acredite em


mim.”

“Já tive encontros piores.” Zane passa as mãos pelo seu


cabelo escuro. “Confie em mim, Linc pode ser carne fresca, mas
sou carne mais fresca ainda. Logo, roubo a menina, e deixo você
ter um tempo com o cara.”

“Assim, ele pode o quê?” Sussurro. “Rejeitar-me outra vez?”

“A menina tem um ponto.” Zane bate em seu queixo. “Ou


poderíamos pegar sorvete no centro da cidade, dar uma
passadinha estratégica no restaurante, em seguida, ir para a cama
cedo como dois vencedores.”

Balanço a cabeça e rio. “Particularmente gosto da parte dos


vencedores.”

“Então, por que essa cara?” Zane dá de ombros.

“Talvez devêssemos acabar com isso. Seríamos bons juntos,


certo?”

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Rachel Van Dyken

“Acho que estou perdendo uma parte fundamental desta


conversa.” Zane abre a porta para a casa da varanda no andar de
cima. “Explique-me enquanto você procura seus sapatos?”

“Sexo.” Balanço a cabeça seriamente. “Nós dois somos


virgens, ou bem, tecnicamente você é, eu não sou, mas não é este
o ponto! A minha primeira vez foi horrível.”

“Diga isso mais alto.” Zane silencia-me com a mão. “É sério.”

“Talvez seja mais fácil. Basta acabar com isso.”

“Não.” Zane balança a cabeça. “Você está mesmo se


ouvindo? Eu nunca deveria ser o cara com quem você faria isso...”

“Mas...”

“E você é melhor do que isso. Nunca faria sexo com você. E


de nada por isso.”

“Eu não deveria me sentir insultada?”

“Não.” Ele suspira, jogando minhas sandálias no meu rosto.


“Se há uma coisa que aprendi é isso. Você deve saborear a vida.
Não deve saltar para ela e desejar que acabe logo, porque nunca
sabe quanto tempo ainda lhe será dado. Você nunca deve
simplesmente tentar acabar com alguma coisa — não importa o
quão assustador possa ser.”

Resmungo e puxo minhas sandálias. “Beleza.”

“Nossa, me lembre de nunca te dar conselhos sobre a vida.”

“Desculpa.” Faço uma careta. “Mau humor... muito


refrigerante...”

Ele estende a mão novamente. “É por isso que estamos


saindo esta noite para conseguir açúcar!”

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Rachel Van Dyken

Sorvete é uma boa ideia. Então, novamente, a maioria das


ideias de Zane são boas. Tenho uma suspeita estranha de que ele
realmente não tem muitos amigos. Raramente o vejo enviar
mensagens de texto a qualquer um, e quando pergunto sobre sua
família, ele se fecha como um cofre. É estranho, alguém tão famoso
realmente não ter ninguém. Fico imaginando se a razão dele odiar
ficar sozinho é porque se sente solitário.

Talvez por isso me sinta confortável em torno dele, ou tão


confortável quanto uma menina pode ficar em torno de uma
celebridade megaquente. Ele é tão fácil de conviver que acabo
esquecendo toda sua fama, o que quase causa um ataque cardíaco
precoce na loja de sorvete, onde uma das funcionárias começa a
chorar e realmente entrega seu sutiã a ele.

Sem diminuir o passo, Zane o pega, assina seu nome na alça


e o devolve, dando junto à menina uma gorjeta de vinte dólares, o
tempo todo a lembrando do meu pedido e dos marshmallows
extras no seu.

“Você nunca vai me contar?” Pergunto, cutucando-o no lado.


Ele se eleva sobre mim, então foi mais como se eu tivesse lhe dado
uma cotovelada no quadril.

Zane lambe o sorvete de baunilha como se estivesse fazendo


amor com a colher. “Sobre?”

“A coisa com marshmallow”, respondo, jogando meu copo no


lixo e limpando as mãos pegajosas no último dos guardanapos.

“Oh.” Zane assente ansiosamente.

Espero.

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Rachel Van Dyken

“Sem a menor chance.” Ele abre um sorriso e para de andar,


seu olhar viajando para o pátio ao ar livre do Crab Shack.

Jo-Jo está sentada sob o toldo girando uma bebida em suas


mãos, enquanto Lincoln parece prestes a saltar sobre a pequena
cerca de ferro forjado e sair em disparada.

“Ele não gosta dela. Nem um pouquinho.” Zane ri.

“Eu sei.” Rio também. “Mas ele merece.”

“O que?” Zane aponta com a colher. “Nenhum homem


merece.”

Lincoln joga as mãos para o ar, lança algumas notas sobre


a mesa, em seguida, deixa Jo-Jo fazendo beicinho no canto.
Xingando baixinho, ele quase bate de frente com outro cliente.

“Lincoln!” Zane grita.

“Traidor”, murmuro.

Lincoln dispara seu olhar em nossa direção, e seu rosto fica


de um vermelho furioso. “Ei.” Seus olhos vasculham meu corpo
antes que finalmente consiga dar a Zane um pequeno aceno de
cabeça.

“Ai.” Zane esfrega seu estômago. “Uau, devo ter comido


muito sorvete. Você pode levar Dani para casa?”

Não tenho tempo para matar Zane, porque assim que as


palavras saem de sua boca, ele já está caminhando para trás em
direção... não onde nosso carro está estacionado.

“Certo.” A voz rouca de Lincoln puxa algo no meu peito,


nossos olhos se encontram, e Zane é completamente esquecido.

“Até mais”, Zane chama.

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Olheiras contornam os olhos de Lincoln. Ele parece rude.


“Você quer...” Ele olha para o pôr do sol. “... você quer dar uma
caminhada?”

Balanço a cabeça.

Caminhamos em silêncio por um tempo, lado a lado, sem


tocar, mas o calor de seu corpo é uma coisa intensamente tangível,
estendendo a mão e me queimando com sua proximidade. Por que
não posso gostar de um cara como Zane?

Em vez disso, estou amaldiçoada a gostar de Lincoln.

“Ok, aqui está como isso vai funcionar.” Lincoln diz uma vez
que atingimos a beira da praia, onde a areia encontra o cimento.
“Vou lhe dar três segundos para correr. Então vou tirar meus
sapatos e sairei atrás de você.”

“Hm, o quê? Por quê?” Meu coração pula uma batida.

Ele volta seu olhar cinza sobre mim. “É uma metáfora.” Sua
voz baixa. “Quero correr atrás de você, Dani.”

Respiro fundo.

“Quero te capturar.”

“Isso é uma coisa tipo pega-pega?” Tento brincar, mas


minha voz está completamente ofegante, e a provocação ficou
aquém.

Não importa, porque ele me ignora. “Um.”

Apressadamente tiro minhas sandálias e começo a correr


enquanto o ouço gritar dois... então, três.

Não cheguei muito longe.

Até que ele está me levantando no ar e me afastando das


pessoas, levando-me em direção ao pôr do sol e... para o oceano.

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Rachel Van Dyken

Quando a água chega a seus pés, ele me coloca no chão e


inclina meu queixo em direção ao seu rosto, seus dedos roçando
meus lábios. “Pega.”

“Sim”, sussurro quando a água gelada atinge meus


tornozelos, “Acho que fui.”

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Rachel Van Dyken

VINTE E SETE

Lincoln

Eu a deslizo pelo meu corpo, sentindo-me bem pela primeira


vez em dois dias. Inferno, sinto-me mais do que bem.

“Portanto, agora que você está presa, não pode mais correr”,
sussurro, minha boca encontrando a dela em um beijo carinhoso.

“Você me machucou.” Dani se afasta.

Inclino-me querendo mais. “Eu sei.” Nossas testas se tocam.


“Mas não é porque não quero você. Pelo menos me deixe explicar
toda minha loucura.”

Ela morde o lábio inferior e dá um aceno firme.

Agarro sua mão e começo a andar com ela ao longo da costa.


“São duas semanas. Isso é quanto tempo te conheço, e embora
meu status de playboy não esteja exatamente... trabalhando a meu
favor quando se trata de você, quero fazer as coisas direito. Quero
levá-lo para sair, para um encontro antes de fazer sexo com você.”

Dani para de andar e olha para cima, levantando uma


sobrancelha sexy-como-pecado. “Apenas um encontro?”

“Você está perguntando por que está ansiosa ou porque


acha que vou sair em um único encontro para me fazer sentir
menos culpado e em seguida, encontrar a área escura mais
próxima para seduzi-la?”

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“Uhhh.” Suas bochechas ficam coradas em um rosa


brilhante.

“Mais do que um encontro”, respondo antes que ela possa


se envergonhar ainda mais. “Talvez três, quatro, dez... Quem sabe?
Posso até gostar de muitos encontros.”

“Uau! Você não sabe se gosta de encontros?” Dani solta


minha mão e olha para mim. Ela engasga. “Você nunca saiu para
um encontro antes?”

“Onde eu estava no controle de tudo?” Nego com minha


cabeça. “Não, você seria a primeira vez.”

“Qual o problema com vocês, celebridades?” Dani murmura.

“O que foi?” Pergunto, totalmente confuso.

“Nada.” Ela pega minha mão novamente. “Pensei que fosse


por causa da minha idade... tudo isso sobre não querer dormir
comigo, ou mesmo porque...” Ela suspira e para de andar
novamente. “... se eu parasse de falar novamente por algum
motivo qualquer, estaria te envergonhando.”

Puxo-a em meus braços. “Sério? Como você poderia pensar


uma coisa assim? Se você nunca mais falar, nem outro dia em sua
vida, ainda seria você, apenas menos vocal.” Beijo sua bochecha.
“Você nunca poderia me envergonhar.”

Dani sorri.

E não consigo evitar, tenho que beijá-la novamente. Faz


quarenta e oito horas, e já estou sedento para sentir seu gosto
outra vez.

Nossas bocas se encontram suavemente, e, em seguida, com


uma risada, eu a levanto no ar e a deito na areia, caindo com ela,
equilibrando meu peso nos cotovelos enquanto pairo sobre ela.
Areia está por toda parte, mas é a última coisa em minha mente
quando ela corresponde ao meu beijo.

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Rachel Van Dyken

Eu a absorvo, provo cada parte sua e egoisticamente só


quero mais, mesmo sabendo que é inteligente ir devagar, pelo
menos esperar até seu aniversário antes de transformar sua vida
para sempre, reivindicando-a na frente do mundo.

Ela quebra o beijo. “Também senti sua falta.”

Sorrindo contra sua boca, a beijo novamente, e quando a


brisa começa a nos deixar com frio, cubro-a com meu corpo e
continuou aquecendo-a com mais beijos até que minha boca está
inchada de fazer amor com a dela.

Meu telefone toca no bolso de trás, pela milionésima vez.

Finalmente, estou de volta em meus cotovelos e puxo o


aparelho. Algumas mensagens de textos de Demetri e Jay.

“Sua família.” Mostro a tela para Dani. “Eu deveria te levar


para casa antes que enviem um grupo de busca.”

“Ou...” Dani dá de ombros. “... você poderia me levar para a


sua.”

Congelo, meu corpo instantaneamente se prendendo a essa


ideia como se fosse a melhor coisa que já ouvi desde que descobri
o self-service de sorvete de iogurte.

“Jay me mataria.” No entanto, ainda estou discutindo


comigo mesmo sobre por que é uma boa ideia. Isso a manteria
longe de Zane.

“Provavelmente.” Dani ri quando se levanta e espana a areia


de seu jeans. “Ok, tudo bem. Me leve pra casa antes que Jaymeson
chame a polícia.”

“Tenho certeza de Zane disse a ele onde você está.”

Dani me lança um olhar. “Exatamente por isso. Além disso,


se a nossa imagem de alguma forma acabar saindo em todos os
meios de comunicação novamente...”

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Rachel Van Dyken

“Merda.” Esfrego os olhos, assim que percebo que minha


agente faria exatamente isso. “Dani, você precisa saber de algumas
coisas, e antes de surtar, deixe-me explicar.”

Seus olhos se estreitam em pequenas fendas.

“Minha publicitária queria que eu fingisse estar em um


relacionamento com você, porque ela acha que seria bom para
minha imagem. Eu a mandei ir se ferrar, e tenho certeza que ela
ainda está chateada com isso, mas a última coisa que quero é que
ela pense que estou te usando e que isso acabe se espalhando.
Você acha que podemos...” Tento pensar em uma maneira
cuidadosa de dizer minhas próximas palavras. “... não
necessariamente nos esconder, mas manter isso em segredo até
seu aniversário?”

As sobrancelhas de Dani se elevam. “Então, seremos amigos


secretos que se beijam?”

Solto o ar em alívio. “Exatamente.”

Ela concorda com a cabeça. “Tão perto, Linc, você estava


assim, muito, muito perto.”

“Perto?”

“Você não pode me beijar e em seguida, me pedir para


manter tudo em segredo. Ou estamos juntos ou não estamos.
Minha idade não deveria ter nada a ver com isso. Muita gente
namora apesar da diferença de idade. Você fica comigo agora, ou
não fica.”

“Ok, em primeiro lugar...” Pulo e fico de pé. “… você está


exagerando.”

Ela me encara.

“Em segundo lugar, eu entendo o porquê. Não é porque


tenho vergonha de você. É porque estou te protegendo. Há uma
grande diferença.”

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Ombros despencando, ela balança a cabeça. “Tudo bem,


mas se estamos fazendo esta coisa de amigos, faremos isso do jeito
completo. Nada de beijos, nada de mãos dadas, nada. Uma vez que
estivermos realmente namorando, você pode me beijar o quanto
quiser. Você pode até mesmo me perseguir pela areia de novo, mas
até então...” Ela estende a mão. Acho que ela quer que eu a sacuda.
“… amigos.”

Seguro sua mão na minha. É tão pequena e frágil. “Você


sabe que a última coisa que quero fazer é apertar sua mão.”

Ela concorda com a cabeça.

“Deixá-la nua parece uma opção melhor.”

Os olhos de Dani se arregalam.

“E é por isso...” Eu a puxo contra mim. “... que estou


tentando protegê-la. Porque você é jovem, inexperiente, bela e
pura. E tentar manter meus pensamentos apenas no bom caminho
pode acabar me matando.”

“Você está dizendo... que sou uma tentação?” Um sorriso


lascivo lentamente se espalha pelo seu rosto.

“Você não tem ideia.” Digo em uma voz rouca. “Mas com
certeza, sim. Amigos por duas semanas. Quão difícil pode ser?
Quer dizer, você e Zane são amigos.”

“Verdade.”

“Por que...” Engulo. “… vocês são amigos?”

“Ele é fácil de conversar e não me pede para mantê-lo em


segredo.”

“Golpe baixo.”

“Apenas dizendo.” Dani bate suas sandálias e começa a


caminhar de volta para o calçadão. “Além disso, é fácil ser amigo

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de alguém quando não está esperando que ele o beije. Embora...”


Seu rosto fica vermelho.

“Dani.” Paro de andar, meu sangue bombeando


furiosamente através do meu corpo. “Ele fez?” Não posso nem dizer
as palavras. “Será que ele te beijou? Tudo o que vi foi um abraço
bem próximo. Diga-me que foi apenas um abraço, Dani. Diga-me.”

“Veja.” Dani aponta para cima. “A lua.”

“Filho da puta!” Grito, chutando a areia com o meu pé


descalço. O efeito desejado de fazer o pontapé esfriar minha raiva
não funciona. Nem de longe. Então, chuto a areia novamente, em
seguida, começo a andar de um lado para o outro.

“Ele não pretendia”, diz Dani em uma voz entediada. “Acho


que em sua própria maneira distorcida, ele estava tentando me
ajudar.”

Paro de andar e a encaro. “Ao beijar você? Como diabos isso


ajudaria?”

O rosto de Dani explode em um sorriso brilhante. “Ele


conseguiu a sua atenção, certo?”

“Dani, me escute com muito cuidado.” Seguro seus ombros


com as mãos. “Você poderia usar camuflagem e se esconder nos
arbustos, e ainda teria toda a minha atenção. Não precisa muito,
acredite em mim.”

“Você está tentando ser romântico?”

Suspiro. “Lamento que o fato de Zane tê-la atacado tenha


me deixado meio fora dos eixos, mas sim, acho que romance era o
objetivo.”

“Não conseguiu alcançar isso, Linc”, ela brinca.

Suspirando, solto-a e, em seguida, pego sua mão, mas ela


se afasta.

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Rachel Van Dyken

“Não.” Dani suspira. “Amigos, lembra?”

Irritado, chuto a areia novamente enquanto andamos de


volta para o calçadão. “Posso vir a odiar essa palavra antes que o
tempo termine.”

“Esse é o meu presente de aniversário, então?” Dani


pergunta. Uma vez que chegamos ao calçadão, ela deixa cair suas
sandálias e chuta a areia delas.

“Um encontro?” Pergunto confuso.

“Ou você saindo do meu bolo de aniversário... cantando...”


Ela encolhe os ombros. “... sem camisa.”

Dou risada. “Posso muito bem montar em uma baleia... mas


cantar em público? Você não ia querer ver isso. O mundo não está
pronto para isso.”

“Você é tão ruim assim?”

Inclino-me como se estivesse indo beijá-la, parando diante


de seus lábios. “Na verdade, eu sou muito bom.”

“Só vou acreditar quando ouvir.” Ela cruza os braços.

“Acho que você vai ter que confiar em mim, amiga.”

Seus olhos se estreitam. “Vamos ver quanto tempo você


dura.”

“Mais velho”, acrescento, começando a andar ao lado dela “e


também mais maduro. Posso lidar com isso tranquilamente.”

“Certo.”

“Faça-me um favor?” Eu a levo para minha caminhonete


devagar, tentando aliviar o fato de que iria levá-la para casa
naquele veículo e torcendo pelo melhor. “Deixe a porta destrancada
esta noite para que eu possa entrar e sufocar Zane com um
travesseiro.”

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Rachel Van Dyken

“Não!” Ela começa a rir. “Ele é meu amigo!”

“E quando você diz amigo... isso é diferente do que quando


diz que sou seu amigo... certo?”

“Bem...” Dani hesita, mordendo o lábio inferior, enquanto


meu coração fica de joelhos. “Acho que você vai ter que descobrir.”

Mas que ideia idiota.

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Rachel Van Dyken

VINTE E OITO

Dani

“Pelo sorriso gigante em seu rosto, posso assumir que meu


plano funcionou”, Zane diz na manhã seguinte, enquanto se serve
de uma xícara de café e joga dois marshmallows por cima. Ele se
vira e estica o café acima de sua cabeça, seus músculos
abdominais basicamente dando um aceno de bom dia na minha
direção.

Já desisti de vê-lo vestindo alguma coisa além de calças pela


casa. Foi uma batalha fazê-lo vestir uma camisa para ir à loja, e
quem dirá no conforto real da minha casa, que agora ele chama de
sua casa. Parte de mim se pergunta se Jaymeson o adotou ou algo
assim.

“Sim.” Furto um marshmallow de cima de seu café e o coloco


na minha boca. “Funcionou. Mas ele quer ser amigo até depois do
meu aniversário.”

“Ha!” Zane bate na minha mão antes que eu possa chegar


ao seu café novamente. “Pobre Linc vai ficar em um mundo de dor.
Acho que eu deveria ajudá-lo enviando textos encorajadores como
‘Não existe ‘Eu’ na equipe, mas há um ‘Ei’ em beijo.’ Ou talvez...”
Zane fecha os olhos, em seguida, os abre bem arregalados. “‘Não é
o destino. É a devassidão da quente e suada, viagem’. Sim...” Ele
acena com a cabeça, e um sorriso de autossatisfação eleva um lado
de sua boca. “... gosto mais da última. Rápido, tire sua camisa
para que eu possa enviar algumas fotos sujas para ele junto com
estas mensagens.”

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Rachel Van Dyken

Reviro os olhos. “Sem chance.”

Ele faz beicinho. “Você não é engraçada.”

“Porque eu não quero tirar a camisa?”

“Um texto sujo por dia mantém o médico longe.”

“Tem certeza que você é virgem?”

