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Capítulo 2

Entrementes, os que foram dispersos iam por toda parte pregando a palavra.

Atos 8.4

A Dispersão da Igreja até Antioquia (Atos 8.1 -13.1) - Era necessário que a Igreja saísse

de Jerusalém. Se ela não sai por uma obediência expontânea à vontade de Deus, então

ela deve sair por uma pressão, uma perseguição que a lança pelos caminhos nos

quais Deus quer que ela esteja. São vários caminhos que levam a muitos lugares

diferentes, mas num certo sentido são um só caminho: o único caminho que a Igreja

deve tomar, o da obediência e da missão. Ainda que por pressão, a Igreja está agora

no caminho em que Jesus esteve, fazendo o trabalho que Jesus fez. Pelas regiões da

Judéia e da Samaria, avançam para os confins da terra.

Síntese

Uma palavra a respeito do esquema (Dispersão até Antioquia). Estamos estudando

Atos e epístolas, e temos, nesta fase, a segunda unidade de estudo. A primeira foi até o 8.1,

incluindo, pois, os 7 primeiros capítulos, a saber: "A Igreja em Jerusalém".

Tudo o que vimos gira em torno da vida da Igreja em Jerusalém.

Vimos então os elementos constituídos da Igreja: a unção do Espírito, a mensagem, os

oficiais, etc. Embora a Igreja tivesse tido a fase Israelita, o certo é que, no sentido próprio da

Igreja Cristã, nasceu no dia de Pentecoste. Em Atos 1.8 a Atos 8.1 é que encontramos os
elementos essenciais da Igreja. Não só essenciais, mas também iniciais. Exatamente o que

vimos na lição anterior.

Ora, a segunda unidade a respeito de Atos e Epístolas é a que está indicada no

esquema: Atos 8.1 até Atos 13.1. E o assunto é:

Dispersão da Igreja. A Igreja constituída em Jerusalém foi dispersa. Usamos a

ilustração da águia que desfaz o ninho para que os filhinhos aprendam a voar. É a hora de

lhe acompanharmos o vôo.

Segue-se a apresentação dos capítulos que registram a dispersão.

Para dar unidade à apresentação, conservando a idéia fundamental, apresentamos a

dispersão através de diferentes caminhos, para ficar didático para aprendermos. Se saíram

de Jerusalém foi por algum caminho.

O capítulo 8 nos fala do caminho de Samaria. Felipe foi pregar lá e encontrou um

mago, Simão. Ainda no capítulo 8 encontramos o caminho de Gaza. Felipe é ainda o

pregador, mas agora seu interlocutor é o eunuco da rainha de Candace. No capítulo 9 vemos

o caminho de Damasco: Saulo e Ananias; e uns versículos adiante, um caminho mais, o de

Lida: Pedro ressuscita Dorcas.

Capítulo 10: caminho de Cesaréia. Pedro visita Cornélio e prega em sua casa.

Capítulo 11: Caminho de Antioquia. Barnabé vai buscar Paulo e ambos trabalham, um ano,

em Antioquia.

Há sempre o nome do evangelizador e do evangelizado. No capítulo 9 Saulo é

evangelizado; no capítulo 11, já chamado Paulo, é evangelizador.

O capítulo 12, o último desta seção, não trata de caminho, mas relembra o aspecto da

perseguição que causara a dispersão. Tiago é morto à espada; Pedro é preso, mas

miraculosamente liberto.
No mapa, tomando Jerusalém como ponto de partida, indicamos os vários caminhos.

Em Atos 8.1 vimos que Deus permitiu que fosse a Igreja perseguida e dispersa; mas o verso

acrescenta: "Exceto os apóstolos". A dispersão foi necessária para a expansão do

Evangelho. Há, contudo, obstáculos. "Recebereis poder e sereis minhas testemunhas."

(1.8) É preciso poder para dar testemunho. Os caminhos referidos não foram trilhados

sem que houvesse obstáculo a vencer. Há uma dificuldade específica em cada um desses

caminhos...

