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O STATUS

CONSTITUCIONAL
DAS LEIS GERAIS

JÚNIOR FARIAS – EDITOR E IDEALIZADOR


VICTOR PICANÇO – CO-AUTOR

1ª Edição
2010
-2-

ÍNDICE
Página

PREFÁCIO – Marcel Rocha 3

INTRODUÇÃO 5
Júnior Farias

1ª Parte – Tratado Teórico sobre as Leis 6


Gerais de Status Constitucional

CAPÍTULO 1 – O Status Constitucional das Leis 7


Gerais.
Júnior Farias

CAPÍTULO 2 – Aplicabilidade do Status 9


Constitucional quanto à matéria.
Victor Picanço

CAPÍTULO 3 – Aplicabilidade do Status 12


Constitucional quanto à forma.
Júnior Farias

CAPÍTULO 4 – A Interpretação das Leis Gerais de 14


Status Constitucional.
Júnior Farias

CAPÍTULO 5 – Controle de Constitucionalidade das 21


Leis Gerais de Status Constitucional.
Júnior Farias

CAPÍTULO 6 – Ação Direta de Inconstitucionalidade 23


por ofensa à Lei Geral.
Júnior Farias
-3-

PREFÁCIO

O amadurecimento e complexificação das instituições gevenses é


resultado e prova inequívoca do sucesso de nossos concidadãos na plena e
concreta consolidação dos diferentes valores e cosmovisões abstratas de
grupos e indivíduos numa autêntica identidade micronacional, original e sólida.

Esta complexificação, apesar de desdobramento de um processo


absolutamente positivo, não obstante apresenta suas vicissitudes: cada vez
mais observamos, principalmente entre novos cidadãos, e mesmo entre os mais
antigos em algumas situações, a incapacidade de lidar com as sutilezas
inerentes a relações sociais complexas - e desconectadas de uma prévia
experiência cotidiana, no caso específico dos cidadãos mais recentes e menos
ambientados - e que podem criar todo o tipo de dificuldades de adaptação,
ambientação e do adequado desenvolvimento de uma atividade micronacional
ativa e bem-sucedida. Isto é particularmente verdade no que diz respeito às leis
gevenses, seu alcance e aplicação.

O Poder Judiciário do Governo Virtual está em atividade desde a


fundação da micronação, quatro anos atrás. Em seu embrião, refletia a
estrutura do GV de então, uma simulação da política macronacional brasileira
em uma comunidade de discussões em um sítio de relacionamento, o Orkut,
sendo que sua atuação era basicamente discricionária e lidava com assuntos
referentes à manutenção da ordem num ambiente de fórum de discussões. Era,
por assim dizer, mais semelhante a uma autoridade polícial que um judiciário
de fato.

Foi apenas com a fundação da III República, após o caos ter-se instalado
na comunidade onde anteriormente se realizavam as discussões a atividades
gevenses, que o poder judiciário adotou sua forma atual, com atuação menos
discricionária e polícial e mais isonômica e próxima de uma atividade de uma
autêntica corte de justiça. Á época, éramos basicamente dependentes de textos
legais alheios à nossa realidade micronacional, como a constituição da
República Federativa do Brasil e, se isso por um lado gerava uma série de
situações absurdas e a necessidade de uma hermenêutica singular, por outro
lado serviu como um farol daquilo que tínhamos como nosso objetivo nesse
campo: desde então, nossos juristas se debruçaram sobre os desafios e
contingências que iam surgindo, adequando o exercício do direito a
necessidades e uma práxis realmente micronacional, chegando até os dias de
hoje, quatro anos depois, uma eternidade num ambiente onde as coisas
acontecem na velocidade de um clique.

Leis gerais. Leis comuns. Jurisprudência. Emendas constitucionais.


Referendos. Plebiscitos. Código Penal. Protocolos de ação judicial. A correta
compreensão destes e outros termos e conceitos correntes na ciência e na
prática do direito e da arte de legislar, julgar e advogar, adequados e
adaptados às nossas necessidades particulares micronacionais, podem
representar um desafio, e frequentemente o são, àqueles cidadãos que
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desejam desenvolver uma atividade prolífica e vitoriosa, seja na política


gevense, como legisladores e membros do poder executivo, seja nas coisas de
justiça, quer como juízes, promotores e juristas.

A estes futuros notáveis, este livro do Júnior Farias, emérito jurista e


muitas vezes ministro da suprema corte de justiça do Governo Virtual, escrito
em colaboração com o Victor Picanço, maior legislador da história do GV, vem
como um presente de inestimável valor. Estou certo que estes escritos se
tornarão leitura obrigatória para consultas por parte de todos aqueles que
queiram atingir o máximo de suas potencialidades no Governo Virtual, bem
como livro de cabeceira para muitos outros gevenses.

As explicações são sucintas e esclarecedoras, escritas numa linguagem


dinâmica e acessível ao leigo no assunto, e tudo exposto numa forma concisa e
organizada, facilitando consultas ulteriores.

Obrigado, Junior e Victor!, por mais esta inestimável contribuição para o


Governo Virtual.

Marcel Rocha
-5-

INTRODUÇÃO

Senti-me compelido a escrever esta obra por dois motivos. O primeiro foi
a publicação da primeira obra jurídica do GV (“Comentário à Constituição
Gevense, de Victor Picanço). O segundo é a necessidade de teorizar algo que
percebi na Constituição do GV e que é fundamental para a vida jurídica, política
e social do GV: As Leis Gerais.