“Eu sou virgem, não um padre.” Ele revira os olhos, em


seguida, vai para a despensa para pegar mais alguns
marshmallows.

“Zane...” Faço uma careta. “... talvez você devesse comer


algo diferente de açúcar no café da manhã.”

Sem seu olhar deixar o meu, ele joga mais três doces em sua
boca, mastigando devagar, engolindo em seco, depois abre um
sorriso. “Você estava dizendo?”

“Proteína?” Ofereço. “E se eu preparar uns ovos?”

“O homem não precisa de uma mulher para lhe fazer ovos.”


Ele bate em seu peito. “O homem faz sua própria comida!”

Espero que ele pare de bater no próprio peito, em seguida,


pego os ovos da geladeira e entrego a ele.

Ele olha para os ovos como se fossem frutos de um


alienígena, em seguida, olha para o fogão. “Afaste-se, mulher.
Estou caçando e colhendo aqui.”

Com uma risada, saio do seu caminho, em seguida, volto


para meu quarto para terminar de me arrumar.

Ainda tenho trinta minutos antes de precisar estar no set.


Pego um suéter porque na praia sempre tem uma brisa fria e passo
um pouco de gloss na boca.

Quando volto para a cozinha, Zane já colocou dois pratos


cheios de ovos, e de alguma forma matou um porco ou encontrou

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o bacon na geladeira e o fritou também. Dois copos de suco de


laranja estão arranjados em cima do balcão, e ele tem torradas
com manteiga.

“Você sabe...” Eu aponto. “… cozinhar?”

“O que faz você pensar que eu não saberia?” Ele me dá um


olhar de descrença. “Porra, é minha barriga que te distrai?”

“Você come marshmallows em todas as refeições”, digo,


exasperada. “Estive preocupada com sua alimentação durante três
dias!”

“Por favor.” Zane revira seus olhos lindos. “Só porque não
como quando você está por perto não significa que não como
nunca. Como eu poderia manter esta aparência? Dietas a base de
marshmallow não produzem músculos, garota da escola. As
escolas não ensinam mais nada?”

Ignorando-o, sento-me, pego um pedaço de pão, e quase


grito em protesto quando ele deixa cair um marshmallow sobre
meus ovos para “adicionar textura.”

“É sério.” Empurro o doce com meu garfo. “O que há com


você e essas coisas?”

Zane fica quieto ao meu lado, com o rosto pálido enquanto


olha para seu prato. Mandíbula rígida, ele agarra a bancada com
as duas mãos como se estivesse pensando em partir o granito no
meio. Então muito lentamente se vira e olha para mim. “Não falo
sobre isso.”

Nunca vi Zane parecer tão assombrado, tão sério. “Talvez


devesse.”

Ele hesita, olhando para seu prato brevemente antes de


dizer em voz rouca, “Eram os favoritos dela.”

Chego do outro lado da mesa e seguro sua mão. “De quem?”

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Seu corpo inteiro murcha enquanto me dá um leve aperto


na mão, antes de soltá-la e atacar seus ovos com fervor. Quando
termina, ainda está tenso.

Quero lhe perguntar quem é ela, o que havia acontecido,


mas já estou ficando atrasada e algo me diz que ele não está
prestes a se abrir e ter uma sessão de terapia com uma garota que
mal conhece.

“Vá.” Zane suspira e então me dá um sorriso feliz. “Vou ficar


bem aqui. Algum pedido especial para o jantar?”

“Você vai cozinhar para mim?”

“Bem, suponho que eu vá cozinhar para você e Linc,


considerando que ele provavelmente tenha ficado com vontade de
me matar ontem à noite.”

“Ele queria sufoca-lo com um travesseiro, na verdade.”

Ele me dispensa. “Detalhe.”

“Espaguete”, respondo.

“Meio bagunçado para uma refeição em um encontro, mas


tudo bem.”

“Não é um encontro”, corrijo. “Amigos, lembra?”

“Oh, eu realmente mal posso esperar, Dani.” Seu sorriso é


malvado quando corro para fora da porta e para o meu jipe.

Catorze dias não são nada. Sei que vai ser ótimo. Além disso,
o meu dia seria louco já que Jay perguntou se eu poderia ajudá-lo
também.

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“Dani!” Jaymeson grita meu nome no rádio. Durante a


última hora venho brincando com a ideia de jogar o irritante objeto
preto no oceano. Ser assistente de Jaymeson é pior do que ser de
Linc. Pelo menos Linc gosta de ordem... faz listas para tudo.
Jaymeson não sabe o que precisa, até precisar, e sempre tem que
ser naquele momento. Mas me chamar no rádio enquanto estou
usando o banheiro é o fundo do poço. Ele faz a merda de uma
contagem regressiva no rádio enquanto vou até seu trailer,
felizmente sem qualquer papel higiênico preso a minha sandália.

“O que?” Despejo ao entrar em seu trailer, apenas para vê-


lo calmamente comendo comida chinesa com pauzinhos e mal
conseguindo ingerir dois grãos de arroz por bocada.

“Estou com fome.” Ele reclama. “Comida chinesa é uma


porcaria, mas isso é tudo que Pris quer agora que está grávida.
Acho que é o sal, que faz muito mal para você, mas quando disse
isso para ela, seu rosto ficou muito vermelho, e senti medo
percorrer meu...” Ele faz uma careta. “Vamos apenas dizer calças.
Veja, estou aprendendo a me censurar quando se trata de você?
Muito bem para mim.”

“Oh, você está indo muito bem mesmo”, digo em uma voz
lacônica.

“Pergunta...” Ele levanta um pauzinho para o ar. “Quando


não estava falando, você apenas pensava todas essas coisas
sarcásticas?”

“Sim.”

“É bom dizer em voz alta, não é?”

“Você não faz ideia.” Suspiro. “Jay, ainda não peguei o


almoço para Linc, e ele realmente me paga um salário. Você precisa
de alguma coisa?”

Jaymeson franze a testa. “Eu comecei com isso... Estou com


fome.”

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Aponto para sua tigela de arroz. “Você tem comida.”

“Quero um hambúrguer!” Ele rosna. “Nada mais de arroz.


Arroz é para pessoas grávidas e sem paladar. Eu sou um homem.
Exijo carne.”

Conto até três, então, levanto as mãos no ar. “Tudo bem.


Vou fazer com que um hambúrguer e batatas fritas sejam
entregues no seu trailer, basta parar de me chamar a toda hora.
Eu também preciso comer, sabe.”

“Não.” Jaymeson baixa os pauzinhos na tigela e a coloca


sobre o balcão. “Se eu a mantiver ocupada o suficiente, você não
vai gastar tanto tempo com Lincoln, ou seja, ele manterá suas
mãos sujas longe de você.”

Um fusível queima de raiva se acende lentamente dentro de


mim. “E se eu quiser aquelas mão em mim?”

Jaymeson me dá um olhar aguçado. “E se…?” Seus ombros


curvam. “Maldição. Eu já estou me transformando em um pai.”

Solto uma expiração e sento ao lado dele. “Como descobriu?”

Jaymeson olha para cima, seus olhos brilhando com


lágrimas. “E se você parar de falar de novo? E se eu não puder
chegar até você? E se ele te machucar? Eu me preocupo com essas
coisas constantemente, como se eu já não estivesse no meu juízo
final, em termos de sanidade mental.”

Pego a mão de Jaymeson na minha. “Não se concentre nisso.


Eu tento não pensar nisso. Se eu pensar em não falar, quase posso
sentir o bloqueio chegando de novo, minha língua ficando pesada
na minha boca, começo a suar... pânico começa a tomar conta de
mim. Honestamente, tento não pensar sobre isso ou no que pode
ser um gatilho. Eu só quero viver. Você deveria fazer isso também.
Além disso, ele já me machucou, e eu ainda consegui usar palavras
após o fato. E eram bem mesquinhas também. Acho até que ele se
acovardou.”

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“Você gritou?” O olhar de Jaymeson fica esperançoso.

“Bem alto.” Concordo com a cabeça. “Um homem inteligente


teria buscado se proteger.”

“Mas ele não é inteligente.”

“Ele me beijou em vez disso.” Sorrio com a lembrança. “O


que foi provavelmente a melhor escolha, considerando que se ele
tivesse apenas ido embora, eu teria jogado meu sapato na cabeça
dele.”

“Esqueço o quão madura você é.” Jay sorri e me puxa para


um abraço de lado. “Tudo bem, vá ajudá-lo, mas, se ele lhe pedir...”
Suas bochechas ficam vermelhas e tosse em sua mão. “... você
sabe, aquele tipo de... ajuda, basta dizer não.”

“Oh, então quando ele pedir uma massagem, isso é um


código para sexo?”

“Sempre.” Jaymeson assente.

“E quando perguntar se quero tirar a minha camisa para


que ele possa ver como está a iluminação do seu trailer?”

“O QUE?” Jay salta da sua cadeira.

“Brincadeirinha.” Sorrio. “Ele nunca faria isso. Somos


amigos agora.” Cuspo a última palavra como veneno.

“Ok, certo.” Jaymeson rosna. “E eu sou uma garota de


escola, virgem. Duvido que esta coisa de amizade vá durar muito
tempo. Ele é homem.”

“Que tem nervos de aço e paciência igual.” Tento manter a


birra de fora da minha voz.

“Se ele não puder esperar por você”, Jaymeson sussurra,


puxando-me para outro abraço “então não te merece.”

“Obrigada, Jay.”

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“Agora...” Ele aperta meu corpo uma última vez. “... vá


buscar meu hambúrguer.”

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VINTE E NOVE

Lincoln

Nunca percebi como sou uma criatura de hábitos até que


Dani começou a trabalhar para mim. É meio embaraçoso dar-lhe
listas diárias de minhas manias estranhas que, até agora, nunca
percebi que eram estranhas.

Eu só queria minhas persianas abertas pela manhã. E tinha


que tê-las fechadas, me cobrindo de escuridão em torno das seis
da tarde, se ainda estivesse no set. O Today Show sempre tinha
que estar sintonizado e passando quando eu entrasse. E café tem
que estar disponível em todos os momentos.

Não é tão ruim, se você me perguntar, mas depois, a coisa


toda dos Skittles é o próximo item da lista. Preciso de Skittles em
todos os momentos. E se minha tigela, por algum motivo ficasse
vazia, eu acabo... em pânico. Ótimo, então Skittles é minha comida
de conforto.

Some a isso que bebo apenas duas marcas de água


engarrafada.

E tem o sabão em pó especial, e seriamente me sinto como


a porra de uma diva. Estou tentando reescrever minha lista para
ela para o dia seguinte, riscando coisas, tentando me fazer parecer
menos como um tirano e mais descontraído, quando ela invade
meu trailer com um saco de alimentos quentes, fumegando.

“Por favor”, digo em uma voz rouca, “que seja um


hambúrguer e batatas fritas!”

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Dani me dá um sorriso cansado e coloca o saco pardo sobre


a mesa. “Pode enlouquecer.” Em um acesso de raiva, ela se senta
no sofá e segura a cabeça entre as mãos. “Ei, se eu pedisse uma
pausa de trinta minutos, você me demitiria?”

“Você não fez nenhuma pausa durante todo o dia?” Olho


para o relógio na parede. “Dani, são quase duas horas da tarde.
Você começou a trabalhar as seis e ainda não parou de se mover
uma só vez.”

Ela solta um bocejo, tranquila. “Eu sei, mas Jay precisa de


mim hoje.”

“Repita isso?”

“Meu cunhado”, ela repete, “precisa de mim por que seu


assistente está doente ou algo assim.”

“O assistente de Jay não está doente!” Eu rio.

“Não?”

“Não. Porque o assistente de Jay não existe. Ele nunca teve


um assistente.”

“Não!” Dani deixa escapar um gemido de lamento. “Não, não,


não.” Ela dá um soco no sofá. “Então estou à disposição dele sem
qualquer razão aparente? Estava rezando para que seu assistente
tivesse uma recuperação milagrosa! Fiquei de joelhos, Linc!”

Começo a rir. “Parece que ele está tentando mantê-la muito


ocupada e cansada de mais para ficar comigo.”

Dani está encolhida no sofá e deita a cabeça na almofada,


colocando as mãos debaixo de sua bochecha. “Bem, ele conseguiu.
Estou exausta e com fome.”

Com um suspiro, abro o saco de batatas fritas e levo uma


aos lábios. “Coma.”

Ela abre a boca.

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E acaba comendo todo meu almoço.

Não que eu me importe. Alimentá-la é... uma coisa boa. Na


verdade, apenas tê-la perto de mim é muito bom. Isso me acalma
melhor do que qualquer yoga de merda ou álcool. Sua presença é
suficiente para deixar minha cabeça mais clara.

“Obrigada, Linc”, ela sussurra de olhos fechados. “Você não


tinha que me alimentar.”

“Mas eu quis.” Beijo sua testa, meus lábios se demorando,


formigando com a necessidade de prová-la, lamber o sal de seus
lábios, fazendo qualquer coisa além de me afastar e voltar ao
trabalho.

“Cochilinho?” Questiona, ainda de olhos fechados.

“Leve o tempo que precisar. Eu pago seu salário. Jay não.”


Beijo-a uma última vez e ando para fora do trailer, corpo dolorido,
coração apertado. Quando isso aconteceu? Como uma pequena
garota de dezessete anos de idade entrou tanto assim em minha
vida no curto espaço de duas semanas?

O pânico se estabelece quando percebo que só vou filmar por


mais dois meses, e então estarei fora de Seaside.

Volto a olhar para o trailer. Algo me diz que não ia acontecer,


e que Seaside estaria reivindicando mais um de Hollywood. Huh,
talvez haja algo na água deste lugar.

“Espaguete!” Fico olhando para o prato mais tarde naquela


noite. “Você cozinhou para nós?” Zane está atualmente sem
camisa, ostentando um avental rosa com cupcakes cor de rosa
estampados sobre ele.

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“Por que todo mundo supõe que não tenho habilidades


domésticas?” Zane pergunta em voz alta. “Isso é meio ofensivo.”

“Eu não sei, cara.” Olho para ele de cima a baixo em


hesitação, “Talvez sejam as tatuagens de crânio nos seus braços e
o nariz perfurado?”

“O que, essa coisa velha?” Zane aponta para a argola em seu


nariz e empilha uma porção de massas no prato de Pris que é o
dobro do tamanho do de Jaymeson. “Comendo por dois.”

É provavelmente a última refeição que qualquer um de nós


terá juntos antes que as filmagens terminem. O nosso calendário
será louco ao longo das próximas semanas, o que meio que
agradeço, considerando, que sempre que tenho algum tempo livre,
só quero ficar de pegação com Dani e roubá-la da sociedade.

“Obrigada, Zane.” Dani estende a mão e aperta a dele.

Faíscas de ciúme me atravessam quando olho suas mãos.


Sei que Zane não é o tipo que vai tentar seduzi-la para longe de
mim, mas ainda é Zane. O mesmo cara que, ao caminhar pela rua,
causou um ataque cardíaco em uma mulher idosa, em seguida, ao
perceber que ela não respirava, começou com compressões
torácicas e salvou sua vida. Ele já recebeu as chaves de uma
pequena cidade onde estava gravando.

É conhecido por sua beleza e talento, tanto quanto por suas


escapadas sexuais malucas. A última coisa que quero é um Zane
sem camisa andando pela casa.

“Então...” Jaymeson pigarreia. “... sei que todos os nossos


horários tem sido intensos, e as coisas estão prestes a ficar ainda
mais loucas com Pris grávida.”

Pris toca sua barriga ainda plana, radiante em minha


direção.

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“E com Zane precisando de algum tempo livre, pensamos


que faria sentido mantê-lo por aqui mais um pouco e ajudando.”

“Ajudando?” Semicerro os olhos. “O que? Uma babá?”

“Eu seria uma babá foda”, diz Zane com uma voz grave.
“Criei minhas irmãs. Literalmente.”

Ele tem irmãs?

Troco um olhar confuso com Dani, enquanto Jay continua


falando.

“Então, estamos estendendo a Zane um convite aberto para


ficar o tempo que quiser aqui conosco. Claro, você precisa
contribuir nas despesas, mas isso pode servir de inspiração para
seu novo álbum. Além disso, voltar para uma casa vazia em
Malibu...” A voz de Jay fica arrastada. “... não soa como a coisa
mais inspiradora que já ouvi.”

“Escalar o Everest”, eu o interrompo. “Aí está a sua maldita


inspiração.”

“Oh, já fiz isso...” Zane encontra meu olhar. “… duas vezes.”

“Prove.”

Ele prova.

Puxando seu telefone e mostrando toda uma galeria de fotos.


Dani está tão absorta que quase engasgo de mentirinha apenas
para conseguir sua atenção de volta.

Amigos. Eles são apenas amigos.

Como nós.

Merda.

Minhas mãos começam a suar.

Ele nunca disse que ela é muito jovem.

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Ele nunca a fez se sentir pequena e estúpida.

NÃO, porque a porra do Zane Andrews é um santo.

Merda. Dupla.

“Dani.” Digo o nome dela um pouco alto demais.

Todos os olhos se voltam para mim enquanto oficialmente


perco minha linha de pensamento. A única coisa em minha mente
é “Case comigo, vamos para Las Vegas, deixe todos os pensamentos
sobre Zane para trás antes que eu acabe matando o cara.”

“O que?” Ela se recosta contra mim.

Finalmente.

Zane sorri.

“Nada.” Suspiro beijando sua cabeça. “Desculpe, apenas


cansado.”

“Eu adoraria ficar.” Zane diz em voz alta. “Vocês são como
uma família e é sempre bom ter...” Ele olha para Dani como se ela
fosse uma sobremesa. “… amigos.”

“Festa do pijama.” Dani pisca para ele. “Perfeito.”

“A última foi minha favorita”, ele sussurra.

“Você está tendo festas do pijama com Zane?” Eu grito.


“Jaymeson, faça alguma coisa Ele é — ele é — ele...”

“É legal?” Pris conclui. “Dani ainda tem pesadelos, você


sabe.”

“Não.” Sinto-me estúpido e envergonhado. Não sabia disso.


E me sinto um idiota por estar com ciúmes, mas, principalmente,
sinto-me como uma bundão egoísta, porque quero ser o único
consolando-a, não Zane.

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“Você pode vir para a próxima”, diz Zane, cheio de olhares


sedutores vazios. “Prometo.”

“Vocês pintam as unhas dos pés?” Pergunto, tentando


aliviar o clima.

“Só as minhas.” Dani ri. “E as de Zane, quando ele cai no


sono.”

Zane revira os olhos. “Uma vez.”

Mas quantas festas do pijama do caralho eles já tiveram?

“Obrigado caras.” Zane olha para seu copo. “Pelo convite. Eu


realmente gosto daqui. Você estava certo, Jay.” Ele e Jaymeson
compartilham um olhar que não consigo decifrar e o rosto de
Jaymeson se suaviza, como se ele sentisse pena daquele
desgraçado.

“Feliz por recebê-lo, cara.” Sua voz até gagueja. Que diabos?

Volto a olhar para Zane, na esperança de conseguir alguma


pista para a mensagem subjacente que não está sendo dita em voz
alta, mas ele está de volta a colocar comida na sua boca, e fico me
perguntando se há mais naquele cara do que inicialmente
presumi.

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CAPÍTULO TRINTA

Lincoln

Os dez dias seguintes passam voando em um borrão. Mesmo


se eu quisesse seduzir Dani, não teria energia. Preciso de todas
minhas forças até mesmo para tomar banho à noite. Estou
trabalhando quatorze horas por dia, juntamente com Pris. A única
razão de eu comer é porque Dani é incrível e faz com que sempre
tenha lanches no meu trailer. Ela ainda trouxe da minha casa
alugada algumas mudas extras de roupas, junto com o essencial,
uma vez que parece estúpido voltar para a casa e dormir por uma
hora antes que eu tenha que estar de volta para a maquiagem.

A programação está me cansando, cansando a todos —


mesmo Jay, que raramente levanta a voz para os atores. A última
pessoa que esqueceu uma fala, o deixou em um silêncio completo,
o que significa que Jay está prestes a perder a cabeça.

