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ASPECTOS TÉCNICOS PARA GERAÇÃO E


EXPORTAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA POR
USINAS SUCROALCOO....

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Dionízio Paschoareli
São Paulo State University
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ASPECTOS TÉCNICOS PARA GERAÇÃO E EXPORTAÇÃO DE ENERGIA
ELÉTRICA POR USINAS SUCROALCOOLEIRAS
Gil Mesquita de Oliveira Rabello Queiroz1, Dionízio Paschoareli Júnior2
1
Departamento de Projeto e Desenvolvimento
Pioneiros Bioenergia S/A
Sud Mennucci – SP
E-mail: gil.mesquita@pioneiros.com
2
Departamento de Engenharia Elétrica, Universidade Estadual Paulista-UNESP-Campos de Ilha Solteira.
Avenida Brasil, 56 – Centro 15385-000 Ilha Solteira – SP PABX: (18) 3743-1000
E-mail: dionizio@dee.feis.unesp.br

Resumo – Este artigo apresenta os aspectos técnicos caldeiras, resultando na produção das energias mecânica e
necessários para que uma usina sucroalcooleira, que térmica. Porém, sem nenhuma preocupação em fazê-lo de
possui sistema de cogeração, possa operar como forma eficiente.
exportadora de energia elétrica. Discute as adequações e Entretanto, a partir da crise que levou ao racionamento de
otimizações, no processo de produção de álcool e açúcar, energia em 2001, o governo brasileiro implementou novas
que proporcionam um aumento no excedente de energia regras no mercado de energia elétrica. Este fato foi muito
elétrica para exportação. O caso de uma usina importante para impulsionar o setor sucroalcooleiro a investir
sucroalcooleira, operando como uma unidade de geração na modernização de seus parques industriais, com o objetivo
termelétrica é apresentado, com a descrição dos de torná-los mais eficientes e, assim, comercializar a energia
componentes necessário para a geração e seu excedente nos leilões de energia, em programas de incentivos
acoplamento no sistema interligado nacional. como o PROINFA (Programa de Incentivo às Fontes
Alternativas de Energia) ou até mesmo no mercado livre.
Palavras-chave – Cogeração, geração termelétrica,
geração distribuída.
II. CONFIGURAÇÃO DE UMA USINA COGERADORA
Abstract – This paper presents technical aspects DE ENERGIA ELÉTRICA
necessary to allow a sugar-cane plant, which promotes
cogeneration, to operate as an electrical energy producer. No setor sucroalcooleiro, o principal sistema de cogeração
Changes and optimization in the process to produce é aquele que emprega turbinas a vapor como máquinas
alcohol and sugar, which results in the increase of térmicas e que aparece vinculado a três configurações
electrical energy to export are discussed. A case of a fundamentais: turbinas de contrapressão, combinação de
sugarcane plant, working as a thermoelectric power plant turbinas de contrapressão com outras de condensação que
is presented. The necessary components to generate empregam o fluxo excedente e turbinas de extração-
energy and to connect the thermoelectric plant to the condensação. A condensação de uma parte do vapor de
main transmission system are described. escape, ou de uma extração de vapor de uma turbina de
extração-condensação, garante as necessidades de energia
Keywords – Cogeneration, thermoelectric generation, térmica do sistema [1].
embedded generation Em usinas que tenham o objetivo de comercializar energia
excedente, torna-se necessário o uso de turbinas de extração-
I. INTRODUÇÃO condensação. De acordo com [1], além de altos índices de
desempenho, tais máquinas de condensação com extração
O termo cogeração possui diferentes definições. Porém, a regulada se justificam também pela sua capacidade de
que melhor identifica este processo em uma usina satisfazer a relação energia térmica e elétrica que pode variar
sucroalcooleira é a produção combinada de potência elétrica em uma ampla faixa. Este sistema, com maior capacidade de
e/ou mecânica e térmica a partir de um mesmo combustível. produção elétrica, possui normalmente turbinas de extração
Nas usinas de açúcar e álcool, a cogeração sempre esteve dupla, sendo a primeira, no nível de pressão em que o vapor
presente, através da queima de bagaço da cana-de-açúcar em é requerido pelas turbinas de acionamento mecânico, e a
segunda, na pressão em que o vapor é consumido no um maior aproveitamento deste vapor. Este é caso das usinas
processo produtivo. A Figura 1 ilustra um processo que vêem a venda do excedente de energia como uma
trabalhando em regime de cogeração com o emprego de realidade, passando a ser um terceiro produto das usinas,
turbinas de extração-condensação. além do açúcar e álcool. Este cenário é aplicado aos
modernos projetos das usinas sucroalcooleiras que estão
sendo construídas na região centro sul do país. No cenário 4,
foram mantidas as alterações do cenário 03 e realizada uma
otimização no consumo de vapor da usina termelétrica, agora
na linha de baixa pressão. Estas melhorias na redução do
consumo de vapor de processo causaram uma maximização
na geração de energia elétrica, tendo em vista que toda
economia deste vapor foi aproveitada para maximizar a
condensação do turbogerador (menor consumo específico) e,
conseqüentemente, otimizar a geração de energia elétrica da
unidade termelétrica.
Os resultados apresentados mostraram os possíveis ganhos
e potenciais de excedente de energia elétrica que poderiam
ser comercializados em cada uma destas situações. Na
Tabela 1, são apresentados os resultados da simulação de
potencial de geração cada um destes cenários [2].
TABELA 1
Quadro comparativo do potencial de geração e
. exportação de energia elétrica
Fig. 1. Diagrama de um sistema de cogeração a partir do GERAÇÃO EXPORTAÇÃO
uso de turbinas a vapor de extração-condensação. CASO DESCRIÇÃO
kWh/tc kWh/tc

