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1

AVALIAÇÃO DA MAGNETOSTRICÇÃO E CARACTERIZAÇÃO


MICROESTRUTURAL DE LIGAS DO SISTEMA Fe-V

C. T. dos Santos1; C. Bórmio Nunes1; L. Ghivelder2


Pólo Urbo-Industrial, Gleba AI-6, CEP 12.600-970, CP 116, Lorena-SP
claudiots@ppgem.eel.usp.br
1
Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de Lorena
2
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Física

RESUMO

Nos últimos 8 anos a pesquisa dos materiais magnetostrictivos tem sido


direcionada para a descoberta de novas ligas à base de Fe, com propriedades
similares às encontradas em algumas ligas dos sistemas Fe-Ga e Fe-Al. No
presente trabalho foram produzidas e caracterizadas amostras policristalinas das
ligas Fe-20%at.V, Fe-25%at.V e Fe-30%at.V. A caracterização microestrutural das
amostras foi feita por MEV/EDS, DRX e microdureza Vickers. A magnetostricção foi
medida por dilatometria de capacitância, com campo até 1,5 T em 300 K. As ligas
apresentaram microestrutura monofásica constituída pela solução sólida CCC
desordenada e orientação preferencial dos grãos. A magnetostricção de saturação
longitudinal máxima obtida foi de aproximadamente +30 ppm para a liga
Fe-30%at.V.

Palavras-chave: magnetostricção, microestrutura, ferro, vanádio, Fe-V.

INTRODUÇÃO

Materiais magnetostrictivos exibem deformação reversível em resposta a um


campo magnético aplicado ou alteração de suas propriedades magnéticas com a
aplicação de uma tensão mecânica (1,2), por isso são de grande interesse para
aplicação em sensores e atuadores. Avanços em materiais magnetostrictivos obtidos
a partir do ano 2000 colocaram estes materiais novamente em evidência. Clark (1) e
Guruswamy et al. (2) mostraram que a adição de Ga e Al ao Fe resulta em ligas com
elevada magnetostricção em campos baixos, além de boas propriedades mecânicas
e baixo custo associado. Esta descoberta ocorreu com a extensão do estudo
publicado por Hall em 1960 (3), que mostrou que a adição de alguns elementos
não-magnéticos tais como V, Cr e Al ao Fe, alterava significativamente a sua
anisotropia e melhorava a magnetostricção. Segundo Clark (4), a magnetostricção de
saturação das ligas Fe-Ga pode atingir valores superiores a +400 ppm em
monocristais na direção cristalográfica <100> e até +275 ppm em policristais
altamente texturizados. A título de comparação o Fe puro policristalino apresenta λS
de -4 ppm e λ<100> de +20 ppm em monocristais, a liga Fe-15%at.Al apresenta λ<100>
de +140 ppm e a liga Fe-6,8%at.Be de +101 ppm (5,6).
2