O tempo não está cooperando, provavelmente porque


estamos filmando no outono o que deveria estar acontecendo no
verão. A temporada turística seria provavelmente muito cheia e
não podíamos corre o risco; além disso, seria basicamente
impossível bloquear parte das praias públicas para as filmagens, e
a última coisa que precisamos são adolescentes gravando com
seus celulares e vazando as filmagens.

Termino minha última fala com Pris. Seus olhos estão


cansados. Inferno, provavelmente é mais difícil para ela do que
para qualquer um. Ela pelo menos está grávida, enquanto a única

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desculpa de Jaymeson é que ele está tanto dirigindo quanto


contracenando.

“Corta”, Jaymeson diz em uma voz cansada. “Linc, para esta


próxima cena, pode se voltar mais para a câmera.” Viro meus pés
para a direita. “Pare, aí mesmo, ótimo, tudo bem, vamos fazer estas
mesmas falas.”

Começa a chover.

“Estamos filmando mesmo assim!” Jay grita quando a marca


é definida.

“Ação.”

“O que você quer que eu diga? Me escolha? Acima do meu


irmão?” Corro minhas mãos pelo cabelo; a chuva começa a jorrar,
a água escorre de minhas pálpebras pelo meu rosto enquanto Pris
segura meu pulso.

“Por favor”, ela implora. “Não me faça escolher. Não posso.


Eu te amo tanto.”

“Besteira!” Grito, afastando-me dela. “Isso é impossível, e é


doente. Merda, é como se o passado estivesse se repetindo.” Viro
em direção à câmera, meus olhos encontrando os de Dani quando
ela entrega a Jay uma garrafa de água.

“O passado?” Pris coloca a mão no meu ombro. “Fale comigo.


O que quer dizer?”

Bufo em desgosto. “Você deve perguntar a meu irmão.”

Minha camisa está grudada ao meu corpo como uma


segunda pele quando aperto meus punhos e entrego a última das
minhas falas, sem tirar os olhos de Dani.

“Eu te amo. Não que meu amor signifique alguma coisa. Não
quando você o compara ao dele, mas...” Minha voz se quebra. “…
Eu te amo.”

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“Corta”, Jaymeson diz baixo.

O set inteiro fica em silêncio.

Não tenho certeza se isso é uma coisa boa ou ruim. Poderia


realmente ser qualquer um dos dois. Felizmente, pende para o lado
bom quando Jay se levanta, bate palma duas vezes, e acena com
a cabeça em aprovação. “Bom trabalho, Linc. Isso foi brilhante.
Muito, muito brilhante.”

“Obrigado.” Minhas emoções estão a flor da pele. Estou


exausto, Excesso de trabalho, todo molhado, e eu quero — ou
melhor, preciso de Dani.

Ela me olha de cima a baixo, seu olhar faminto me


devorando.

E perco toda a capacidade de ficar longe. Quando seus olhos


estão fixos nos meus, eu apenas ajo. Não há outra maneira de
explicar. O sangue sobe por minhas veias, e meus olhos se
esforçam para tomar sua beleza enquanto seus olhos semicerrados
quase estão fechados. Seu corpo, mesmo de tão longe, posso dizer
que entra em erupção, ficando arrepiado da cabeça aos pés. Sua
parte superior da blusa branca está encharcada; um sutiã rosa
está aparecendo, provocando-me até que estou fora de controle.

“Já volto”, grito para quem quiser ouvir enquanto piso duro
em direção a Dani, agarrando-a pelo pulso e puxando-a atrás de
mim. Ando entre uma série de trailers até que sei que estamos
sozinhos.

Olho para a esquerda e depois para a direita.

“Linc, o que você...?”

“Que se foda a amizade”, rosno antes de lançar minha boca


contra a dela em um beijo áspero, desesperado. Chuva atinge
nossos corpos enquanto chupo seus lábios, lambo e inclino minha

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cabeça para poder sentir melhor seu gosto — conseguir mais dela.
Eu só quero mais, caramba.

Dani coloca os braços em volta do meu pescoço,


entrelaçando seus dedos e me puxando mais para perto de seu
pequeno corpo. Ainda não estou perto o suficiente. Cada beijo
torna-se não mais do que uma provocação. Agarro sua camisa com
a minha mão, torcendo-a para puxá-la para mais próximo,
expondo sua pele. Minha mão encontra sua carne quente, e faço o
impensável, algo de que nunca fui acusado na minha vida.
Simplesmente jogo qualquer regra sobre demonstrações públicas
de afeto para longe e tento remover sua camisa.

Em um estacionamento.

Claramente, ela não está prestes a me parar, do jeito como


balança seu corpo contra mim. Ela pode ser jovem, possivelmente
inocente, mas compensa isso com entusiasmo e maldição, esse
entusiasmo vai me matar.

Interrompo o beijo, e dou um passo para trás, o peito


arfando.

Dani se aproxima de mim, assim que estendo a mão para


ela novamente.

Minha boca está de volta na dela em um instante, clamando


por seu sabor, implorando por qualquer tipo de liberação que
possa me dar.

“Bem, bem, bem.” Uma voz masculina ri ao longe. “Eu


certamente não beijo meus amigos assim.”

Lentamente, me afasto um pouquinho de Dani e olho para


minha esquerda, onde Zane está de pé, segurando uma caixa de
donuts e um café. “Achei que Dani poderia precisar de uma pausa,
mas acho que ela vai gostar da pausa que você está lhe
proporcionando do que da minha.”

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“Isso mesmo”, murmuro.

“Brilho labial.” Zane aponta para minha boca. “Está meio


rosado logo no canto. Fora isso, eu nunca saberia que você estava
se atracando com a irmã de Jaymeson.”

Eu o encaro.

“Entre dois trailers.” Ele sorri. “Em plena luz do dia.”

“Eu sei que horas são”, respondo de forma grosseira. “Você


não pode ser charmoso em outro lugar?”

“Claro.” Zane assente. “Sou como a boa fada madrinha,


apenas acenando com minha varinha...” Ele pisca para Dani. “…
por todo o lugar.”

“Mantenha sua varinha em suas calças, seu bastardo”,


rosno.

“Ei, Dani, já é seu aniversário?” Zane me ignora. “Porque,


pelos meus cálculos, ainda faltam três dias.”

Dani pega minha mão, em seguida, dá um aperto. “Três dias


parece correto.”

“Hmm.” Zane não se mexe nem um centímetro.

Revirando os olhos, pego os donuts de suas mãos, assim


como o café. “Você pode ir agora.”

“Desculpa.” Zane dá de ombros, sem parecer nem um pouco


arrependido. “Mas eu acabei de me nomear dama de companhia.”

“Bom, porque acabei de me inscrever para a tarefa de bater


em você.”

“Você os encontrou?” Jay vem dobrando a esquina. “Graças


a Deus, pensei que minha estrela de cinema havia se afogado ou
algo assim. Precisamos de você no set. Vamos refilmar a última

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cena mais uma vez em um ângulo diferente.” Jay me dá um olhar


aguçado. “Tipo, agora mesmo. Hoje.”

“Vá embora agora, Linc. Eu continuo daqui.” Zane pisca.

Amaldiçoando baixinho, puxo Dani para um beijo casto na


bochecha, em seguida, sussurro, “Deixe sua janela aberta esta
noite, Rapunzel. Eu vou subir.”

Suas bochechas ficam rosadas, mas ela me dá um aceno de


afirmação antes de eu saiu, deixando-a mais uma vez nas garras
de Saint.

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CAPÍTULO TRINTA E UM

Dani

Ele não veio ainda.

Não é como se tivesse especificado um horário para escalar


minha calha, mas achei que seria antes da meia-noite. Já são 0:05.
Com um suspiro, me viro para desligar a lâmpada de cabeceira
quando uma pequena pedra acerta ruidosamente contra minha
janela. Tonta, pulo da cama, corro para a janela e a abro.

Lá está ele, olhando para a janela, cara sexy e brilhante sob


o luar. Fique calmo meu coração, meu pulso, meu corpo... droga,
acalme-se por completo. Ele é tão lindo que chega a ser injusto.
“Olá, Romeu.” Eu rio. “O que o traz para minha janela tão tarde?”

“Estava torcendo para ter sorte.” Linc pisca.

Começo a fechar minha janela.

“Brincadeira!” ele grita. “É uma piada!”

Coloco minha cabeça para fora e entorto meu dedo. “Você


não vai subir?”

Linc está vestindo um moletom preto com capuz; ele puxa o


capuz sobre o rosto e enfia as mãos nos bolsos. “Na verdade, estava
esperando que você pudesse descer.”

“É meia-noite!”

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“Na verdade...” Ele olha para o relógio. “... são quase 0:08,
mas quem está controlando?”

Eu estou. Embaraçoso o suficiente. “Por que preciso descer


até aí? No frio?”

“Fiz uma fogueira.”

“Você é de LA, então quando diz que fez uma fogueira,


precisa entender que suponho que você contratou alguém para
cavar um buraco, jogar lenha nele, e acender um fósforo.”

“Eu sou um cara. Brincar com fósforos está basicamente


junto com aprender a fazer o símbolo de arma com a mão.”

Ele tem um ponto.

“Então?” Ele levanta seus braços abertos. “Não me deixe


aqui esperando. Além disso, tenho uma surpresa.”

“Mesmo?”

“Você nunca saberá a menos que desça até aqui.”

Mordo meu lábio inferior. Jaymeson me mataria se eu fosse


pega com Lincoln, especialmente porque ele me avisou naquela
mesma noite para manter distância, e quando perguntei o motivo,
ele disse, “Porque eu disse que sim, é por isso.”

É como se, literalmente, meu pai estivesse possuindo o


corpo de Jaymeson. Ele até usou sua voz de pai e saiu pisando
duro como se fosse minha culpa que estivesse ficando com os
cabelos grisalhos ou algo assim.

“Tudo bem”, falo de volta. “Dê-me alguns minutos.”

Visto um jeans skinny e uma camiseta, puxo meu cabelo


para trás em um rabo de cavalo, e escondo os cabelos loiros sob
um boné dos Yankees. Eu descobri como fazer para escapar no
mesmo dia que me mudei para lá; então não foi difícil. Cada andar
possui sacada com escadas, então tudo que tenho que fazer é

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chegar até a varanda, um salto de mais ou menos um metro e já


estou descendo as escadas e nos braços de Lincoln.

“Ooof!” Ele solta uma maldição quando o agarro com força


para um abraço apertado. “Não estava esperando que você tivesse
uma pegada destas.”

“Sou mais forte do que pareço.”

Ele para, cobrindo meu rosto com as mãos. “Sim, realmente


é.”

“Então...” Limpo a garganta para não focar na maneira terna


que ele está olhando para mim, ou na forma como meu coração
está dando cambalhotas no meu peito. “... onde está minha
surpresa?”

“Siga-me.” Ele agarra minha mão e me leva até os penhascos


rochosos que se alinham na praia. Cuidadosamente encontramos
a trilha principal, e o som do oceano fica mais alto a cada passo.

“Isso...” Lincoln para em frente a uma fogueira gigante,


complementada com duas cadeiras de jardim, cobertores
suficientes para nos manter aquecidos durante uma tempestade
de neve, e o que parecem ser lanches com uma garrafa térmica ou
de café ou de chocolate quente.

Começo a me mover na direção do acampamento, mas ele


me puxa de volta. “Não tão rápido.”

“O que? Por quê?”

“Nós nunca comemoramos, você sabe.” Sua voz é quase um


sussurro. O oceano ameaça se sobrepor a ela. “Você estar falando,
ser capaz de falar em vez de ter que mandar mensagens de texto
para tudo. Ninguém falou sobre isso. É quase como se você tivesse
falando o tempo todo, mas sinto que momentos como esse
merecem ser mencionados, merecem ser comemorados. Portanto,
esta noite... vamos celebrar.”

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Rachel Van Dyken

Lágrimas brotam nos meus olhos, porque ele acertou um


ponto vulnerável que eu vinha empurrando para trás em meu
subconsciente, ignorando, porque prestar atenção a isso me deixa
apavorada com a preocupação de que possa voltar, só que pior
neste momento.

“O-obrigada...” Seguro um soluço. “... por fazer isso.”

“E...” Linc enfia a mão no bolso e tira um colar. “... como


marcos supostamente devem ser lembrados, eu mandei fazer isso.”

É um pequeno colar de elos dourados com uma pequena


placa na frente. Gravada nela, a data em que comecei a falar
novamente.

“Não acredito que você fez isso.” Pego o colar; é pesado em


minhas mãos. Caramba, deve ser de ouro mesmo. Nenhum cara
nunca me deu um presente antes. “É lindo.”

“Sim, bem, eu o ganhei em um parque de diversões no


centro, e sabe? Tinha justamente a data que eu estava
procurando.” Ele pisca. Amo isso nele, sua capacidade de produzir
luz de algo que não tinha sido nada além de escuridão por tanto
tempo, que era até difícil lembrar que a luz chegou a existir em
algum momento. “Quer me ajudar a coloca-lo?”

Balançando a cabeça, lhe entrego o colar e viro enquanto ele


lentamente o fecha e em seguida, beija meu pescoço nu. “Perfeito.”

Ele é perfeito.

Ou bem perto disso.

“Então, o que temos no menu?”

“Oh aquilo?” Ele aponta para a vasilha. “Álcool, para que eu


possa te deixar bêbada para conseguir alguma coisa com você.”

Reviro os olhos.

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Rachel Van Dyken

“Ou...” Ele assente. “... chocolate quente, embora eles


estivessem completamente zerados de marshmallows na loja.”

Sorrio para mim mesma. “Sim, eu acho que sei o porquê.”

“Ele tem boa aparência, tenho que concordar...” Linc começa


a servir o chocolate quente em dois copos. “... mas é estranho, não
acha?”

“Eh, todos nós temos nossas manias. Você tem Skittles. Ele
tem marshmallows.”

“Ter uma obsessão doce é completamente normal”, diz ele


defensivamente.

“É tudo açúcar. Tudo estranho.” Pego minha caneca de suas


mãos e tomo um gole. “Hmm, caseiro?”

“Sim, eu me esforcei sobre um fogão, fervi água e acrescentei


aqueles pequenos pacotes pré-preparados, em seguida tive que
agitar. Sangue, suor e lágrimas, querida.”

“Posso ver.” Balanço a cabeça seriamente enquanto tento


evitar o sorriso do meu rosto.

Ele levanta a mão. “Um corte de papel para provar o meu


valor.”

“Ah”, agarro sua mão estendida e dou um beijinho.


“Melhor?”

“Sempre.” Seus olhos brilham, e acho que ele vai me beijar.


Em vez disso, olha para o fogo e solta minha mão. “Então, como
estão as coisas?”

“Conversa fiada?”

“Sim.” Ele toma um gole de chocolate quente.

“Mesmo?” Estou um pouco surpresa que ele já não estivesse


me beijando e dizendo-me todas as razões pelas quais não

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Rachel Van Dyken

deveríamos estar juntos, mas que torna impossível estarmos


separados.

“Os amigos conversam... e amigos que se beijam... bem, eles


precisam preencher o tempo com algo diferente do que beijar para
que assim a amizade não se transforme em outra coisa antes que
um ou ambos estejam prontos.” Parece que ele está dizendo aquilo
mais para seu próprio bem que o meu.

“Estou pronta.”

“Você não está.” Ele franze a testa, olhando para o fogo.


“Então, vou perguntar de novo. Como estão as coisas?”

“As coisas estão bem.” Balanço a cabeça, tentando jogar


junto. Sempre fui ruim com conversa fiada, especialmente após o
acidente, quando as palavras eram muito mais do que coisas que
você joga para o cosmos apenas para ouvir-se falar. Palavras têm
significado; detém poder.

“Você hesitou.” Quando olho para cima, Linc está tentando


ver dentro de mim.

Coloco meu cabelo atrás da orelha. “Será?”

“Eu realmente quero saber.”

Deixo escapar uma lufada de ar. “As coisas estão bem,


exceto quando vou dormir. Então, não está nada bem.” Só de
pensar no pesadelo de ontem à noite, sobre o acidente, me faz
tremer outra vez. Desta vez eu estava no banco do motorista, e a
culpa de atingir a outra caminhonete foi minha.

“Como assim?” Ele chega mais perto de mim, então, como


se desistindo, me puxa para o seu colo e nos cobre com um
cobertor.

Eu me aconchego em seu peito, sentindo-me mais segura


em seus braços do que já me senti com Elliot. “Vou para a cama
feliz por ter falado durante todo o dia, aliviada pois quando a velha

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Rachel Van Dyken

senhora na faixa de pedestres me perguntou que horas eram, eu


não surtei completamente e, em seguida, quando fecho meus
olhos, é como se eu vivenciasse o acidente tudo de novo ou...”
engulo em seco. “... tento falar com você e falho, e você vai embora.”

“Se eu fosse embora, já teria ido”, Lincoln diz simplesmente.


“Estou aqui. Bem. Aqui.” Seus braços me seguram com mais força.
“Sobre a coisa de não falar, acho que é normal ter esse medo. Faz
sentido para mim. Você literalmente começou a falar de novo, e
está com medo de isso seja tirado de novo, roubado.”

Assim como meus pais foram.

Mas não expresso isso.

Ele fica tenso debaixo de mim como se estivesse lendo meus


pensamentos. Talvez com Linc eu não tenha necessidade de
expressar coisas assim, porque ele me conhece bem o suficiente
para saber o que está passando pela minha cabeça, o que é certo,
parece loucura, considerando que só nos conhecemos há umas
três semanas. Mas ele é uma dessas pessoas, o tipo que tem uma
influência magnética e familiar que te deixa impotente para
continuar sendo uma desconhecida por mais de vinte e quatro
horas.

“Você nunca vai ser capaz de seguir em frente”, ele sussurra,


“até que pare de olhar para trás.” Seus lábios roçam meu pescoço.
“Sabe disso, certo?”

“É por experiência de vida que está falando... ou apenas


sabedoria, porque você é velho?”

Sua risada vibra contra minhas costas. “Só me prometa que


não vai me colocar em um asilo no meu vigésimo segundo
aniversário...”

“Que droga! Sabia que deveria ter escondido aqueles folhetos


de Seaside Manor!”

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Rachel Van Dyken

“Muito engraçada.” Linc me beija suavemente no lado direito


do meu pescoço; os lábios permanecendo sobre minha pulsação.
“E estou falando, por... experiência.”

Inclino a cabeça e olho para ele, levantando as sobrancelhas.

“Por que, Lincoln, o que você quer dizer?” Diz ele em um


falsete ridículo que deveria representar a minha voz. “Conte-me
seus segredos mais profundos e obscuros.”

Reviro os olhos.

“Você estava pensando isso. Apenas expressei em voz alta


para você.” Ele sorri enquanto fico mais confortável em seu abraço,
mantendo seu rosto à vista. “Às vezes parece estúpido
compartilhar minha história, como se não fosse trágica o suficiente
para ser importante para ninguém além do garoto de nove anos
que conviveu com ela, sabe?”

“Sim.” Brinco com um fio do cobertor, torcendo-o em meus


dedos até minha circulação começar a ser cortada. “Ainda me sinto
assim. Quero dizer, meus pais morreram, mas pelo menos eu tive
pais.”

Linc resmunga. “Alguns dias, eu queria que meus pais


sofressem um acidente. Pelo menos um que fosse ruim o suficiente
para que minha avó tivesse que vir cuidar de nós, ou melhor ainda,
que nos obrigasse a ficar com ela.” Ele parece enojado consigo
mesmo. “É horrível, admitir isso em voz alta. Confessar que
minhas orações à noite foram para que meus pais não voltassem
para casa, enquanto suas orações eram para que eles voltassem
para casa ilesos. Distorcido de um jeito bem doentio.”

Meu corpo fica tenso; não posso evitar. “Será que eles te
machucavam?”