Desenvolvo o tema em duas partes: a primeira parte é chamada


“Tratado Teórico sobre as Leis Gerais de Status Constitucional”, a qual traz todo
postulado doutrinário sobre o que se entende como Status Constitucional e
como deve ser ele aplicado; a segunda parte, reservada a outro momento,
apresenta a interpretação das leis gerais da República.

Confesso que senti a necessidade especial de classificar os direitos e


garantias fundamentais expressos na Lei Geral dos Direitos e Garantias
Fundamentais dos Cidadãos como normas de caráter constitucional. É que
diante da relevância desses direitos não seria possível classificá-los como
normas infraconstitucionais, embora sejam do ponto de vista formal, até certa
medida. É preciso dotá-los de força constitucional para que efetivamente
vejamos o indivíduo protegido diante dos abusos cometidos tanto pelo Estado e
seus representantes quanto por outros indivíduos (eficácia vertical e eficácia
horizontal – tema que será estudado mais à frente).

Tentarei me manter fiel à tradição há pouco iniciada pelo escritor e


jurista Picanço, a de expor o Direito através de uma linguagem simples, ao
alcance de todos. Quando não puder fazer isto, saibam que não será
arbitrariamente, mas sim pelo fato de o assunto aqui tratado ser bastante
teórico.

Eu espero que todos, sobretudo aqueles que cumprem funções públicas,


os agentes públicos de modo geral, possam ler, aprender e criticar esta obra,
com fins ao crescimento da erudição gevense e de um maior desenvolvimento
jurídico-social. O GV tem capacidade para se tornar uma grande nação não só
pelo fato de construir boas estruturas micronacionais, mas também porque
tem, dentre os seus membros, pessoas com grande capacidade intelectual, tais
como Victor Picanço, Diego Mariano, Guilherme Macalossi, Marcel Rocha, Eric T
S, Vincenzo, Henrique Lemos etc. Assim, também é finalidade desta obra
chamar os gevenses à produção científica nacional.
-6-

1ª PARTE

TRATADO TEÓRICO SOBRE AS LEIS GERAIS DE


STATUS CONSTITUCIONAL
-7-

CAPÍTULO 1 – O Status Constitucional das Leis Gerais.

Antes de tratarmos sobre os efeitos da aplicação do Status


Constitucional, é a priori necessário definir o conceito de Status Constitucional,
caracterizando-o também quanto aos aspectos que nos permitem identificá-lo
tanto na Constituição quanto nas leis gerais por ele alcançadas.

Por Status Constitucional podemos entender a aplicação da


eficácia hierárquico-normativa da Constituição a normas inferiores a
ela do ponto de vista hierárquico. Picanço¹, falando sobre o princípio da
supremacia da Constituição, observou:

A partir dessa rigidez podemos extrair o princípio da


supremacia constitucional, consagrada no parágrafo único do
art. 1º, que dispõe: “o povo, o Estado e seus entes são 6
subordinados à Constituição e estão submetidos à legalidade
democrática”.

Isso significa que a Constituição é, em sua unidade, a Lei que se situa no


topo da hierarquia do Ordenamento Jurídico, de modo que qualquer lei que a
contrarie é invalida. É o que chamamos de inconstitucionalidade.

Esta mesma supremacia aplicável à Constituição pode ser aplicada,


segundo entendo da exegese de certos artigos da Constituição, às leis gerais
que se enquadrem dentro de certos requisitos que as eleve à categoria de
normas constitucionais – o que chamamos de status constitucional.

Há, portanto, uma grande diferença entre considerar as leis gerais meras
leis inferiores à Constituição e considerá-las de status constitucional. No
primeiro caso teríamos leis passíveis de inconstitucionalidade, de aplicação
afastável diante de um caso concreto, sujeitas a alterações de acordo com o
livre-alvedrio do Parlamento ou de revogação por lei posterior. No segundo
caso todas essas possibilidades restariam ou prejudicadas ou limitadas. Sobre
essas considerações falarei em capítulo específico.

As leis gerais de status constitucional estão, portanto, inseridas no corpo


constitucional. É claro que não formalmente, como se emendas fossem, mas,
na interpretação e aplicação dessas leis, os órgãos do Estado, notadamente o
Poder Judiciário, terão de aplicá-las com força de Constituição, inclusive
opondo-as, se for o caso, às leis infraconstitucionais e declarando a
inconstitucionalidade destas se ferirem aquelas.

O parágrafo 2º do artigo 8 da Constituição é quem estabelece o Status


Constitucional ao dispor:

§2º. São considerados direitos fundamentais os dispostos neste


capítulo, os direitos políticos e os prescritos na Lei Geral de
Direitos e Garantias Fundamentais dos Cidadãos, sendo vedada
-8-

qualquer proposta legislativa tendente a aboli-los ou, de


qualquer forma, reduzir sua eficácia.