Na sua busca por materiais com valores nulos ou pequenos de anisotropia e


magnetostricção, Hall apresentou resultados de magnetostricção de saturação de
monocristais de diversas ligas binária à base de Fe, entre elas a liga Fe-V, tendo
obtido valores em temperatura ambiente entre +28,3 a +42,8 ppm na direção <100>
e valores entre -12,4 a -9,7 ppm na direção <111> para adições entre 3,1 a 15,8
%at. de V.
Este artigo estende a investigação inicial de Hall para ligas policristalinas e com
maiores adições de V (entre 20 a 30 %at.). Vale ressaltar que não existem até o
momento dados de magnetostricção de ligas Fe-V na forma policristalina disponíveis
na literatura. Além disso, como a maioria dos materiais é usada na indústria como
policristais, o estudo do comportamento magnetostrictivo destas ligas é de interesse.
Os materiais policristalinos geralmente apresentam melhores propriedades
mecânicas, além de maior facilidade e menor custo de fabricação que os
monocristais. Por outro lado, os policristais apresentam forte dependência da
microestrutura e, conseqüentemente, do processamento térmico ou mecânico
durante a fabricação.
O V pertence ao grupo IVB da Tabela Periódica, possui na sua estrutura
eletrônica do estado fundamental o subnível 3d semi-preenchido ([Ar]4s23d3) e é
classificado como um elemento paramagnético. Diferentemente do Ga, que pertence
ao grupo IIIA, possui o subnível 3d preenchido ([Ar]3d104s24p1) e é diamagnético. O
raio atômico do V (0,15 nm) é ~11% menor que o do Gaα (0,17 nm) e ~5% maior
que o do Feα (0,14 nm).
Srisukhumbowornchai (6) e Kumagai et al. (7) mostraram que a presença da fase
α (ou A2) é requerida para a obtenção da elevada magnetostricção nas ligas Fe-Ga,
pois é esta fase que fornece a maior contribuição para o efeito. A fase α é uma
solução sólida de estrutura cúbica de corpo centrado (CCC), na qual os átomos de
soluto e solvente ocupam posições aleatórias. O interesse no estudo do sistema
Fe-V se deve também à presença desta fase. O V se dissolve no Feα em toda a
faixa de composições em elevadas temperaturas. Entretanto, existe a tendência de
se formar a fase tetragonal σ (ou D8b) em concentrações intermediárias de V, com o
resfriamento lento a partir de regiões de elevada temperatura. Segundo Massalski (8),
mesmo em composições onde a fase σ tende a se formar, a fase α pode ser retida
facilmente em temperatura ambiente pelo resfriamento rápido a partir de elevadas
temperaturas.

PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

A partir de proporções adequadas dos metais Fe e V de elevada pureza


(>99,9%), foram preparados lingotes de 6 g das ligas policristalinas Fe-20%at.V,
Fe-25%at.V e Fe-30%at.V pela fusão a arco sobre um cadinho de cobre refrigerado
à água e sob atmosfera inerte de argônio. Para garantir a homogeneidade química
das amostras, cada lingote foi refundido 4 vezes após a fusão inicial. Neste método
de preparação, durante o processo de solidificação pode se desenvolver uma
orientação preferencial de crescimento dos grãos na direção do gradiente de
temperatura entre o cadinho refrigerado e o lingote líquido, ou seja, na direção
perpendicular à superfície do cadinho, no sentido do centro do lingote (9). Esta
direção equivale à direção z indicada no desenho do lingote na Figura 1.
3

z z Amostra

x y
Lingote

Superfície de contato
com o cadinho

Figura 1. Direções de referência no lingote e região de extração da amostra.

Para se reter 100% da fase α em temperatura ambiente, todos os lingotes


foram submetidos ao tratamento térmico em 1373 K por 6 h, seguido por
resfriamento rápido em água. A Figura 2 mostra a posição das ligas no diagrama de
fases. Para a caracterização foram extraídas amostras cúbicas do centro do lingote
(Figura 1), com cerca de 2 mm de comprimento de lado. As amostras foram
analisadas por difração de raios X (DRX) pelo método do pó, utilizando o
difratômetro Seifert ISO-Debyflex 1001, com radiação CuKα e filtro de níquel. A
determinação da fase presente, de sua estrutura e de seu parâmetro de rede foi feita
com base nos dados cristalográficos publicados por Villars e Calvert (10) pelas
técnicas de simulação dos difratogramas e refinamento de estrutura no programa
PowderCell 2.4 (11). A estrutura de grãos e sua morfologia foram analisadas no
microscópio eletrônico de varredura (MEV) LEO-ZEISS 1450VP, com filamento de
W, no modo de elétrons retro-espalhados (ERE). A concentração dos elementos nas
ligas foi determinada pela técnica de espectroscopia de energia dispersiva (EDS),
utilizando o espectrômetro Oxford Link ISIS 300.