O olhar de Linc não encontra o meu. Ele olha para o fogo


enquanto fala. Talvez as lembranças sejam muito dolorosas; talvez
estivesse com medo de que se eu olhasse em seus olhos fosse fugir

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ou ver demais. “Nossa pele não foi marcada por abuso físico. Mas
nossas almas, bem, isso era uma coisa totalmente diferente. É
triste quando você estraga seus filhos tanto por dentro, que eles
gostariam que você apenas os quebrasse por fora para que
pudessem ao menos explicar para seus professores ou outros
membros da família o quão ruim é. Mas sendo uma criança, é
sempre a sua palavra contra a dos adultos, e sem contusões, sem
cicatrizes... quem vai acreditar? Não posso nem contar quantas
vezes meus pais disseram para nós, ‘Quem vai acreditar em
vocês?’”

Sentindo-me mal do estômago, quase não quero perguntar.


Mas Linc continua falando, e pela primeira vez, é bom ouvir sobre
a dor de outra pessoa, não porque faz a minha doer menos, mas
porque estou tendo a honra de compartilhar aquilo com ele. Dor
reconhece a dor, e a sua é de repente tão evidente em seu rosto
que meu coração ameaça se partir. Eu realmente fui tão cega?
Aquilo está tão embrulhado dentro de mim que nem mesmo sou
mais capaz de reconhecer quando alguém está lutando? Melhor
ainda, quando alguém está preso no mesmo poço que eu e está
desesperadamente tentando escalar para fora?

“Não era ruim no começo. Quando eu era pequeno, eles


compravam meu amor. Quando cresci, percebi que ter sempre a
mais recente tecnologia era um substituto de baixa qualidade para
um abraço de mãe. Ainda me lembro de lhe pedir um abraço, o
olhar em seu rosto. Droga, podia muito bem ter pedido a ela um
animal de estimação alienígena. Ela riu e me disse que apenas
bons garotos ganham abraços. Perguntei-lhe como eu poderia ser
um bom menino, um menino melhor, e sabe o que ela disse?”

Balanço minha cabeça.

“Descubra sozinho.”

Suspiro.

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“Eu tinha cinco anos, e como dinheiro era uma coisa tão
grande em nossa casa, percebi que a melhor coisa a fazer, para ser
um bom menino, seria ganhar meu sustento. Comecei a fazer
tarefas em casa, consegui um emprego de entregador de jornais, e
para o aniversário da minha mãe, comprei o colar mais caro que
pude encontrar. Eu até convenci minha irmã a juntar o dinheiro
dela ao meu para que pudéssemos fazer uma surpresa. No dia do
aniversário da minha mãe, corremos para seu quarto, tão
animados para lhe dar o presente, apenas para descobrirmos
nossa mãe na cama com outro homem e outra mulher. Meu pai
estava viajando a negócios.”

Cubro o rosto com as mãos. “O que você fez?”

“Bem, ela gritou...” Linc se encolhe como se pudesse ouvir


tudo de novo. “... e nos disse para dar o fora, o que fizemos. Mais
tarde naquela manhã, quando finalmente estava sóbria o
suficiente para falar conosco sem gritar, nós lhe demos o presente,
e ela o jogou no lixo.” Sua voz está tremendo. “Meus pais... são
ambos, muito possivelmente, os seres humanos mais egoístas da
história de LA, e isso é dizer muito. Se não fosse por meus avós,
eu provavelmente seria como eles. Como é, minha irmã, bem, ela
puxou minha mãe, enquanto eu gosto de pensar que saí ao meu
avô.”

“Linc...” Minha voz é pesada, emocionada. “... não posso


imaginar uma mãe tratar seu filho assim. Quero dizer, por que ter
filhos?”

“Dedução de imposto?” ele sugere, em tom de brincadeira.


“Perguntei a minha avó, e ela disse que era uma coisa de
competição. Ter filhos é sobre manter as aparências, mostrar a
todos como perfeito e rico você é.”

“Linc, sem ofensa, mas sua mãe deveria levar um tiro.”

“Ha.” Ele abaixa a cabeça, em seguida, olha para mim com


o canto dos olhos. “Provavelmente. Então, novamente, ela

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provavelmente sobreviveria e de alguma forma conseguiria alguma


medalha em sua homenagem por passar por uma provação tão
difícil. Se alguma coisa, isso a tornaria mais popular em seu
círculo de amigos, e é a última coisa que este mundo precisa — o
egoísmo dela espalhando seus tentáculos feios em toda a
sociedade, sufocando a vida de mais pessoas que acabem apenas
sendo tocadas por seu veneno.”

Fico em silêncio.

“Desculpa.” Ele pragueja. “Isso foi desnecessário. Não


importa quão horrível uma pessoa seja, não tem desculpa para
colocá-la para baixo. Isso me faz igual a ela, e a última coisa que
eu quero é acabar sendo associado a um monstro.”

“Por que virar um ator?” Pergunto depois de alguns minutos.


“Quer dizer, não me interprete mal. Você é realmente bom nisso.”

“Lembre-me de autografar seu sutiã mais tarde”, brinca.

Sorrio. “Bem, se eu estivesse usando um...” Paro de falar. De


onde veio isso?

Todo o corpo de Lincoln fica tenso. “Você está tentando me


matar?” Xingando, ele me ajeita em seu colo. “Brinquei com fogo
tempo suficiente, Dani. Basta lembrar que te avisei.”

“Sinto muito.”

“Não, você não sente”, ele rosna, “mas para seu benefício,
vou continuar falando sobre mim para que não pense em você ou
sobre seu... sutiã.” Ele limpa a garganta. “Então, virar ator...”

“Sim.” Eu me inclino contra seu peito enquanto ele passa os


braços apertados em volta do meu corpo. O calor do fogo é nada
comparado ao calor que emana dele. É o suficiente para me deixar
pegando fogo — da melhor maneira possível. Eu só li sobre este
tipo de sentimento ou visto isso na TV, e, muito honestamente,
nunca pensei que o experimentaria de uma forma tão real, mas lá

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estou eu, sentada no colo de Lincoln Greene na frente de uma


fogueira, sonhando com um futuro, pensando em um futuro pela
primeira vez em meses. É tão bom; Quero viver naquele momento
para sempre. Como está, sei que vou valorizá-lo ainda mais.

“Meus avós finalmente perceberam a insanidade dos meus


pais, mas sabiam que se viessem para cima deles, tudo acabaria
de forma que não poderiam mais vir nos visitar. Então
basicamente, nossos avós nos matriculavam em todos os
acampamentos de verão que se pudesse imaginar. Quando eu
tinha sete anos, fiz um desses acampamentos locais de teatro.
Imediatamente um agente colocou seu olhos em mim, e
estupidamente contatou minha mãe, o que fez aparecer estrelas
no olhos dela, de um jeito que você não acreditaria.” Linc suspira.
“A boa notícia é que realmente gostei do escape. Atuar é uma
espécie de leitura. Por um breve momento no tempo, você pode ser
outra pessoa. Você pode sentir a dor deles ou livrar-se da sua. Você
experimenta a vida de uma maneira completamente diferente e
esta foi minha terapia”, admite. “Ainda é.”

“E os seus pais?” Não consigo evitar e acabo perguntando.


“O que eles pensam sobre isso?”

“Ah, meus pais.” O tom de Linc é amargo, distante. “Eles


adoraram, porra. De repente, eu tinha toda a atenção que nunca
havia recebido, e que sempre pedi para ter. Em poucos anos estava
fazendo mais dinheiro do que meus pais juntos, e isso quer dizer
muito. Vamos apenas dizer que Angelica rapidamente aprendeu
que esta seria a maneira mais fácil de conseguir atenção e resolveu
fazer a mesma coisa. Então essa é a nossa história de Cinderela
sobre como começamos na indústria do entretenimento.” Como se
preso em uma memória, sua voz assume um som distante. “Acho
que é por isso que Angelica age desse jeito agora. Qualquer atenção
ainda é atenção, sabe?”

“Uau.” Penso em suas palavras, hesitando em lhe pedir para


contra mais, desde que pela sua linguagem corporal rígida, posso

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sentir que falar de sua família é um assunto delicado, por uma boa
razão também. “Estou feliz.” Mantenho minha voz calma, calma,
embora meu coração estivesse partido por ele. Odeio pena. Imagino
que ele também odeie. Quando você está recebendo coisas desse
tipo por tanto tempo, percebe o quanto isso é ruim, o quanto
realmente quer que alguém diga “Uau, isso é uma merda” e siga em
frente. “Não importa como começou a atuar, é sua vocação. Então,
realmente, se seus pais não fossem tão loucos...”

“Eu não estaria sentado aqui. Na frente do fogo. Com a


garota mais bonita do mundo.”

“Colocando-o de um jeito meio exagerado”, murmuro.

Lincoln me desloca para que eu possa olhar para ele


novamente. O contorno do seu rosto é sedutor à luz do fogo
bruxuleante, seus lábios carnudos tão perto dos meus que fico
ansiando por experimentá-los. “Não é uma fala decorada, Dani.”

Envergonhada, tento me esconder em seu peito, mas ele


segura meu queixo com a mão, inclinando meu rosto para cima.
“Você é absolutamente maravilhosa.”

“Oh...” Engulo meu nervosismo. “... então foi isso que te


atraiu? E eu aqui pensando que foi minha incapacidade de falar.”

“Já tive mulheres choronas o suficiente para uma vida toda.”


Ele ri suavemente. “Então, se você nunca parar de falar de novo,
sei que vou ficar bem.”

“Você está me chamando de chorona?”

“Eu nunca a acusaria disso.” Ele sorri, seus dentes brancos


brilhando na escuridão. Estou em um empate entre queimar por
causa do fogo ou por causa da maneira como ele olha para mim
como se quisesse dizer cada palavra que dizia. “Além disso, você é
mais uma negociadora.”

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Balançando a cabeça, deixo escapar uma risada fraca.


“Estou bem com isso.”

Ambos ficamos em silêncio. Meu corpo se inclina na direção


dele, e sua boca desce para a minha.

“Eu não quero mais ser seu amigo”, ele sussurra, seus lábios
roçando contra os meus. “Mas meio que me sinto como um fracote,
voltando atrás em minha palavra.”

“Fracote”, repito. “Gosto disso.” Lambo meus lábios em um


convite.

“Mesmo?” Ele solta um rosnado baixo. “Pare de me tentar,


ou vou dar uma mordida.”

“Ótimo.”

“Aghhhhh.” Ele solta alguns palavrões antes de se afastar e


me ajudar a ficar de pé. “Vou ignorar estes olhos sedutores e levá-
la de volta ao seu quarto antes de fazer algo estúpido.”

“Eu sou a estúpida neste cenário?”

“Não.” Ele dá outro olhar para mim e solta um gemido. “Este


seria eu.”

“Linc...” Pego a mão dele. “… Eu gosto de você.”

“Oh bem, porque por um segundo, fiquei preocupado com


seus sentimentos e realmente não quero ter uma dessas conversas
embaraçosas onde tenho que te pedir em namoro.”

“Namoro?”

“Muito melhor do que Elliot, posso te prometer isso.”

“Você o encontrou apenas uma vez, e já tenho uma estranha


suspeita que se o encontrar uma segunda, ele pode acabar
sofrendo um acidente ou algo assim.”

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“Estava pensando em algo doido, nada fatal. Você sabe,


como, 'Oh merda, que chato você ter corrido contra este poste, cara,
eu realmente não queria te empurrar.”

Rindo, pego o cobertor. “Você parece o Zane. Ele gosta de


soltar ameaças também.”

“Zane.” Linc profere seu nome com desgosto. “Você pode


encontrar outro novo amigo?”

“Eu não tenho muitos, então não posso realmente ser


exigente. Além disso, ele fica acordado à noite comi...”

“Posso fazer isso.” Linc diz rapidamente. “Quão difícil pode


ser isso? Zelar seus sonhos?”

“Difícil.” Engulo nervosamente. “Especialmente quando vir


aquele carro estúpido novamente.”

“O carro?”

“O que me assustou antes de eu parar de falar. Lembro-me


de cada detalhe vívido e Demetri também. Eu sei que não foi culpa
do carro; eu estava assustada, mas ainda vejo aquele carro preto
nos meus sonhos, e é como se estivesse revivendo tudo outra vez,
acordo pensando que vou parar de falar novamente.”

“Dani...” Lincoln joga um pouco de areia no fogo. “... acho


que da próxima vez que vir o carro em seu sonho, você deveria
tentar jogar algo nele. Atacar o que faz você temer. É a única
maneira de vencer o medo. Você corre contra ele.”

“Se eu pudesse controlar meus sonhos.”

Sorrindo, ele me puxa e me aninha contra seu corpo. “Vamos


para casa, e talvez, se eu passar a noite lá, você sonhe comigo em
vez disso.”

“Levando a sério o dever de selar, não é?”

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“Levo tudo sobre você muito, muito a sério.” Linc chuta areia
sobre o fogo, extinguindo-o enquanto passa um braço em volta de
mim e beija minha testa.

“Obrigada”, sussurro. Andamos de mãos dadas de volta para


a casa de praia. É fácil voltar para o meu quarto, e Linc é alto o
suficiente para que tudo o que tenha que fazer é dar um longo
passo e ele está na minha varanda, acomodando-se
confortavelmente no meu quarto.

“Então...” Seus olhos recaem sobre a cama. “… dormir.”

“Sim.” Bocejo. “Mas eu durmo nua, então você pode se


virar?”

“O que?” Ele assobia por entre os dentes.

“Brincadeirinha.” Dou-lhe um tapinha no ombro. “Vou vestir


uma calça de moletom larga.”

“Não funciona se já estou pensando no que está embaixo”,


resmunga.

“Durma”, digo de novo, provavelmente para tentar me


convencer tanto quanto ele.

Linc deixa escapar um longo suspiro. “Certo, quero dizer,


não é como se eu nunca tivesse dormido com uma garota, sem...
dormir com ela.”

Minhas sobrancelhas se erguem.

“Posso fazer qualquer coisa. Realmente, não sou Zane, tenho


autocontrole.”

A piada é sobre ele, considerando todos os caras que conheci


na minha vida, Zane claramente merece uma medalha nesse
departamento.

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“Só temos algumas horas até termos que estar no set de


qualquer maneira.” Dou de ombros. “Vamos dar um bom uso a
elas.”

“Dormindo”, diz ele pela terceira vez.

“É mais fácil se continuar repetindo isso em voz alta?”

“Claro que sim.” Ele passa as mãos pelo cabelo. “Certo,


certo.” Mais alguns balanços de cabeça... “Está bem.”

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CAPÍTULO TRINTA E DOIS

Lincoln

“Um”, resmungo baixinho para mim mesmo. “Dois.”

As coisas estão ruins; você sabe que estão ruins quando está
realmente contando porcos, a fim de adormecer. Vejo Wilburs
flutuando sobre a minha cabeça, um após o outro. Eu já lhe dei
nomes, eu já os contei, e quando isso não funcionou, coloquei-os
em roupas engraçadas, apenas para minha própria diversão
tediosa.

Estaria mentindo se dissesse que é fácil estar ao lado de


Dani enquanto ela dorme. Meus olhos estão abertos, olhando para
o teto que, juro por Deus, me faz querer vomitar.

Zane havia colocado um cartaz de si mesmo em cima da


cama dela.

Sua maneira de protegê-la dos sonhos ruins,


aparentemente. De acordo com Dani, ele disse que seu cartaz era
como um apanhador de sonhos indígena.

E só me incomoda porque é Zane, o sonho de toda mulher.


Algo sobre a maneira como ele anda, até mesmo em sua voz, deixa
as mulheres completamente malucas, minha irmã inclusive. Só
não quero que Dani seja mais uma.

Nunca sofri de ciúme.

Porque nunca precisei lutar por algo que quisesse.

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Até agora.

Mesmo que lutar seja uma droga, é muito melhor lutar por
algo do que ficar sem ganhá-lo pra começo de conversa.

Deito de lado. E quero ganhar Dani da pior maneira possível.


Quero que seja difícil, porque sei que se for fácil, não é real.

E parece real.

Muito real.

Nunca antes deixei alguém entrar. Sou um solitário por


natureza. Interpretando dia e noite, fazendo dinheiro, derramando
minha alma em meus papéis e vivendo uma vida desligada, cheia
de sexo sem sentido.

Em retrospecto, não tenho ideia de como cheguei até aqui


sem tomar antidepressivos. O dinheiro só dura por algum tempo;
e sexo, bem, é ótimo na hora, mas quando olho para trás nos
últimos anos, não posso nem mesmo contar os verdadeiros amigos
que tenho.

Agora tenho Dani.

E por associação, AD2, as esposas, Jaymeson e Zane — uma


vez que ele parece ter sido, aparentemente, adotado em nossa
pequena e estranha família.

Parece tão bom, mas o meu único medo é estragar tudo.


Pressionar demais Dani, não ser capaz de me controlar e apenas
egoisticamente toma-la antes que esteja pronta.

Não é mais o número que me incomoda.

É o fato de que, na minha idade, já estou em um lugar


totalmente diferente e a última coisa que quero é projetar isso
sobre ela. Droga, ela precisa ir para a faculdade, fazer coisas
estúpidas, cometer erros, tudo sem meu olhar atento ou dos outros
caras.

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Oferecer-lhe a liberdade viria à custa do meu próprio


coração, eu me sinto como um louco completo, apenas por
contemplar coisas como estas, enquanto ela está deitada ao meu
lado, sua respiração suave, mas me fazendo querer choramingar e
bater em alguma coisa.

Meu corpo grita por ela.

E o meu coração, bem... continua me lembrando de que


preciso manter o dela intacto, e se tenho alguma esperança de
fazer isso, preciso ir devagar.

Como um caracol.

Seja o caracol. Ha, meu novo lema. Merda.

Dani vira de lado, então boceja e abre os olhos. Fico parado,


esperando que ela não me bata, ou pior ainda, grite e acorde
Jaymeson porque estou olhando para ela com os olhos arregalados
como os de um adolescente, com tesão.

“Não consegue dormir?” Questiona, a voz rouca. O luar se


derrama sobre a cama, lançando uma sombra prateada em todo
seu cabelo, fazendo-a parecer um ser imortal.

Meu corpo responde imediatamente, então deslizo para


longe, dando algum espaço entre nossos corpos. “Na verdade, não.
Tentei contar porcos, mas sabe como isso funciona. Talvez se você
estivesse me enviando mensagens, eu conseguiria dormir. Sinto
falta dos textos. Prometa-me que só porque você pode falar agora,
não vai parar de me mandar mensagens.”

Revirando os olhos, ela estende a mão para o meu rosto.


“Prometo. Agora durma.”

“Eu não posso simplesmente... dormir”, resmungo. “Eu


sinto... cada pequeno ruído que você faz, e realmente poderia
morrer te observando.” Gemendo, viro de costas. “Certeza que as
coisas ficaram mais assustadoras. Não achei que isso seria

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possível depois de ser pego te olhando enquanto você dormia, mas


parece que acabei de descer a novos patamares.”

Com um suspiro, Dani joga as cobertas, senta sobre mim, e


tira sua camisa do corpo.

“Uhhh.” Minhas mãos vão para as laterais de seu corpo,


como se chamadas por sua pele. Eu não solto, mas também não
me mexo. “O que você está fazendo?”

Dani não responde.

E eu realmente, realmente preciso que ela diga alguma coisa


antes que eu faça o impensável.

Ela se move contra mim, assumindo a liderança prendendo


minhas mãos acima da minha cabeça. Mas. Que. Inferno. Estou
preso, e não tenho certeza se devo lutar ou apenas beijá-la, ou
morrer no local de prazer quando ela se inclina para baixo, dando-
me a mais incrível visão do vale entre seus seios.

“Linc.” Sua língua escapa, lambendo o lado de fora da minha


orelha antes que sua boca quente beije meu pescoço. “Às vezes, o
pensamento é superestimado.”

“Não.” Por que diabos ainda estou lutando?

Ela mordisca um pouco mais e, em seguida, puxa minha


camisa.

