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* Doutor em Direito pela PUC/SP. Professor por concurso dos cursos de graduação e mestrado da
UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná (Campus de Jacarezinho/PR). Ex-Diretor e
Professor da Faculdade de Direito de Presidente Prudente/SP – FIAET e da Faculdade de Direito
de Adamantina – FAI. Professor convidado em Cursos de Pós-Graduação como FADAP de Tupã,
AEMS de Três Lagoas/MS, FIO de Ourinhos, ESUD de Cuiabá/MT e ESA – Escola Superior da
Advocacia da OAB/SP. Procurador do Estado (aposentado). Advogado em Presidente
Prudente/SP.
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I NTRODUÇÃO
Citando Joseph Goebbels, PAULO CASTILHO1 lembra que o mesmo foi o
criador da frase “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”.
Complementa dizendo que no direito, às vezes, ocorre algo semelhante,
mas não como uma mentira deliberada, porque, por vezes, acredita-se em
alguns enunciados ou jargões de tal forma que quem os pronuncia acredita
que está diante de uma verdade.
Essa situação aparece com frequência no âmbito do direito, quando se
repete um enunciado sem objeções, como acontecia com a prisão do
depositário judicial2, que, mesmo sem lei, era tida como legal, bem como
com a fraude à execução, que sempre foi considerada de natureza objetiva,
quando se sabe hoje que toda fraude só pode ser subjetiva3. O mesmo se
dava com a decisão do juízo incompetente4 e com o julgamento de mérito
sem citação do réu, que se consideravam nulos5, com a propalada
inexistência de mérito e coisa julgada nos processos cautelares6 e de
execução7, a divulgada improrrogabilidade8 da competência absoluta, a
inexistência de coisa julgada na ação alimentos9, a possibilidade de
reproposição da ação no caso de extinção do processo sem julgamento de
1 CASTILHO, Paulo José. Repetir Uma Mentira Mil Vezes A Torna Verdadeira? Oeste Notícia,
Presidente Prudente, 13.mai.2010.
2 Para maiores informações, confira nossos: Prisão do depositário judicial – uma prisão costumeira
no terceiro milênio. Revista Dialética de Direito Processual. São Paulo: Dialética, v. 19, out. 2004; A
Reforma Processual e a Inconstitucionalidade do art. 666, § 3º do CPC. RT, São Paulo, n. 869, mar.
2008; e Revista Magister de DCPC. Porto Alegre: Magister, v. 18, maio-jun. 2007.
3. Confira nosso: Fraude à execução e o direito de defesa do adquirente. São Paulo: Juarez de Oliveira,
2002. Posterior a esta obra surgiu a Súmula 375 do STJ no mesmo sentido.
4 Veja nossos: Dever de declaração da incompetência absoluta e o mito da nulidade de todos os atos
decisórios. Revista Jurídica. Porto Alegre: Notadez, v. 320, jun. 2004; Validade da decisão do juízo
incompetente, Revista Jurídica. Porto Alegre: Notadez, v. 277, nov. 2000.
5 Validade do julgamento de mérito sem citação do réu. REPRO. São Paulo: Revista dos Tribunais,
v. 111, jul-set. 2003; Revista Jurídica. Porto Alegre: Notadez, v. 275, set. 2000; Sentença de mérito
sem citação do réu. Revista Dialética de Direito Processual. São Paulo: Dialética, v. 43, out. 2006.
6 Mérito no processo cautelar. RDDP. São Paulo: Dialética, v.16, jul. 2004; Coisa julgada no processo
cautelar. RT. São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 842, dez. 2005; Revista Jurídica. Porto Alegre:
Notadez, v. 329, mar. 2005.
7 Confira nosso: Mérito no processo de execução. In: Repertório de Jurisprudência – IOB, 2. quinz. nov.
2009; Sentença do art. 795 do CPC. In: Bruchi, Gilberto Gomes (Coord.) Execução Civil e
Cumprimento da Sentença. São Paulo: Método, 2006.
8 Prorrogação da competência absoluta. Revista Jurídica. Porto Alegre: Notadez, v. 292, fev. 2002;
jul-set. 1998.
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mérito, entre outros tantos, quando se sabe hoje que nada disso era verdade.
Assim também se dá com o dogma de que a sentença que extingue o
processo sem julgamento do mérito autoriza a renovação da ação.
Estes mitos foram afastados aos poucos e outros haverão de ser
afastados, como este de se pensar que toda vez que o processo for extinto
sem julgamento do mérito, a ação poderá ser renovada.
Neste estudo, procura-se demonstrar que nem sempre quando o
processo é extinto sem julgamento do mérito isto viabiliza a renovação da
ação. A coisa julgada formal em muitos casos não autoriza que se proponha
de novo a ação. O legislador, no artigo 268 do CPC, faz referência ao inciso
V do art. 267 do CPC, mas outros casos existem que também não permitem
a repropositura da ação, mesmo sendo a extinção do processo sem
julgamento do mérito10.
1 – A AÇÃO
Muitas vezes equivocadamente confundida com o próprio direito de
ação, a mesma não é direito, é atuação. Tanto pode propor a ação quem tem
direito de ação, bem como quem não o tem. Se a parte tem direito de ação e
cumprindo as formalidades, a ação poderá ser julgada pelo mérito. Caso o
autor não tenha direito de ação, esta não poderá ser julgada pelo mérito,
devendo o processo ser extinto sem julgamento do mérito (art. 167 do CPC).
A ação é o elo entre o interessado e o Poder Judiciário. Inexiste
prestação jurisdicional sem ação do interessado. SATTA a denomina de
postulação e afirma: “Antes que o Juízo, é ela sua postulação”11.
Sob o aspecto processual, pode-se dizer que a ação é o meio de que
dispõe o interessado para provocar a atuação do Poder Judiciário e, com
isso, ver exercido o seu direito de ação, que já existe mesmo antes da
propositura da ação. Também não importa se o autor da ação tem ou não
direito de ação para a sua propositura. Mesmo aquele que não tem direito
de ação (carecedor do direito da ação), mas, pelo simples fato de pensar que
tem esse direito, pode buscar a via judicial para obter um pronunciamento
do órgão judicante. Caso tenha direito de ação e cumprindo as formalidades
10 “Vivemos um momento de grandes mudanças de paradigmas. O que sempre foi tido como uma
praxe, como certo, como óbvio, está se transformando em práticas ultrapassadas, em recordações
que merecem lugar no museu”. BORGES, Leonardo. Direito ao pagamento parcelado. DT, v. 189, p.
7, abr. 2010.
11 SATTA, Salvatore. Direito Processual Civil. Borsoi, 1973, p.64.
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12 Por engano já se considerou repropositura da mesma ação com a troca da parte. “Na hipótese dos
autos, a repropositura da ação se deu com alteração do polo passivo”. STJ, REsp 1027158-MG – 3ª
T., Relª Min. Nancy Andrighi, DJ 04.05.2010, Revista Jurídica, v.391, p.151, maio. 2010. Melhor
andou GUILHERME B. DE OLIVEIRA, ao expressar: “Seja pela desistência do pedido, seja, por
exemplo, pela falta de pagamento das custas de distribuição, uma nova demanda, mesmo com a
alteração parcial dos réus”. Comentários aos artigos 251 a 257 do Código de processo Civil. Disponível
em: <http://www.tex.pro.br>. Acesso em: 02 abr. 2007.
13 “Ação Rescisória – Impossibilidade Jurídica do Pedido. Configuração. Sentença Indicada Como Rescindenda
Substituída por Acórdão. Súmula 192, III, desta Corte. Esta Corte, na compreensão as Súmula 192, III,
firmou entendimento no sentido de que, em face do disposto no art. 512 do CPC, é juridicamente
impossível o pedido explícito de desconstituição de sentença quando substituída por acórdão
Regional. Recursos conhecidos e desprovidos”. Proc. RXOF e ROAR 1132000-29.2004.5.02.0000 do
TST. SDI-JU do TST, v. 161, p.119-120, abr. 2010.
Trecho do acórdão: “A decisão proferida pela C. 10ª Turma deste Regional, por conseguinte, é a
única passível de ataque, já que não se rescinde algo que não existe mais como ato decisório,
consoante se depreende do disposto no artigo 512 do CPC”, idem, p.121.
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3 – SENTENÇA
De acordo com a redação anterior (art. 162, § 1º, do CPC), a sentença
apontava o fim do processo de conhecimento, cautelar ou de execução.
BARBOSA MOREIRA (2006, p.78) critica tal posição, ao afirmar que não
era nesse momento que o processo realmente terminava, afirmando que ele
continuava a fluir enquanto subsistisse a possibilidade de recorrer e mesmo
durante a pendência de recurso. No entanto, este argumento, por si só, não
parece ser suficiente para afastar a sentença do ponto final do processo. Isto
porque o recurso tem força de impedir que a sentença produza todos os
seus efeitos14.
A existência de recurso produz o efeito de suspender a ocorrência da
coisa julgada, mas não tem o condão de descaracterizar a sentença como ato
extintivo do processo. Tanto é assim, que, após o julgamento do recurso, a
sentença ganha o selo da definitividade. Também, quando não existe
recurso, a sentença ganha imediatamente o selo de definitividade. Se a
sentença não extinguir (ou extinguisse) o processo, como explicar os casos
em que não haja recurso? Ainda mais se a sentença não extinguir o
processo, qual será então o ato que o extingue? Ao final, se o processo não é
extinto pela sentença, haverá de sê-lo por outro ato.
No caso de existência de recurso, o processo continua porque a
sentença ainda não produziu todos os seus efeitos, visto estar sob condição
suspensiva pela presença do recurso15. Julgado o recurso, mantida a
sentença, o processo está inexoravelmente extinto. Só não será extinto no
caso de anulação da sentença, situação em que a própria sentença deixa de
existir, caso em que, via de regra, outra será posteriormente proferida, e esta
última então, põe fim ao processo. De qualquer forma, será sentença o ato
que põe fim ao processo.
O objetivo do processo é solucionar a lide e, em sendo esta
solucionada com a sentença, o processo perde seu objeto e por isso será
extinto. A lide será solucionada com a sentença e com esta se dá a extinção
do processo. Por isso ensina BATISTA LOPES (2006, p.142) que, à primeira
vista, a sentença seria sempre o momento culminante do processo em que o
juiz proferiria o veredictum, resolvendo a causa em favor de uma ou de outra
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parte.