2000
L
1800

1600
γ
Temperatura (K)

1400 1373 K / 6 h (a) (b) (c)

1200 (Feα,V)
1000 σ
800

600

400

200
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Fe Percentual atômico de V V

Figura 2. Diagrama de fases do sistema Fe-V: ligas (a) Fe-20%V,


(b) Fe-25%V e (c) Fe-30%V na temperatura do tratamento térmico.
4

Foi obtida a microdureza Vickers (HV) das amostras utilizando o


microdurômetro Buehler Micromet 2004. As medidas foram realizadas em
temperatura ambiente, com carga de 200 gf e tempo de impressão de 30 s. O valor
da microdureza de cada amostra foi determinado pela média de 20 impressões.
A magnetização de saturação foi obtida usando o PPMS Quantum Design
modelo 6000, com aplicação de campo externo até 5 T. A magnetostricção foi
medida utilizando um dilatômetro de capacitância de placa inclinada (12) inserido no
criostato do sistema MagLab Oxford (Figura 3), com aplicação de campo até 1,5 T. A
deformação das amostras foi medida na direção z (Figura 1), com o campo externo
aplicado na direção paralela à z, deformação chamada de magnetostricção
longitudinal (λL), e na direção perpendicular à z (direção y), deformação chamada de
magnetostricção transversal (λT). Todas as medidas foram realizadas em 300 K.

Saída para
bomba de
vácuo

Hélio Nitrogênio
líquido líquido

Magneto
de 9 T
Dilatômetro

VTI

Figura 3. Criostato do sistema MagLab Oxford


utilizado para as medidas de magnetostricção.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Figura 4 é mostrado o conjunto de difratogramas e dados cristalográficos


referentes às ligas Fe-V após o tratamento térmico. Nesta figura também estão
inclusos os dados de amostras das ligas Fe-10%at.V e Fe-15%at.V, as quais não
foram submetidas à caracterização magnética neste trabalho. A comparação dos
difratogramas experimentais com os simulados permitiu concluir que a fase α está
presente em todas composições analisadas. Não foi identificada a presença da fase
σ nos difratogramas. Conforme previsto pelo diagrama de fases, esta fase pode se
formar nas ligas Fe-25%at.V e Fe-30%at.V com o resfriamento lento a partir de
elevadas temperaturas. A ausência de σ nestas ligas indica que o processo de
resfriamento rápido foi eficiente no sentido de reter a fase α em temperatura
ambiente. Observa-se que, de modo geral, o aumento da concentração de V desloca
os picos de α para esquerda. Este deslocamento está relacionado ao aumento da
distância interplanar e do parâmetro de rede, que ocorre porque o V, por possuir raio
5

atômico maior que o Feα, causa uma expansão na rede cúbica. Para efeito de
comparação, os picos do Feα puro ocorrem para (110) em 44,67°, (200) em 65,02° e
(211) em 82,33° (9).

44,27°
(Feα,V)
Fe-30V
(1 1 0) 64,39°
81,47°
a = 0,2891 nm (2 0 0) (2 1 1)

44,25°

Fe-25V
81,43°
64,36°
Intensidade (u.a.)

a = 0,2893 nm

44,44°

Fe-20V
81,83°
64,65°
a = 0,2881 nm

44,46°

Fe-15V 81,89°
64,70°
a = 0,2879 nm

44,61°

Fe-10V
82,20°
64,93°
a = 0,2870 nm

35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90
2θ (°)

Figura 4. Difratogramas e dados cristalográficos das amostras Fe-V em 300 K.

A variação do parâmetro de rede da fase α em função do aumento da


concentração de V dissolvido é mostrado na Figura 5. Quando esta variação é
linear, conforme indicado pela linha tracejada no gráfico, ela é conhecida como lei de
Vegard (13). Nota-se que os parâmetros de rede exibem um desvio negativo e
aproximadamente parabólico desta lei linear. No gráfico também constam os
parâmetros de rede do Fe e do V puros utilizados para a produção das ligas, sendo
estes de 0,2864 ± 0,0006 nm e 0,3027 ± 0,0006 nm, respectivamente. A expansão
da rede devido ao aumento da presença do V promoveu o endurecimento da liga,
conforme é mostrado na Figura 6. Nota-se no gráfico que a variação da microdureza
da liga com o aumento da concentração de V é linear. A Tabela 1 exibe os
resultados da caracterização microestrutural das amostras deste trabalho.
6

0,3040
T ≅ 300 K
0,3020

0,3000

Parâmetro de rede, a (nm)


0,2980

0,2960

0,2940

0,2920

0,2900
Ajuste (Correlação = 0,99676)
0,2880 -5 -7
a = 0,2864 + 7 x 10 CV + 9 x 10 CV
2

0,2860
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Concentração de vanádio, CV (% at.)