Assim, para que se tenha excedentes de energia elétrica, Conjunto de Baixa Eficiência
01 13,0 -
deve-se investir em tecnologia, aumento da eficiência dos Térmica
equipamentos industriais, redução no consumo de vapor e
também em características da matéria-prima, como o teor de Conjunto de Alta Eficiência
02 80,0 65,2
fibra da cana-de-açúcar. Térmica
Uma usina convencional não consegue obter um
03 Eletrificação 119,3 90,5
excedente de energia se não fizer alguma destas
modificações. Em [2], foi analisada a evolução tecnológica 04 Melhorias no Processo 130,2 101,5
das usinas, apresentando quatro cenários diferentes. No
cenário 1, foi caracterizada uma instalação típica do setor
sucroalcooleiro que utiliza, para queima do bagaço, caldeiras III. POLÍTICAS AFIRMATIVAS PARA A COGERAÇÃO:
de baixa eficiência operando com baixa pressão e baixo O PROTOCOLO AGROAMBIENTAL
aproveitamento térmico. O vapor gerado por estas caldeiras é
utilizado em turbinas de simples estágio com baixíssima Além da modernização das usinas para a ampliação do
eficiência térmica transformando energia térmica em energia potencial de geração, outros fatores também estão
mecânica para o acionamento de moendas ou transformadas começando a ser utilizados, ou estão em fase final de estudo,
em energia elétrica através de um gerador. Este caso para que seja possível um aumento ainda maior da cogeração
representa as usinas mais antigas do país, que estão em nestas usinas. Dentre as muitas possibilidades que estão
operação há algumas décadas, e que não sofreram nenhum sendo estudadas, a que já começa a ser implantada é a do uso
tipo de modernização no seu parque industrial. No cenário 2, da palha para aumento do potencial da cogeração o que
foi caracterizada a instalação de uma caldeira de alta pressão possibilitaria também uma geração durante o ano todo.
com eficiência térmica elevada, possibilitando a otimização Os estudos para utilização da palha no processo de
do uso do combustível. Foi substituído o turbogerador de cogeração foram intensificados nos últimos anos, provocados
simples estágio de baixa eficiência por uma turbina multi- pelas constantes discussões em torno da redução gradativa da
estágio de condensação, que possui baixo consumo queimada da palha da cana-de-açúcar. Particularmente no
específico de combustível, possibilitando assim uma maior estado de São Paulo, este assunto está bem avançado,
geração de energia elétrica para a mesma quantidade de principalmente com a implantação de um programa
combustível. Este é o caso das usinas que optaram em fazer denominado “Etanol Verde”, onde foi firmado um Protocolo
um “retrofit” em seu parque industrial. No cenário 3, foram Agroambiental pelo Governo do estado de São Paulo, pelos
mantidos os investimentos feitos no cenário 2 e realizado um Secretários de Estado de Meio Ambiente e de Agricultura, e
investimento adicional na substituição das turbinas do pelo presidente da UNICA (União da Indústria de Cana-de-
acionamento mecânico de picadores, desfibradores e Açúcar) [3]. O Protocolo visa premiar as boas práticas do
moagem, por motores elétricos de alta eficiência e, desta setor sucroalcooleiro, através de um certificado de
forma, o vapor antes destinado às turbinas será utilizado ao conformidade e outros benefícios. Através de sua publicidade
longo dos estágios da turbina multi-estágio, possibilitando ao mercado, do certificado concedido ao produtor e
renovável periodicamente, o Protocolo determina um padrão A geração de energia elétrica através do bagaço não é
positivo a ser seguido. Em fase de operacionalização e considerada energia firme por ser uma geração, em sua
aplicação em larga escala em todo o estado, o instrumento grande maioria, de forma sazonal, ou seja, apenas no período
cobre alguns dos principais pontos de redução de impactos de safra. A partir deste cenário, houve um aumento na