O Caminho de Samaria - O caminho de Samaria é intermediário entre Jerusalém

(os judeus) e os confins da terra (os gentios). Samaria era habitada por um pessoal

mal visto pelos judeus, uma mistura de judeus e gentios. No Evangelho de Lucas,

capítulo 9:51, quando Jesus ia começar a sua caminhada para Jerusalém, Ele não foi

acolhido pelos samaritanos, que perceberam que o seu semblante mostrava a

intrépida resolução de ir para Jerusalém. Também no Evangelho, o caminho de

Samaria era intermediário entre os gentios e Jerusalém, na mesma direção, no sentido

contrário do de Atos dos Apóstolos. Em Lucas, a autoridade de Jesus e de Jerusalém

não eram reconhecidas em Samaria, assim como o povo samaritano não era

reconhecido pelos apóstolos. Agora, em Atos dos Apóstolos, uma grande

reconciliação vai haver. Tanto da parte dos samaritanos, quanto da parte dos judeus

algo de espetacular vai ter lugar. Os apóstolos reconheceram que o Evangelho havia

chegado em Samaria, e que os samaritanos haviam crido e se tornado irmãos em

Jesus Cristo. Por outro lado, os samaritanos, que só receberam o Espírito Santo pela

imposição de mãos dos apóstolos que para lá desceram, reconheceram tanto a

autoridade de Jesus Cristo sobre as sua vidas, quanto a autoridade dada pelo mesmo

Jesus aos apóstolos que Ele mesmo escolhera e enviara. O caminho de Samaria tem

muito a nos ensinar.


Vejamos o caminho de Samaria. Um incidente se dá com Simão (8.9-24). Este

homem, que se entregava a artes mágicas, ao ouvir de Felipe a pregação do Evangelho,

mostrou certo entusiasmo (v. 13). Não obstante o seu problema, logo ele ficou em evidência.

A população era supersticiosa e ele mesmo, Simão, era interesseiro. Sua conversão fora

apenas aparente. Ele invejava os dons dos apóstolos e entendia poder comprar o dom do

Espírito Santo (vv. 18,19). A luta ali travada foi entre o Evangelho, a magia e a superstição.

O Caminho de Gaza

Passemos ao caminho de Gaza (vv. 26-40). O incidente, bastante conhecido, de

Felipe e o eunuco deixa ver que este último, apesar de sua boa vontade, era ignorante. A

dificuldade agora não é a superstição, mas a ignorância. Felipe sobe ao carro em que está o

eunuco, pergunta-lhe se entendia o que lia. "Como poderei entender?" Embora mais

simpático do que Simão – o do caminho anterior – o eunuco não deixa de estar do outro lado

de uma barreira: "Como poderei entender, se alguém não me ensinar?" (v. 31). A missão da

Igreja é a de lutar contra a superstição e também contra a ignorância.

O Caminho de Damasco - Lucas usa alguns meios interessantes de apresentar

seus personagens importantes. Primeiramente ele cita quase despretensiosamente, de

passagem, o nome da pessoa em questão, depois ele retoma o nome e inicia seu

roteiro. A respeito de Saulo, mais uma vez ele procede assim. Primeiramente Saulo é

apresentado no início do capítulo 8. Lá está ele consentindo na morte de Estevão. Só

isso. Nada mais é dito a respeito dessa pessoa. Se fosse somente essa referência,

nada mais saberíamos senão que houve um tal de Saulo que dava sua permissão a

que os cristãos fossem mortos. Porém Lucas está preparando o caminho para que

Saulo (posteriormente Paulo) tome as páginas do livro de forma a colocar na

penumbra todos os demais personagens. A partir do capítulo 9, uma transformação


começa a se processar e Saulo começa a crescer. Ele vai chegar ao ponto de ser

odiado pelos judeus do mesmo modo que ele mesmo odiou os primeiros cristãos

pensando que com isso prestava um serviço a Deus.

Segue-se o caminho de Damasco (9.1-19). Trata-se do incidente conhecido da

conversão de Saulo. Ia ele para Damasco com a intenção de eliminar os crentes daquela

cidade: "Respirando ainda ameaças e morte..." (v. l). Além de ignorância e superstição,

não raro a Igreja tem de enfrentar ameaças. Felizmente há poder acima das ameaças

humanas.

Essas assumem, às vezes, aspecto impressionante, como no caso em que Saulo era

o perseguidor. Preparado e influente, com apresentação das autoridades, devia ser temível.

Jesus Cristo, porém, se identifica com Sua Igreja. "Saulo, Saulo, por que me persegues?" (v.

4). O que temos que lembrar é que Perseguir a Igreja é perseguir a Cristo. Então veja que!

as ameaças do mundo não são a última palavra; há alguém que tem uma palavra acima do

mundo.

Um discípulo chamado Ananias é o instrumento humano enviado por Deus para ajudar

Saulo em sua conversão (vv. 10-19).

O Caminho de Jope

Segue-se o caminho de Lida e Jope. O relato volta a Pedro, o qual chega à cidade de

Lida, e ali cura um crente paralítico chamado Enéias (vv. 32-34). Depois vai à cidade de

Jope, à beira-mar.