Figura 5. Parâmetro de rede a da fase α em função da concentração de V.

300
T ≅ 300 K
280

260
Microdureza, HV (kgf/mm )
2

240

220

200

180

160

140
Ajuste (Corr = 0,99668)
120 HV = 55 + 7,1 CV

100
10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32
Concentração de vanádio, CV (% at.)

Figura 6. Microdureza Vickers em função da concentração de V.

Tabela 1. Resultados da caracterização microestrutural da amostras Fe-V.


Concentração Parâmetro de Microdureza HV
Amostra
de V (%at.) Rede (nm) (kgf/mm2)
Fe-10V 10,3 ± 0,1 0,2870 ± 0,0006 127 ± 2
Fe-15V 15,3 ± 0,3 0,2879 ± 0,0006 166 ± 2
Fe-20V 20,8 ± 0,7 0,2881 ± 0,0006 199 ± 3
Fe-25V 25,5 ± 0,7 0,2893 ± 0,0006 235 ± 4
Fe-30V 30,7 ± 0,7 0,2891 ± 0,0006 276 ± 6
7

Na Figura 7 são mostradas as micrografias das ligas Fe-V obtidas da amostra


extraída da região central do lingote de cada da liga. Todas as amostras
apresentaram microestrutura formada predominantemente por grãos colunares. Esta
microestrutura texturizada se estabeleceu durante o processo de solidificação, com
o crescimento preferencial dos grãos na direção do gradiente de temperatura
(direção z), e permaneceu após o período de tratamento térmico.

(Feα,V) (Feα,V) (Feα,V)

z z z

200 µm 200 µm 200 µm


y y y
(a) Liga Fe-20V, MEV/ERE, 200 X. (b) Liga Fe-25V, MEV/ERE, 200 X. (c) Liga Fe-30V, MEV/ERE, 200 X.

Figura 7. Micrografias das amostras Fe-V após o tratamento térmico


em 1373 K / 6 h. As direções referentes lingote estão indicadas.

Na Figura 8 são mostradas as curvas de magnetização em função do campo


magnético aplicado. A diminuição da magnetização de saturação observada com o
aumento da concentração de soluto é coerente com o fato do V ser não-magnético.
Observa-se também que o campo necessário para a saturação (campo crítico)
aumenta com a diminuição da concentração de V (veja Tabela 2).
180
T ≅ 300 K
160

140
Magnetização (emu/g)

120

100

80

60

40
Fe-20V
20
Fe-25V
Fe-30V
0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5
Campo aplicado (T)

Figura 8. Curvas de magnetização das amostras Fe-V.

Na Figura 9 são apresentadas as curvas de magnetostricção longitudinal


(campo paralelo à z, Figuras 1 e 7) e transversal (campo perpendicular à z ou
paralelo à y) das ligas Fe-V em 300 K. Os valores de magnetostricção de saturação
longitudinal e transversal estão indicados no gráfico por λL e λT, respectivamente.
Estes valores foram definidos nas curvas de magnetostricção a partir do valor do
campo correspondente à magnetização de saturação. Nota-se que as curvas de
8

magnetostricção longitudinal (campo na direção z) são positivas. As ligas


Fe-25%at.V e Fe-30%at.V apresentaram o valor mais alto de magnetostricção de
saturação longitudinal, alcançando +30 ppm com a aplicação de um campo entre 0,8
e 0,9 T. A curva de magnetostricção longitudinal da liga Fe-30%at.V apresentou uma
maior inclinação na região de crescimento linear antes da saturação, o que significa
que esta amostra requer um campo menor do que o requerido pelas outras amostras
para atingir um determinado grau de deformação. É de conhecimento que nesta
região linear predomina o mecanismo de rotação dos momentos magnéticos dos
domínios. Para um material magnetostrictivo, esta é a região útil, onde geralmente
operam os sensores e atuadores. A existência de um pico anômalo por volta 0,3 T
na liga Fe-30%at.V e em ~0,6 T na liga Fe-20%at.V pode estar relacionada com a
textura do material. Uma explicação para este comportamento é que, com o
aumento progressivo do campo, os momentos magnéticos nos domínios rotacionam
para uma das direções da família <100> da rede cúbica, ou seja, para aquela
direção de fácil magnetização que está mais próxima da direção do campo, o que
fornece uma contribuição positiva para a curva de magnetostricção; em campos
mais elevados, uma parcela dos momentos na direção <100> que está desalinhada
em relação ao campo, rotaciona para a direção <111> ou <110>, coincidindo com a
direção do campo, o que fornece uma contribuição negativa para a curva de
magnetostricção. É possível observar também que as curvas de magnetostricção
transversal (campo na direção y) são negativas, e o valor de saturação mais
negativo é o da liga Fe-30%at.V, de -7 ppm em cerca de 0,8 T. A Tabela 2 sumariza
o resultado da caracterização magnética das ligas deste trabalho.
40
T ≅ 300 K
λL = 30,0