da cultura, como a antecipação dos prazos de eliminação da procura de recursos para a cogeração na entresafra.
queima da palha da cana, a proteção de nascentes e dos Utilizando-se a mesma tecnologia da safra, são possíveis
remanescentes florestais, o controle das erosões e o adequado outras soluções, a partir da queima de outros combustíveis,
gerenciamento das embalagens de agrotóxicos. como resíduos de madeira, palha, e combustíveis fósseis,
Entre as principais diretrizes deste protocolo estão a durante a entresafra. A geração na entresafra normalmente é
antecipação do prazo final da queima da palha de cana, em estudada para as usinas mais eficientes e que tenham a venda
terrenos com inclinação até 12%, de 2021 para 2014. Em de energia excedente como um de seus produtos. Dentre os
terrenos onde a inclinação seja superior a 12%, esta combustíveis fósseis com maior possibilidade de utilização
antecipação será de 2031 para 2017. para a geração no período da entresafra destacam-se o carvão
A partir destas diretrizes, os estudos em torno do e o óleo combustível, devido a sua adaptação ao sistema
aproveitamento da palha se intensificaram, identificando um original [4].
outro potencial de combustível para a geração de energia Segundo [4], seja qual for o novo combustível utilizado,
elétrica. Logo começaram os esforços para tornar possível a as caldeiras deverão sofrer algumas modificações em seus
recuperação da palha deixada no campo. Contudo, as projetos originais para que sejam adaptadas e assim possam
tecnologias das colhedoras aplicadas anteriormente no setor receber este combustível complementar e produzirem no
ainda não permitiam a mecanização total da colheita, período de entresafra, sem que seja prejudicada sua operação
principalmente pelas características topográficas dos durante o período de safra.
terrenos, variedades de cana-de-açúcar e excesso de mão de
obra disponível. Atualmente, os investimentos para IV. O SISTEMA ELÉTRICO DE UMA USINA
recuperação da palha deixada no campo estão cada vez mais TERMELÉTRICA À BIOMASSA DE CANA-DE-
intensos, visando, além de uma melhor produtividade, a AÇÚCAR
utilização da palha, juntamente com o bagaço, na produção
de energia elétrica, aumentando a potencialidade da venda de Uma unidade termelétrica a bagaço de cana-de-açúcar,
excedentes de energia elétrica [4]. Como discutido em [5], que tenha capacidade de exportação de energia, é composta
com o uso da palha, combinado ao bagaço disponíveis para de vários sistemas, como a caldeira, a turbina, o gerador
cogeração, seria possível dobrar o potencial de geração das elétrico, a subestação elevatória e o sistema de transmissão
usinas em um horizonte de 6 anos. Para realização deste de energia. A caldeira é conhecida como gerador de vapor,
calculo, foi estimado o uso de 75% de bagaço e 50% de pois é o equipamento que fornece o vapor necessário para
palha. Os resultados podem ser verificados na Tabela 2. movimentação das palhetas da turbina. Esta turbina estará
acoplada a um gerador que irá produzir a energia elétrica em
TABELA 2 média tensão. Geralmente, esta energia é elevada em uma
Expansão da Bioeletricidade no Brasil com o uso da subestação para tensões de 138 kV, 69 kV ou ainda 34,5 kV
palha (menos usual), para ser transmitida por uma linha de
transmissão até o ponto de conexão, onde passará a fazer
parte do sistema elétrico nacional – SIN. Esta conexão pode
ser através de um seccionamento de linha de transmissão,
conexão radial em uma outra subestação, ou mesmo uma
derivação em alguma linha de transmissão.
Ainda fazem parte desta composição uma série de
conjuntos periféricos, que vão desde a alimentação da
caldeira com o combustível (bagaço de cana), até o sistema
de refrigeração dos mancais do turbogerador, sistema
captação de água, etc.
Atualmente, muitas usinas têm feito mudanças no seu
sistema de moagem, substituindo turbinas a vapor por
motores elétricos, devido ao ganho no potencial de