Este parágrafo da Constituição atribui à lei geral a tarefa de reconhecer


outros direitos fundamentais não estabelecidos na Constituição. Foi mais além
ao revestir a lei geral que tratasse desse tema com uma proteção especial: a
das cláusulas pétreas. Isso significa, grosso modo, a proibição de qualquer
proposta legislativa atentatória a qualquer destes direitos, direta ou
indiretamente, em todo ou em parte. Essa proteção típica das Constituições
rígidas vincula as próprias emendas constitucionais, as quais também não têm o
condão de revogar ou limitar qualquer dos direitos fundamentais estabelecidos.

Agora, imagine-se que, após o Legislador reconhecer vários direitos e


garantias fundamentais em Lei Geral, venha o Parlamento e revogue um desses
direitos no próprio texto constitucional via emenda. O que teríamos? Teríamos,
em tese, uma lei geral garantidora de direitos e garantias fundamentais
contrária à Constituição. No entanto, o parágrafo 2º seria suficiente argumento
de inconstitucionalidade dessa emenda constitucional. A rigor, teríamos uma
emenda constitucional inválida por contrariar uma Lei Geral que, por força do
parágrafo 2º aqui discutido, tem força normativa constitucional.

Portanto, temos no parágrafo 2º do artigo 8 da nossa Carta da República


o fundamento normativo do Status Constitucional. A partir dele podemos
deduzir, conforme a teoria dos poderes implícitos, que toda lei geral que trate
explicitamente de matérias constitucionais terão status constitucional. Em
outras palavras, a Constituição dispensa proteção especial a algumas leis gerais
por causa das matérias tratadas por elas, já que tais matérias são naturalmente
tratadas nas Constituições e não em plano infraconstitucional (inferior à
Constituição). O resultado foi uma espécie normativa responsável por tratar de
competências materialmente constitucionais com eficácia normativa típica de
Constituição. Assim, deu-se mais liberdade ao Legislador para reconhecer
direitos fundamentais em lei infraconstitucional com força de Constituição.

Além de a matéria tratada ter de ser caracteristicamente constitucional –


sobre o que falaremos no próximo capítulo – é igualmente necessários que
certos aspectos formais sejam verificados. Sobre isso também falaremos mais à
frente, mas entendimento genuíno da Constituição já nos indica que, além das
Leis Gerais, não há outro tipo de lei (ou de projeto legislativo) ao qual se possa
atribuir o status constitucional.

Em síntese, o status constitucional é o mecanismo pelo qual a


Constituição atribui às leis gerais que tratem de matérias tipicamente
constitucionais o poder hierárquico-normativo que lhe é peculiar.

BIBLIOGRAFIA CITADA

1 – PICANÇO, Victor. Comentários à Constituição Gevense. 2010.


-9-

CAPÍTULO 2 – Aplicabilidade do Status Constitucional Quanto à


Matéria.

Neste capítulo foi realizada análise acerca da aplicação do status


constitucional às Leis Gerais em função da matéria tratada por elas. Isto é,
buscou-se entender como é dispensada à Lei Geral esta qualidade de “status
constitucional” em virtude do conteúdo normativo presente na lei.

A Constituição da República de 2009 delegou a regulamentação de


determinadas matérias – essencialmente constitucionais – às Leis Gerais,
indicando expressamente quais as matérias que assim devem ser consideradas.
Ou seja, trata-se de um rol taxativo, que somente poderá ser ampliado ou
reduzido através de Emenda à Constituição.

Com efeito, assevera o art. 19, §2º da Constituição:

§2º. As Leis Gerais tratarão da estruturação dos poderes do


Estado, das eleições, dos direitos e garantias fundamentais dos
cidadãos, além dos assuntos que a Constituição assim dispuser
e serão tidas como aprovadas após votação no Parlamento em
que obtenham votos favoráveis de no mínimo dois terços do
total de membros do Legislativo.

Percebe-se que o referido mandamento constitucional estabeleceu


exatamente certo número de matérias que seriam tratadas em Lei Geral e
permitiu que a Constituição, em outros artigos, indicasse outras matérias que
não foram listadas neste dispositivo.

Depreende-se da norma em análise que além da Lei Geral Eleitoral, dos


Direitos e Garantias Fundamentais dos Cidadãos, e da Organização dos Poderes
do Estado, a própria Constituição estava autorizada a incluir outras matérias
neste rol em outros dispositivos. Apesar disso, não se discute a taxatividade das
matérias tratadas pelas Leis Gerais, pois - embora não reunidas numa única
norma – são encontram-se enumeradas ao longo do texto constitucional.

Importante ressaltar que padece de inconstitucionalidade a Lei Geral que


tratar de matéria diversa daquela que o poder constituinte ordenou que
tratasse. Logo, se a Constituição preceitua que a questão da aquisição da
cidadania gevense deve ser tratada em Lei Geral específica e esta Lei geral
dispõe sobre organização política, estará condenada à inconstitucionalidade –
passível de ADIn.

Neste sentido, cabe o estudo desses dispositivos constitucionais. Com


efeito, traz-se à colação o art. 4º da Constituição que assim estatui:

Art. 4º. A República do Governo Virtual é um Estado unitário,


sendo permitida a criação de províncias e distritos através de
procedimento definido em Lei Geral.
- 10 -

A questão territorial é, indubitavelmente, uma assertiva própria do texto


constitucional. Destarte, a Constituição entregou aos parlamentares o poder de
criar uma Lei Geral que regulasse o tema – a Lei Geral da Divisão
Administrativa e Territorial, LG nº 2/2009.