30
λL = 30,1
Magnetostricção, λ (ppm)

20 λL = 22,8

10

λT = -1,0
0
λT = -2,3
long trans
-10 Fe-20V λT = -7,1
Fe-25V
Fe-30V
-20
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8
Campo aplicado (T)

Figura 9. Curvas de magnetostricção longitudinal (símbolos cheios) e transversal


(símbolos vazados) das ligas Fe-V. Os valores de saturação estão indicados.

Tabela 2. Resultados da caracterização magnética da amostras Fe-V.


Amostra MS (emu/g) λL (ppm) λT (ppm) λS (ppm) µ0HC (T)
Fe-20,8V 152,0 +22,8 -2,3 +16,7 1,0
Fe-25,5V 136,2 +30,1 -1,0 +20,7 0,9
Fe-30,7V 117,9 +30,0 -7,1 +24,7 0,8
9

Em um material completamente isotrópico, a magnetostricção de saturação em


um ângulo θ com a direção do campo aplicado é dada por:

3  1
λ S (θ ) = λ L  cos 2 θ −  (A)
2  3

Portanto, quando a magnetostricção é medida em θ=90°, no estado


magneticamente saturado espera-se obter λT = -λL/2. Entretanto, foram encontrados
valores de λT menores (em módulo) em todas as ligas investigadas. Além disso, a
observou-se que a relação entre λL e λT não é linear (não mostrado), tal como ocorre
num material isotrópico. Estes resultados podem ser atribuídos à textura
apresentada pelas ligas. Neste caso, a distribuição das direções cristalinas não pode
ser assumida como sendo aleatória, pois o material é anisotrópico.
Sabe-se que a magnetostricção de saturação média é dada por:

2
λS = (λ L − λ T ) (B)
3

Os valores calculados pela expressão (B) para as ligas caracterizadas neste


trabalho estão plotados na Figura 10, juntamente com os valores experimentais de
λL e λT. Para fins de comparação, também constam nesta figura os valores de λL e
λT calculados a partir dos resultados de λ<100> e λ<111> reportados por Hall (3) para
monocristais das ligas Fe-V em temperatura ambiente.
Em um material policristalino cúbico isotrópico, as magnetostricções de
saturação longitudinal e transversal são dadas respectivamente por:

2 3
λL = λ S = λ <100 > + λ <111> (C)
5 5

λL 1 3
λT = − = − λ <100 > − λ <111> (D)
2 5 10

Estas expressões freqüentemente são usadas para correlacionar dados de


magnetostricção de monocristais com os obtidos para amostras policristalinas.
É possível ver na Figura 10 que os resultados obtidos neste trabalho estão
coerentes com os reportados por Hall. Pelos valores calculados com os dados de
Hall, verifica-se que existe um aumento da magnetostricção de saturação (λS) acima
de 6 %at. de V. E, conforme os resultados obtidos neste trabalho, a λS continua
aumentando na faixa de 20 a 30 %at. de V, com um crescimento aproximadamente
linear. Vale ressaltar que os valores de λL e λT calculados para os resultados de Hall
correspondem aos de um material isotrópico, em contrapartida, as amostras deste
trabalho apresentaram forte orientação preferencial na sua estrutura de grãos.
Portanto, espera-se que esta estrutura produza propriedades anisotrópicas.
10

40

35 Este trabalho

Magnetostricção de saturação (ppm)


30

25

20 Hall
15

10

-5

-10
λL = λS = 2/5 λ<100> + 3/5 λ<111> λL \ λT
-15 λT = -λL/2 λS = 2/3 (λL - λT)
-20
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32
Concentração de vanádio, CV (% at.)

