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Nov./Dez.2018—Jan.2019
ISSN: 1645-443X - Depósito Legal: 86929/95
P r a ç a1645-443X
ISSN: D . A f o n s o- V , n º 8 6 , Legal:
Depósito 4 1 5 0 - 086929/95
2 4 P o r t o - P O R TU G A L Ano XLIX- nº 394
Praça D. Afonso V, nº 86, 4150-024 Porto - PORTUGAL
FREI BERNARDO E FREI PEDRO
VIDAS NAS MÃOS DE DEUS
LAICADO DOMINICANO
Frei Bernardo Domingues: um corpo tomado pela doença que avança inexorávelmente,
apesar da sua vontade férrea de viver.
Frei Pedro Fernandes: uma queda atirou-o para um coma profundo, a que não
podemos chegar, que nos impede de ouvir a sua voz amiga, de receber o seu gesto de
acolhimento.
Como pensar na comunidade dominicana de Cristo-Rei sem estes dois homens, hoje
confinados a hospitais onde tantos acorrem na esperança de um milagre que restaure as
suas forças, as suas vidas?
A comunidade paroquial de Cristo-Rei reúne-se para rezar por eles e por tantos doentes
em situações dramáticas, expressando assim a sua fé em Cristo que a tantos curou, sempre
que neles via uma atitude de confiança plena no seu poder salvífico…
De todo o lado surgem mensagens de todos aqueles que por eles rezam, e cujas orações
terminam sempre com um “Seja feita a Vossa vontade…”.
Qual é a Tua vontade Senhor? Como olhar para estes acontecimentos, para o
sofrimento? Como perpetuar as vidas destes dois homens que encheram corações de
esperança, que apontaram caminhos de crença e coerência? Como transformar as nossas
lágrimas em gestos concretos de homens e mulheres fieis ao teu Evangelho?
“Em vida, irmão, em vida!” disse tantas vezes o frei Bernardo. “Escuta…” assim
começava tantas vezes o frei Pedro, quando tinha algo importante para nos dizer.
Senhor, ajuda-nos a saber viver com o sofrimento, com a perda.
Senhor, ajuda-nos a compreender os sinais do teu amor por nós nos acontecimentos da
nossa vida e ajuda-nos a aceitar que há acontecimentos que não podemos compreender.
Cristina Busto,o.p.
Laicado Dominicano Nov./Dez.2018—Jan.2019
PORTO
No dia 22 de Dezembro, pelas 21h30, realizou-se
na igreja de Cristo-Rei uma vigília de oração pela paz
LISBOA na República Dem. Do Congo. A organização esteve
No passado dia 9 de Dezembro de 2018, pelas a cargo dos frades do Convento de Cristo-Rei e da
15h30m, realizou-se na igreja de São Domingos – na Fraternidade Leiga de S. Domingos no Porto.
baixa em Lisboa - uma oração Dominicana pela Paz A celebração iniciou-se com a exposição do SS e
na República Democrática do Congo, organizada em seguida o José António Caimoto leu um trecho
pelas irmãs Dominicanas Missionárias do Rosário, do Catecismo da Igreja Católica relativo à paz. Após
presidida pelo Frei José Nunes, op; o esquema da um tempo de silêncio, o Gabriel Silva leu excertos
reflexão sobre os textos bíblicos “MÊS DOMINICANO do discurso de um dos laureados com o prémio No-
PARA A PAZ” foi elaborado pelo Frei Rui Grácio das bel da Paz 2018, o médico congolês Denis Mukwe-
Neves, op; a irmã Deolinda (IMDR) orientou os mo- ge . Após um tempo de silêncio, a Cristina Busto leu
mentos de oração. um texto do livro de Isaías e após mais um tempo de
A irmã Juana (IRM), leu um breve texto sobre a reflexão o Rodrigo Beires (animador dos grupos dos
situação que se vive atualmente na R.D.C.; A irmão “Convívios”) leu a oração dos fiéis com intenções
Teresa (IDSCS), leu um resumo da carta do Mestre pela paz. A celebração terminou com a bênção euca-
geral da Ordem, dirigida a todos os membros da Fa- rística.
mília Dominicana em 24 de Setembro de 2018; A Foram recolhidos 119,72 euros que posterior-
Leonor das equipas de Santa Maria, recitou o poema mente foram transferidos para a conta bancária da
“A PAZ SEM VENCEDOR E SEM VENCI- Universidade de Uélé, que é gerida em grande parte
DOS” (Sophia de Mello Breyner Anderson). pelos dominicanos, tal como tinha sido proposto
Por fim, o padre Claudino dos Combonianos pelo Mestre Geral.
que tem estado na RDC, falou-nos como é difícil Cristina Busto,o.p.