Obs: valores acima, levantamento feito para produção de cogeração.
cana, bagaço e palha estão em milhões de toneladas
1x25/31,25 MVA, sistema de medição e sistema de proteção
V. PROJETO EFICIENTE DE COGERAÇÃO – O CASO composto por um conjunto de relés (proteção de linha
DA UTE PIONEIROS principal e retaguarda, proteção sobrecorrente e proteção
diferencial do transformador). O projeto de expansão da
Para ilustrar um projeto eficiente de cogeração de energia, geração da UTE prevê a instalação de um segundo bay, com
é utilizado o caso da Unidade Termelétrica da Usina as mesmas características. Para entrada em operação
Pioneiros (UTE Pioneiros), localizada no município de Sud comercial, foi assinado o “Acordo Operativo” entre a UTE
Mennucci (SP), que iniciou sua operação comercial em maio Pioneiros (proprietária SE 138 kV), Elektro (concessionária
do 2006. É considerado o projeto mais eficiente de todo o de distribuição energia) e CTEEP (proprietária da Linha de
setor sucroalcooleiro, devido ao aproveitamento de forma Transmissão Ilha Solteira-Jales). Neste “Acordo Operativo”,
eficiente do vapor produzido. Outro ponto de destaque é que foram descritos todos os procedimentos de operação normais
este projeto foi o primeiro do Brasil a operar com o e de emergência na subestação e linha de transmissão e
acionamento de preparo e moagem de cana-de-açúcar também as tratativas entre as partes, quando ocorrer algum
totalmente eletrificado. tipo de intervenção no sistema, com a finalidade de garantir a
Os principais sistemas que compõem a configuração da segurança operativa do pessoal, equipamentos e instalações
UTE Pioneiros são: uma linha de transmissão de 138 kV, envolvidas.
subestação elevatória 13,8/138 kV, um conjunto de
turbogeradores e caldeira. Além dos sistemas principais da C. Turbogeradores
UTE, também se destacam o sistema eletrificado de moagem
da cana-de-açúcar e a distribuição de energia elétrica da A UTE possui licença de instalação para 64 MW de
usina, abrangendo outros setores ligados a produção de potência, sendo que, atualmente, possui instalado 42 MW,
açúcar e álcool. divididos em um turbogerador de 32 MW e outro
turbogerador 10 MW. As principais diferenças entre os
A. Linha de transmissão de 138 kV turbogeradores está na concepção da turbina, ou seja, tem-se
uma turbina de alta eficiência, com extração controlada e
A linha de transmissão da UTE Pioneiros promove sua condensação, acionando um gerador de 32 MW, e outra
conexão com o sistema interligado nacional. Possui uma turbina, de 10 MW de contrapressão, acionando um gerador
extensão de aproximadamente 21 km, sendo sua energia de 10 MW.
transmitida em tensão de 138 kV, com uma conexão do tipo Complementando o conjunto de turbogeradores, existem
derivação em tap simples na Linha de Transmissão Ilha os painéis de manobra dos geradores, proteção e excitação,
Solteira – Jales, através de uma chave seccionadora manual, painéis de surto e neutro, painel de acionamento da turbina,
de abertura centralizada. Esta linha é composta de 46 painel de sincronismo e painel de exportação, além do
estruturas metálicas e 47 estruturas de concreto. O seu sistema auxiliar que comporta um gerador a diesel, sistema
traçado é relativamente simples, passando em sua grande de retificador e banco de baterias, sistema de óleo e
maioria por terrenos planos, sem impactos ambientais, com refrigeração. Todos os sistemas mencionados anteriormente
alguns cruzamentos com rede de distribuição básica de 13,8 estão automatizados. O sistema de controle destes
kV, cruzamentos com rodovias (SP 310) e também turbogeradores é formado por equipamentos que trabalham
cruzamento com duas linhas de transmissão 440 kV. Apesar de forma coordenada utilizando a filosofia mestre-escravo. O
da linha tronco ser em circuito duplo, o ramal da UTE é em primeiro equipamento deste sistema de controle é um
circuito simples. Porém, as estruturas já estão preparadas conversor que recebe impulsos elétricos e o transforma em