Figura 10. Magnetostricção de saturação longitudinal (λL),


transversal (λT) e média (λS) em função da concentração de V.

Na Figura 11 são mostrados os ajustes dos dados experimentais de


magnetostricção e magnetização de saturação obtidos neste trabalho. Para os
valores de magnetostricção de saturação foi feito um ajuste quadrático e, para os
valores de magnetização de saturação, um ajuste linear. As equações de ajuste
estão indicadas no gráfico. A análise dos coeficientes independentes sugere que as
equações podem ser utilizadas na extrapolação para valores abaixo de 20 %at. de
V, pois os coeficientes se aproximam dos valores publicados na literatura para o Fe
puro policristalino (λS = -4 ppm e MS = 222 emu/g).
26 155
λS = -5,353 + 1,234 CV - 0,008 CV
2 T ≅ 300 K
Magnetização de saturação, MS (emu/g)

150
Magnetostricção de saturação, λS (ppm)

MS = 224 - 3,45 CV
24
145

140
22

135

20
130

125
18
120

16 115
20 22 24 26 28 30 32
Concentração de vanádio, CV (% at.)

Figura 11. Magnetostricção de saturação média (λS) e


magnetização de saturação em função da concentração de V.
11

CONCLUSÕES

As amostras apresentaram microestrutura monofásica constituída pela solução


sólida CCC desordenada e grãos colunares, orientados preferencialmente na
direção do gradiente de temperatura do processo de solidificação no cadinho de
cobre refrigerado. O parâmetro de rede e a microdureza das amostras aumentaram
com o aumento do teor de V, já a magnetização de saturação diminuiu. Os
resultados da caracterização magnética confirmaram que adições de V melhoram a
magnetostricção do Fe, concordando com os resultados publicados por Hall. A liga
Fe-30%at.V apresentou o resultado mais relevante de magnetostricção,
λL = +30 ppm e λS = +25 ppm em 0,8 T. Entretanto, estes valores são inferiores aos
das ligas policristalinas do sistema Fe-Ga, que geralmente apresentam λS acima de
+90 ppm em temperatura ambiente, sem a aplicação de tensão compressiva (9). Os
valores de magnetostricção foram positivos e maiores com a aplicação do campo
paralelo à orientação dos grãos (λL). Na direção perpendicular (λT), os valores foram
negativos e não corresponderam a -λL/2, o que foi atribuído ao elevado grau de
orientação da microestrutura.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi suportado pelo CNPq (CTS) e pela FAPESP sob o auxílio nº
2004/09779-1.

REFERÊNCIAS

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4. CLARK, A. E. et al. Magnetostriction of ternary Fe-Ga-X (X=C,V,Cr,Mn,Co,Rh)
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5. SRISUKHUMBOWORNCHAI, N.; GURUSWAMY, S. Large magnetostriction in
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8. MASSALSKI, T. B. (Editor), H. Binary alloy phase diagrams. 2nd ed. Ohio: ASM
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EVALUATION OF MAGNETOSTRICTION AND MICROSTRUCTURAL


CHARACTERIZATION OF ALLOYS OF THE Fe-V SYSTEM

ABSTRACT

In the last 8 years the research of magnetostrictive materials has been oriented
to the discovery of new Fe-based alloys, with similar properties those found in some
alloys of the Fe-Ga and Fe-Al systems. In the present work were produced and
characterized polycrystalline samples of Fe-20at.%V, Fe-25at.%V and Fe-30at.%V
alloys. The microstructural characterization was carried out by SEM/EDS, XRD and
Vickers microhardness. Magnetostriction was measured by capacitance dilatometry,
for fields up to 1.5 T at 300 K. The alloys showed a single-phase microstructure
constituted by disordered bcc solid solution and preferential orientation of the grains.
The maximum longitudinal saturation magnetostriction obtained was about +30 ppm
for Fe-30at.%V alloy.

Key-words: magnetostriction, microstructure, iron, vanadium, Fe-V.

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