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Meus caros pais e mães, colegas de infortúnio, é preciso pôr na ordem as senhoras-paroquianas-
tenho cada vez mais a certeza de que levar os miú- profundamente-devotas-e-que-acham-que-eu-sou-um-
dos à missa é porventura a melhor educação que impuro-samaritano. Estas senhoras dizem que as
lhes podemos dar. Não estou a falar de instrução, crianças não devem fazer “coisas” na missa. Eu res-
embora a missa não seja despicienda nesse aspecto. pondo, Então a sua solução é ter igrejas vazias? Está
Não é possível compreendemos a civilização que a conseguir, muitos parabéns!
criámos sem as leituras da Bíblia. Crente ou não Em terceiro lugar, a criança aprende na missa
crente, a Bíblia é alta cultura. Mas hoje quero ape- que não é o centro do mundo. Este é talvez o ponto
nas falar de educação moral. Na odisseia que é criar central, porque vivemos numa sociedade que deu a
uma pessoa decente, entre o cinismo e a lamechice, soberania à criança. Ela cresce a pensar que tem
a missa é um degrau único. uma gravidade especial e que tudo gira mesmo à sua
Em primeiro lugar, a criança aprende ali a estar volta, da televisão ao fim-de-semana dos pais. Ali,
calada, o que espantoso nesta época de perpétua entre cânticos e incenso, ela percebe que afinal não
conversa; não há telemóvel falado ou escrito. Apren- tem a gravidade de Júpiter. Há um ritual para cum-
de o valor do silêncio e da introspecção numa época prir, um rito que é exterior à sua vontade. Mais im-
que mata o silêncio todos os dias. Estamos na Torre portante do que o rito, aprende que há valores eter-
rodeados por neve e pelo silêncio da montanha, nos que são mais importantes do que qualquer pes-
mas o bar tem a música em altos berros. Quando se soa ou moda.
pede para baixar, a resposta é, Não posso! A nossa Em quarto lugar, percebe que há um mundo hu-
atmosfera é esta, percebe? Não, não percebo. A igre- mano e analógico para lá dos ecrãs, um mundo que
ja é cada vez mais o único espaço que educa para o muitas vezes é diferente do seu. Sim, na Paz de Cris-
silêncio. to, tem de dar um beijo a um estranho mesmo
Em segundo lugar, a criança aprende a controlar quando esse estranho é uma velhinha com um buço
o seu perímetro físico. As minhas filhas às vezes es- amazónico. Ó pai, aquela senhora pica! Pois pica,
tão chatas, não param quietas, mas pelo menos sa- mas é tua irmã. Ó pai, aquele senhor velhinho tem
bem que não podem sair daquele apertado círculo à um cheiro esquisito! Pois tem, mas é teu irmão. Je-
nossa volta. No máximo, escondem-se debaixo do sus nasceu entre pessoas como esse cheiro.
banco e por lá pintam cadernos que transformam o Henrique Raposo
genuflexório numa mesa de pinturas. Sim, às vezes, (cronista jornal “Expresso”)
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FRATERNIDADE DE AVANCA
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(continuação da pág.anterior)
INADMISSÍVEL, FINALMENTE!
Quando era jovem, uma coisa que me incomoda- mo papa em 1997 reforça, no bom sentido, a excepci-
va era o facto de a Igreja aceitar a pena de morte co- onalidade da pena de morte ao alterar a redacção do
mo uma pena legítima. Sempre me pareceu contradi- nº 2267 do Catecismo, acrescentando que os casos
tório com o mandamento «não matarás» e com o facto legítimos de extrema gravidade seriam «muito raros e
lógico de a aplicar-se tal pena, se suprimir definitiva- praticamente inexistentes», de acordo com o que havia
mente a possibilidade de redenção do condenado, o defendido na encíclica ‘Evangelium Vitae’ (1995)2. E
que me parecia contradizer o ensinamento cristão. quer João Paulo II, quer Bento XVI, quer Francisco
Acrescia uma outra razão, política, por não me pare- sempre apelaram à revogação da pena de morte em
cer razoável, nem legítimo que a sociedade entregasse múltiplos apelos em diferentes países onde era aplica-
ao Estado o poder de matar um dos seus membros, da, saudando e encorajando todos quantos contra ela
fosse porque razão fosse, acrescendo ainda os vários se batiam.