Não se pode deixar iludir com o procedimento posterior de
cumprimento de sentença. O procedimento de cumprimento de sentença já
não mais integra o processo de conhecimento, senão uma fase de satisfação
daquilo que foi decidido.
Países existem em que o processo de conhecimento se dá no judiciário
e o procedimento de cumprimento da sentença se dá pelas vias
extrajudiciais. Mas mesmo quando se dá pela via judicial, como acontece no
Brasil, não se pode afirmar tratar-se de processo, senão, de mera fase
procedimental de cumprimento. Em verdade, o que se retirou com a
reforma (Lei 11.232/05) foi o processo de execução de sentença e não a
extinção do processo de conhecimento pela sentença.
3.1 A Nova Redação
Essa nova redação, apesar dos elogios16 que possa merecer, em nada
altera a velha concepção de sentença como ato através do qual o juiz encerra
o processo. Assim era antes e continua sendo agora, depois da reforma pela
Lei 11.232/2005.
A moderna redação do artigo 162, § 1º, do CPC, ao fazer referência
aos artigos 267 e 269, rodou e caiu no mesmo lugar. Os artigos 267 e 269
estão inseridos no Capítulo III do Título VI, que cuida exatamente da
extinção do processo. O Capítulo III congrega os artigos 267, 268 e 269,
todos voltados à extinção do processo. Logo, se a sentença é o ato que
implica qualquer das situações dos arts 267 e 269 do CPC, não resta dúvida
de que está cuidando de extinção do processo, como expressamente
dispõem o artigo 267 e implicitamente o art. 269.
Também os artigos 467, 485 e 489 do CPC, interpretados
conjuntamente, levam à conclusão que pela sentença dá-se a extinção do
processo. O primeiro refere-se à coisa julgada quando não mais couber
recurso, o que é indicativo de extinção do processo, porque enquanto este
não for extinto sempre haverá possibilidade de recurso. O segundo impõe
como requisito para a ação rescisória o trânsito em julgado, que só acontece
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17 “Assim, estão alheios à coisa julgada material os atos judiciais não decisórios (p. ex., os atos
executivos), as decisões interlocutórias, as sentenças que extinguem o processo sem julgamento
do mérito”. TALAMINI, Eduardo. Coisa julgada e sua revisão. São Paulo: RT, 2005, p. 31.
18 PONTES DE MIRANDA, ao se referir a alguns casos de sentença com coisa julgada, disse: “Nenhuma
das decisões de que acima falamos é decisão interlocutória”. Comentários ao CPC, t.V, p.109.
19 Nas decisões interlocutórias não se fala em encargos sucumbenciais. Assim, VI ENTA nº 24: “Não
Nas ações de conhecimento em geral, a sentença é o ato final do juiz”. Manual de Direito Processual
Civil, v.2, p.561. Em outro ponto, acrescenta: “O que conta, pois, é que proferida a sentença (ainda
que não seja de mérito) estará terminado o ofício jurisdicional, à luz do pressuposto que o juiz
entendeu presente, para o proferimento da sentença, já que esta não mais poderá ser alterada”.
Idem, p.567.
21 “Sendo assim, deve-se entender por coisa julgada a imodificabilidade da eficácia declaratória
contida numa sentença emanada da atividade jurisdicional, não mais sujeita a recurso”. ALMEIDA
JUNIOR, Jesualdo Eduardo de. O Controle da Coisa Julgada Inconstitucional, p.66.
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22 ALMEIDA JUNIOR ensina: “Pela redação do Código de Processo Civil, a coisa julgada atinge apenas
as sentenças e por extensão óbvia os acórdãos. As decisões interlocutórias e os despachos não se
sujeitam ao fenômeno, ficando à mercê de preclusão processual”. O Controle da Coisa Julgada
Inconstitucional, p.54. No mesmo sentido DIDIER JR., BRAGA e OLIVEIRA: “Se, porém, a decisão é
definitiva em relação a um procedimento (principal, recursal ou incidental), não ficará submetida
à coisa julgada”. DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito
Processual Civil, v.2, p.277.
23 VICENTE GRECO FILHO anota: “O Código optou por conceituar sentença por seu conteúdo,
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24 “A sentença que põe fim ao processo é coisa julgada”. PONTES DE MIRANDA. Comentários ao CPC.
3.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997, t.V, p.105.
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25 “Afirmava-se, nessa linha, que o critério definidor de sentença era topológico, não algo que
dissesse respeito ao conteúdo do ato”. “Todavia, não é mais o momento ou lugar do
procedimento o fator de diferenciação entre sentença e decisões interlocutórias”. OLIVEIRA, Bruno
Silveira. Um novo conceito de sentença. REPRO, São Paulo, v.149, p.121. “Resta, portanto,
inteiramente descartado o critério topológico de diferenciação dos atos decisórios, pois agora, em
meio ao procedimento tanto poderão surgir sentenças quanto decisão interlocutória”. Idem, p.124.
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26 Por exemplo, o artigo 795 do CPC, ao cuidar da extinção da execução com base no artigo 794,
afirma que a extinção só produz efeito quando declarada por sentença. O artigo 475-M, § 3º, do
CPC fala em apelação como recurso adequado para o caso de extinção da execução, o que implica
dizer que essa extinção se dá por sentença. O artigo 329 também fala em extinção do processo
quando se der qualquer dos casos dos artigos 267 e 269 do CPC.
27 ARAKEN DE ASSIS afirma: “Forçoso reconhecer que a execução contemplada no art. 475-I, realizada
incidenter tantum, cedo ou tarde terá seu fecho, satisfazendo ou não o exequente (art. 794, I, c.c. art.
475-R), e o respectivo ato constituirá sentença (art. 162, § 1º) digna de apelação”. Manual dos
Recursos, p.385.
28 LUIZ GUILHERME MARINONI e SÉRGIO CRUZ ARENHART assim ensinam: “As sentenças de
procedência que precisam que o processo se desenvolva em uma fase de execução, para satisfazer
o autor, obviamente extinguem o processo (sentenças declaratórias e constitutivas)”. Manual do
Processo de Conhecimento, p.407.
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29 “Sentença – Revisão de ofício pelo juiz – Inadmissibilidade – Decisão que não foi objeto de recurso
pela parte interessada – Ofensa ao princípio tantum devolutum quantum appelatum”. STJ, AgRg no
REsp 750.311-RS, j. 09.05.2006, Rel. Min. Ari Pargendler. RT 852/186.
30 HUMBERTO THEODORO JUNIOR assim se expressa: “Em regra, as nulidades dos atos processuais,
observa LIEBMAN, ‘podem suprir-se ou sanar-se no decorrer do processo’. E, ‘ainda que não
supridas ou sanadas, normalmente não podem mais ser arguidas depois que a sentença passou
em julgado. A coisa julgada funciona como sanatória geral dos vícios do processo’” Nulidade,
Inexistência e rescindibilidade da sentença. REPRO, v.19, p.29.
No mesmo sentido julgou o TJRS: “Coisa Julgada – Sentença – Imutabilidade da decisão transitada
em julgada – Hipótese em que é defeso ao juiz decidir novamente sobre a matéria nela decidida –
Inteligência dos arts. 467 e 471 do CPC” (TJRS, Ap. 70011609831 – 16ª Câm., j. 25.01.2006, vu, Rel.
Desemb. Claudir Fidelis Faccenda. RT, v.847, p. 327, maio. 2006).
31 PONTES DE MIRANDA observa: “A coisa julgada só obsta a que se prossiga no mesmo processo”.
modificação (mutabilidade) até a extinção do processo, por não ter ainda alcançado a eficácia ou
qualidade de coisa julgada (preclusão máxima), imutabilidade a que se refere o art. 467 do CPC”.
Sentenças objetivamente complexa: impossibilidade de trânsito em julgado parcial. REPRO, v.162,
p.241.
33 “A sentença encerra a instância de conhecimento, retirando do juiz condutor do feito a
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34 Ensina CARLOS ALBERTO ÁLVARO OLIVEIRA: “[...] ao publicar a sentença de mérito, o juiz cumpre e
acaba o ofício jurisdicional [...]”. E ainda: “[...] o reexame do mérito da sentença proferida, a
revogação da primeira ou sua complementação, assim como a prolação de outra constituirá, sem
dúvida, atividade não revestida do selo da jurisdicionalidade e, por conseqüência, inapta para
ingressar no mundo jurídico”. Execução de título judicial e defeito ou ineficácia da sentença.
REPRO, v.80, p.67.
35 STJ assim decidiu: “Decisão em que o juiz acrescenta novo dispositivo à sentença já publicada. Tal
decisão não é ato judicial, pois o magistrado já exaurira e acabara seu ofício jurisdicional (CPC –
art. 463). Nela se contém ato administrativo, emanado de autoridade incompetente. Contra ela
cabe Mandado de Segurança, independentemente de recurso preparatório” (RMS 1.618-3-SP, 1ª
T., j. 09.12.92, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU 01.03.93, e RT, v.699, p.173, jan. 1994).
36 “Daí concluir-se que o capítulo não impugnado da sentença pela parte interessada, quando lhe
recurso”. MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de Direito Processual Civil, v.I, p.559.
38 “Ao exarar o acórdão, o Tribunal esgota sua função jurisdicional, podendo modificá-lo apenas
para corrigir erro material ou para sanar omissão, contradição ou obscuridade, mediante a
interposição de embargos de declaração” (STJ – REsp 970.190-SP, j. 20.05.2008, Relª Minª Nancy
Andrighi, RDDP, v.67, p.142, out. 2008).
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exercer a sua função de tutelar os direitos e, por consequência, as pessoas.” MARINONI, Luiz
Guilherme. Coisa julgada inconstitucional, p.56.
41 STJ, SÚMULA 367. “A competência estabelecida pela Emenda Constitucional nº 45/2004 não
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42 “Ocorre a coisa julgada material quando a sentença não só atinge a relação processual, mas
também a relação de direito material controvertida entre as partes, ou seja, extingue-se o processo
com resolução de mérito.” GAIO JUNIOR, Antonio Pereira. Direito Processual Civil, v.1, p.285.