para circuito duplo. Futuramente, deverá ser ampliada sua pressão de óleo para abertura da válvula de admissão do
cogeração, sendo necessário apenas o lançamento do vapor. Outro conversor atua no controle da válvula de
segundo circuito para atender as necessidades. A linha de extração do vapor de escape. Este conversor recebe sinal
transmissão Ilha Solteira – Jales 138 kV, e as subestações proveniente do regulador de velocidade da turbina, que tem a
conectadas nela, deverão sofrer, nos próximos anos, algumas função de controle da turbina. Após a turbina entrar em
inclusões (UTE Pioneiros II e UTE Vale do Paraná) e rotação nominal, existe um equipamento, no sistema de
ampliações da geração de termelétricas a biomassa de cana controle, responsável pela sincronização do gerador na barra.
(UTE Pioneiros I e UTE Interlagos), o que pode causar uma A partir daí, todo o controle do gerador é feito neste
série de problemas de instabilidades do sistema. O plano de equipamento que, ao receber um comando de aumento de
expansão da concessionária proprietária desta Linha energia ativa, emite um sinal para o regulador da turbina que,
Transmissão Ilha Solteira – Jales prevê uma recapacitação da por sua vez, atua no conversor que, ao atuar na válvula de
mesma a partir de janeiro de 2008. admissão, aumenta a entrada de vapor na máquina.
Para produção de energia com turbinas de condensação, o
vapor utilizado é condensado e bombeado novamente para o
B. Subestação 13,8/138 kV da UTE desaerador, para nova produção de vapor (ciclo fechado).
Para suprir toda a produção de vapor é utilizada a captação
A UTE possui um 1 bay de entrada da Subestação fluvial, embora haja plantas que façam sua captação através
elevatória de 13,8/138 kV, composta dos seguintes de poços artesianos. O volume de água que recircula neste
equipamentos: conjunto de pára-raios entrada, chave processo de condensação e refrigeração de mancais chega a
seccionadora com lâmina terra, disjuntor principal 138 kV 2600 m3 por hora.
SF6, conjunto de TP e TC 138 kV, transformador de força
D. Caldeiras origem no barramento principal da casa de força. Além das
subestações unitárias, existe também um alimentador que
Para funcionamento da UTE, foi instalada uma caldeira de energiza uma rede primária de distribuição interna, que
alta eficiência com alta pressão e temperatura, do tipo interliga os pontos mais distantes da usina, como captação de
aquatubular, com dois balões, capacidade máxima de água e os prédios administrativos e de apoio.
produção de vapor de 150 T/h, a uma pressão de 70 kgf/cm2
e temperatura de 530ºC. A temperatura da água de G. Consumo de energia da UTE
alimentação da caldeira é de 105 ºC. A temperatura de saída
dos gases de combustão é de 180 ºC, sendo que os mesmos, No projeto da UTE, também foi instalado um sistema de
antes de serem liberados para atmosferas, passam por um gerenciamento de energia e controle de demanda. Este
lavador de gases, com o objetivo de reter o material sistema é capaz de quantificar o montante de energia
particulado. Esta caldeira encontra-se, atualmente, no seu consumida pelos principais processos da usina, servindo
limite máximo. Ou seja, quando for instalado outro também para identificar a evolução do consumo de energia
turbogerador, deverá ser instalada também uma outra de cada um deles. Através dos dados armazenados neste
caldeira. Assim como no caso dos turbogeradores, uma série sistema, foram levantados o perfil de geração e consumo nos
de sistemas auxiliares fazem parte do sistema de geração de dois primeiros anos de operação da UTE. Os dados
vapor, como esteiras metálicas para transporte do apresentados na Figura 2 foram obtidos através do software
combustível (bagaço), sistema de alimentação de água, de gerenciamento de energia da UTE.
sistema de desmineralização de água, etc.
Perfil Geração e Consumo Energia
E. Eletrificação da moenda 25000