Eu permito. Estou muito fraco para lutar contra qualquer


coisa, provavelmente demasiado fraco até para sequer fazer sexo
com ela, mas talvez isso seja uma coisa boa. Estou gastando tanta
energia tentando manter as mãos longe que estou oficialmente
indefeso. “Você não sabe o que está fazendo. Vai se arrepender de
manhã.” Palavras. Eu preciso de palavras mais convincentes.
“Dani, Jaymeson vai me matar.”

“Ele não vai saber”, ela sussurra contra minha boca. “Dê-me
uma boa razão para pararmos.”

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“Cadeia”, gemo contra sua boca. “Não é que ache que você
vá me entregar, mas não posso dizer o mesmo de Demetri, Alec, ou
Jaymeson. Inferno, eles provavelmente me enquadrariam.”

“Você não vai para a prisão.” Ela ri, seu hálito quente no
meu peito. “Pare de ser esquisito.”

“A primeira vez”, eu solto, “é realmente... difícil.” Puta


merda, tenho certeza que acabei de citar o vídeo da minha aula de
ciências do ensino médio. Maldito seja, Sr. Reşik!

Um homem só aguentar um tanto. É verdade. Nunca


planejei ser seduzido; Eu deveria ter pensado nisso, mas em vez
disso gastei toda minha energia em praticar autocontrole e até
mesmo certificando-me que meus beijos fossem breves.

Ha, a piada sou eu.

Dani para em cima de mim, em seguida, lentamente abre o


zíper do jeans que eu desconfortavelmente estou vestindo para
dormir.

“Dani...” Pego suas mãos. “... eu uh.”

Suas sobrancelhas se erguem. “Você o que?”

“Eu sou virgem?”

“Legal.” Ela ri na minha cara.

“Eu tenho medo de ficar nu?”

“Uma fobia de nudez?”

“Droga, acho que posso amá-la por fazer referência a


Arrested Development1 agora.”

1 Sitcom americana cujo personagem Tobias Fünke sofre de fobia de nudez, o que o torna incapaz
de ficar nu, mesmo quando está sozinho.

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“Já se perguntou como eles podiam ter filhos, se o cara


sempre usava shorts jeans curto?”

“Diariamente.”

Dani sorri, em seguida, continua a abrir o zíper. Nunca


realmente prestei atenção às visões ou sons íntimos. Sempre fui
mais de entrar, marcar o gol, sair e mandar para casa. Mas o som
de um zíper? Quase impossível não ouvir isso. Estou até com medo
que Jaymeson possa ouvi-lo.

E então a calça jeans sendo tirada? Ela raspa contra minhas


pernas, contra a cama.

É alto.

Nem um pouco sossegado.

Engulo em seco uma vez que meu jeans é atirado ao chão e


quase tenho um ataque quando Dani baixa seu short branco para
se juntar a ele. De repente estou grato que ela tenha apenas
brincado sobre o moletom largo; o branco contra sua pele
bronzeada... é de cair o queixo.

Fechar os olhos não funciona, porque na hora que relaxo


contra os travesseiros, ela sobe de volta para mim, agarra minhas
mãos, e, basicamente, me obriga a tocá-la.

O fio foi rompido.

O controle, oficialmente, se foi.

Aceno adeus enquanto ele flutua para longe, dentro da


minha consciência. Abraço Dani, jurando nunca deixá-la ir.

“Se fizermos isso, e você me deixar, vou persegui-la”, rosno


contra sua boca. “E quero dizer isso da maneira mais ameaçadora
possível. Não vou te deixar ir embora.”

“Ok.” Seus olhos estão úmidos com lágrimas.

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Rachel Van Dyken

“Fazer isso com você não pode ser como aliviar uma coceira.
Já fui esse cara uma vez, mas com você? Quero saborear.” Roço
um beijo em sua boca. “Entende isso?”

“Só... não me machuque”, ela sussurra, todos os vestígios de


sedução desaparecendo.

Tento não ler muito nisso, mas fico também extremamente


curioso para o meu próprio bem. “Alguém te machucou antes?”

“Elliot.” Ela me empurra de volta para baixo, colocando seu


corpo sobre o meu, enquanto agarro sua cintura e a puxo contra
minha pele. “Depois que meus pais morreram, eu pensei que iria
me fazer sentir melhor.”

“Vou matá-lo”, digo em um tom sério, “provavelmente me


ajudaria a dormir melhor à noite. O bastardo provavelmente nem
sabia o que fazer com você, não é?”

Ela franze o rosto. “Doeu e acabou em três minutos.”

“Que idiota.” Xingo violentamente. “Diga-me que, pelo


menos, ele te segurou depois disso e lhe disse que tudo ficaria
melhor.”

“Ele colocou suas roupas e foi embora.”

Meus dedos cavam em seus braços. “Sem ofensa, mas você


dormiu com um moleque.”

“Eu sei”, ela diz, sua voz soando confusa.

Beijo sua boca com força, em seguida, me afasto. “Eu sou


um homem.”

Ela assente e, em seguida, muito timidamente murmura,


“Importa-se de provar?”

“Achei que nunca fosse pedir.” Capturo sua boca uma e


outra vez, cada beijo indo mais fundo enquanto nossos corpos
deslizam um contra o outro. Minutos se passam, talvez uma hora,

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Rachel Van Dyken

enquanto nos beijamos; enquanto tenho a certeza que ela


entendeu o significado da palavra apreciar.

Lábios inchados, ela para em busca de ar, em seguida, me


puxa pelos cabelos de volta para baixo. Com um rosnado baixo,
faço o melhor que posso para manter as coisas num ritmo lento;
para ter certeza que ela sente cada carícia de minha boca. Toda
vez que meu corpo entra em contato com o dela, dou especial
atenção ao momento, acrescentando tanto prazer quanto sou
capaz com minha língua e mãos.

“Mesa de cabeceira”, ela sussurra contra a minha boca.


Nossos corpos estão pegajosos de suor e o ar no quarto é erótico
com nossas respirações entrecortadas.

“Hã?”

Ela cora e desvia os olhos, murmurando, “Proteção.”

“Estou dividido entre gritar com você por ter preservativos e


abraçá-la por ser inteligente. Mas chamá-la de inteligente significa
que está tudo bem se você se envolver em atividades sexuais, e
neste momento, estou chateado até mesmo de você saber a
definição dessa palavra.”

“O que?” Ela balança a cabeça em confusão. “Por que você


de repente está se transformando em Jaymeson?” Oh boa,
mencionar seu cunhado na cama já é ruim o suficiente.

“Proteção”, rosno beliscando seus lábios. “E você é minha,


então... qualquer outro cara que te tocar realmente é algo que me
irrita. Inferno, ele acabou de passar pela puberdade!”

“Isso está acabando com o momento.”

“Bom, porque vou matá-lo”, rosno, batendo o punho no


travesseiro, em seguida, beijando-a com força nos lábios. “Você
sabe, não temos que fazer isso.”

“Sim, nós temos.”

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Rachel Van Dyken

“Não...” Eu me afasto. “... nós realmente não temos.”

“De uma vez por todas...” Ela fixa os olhos nos meus. “... eu
quero fazer algo em meus termos. Não porque meu terapeuta me
mandou, não porque as pessoas estão preocupadas comigo ou
sentem pena de mim. Eu quero isso. Quero você. Não me diga que
não posso tê-lo, não me diga que não posso ter o que eu amo.”

Atordoado, só consigo olhar para ela e rezar para ter ouvido


o que penso ter ouvido.

“Você falou em amor?” Mal sou capaz de soltar um sussurro


abafado.

Dani balança a cabeça lentamente, seus olhos nunca


deixando os meus. “Isso soa egoísta.”

“Mais ou menos”, concordo em voz baixa. “Mas desde que


sou parte do egoísmo, não estou realmente em posição de
reclamar.”

“Faça amor comigo.”

Eu a encaro. Muito. E em um beijo, selo os nossos destinos.


“Ok.”

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Rachel Van Dyken

CAPÍTULO TRINTA E TRÊS

Dani

Ele não se parece em nada com Elliot. Elliot era... um


moleque. Lincoln é todo músculo, um homem preenchido em
lugares que nem sabia que caras poderiam ser preenchidos. Estou
desesperada por ele, não porque quero terminar as coisas, mas
porque me sinto viva com ele. Sinto-me como eu mesma.

A pessoa que costumava conhecer.

A que sorria, que ria, que falava. Ele viu a muda, mas ele
também viu a menina antes da mudez, de quem senti tanta falta
que traz lágrimas aos meus olhos.

Mas acima de tudo, ele acolhe as duas.

Algo que ninguém até agora fez.

É libertador, entregar-me a alguém tão completamente.

“Dani”, Linc sussurra, sua boca encontrando a minha em


outro beijo ardente que faz meu corpo tremer. Sensações balançam
através de mim quando ele me vira de costas, apoiando-se sobre
mim, os músculos de seu pescoço se contraindo e os braços
flexionados, apoiando seu peso corporal para não me esmagar.

Lincoln Greene. É. Lindo. Olhos cinza tempestuosos presos


aos meus. Seus lábios se contraindo em um sorriso sedutor.

E então posso senti-lo.

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Rachel Van Dyken

Ele todo.

E de repente decido que aquilo não vai dar certo. Eu sou


maluca, não é? Isso não vai funcionar. De jeito nenhum. Não. Vai
acontecer.

Ele deve ter notado meu pânico, porque se afasta e me beija


novamente, fazendo-me esquecer de tudo, incluindo meu próprio
nome.

Com um sussurro de devoção, seu corpo se move contra o


meu. Com um impulso rápido, ele me puxa contra ele,
preenchendo-me, tomando-me com tanta perfeição que ofego em
voz alta.

Ele fica parado. “Você está bem?” A preocupação em seus


olhos é minha ruína, quebrando meu coração por ele ser tão
diferente de Elliot e qualquer outro cara que já conheci.

Com um aceno de cabeça, estendo a mão para beijá-lo,


fazendo uma boa sensação crescer dentro de mim quando ele me
puxa para mais perto e se move lentamente com movimentos
intencionais, como se estivesse aproveitando o tempo.

Saborear.

Ele falou em apreciar.

E acho que finalmente entendo o que a palavra significa.

Fecho os olhos.

“Não.” Ele ri maliciosamente. “Abertos.”

“Hã?” Desorientada, capaz apenas de me concentrar nas


sensações crescentes dentro de mim, balanço a cabeça e olho para
ele. “O que?”

“Mantenha seus olhos abertos”, ele ordena suavemente. “E


olhando para mim. Fique olhando para mim enquanto a observo,
assim, quando isso acabar, você vai saber que não tem nada a

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lamentar, porque o olhar que estou te dando agora é o mesmo que


vou lhe dar depois, e no dia seguinte, e no dia depois.”

Lágrimas se agrupam nos meus olhos e nossas bocas se


fundem em um beijo faminto. Meu corpo estremece
incontrolavelmente quando ele empurra uma última vez,
deixando-me mole, fraca.

Com o peito arfante, ele mantém nossa posição emaranhada


como um pretzel e prende seu olhar ao meu novamente. “Você está
bem?”

Concordo com a cabeça, não confiando em minha voz.

“Bom”, ele sorri, “porque ainda temos algumas horas.”

“O que?” Quase berro, “O que você quer dizer?”

“Você é minha”, ele diz simplesmente. “E eu sou seu. Isso é


o que quero dizer. Pensou que isso seria uma coisa de uma vez só?
Ou que eu iria embora e esqueceria o seu nome? Tem mais uma
novidade vindo aí. Eu não digo palavras só por dizer e não faço
falsas promessas.”

Meu rosto explode em um sorriso que fere minhas


bochechas. “Você é meio que demais, sabe disso, certo?”

“Não tão demais...” Ele me beija com ternura requintada. “…


quanto você.”

“Mas que merda?” O grito soa muito como Jaymeson.

Pulo acordada, minha visão embaçada capturando as


roupas atiradas pelo quarto: minhas, de Linc, em seguida, meu
sutiã, orgulhosamente exibido aos pés de Jaymeson.

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Pelo olhar de raiva no rosto dele, acho que estamos ferrados


e que vou acabar encontrando o corpo de Linc boiando de barriga
para cima no oceano.

“Linc.” Eu lhe dou uma cotovelada na lateral do corpo. Ele


está deitado de bruços, abraçando o travesseiro.

Com um bocejo, ele pisca os olhos abertos. “Olá.” Ele pega


minha cabeça e me puxa para um beijo.

“Solte a menor”, Jaymeson diz em uma voz estranhamente


calma que literalmente parece ter sido canalizada de um pai de
quarenta anos de idade que o estava possuindo.

Os olhos de Linc se arregalam em pânico antes que muito


lentamente se vire, em seguida, puxa o cobertor para esconder o
fato de que está nu e acena.

Certo. Ele acena. Para Jaymeson.

Ele poderia muito bem ter apontado uma arma.

Jaymeson avança para a cama, mas é puxado para trás por


um Zane muito calmo, que está alegremente segurando uma tigela
de cereal em uma das mãos enquanto segura a camisa de
Jaymeson na outra.

“Deveria ter trancado a porta”, Zane diz bem baixinho,


liberando Jaymeson e mergulhando a colher dentro da tigela.
Alguns marshmallows caem da colher. Imagino que o maluco
tenha selecionado todas as partes saudáveis do cereal e jogado no
lixo.

“Seu desgraçado!” Jaymeson aponta o dedo para Lincoln.


“Ela é uma criança!”

“Besteira!” Linc grita de volta.

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Rachel Van Dyken

Vacilo na sonoridade de sua voz. “Ela é adulta, e tem


passado por um inferno nestes últimos anos. Droga, deixe-a tomar
suas próprias decisões!”

“Certo!” Jaymeson pisa em nossa direção. “Ela passou por


inferno e voltou dele. Você realmente acha que ela está com uma
mente boa para fazer tais grandes decisões? E você anda por aí em
Seaside como um cara cuja merda não fede, e acha que vou te
deixar seduzi-la? Minha irmã?” A parte irmã é dita em um grito.

Pris vem toda grávida entrando no quarto, dá uma olhada


na situação, e grita, “Fora! Todos vocês.”

Jaymeson se vira para olhar.

Ela o encara de volta. “Jaymeson, me ajude! Se você quiser


me ver nua alguma vez de novo, você vai sair deste quarto. Agora.”

“Ha...” Zane enfia outra bocada de cereal indo para seu


quarto. “... acho que vou amar Seaside.”

“Idiota.” Jaymeson sai pisando duro, empurrando Zane


através da porta, em seguida, batendo-a atrás dele.

“Linc, você tem exatamente cinco minutos para pegar suas


roupas, saltar pela janela antes que meu marido te veja e o leve
para o set em pedacinhos”, diz Pris, estendendo o jeans dele. “Acha
que pode fazer isso?”

Linc me puxa para perto. “Não vou simplesmente abandonar


Dani.”

O rosto de Pris se suaviza. “Você não a está abandonando.


Vai vê-la mais tarde hoje. Não estou amaldiçoando sua existência
e proibindo-o de vir à nossa casa, embora eu apreciaria se você
realmente entrasse pela porta para que pudéssemos supervisionar
todas as atividades no quarto antes que aconteçam, mas cheguei
muito tarde para isso. Então, agora, deixe-me conversar com a
minha irmã e por favor... saia.”

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Linc me beija na têmpora então lentamente sai da cama,


tirando o jeans da mão estendida de Pris. Suspirando, ela se vira
enquanto ele rapidamente se veste e anda até a janela. “Eu
realmente tenho que sair dessa maneira?”

As sobrancelhas de Pris se elevam. “Sair pela janela significa


que você vive para ver outro amanhecer. Sair pela porta significa
que pode levar um tiro. Jay vive na América agora. Ele comprou
uma arma e não entende o que é apenas para sua segurança,
então...” Ela levanta um ombro em uma demonstração de
indiferença. “… você escolhe.”

“Janela, então”, ele murmura, dando-me um último olhar


reconfortante antes de descer para a varanda.

Quando ele sai, não quero nada mais do que me esconder


debaixo das cobertas. Mas Pris muito calmamente anda até mim,
senta-se na cama, e explode em lágrimas.

Eu não sei o que fazer.

Sou eu que tenho problemas, certo? A pessoa que deveria


estar chorando? Não que esteja arrependida de alguma coisa,
exceto pelo fato de que Jaymeson nos pegou.

“Pris...” Agarro a mão dela.

“Sinto muito”, ela soluça. “Eu deveria estar mais disponível.


Deveria estar presente, em vez de apenas...” Ela agita as mãos no
ar. “... ser a irmã. Droga, sou a mãe agora, e vou ser uma mãe, e
estou fazendo besteira com você. Como vou fazer isso certo com
nosso filho?” Seus olhos já estão avermelhados.

“Ei, ei.” Puxo-a para um abraço, mantendo o lençol em volta


de mim. “Pris, isto não é sobre você.”

“Você fez sexo!” Ela lamenta. “Com um galã de Hollywood


que está indo embora em poucos meses, e você o ama, ou pelo
menos acha que ama, e ele conseguiu fazer você voltar a falar, o

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que é ótimo, e eu o amo por isso, mas o odeio por ir embora. Ele
vai partir, e você vai ficar de coração partido, parar de falar, e talvez
parar de comer de novo, e vamos ser deixados aqui para recolher
os pedaços que ele deixar pelo caminho. Maldito, Lincoln Greene!”
Ela soca o colchão com a mão.

Saio do meu estado pasmo. “Pris, caramba! Pelo menos tome


um fôlego. Você está ficando azul e isso é ruim para o bebê.”
Sacudo a cabeça e agarro a mão dela, mas as palavras
simplesmente continuam saindo de sua boca. Palavras como
coração partido, rico, playboy, bastardo. Pris nunca foi do tipo que
exagera, então não sei quanto disso é por causa dos hormônios e
ou porque ela se sente culpada. Conheço bem a culpa. Oh, eu sei
disso. Aperto sua mão e sussurro. “Ele não é assim. Você
realmente acha que ele arriscaria tudo? Sua carreira? Seu
relacionamento com Jaymeson? Só para poder dormir comigo?”

“Sim.” Ela assente, enxugando algumas lágrimas. “Isso é


exatamente o que penso, senhorita fruto proibido.”

A culpa corrói meu peito. Sinto-me mal por deixá-la para


baixo e culpada por ter estar mais preocupada com ser apanhada
do que qualquer outra coisa. Mas tenho idade suficiente para
tomar minhas próprias decisões, certo?

Ele não vai partir.

Lincoln pode ser um monte de coisas, mas ele não é este tipo
de cara.

Recuso-me a colocá-lo nessa categoria. A categoria Elliot, de


quem toma o que você oferece e, em seguida, termina com você no
minuto em que as coisas ficam difíceis.

“Agora...” Seguro a mão dela com força. “... Eu não preciso


de uma mãe. Preciso de uma irmã. Preciso de uma amiga. Você
não pode desfazer o que está feito, e também não quero que faça

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Rachel Van Dyken

isso, em primeiro lugar. Ele... Você está certa.” Lágrimas brotam


nos meus olhos. “Eu o amo.”

“Isso é ótimo.” A voz de Pris é fraca. “Realmente é. E adoraria


sentar aqui e te oferecer apoio, mas tenho um mau pressentimento
sobre ele. Não me leve a mal. Não acho que ele é um cara ruim,
só... O que acontece se as coisas voltarem a ser como eram? Eu
não poderia me importar menos com ele. Eu me importo com você.
Quero você feliz, e não posso lidar com a ideia de te perder de novo
.”

“Então não me afaste porque dormi com o homem que amo”,


digo suavemente. “E confie em mim para fazer minhas próprias
escolhas. Pode fazer isso?”

“Não.” Ela ri através das lágrimas. “Mas vou tentar. Você


sabe... sexo com um ator, não é a escolha mais inteligente.”

“Hm, você está casada com um.”

“Casada”, ela diz suavemente. “Eu casei com ele primeiro.”

Todo o sangue foge da minha cabeça. “Você... você o quê?”