43 “Não é cabível a condenação da parte sucumbente ao pagamento de honorários advocatícios em
favor da parte que teve impugnação acolhida para declarar nulidade do acordo homologado e
dos atos processuais que se seguiram ao mesmo, haja vista que referida sentença não pôs fim ao
processo, havendo a continuidade da prestação jurisdicional.” TJMG, Ap. 1.439.03.027177-9/001, j.
29.04.2008, Rel. Desemb. Osmando Almeida, JM, v.185, p.64, abr-jun. 2008.
44 “Sendo a exceção de pré-executividade mero incidente processual, a sua rejeição não pode impor
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45 “Processo Civil. Cumprimento de Sentença. Nova Sistemática Imposta pela Lei Nº 11.232/05. Condenação
em Honorários Advocatícios. Possibilidade. – O fato de se ter alterado a natureza da execução de
sentença, que deixou de ser tratada como processo autônomo e passou a ser mera fase
complementar do mesmo processo em que o provimento é assegurado, não traz nenhuma
modificação no que tange aos honorários advocatícios.
– A própria interpretação literal do art. 20, § 4º, do CPC não deixa margem para dúvidas.
Consoante expressa dicção do referido dispositivo legal, os honorários são devidos ‘nas
execuções, embargadas ou não’.
– O art. 475-I do CPC é expresso em afirmar que cumprimento da sentença, nos casos de
obrigação pecuniária, se faz por execução. Ora, se haverá arbitramento de honorários na execução
(art. 20, § 4º, do CPC) e se o cumprimento da sentença se faz por execução (art. 475, I, do CPC),
outra conclusão não é possível, senão a de que haverá a fixação de verba honorária na fase de
cumprimento da sentença.
– Ademais, a verba honorária fixada na fase de cognição leva em consideração apenas o trabalho
realizado pelo advogado até então” (STJ, REsp 978.545-MG, Relª Min. Nancy Andrighi, RBDPro,
v.62, p.195-196, abr-jun. 2008).
“O fato é que a natureza jurídica, a forma e a época de fixação dos honorários não restaram
alteradas somente porque, agora, o cumprimento da sentença (execução de sentença) terá sede no
mesmo processo.” Revista Brasileira de Direito Processual – RBDPro, v.62, p.202, abr-jun. 2008.
46 13/53 – Honorários de Advogado. Custas Processuais. Sucumbência Recíproca. Reconhecendo-se a
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47 “Uma vez ocorrida a citação, forma-se ou aperfeiçoa-se a relação processual entre as partes
originárias. Ao pretender-se modificar o pedido e a causa de pedir, o autor deve buscar a
concordância do réu. O réu por sua vez poderá concordar ou não com esta alteração. Como isto,
fica no poder de disposição do réu, ele escolhe o que melhor lhe convier. Por outro lado, a
alteração da ação em relação às partes não está no poder de disposição do réu e por isso ele não
pode dispor sobre interesse alheio, que é do terceiro que ainda não se encontra nos autos. Esta é a
razão da restrição da parte final do art. 264 do CPC, que expressamente impõe: ‘[...] mantendo-se
as mesmas partes, salvo as substituições permitidas por lei’”. SOUZA, Gelson Amaro de. Emenda
da petição inicial. Revista Jurídica. Porto Alegre: Notadez, v.220, p.38, fev. 1996.
48 Este aspecto foi tratado com maior amplitude por SOUZA, Gelson Amaro de. Curso de Processo
Civil.
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49 LUIZ EDUARDO RIBEIRO MOURÃO afirma: “A coisa julgada consiste, justamente, na atribuição legal
de imutabilidade ao conteúdo da decisão judicial, tendo como base o trânsito em julgado, a fim de
preservar valores socialmente importantes”. Coisa julgada, p. 33.
50 MISAEL MONTENEGRO FILHO anota: “Como visto anteriormente, caracteriza-se a sentença como o
pronunciamento do juiz que pelo Código de Ritos põe fim ao processo com ou sem julgamento de
mérito, operando a pretendida solução do conflito de interesses instaurado”. Curso de Direito
Processual Civil, v. I, p. 558.
51 MOURÃO define a coisa julgada como: “A res iudicata como uma situação jurídica que se
lembrado por PONTES DE MIRANDA e que ocorre quando o juiz da causa, depois de já julgado o
feito, volta a proferir, no mesmo processo, uma segunda sentença. Com o pronunciamento feito
no primeiro julgado, o juiz exauriu a jurisdição e encerrou a relação processual”. Nulidade,
Inexistência e rescindibilidade da sentença. REPRO, v.19, p. 32.
O STJ, assim decidiu: “I – Com a prolação da sentença, o juiz cumpre e encerra o ofício
jurisdicional. Eventual alegação de nulidade do processo, depois disso, deve ser formulada em
recurso apropriado” (STJ, REsp 222.611, Rel. Antonio de Pádua Ribeiro, j. 24.08.2004, DJU
06.12.2004. RSTJ, v.187, p. 276, mar. 2005).
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54 A eficácia preclusiva prevista no artigo 474 do CPC, implica impossibilidade de conhecer e julgar
aquilo que foi deduzido ou era dedutível durante o processo. Uma vez extinto o processo, ocorre
a eficácia preclusiva, e mesmo aquilo que não foi deduzido considera-se como se deduzido fosse e
rejeitado, não podendo mais ser analisado.
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pode mais ser julgado novamente em razão da coisa julgada material. Disto
surgiu a afirmação de que uma vez julgado o mérito do pedido não mais se
poderá repetir a mesma ação, o que se afigura correto. Todavia, surgiu
outra expressão de que o processo quando extinto sem julgamento de
mérito poderá a ação ser reproposta, o que não deixa de ser um grande
equívoco. É verdade que quando há julgamento de mérito a mesma ação
não pode ser reproposta, mas não é verdade de que toda sentença sem
mérito autoriza a repropositura da ação.
5 – SENTENÇA SEM JULGAMENTO DE MÉRITO
A sentença sem julgamento de mérito é aquela que não julga o
pedido. Esta sentença por não julgar o pedido não produz coisa julgada
material e, em alguns casos, permite-se a repropositura da mesma ação55.
Todavia, equivocam-se aqueles que pensam que toda vez que o processo é
extinto sem julgamento do mérito o autor poderá repetir a mesma ação. Se
tal providência pode ocorrer em alguns casos, isto não significa que poderá
acontecer sempre e, em todos os casos.
Quando a sentença extingue o processo sem julgar o mérito do
pedido, ela fica sujeita apenas à coisa julgada formal. Isto porque apenas se
julgou a forma e não a matéria. A matéria, de regra, poderá ser julgada em
outra ação ou mesmo com repetição da mesma ação, desde que cabível
repropor a ação ou a propositura de outra ação para o caso concreto. Mas
isso não quer dizer que o autor está autorizado a renovar a mesma ação em
todos os casos. Há hipóteses que não autorizam a renovação da mesma
ação, mesmo em se tratando de sentença ou acórdão sem a apreciação do
mérito do pedido. Inúmeros são os casos em que não se admite a
repropositura da ação.
6 – COISA JULGADA
A coisa julgada é conhecida como qualidade que torna a sentença
imutável (coisa julgada formal) ou a imutabilidade de seus efeitos (coisa
julgada material). Assim, a coisa julgada é a imutabilidade da sentença ou
de seus efeitos, que não mais poderão ser alterados. Não é um efeito direto
da sentença, mas uma qualidade que após ser incorporada à sentença
produz indiretamente os efeitos da sua imutabilidade.
55 Usou-se a expressão “repropositura da mesma ação” para maior clareza, mesmo sabendo do risco
de pleonasmo e de redundância. Isto porque, ao se falar em repropositura, já se está falando da
mesma ação.
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56 Falou-se que a sentença no caso art. 741, I do CPC é ineficaz, porque nula não é. O assunto foi
tratado mais detalhadamente em trabalho intitulado: Efeitos da sentença que acolhe embargos à
execução por falta ou nulidade de citação na forma do art. 741, I, do CPC. RBDP, v.6; RIPE v.20;
REPRO, v. 93; RNDJ, v. 9; RT, 785.
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Ao dizer que a sentença que julgou a lide tem força de lei, o legislador
quis tão somente dizer que a decisão da lide é imutável dentro e fora do
processo após o trânsito em julgado da sentença. Em verdade, a sentença
que julga a lide faz coisa julgada material e tem mais força de que uma lei
entre as partes às quais foi dada. Pode parecer estranha essa afirmação, mas
ela tem mesmo mais força do que uma lei ordinária. A lei pode ser revogada
a qualquer tempo por outra e a coisa julgada material nem mesmo por lei
nova poderá ser modificada (art. 5º, XXXVI, da CF/88). Ora, se nem mesmo
a lei poderá modificar a coisa julgada, logo ela tem mais força do que a lei.
A coisa julgada material somente não prevalece frente à própria
Constituição, eis que, com relação à Constituição nova, não incidem os
efeitos da coisa julgada.
A coisa julgada material atinge além da imutabilidade da sentença
também a matéria (pedido/lide/mérito) decidida. A matéria que for
decidida não mais será objeto de discussão nem no mesmo, nem em outro
processo. A coisa julgada material extrapola o âmbito singular do processo e
irradia seus efeitos no mundo jurídico, não mais se permitindo reabrir a
questão em nenhum outro processo. Ressalvam-se os casos especialíssimos
do artigo 485 do CPC, que autoriza a ação rescisória e por tempo limitado
de dois anos.
6.2 Coisa Julgada Formal
Sempre que uma sentença não mais comportar recurso, estar-se-á
diante de uma coisa julgada formal. É formal porque formalmente ela está
consolidada e não mais pode ser alterada dentro daquele processo.
É a simples impossibilidade de se recorrer da sentença, seja porque os
recursos possíveis já foram utilizados ou esgotados, seja porque não foram
utilizados e atingidos pela preclusão. Em outros termos, pode-se dizer que a
preclusão recursal gera na sentença os efeitos da coisa julgada.