20000
O processo de acionamento elétrico da moenda da UTE
foi instalado em fevereiro de 2006, sendo iniciada sua 15000 16418 15727
16063
operação em abril do mesmo ano. O sistema de moagem da 15300 14616 14958 15338 15294 13533

cana-de-açúcar na Usina Pioneiros foi o primeiro a operar 10000


9588 Energia Exportada (MWh)
Energia Consumida (MWh)
8081
totalmente eletrificado, desde o preparo da cana (picador
nivelador, picador e desfibralador), até a moagem (1º ao 6º 5000

ternos). 2651

0 0 0 -142
Conforme Rodrigues [2], ao substituir o acionamento set/06 out/06 nov/06 dez/06 jan/07 fev/07 mar/07 abr/07 mai/07 jun/07 jul/07 ago/07 set/07 out/07 nov/07

convencional a vapor por acionamento elétricos, obtém-se -5000

um ganho no potencial de exportação de energia, devido ao


aumento da eficiência no acionamento da moenda, além da
utilização do vapor em turbinas de alta eficiência. Este
aumento, de aproximadamente 23%, elevou o montante da
energia gerada, de 81.125 MWh/ano (previsto em contrato
PROINFA) para aproximadamente 100.000 MWh/ano. Fig. 2. Perfil de geração e consumo da UTE.
A filosofia adotada neste projeto de eletrificação do
sistema de moagem de cana foi a instalação de motores de Segundo pode-se analisar pelo gráfico da Figura 3, no
media tensão (13,8 kV) para o preparo de cana, com sistema período compreendendo de setembro de 2006 a novembro de
de acionamento realizado a partir de partida direta. O 2007, o volume total de energia gerada pelos dois
acionamento dos ternos é feito de forma única, centralizada, turbogeradoes foi de aproximadamente 226.000 MWh,
sendo provido de um motor elétrico, cujo acionamento é sendo que 65.500 MWh correspondeu ao consumo total do
realizado por inversores de freqüência, com uma tensão de processo durante este período. Ou seja, aproximadamente
saída de 690 V, operando de forma individualizada. 29% do total gerado é consumido internamente e o restante,
160.500MWh, estaria disponível para ser exportado
F. Distribuição interna e energia – circuito de 13,8 kV atendendo ao contrato PROINFA (turbogerador 32 MW).
Como se pode perceber, pela variação na energia produzida
Com a implantação da UTE e a possibilidade de geração ao longo dos meses, é difícil que uma usina termelétrica a
em níveis de tensão mais elevados, toda a distribuição interna bagaço de cana mantenha sua geração constante durante o
de energia, que antes era feita em baixa tensão (440 V), foi período de safra, como alguns agentes de distribuição
substituída por uma distribuição em média tensão (13,8 kV). gostariam que fosse, pois o processo de geração está atrelado
Com isso, os centro de comandos de motores (CCM´s) a outro processo de produção, estando sujeito a diversos tipos
transformaram-se em verdadeiras subestações unitárias de de problemas, como quebra de equipamentos, falta de
energia, sendo composto, basicamente, de um painel de matéria prima devido às chuvas, variações no mix de
proteção/seccionamento, transformadores e o próprio CCM. produção de açúcar e álcool, problemas de conexão, etc.
Na usina, têm-se, instaladas, as subestações unitárias da Devido a sua característica sazonal, a geração em usinas
caldeira, os serviços auxiliares da casa de força, o sistema de termelétricas a biomassa de cana possui seu potencial
refrigeração a água (spray), a fábrica de açúcar, o preparo de máximo de geração nos meses de junho a outubro, ou seja,
caldo/fermentação e a moenda. Cada uma destas subestações no período seco, época em que os reservatórios de água das
unitárias é energizada por um alimentador exclusivo, que tem
usinas hidrelétrica estão em seus níveis mais baixos. transformados em energia elétrica. Além disso, a planta deve
Portanto, seria muito interessante uma complementação das ser preparada para operar como uma usina termelétrica, já
fontes renováveis de PCH´s e termelétricas durante o ano, que a energia passa a ser mais um de seus produtos
despachando a geração de PCH´s durante o período úmido comercializado, sob rígidas regras contratuais.
(quando as termelétricas a biomassa estarão no período da A participação da receita com a venda da energia no
entresafra na região centro-sul). faturamento da usina é ainda muito variável, pois depende do
Do perfil de consumo medido pode-se verificar que, a valor da energia negociada, seja no mercado regulado, seja
partir da eletrificação do processo de preparo e moagem, este no mercado livre. Atualmente, é possível estimar que a
passou a ser o setor de maior consumo na usina, seguido dos comercialização da energia possa representar de 10 a 30% do
setores de caldeira, spray e destilaria/fábrica de açúcar. O faturamento total. Porém, é preciso considerar o valor da
gráfico da Figura 3 mostra o percentual correspondente de energia vendida, o montante vendido, se a usina produz
consumo de cada setor da usina. açúcar e álcool, se compra bagaço para a produção, entre
outras varáveis.
A conexão da usina termelétrica no sistema interligado
nacional é outro aspecto a ser considerado, já que esta é a
única maneira de proceder a exportação da energia
produzida.