“Jaymeson e eu... nos casamos primeiro. Assumimos um


compromisso. Depois que papai morreu, não havia essa coisa
estranha não dita, por sermos filhas de um pastor. Jaymeson não
poderia fazê-lo. Ele só... se sentia como se estivesse fazendo coisas
erradas cada vez que me beijava. Se papai ainda estivesse vivo, ele
teria pedido permissão para namorar comigo. Ele teria feito as
coisas direito. Eu estava tão quebrada após a morte deles, tão
preocupada com você, que a última coisa que ele queria era
adicionar mais culpa. Então... fugimos.”

“Eu não sabia”, digo mais para mim do que para ela.

“Você não precisava saber...” Ela encolhe os ombros. “...


mas está certa. O que está feito, está feito. Eu só... espero que
saiba o que está fazendo. Você tem dezessete anos, tem toda uma

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vida para viver, coisas para experimentar, mas se tiver certeza de


que ele é o que quer, não vou ficar no caminho. Só não deixe que
uma pessoa tenha esse tipo de controle sobre você, no qual está
tão investida no outro que, se ou quando eles terminarem, você
perde uma parte de si mesma. Ok?”

Meu lábio inferior treme. “Ok.”

Ela fica em silêncio por um minuto. Em seguida, um sorriso


cruza suas feições, suavizando seu rosto. “Agora...” Ela suspira.
“... vou fazer o papel da melhor amiga.” Pris cruza os braços. “Como
foi?”

Eu me escondo debaixo do lençol, em seguida, solto um


“Incrível.”

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CAPÍTULO TRINTA E QUATRO

Lincoln

Acho que Jaymeson vai me demitir. Inferno, eu teria me


demitido. Será que sinto algum arrependimento? Não. Mas Dani é
cunhada dele. Sua linda cunhada menor de idade, a quem ele se
refere como sua irmã mais nova. Droga, o que eu estava pensando?

Na casa dele?

Sob seu teto?

E não é como se pudesse dizer que ela me seduziu, mesmo


que, se tivesse que colocar a culpa em alguém, estaria apontando
o dedo em sua direção. Ela montou em mim! Nua! O que deveria
fazer? Cantar canções de ninar e fechar os olhos? Prender meu
fôlego?

Entrei e saí do trailer de maquiagem em poucos minutos.

Estamos de volta à escola secundária local para filmar. O


filme está sendo rodado em pedaços estranhos, então
tecnicamente, embora já estejamos filmando por algumas
semanas, agora estamos filmando a cena de abertura, quando Nat
vê Alec e Demetri pela primeira vez.

Com um suspiro, ando para o set e sento na minha cadeira.

Estou lá por talvez dois segundos antes de uma mão bater


na parte de trás da minha cabeça.

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“O que?” Desvio minha atenção e olho Demetri cruzando os


braços e lançando punhais na minha direção. “Por que você fez
isso?”

“Você sabe o porquê”, ele sussurra.

Estreito meus olhos. “Não, realmente não sei.”

“Você é muito estúpido para continuar vivo, então. O que


significa que vou ter que deixar Alec te matar.”

“Por que Alec?”

“Ele se daria melhor na prisão.”

“Ao contrário de você?”

Demetri estufa o peito. “Sou muito bonito.”

“Por que você está aqui? No set?”

“Eu me ofereci.” Ele suspira pesadamente. “E Dani está com


medo que Jaymeson acabe te matando e enterrando o corpo em
algum lugar na floresta, depois da casa do velho Sr. Smith, sob a
cabana junto à quinta árvore.”

“Isso é...” Dou uma tossida. “…Assustadoramente


descritivo.”

“Ele pode ter deixado o local escapar.”

Fico tenso.

“Umas cinco vezes quando mandava mensagens para mim e


Alec, pedindo para trazermos pás.”

“Ela tem idade suficiente para tomar suas próprias decisões.


Sério”, solto em um rosnado. “E não é como se eu fosse deixá-la.
Ela não é assim. Eu não sou assim. Não foi um momento de
transar e fazer um high-five.”

“Transar e fazer high-five?”

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“Você sabe”, dou de ombros, “Transar, em seguida, dar um


reforço positivo por meio de um high- five antes de dar no pé.”

Demetri olha, então muito lentamente, com olhos julgadores


balança a cabeça. “E pensar que existem galinhas ainda maiores
que eu na natureza.”

“Você?”

“Recuperado.” Ele assente. “Mas você...” Um dedo bate no


meu peito. “Você não é casado. Portanto, é um peixe escorregadio,
que pode pular para fora do alcance e nadar para o oceano,
deixando-nos para recolher os...” Ele franziu a testa. “Não tenho
certeza de onde estava indo com essa metáfora.”

“Nem eu”, murmuro, dando- lhe um olhar de lado.

“Não posso acreditar que realmente concordei em ajudar a


protegê-lo.”

“O que você vai fazer? Levar uma bala por mim ou algo
assim? Sem ofensa, mas se Jaymeson quiser acabar com a minha
vida, duvido muito que você fique no caminho e faça qualquer
coisa.”

“Meio-irmão.” Ele assente seriamente. “Ele nunca


abandonou sua própria família. Além disso, é inglês. Violência
para ele é esquecer-se de pedir desculpas.”

Começo a rir.

Jaymeson se senta no banco do meu outro lado, seguido por


Alec, que, de braços cruzados, fica na minha frente , bloqueando
a visão do resto da equipe que, pela temperatura na sala, se
arrastou para longe do nosso pequeno grupo. Ótimo, nada de
testemunhas.

“Você tem sorte de ela gostar de você”, diz Jaymeson em voz


baixa. “E você tem sorte que minha esposa disse não para a ideia
de te matar.”

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Resisto à vontade de repuxar meu colarinho. “Com certeza


vou enviar um cartão de agradecimento para ela.”

“Você não vai escrever merda nenhuma para ela.” Jaymeson


me dá uma cotovelada. “E fará bem em lembrar-se de manter as
mãos longe da minha irmãzinha debaixo do meu teto.”

“Sinto muito.” Suspiro. “Eu realmente sinto, isso foi...”


Balanço minha cabeça. “... desrespeitoso, e me arrependo dessa
parte.”

Alec visivelmente relaxa na minha frente.

Jaymeson ainda parece pronto para cuspir no meu rosto,


mas ao invés disso, me dá um olhar longo e muito hostil antes de
se levantar, pegando seu fone de ouvido e ladrando ordens.
“Figurantes são necessários no set.”

Solto a respiração que estava segurando.

Alec não se mexeu de seu lugar na minha frente. Em vez


disso, seus olhos se estreitam. “Eu não sou de julgar, acredite em
mim.” Seus olhos azuis estão gelados, despindo-me totalmente de
qualquer conforto. “Mas se quebrar o coração dela, vou encontrar
uma maneira de quebrar pelo menos um ou dois ossos do seu
corpo. Entendeu?”

“Sim.” É errado passar a respeitá-los mais depois de ser


ameaçado? Ela merecia esse tipo de família, o tipo que não dá a
mínima para quem eu sou ou o que represento.

É estranhamente reconfortante.

“Lincoln!” Jay grita. “Não me faça chamar você duas vezes.


Ou precisa de um minuto antes de filmarmos a próxima cena?”

“Não.” Fico de pé rapidamente. “Estou bem.”

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Demetri agarra meu ombro, me puxando de volta. “Lembre-


se, nesta cena ando com uma arrogância sexy.” Ele dá um tapa na
minha bunda. “Faça com que eu pareça incrível.”

“Olhe e aprenda”, digo baixinho enquanto me preparo


mentalmente para a próxima cena. Não há falas, mas às vezes,
aquelas são as cenas mais difíceis, onde tem que deixar sua
linguagem corporal falar por você.

Por alguma razão, estou tão excitado, tão energizado, que


estou quase pulando na ponta dos pés esperando a cena ser
organizada.

E então Dani aparece atrás de Jaymeson. Ela pisca e então


lentamente lambe seus lábios. Pequena sedutora.

Inferno sim, eu poderia andar com arrogância, porque


estaria andando em direção à câmera, em direção a ela.

Até então, estava distraído, um pouco mais hesitante no


meu trabalho, mas quando Jay disse “Ação”, tenho uma
epifania. Estou andando em direção a ela, a garota de quem gosto,
a garota por quem poderia me apaixonar. Uma garota que eu faria
qualquer coisa para manter.

Então eu ando.

E quando termino, lanço um sorriso mortal em sua direção


e cerro os punhos quando Jay diz “corta”, e Demetri diz alto
o suficiente para que todos possam ouvir. “Puta merda, isso foi
quente.” E então, é claro, “sabia que ele poderia interpretar meu
papel”.

“Não diga mais nada.” Alec balança a cabeça para Demetri


enquanto Jay me dá um aceno respeitoso.

“Bom.” Jay relaxa. “Isso foi muito bom.”

Vindo de Jay? É como aterrissar na lua e voltar para Marte.

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Encontro o olhar de Dani uma última vez antes de nos


mudarmos para a próxima cena.

Se eu a tivesse esperando por mim ao final do dia, eu


realmente teria tudo, não é?

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CAPÍTULO TRINTA E CINCO

Dani

A filmagem está atrasada e estou exausta depois de ter


ficado acordada a maior parte da noite, então pego o último dos
Skittles, despejo na tigela, me certifico que Linc tenha a água que
gosta, verifico as persianas para ter certeza de que estão fechadas
e então me permito sair do trailer.

A porta se abre logo antes de tocá-la e, de repente, Linc e eu


estamos peito a peito.

Minha respiração sai em um pequeno suspiro quando ele me


levanta em seus braços e me beija profundamente na boca,
enquanto simultaneamente tranca a porta atrás de si. Não tenho
tempo para responder quando me leva de volta para o pequeno
espaço, em seguida, me joga na cama. Sua camisa voa, depois os
sapatos, jeans.... E ele está em pé diante de mim, como na noite
anterior, nu.

“Teve um bom dia?” Respiro, apoiando-me nos cotovelos.

“Só fica melhor.” Ele lambe os lábios, me encarando de cima


a baixo antes de entortar seu dedo.

Lentamente, saio da cama e me aproximo, levantando as


mãos para o ar enquanto ele tira minha camiseta, depois funde
sua boca a minha.

“Dia bom?” Ele repete minha pergunta.

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Rachel Van Dyken

“Está parecendo promissor.” Puxo sua cabeça até a minha


novamente, minhas mãos emaranhadas em seus longos cabelos,
puxando com força quando inclino meu corpo contra o dele.

Rindo, ele me joga de volta na cama, deixando-me tirar o


resto das minhas roupas. Então se junta a mim novamente, sem
qualquer traço de riso enquanto beija uma trilha em meu
estômago. Prendo minhas mãos em seu cabelo novamente.

“Eu tenho...” Ele beija, em seguida, lambe o ponto delicado


ao lado do meu umbigo.

Minhas pernas tremem, enquanto meu corpo se lança para


ele.

“… cinco minutos.”

“Podemos ser rápidos.” Presumo que está falando de sexo,


então tento puxar seu corpo de volta para o meu.

“Cinco minutos”, ele repete, sua cabeça abaixando mais e


mais.

Meus olhos se arregalam quando percebo onde ele está indo.

“Mas, querida, eu só preciso de dois.”

Na verdade, ele completa a tarefa em um.

Mas isso é irrelevante.

“Diga-me”, pergunto, meu corpo ainda destruído por


tremores. “Você menciona isso no seu currículo? Porque é uma
habilidade. Realmente é.”

“Achei que seria muita presunção e o que aconteceria se um


diretor de elenco me pedisse para provar?” Ele brinca, jogando-me
minha camisa.

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Rachel Van Dyken

Rapidamente tento vestir minhas roupas, mas é tão


difícil; cada vez que coloco uma peça de roupa, ele me puxa para
outro beijo.

“Eu não quero sair”, ele resmunga, “mas Jay quer terminar
essa cena, e a maré está baixa e...”

Eu o calo com outro beijo. “Vá! Vou para casa de qualquer


maneira.”

Um olhar de pesar cruza seu rosto. “Vou tentar me


apressar.”

“A arte não pode ser apressada”, corrijo-o com minha melhor


imitação da voz de Jaymeson.

“O sotaque precisa de mais treino.” Ele pisca e me puxa para


outro beijo. “Provavelmente não vou te ver até amanhã. Então,
novamente, é sua festa de aniversário... então, porra, quando vou
ficar sozinho com você?”

“Vamos resolver isso.” Rio. “Não é como se fosse embora


amanhã ou algo assim.”

Ele puxa meu corpo contra o dele. “Graças a Deus por isso.”

“Divirta-se, exceto quando estiver beijando minha irmã.


Espero que essas cenas sejam ruins.”

Suas sobrancelhas se unem quando ele me dá um aperto


preocupado no ombro. “Isso te incomoda? Desculpe-me, eu juro
que é apenas atuação. Não é...”

“Linc”, digo, deixando um pouco de irritação no meu tom.


“Eu moro com atores. Sei como funciona. Não se preocupe comigo.”

“Eu me preocupo.” Com sua voz sincera, ele beija o topo da


minha cabeça. “Muito.”

“Eu sei.” Franzo o nariz. “Agora vá antes que Jay acrescente


outro motivo para te matar na lista dele.”

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Rachel Van Dyken

“Certo.” Ele hesita, me beijando uma última vez antes de


sair do trailer. Engulo um grito estridente e apago as luzes, em
seguida, vou para casa.

“Então...”, Zane joga um marshmallow no ar, pega entre os


dentes, mastiga e engole. “... você teve uma noite divertida.
Gostaria de compartilhar comigo os detalhes íntimos sobre como
seduziu o pobre Lincoln para fora de seu jeans de grife? Ou isso é
um segredo?”

Jogo o travesseiro no rosto dele. “Eu não o seduzi.”

“Ha”, Zane sacode o dedo para mim. “Que vergonha,


mentindo para o seu melhor amigo.”

“Demetri é meu melhor amigo.”

“Certo, mas conversamos ontem à noite e você disse que


agora estamos empatados porque eu sou muito bonito.”

“Eu estava bêbada.”

“De chocolate quente?” Zane gargalha. “Oh, garota da


escola, vou sentir sua falta quando se casar com Linc no seu
aniversário de dezoito anos, mudar para sua cabana de amor e
começar a ter filhos. Realmente vou.”

“Casar?” Repito, incrédula. “Você está chapado.”

“Nunca usei drogas. Sou viciante demais. Além disso, por


que usar drogas quando custam tanto dinheiro?”

“Você é rico.”

“Certo. E vou ficar assim porque não uso drogas.” Zane olha
para a TV, e sua expressão fica séria, como se algo tivesse acabado

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Rachel Van Dyken

de lhe dar um soco. Tento olhar a tempo, mas ele já mudou o


canal. “Então, detalhes, ou vou ter que vistoriar a câmera da babá
eletrônica que coloquei no seu quarto?”

Sinto meu rosto ficar pálido. “Zane...”

“Bem.” Ele me entrega um marshmallow rosa. “Então, se


realmente houvesse uma gravação, o que não existe, porque não
sou uma aberração como Demetri...” Outro soco no meu melhor
amigo, porque ele aparentemente acha que a posição está aberta a
negociação. “... Eu me pergunto se foi Lincoln que te atacou com a
língua dele, ou a pobre e inocente Dani que seduziu o grande galã,
basicamente arrastando-o pelos cabelos para sua cama king-
size.” Um sorriso satisfeito cruza suas feições quando ele se senta
de volta contra o sofá e cruza os braços.

“Você nunca saberá”, digo, elevando minha cabeça em uma


demonstração de confiança.

Ele levanta uma sobrancelha. “Eu já sei. Porque conheço


Linc, e a última coisa que ele faria seria fazer sexo com você com
Jaymeson logo ali, na porta ao lado. Seria como pedir para levar
um tiro no traseiro.”

“Eu posso ter...” Aceno minha mão no ar. “... encorajado...”


Quase engasgo com minha saliva. “… um pouco.”

Zane sorri.

Cara, ele é bonito e, óbvio que está, ainda, sem camisa. Um


dia, uma menina vai domá-lo e vai usar pequenos rastros de
marshmallow para fazer isso.

“Olhe só para você, crescendo, fazendo escolhas de garotas


crescidas. Cara, é como se em um dia você estivesse falando frases
completas, no dia seguinte está pegando um homem pelo...”

“Estamos em casa!” Jay grita.

“Não termine esta frase”, aviso Zane, horrorizada.

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Rachel Van Dyken

“Papai!” Zane pula do sofá. “Como foi o trabalho?”

Jay geme. “Zane, sério. Vista umas roupas.”

Zane olha para baixo. Não me havia ocorrido quanta roupa


ele não estava usando até que se levanta. Boxers? Sem
camisa? Mas ele está usando meias de lã e ainda assim, parece
bem. “O que há de errado com meu uniforme?”

“Uniforme?” Jay e Pris dizem em uníssono enquanto


observo a troca com interesse. Se eles estiverem concentrados
nele, não estarão pensando em mim. E então me dou conta.

“Caramba, somos irmãos!” Digo em voz alta.

Zane pisca. “Maninha”

“Eca, meu irmão me beijou!”

“VOCÊ BEIJOU DANI?” Jay grita.

Pris agarra Jaymeson. “Nós não sabemos disso. Não faça


acusações até sabermos os detalhes.”

Zane começa a rir. “Ah, merda, eu realmente amo vocês. Sei


que continuo dizendo isso, mas...” Ele oferece um marshmallow a
Jaymeson. “… é verdade.”

Jaymeson parece que está a cerca de um segundo de


esganar Zane com as guloseimas esponjosas.

“Acidente”, eu digo. “Zane estava provando um ponto.”

Zane se vira, seus olhos malignos quando acrescenta, “Por


que sim, eu estava ensinando a jovem Dani os perigos de deixar
uma celebridade seduzi-la. Bem, não digam que não tentei,
pessoal.”

Estreito meus olhos. “Traidor.”

Ele me joga um marshmallow como se aquilo pudesse


consertar tudo.

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Rachel Van Dyken

Pris, muito sabiamente, beija Jaymeson, sussurra algo em


seu ouvido que claramente o distrai o suficiente para nos deixar
em paz e os dois sobem para a suíte master deles.

“De nada.” Zane se junta a mim de volta no sofá.


“Agora, Housewives ou Game of Thrones?”

Compartilhamos um olhar e então dizemos em


uníssono, “Thrones”.

Adormeço na metade do primeiro episódio e acordo algumas


horas depois na cama.

Zane

Um dia.

Muito em breve.

Espero que encontre alguém que cuide dele do jeito que ele
cuida de tudo e de todos os outros em sua vida.

Ele abastece a cozinha, não apenas com marshmallows, mas


com comida em geral. Rotula contêineres de plástico, basicamente
me força a tomar café da manhã e sempre se certifica que estou
bem.

Ele é perfeito.

Não é o meu perfeito. Não para mim.

Mas… perfeito.

O que significa que está se esforçando muito para esconder


uma falha ou ignorar o que o fez aterrissar em Seaside em primeiro
lugar.

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Rachel Van Dyken

CAPÍTULO TRINTA E SEIS

Lincoln

Acordo com uma sensação muito ruim. Continua ao longo


do dia — o aniversário de Dani. Não consigo me livrar disso, talvez
porque pela primeira vez na minha vida estou feliz. Isso significa
que algo vai acabar no inferno, certo?

As filmagens são curtas para mim naquele dia, o que é bom,


mas quero me preparar para a fogueira de aniversário na
praia. Meu carro finalmente chegou de Malibu, o que me deixa
menos estressado. Sei que ela odeia minha caminhonete, então
estou feliz que finalmente poderei levá-la aos lugares e ela não vai
ficar com os dedos brancos o tempo todo, apertando a porta,
imaginando que seríamos atingidos.

Meu celular toca no meu bolso.

Dani: Você gosta?

Anexo está uma foto dela em um vestido preto curto; ela está
virada, mostrando-me as costas cavadas.