Equivocou-se o legislador ao dizer no art. 467 do CPC: denomina-se
coisa julgada material a eficácia que torna imutável e indiscutível a
sentença, não mais sujeita ao recurso ordinário ou extraordinário. Não
tivesse a lei se utilizado da expressão “material”, teria a perfeita
conceituação de coisa julgada formal.
A coisa julgada formal é um plus que vai atingir toda sentença a partir
do momento em que esta não mais comporte recurso. Mas o mais
importante é saber quais os efeitos desta coisa julgada. É notório que toda
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ação57.
O artigo 268 do CPC, de forma extremamente tímida e equivocada,
dizendo muito menos do que pretendia (ou deveria) dizer, afirma que nos
casos do inciso V do art. 267 não poderá haver renovação da ação. Mas
deixa transparecer que nos demais casos previstos no artigo 267 a renovação
é possível. Ledo engano. A lógica não aceita e não admite tal conclusão.
Muitas das causas que levam à extinção sem julgamento do mérito em
outras hipóteses também podem impedir a renovação da ação, como se dá
nos casos dos incisos VII, IX e X, de forma inarredável. Mas em outros
casos, como os dos incisos I, III, IV, VI e VIII, podem surgir situações
impeditivas, muito embora isto não seja em todos os casos.
8.1 Inciso V do Art. 267
O inciso V do artigo 267 do CPC fala em extinção do processo sem
julgamento do mérito quando o juiz acolher a alegação de perempção, de
litispendência e de coisa julgada, e o artigo 268 afirma que nestes casos não
poderá haver renovação da ação. Neste ponto a lei foi clara, mas não se
pode pensar que essa impossibilidade de renovação apenas se dá nestes
casos. Outros tantos existem e que não se permite a renovação.
8.2 Outros Casos Impeditivos Definitivamente
O inciso VII do art. 267 do CPC determina a extinção do processo sem
julgamento do mérito quando houver convenção de arbitragem. Quando as
partes convencionarem a arbitragem, isto impede a busca da via judicial, e
uma vez extinta a ação por este motivo, não se poderá pensar em renovar a
ação, porque sempre haverá o mesmo obstáculo a impedir o seguimento do
processo.
Também determina o inciso IX do art. 267 do CPC: será extinto o
processo sem julgamento do mérito quando falecer a parte e a ação for
considerada intransmissível. Neste caso, uma vez extinta ação pela
impossibilidade de transmissão, esta situação permanecerá e não mais
poderá ser renovada ação.
Quando o processo for extinto sem julgamento do mérito em razão da
57 Uma questão enganadora e que tem provocado muitos equívocos é a extinção do processo sem
julgamento do mérito, fundada na ilegitimidade de parte. Há um pensamento generalizado de
que o autor poderá renovar a ação desde que corrigido o vício. Mas se o vício está na
legitimidade, ao modificar a parte, estará modificando a ação, porque se está alterando um dos
elementos identificadores da ação. Altera-se a parte e propõe-se nova ação e não a mesma.
36
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58 Nem sempre quando se indefere a petição inicial ocorre extinção sem mérito. Excepcionalmente,
haverá julgamento de mérito quando o indeferimento se der em razão de prescrição ou de
decadência, na forma dos artigos 295, IV, e 269, IV, do CPC.
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40
NATUREZA JURÍDICA DA
RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL:
UMA ANÁLISE DA INCONGRUÊNCIA
JURISPRUDENCIAL DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL SOBRE O TEMA *
J ONATHAN I OVANE DE L EMOS * *
1 – N OTAS I NTRODUTÓRIAS
A Constituição de um país, segundo os ensinamentos de HÄBERLE,
mais do que estruturar a organização estatal, estabelece o modo de vida de
toda a sociedade1, regulando desde garantias e direitos fundamentais dos
cidadãos até matérias de nítido caráter processual. Ainda, disciplina temas
ligados ao exercício da jurisdição2 constitucional(izada)3 – fato
conteúdo processual da Constituição Federal. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p.11.
3 Para ADALBERTO NARCISO HOMMERDING (Fundamentos para uma Compreensão Hermenêutica do
Processo Civil. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p.147), “toda jurisdição sempre é
41
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constitucional(izada), pois não há como separar o ser do ente. [...] Falar em ‘tribunais
constitucionais’, pois, é ocorrer em pleonasmo”.
4 MITIDIERO, Daniel. Colaboração no Processo Civil: pressupostos sociais, lógicos e éticos. São Paulo:
reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; [...].
7 Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de
dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar
súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos
demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal,
estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida
em lei. [...] § 3º. Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou
que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a
procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará
que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso.
8 MORATO, Leonardo L. Reclamação e sua Aplicação para o Respeito da Súmula Vinculante: De acordo
com a EC nº 45/2004 e com a Lei 11.417/2006. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p.30.
42
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9 DANTAS, Marcelo Navarro Ribeiro. Reclamação Constitucional no Direito Brasileiro. Porto Alegre:
Sérgio Antônio Fabris Editor, 2000, p.32.
10 Para LEONARDO LINS MORATO (Reclamação e a sua Finalidade para Impor Respeito à Súmula
Vinculante. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; WAMBIER, Luiz Rodrigues; GOMES JÚNIOR, Luiz
Manoel; FISHER, Octávio Campos; FERREIRA, William Santos (Coord.). Reforma do Judiciário:
Primeiros Ensaios Críticos sobre a EC nº 45/2004. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p.395-
396), “convém salientar que é com base na natureza jurídica que se pode aferir o regime jurídico
aplicável a um dado instituto, os pressupostos a que ele está sujeito, quais os seus limites de
abrangência, quais os efeitos que com ele e a partir dele podem ser produzidos e em que situações
se pode valer dele. Enfim, saber a natureza jurídica de um instituto é imprescindível não só para
estudá-lo, como também para identificá-lo e situá-lo no sistema”.
11 Nesse sentido: MORATO, Leonardo Lins. Reclamação e sua Aplicação para o Respeito da Súmula
Vinculante: De acordo com a EC nº 45/2004 e com a Lei 11.417/2006. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2007, p.109; A Reclamação Prevista na Constituição Federal. In: NERY JR., Nelson;
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (Coord.). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2000, p.448; Reclamação e a sua Finalidade para Impor Respeito à Súmula
Vinculante. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; WAMBIER, Luiz Rodrigues; GOMES JÚNIOR, Luiz
Manoel; FISHER, Octávio Campos e FERREIRA, William Santos (Coord.). Reforma do Judiciário:
Primeiros Ensaios Críticos sobre a EC nº 45/2004. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p.396;
PACHECO, José da Silva. A “Reclamação” no STF e no STJ de acordo com a Nova Constituição.
Revista dos Tribunais. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 78, v.646, p.30, ago., 1989; DANTAS,
Marcelo Navarro Ribeiro. Reclamação Constitucional no Direito Brasileiro. Porto Alegre: Sérgio
Antônio Fabris Editor, 2000, p.459; Novidades em Reclamação Constitucional: seu uso para Impor
o Cumprimento de Súmula Vinculante. In: MEDINA, José Miguel Garcia; CRUZ, Luana Pedrosa de
Figueiredo; CERQUEIRA, Luis Otávio Sequeira de; GOMES JUNIOR, Luiz Manoel (Coord.). Os Poderes
do Juiz e o Controle das Decisões Judiciais: estudos em homenagem à Professora Teresa Arruda
Alvim Wambier. 2.tir. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p.1186; ASSIS, Araken de. Manual
dos Recursos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p.838; Introdução aos Sucedâneos Recursais.
Revista Jurídica, Porto Alegre, v.310, p.11, nota de rodapé n.20, ago.2003; PACHÚ, Cláudia Oliveira.
Da reclamação perante o Supremo Tribunal Federal. Revista de direito constitucional e internacional,
v.14, n.55, p.234, abr.-jun., 2006; MONNERAT, Fábio Victor da Fonte. Reclamação. STF. Legitimação
Ativa. Atingidos por ADIn. Revista de Processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 31, p.188,
dez.2006; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Natureza Jurídica da Reclamação Constitucional.
In: NERY JR., Nelson; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (Coord.). Aspectos polêmicos e atuais dos
recursos cíveis e de outros meios de impugnação às decisões judiciais. São Paulo: Revista dos Tribunais,
43
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2005, v.8, p.333; ALVIM, Eduardo Arruda. Do Cabimento de Reclamação pelo Descumprimento de
Súmula Vinculante à Luz da Lei nº 11.417/2006. Revista Forense. Rio de Janeiro: Forense, ano 103,
v.394, p.60, nov.-dez.2007; SILVA, Bruno Freire e. O Desrespeito à Súmula Vinculante e a
Reclamação Constitucional. In: MEDINA, José Miguel Garcia; CRUZ, Luana Pedrosa de Figueiredo;
CERQUEIRA, Luis Otávio Sequeira de; GOMES JUNIOR, Luiz Manoel (Coord.). Os Poderes do Juiz e o
Controle das Decisões Judiciais: estudos em homenagem à Professora Teresa Arruda Alvim
Wambier. 2.tir. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p.1164; CRUZ, Luana Pedrosa de
Figueiredo. Reclamação Constitucional para Garantia de Autoridade de Decisão do STJ e a
Violação dos Deveres das Partes. In: MEDINA, José Miguel Garcia; CRUZ, Luana Pedrosa de
Figueiredo; CERQUEIRA, Luis Otávio Sequeira de; GOMES JUNIOR, Luiz Manoel (Coord.). Os
Poderes do Juiz e o Controle das Decisões Judiciais: estudos em homenagem à Professora Teresa
Arruda Alvim Wambier. 2.tir. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p.1168; KOZIKOSKI, Sandro
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CRUZ, Luana Pedrosa de Figueiredo; CERQUEIRA, Luis Otávio Sequeira de; GOMES JUNIOR, Luiz
Manoel (Coord.). Os Poderes do Juiz e o Controle das Decisões Judiciais: estudos em homenagem à
Professora Teresa Arruda Alvim Wambier. 2.tir. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 1206;
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de
Direito Constitucional. 4.ed. rev. e atual. até a EC nº 57/2008. São Paulo: Saraiva, 2009, p.1345;
GÓES, Gisele Santos Fernandes. A Reclamação Constitucional. In: NERY JR., Nelson; WAMBIER,
Teresa Arruda Alvim (Coord.). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e de outros meios de
impugnação às decisões judiciais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, v.8, p.130; ARAÚJO, José
Henrique Mouta. Reflexões que envolvem a nova hipótese de reclamação junto ao STF advinda
da EC nº 45. Repertório IOB de Jurisprudência: civil, processual penal e comercial, n.8, p.244,
2.quinz., abr.2005; ROSSI, Júlio César. Aspectos Processuais da Reclamação Constitucional. Revista
Dialética de Direito Processual, n.19, p.59, out.2004 – apenas com a ressalva, nos dois últimos, de
que a Reclamação Constitucional possui natureza híbrida, sendo uma ação com características de
sucedâneo recursal.