A referida lei indicou a formatação territorial do GV, as unidades político-


administrativas e sua forma de criação e organização, tratou ainda sobre o
Distrito de Novo Horizonte, capital da República e das possibilidades de
expansão territorial por meio de anexação.

Adiante, a Constituição ordena a criação da Lei Geral de Direitos e


Garantias Fundamentais dos Cidadãos – concretizada na LG nº 3/2009 – em
seu art. 8º, §2º:

§2º. São considerados direitos fundamentais os dispostos neste


capítulo, os direitos políticos e os prescritos na Lei Geral de
Direitos e Garantias Fundamentais dos Cidadãos, sendo
vedada qualquer proposta legislativa tendente a aboli-los ou, de
qualquer forma, reduzir sua eficácia.

Esta Lei Geral lista os direitos fundamentais dos cidadãos gevenses.


Pode-se dizer também que tal Lei é duplamente protegida pelo véu
constitucional: por um lado, possui status constitucional; de outro, suas normas
são cláusulas pétreas, não podendo ser abolidas ou terem sua eficácia
diminuída.

Já o art. 9º, caput, prevê a criação da Lei Geral Eleitoral (LG nº 4/2009):

Art. 9º. A soberania popular será exercida por meio do voto


livre, secreto, direto, universal, facultativo e de valor igual para
todos através das eleições, referendos, plebiscitos e iniciativa
popular, nos termos da Lei Geral eleitoral.

O art. 24 dispõe que esta lei regulamentará a escolha dos membros da


Suprema Corte de Justiça:

Art. 24. O Poder Judiciário é formado pela Suprema Corte de


Justiça, órgão formado por 3 membros escolhidos na forma da
Lei Geral Eleitoral para um mandato de 6 meses.

O art. 26 indica que a Lei também deverá dispor sobre organização de


referendos e plebiscitos:

Art. 26. Serão organizadas pela SCJ, além dos referendos,


plebiscitos e eleições para a SCJ, nos termos da Lei Geral
Eleitoral:
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A Lei, publicada em 2 de dezembro de 2009, no mandato de Marcel


Rocha, regulamentou o processo eleitoral do GV, estabelecendo normas
concernentes à elegibilidade, inscrição eleitoral, forma e organização das
votações etc.

O art. 14, §3º, aponta a criação de uma Lei Geral para tratar
exclusivamente sobre a organização político-partidária:

§3º. A Lei Geral de Organização dos Partidos Políticos


disporá sobre sua estruturação, manutenção, fusão e extinção.

Já o art. 15,§1º prevê a elaboração da Lei Geral de Organização dos


Poderes, ao dispor:

§1º. As competências legislativas do Parlamento serão


dispostas na Lei Geral de Organização dos Poderes.

Esta norma deve ser interpretada tendo em mente o princípio da unidade


da Constituição. Isso porque, através da mera leitura, pode-se pensar que a
matéria a ser tratada pela referida Lei Geral restringe-se às competências
legislativas do Parlamento.

Porém, não é isso que ocorre. Ora, o referido art. 19, §2º também
prescreveu a criação desta Lei, entendida como a norma que regulamentará o
exercício do poder pelas instâncias do Estado: Executivo, Legislativo e
Judiciário, acém da Promotoria Pública de Justiça. O §1º do art. 15 tão somente
especifica uma faceta que deve estar contida na Lei: as competências
legislativas do Parlamento. Ao clamar pelo princípio da isonomia, chega-se à
conclusão natural de que a Lei também deve conter as competências
legislativas do Executivo e Judiciário – se houver – além das atribuições dos
poderes da República, nos termos do parágrafo único do 23:

Parágrafo Único – Os Ministros de Estado serão nomeados


Presidente da República e terão suas atribuições definidas na
Lei Geral de Organização dos Poderes.

Ainda, em seu último artigo, a Constituição ordena a criação de uma


última Lei Geral: a que trata sobre os procedimentos de imigração, diplomacia,
turismo e relações exteriores:

Art. 31. A Lei Geral da Diplomacia, Turismo e Imigração


definirá as normas relativas à política externa e de imigração.

É a Lei Geral nº 6/2010.


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CAPÍTULO 3 – Aplicabilidade do Status Constitucional Quanto à Forma

A Constituição impõe outra exigência para a aplicação do instituto


conhecido como status constitucional; essa exigência, diferente da estudada
no capítulo anterior, diz respeito à forma necessária, isto é, aos aspectos
técnico-formais a serem exigidos para a aplicação da força normativa
da Constituição às leis gerais.

O primeiro requisito essencial é a necessidade de o dispositivo pertencer


a uma lei geral devidamente aprovada pelo Parlamento. Como bem explicado, a
Constituição só mantém relação especial com as leis gerais, tratando as demais
espécies de ato legislativo de maneira ordinária. Portanto, o status
constitucional só deve ser aplicado às leis gerais, tomando-se o
cuidado para avaliar se a sua aprovação no Parlamento seguiu a
Constituição (caso contrário, a lei geral será inconstitucional).

Verificando-se que se trata de lei geral devidamente aprovada, deve-se


seguir à análise material, cujo estudo foi realizado no capítulo anterior pelo
mestre Victor Picanço. Isso é necessário porque o Legislador, naturalmente,
pode ter tratado, em lei geral, de aspecto que não mereça o status
constitucional por ser matéria alheia à Constituição.

