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OPINIÃO
OPINIÃO
COLUNA i
JUAN ARIAS
A afirmação, no plural, daria a entender que não só ele, mas também e torturava na
ditadura
todos os outros brasileiros, alimentam essa repulsa contra aqueles
que não são, o que é uma injúria com milhões que sempre acolheram
os estrangeiros com admirável gentileza, respeito e até carinho.
Porque, além do mais, nas veias dos brasileiros pulsa o sangue de
tantos povos vindos de todo o mundo. Basta pensar que só em São E agora que
Paulo convivem em paz, sentindo-se brasileiros e sendo aceitos como também fale o
Queiroz
tal, pessoas de 90 países diferentes.
Significa, acima de tudo, uma injúria e uma ofensa ao melhor deste país, que, apesar de
todos os seus defeitos, tem uma virtude indiscutível, a acolhida aos estrangeiros. Estou
aqui há 20 anos e posso dizer que me sinto mais querido do que em minha própria
terra.
Bolsonaro despreza e até persegue o melhor dos brasileiros, a rica pluralidade de suas
diferenças étnicas, culturais, humanas e religiosas. Quando eu ainda estava fora do
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03/08/2019 O desprezo do presidente pelo melhor da alma do Brasil | Opinião | EL PAÍS Brasil
diferenças étnicas, culturais, humanas e religiosas. Quando eu ainda estava fora do
Brasil, pude observar em minhas viagens pelo mundo que a palavra “Brasil” despertava
principalmente simpatia e vontade de conhecer o país. Em um mundo no qual está
sempre à espreita o perigo das guerras, o Brasil, apesar de sua carga de violência
institucional e de suas grandes injustiças sociais, era visto como um povo que deseja
viver em paz e que não lembra quando teve sua última guerra.
Agora, pela primeira vez em muito tempo, o Brasil vive sob um Governo que fala mais
de guerra do que de paz, de matar do que de dar vida, que assassina a cultura e
despreza as diferenças, o que significa renegar a alma deste país, que até ontem era
visto pelos sociólogos europeus como um caldeirão de experiências positivas em sua
convivência pacífica com os estrangeiros, aos quais poderia oferecer o sonho de um
futuro com espaço e liberdade para todas as experiências em um clima de paz e desejo
de felicidade.
Talvez seja este o maior pecado do novo presidente, o de estar criando um clima de
guerra entre os brasileiros, incitando seus sentimentos de ódio e desprezo por tudo o
que significa buscar caminhos novos de convivência e liberdade para experimentar
novas formas de viver a existência sem que ninguém os ameace ou assuste.
Bolsonaro, que se apresenta como cristão, parece ter esquecido que os tempos do
“olho por olho, dente por dente” morreram há mais de 2.000 anos e que foram os
primeiros cristãos aqueles que pregaram: “Agora já não há judeu nem gentio, escravo
nem livre, porque todos são um em Cristo”. Semear, como o presidente faz, sementes
de morte e divisão, de desprezo e até de ameaças a todos aqueles que não se ajoelhem
diante de sua visão autoritária e estreita do mundo, é ofender este país e segregá-lo do
mundo moderno sem fronteiras, querendo impor novos muros que nos separem uns
dos outros.
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