12 ADI 2212, Relatora: Min. Ellen Gracie, Tribunal Pleno, julgado em 02.10.2003, DJ 14.11.2003; ADI
2480, Relator: Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, julgado em 02.04.2007, DJe-037 DIVULG
14.06.2007 PUBLIC 15.06.2007 DJ 15.06.2007.
13 Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
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14 Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta
Constituição.
15 Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I – direito civil, comercial, penal,
do Ceará e art. 21, inciso VI, letra j, do Regimento do Tribunal de Justiça local. Previsão, no
âmbito estadual, do instituto da Reclamação. Instituto de natureza processual constitucional,
situado no âmbito do direito de petição previsto no artigo 5º, inciso XXXIV, alínea a, da
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Constituição Federal. Inexistência de ofensa ao art. 22, inciso I, da Carta. 1. A natureza jurídica da
reclamação não é a de um recurso, de uma ação e nem de um incidente processual. Situa-se ela no
âmbito do direito constitucional de petição previsto no artigo 5º, inciso XXXIV, da Constituição
Federal. Em consequência, a sua adoção pelo Estado-membro, pela via legislativa local, não
implica invasão da competência privativa da União para legislar sobre direito processual (art. 22,
I, da CF). 2. A reclamação constitui instrumento que, aplicado no âmbito dos Estados-membros,
tem como objetivo evitar, no caso de ofensa à autoridade de um julgado, o caminho tortuoso e
demorado dos recursos previstos na legislação processual, inegavelmente inconvenientes quando
já tem a parte uma decisão definitiva. Visa, também, à preservação da competência dos Tribunais
de Justiça estaduais, diante de eventual usurpação por parte de Juízo ou outro Tribunal local. 3. A
adoção desse instrumento pelos Estados-membros, além de estar em sintonia com o princípio da
simetria, está em consonância com o princípio da efetividade das decisões judiciais. 4. Ação direta
de inconstitucionalidade improcedente."
18 Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: [...]
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20 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 24.ed. rev. atual. nos termos da
Reforma Constitucional (até a Emenda Constitucional nº 45, de 08.12.2004, publicada em
31.12.2004). São Paulo: Malheiros, 2005, p. 443.
21 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 4.ed. Coimbra:
Almedina, 2001, p.498. Adotando esse posicionamento, também: MENDES, Gilmar Ferreira;
COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 4.ed.
rev. e atual. até a EC nº 57/2008. São Paulo: Saraiva, 2009, p.612; BONIFÁCIO, Artur Cortez. Direito
de Petição: Garantia Constitucional. São Paulo: Método, 2004, p. 81.
22 CONDE, Enrique Álvarez. Curso de Derecho Constitucional. El Estado Constitucional, el Sistema de
Fuentes, los Derechos y Liberdades. 2.ed. Madri: Tecnos, 1996, v.1, p.420. No mesmo sentido:
NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. 8.ed. rev., atual. e ampl.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p.135; BONIFÁCIO, Artur Cortez. Direito de Petição: Garantia
Constitucional. São Paulo: Método, 2004, p.81. Em sentido contrário, entendendo que o direito de
petição é direito público, subjetivo e não político, da classe dos Direitos do Homem: PONTES DE
MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários à Constituição de 1967. Com a Emenda Constitucional
nº 1, de 1969 (arts. 153, § 2º – 159). 2.ed. rev. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1971, t.V, p.633.
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23 ZARINI, Helio Juan. Derecho Constitucional. Buenos Aires: Editorial Astrea de Alfredo y Ricardo
Depalma, 1992, p. 401.
24 NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. 8.ed. rev., atual. e ampl.
Constitucional nº 1, de 1969 (arts. 153, § 2º – 159). 2.ed. rev. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1971,
t.V, p.628.
26 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 23.ed. atual. até a EC nº 56/07. São Paulo: Atlas,
2008, p.181.
27 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 24.ed. rev. e atual. nos termos da
JR., Nelson; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (Coord.). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e
de outros meios de impugnação às decisões judiciais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, v.8, p. 338.
30 GRINOVER, Ada Pellegrini. As Garantias Constitucionais do Direito de Ação. São Paulo: Revista dos
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31 COUTURE, Eduardo J. Estudios de Derecho Procesal Civil: La Constitución y el Proceso Civil. 2.ed.
Buenos Aires: Depalma, 1978, t.I, p.39.
32 GRINOVER, Ada Pellegrini. As Garantias Constitucionais do Direito de Ação. São Paulo: Revista dos
Revista dos Tribunais, 1973, p.76; A Reclamação para Garantia da Autoridade das Decisões dos
Tribunais. Revista Síntese de Direito Penal e Processual Penal, ano 1, n.2, p.16, jun.-jul.2000;
GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; FERNANDES, Antonio Scarance.
Recursos no Processo Penal: Teoria Geral dos Recursos, Recursos em Espécie, Ações de
Impugnação, Reclamação aos Tribunais. 4.ed. rev., ampl. e atual. com a Reforma do Judiciário (EC
nº 45/2004). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p.432; BERMUDES, Sérgio. A Ação Judicial
como Espécie do Direito de Petição e a Independência do Poder Judiciário como Condição do
Exercício da Jurisdição. Revista Brasileira de Direito Processual. Rio de Janeiro: Forense, ano V, v.17,
p.112-113, 1.trim. 1979.
34 NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. 8.ed. rev., atual e ampl.
Pelotas. Porto Alegre: Imprensa Universitária, ano III, n.III, p.129-130, maio 1958.
36 COUTURE (Estudios de Derecho Procesal Civil: La Constitución y el Proceso Civil. 2.ed. Buenos Aires:
Depalma, 1978, t.I, p.31-32) assenta três pontos básicos para construção de sua teoria: “a) en el
estado de derecho, la violencia privada se transforma em petición ante la autoridad; b) esa
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petición ante la autoridade constituye un poder jurídico del individuo, pero es el medio necesario
para obtener la prestación de la jurisdicción; c) el poder jurídico de acudir ante la autoridad no
puede ser quitado a nadie; prohibida la justicia por mano propria, es evidente que deve darse a
todo sujeto de derecho la facultad de obtenerlo por mano de la autoridad; privarle de una y otra,
seria negarle la justicia misma. Y si también existe acuerdo en cuanto a llamar a ese poder jurídico
acción civil, las ideas básicas para nuestra argumentación han sido sentadas”.
37 COUTURE. Op. cit., p.27-29.
38 COUTURE. Op. cit., p. 42-45.
39 COUTURE. Op. cit., p. 32-34.
40 COUTURE. Op. cit., p. 37.
41 RIBEIRO, Darci Guimarães. La Pretension Procesal y la Tutela Judicial Efectiva: Hacia una Teoría
Procesal del Derecho. Barcelona: Bosch, 2004, p.88. Para o Professor gaúcho: “Por lo tanto, si
determinado autor entiende que el proceso sirve para mantener el orden jurídico objetivo deberá,
por una cuestión de lógica, sustentar que la acción procesal es solamente un poder y no un
derecho. Por otra parte, si el autor entiende que el proceso sirve para la protección de los intereses
individuales, su conclusión, en este particular, será la de que la acción procesal es un derecho
subjetivo y no un poder”.
51
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Peticionário por Advogado (art. 133 da CF e art. 36 do Código de Processo Civil). 1. Não sendo advogado
o peticionário, não tem capacidade postulatória. 2. O exercício do direito de petição, junto aos
poderes públicos, de que trata o art. 5º, inciso XXXIV, a, da Constituição, não se confunde com o
de obter decisão judicial, a respeito de qualquer pretensão, pois, para esse fim, e imprescindível a
representação do peticionário por advogado (art. 133 da Constituição e art. 36 do Código de
Processo Civil). Agravo regimental não conhecido" (Pet 762 AgR, Relator: Min. Sydney Sanches,
Tribunal Pleno, julgado em 01.02.1994, DJ 08.04.1994 p.07240 Ement. vol.01739-03 p.00469). No
mesmo sentido: Pet 607 AgR, Relator: Min. Néri da Silveira, Tribunal Pleno, julgado em
26.08.1992, DJ 02.04.1993 p.05615 Ement. vol.01698-03 p.00578 RTJ vol.00146-01 p.00044; MS 21651
AgR, Relator: Min. Néri da Silveira, Tribunal Pleno, julgado em 05.05.1994, DJ 19.08.1994 p.20895
Ement. vol.01754-01 p.00009; Rcl 7902 MC, Relator: Min. Celso de Mello, julgado em 17.03.2009,
publicado em DJe-055 Divulg. 23.03.2009 Public. 24.03.2009.
45 "Agravo regimental: devolução plena: possibilidade de declaração da ilegitimidade da agravante. O agravo
contra decisão do relator em processo de competência originária do STF, qual a que nega liminar
em reclamação, é recurso ordinário de devolução plena: pode, assim, o Plenário – sem incidir em
reformatio in pejus – examinar de ofício pressupostos processuais e as condições da ação e, sendo o
caso da ausência de uns ou de outros, extinguir o processo (CPC, art. 267, IV e VI, e § 3º). II.