Ali em Jope havia alguém de muita simpatia e de capacidade de trabalho. Era uma

discípula chamada Tabita, o que, traduzido, quer dizer Dorcas (v. 36), isto é, gazela. Estava

cheia de boas obras e de esmolas que fazia. Onde o obstáculo? Parece não haver; era boa

crente, cheia de boas obras... Aconteceu, naqueles dias, que esta irmã morreu e a Igreja

toda chorava sua morte. O luto é um triste problema no caminho do crente. Quantas vezes
morrem obreiros que nos parecem indispensáveis? Mas, perguntamos, não estará Deus

vendo que necessitamos da colaboração desses irmãos? Deus tem Seus planos. Ressuscita

Dorcas neste caso. Esse caso nos faz lembrar de Josué, em lugar de Moisés, noutro caso;

ou Eliseu, em lugar de Elias. Deus não só premia com o descanso a uns como premia com

maiores responsabilidades a outros que foram fiéis. Não deve haver lugar para desânimo na

Igreja, quando ocorre o luto. Pode acontecer de ter um momento de tristeza pelo fato de não

se fazer mais presente, porém ao mesmo tempo alegria em saber que está com o Senhor.

"Recebereis poder e sereis minhas testemunhas..." (1.8) O que a Igreja deve temer é o

perder o poder do Espírito Santo. Enquanto houver tal poder não há superstição, não há

ignorância, não há ameaça, não há luto, não há nada que mate a Igreja. "As portas do

inferno não prevalecerão contra ela." (Mt 16.18)

O Caminho de Cesaréia

E o caminho de Cesaréia? Pedro estava à beira-mar, todo satisfeito, descansando,

quando recebe um aviso. Está em casa de Simão, o curtidor. Pedro tem, da parte de Deus, a

visão de um lençol, dentro do qual como que desciam do céu animais de toda a espécie, e

uma voz lhe dizia: "Mata e come." "De modo nenhum", respondeu ele, "porque jamais comi

coisa comum e imunda." Deus lhe disse: "Ao que Deus purificou não consideres comum."

(vv. 13-15) A visão era simbólica.

Pedro era convidado a ir à casa de um gentio. Ir à casa de um gentio e ali se

hospedar, era, para um judeu, impossível. Mas isto era o que Deus queria. Importava

derrubar, agora, a barreira do preconceito. Eis uma das dificuldades maiores na vida da

Igreja.

Temos aqui preciosa lição. Pedro não queria ir à casa de Cornélio por ser Cornélio um

gentio. Deus lhe disse: "Ao que Deus purificou não consideres comum." Ele foi. "No dia

imediato entrou em Cesaréia.


Cornélio estava esperando por eles... indo Pedro a entrar, lhe saiu Cornélio ao

encontro..." (vv. 24,25). Muitos haviam se reunido ali. Os versículos 34 ao 43 registram como

Pedro pregou, naquela ocasião, uma das mensagens mais poderosas de que temos

conhecimento. Houve conversão em massa. O Espírito Santo desceu, de modo visível, sobre

os gentios (v. 44). Os que eram "da circuncisão" (v. 45) ficaram desarmados. A narrativa

entra pelo capítulo 11 e nos diz como Pedro mesmo se justificou diante dos seus colegas da

Judéia, mostrando que não tivera outro caminho a seguir. Tivera mesmo de vencer o

preconceito e ir à casa de Cornélio. Deus o justificara com os frutos de seu trabalho.

O Caminho de Antioquia

Segue-se, ainda no capítulo 11, o caminho de Antioquia (vv. 19-30).

Antioquia, cidade grande, movimentada, atraía gente que se encaminhava para

maiores centros onde pudesse ganhar a vida. Atos 11.20 nos revela como Antioquia era uma

espécie de ponto de concentração, dada a sua situação comercial. Ali havia gente de Chipre,

cirineus, gregos, e naturalmente, sírios, visto que falamos de Antioquia da Síria.

Era, pois, um ponto de encontro.

Crentes fiéis deram aí o seu testemunho. O verso 19 nos mostra que muitos crentes

se prendiam às tradições judaicas, "...não anunciando a ninguém a palavra, senão somente

aos judeus". Mas os que chegavam a Antioquia não eram somente crentes judeus. Também

chegaram "...alguns... de Chipre e de Cirene..." (v. 20). Estes, abertos a uma maior

compreensão, passaram a anunciar o Evangelho aos gregos. Talvez o precedente de Pedro,

indo à casa de gentio, tivesse concorrido para isso.