Vejamos um exemplo. O inciso II do artigo 12 da Lei Geral dos Partidos


Políticos estabelece prazo máximo de inatividade de 2 meses para os partidos
políticos e que, vencido o prazo, a Promotoria pode pedir a cassação do registro
partidário. Observe que o prazo pode(ria) ser de 1 mês, 3 meses, 4 meses etc.
Em outras palavras, o prazo não deve ser considerado como norma de caráter
constitucional e, portanto, não pode ser protegido pelo status constitucional.
Normalmente, normas que estabelecem prazos, procedimentos e, em alguns
casos, competências secundárias não são de alçada constitucional.

De outro modo, o artigo 3 da mesma lei garante aos cidadãos a criação


de partidos políticos a qualquer tempo. Trata-se de um direito valioso para a
própria higidez democrática, de modo que, sob pena de subversão ao Estado
de Democrático de Direito, o legislador sequer pode aboli-lo ou limitá-lo.
Normas que estabelecem direitos, deveres, garantias, estrutura e competência
dos Poderes são amiúde constitucionais.

Algumas leis gerais podem tratar inteiramente de matéria constitucional,


como a Lei Geral dos Direitos e Garantias Fundamentais. Nesse caso, não é
mister analisar um dispositivo particular; o operador do direito pode reconhecer
o status constitucional com segurança.

Encerro este breve capítulo fazendo uma síntese aos leitores sobre o
processo de identificação de norma à qual se deva aplicar o status
constitucional:
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1º - Identifica-se a lei geral e se foi aprovada conforme o rito


determinado pela Constituição.
2º - Faz-se a análise material da lei ou do dispositivo da lei (que
pode ser alínea, inciso, parágrafo, artigo etc.). Somente se for matéria
constitucional aplica-se o status constitucional.
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CAPÍTULO 4 – A Interpretação das Leis Gerais de Status


Constitucional

Chegamos a um dos capítulos mais importantes desta obra. O leitor


deverá redobrar sua atenção neste capítulo, pois dele aprenderá o modo de
interpretação tanto das leis gerais de status constitucional quanto da
Constituição propriamente dita.

É forçoso entender que, reconhecido o status constitucional


relativamente a um dispositivo de lei geral (ou a ela como um todo, como
acontece com a Lei Geral dos Direitos e Garantias Fundamentais), não será ele
interpretado como se fosse dispositivo de lei infraconstitucional. Se ele versa
sobre matéria constitucional, devemos interpretá-lo como se fosse texto
constitucional. A resposta para “como interpretar uma lei geral de status
constitucional?” é a mesma para “como interpretar a Constituição?”.

1) NECESSIDADE DE INTERPRETAR A CONSTITUIÇÃO.

A interpretação de qualquer lei, incluindo-se a Constituição, é necessária


para revelar-se “o conteúdo, o significado e o alcance de uma norma, tendo por
finalidade fazê-la incidir em um caso concreto¹”. Além da necessidade de
interpretação da Constituição, dentro deste processo faz-se mister a
“construção”, entendida como “tirar conclusões a respeito de matérias que
estão fora e além das expressões contidas no texto e dos fatores nele
considerados. São conclusões que se acolhem no espírito, embora não na letra
da norma.”²

Explico: Ao interpretar, o exegeta (a pessoa que realiza a


interpretação) define o significado do texto constitucional considerando
as peculiaridades da realidade social, política, econômica, cultural, histórica e
ideológica do Estado, vinculando ao texto constitucional. Gilmar Mendes nos
ensina que “interpretar um ato normativo nada mais é que colocá-lo no tempo
ou integrá-lo na realidade pública”.³

Ao “construir”, o exegeta recorre à considerações extrínsecas ao


texto constitucional, definindo conceitos em geral abstratos. As
abstrações são abundantes na Constituição (os princípios são um exemplo), o
que eleva a importância da construção. Segundo Thomas Cooley, a construção
é “a arte ou processo de descobrir ou expor o sentido e a intenção dos autores
da lei tendo em vista sua aplicação a um caso dado, onde essa intenção se
apresente duvidosa, quer por motivo de aparente conflito entre dispositivos ou
diretivas, quer em razão de que o caso concreto não se ache explicitamente
previsto na lei” 4 .

Normalmente, a Constituição estabelece princípios, estrutura o Estado e


confere ela direitos e garantias. A maioria das normas constitucionais, por
apresentarem conceitos, comandos organizacionais e regras de criação e
aplicação de outras normas, é abstrata, em maior ou menor grau, a ponto de
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exigir, mais do que nunca, a presença do intérprete. Não é característica do


Texto Constitucional apresentar abundância de normas de condutas,
aquelas que prevêem a um fato uma conseqüência jurídica. Conforme
anota Canotilho, “as normas constitucionais apresentam, em geral, maior
abertura (...) que torna indispensável uma operação de concretização” 5 .

A interpretação é o método fundamental pelo qual o hermeneuta, por


meio de técnicas que veremos mais adiante, dá sentido ao texto da lei
(incluindo-se a Constituição), dando a ele efetividade sobre os casos concretos
conforme o avanço sócio-político percebido e, inclusive, solucionando
eventuais conflitos de sentido entre o próprio texto.