Reclamação: ilegitimidade de quem não foi nem poderia ter sido parte em ação direta de
inconstitucionalidade para ajuizar reclamação fundada em desrespeito ao acórdão que nela se
haja proferido" (Rcl 707 AgR, Relator: Min. Marco Aurélio, Relator p/Acórdão: Min. Sepúlveda
Pertence, Tribunal Pleno, julgado em 17.12.1997, DJ 20.03.1998 p.00012 Ement. vol.01903-01
p.00127). De maneira uníssona: "Direito Processual. Agravo Regimental em Reclamação. Falta de
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Interesse Processual. Pena Privativa de Liberdade Extinta. Improvimento. 1. Agravo regimental foi
interposto contra decisão monocrática que considerou não haver interesse processual na
reclamação. 2. Ausência de interesse processual diante da prévia declaração de extinção da pena
privativa de liberdade cumprida pelo condenado em razão da prática do crime de roubo
qualificado (CP, art. 157, § 2°, I e II). 3. Agravo regimental improvido" (Rcl 4743 AgR, Relator:
Min. Ellen Gracie, 2ª Turma, julgado em 02.09.2008, DJe-182 Divulg. 25.09.2008 Public. 26.09.2008
Ement. vol.02334-01 p.00210).
46 "Direito Constitucional e Processual Civil. Reclamação: Garantia à Autoridade de Decisão do STF (art.
102, i, l, da Constituição Federal e art. 156 do RISTF). Coisa Julgada. 1. Havendo sido julgada
improcedente a Reclamação anterior, sem que os Reclamantes, no prazo legal, propusessem a
Ação Rescisória, em tese cabível (art. 485, incisos VI e IX, do Código de Processo Civil) e na qual,
ademais, nem se prescindiria de produção das provas neles exigidas e aqui não apresentadas, não
podem pretender, com alegações dessa ordem, pleitear novo julgamento da mesma Reclamação,
em face do obstáculo da coisa julgada. 2. Agravo Regimental improvido pelo Plenário do STF.
Decisão unânime" (Rcl 532 AgR, Relator: Min. Sydney Sanches, Tribunal Pleno, julgado em
01.08.1996, DJ 20.09.1996, p.34541 Ement. vol.01842-01 p.00054).
47 Artigos 57, 59, II, c.c. item VI da Tabela B, todos do RISTF.
48 Artigos 52, XIV, e 160 do RISTF e artigo 16 da Lei nº 8.038/90.
49 Artigos 158 e 161, I, II e III, do RISTF e artigos 14, II, e 17 da Lei nº 8.038/90.
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50 DINAMARCO, Cândido Rangel. A Reclamação no Processo Civil Brasileiro. In: NERY JR., Nelson;
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (Coord.). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e de outros
meios de impugnação às decisões judiciais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, v.6, p.102.
51 MORATO, Leonardo Lins. A Reclamação Constitucional e a sua Importância para o Estado
Democrático de Direito. Revista de Direito Constitucional e Internacional, v.13, n.51, p.184, abr.-
jun.2005.
52 DANTAS, Marcelo Navarro Ribeiro. Reclamação Constitucional no Direito Brasileiro. Porto Alegre:
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MONNERAT, Fábio Victor da Fonte. Reclamação. STF. Legitimação Ativa. Atingidos por
ADIn. Revista de Processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 31, p.185-205, dez.
2006.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 23.ed. atual. até a EC nº 56/07. São Paulo:
Atlas, 2008.
MORATO, Leonardo Lins. A Reclamação Constitucional e a sua Importância para o Estado
Democrático de Direito. Revista de Direito Constitucional e Internacional, v.13, n.51,
p.171-187, abr.-jun. 2005.
______. A Reclamação e a sua Finalidade para Impor Respeito à Súmula Vinculante. In:
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; WAMBIER, Luiz Rodrigues. GOMES JÚNIOR, Luiz
Manoel; FISHER, Octávio Campos; FERREIRA, William Santos (Coord.). Reforma do
Judiciário: Primeiros Ensaios Críticos sobre a EC nº 45/2004. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2005, p.391-413.
______. A Reclamação Prevista na Constituição Federal. In: ALVIM, Eduardo Pellegrini de
Arruda; NERY JR., Nelson; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (Coord.). Aspectos polêmicos
e atuais dos recursos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p.441-452.
______. Reclamação e sua Aplicação para o Respeito da Súmula Vinculante. De acordo com a
EC nº 45/2004 e com a Lei 11.417/2006. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. 8.ed. rev., atual e
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PACHECO, José da Silva. A reclamação no STF e no STJ de acordo com a nova
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PACHÚ, Cláudia Oliveira. Da reclamação Perante o Supremo Tribunal Federal. Revista de
Direito Constitucional e Internacional, v.14, n.55, p.226-242, abr.-jun. 2006.
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários à Constituição de 1967. Com a
Emenda Constitucional nº 1, de 1969 (arts. 153, § 2º – 159). 2.ed. rev. São Paulo: Revista
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Civil: o conteúdo processual da Constituição Federal. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2009.
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SILVA, Bruno Freire e. O Desrespeito à Súmula Vinculante e a Reclamação
Constitucional. In: MEDINA, José Miguel Garcia; CRUZ, Luana Pedrosa de Figueiredo;
CERQUEIRA, Luis Otávio Sequeira de; GOMES JUNIOR, Luiz Manoel (Coord.). Os Poderes
do Juiz e o Controle das Decisões Judiciais: estudos em homenagem à Professora Teresa
Arruda Alvim Wambier. 2.tir. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p.1161-1167.
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SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 24.ed. rev. e atual. nos
termos da Reforma Constitucional (até a Emenda Constitucional nº 45, de 08.12.2004,
publicada em 31.12.2004). São Paulo: Malheiros, 2005.
ZARINI, Helio Juan. Derecho Constitucional. Buenos Aires: Editorial Astrea de Alfredo y
Ricardo Depalma, 1992.
58
SUCESSÃO LEGÍTIMA DO
CÔNJUGE E DO COMPANHEIRO
HETEROSSEXUAL: APONTAMENTOS
DAS CONTROVÉRSIAS DO SISTEMA
J ESUALDO E DUARDO DE A LMEIDA J ÚNIOR *
G ISELE C AVERSAN B ELTRAMI **
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1 – INTRODUÇÃO
Este trabalho foi realizado com o objetivo de proporcionar uma
análise geral e didática do Direito das Sucessões.
Deu-se enfoque para uma forma simplificada e de esquemas práticos
que visaram a uma consulta esclarecedora, sem esquecer-se das principais
correntes doutrinárias e sugestões que visam à melhoria nas previsões
legislativas sucessórias.
A palavra sucessão significa “transmissão do patrimônio dum finado
a seus herdeiros ou legatário”. E o artigo gravitou em torno da sucessão do
cônjuge comparando-a com a sucessão do companheiro. Ademais, fez-se
um apanhado acerca da abordagem histórica e demarcaram-se as inovações
legislativas ao longo do tempo.
Por fim, traçou-se uma análise entre a sucessão do cônjuge e do
companheiro em cada uma das hipóteses de concorrência com descendentes
comuns, com descendentes exclusivos do falecido, na hipótese híbrida e
61
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com os ascendentes.
Usou-se a fonte doutrinária e jurisprudencial através de pesquisas em
livros e via eletrônica, mediante sites consagrados.
De um modo geral, utilizou-se de tese argumentativa, analisando-se
dados históricos através da colheita em pesquisa bibliográfica, com
predominância do raciocínio indutivo.
2 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS SUCESSÓRIOS DO CÔNJUGE E
DO COMPANHEIRO
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1 Particularmente discordamos desta posição, pois, a nosso sentir, tanto a exclusão da sucessão
quanto a deserdação são apenas limitações circunstanciais de benefícios hereditários, sequer
absolutos, e que em nada têm de morte civil, posto que o indivíduo continua titular de todos os
demais direitos que lhe sejam pertinentes.
2 Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e
testamentários.
3 Essa expressão deriva do latim e é uma abreviação da frase “de cujus sucessione agitur”, que, numa
tradução livre, significa “aquele de cuja sucessão se trata”.
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escrito, a lei considera que está satisfeito e aceita as regras sucessórias por
ela impostas e previstas no art. 1.829 do Código Civil, que traz a seguinte
ordem:
“Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art.
1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o
autor da herança não houver deixado bens particulares;
II – aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III – ao cônjuge sobrevivente;
IV – aos colaterais.”4
De outro lado, a sucessão testamentária deriva de uma declaração de
última vontade do autor da herança. Essa declaração de última vontade é
materializada por um documento chamado testamento ou codicilo, pela qual
o autor da herança estipula quem serão seus herdeiros, o que receberão,
desde que, evidentemente, respeitada a legítima se houver herdeiros
necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge).
Ressalte-se que o codicilo é usado para disposição sobre bens de
pequena monta.
A partilha seria uma divisão dos bens entre os herdeiros. Nela se
determina o quinhão que caberá a cada um deles. Acontece de dois modos
distintos: por escritura pública, quando amigável e não houver herdeiros
incapazes; ou judicial, nos autos de um inventário.
O inventário é um processo judicial onde se opera o arrolamento de
todos os bens deixados pelo de cujus. Nos autos do inventário, tem-se a
arrecadação, descrição e avaliação desses bens para que ocorra, em seguida,
a partilha, após o pagamento dos tributos de transmissão. Será no
inventário que se dará a constituição do título de herdeiro.
De grande importância para nossa temática é a elementar diferença
entre meação e sucessão.
4 Caso não haja herdeiros, ter-se-á a herança jacente e a herança vacante. A diferenciação entre elas
se dá apenas no aspecto do momento de cada uma. A herança vacante ocorre um ano após a
publicação do primeiro edital de ser considerada a herança jacente, ou seja, sem herdeiros. A
vacância tem a finalidade de transferir os bens ao Município.
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I. descendentes;
II. ascendentes;
III. cônjuge;
IV. colaterais;
V. Município, Distrito Federal e União.
Veja que o cônjuge figurava na terceira posição da linha sucessória e
sem concorrência, com a possibilidade de ser alijado da legítima por
testamento.
A partir do Estatuto da Mulher Casada (Lei 4.121/62), coube-lhe o
chamado usufruto vidual instituído em favor da viúva casada em regime que
não o da comunhão, que se tornaria usufrutuária de ¼ dos bens deixados
pelo de cujus aos descendentes, ou ½ dos bens devidos aos ascendentes,
mantendo-se, contudo, a propriedade para os herdeiros.
Já se o regime de bens escolhido fosse o da comunhão universal, ter-
se-ia apenas o direito real de habitação, que previa que o cônjuge
sobrevivente tinha o direito de continuar a residir na residência que dividia
com o de cujus.