casos conhecidos de erros judiciais. Neste caso, e por Tal evolução e mudança veio a culminar com o
natureza, irreparáveis. Papa Francisco, que em Outubro de 2017 pediu que
É certo que durante séculos, considerou a Igreja a fosse feita uma reformulação do ensinamento sobre a
pena de morte como uma punição admissível, se pro- pena de morte, «a fim de reunir melhor o desenvolvimento
nunciada pela autoridade legítima. São Tomás de da doutrina sobre este ponto nos últimos tempos». Nesse
Aquino defendia que «se um um homem é perigoso para sentido, em Agosto passado promulgou uma nova
a sociedade e a corrompe por algum pecado, louvável e salu- versão daquele canône o qual afirma que: «Por isso a
tarmente se lhe tira a vida para a conservação do bem Igreja ensina, à luz do Evangelho, que «a pena de morte é
comum, pois como afirma São Paulo, "um pouco de fermen- inadmissível, porque atenta contra a inviolabilidade e dig-
to corrompe toda a massa»1. . E tal ensinamento ficou nidade da pessoa», e empenha-se com determinação a favor
em vigor até ao final do século XX. Mas como é natu- da sua abolição em todo o mundo3.».
ral, algo ser admissível (ou proibido) durante séculos, Agora posso dizer: já não era sem tempo, final-
mesmo na Igreja, não o torna por si mesmo nem ra- mente!
zoável, nem aceitável. Faltará agora apenas fazer o mesmo com a guerra.
Com a publicação pelo Papa João Paulo II do Ca-
tecismo da Igreja Católica, em 1992 fiquei chocado Gabriel Silva,o.p.
por mais uma vez se admitir como legítima a pena de
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morte, embora agora viesse revestida, e pela primeira Tratado da Justiça II, IIae, Q. 64, a.2
2
Catecismo da Igreja Católica, nº2267, (1997)
vez, com uma carácter de excepcionalidade. O mes- 3
Congregação para a Doutrina da Fé, 2 de Agosto de 2018
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FREI BERNARDO
Conheci o Frei Bernardo no início dos anos sua sabedoria e experiência, bem como no facto
noventa, no Convento Cristo-Rei, no Porto. Nes- de ambos trabalharmos na formação em saúde.
sa altura, recém-chegado de Lisboa para trabalhar Era sobretudo aí que se cumpria o seu carisma
em Vila Real, matriculei-me, por curiosidade in- dominicano, orando, estudando, pregando, pois
telectual e necessidade profissional, numa pós- que o entusiasmo do Frei Bernardo com as ques-
graduação na Universidade do Porto. As aulas, tões da ética e o seu envolvimento com o perso-
em horário pós-laboral, eram à sexta-feira à tarde nalismo cristão, sempre numa perspectiva práti-
e ao sábado. A minha relação com os dominica- ca, ligada à vida concreta, era contagiante e o rit-
nos – e, sobretudo, a generosidade destes – leva- mo que marcava a sua escrita e as obras que pu-
ram a que me acolhessem naquele Convento, blicava são disso um exemplo: “Religião e Psico-
jantando ali à sexta-feira e pernoitando para sába- logia” (1989), “Personalismo: perspecti-
do. Ao sábado, saía cedo com o Frei Jerónimo e vas” (2000), “Bioética: questões disputa-
íamos os dois à comunidade das Irmãs Missioná- das” (2001), “Tornar-se Pessoa Boa para agir
rias do Rosário celebrar a eucaristia e tomar o Bem” (2002), “É bom promover a saúde e a éti-
pequeno-almoço. Conheci, pois, o Frei Bernardo ca” (2003), “Quem somos e como viver com sen-
– que me impressionou logo pelo contraste entre tido personalista?” (2012) – eis algumas entre
a sua figura austera e a doçura no trato pessoal – muitas outras publicações em que partilhou o seu
no refeitório do Convento Cristo-Rei e no corre- saber com tanta gente.
dor que lhe é adjacente: eram longas conversas,
José Carlos Gomes da Costa.o.p.
em que muito aprendi, conversas sustentadas na
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Assim, quando olhamos para trás nos nossos dias “In all seasons, for all reasons`
centramo-nos automaticamente naquilo que correu praying throughout the year”
mal, no que precisa de ser concertado. Uma parte James Martin, SJ
das nossas conexões / do nosso passado emocional Tradução de Mº. da Paz Silva Ramos
F i c h a T é c n i c a
Jornal bimensal Rua Comendador Oliveira e Carmo, 26 2º Dtº
Publicação Periódica nº 119112 / ISSN: 1645-443X 2800– 476 Cova da Piedade
ISSN: 1645-443X
Propriedade: Fraternidade Leigas de São Domingos Endereço: Praça D. Afonso V, nº 86,
Contribuinte: 502 294 833 4150-024 PORTO
Depósito legal: 86929/95 E-mail: laicado@gmail.com
Direcção e Redacção Tiragem: 350 exemplares
Cristina Busto (933286355)
Maria do Carmo Silva Ramos (966403075) Os artigos publicados expressam apenas
Colaboração: Maria da Paz Ramos a o p i n i ã o d o s s e u s a u t o r e s .
Administração: Maria do Céu Silva (919506161)
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