Abaixo há um esquema simples de como ocorre a interpretação em


geral:

2) Verifica-se a
1) Apura-se o adequação da norma
conteúdo da norma ao caso.
jurídica

3) Aplica-se a norma
ao fato, produzindo
uma regra concreta
que regerá o caso.

É importante frisar as duas finalidades específicas da interpretação


constitucional:

a) Aplicação direta sobre uma relação jurídica quando conferir


direito subjetivo. Exemplo: direito ao voto (art. 9º da Constituição); permissão
para criação de partido político (art. 14 da Constituição) etc.

b) Controle de Constitucionalidade, isto é, compatibilidade de uma


norma inferior com a Constituição.

Nas demais espécies de lei, a finalidade “a” é predominante. Além disso,


dispensa-se o uso da construção e trabalha-se muito menos com conceitos
genéricos ou abstratos.
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Finalizo reforçando que do mesmo modo que interpretamos a


Constituição teremos de interpretar as leis gerais de status
constitucional ou seus dispositivos aos quais seja reconhecido o
status constitucional. Mas até agora falamos sobre a necessidade da
interpretação, seu conceito e finalidades. Adiante falaremos sobre o avanço de
sentido que o texto constitucional sofre por meio da interpretação, o que
aumenta a importância do intérprete na construção social e política da
sociedade.

2) MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL

A mutação constitucional é a mudança progressiva e histórica de


sentido que determinada norma constitucional sofre através de sua
interpretação. É informal porque não segue o rito ordinário de mudança
constitucional estabelecido na Constituição (via emenda constitucional). Isso
garante o caráter dinâmico e progressista da Constituição, impedindo-a de
“engessar”.

Todos sabem que, conforme a sociedade evolui, novas situações e novas


necessidades surgem. Se admitida uma mesma interpretação ad eternum,
sempre precisaríamos de uma nova Constituição. A interpretação da norma
jurídica, e também da constitucional, ganha relevância ao adequar as leis e
seus conceitos à realidade social.

3) OS INTÉRPRETES

Questão interessantíssima: quem é o intérprete das leis? E quem é o


intérprete da Constituição?

Vivemos em uma sociedade pluralista e democrática. A


“sociedade aberta dos intérpretes da Constituição” é o conjunto de todos os
possíveis intérpretes da Constituição, formado por todos aqueles que “vivem” a
norma. Embora os órgãos estatais também façam parte dessa sociedade,
cidadãos (doutos ou não), órgãos não-governamentais, a opinião pública etc.
constituem forças produtivas de interpretação.

4) CLASSIFICAÇÃO E MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO

A interpretação é uma técnica, e, como tal, é baseada em


critérios objetivos, ainda que em tais critérios possa haver elementos
subjetivos inerentes tanto a quem interpreta tanto à realidade. O
intérprete tem de ter em mente a solução da controvérsia e a busca da melhor
solução possível, sendo necessários aplicar, em muitos casos, mais de um
método de interpretação. Contudo, deve-se dispensar atenção aos chamados
hard cases que são aqueles que apresentam mais de uma solução jurídica
possível
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A Doutrina e a Jurisprudência se responsabilizam por definir tais técnicas


e critérios. Por haver muitos métodos e classificações, trarei neste trabalho os
mais importantes para a realidade gevense conforme as seguintes
classificações:

4.1 – Interpretação quanto à origem: 6

A interpretação constitucional pode ser legislativa, administrativa, judicial


ou doutrinária.

Os poderes Legislativo (interpretação legislativa) e Executivo


(interpretação administrativa) realizam, no exercício de suas funções, a
interpretação de normas jurídicas, notadamente as constitucionais, já que são
elas as que os estrutura.

A doutrina também realiza a interpretação das leis e da Constituição


como auxílio teórico aos demais intérpretes.

No entanto, é o Poder Judiciário quem pronuncia a interpretação


última e obrigatória relativamente aos demais poderes e aos cidadãos.
É o que se chama de função jurisdicional, exclusiva e indelegável.

4.2 – Interpretação quanto à extensão: 7

A interpretação pode ser, quanto à extensão, declarativa, extensiva ou


restritiva.

Declarativa: quando houver compatibilidade as palavras e o sentido


lógico da norma.

Nem sempre o Legislador é feliz na produção de um texto


legislativo, coisa que pode acontecer inclusive na Constituição. Se
houver conflito entre as palavras e o sentido lógico, proceder-se-á a um dos
modos de interpretação abaixo:

Extensiva: transcende-se o sentido literal da norma a fim de obter seu


real sentido. É mais aplicável a normas definidores de direitos, garantias e
prazos.

Restritiva: limita-se o sentido literal (ou gramatical) da norma jurídica


para se chegar ao seu verdadeiro sentido. Aplicável às regras gerais, às de
benefício e às punitivas.

4.3 – Métodos de Interpretação: 8

Vários são os métodos de interpretação. Como já afirmei logo acima,


tomarei os mais comuns e importantes à realidade gevense.
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4.3.1 – Interpretação Clássica:

A interpretação clássica é utilizada por aqueles que consideram


a Constituição como lei. Os elementos tradicionais de exegese são:

a) Elemento Gramatical: análise textual e literal. É, geralmente, o


ponto de partida de todos os demais métodos de interpretação.
b) Elemento Lógico: busca-se a harmonia lógica das normais
constitucionais.
c) Elemento Sistemático: é análise harmônica do todo
constitucional. Também é método basilar de interpretação de qualquer lei.
d) Elemento Teleológico: a finalidade da norma é o cerne da
interpretação. A título de exemplo, na Ação Cível 018/2010 prolatei decisão em
que afirmei ser a finalidade do artigo 27 da Constituição “a proteção do próprio
Estado Democrático de Direito”.
e) Elemento Doutrinário: utiliza-se da doutrina.
f) Elemento Evolutivo: segue o modelo da mutação constitucional.