REFERÊNCIAS

[1] Fiomari, M. C., “Análise Energética E Exergética De


Uma Usina Sucroalcooleira Do Oeste Paulista Com Sistema
de Cogeração De Energia Em Expansão”, Dissertação de
Mestrado apresentada a FEIS/UNESP, Ilha Solteira, p. 15 –
28, 2004.
[2] Rodrigues, L. G. S., “Análise Energética de Diferentes
Sistemas de Cogeração com Bagaço de Cana-de-Açúcar”,
Dissertação de Mestrado apresentada na FEIS/UNESP, Ilha
Solteira – SP, p. 70 – 103, 2005.
[3] UNICA – União da Agroindústria Canavieira, “Geração
Fig. 3. Perfil de consumo dividido percentualmente entre Térmica – BIOELETRICIDADE”, Comissão de Minas e
os setores da usina. Energia da Câmara dos Deputados, 2007.
[4] Andrade & Canellas, “Geração de Eletricidade a Partir
A partir das medições verificadas, e conhecendo o perfil de Biomassa e Biogás” relatório técnico n. A&C – R –
de consumo e sua representatividade no montante total, é 0030/07, Comissão Especial de Bioenergia do governo do
possível ainda obter uma redução de consumo interno com Estado de São Paulo, São Paulo – SP, p. 26 – 52, 2007.
alguns investimentos que proporcionem um aumento na [5] Silvestrim, C. R., “Bioeletricidade Desafios e
eficiência e produtividade do projeto. O primeiro deles, e o Oportunidades”, 8º Encontro de Negócios de Energia, 2007.
principal, é o investimento na redução do consumo de vapor
interno do processo. Outros investimentos poderiam ser
feitos também como a substituição dos motores industriais BIOGRAFIAS
antigos e de baixa eficiência por motores novos e mais
eficientes, comercialmente conhecidos como motores de alto Gil Mesquita de O. R. Queiroz é coordenador de projetos
rendimento, além de investimentos que insiram a variação de da Pioneiros Bioenergia S/A, com mestrado na área de
velocidade no controle de vazão e pressão. comercialização de energia no mercado sucroalcooleiro. Suas
áreas de interesse são: comercialização de energia, cogeração
CONCLUSÕES de energia, fontes renováveis e geração distribuída.

Toda usina sucroalcooleira, incluindo as mais ineficientes, Dionízio Paschoareli Jr. É professor adjunto do
sempre utilizaram a cogeração para a produção de seus Departamento de Engenharia Elétrica da Faculdade de
produtos. Seria economicamente inviável para uma usina Engenharia, UNESP, campus de Ilha Solteira. Suas áreas de
comprar energia para fabricar os seus produtos. Com a interesse são: controladores eletrônicos em sistemas de
abertura do setor elétrico brasileiro e com a possibilidade de corrente alternada, fontes renováveis de energia e geração
comercialização da energia produzida por produtores distribuída.
independentes, a geração de energia elétrica passou a ser
vista como um produto adicional para o setor
sucroalcooleiro. Entretanto, para que uma usina
sucroalcooleira possa efetivamente operar como uma
exportadora de energia, são necessárias diversas adequações
na planta e otimização no processo de produção, para que
haja uma sobra de vapor e de resíduos de biomassa, a serem

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