Porém, não havia nenhuma proteção ao direito sucessório dos
companheiros. Ao contrário, restringiam-se seus direitos. Por exemplo:
“Art. 1.177, Código Civil de 1916 – A doação do cônjuge
adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou
por seus herdeiros necessários, até 2 (dois) anos depois de
dissolvida a sociedade conjugal.
(...)
Art. 1.719, Código Civil de 1916 – Não podem também ser
nomeados herdeiros, nem legatários:
(...)
III – a concubina do testador casado; (...).”
Em linhas gerais, o Código Civil Beviláqua privava o(a)
companheiro(a) da sucessão e restringia a herança do cônjuge.
2.2.3 Novo Código Civil e Constituição Federal de 1988
PAULO LUIZ NETTO LÔBO afirma que o fenômeno de
constitucionalização do Direito Civil trouxe modificações profundas na
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Ouro Preto. Anais do III Congresso. Belo Horizonte: IBDFAM, 2002, p.38.
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passava a herdar.
Esse dispositivo afastava o cônjuge da herança, pois alçava-o a uma
terceira categoria de herdeiros. Destarte, a pessoa que mais esteve presente
durante a vida, com a morte, é afastada da recompensa de herdar de seu
consorte. Dividiram a vida, e a morte os isolava não somente física, como
também patrimonialmente.
Em seguida, na ordem de vocação hereditária, tínhamos os colaterais.
Nesse caso, no princípio, essa classe herdava até o 10º grau, depois passou a
herdar até o 6º grau e por fim até o 4º grau, como já foi visto anteriormente.
Se faltantes todas essas classes, o patrimônio do de cujus ia para o
Município, seguido do Distrito Federal e por último pela União.
Com o advento do novo Código Civil, a ordem de vocação no Código
Civil passou a ser a disposta no art. 1.829, in litteris: “I – aos descendentes,
em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o
falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória
de bens (art. 1.640 parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial,
o autor da herança não houver deixado bens particulares; II – aos
ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III – ao cônjuge sobrevivente;
IV – aos colaterais”.
Posto isto, far-se-á a análise deste novo dispositivo.
3.3 Meação e Herança do Cônjuge Sobrevivente
3.3.1 Considerações introdutórias
A grande alteração referente ao direito sucessório do cônjuge situa-se
no sentido de que, agora, passa a herdar em concorrência com os
descendentes e ascendentes, sem prejuízo de sua meação.
Ressalte-se: o cônjuge também assume o papel de herdeiro necessário.
Até 1977, o regime de bens legal no Brasil era o da comunhão
universal. Por este regime, o cônjuge, com a dissolução da sociedade
conjugal, recebia metade de todo o patrimônio do casal, ou seja, os bens
adquiridos antes ou durante a constância do casamento. Estava, portanto,
suficientemente garantido na divisão dos bens.
Em 1977, sobreveio a Lei do Divórcio, e com ela o regime legal passa a
ser o da comunhão parcial de bens. Por esse regime, o cônjuge sobrevivente,
com a morte de seu consorte, mearia apenas nos aquestos e os bens
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não foi reproduzida. Portanto, em tese, a Súmula teria perdido força. Neste
sentido EUCLIDES DE OLIVEIRA (2005, p.100):
“Com o advento do novo Código Civil, deixou de ser
reproduzida a norma do art. 259 do Código anterior, que dava
sustento à interpretação de comunicação dos aquestos no regime
da separação obrigatória de bens e servia de fundamento à própria
Súmula 377. Significa que, nesse regime estipulado por lei, por ser
obviamente de separação, lugar não haverá para comunicação dos
bens que venham a ser adquiridos pelos cônjuges no curso do
casamento.”
Cientes da injustiça da medida, NELSON NERY JR. e ROSA MARIA DE
ANDRADE NERY (2003, p.805) fazem pontual sugestão:
“De fato, a solução do CC, 1.829, I, não se coaduna com a
finalidade institucional do regime jurídico da separação de bens no
casamento. Manifestações da doutrina e do público em geral
evidenciam, entretanto, que a vontade da lei não corresponderia à
vontade geral com relação, principalmente, à condição de herdeiro
dos casados sob o regime da separação convencional de bens.
Destarte, fazemos sugestão para que a norma possa ser reformada,
no sentido de excluir-se do CC, 1.829, I, a expressão ‘obrigatória’,
bem como a remissão equivocada ao CC, 1.640, parágrafo único.
[...] Essa solução é de lege ferenda, porquanto de lege lata não há
como escapar-se da interpretação restritiva da expressão
‘separação obrigatória de bens’.”
A nosso sentir, a posição acima pode ser inclusive mais radicalizada, e
concordamos com o posicionamento de GUSTAVO TEPEDINO11. Para ele, a
Súmula não se aplicaria nas hipóteses do art. 1.641, I e II. Isto porque as
causas que impõem a aplicação da separação obrigatória são transitórias e
podem ser superadas a qualquer momento. Deste modo, se o menor de
idade se casa, ao atingir a maioridade cessou a imposição do regime de
separação; o mesmo se diga em relação ao viúvo que não fez a partilha dos
bens da ex-cônjuge falecida. Se fizer, igualmente cessa o motivo da
separação obrigatória.
E nestes casos, haja vista a possibilidade da modificação do regime de
11 Controvérsias sobre regimes de bens no novo Código Civil. Revista Brasileira de Direito de Família e
Sucessões, 02/08.
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herdeiros legítimos.
Mas se constituíram essa união praticamente sem nenhum patrimônio
e no decorrer da constância adquiram onerosamente a grande maioria dos
bens que possuem, nesse caso o companheiro supérstite herdará mais do
que se fosse casado com o de cujus. Isso ocorre porque o companheiro irá
herdar onde mear quanto aos bens adquiridos onerosamente na constância
da união.
São escassas as disposições feitas aos companheiros no Código Civil
de 2002. E uma dessas disposições prevê as quotas quando houver
concorrência entre o companheiro sobrevivente e os demais herdeiros
legítimos do de cujus. Lê-se no art. 1.790:
“Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da
sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na
vigência da união estável, nas condições seguintes:
I – se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota
equivalente à que por lei for atribuída ao filho;
II – se concorrer com descendentes só do autor da herança,
tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles;
III – se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a
um terço da herança;
IV – não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade
da herança.”
Como decorrência deste artigo, analisar-se-ão as situações de
concorrência que sujeita o companheiro na órbita do Código Civil de 2002.
4.3 Companheiro Concorrendo com Descendentes Comuns
Nesse caso específico, o companheiro sobrevivente herdará, vale
dizer, “terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho”,
quanto aos bens adquiridos onerosamente na constância da união estável.
Isso significa que terá direito a herdar a mesma quota que o herdeiro
comum igualmente herdará. E vale lembrar, essa herança recairá sobre a
outra metade do patrimônio onde o companheiro já meou, que é
exatamente os bens adquiridos onerosamente na constância da união
estável.
Caberá ainda aos herdeiros legítimos herdarem sozinhos em relação
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Agora, imagine-se que o de cujus não tem pais, mas sim um parente
mais remoto, como, por exemplo, um tio-avô sem qualquer contato
próximo. Esse mesmo tio-avô ficará com 2/3 da herança restando 1/3 para
o companheiro sobrevivente.
E a situação se agrava ainda mais se o falecido deixou somente bens
particulares, hipótese que somente o parente distante herdará em prejuízo
ao companheiro de uma vida.
4.7 Ausência de Qualquer Parente Sucessível
Trata-se da hipótese prevista no art. 1.790, IV, do CC, que disciplina
que em não havendo parentes sucessíveis o companheiro ficará com a
totalidade da herança.
Ocorre que a letra fria da lei poderia levar a uma situação de extrema
injustiça no caso de o de cujus deixar somente bens particulares, hipótese
esta onde o companheiro sobrevivente não herdaria nada, conferindo-se o
patrimônio ao município.
Em razão dessa patente injustiça, a doutrina tende a aplicar o art.
1.844 do CC, que prevê:
“Art. 1.844. Não sobrevivendo cônjuge, ou companheiro, nem
parente algum sucessível, ou tendo eles renunciado a herança, esta
se devolve ao Município ou ao Distrito Federal, se localizada nas
respectivas circunscrições, ou à União, quando situada em
território federal.”
Isso significa que o Município ou o Distrito Federal somente ficaria
com a herança se não sobrevier o cônjuge ou companheiro.
A nosso ver, estreme de dúvida ser correta essa aplicação.
4.8 Panorama do Art. 1.790 do Código Civil
O art. 1.790 está inserido nas disposições atinentes à união estável.
Logo, sequer teve capítulo próprio ou no mínimo inserido nas mesmas
disposições relativas aos demais herdeiros.
Note-se o tratamento diferenciado, incluisive quanto à localidade
tópica das disposições.
E quando se comparam a sucessão do cônjuge e a do companheiro,
resumidamente aposta no quadro abaixo, percebe-se ineludivelmente que o
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2002, a questão não foi resolvida, haja vista o silêncio quanto ao tema.
Essa omissão é campo fértil para vários posicionamentos acerca da
revogação ou não da Lei 9.278/96 e qual fundamento a ser aplicado.
No entanto, não há como se negar o direito real de habitação aos
companheiros. Esta, por citar, é a conclusão nº 5 referente às palestras do
Curso de Direito de família e Sucessões ocorrido durante os dias 2 de junho
a 28 de julho de 2006, na Escola Paulista da Magistratura do Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo. Veja-se:
“Direito de habitação:
O silêncio do CC não afasta o direito de habitação do
companheiro, em vista do disposto na Lei nº 9.278/96 e pela
garantia constitucional do direito de moradia. Justificativa do
autor: o Código Civil não revogou o art. 7º, parágrafo único, da Lei
9.278/96, que assegura ao companheiro o direito real de
habitação” (Disponível em:
<http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=232>).