Cumpre ressaltar que os elementos do método clássico podem e devem


ser utilizados concomitantemente na interpretação da Constituição e das
demais leis do Ordenamento Jurídico.

Há, ainda, outros métodos não-clássicos interessantes à nossa realidade,


os quais descrevo abaixo:

4.3.2 – Método científico-espiritual:

A análise parte da realidade social e dos valores insculpidos na


Constituição, implícitos ou explícitos. A Constituição, o Estado e o Direito são
meios de realização de valores aos quais se vinculam.

4.3.3. Método normativo-estruturante:

Este método põe como diferentes a norma jurídica e o texto normativo.


Só há norma jurídica, segundo dizem, depois do trabalho de
concretização do texto normativo à realidade, isto é, após o trabalho do
intérprete.

4.3.4 – Método de comparação constitucional:

É a comparação entre os dispositivos dos vários Ordenamentos


Jurídicos. É incomum no Governo Virtual, mas, conforme avançarmos nas
relações intermicronacionais, ganhará relevância.

4.4 – Princípios da Interpretação Constitucional: 9


- 19 -

Estes são os princípios que orientam a tarefa do intérprete em relação ao


texto constitucional no sentido de auxiliar esta tarefa interpretativa específica.

4.4.1 – Princípio da Unidade da Constituição:

A Constituição deve ser interpretada como um todo, isto é, como


um sistema uno e harmônico, e as possíveis contradições devem ser
superadas. Se a Constituição é una, os dispositivos de status constitucionais
fazem parte dela, ainda que “informalmente”.

4.4.2. Princípio do efeito integrador:

Segundo este princípio, as soluções constitucionais devem sempre


primar pela integração social e política. Deve ter como fim a unidade
política.

4.4.3. Princípio da máxima efetividade:

A norma constitucional deve ter a máxima efetividade social, isto é, o


intérprete sempre deve reconhecer a maior eficácia da Constituição,
sobretudo no que diz respeito aos direitos fundamentais.

4.4.4. Princípio da conformidade funcional:

O intérprete não deve subverter as funções e competências


precípuas dos órgãos instituídos na Constituição.

4.4.5. Princípio da harmonização:

Segundo este princípio, de máxima importância, havendo choque


entre bens jurídicos de envergadura constitucional (como direitos
fundamentais e princípios constitucionais) deve-se primar pela harmonia
entre eles. É o que se pode chamar de ponderação de valores constitucionais.
Exemplo disso é “conflito” diário entre o direito à privacidade e o direito à
informação.

4.4.6. Princípio da força normativa:

O intérprete deve aplicar a Constituição sempre privilegiando a sua força


normativa, isto é, o intérprete deve tornar a Constituição sempre “atual”
e aplicá-la quando e onde for necessário.

4.4.7. Princípio da Interpretação conforme a Constituição:

Havendo múltiplas interpretações a respeito de uma lei ou


dispositivo infraconstitucional, a preferência será dada àquela que mais se
aproxime da Constituição, rejeitando-se as demais ou as que forem
contrárias à Constituição.
- 20 -

4.4.8. Princípio da proporcionalidade e da razoabilidade:

É considerado um princípio geral do direito, sendo, portanto, aplicado


como regra geral de interpretação. É sempre utilizado para verificar a
adequação de uma restrição de direito ou quando há conflito entre
valores constitucionais. Farei um resumo já que sua definição é um pouco
complexa.

Atinge-se a proporcionalidade e a razoabilidade quando:

1) A restrição é indispensável e necessária para o caso concreto,


não havendo solução menos restritiva.
2) O meio utilizado é capaz de atingir o seu objetivo. Adequação
do meio utilizado.
3) Sendo a medida necessária e adequada, verifica-se se a
realização da medida supera a restrição imposta. Isto é, maior efetividade
com a menor restrição possível.

4.4.9. Teoria dos Poderes Implícitos:

Se a Constituição outorga expressamente uma competência a


um específico órgão estatal concede a ele, implicitamente, os meios
necessários à plena realização da respectiva competência. A análise
deve sempre passar pelo controle do princípio da proporcionalidade.

Esta teoria, de origem americana, é interessante para o nosso estudo. A


nossa Constituição reservou matérias tipicamente suas às leis gerais. Por conta
da Teoria dos Poderes Implícitos, ela deve reservar também a força normativa
que estas matérias teriam se estivessem presentes em seu texto.

Encerramos aqui este capítulo. Tudo que aprendemos deve ser


aplicado tanto na interpretação da Constituição quanto às leis gerais
de status constitucional.

BIBLIOGRAFIA CITADA

1 – BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição. 1999.