O fato é que em Antioquia, cidade tão importante e lugar tão estratégico, o Evangelho

foi anunciado pela primeira vez aos gregos. O mesmo versículo nos revela também que o

trabalho missionário começou com leigos, os quais falaram do Evangelho com fidelidade. A

fama destas coisas veio à Igreja mãe; mandaram um homem de confiança, que era Barnabé.
"Tendo este chegado e, vendo a graça de Deus, alegrou-se, e exortava a todos a que, com

firmeza de coração, permanecessem no Senhor." (v. 23)

A Igreja luta com dificuldade de progressos aparente. Em Antioquia, como tivesse

havido algumas conversões, houvera também curiosidade.

Novidade na terra. O ambiente um tanto fervente, um tanto entusiástico, despertou em

Barnabé, que viera de Jerusalém, a desconfiança de que não houvesse raízes profundas.

Por isso exortou-os a que de todo o coração permanecessem fiéis ao Senhor. Felizmente

sua liderança era das melhores. Ele era homem de bem, cheio do Espírito Santo e de fé.

"E muita gente se uniu ao Senhor" (v. 24).

Barnabé sentiu que não dava conta de todas as responsabilidades.

Embora fosse homem bom, embora fosse homem capaz, digno de toda confiança

(pois que foi o enviado para uma missão tão importante), embora fosse cheio do Espírito

Santo, compreendeu, desde logo, que precisava de ajudante; de um bom ajudante. É o que

muitos trabalhadores não entendem. A sabedoria está em saber distribuir o serviço.

Até Moisés andou cometendo esse erro: querer ter tudo nas mãos (Êx 18.13-27).

Barnabé encontrou o que queria. "...Partiu... para Tarso à procura de Saulo; tendo-o

encontrado, levou-o para Antioquia. E por todo um ano se reuniram naquela igreja, e

ensinaram numerosa multidão. Em Antioquia foram os discípulos pela primeira vez

chamados cristãos."

(At 11.25,26). Assim, o resultado não se fez esperar. Bem organizada a obra da Igreja,

com a colaboração de Barnabé e de Saulo, o trabalho se tornou sólido.

Esta Igreja de A Antioquia teve a honra de ser a patrona das igrejas missionárias.

Quando nós quisermos dizer que uma Igreja é boa, podemos chamá-la de Igreja de

Antioquia. É a Igreja que compreende que não existe para outra coisa senão para

testemunhar a mensagem do Evangelho. Uma Igreja ou é missionária ou não é Igreja.


Porque Igreja que não evangeliza é um clube. Igreja, porém, é como a Igreja de Antioquia,

que fala com o estrangeiro, testemunha o Evangelho, organiza o trabalho, leva avante, de

fato, a mensagem. Foi aquela uma Igreja missionária não só no local, mas desencadeou o

que chamamos - A Grande Expansão.

A expansão que analisamos, com a dispersão da Igreja, é uma grande obra da

Providência. Mas, nas lições a seguir, veremos maior ação providencial.

Antioquia, o último ponto considerado nesta fase, torna-se o ponto de partida para as

viagens missionárias de Paulo. Antioquia, que nesta lição ocupa, por assim dizer, a nota final

da primeira fase missionária da Igreja, é apenas o ponto de partida para a grande expansão.

Deus, que foi capaz de desfazer o ninho de Jerusalém, e dispersar leigos, para irem

fundando as Igrejas mais próximas, foi capaz também, na hora oportuna, de fazer perseguir

até os apóstolos, de deixar que se matassem até alguns deles, para que a Igreja tivesse

compreensão ainda maior do seu sentido missionário.

Alguém disse que o livro de Atos devia chamar-se "atos do Espírito Santo". A

expressão é interessante. Se penso em Pedro, a Bíblia diz: "Estava cheio do Espírito Santo"

(4.8); se penso em Estêvão, a Bíblia diz: "Estava cheio do Espírito Santo" (6.5); se penso em

Felipe, a Bíblia diz: "Estava cheio do Espírito Santo" (8.29); se penso em Barnabé, a Bíblia

diz: "Estava cheio do Espírito Santo" (11.24). "Recebereis poder e sereis minhas

testemunhas.” O que seria Pedro sem este poder? Que ‘seria Barnabé sem este poder? Não

seriam nada; a Igreja Cristã é apenas uma agência de poder: o poder do Espírito Santo.

Versículo para decorar: Atos 8.4

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