Faço uma careta e amplio a imagem. Sua tatuagem parece


tão familiar. Eu a vi naquela noite em Depot Bay, e pareceu com
formas e letras aleatórias. É em um lugar estranho, logo acima de
seu tornozelo e abaixo de sua panturrilha. Impossível de ver, a

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Rachel Van Dyken

menos que ela esteja usando algo curto e estivesse de costas, a


menos que você soubesse que está ali. A última vez que ela usou
um vestido, seus saltos tinham tiras que envolviam suas pernas,
estilo gladiador, então não notei a tatuagem. E toda vez que
estamos juntos, fico distraído — com sua boca, seios, pescoço,
basicamente todas as coisas sobre ela.

Encaro a foto com mais força. Por que diabos parece tão
familiar? E por que me incomoda que pareça familiar?

Encolhendo os ombros, digito um texto de volta para ela.

Linc: Sexy. Acha que Jaymeson vai deixar você sair de


casa?

Dani: Oh, não se preocupe. Pedi a Zane para batizar seu


refrigerante hoje à noite. Ele está super... feliz agora.

Linc: Jaymeson bêbado é o meu favorito. Quando consegui o


papel, tomamos shots com Jaymeson até ele começar a tocar uma
guitarra imaginária, depois cantamos para uma planta da casa,
pensando que era Pris. Eu não o vi beber desde então.

Dani: Ah sim, a planta da casa. Ela jogou fora após os, hum,
gestos que ele fez na direção dela. A planta era Ralph.

Linc: Ralph foi violado?

Dani: Jay tentou beijar Ralph, exibiu-se e depois fez xixi na


planta.

Linc: Pobre Ralph.

Dani: Pobre de mim! Eu testemunhei parte disso.

Faço uma careta, olhando para o meu celular antes de


digitar.

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Linc: Você estava em casa? Quando estive aí?

Ela responde imediatamente.

Dani: Provavelmente. Tendia a ficar muito escondida no meu


quarto naquela época. E eu me lembraria se tivesse te conhecido.

Linc: O mesmo.

Dani: Vejo você daqui a pouco!

Linc: Ok, linda. E feliz aniversário!

Dani: DEZOITO!

Solto um suspiro de alívio. Sei que não vou para a prisão,


mas ainda me assusta, ela era menor de idade; pelo menos agora
não é mais ilegal, e não preciso me sentir tão culpado quando
imagens de seu corpo nu passam pela minha mente um bilhão de
vezes por dia.

Dando uma última olhada no espelho, endireito minha


gravata, pego seu presente e depois vou para a praia.

A festa está em pleno andamento no momento em que


chego. Alec e Nat devem ter conseguido uma babá para seu bebê
de um ano de idade. Ela está sentada no colo dele tomando uma
cerveja e conversando animadamente com uma garota que nunca
vi antes. Ela tem longos cabelos ruivos e pele muito
bonita. Curioso, ando em direção ao grupo. Um cara alto e grande,
que parece um jogador de futebol, passa o braço ao redor da
ruiva. Paro no meu caminho.

“Não merda”, murmuro.

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“Eu sei”, diz uma voz masculina à minha direita. “Ainda me


irrita também. Você percebe quanta proteína tomo diariamente
para ficar parecido com aquele cara?”

Franzindo a testa, eu me viro e começo a rir. “Gabe?”

“Vivo e em carne e osso.” Ele retorna um sorriso fácil e me


puxa para um abraço. “Como você está, cara?”

“Bem.” Caminhamos em direção ao grupo. “Eu não


sabia que você e Jay são próximos.”

“Mais como eu e Demetri”, ele corrige com uma risada. “Eu


voei ontem à noite para fazer o último videoclipe da trilha sonora
com os caras. Depois da turnê com eles, os fãs basicamente
exigiram que fizéssemos outra música juntos, então aqui estou.”

Gabe Hyde, ou Ashton como algumas pessoas ainda o


chamam, é uma das maiores estrelas pop do planeta. Ele se
escondeu por razões que ainda não sei, e voltou à cena há pouco
mais de um ano. Ele fez uma turnê com o AD2, se casou, e
basicamente está espalhado em todos os tabloides desde então. Às
vezes até deixa Zane para trás, o que quer dizer muito, já que Zane
está em toda parte.

“Então...” Aponto para o cara fortão e com o cabelo loiro. “...


é Wes Michels?”

“Quarterback estrela dos Seahawks”, Gabe bufa. “Inferno,


sim. Fiz o cara escrever para mim sua rotina de exercícios exatos
junto com sua dieta. Perdi peso, e ganhei vinte quilos de músculo
puro.” Ele suspira. “Às vezes, à noite, quero matá-lo.”

“Uau, violento.”

Gabe ri, em seguida, chama com o dedo uma menina


pequena com cabelos escuros e ondulados. Ela abre caminho
entre a multidão e pula em seus braços.

“Saylor...” Ele a coloca na areia. “… Este é Linc—”

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Rachel Van Dyken

“Lincoln Greene”. Seu sorriso é enorme. “Sei exatamente


quem você é. O último filme em que você esteve...” Ela balança a
cabeça. “... juro que chorei por dois dias quando você morreu.”

“Obrigado...” Rio. “… Eu acho.”

“Eu te odiava.” Gabe olha para o céu. “Ela assistiu ao filme


cinco malditas vezes, e toda vez tive que consolá-la e lembrar a ela
que era só um filme, que você não estava realmente morto.”

“Vivo.” Dou uma piscadela. “Eu juro.”

“Bem...” Ela suspira. “... foi muito bom. Fiquei muito


animada quando descobri que você faria parte desta série de
filmes.”

Olho ao redor do fogo enquanto Demetri e Alyssa assam


marshmallows. Zane aparentemente está explicando o giro perfeito
do espeto. Wes e a ruiva riem de algo que ele diz, enquanto Jay e
Pris se sentam ao lado de Dani, que está se concentrando muito
mais do que qualquer outra pessoa no marshmallow. “Sim... eu
estou muito grato.”

Naquele momento, Jaymeson fixa em meus olhos e fica em


pé, gritando. “Se você a roubar para fazer sexo com ela, eu te
mato.”

Gabe recua. “Dani?”

Dani revira os olhos e enfia o espeto no rosto de


Jaymeson. Ele mal pega antes que caia na areia. Mas ela já está
correndo em minha direção descalça. Pego-a no ar e a beijo longa
e fortemente. “Feliz Aniversário.”

“Agora sim.” Ela me beija novamente.

Gabe e Saylor me encaram como se eu tivesse perdido a


cabeça.

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“Sim, sim, eu sei. Se eu quebrar o coração dela... você me


parte ao meio.” Reviro meus olhos. “Mensagem recebida.”

“Na verdade...” Gabe pigarreia. “... eu ia dizer que se você


partir o coração dela, vou pedir a Wes e sua equipe para quebrar
você, mas a escolha é sua.”

Wes acena para nós, seu sorriso enorme enquanto olha


entre mim, Dani e Jay. “Então... há quanto tempo isso está
acontecendo?”

“Debaixo do teto dele.” Zane tosse em sua mão.

Eu o encaro furioso.

Wes começa a rir. “Eu não te conheço, mas acho que gosto
muito de você agora.”

Estendo minha mão. “Lincoln Greene.”

A ruiva cora. “Lembra-se daquele filme, Wes? Aquele que eu


chorei.”

“Oh...” O sorriso de Wes murcha. “… aquele filme.”

“Olha, me desculpe!” Jogo minhas mãos para cima.

Ele começa a rir. “Estou brincando. Grande filme! Quis


matá-lo por fazer minha esposa chorar e realmente pensei em
queimar aquela maldita coisa, mas...”

“Um brinde!” Zane fica de pé em um pulo. “À família.”

Dani rapidamente me da um copo de alguma coisa, e o


levanto para o ar enquanto todos brindamos.

“E à aniversariante”, digo depois que bebemos. “Dezoito.


Como você se sente?”

Ela olha ao redor do fogo. “Perfeita.”

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CAPÍTULO TRINTA E SETE

Dani

“Vamos dar uma volta pela praia?” Linc estende a mão para
mim. Com uma risada frívola, agarro-a e o sigo para mais perto da
costa, enquanto todos atrás de nós estão ouvindo AD2 e Gabe
cantando. Alguns anos atrás, se alguém me dissesse que minha
irmã estaria casada com Jaymeson, e no meu aniversário de
dezoito anos eu teria algumas das celebridades mais famosas do
mundo cantando em torno de uma fogueira na praia em minha
homenagem, teria rido na cara deles ou acharia que a pessoa
estava sofrendo de alucinações.

Suas vozes são abafadas pelo rugido do oceano enquanto


seguimos para a praia. Meus pés descalços rangem contra a areia
fria e molhada. Linc não diz nada enquanto caminhamos de mãos
dadas pelo que parece pouco mais de um quilômetro. Finalmente,
para e se vira; seus olhos se iluminam como se ele soubesse um
segredo.

“Você quer seu presente?”

“Você me fez caminhar por mais de um quilômetro para


longe do calor fogo para me dar meu presente?”

Ele leva minhas mãos aos lábios, beijando meus dois


pulsos antes de soltar e colocar uma mão no bolso.

Seus cabelos castanho-avermelhados sopram ao vento,


lançando uma sombra sobre seu rosto. Estremeço, parcialmente
porque estou com frio e parcialmente porque ele é muito

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bonito. Sempre achei isso, mas vê-lo parado diante de mim, sem
segredos entre nós, nada além de excitação sobre o que poderia
acontecer no futuro, faz alguma coisa comigo. Borboletas se
espalham pelo meu estômago enquanto ele levanta uma longa
caixa de joias na mão.

Uma pequena caixa teria me assustado.

Mas parece que é grande demais para ter algo como um anel
dentro dela.

Cautelosamente, estendo minha mão, mas ele puxa de volta


e balança a cabeça. “Um beijo, e então você recebe seu presente.”

“Ah, então tenho que pagar pelo meu próprio presente?”

“Sim.” Ele se inclina, roçando um beijo nos meus lábios.


“Ok, sua dívida está paga. Abra o seu presente.”

Hesitante, puxo-o da mão dele e lentamente levanto a tampa


da caixa preta. Dentro há outra caixa, esta azul. Azul tiffany.

“Oh?” Olho para cima. “Tiffany?”

“Precisei esconder isso para que não soubesse


imediatamente.” Ele assente como se fosse uma ideia brilhante.

Puxo a tampa e ofego. Uma pequena pulseira de prata


captura o luar.

“É uma pulseira de berloques”, diz ele em voz baixa, “... com


um propósito. Espero que você não se importe, mas conversei com
sua irmã sobre...” Ele engole em seco. “... sobre você antes do
acidente, sobre as coisas que você gostava, com as quais estava
envolvida. Ser líder de torcida era obviamente um grande
negócio.” Ele aponta para um berloque de megafone. “E adicionei
a coroa porque você foi uma princesa. Ainda é, se você me
perguntar.” A coroa pende ao lado do megafone. Sua voz falha.
“Adicionei o carro como uma maneira de mostrar que você
sobreviveu a um enorme trauma em sua vida.” Ele aponta para o

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próximo enfeite. “Esta é uma cruz, representando seus pais — o


que eles faziam, o que eles representavam.”

Lágrimas obscurecem minha visão enquanto ele continua


falando.

“Coloquei a caneta para representar sua mudez e sua


capacidade de escrever textos e notas, o que supera em muito
qualquer pessoa que já conheci.”

Engasgo com um soluço.

“E finalmente...” Ele aponta para o último pingente,


um coração vermelho. “Eu coloquei o coração... que você me deu
no minuto em que disse sim. Simbolizando que estou dando o meu
a você também. Eu, uh...” Lincoln pigarreia. “... estava esperando
preencher a lacuna para você. Combinar sua vida de antes do
acidente com a sua vida de agora.”

Eu não tenho palavras.

E, pela primeira vez, não quero palavras. Não estou


tentando falar, envergonhada porque não sou capaz. Porque, às
vezes, palavras são a última coisa que você precisa, especialmente
quando não podem fazer justiça aos seus sentimentos. Pulo nos
braços fortes de Linc e o beijo com toda a paixão que estou
mantendo dentro de mim, envolvendo meus braços em seu
pescoço, embebendo-me nele, fazendo amor com ele com a minha
boca.

“Então”, ele diz rispidamente, recuando apenas o suficiente


para falar, embora seus lábios ainda estejam se movendo contra
os meus. “Posso entender que você gostou do seu presente?”

“Amei.” Eu o beijo de novo e de novo. “É perfeito.”

“Zane te deu um porco de estimação. Um de verdade”, ele


aponta brincando.

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Começo a rir e beijo ambas as bochechas. “Certo, é uma


versão de pônei aos dezoito anos de idade. Entendo, mas isso...”
Pulo de seus braços e estendo meu pulso enquanto ele lentamente
prende a pulseira. “… é absolutamente perfeito.” Sorrio para ele.
“Você é perfeito.”

“Dificilmente.” Ele balança a cabeça, seu tom sério.

“É sim!” Digo em uma voz convincente. “Agora, vou mostrar


a Zane o quão incrível você é.”

“Oh, mal posso esperar.” Linc me pega e começa a


correr. Grito enquanto meu corpo bate contra o dele por todo o
caminho de volta até a fogueira.

“Uau...” Quase caio quando ele me põe de pé. “... você tem
um bom preparo. Lembre- me de nunca fugir de você.”

“Exibindo-se novamente?” Zane olha para cima do violão


que está segurando e pisca para mim.

Fico corada, principalmente porque é Zane, e simplesmente


não posso evitar. “Ele está sempre se exibindo”.

“É verdade que Jay pegou vocês no flagra?” Gabe pergunta,


quando a conversa cai completamente no silêncio, e ele é beliscado
na lateral do corpo por sua esposa. “O que?” Ele olha ao redor.
“Demetri disse...” Ele olha. “Para ver se eu te convido para o Natal
agora.”

“Agora você precisa.” Demetri sorri descaradamente. “Sua


esposa gosta mais do meu purê de batata que do seu.”

“Você batizou o meu”, Gabe explica com uma voz irritada.


“Com sal.”

“Não posso ajudar se você não sabe usar colheres de


medição.”

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Alyssa, a esposa de Demetri, revira os olhos e cobre a boca


de Demetri com a mão.

Sorrio para ela e cubro um bocejo com a minha mão.

“Amanhã temos que acordar cedo.” Jaymeson fica de pé,


olhando para Linc atrás de mim. “Temos que estar no set às
quatro.”

Gemidos são ouvidos em volta da fogueira.

“Espere.” Levanto minha mão. “Todo mundo tem que estar


no set às quatro?”

“Sim.” Pris me dá um olhar de desculpas. “O videoclipe final


será filmado amanhã de manhã, e o tempo deve ficar ruim à tarde.
Precisamos da luz do sol.”

“Cidade errada”, aponto, enquanto todos riem e começam a


recolher o lixo.

“Então...” Demetri se aproxima de nós e passa um braço em


volta de mim. “... o nosso presente é um relógio da Apple, porque
sou tão fodão, mas deixei-o no meu carro. Vou andando com você
e Linc para que possa pegá-lo, está bem?”

“Certo.” Aceno um adeus a todos e dou um passo entre


Demetri e Linc.

Ambos se elevam sobre mim.

E são iguais em tamanho e força.

Quase me sinto como se estivesse sendo escoltada de volta


ao estacionamento por guarda-costas, em vez de meus melhores
amigos.

Por que eu sempre tenho homens como melhores


amigos? Olho para Demetri, que está dando a Linc um olhar
malvado, como se dissesse: ”Agarre a mão dela... e eu a corto”. E

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Linc parece tão casual como sempre, mãos enfiadas nos bolsos,
embora seu braço continuasse colidindo com o meu.

“Pessoal...” Paro de andar. “... não podemos todos fazer as


pazes e sermos amigos?”

“Ele dormiu com você.” Demetri cospe a palavra ele.

“E você é um santo?” Linc começa a rir. “Por favor! Tudo que


eu preciso fazer é pesquisar na Internet e...”

“Ei!” Demetri grita. “Não estamos falando do meu passado


aqui!”

“Mas o meu está em debate?” As sobrancelhas de Linc se


erguem. “Como isso é justo? Os pais de Alyssa ficaram loucos com
sua reputação? Nat ficou? Inferno, o diretor chegou a pestanejar?”

“Várias vezes...” Demetri sorri. “… na realidade.”

“Seu idiota”, Linc murmura. “Não admira que eu esteja


interpretando você tão bem no filme.”

Começo a rir enquanto olho entre os dois. Eles estão


parados do mesmo jeito. Seria hilário se não estivessem na
garganta um do outro.

“Gente, eu amo vocês dois.”

“VOCÊ O AMA!?” Demetri grita.

Enquanto solto um gemido em minhas mãos.

“Presente”, finalmente digo. “Dê-me meu presente para


que possa ir beijar sua esposa e desabafar um pouco.”

“E eu serei o único a fazer isso nesta noite!” Demetri assente


seriamente, em seguida, aponta entre nós dois. “Ela ainda é...
como...” Ele belisca a ponte do nariz. “... ela é como uma irmã,
cara... só...” Ele olha para mim, com o rosto triste. “... não
machuque a única irmã que eu tenho.”

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“Você tem Pris.”

“Shh.” Demetri acena com a mão para mim.

“E Nat.”

“Dani!” Espero que ele bata o pé. “Não agora! Estamos


negociando, está bem?”

Levanto minhas mãos.

“Eu não vou”, diz Linc em uma voz séria. “Eu juro.”

“Bem.” A voz de Demetri perde a maior parte de seu veneno


quando começa a caminhar em direção ao seu novo Escalade
branco, um presente que comprou para Alyssa quando descobriu
que ela queria começar uma família.

Uma vez que pega meu presente, ele caminha lentamente


até mim e depois ergue o relógio da Apple. É o modelo dourado.

O caro relógio dourado.

Está esgotado há meses.

“Dem...”

“Não!” Ele ergue as mãos. “Sem devoluções. Além disso, é


fácil gastar dinheiro, mas presentes que vêm do coração...” Ele
aponta para a minha pulseira de pingentes. “Esses significam
muito mais. Além disso, seu relógio velho é uma merda, e você está
sempre atrasada.”

“Não estou!” Argumento.

“Está sim!” Os caras dizem em uníssono, suas vozes quase


idênticas.

Desta vez eu fico rindo, enquanto Demetri e Linc escondem


seus sorrisos atrás das mãos.

“Amigos?” Linc estende a mão para Demetri.

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Demetri a examina como se estivesse doente, mas


finalmente a balança com firmeza e nos deixa sozinhos,
assobiando enquanto corre de volta para o grupo na praia.

“Ele é...” Dou de ombros. “… diferente.”

“Ele é um bom amigo.” Linc me puxa para perto. “Você


deveria ir para a cama. Além disso, ouvi de uma fonte muito
confiável que há bolo de chocolate esperando por você no balcão.”

“De você?”

“Bingo.” Ele beija meu nariz. “Mas se estiver coberto


de marshmallows quando você chegar a casa, lembre-se, esses não
são minha responsabilidade.”

“Zane” Rio, em seguida, franzo a testa quando Linc começa


a andar em direção a um Benz AMG preto. Uma memória pisca na
parte mais distante da minha mente.

Paro de andar, meus olhos se apertando quando Linc


se aproxima mais do carro. Então as luzes se acendem quando
abre as portas. Ele se vira e franze a testa. “Você está bem? Pensei
que ficaria feliz por eu ter trazido meu carro de Malibu para que
você não tivesse que andar na caminhonete.”

O som estridente de pneus saindo da estrada me atinge com


força entre as têmporas. Cubro meus ouvidos com as mãos e
aperto meus olhos enquanto minha mente volta para aquela
noite...

“Dani!” Demetri grita. “Espere. Você esqueceu seu


telefone.” Ele corre em minha direção no momento em que uma
figura alta entra em um belo Mercedes preto com placa da
Califórnia.

Olho, mas não penso mais nisso. Jaymeson sempre tem


pessoas de fora do estado visitando-o. Estou saindo para uma

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noite de cinema com Dem e Lyss porque Jay tem algum tipo de
reunião.

Faço uma careta quando Demetri se aproxima de mim. Meus


olhos ainda estão no carro.

“Droga.” Ele assobia. “Isso é caro.”