2 – Ibid.
3 – LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 2009.
4 – BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição. 1999.
5 – Ibid.
6 – Ibid.
7 – Ibid.
8 - LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 2009.
9 – Ibid.
- 21 -

CAPÍTULO 5 – Controle de Constitucionalidade das Leis Gerais de


Status Constitucional

É possível que uma lei geral seja inconstitucional? A resposta é


sim. A Constituição é o fundamento de validade de todo Ordenamento Jurídico.
Devemos lembrar que a aplicação do status constitucional refere-se à força
normativa quando presentes os pressupostos estabelecidos na própria
Constituição. O status constitucional se apóia na própria Constituição,
como as leis gerais também nela se apóiam.

É possível haver dois tipos de inconstitucionalidade em atos normativos:


a primeira é a formal (ou nomodinâmica) e a segunda é material (ou
nomoestática). A constitucionalidade das leis gerais será verificada
normalmente quanto à matéria, relativamente às demais espécies de atos
legislativos, e, quanto à forma, obedecerá a algumas peculiaridades.

1) REGRA GERAL.

O controle concentrado de constitucionalidade (via Ação Direta de


Inconstitucionalidade, que torna nula a lei) é efetuado em face de atos
normativos. Ato normativo é o ato jurídico editado pelo poder público, geral,
abstrato e imperativo.

A inconstitucionalidade material diz respeito ao conteúdo do ato


normativo, quando se mostrar incompatível com qualquer preceito ou
princípio da Constituição. Esse tipo de vício de inconstitucionalidade por estar
presente em um artigo inteiro da lei ou, até mesmo, em uma palavra ou
expressão.

Quando um ato normativo qualquer desobedece à Constituição


no seu processo de formação ela é nula por inteiro. Não importando o
seu conteúdo, ela é formalmente inconstitucional. Pode ocorrer durante seu
processo de formação (durante o processo legislativo, que segue o devido
processo legislativo) ou por ter sido elaborada por autoridade incompetente.
Podemos classificar a inconstitucionalidade formal em dois tipos:

a) Orgânica: quando o ato normativo foi elaborado por autoridade


incompetente. Por exemplo, não compete ao nosso Parlamento legislar sobre
organização administrativa local de um distrito.
b) Formal propriamente dita: será (1) subjetiva quando verificar-se na
fase de iniciativa e (2) objetiva quando se verificar nas demais fases do
processo legislativo.

2) REGRA APLICÁVEL ÀS LEIS GERAIS

Haverá inconstitucionalidade material sempre que determinado


dispositivo de lei geral contrariar a Constituição. Se, por exemplo, a Lei Geral
dos Poderes conceder ao Parlamento pequena competência de cunho
- 22 -

jurisdicional, ela será inconstitucional nessa parte, pois a função jurisdicional é


atribuída pela Constituição exclusivamente ao Poder Judiciário. É claro que se
um dispositivo de lei geral contrariar a Constituição ele não terá o
reconhecimento de status constitucional.

No tocante à inconstitucionalidade formal, constata-se, de acordo com a


regra geral, que a lei geral pode apresentar as seguintes espécies de
inconstitucionalidade formal:

a) Orgânica: é a que se refere à autoridade competente para elaboração


da lei geral. Somente o Parlamento Nacional pode elaborar lei geral.
b) Formal propriamente dita: não haverá a modalidade subjetiva uma
vez que a Constituição não fez reserva de iniciativa a qualquer lei geral. Haverá
objetiva se descumprido o processo de formação, como uma votação sem o
quorum de dois terços.
c) Temática: é uma particularidade da Lei Geral. A Constituição não só
reservou matérias específicas às leis gerais; ela também ordenou a criação de
leis gerais específicas para cada tema. À guisa de exemplo, o Direito Eleitoral só
pode ser regulamentado na Lei Geral Eleitoral e não, hipoteticamente, na Lei
Geral dos Poderes.
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CAPÍTULO 6 – Ação Direta de Inconstitucionalidade por ofensa à Lei


Geral de Status Constitucional

Este capítulo é, talvez, o mais importante em natureza prática para a


realidade jurídica do Governo Virtual. A Ação Direta de Inconstitucionalidade
(ADI), sendo meio de controle da constitucionalidade dos atos normativos, deve
ser estendida em favor das leis gerais às quais for reconhecido o status
constitucional.

Concordamos que a lei geral (ou seus dispositivos), obedecidos os


requisitos, possui eficácia hierárquico-normativa constitucional. Isso significa
que um ato normativo ofende, na prática, a própria Constituição quando
contraria uma lei geral de status constitucional.

Atualmente, enquanto não aprovada a Reforma do Judiciário enviada por


mim no dia 27 de dezembro de 2010 ao Parlamento, não há possibilidade de
fulminar um ato normativo que contrarie lei geral. O Judiciário pode, no
entanto, negar vigência ao ato normativo no caso concreto nas ações que lhe
forem submetidas.

Se a Reforma for aprovada – é crucial, diga-se de passagem – a


Suprema Corte de Justiça poderá julgar ADI contra lei que contrarie lei geral de
status constitucional. Nesse estilo, os princípios da máxima efetividade e da
força normativa da Constituição estarão plenamente satisfeitos no ordenamento
pátrio.

Ao final, cuida ressaltar que a ADI em defesa de lei geral de status


constitucional (ou de dispositivo de lei geral ao qual tenha sido reconhecido
status constitucional) deverá ser julgada como se fosse para defesa da própria
Constituição.

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