“Hmm.” Dou de ombros e tento pegar meu telefone, mas


Demetri o segura acima da cabeça. “Tente pegar!”

“Oh, eu vou alcançar”, ameaço quando pulo e de alguma


forma perco meu equilíbrio e caio pela pequena inclinação que se
abre na garagem de Jay.

“Ei!” Demetri grita do alto. “Você está bem? Será que


batizamos sua caixa de suco de novo?”

“Há, ha!” Respondo, tentando me levantar, e então as luzes


do Mercedes brilham, me lembrando do acidente, do momento
antes da minha vida se despedaçar na minha frente.

É como se eu estivesse de volta ao carro novamente.

E meu pai estivesse dirigindo.

“Papai!” Eu grito.

O carro desvia.

Mas chego tarde demais. Se eu tivesse acordado mais cedo,


poderia salvá-lo. Eu poderia salvar a mamãe.

Mas eu cheguei tarde demais.

“Não!” Grito quando o carro preto sobe em minha direção,


suas luzes me cegando quando me viro e me encolho de bruços na
grama. Esse grito foi meu? Por que estou gritando? Não é como se
o carro fosse me atingir. Mas é tão alto, tão brilhante.

“Dani!” Demetri me alcança. “Dani!”

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Mas ele chega muito tarde.

O trauma sempre volta. Isso sempre volta. E cabe a você


deixar que ele vença ou lutar.

“Dani!” Lincoln grita meu nome uma e outra vez, mas não
consigo ouvi-lo. Não posso ouvir nada além do meu próprio grito
enquanto cubro meus ouvidos e olho para a areia manchada de
lágrimas na minha frente.

“O que está errado?” Demetri está ao meu lado. Posso sentir


suas mãos nas minhas costas, enquanto Linc está tentando
segurar meu rosto.

“Eu não sei!” Linc grita histericamente. “Ela viu meu carro e
começou a gritar!”

“Seu carro?” Demetri repete, sua voz mais calma quando


meus gritos se transformam em silenciosos soluços contra seu
peito. “Que carro? Você tem uma caminhonete.”

“O que?” A voz de Linc está rouca de tanto gritar meu nome.


“Eu trouxe meu carro porque ela tem medo de caminhonetes. Está
bem aqui.”

Demetri fica tenso e depois xinga violentamente quando Wes


se encontra ao seu lado.

“Leve-a para a cada de Jay.” Demetri se levanta e, de


repente, estou sendo erguida em braços musculosos e levada
embora. Lágrimas obscurecem minha visão. Abro minha boca
para falar, para dizer algo como, “Estou bem, apenas me assustei
porque Lincoln tem um carro igual”, mas as palavras morrem em
meus lábios.

Porque meu cérebro está voando mais rapidamente que


minhas palavras.

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E já havia colocado dois e dois juntos.

Linc esteve lá na noite em que perdi minha voz.

Foi ele quem desencadeou isso em primeiro lugar.

“Que ironia é esta?” Ouço Demetri amaldiçoar novamente e


depois ouço uma briga, como se as pessoas estivessem dando
socos.

A chave para a minha voz também havia sido minha


maldição.

“Shh”, Wes sussurra em uma voz calma. “Vai ficar tudo bem,
Dani. Eu prometo”.

Mas não fica.

Está longe de estar bem.

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CAPÍTULO TRINTA E OITO

Lincoln

Eles não me deixam vê-la. Demetri entrou e saiu do quarto


dela por horas. Eles até deixaram o cara marshmallow entrar, ou
pelo menos ele foi capaz de espiar a cabeça pela porta enquanto
estou encarando, impotente, para a maçaneta da porta, querendo
torcê-la, rezando para que ela venha para mim — ou melhor, corra
para os meus braços e me deixe abraça-la.

Droga. Estou preso na sala de estar, louco de


preocupação. Wes, Gabe, Saylor e Kiersten saíram com Alec e Nat,
o que significa que apenas Demetri, Lyss, e o resto de nós
permanece na casa de Jay.

Aperto meus dedos nas têmporas enquanto tento ouvir a


conversa que Pris está tendo com o terapeuta de Dani.

Tudo parece tão errado.

Falar sobre ela como se estivesse morta, quando Dani está


no outro quarto respirando! Ela tem dezoito anos! E eles a estão
tratando...

Como se estivesse quebrada.

Não é assim que eu a trataria.

A culpa me apunhala no peito, embora saiba que, em teoria,


não é minha culpa. Eu dei partida em um carro, e isso a
assustou. Fim da história.

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Mas pelo menos o mistério da tatuagem na perna dela foi


resolvido. Aparentemente, foi muito breve para eu colocar dois e
dois juntos, mas no minuto em que Demetri explicou tudo, eu
soube. Também permiti que ele me desse pelo menos dois socos
antes que Alec o tirasse de cima de mim.

Toco meu lábio ensanguentado e estremeço quando a dor


continua.

“Ok, obrigada.” Pris joga o celular no balcão. “O terapeuta


diz que ela deve ficar bem. Apenas temos que ter mais cuidado com
os gatilhos que já conhecemos.”

“Besteira.” Pulo do meu lugar. “A última coisa que ela


precisa é que toda a família a trate como se ela fosse uma inválida!
Ela enlouqueceria. É uma droga. Acredite, eu me sinto um merda
sobre isso, mas usar luvas de pelica com ela não vai fazer tudo
melhorar! Isso só vai causar problema!”

“É um problema!” Jay grita. Meus ouvidos começam a


zumbir.

Zane pigarreia. Todos os olhos se voltam para ele. “Eu


concordo com Linc.”

“Graças a Deus, pelo menos um de vocês está pensando


claramente.”

“Zane a conhece há exatamente duas semanas!” A voz de


Demetri é ainda mais alta que a de Jay. “E Linc a conhece há
quanto tempo? Quatro semanas?”

“Deixe-me falar com ela”, imploro.

“Não!” Pris bloqueia meu caminho até a porta de Dani. “Você


poderia fazê-la piorar. Ela poderia nunca falar de novo. Acabei de
recuperá-la.” Lágrimas enchem seus olhos. “Acabei de receber
minha irmã de volta.”

Eles não percebem meu papel nisso? É sério?

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Suspirando, olho para Jaymeson em busca de ajuda, mas


ele está encarando o chão. Alyssa é a única a dar um passo à
frente; ela esteve quieta o tempo todo.

“Dem...” Ela olha para o marido. “... Eu gostaria de pensar


que conheço algumas coisas sobre trauma, e Linc está certo. Ela
nunca vai superar isso até que enfrente tudo. Até que aceite. Então
nós a protegemos agora. O que vai acontecer quando ela encontrar
outro carro igual ao de Linc? E se nós deixarmos tudo pior,
deixando-a com medo dos gatilhos? Temos que fazer o nosso
melhor, e o nosso melhor não é protegê-la, permitindo isso. É
deixando-a livre”.

“Não.” Lágrimas rolam pelo rosto de Pris enquanto balança


a cabeça violentamente.

Jaymeson abaixa a cabeça. Estamos todos


parados. Ninguém faz um movimento.

Pris ainda está bloqueando a porta.

E o desespero já está tomando conta de mim.

E me lembro do dia na praia quando persegui Dani, quando


lhe disse que continuaria a persegui-la, até capturá-la, até que ela
fosse minha.

Então pego meu telefone e começo a digitar vigorosamente,


rezando para que seu telefone esteja com ela no quarto, rezando
para que minhas palavras, pelo menos desta vez, sejam o
suficiente.

Linc: Sinto muito.

Vou para a parte mais distante da sala, tentando digitar


furtivamente para que ninguém veja. Jaymeson está segurando

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Pris enquanto ela chora. Alyssa e Demetri estão discutindo sobre


o que fazer, e os olhos de Zane estão focados em minha mão. Ele
acena com a cabeça uma vez e muito cuidadosamente bloqueia
meu corpo com o dele, inclinando-se preguiçosamente contra o
balcão da cozinha.

Dani: Eu também.

Amaldiçoando para mim mesmo, digito novamente.

Linc: Você me deixou entrar antes. Deixe-me entrar


novamente. Por favor.

Dani: Estou envergonhada.

Reviro meus olhos.

Linc: Porque se assustou? Todos surtam. Merda, eu tinha


medo do escuro até os meus quinze anos porque minha mãe
costumava me dizer que algum homem louco iria me roubar. Ela me
deixou com medo do Papai Noel, Dani. Que tipo de monstro faz você
odiar o Natal?

Dani: Isso é horrível!

Linc: Todos nós temos problemas, mas sabe qual é a melhor


coisa das famílias? Nós ficamos juntos. E sei disso porque meus
avós nunca desistiram de nós, mesmo quando eu era um
adolescente punk tentando me rebelar e ficar chapado com os
vizinhos, vovô bateu na minha bunda e me disse para tirar boas
notas. Família fica junta. Você tem uma família incrível.

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Espero por uma resposta, mas meu telefone permanece em


silêncio. Depois de vários minutos, fica claro que ela não planeja
responder.

Suspiro e envio outro texto, um que pode ser duro, mas duro
parece ser o que ela precisa.

Linc: Seus pais estão mortos.

Dani: Eu sei

Linc: Eles não vão voltar.

Alguns segundos se passam e então meu telefone apita.

Dani: Eu sei

Linc: A vida é assustadora como o inferno, mas prefiro


acreditar que você foi poupada por uma razão, talvez para que em
seu décimo oitavo aniversário pudesse fazer um ator de Hollywood
estúpido e mimado desistir de seu coração e se
apaixonar. Egoisticamente, eu gostaria de pensar que talvez,
apenas talvez, haja um lado positivo, e este seja nós dois.

Ela não manda uma mensagem de volta.

Merda. Enfio meu celular no jeans e encaro a parede. Bato


minha cabeça lentamente contra ela enquanto luto para manter
minhas emoções sob controle. Forçar meu corpo pela porta não
ajudaria ninguém, exceto que isso me faria sentir muito melhor.

A sala fica em silêncio.

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Inferno, eles descobriram que estou mandando mensagens


de texto. Lentamente, me viro e quase caio de joelhos quando Dani
está diante de mim, seu rosto vermelho e manchado de lágrimas.

Ela abre a boca e percebo que ela está lutando para


falar. Pris faz um movimento em nossa direção, mas Jay a segura
para trás.

Dani fecha os olhos.

“Não, querida”, eu sussurro, “mantenha-os abertos. Olhe


para mim. Somos apenas nós.”

Lágrimas se derramam em suas


bochechas. Assentindo lentamente, ela abre a boca. “Eu...” Sua
voz está rouca, grave. “… Eu também gostaria de acreditar nisso.”

Meus joelhos tremem, mas a agarro pelos ombros e a puxo


contra meu peito enquanto beijo sua cabeça. “É um milagre que
você esteja viva, Dani. Você é meu milagre. Talvez seja egoísmo
pensar que, depois de viver em uma família sem amor, eu
finalmente serei recompensado com uma melhor — ao seu lado.
Mas acho na minha mente confusa, é assim que o mundo
funciona.”

Suas lágrimas são quentes contra a minha camisa. “Eu te


amo.”

Demetri e Jay se viram, conduzindo as meninas para a


varanda e fechando a porta, o que é exatamente o que precisa ser
feito. O que está acontecendo ali é muito puro, e não quero
testemunhas.

Zane nos encara silenciosamente, caminhando até o quarto


e fechando a porta atrás de si.

“Dani”, sussurro em seu cabelo. “Olhe para mim.”

Ela levanta a cabeça, seus olhos azuis inchados, bochechas


inchadas.

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“Eu também te amo.”

“Você tem certeza?”

Começo a rir. “Com. Toda. Certeza.” Minha boca encontra a


dela em um sussurro de beijo antes de puxá-la contra mim
novamente; abraçando-a tão forte que é difícil respirar, difícil falar.

“Eu sinto muito.” Sua voz é abafada contra o meu peito.


“Desculpe-me, eu me assustei. Não tinha ideia que era você, e
estava com tanta raiva no começo, e te culpei, e me
desculpe.” Ela soluça. “Mas não é sua culpa. Não é culpa minha
ou dos meus pais.” Seus olhos clareiam. “É a vida.”

Eu concordo. “É a vida, Dani.”

“A vida... significa que tenho que deixar o passado no


passado.”

“Não posso dirigir um carro ao contrário”, eu concordo.

“Não posso dirigir um e ponto. É por isso que Jay me deu


um SUV”, ela brinca.

Rindo, beijo seu nariz. “Vou manter isso em mente.”

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CAPÍTULO TRINTA E NOVE

Dani

Três meses depois

É difícil. Sempre odiei filmes que terminam com ”E eles


viveram felizes para sempre”, porque nunca foi assim que o
mundo real funcionou para mim. Passar pelo inferno não lhe dá
automaticamente um passe livre para o país da alegria. Mas ter
Linc ao meu lado? Deixa tudo melhor, mais fácil, porque
finalmente tenho alguém que me entende e me aceita.

“De jeito nenhum!” Uma garota berra ao meu lado. “Acho


que é Lincoln Greene!”

A amiga dela começa a se abanar. “Sério, me diga se ele não


é a coisa mais gostosa que você já viu?”

“Ouvi dizer que ele está noivo de alguma garota local no


Oregon. Porra, deve ter alguma coisa na água de lá. Você sabia que
o AD2 se casou com garotas locais também?”

“Bem.” A garota de cabelos escuros esfrega as mãos. “Está


resolvido. Estou me mudando para o Oregon!”

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Elas riem até que Linc pega nossos cafés e segue em nossa
direção. Então, silêncio absoluto.

Ele me entrega meu café, dá um beijo suave na minha testa


e sussurra, “Você está pronta?”

“Certo.” Um sorriso satisfeito cruza meu rosto quando as


três garotas soltam suas mandíbulas em uníssono e me observam
sair com a mão dele no meu quadril, enfiada no bolso de trás do
meu jeans.

Engulam suas línguas, senhoritas! Ele é todo meu.

“Então...” Lincoln coloca seus óculos modelo aviador e me


dá aquele sorriso perfeito de estrela de cinema que faz meu coração
bater forte no meu peito. “… para onde?”

“Bem...” Bato em meu queixo. “... nós temos que nos


encontrar com Zane para o jantar, então só temos algumas horas.
Eu diria: Disneylândia.”

Linc me dá os polegares para baixo.

“Ah, vamos lá!” Rio. “Por favor?”

“Oh, o que? O que é isso?” Ele me entrega o café e tira dois


ingressos do bolso. Da Disneylândia.

“LINC!” Grito.

“Pris disse que seus pais sempre prometeram te levar e


nunca conseguiram, então eu sou seu e do Mickey pelo resto do
dia. Demetri, Lyss, Alec e Nat vão nos encontrar junto com a bebê
Ella. É a primeira viagem dela também.”

“Ah, nós podemos procurar orelhas iguais.”

“Ótimo.” Lincoln ri, mas sua excitação combina com a


minha, eu posso dizer.

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“Obrigada...” Engulo o nó na garganta. “... por fazer isso no


aniversário da morte deles.”

“Baby...” Linc pega o café da minha mão e me beija na


bochecha. “... eu sempre estarei aqui para você. Sempre.”

Olho com força dentro de seus olhos cinzentos. “Eu sei.”

“Bom.” Ele leva minha mão aos lábios. “Agora vamos acabar
com isso para que eu possa levá-la de volta para minha casa. Só
temos três semanas antes de termos que voltar para Seaside para
filmar as duas últimas cenas que o seu cunhado rei do drama está
convencido que ficarão melhores se usarmos apenas outro ângulo
de câmera.”

“Cunhado gênio, você quer dizer?” Arqueio minhas


sobrancelhas.

Linc se recusa a admitir isso, mas esse filme tem tanto


burburinho que as pessoas até estão dizendo que pode ganhar
algumas indicações ao Oscar apenas por sua trilha sonora, sem
mencionar Melhor Diretor para Jaymeson, o que seria incrível para
alguém tão jovem.

Andamos de mãos dadas de volta para seu carro.

E isso está ficando melhor, não mais fácil. Ainda tenho


dificuldades com multidões e com estranhos. A última entrevista
que Linc deu, me fez parecer uma lunática porque não consegui
nem responder à perguntas de sim ou não, mas ele não se
importou e, estranhamente, nem o repórter.

A vida, como estou começando a descobrir, nunca será


fácil. Sempre haverão dias difíceis, e dias ótimos, mas o mais
importante é lembrar que estes dias me foram dados.

E meus pais não estão tendo esta chance.

Então meu novo objetivo é viver ao máximo, e graças a Deus,


estou fazendo isso.

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Rachel Van Dyken

EPÍLOGO

Zane

“Ei, você é alguém famoso, certo?”

“Não”, minto, em seguida, saio da fila do supermercado, com


um saco de papel marrom na mão, minha visão já borrando com a
concentração necessária apenas para entrar em um estúpido lugar
público por mim mesmo.

Quando chego ao Range Rover, já estou suando.

Minhas mãos tremem quando tento acertar o botão de


destrave no chaveiro. Eu luto, errando o botão com meu polegar
pelo menos três vezes antes que minhas luzes pisquem e o carro
se abra.

Deposito o pacote no banco do passageiro, coloco o cinto de


segurança e atravesso a cidade em direção à casa de praia.

Todo mundo está dormindo, ou teria implorado, talvez até


subornado alguém para vir à loja comigo. Sempre faço uma piada
com isso. “Venha comigo para que eu não seja assediado
sexualmente.”

Quando realmente.

É medo.

Sempre foi medo.

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Rachel Van Dyken

A porta da casa está destrancada. Viro a maçaneta e entro,


depois fecho suavemente atrás de mim, entrando na grande
cozinha gourmet para colocar meu estoque na despensa.

Estou quase livre quando a luz da cozinha se acende.

Linc está sentado à mesa, um copo de uísque à sua frente,


uma garrafa ao lado do copo e um copo vazio esperando.

“Então...” Ele estende o copo cheio na minha direção. “...


acho que precisamos conversar.”

Reviro os olhos, sacudindo o medo de estar em público e me


apresentando com minha armadura habitual. “Um beijo, Linc.
Para provar um ponto. Supere isto, melhor ainda, faça com que ela
supere isso e quando digo superar, quero dizer na cama. E depois
me ligue e diga obrigado.”

“Obrigado”, diz Linc rapidamente. “Mas não é disso que


estou falando.”

Faço uma careta. “Então, não tenho ideia do que precisamos


discutir.”

“Você é um dos melhores amigos dela. Ela se preocupa com


você. Portanto, eu me preocupo com você. Ela não dorme... eu não
durmo, então sente e me diga por que você realmente está aqui.”

“Porque Deus não me levou para casa ainda?” Ofereço


sarcasticamente. “Quanto desse uísque você bebeu? Seja
honesto.”

“Zane...”

“Vá deitar, me ligue de manhã, as coisas vão parecer...


melhores.”

“Zane...”

Quase rosno quando me viro e agarro o balcão com as


pontas dos meus dedos. “O que?”

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Rachel Van Dyken

“Por que você está aqui?”

Pergunta capciosa. E eu mentirei. Continuarei a mentir


enquanto Jaymeson permitir. “Porque... acho a brisa do mar
positiva... estimulante.”

“Verdade?”

“Sim.” Engasgo com a mentira mais porque realmente gosto


dele.

“Vou acreditar nisso quando vir você visitando o mar.”

Apanhado. Olho para ele sem jeito. “Eu visito.”

“Por você mesmo?”

Meu corpo inteiro fica tenso.

“Foi o que eu pensei.” Ele bate no balcão. “Boa noite, Zane.


Sabe onde me encontrar se precisar de mim.”

“No quarto da minha melhor amiga?”

O corpo de Linc fica rígido. “Não me faça dar um soco em


você. De novo.”

Ele vai embora.

O que é bom, porque se tivesse ficado por mais tempo, teria


visto o suor acumulado nas minhas têmporas, os tremores que
sacodem meu corpo e a mão que se contorce. Com uma maldição,
volto à despensa, pego um saco inteiro de marshmallows e me
afundo neles.

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