A contenda jurídica também gerou discussões na I Jornada de Direito
Civil, realizada pelo Conselho da Justiça Federal, onde se elaborou o
seguinte enunciado:
“O direito real de habitação deve ser estendido ao
companheiro, seja por não ter sido revogada a previsão da Lei
9.278/96, seja em razão da interpretação analógica do art. 1.831,
informada pelo art. 6º, caput, da CF/88.”15
Por conseguinte, o entendimento mais razoável é a atribuição do
direito real de habitação também ao companheiro.
5.4 Usufruto Vidual
O usufruto vidual era o instituto que garantia ao cônjuge
sobrevivente o direito de usar e fruir de ¼ dos bens do falecido caso
houvesse descendentes, e ½ se houver ascendentes, previsto no art. 1.611, §
1º, do Código Civil de 1916:
“Art. 1.611 – À falta de descendentes ou ascendentes será
deferida a sucessão ao cônjuge sobrevivente, se, ao tempo da
morte do outro, não estava dissolvida a sociedade conjugal.
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16 Expressão utilizada por GUSTAVO RENE NICOLAU em sua obra Direito Civil – Sucessões. São Paulo:
Atlas, 2005, v.9.
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17 Expressão utilizada por GUSTAVO RENE NICOLAU em sua obra Direito Civil – Sucessões. São Paulo:
Atlas, 2005, v.9.
18 Disponível em: <http://www.cc2002.com.br/imprimir.php?id=678&ergo=print_noticia>.
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100
O CONTRATO DE SEGURO E A RENOVADA
POLÊMICA RELACIONADA À PREMEDITAÇÃO
DO SUICÍDIO DEPOIS DA PUBLICAÇÃO DO
CÓDIGO CIVIL DE 2002 (PARECER)
L ÚCIO D ELFINO *
* Advogado. Doutor em Direito Processual Civil pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Professor convidado de cursos de pós-graduação em Direito Processual Civil. Membro do
Instituto Brasileiro de Direito Processual. Membro do Instituto dos Advogados de Minas Gerais.
Membro da Academia Brasileira de Direito Processual Civil. Membro do Instituto de
Hermenêutica Jurídica. Diretor da Revista Brasileira de Direito Processual.
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1 – A CONSULTA
Honra-me o amigo, brilhante advogado e professor universitário Dr.
PAULO LEONARDO VILELA CARDOSO, ao apresentar-me consulta envolvendo
interesse de uma de suas clientes. Esta se viu inserida abruptamente num
trágico cenário que envolveu o suicídio de seu único filho. Ocorre que
meses atrás ao funesto acontecimento, a sociedade de advogados (estipulante),
à qual o falecido prestava serviços como estagiário, havia contratado seguro
de vida (em grupo) com a pessoa jurídica PSCDSG – intitulada doravante
simplesmente de seguradora –, e ali o inseriu na qualidade de segurado
principal. A mãe do morto – doravante denominada de cliente – é a única
beneficiária do aludido seguro. Postulada, então, administrativamente a
indenização, a seguradora, em resposta escrita, negou o pagamento.
Esclareceu que o sinistro em referência não possui cobertura técnica, pois o
suicídio deu-se nos dois primeiros anos do início de vigência do seguro.
Fundou-se, para tanto, no que dispõe o art. 798 do Código Civil atual.
Inconformada, a cliente solicitou à seguradora, também em documento
escrito, fosse reavaliada aquela decisão, assentando seu pedido nas Súmulas
nºs 61 e 105, respectivamente do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo
Tribunal Federal. Mas a negativa persistiu, agora sob a fria explicação de
que não haveria fatos novos que justificassem o reexame da primeira
análise. Não obstante, a seguradora comprometeu-se em provisionar o
pagamento da “assistência funeral”, ainda que por mera liberalidade.
Concluído o relato, foi-me solicitado responder aos seguintes
quesitos:
1 – O novo Código Civil realmente alterou o entendimento,
doutrinário e jurisprudencial, dominante de que, não sendo premeditado o
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1 Estes os teores das súmulas referidas, respectivamente oriundas do Superior Tribunal de Justiça e
do Supremo Tribunal Federal: “Súmula nº 61: O seguro de vida cobre o suicídio não
premeditado”. “Súmula nº 105: Salvo se tiver havido premeditação, suicídio do segurado no
período contratual de carência não exime o segurador do pagamento do seguro.”
2 WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO define com precisão o suicídio involuntário, além de bem
situar o entendimento doutrinário e pretoriano que vigia antes da publicação do Código Civil de
2002: “Involuntário é o suicídio praticado em razão de força irresistível, sob o impulso de
insopitável violência de ordem física ou moral, que lhe retira a natureza de ato livre,
caracterizando-se como produto de força maior. Cláusula que exclua a indenização no suicídio
involuntário é inoperante, porque contrária à própria finalidade econômica e específica do
contrato de seguro” (MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. Direito das
obrigações. 32.ed. São Paulo: Saraiva, 2000, v.5 (2ª parte). p.354-355).
3 ALMEIDA, J. C. Moitinho. O contrato de seguro no direito português e comparado. Lisboa: Livraria Sá da
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4Nesta linha, o entendimento de ERNESTO TZIRULNIK: “(...) a norma veio com o objetivo de pôr fim
ao debate, estabelecendo o critério de carência de dois anos para garantia do suicídio. (...) não se
discute mais de houve ou não premeditação, se foi ou não voluntário. Justifica-se este lapso
temporal pelo fato de que é inimaginável que alguém celebre contrato de seguro ‘premeditando’
o suicídio dois anos à frente” (TZIRULNIK, Ernesto; CAVALCANTI, Flávio; PIMENTEL, Ayrton. O
contrato de seguro de acordo com o Código Civil brasileiro. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003,
p.188).
5 Leciona SERGIO FERNANDO MORO que não se pode entender democracia sob uma visão
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Democrático. Não se pode admitir – a partir da ideia de que em uma democracia deve sempre
prevalecer a vontade da maioria – que se descumpram os direitos e garantidas fundamentais do
cidadão” (SAMPAIO JÚNIOR, José Herval. Processo Constitucional. Nova Concepção de Jurisdição.
São Paulo: Método, 2008, p.92-93). Não bastam, no Estado Democrático de Direito, um adequado
procedimento e a própria participação em igualdade de condições das partes no processo para se
legitimar a decisão judicial. Por certo que a legitimidade da jurisdição e da própria tutela jurisdicional
está condicionada à observância do modelo constitucional do processo. Mas, complementarmente,
indispensável também à garantia dessa legitimação que se utilize de uma interpretação jurídica
que acomode a lei aos direitos fundamentais e aos princípios constitucionais. Insista-se nisso: é
pouco apenas aplicar a lei segundo os ditames de um procedimento adequado e participativo,
cujas decisões dele oriundas se apresentem devidamente motivadas por argumentações sólidas e
inteligíveis; igualmente necessário que essa mesma lei seja aplicada conforme uma dimensão
constitucional (legitimação pelo resultado).
6 JORGE NETO, Nagibe de Melo. O controle judicial das políticas públicas. Concretizando a democracia e
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à tutela jurisdicional adequada (CF/88, art. 5º, XXXV). Afinal, vale-se a norma
infraconstitucional de um critério objetivo-temporal, estranho, salvo melhor
juízo, à proporcionalidade, fincado exclusivamente no tempo, e, de tal sorte,
cria um prazo de carência que exclui peremptoriamente o direito à
indenização pelo beneficiário do seguro quando o segurado suicidar-se nos
primeiros dois anos de vigência inicial do contrato. A norma, com toda
evidência, intenta eliminar a possibilidade de tutela jurisdicional ressarcitória
sempre que o suicídio ocorrer naqueles dois primeiros anos da contratação.
Não bastasse, o art. 798 visivelmente ignora toda a construção
doutrinária e jurisprudencial, que distingue as hipóteses de suicídio
voluntário e involuntário, elaborada anteriormente à sua vigência
justamente para imprimir justiça às decisões, e assim evitar enriquecimento
sem causa a qualquer dos contratantes. Ignora, portanto, um dos elementos
essenciais ao contrato de seguro, a saber, a própria boa-fé, e, por
conseguinte, marginaliza a importância deste ângulo de análise para se
definir se uma determinada situação fática realmente autoriza, ou não, a
concessão da indenização.
É imperativo, portanto, que a questão seja enfrentada sob um enfoque
que não se atente exclusivamente à literalidade da norma, e se preze por
uma interpretação sistemática do ordenamento jurídico. Consciente de que
é essa a melhor alternativa, solução outra não há que não compreender o
dispositivo em consonância com toda aquela construção doutrinária e
pretoriana já referida, somando-se apenas uma ou outra novidade.
É essa também a impressão do jurista LEONE TRIDA SENE:
“Não acreditamos que uma norma legal, mesmo editada
validamente, tenha o condão de modificar, da noite para o dia,
todo o entendimento doutrinário e jurisprudencial firmado ao
longo de quase cem anos. O fato de se estabelecer, por meio de lei,
um prazo de carência não modifica em nada a realidade fática do
suicídio involuntário, que continua sendo produto de uma
depressão profunda ou de alienação mental, que retira do
indivíduo todo e qualquer controle sobre suas ações, o levando ao
cometimento de atos absolutamente impensados em seu estado
normal.”7
7 SENE, Leone Trida. Seguro de Pessoas. Negativas de Pagamento das Seguradoras. Curitiba: Juruá,
2006, p.171.
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8 Nas palavras de SÉRGIO CAVALIERI FILHO, esses três elementos essenciais do seguro representam
verdadeira trilogia, espécie de “santíssima trindade” (CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de
Responsabilidade Civil. 8.ed. São Paulo: Atlas, 2008, p.418).
9 Sobre a boa-fé como elemento essencial ao contrato de seguro, confira-se a lição abalizada de
CLAUDIO LUIZ BUENO DE GODOY: “Este artigo (CC/2002, art. 765), em redação mais ampla que a
do art. 1.443 do Código anterior, mas tal qual lá já se pretendia, exige de maneira muito especial
que, no contrato de seguro, ajam as partes com probidade e lealdade. Isso porque (...) o seguro
encerra contrato essencialmente baseado na boa-fé. Lembre-se de que, no seguro, contrata-se uma
garantia contra um risco, qual seja o de acontecimentos lesivos a interesse legítimo do segurado,
mediante o pagamento de um prêmio, tudo fundamentalmente calculado com base nas
informações e declarações das partes, cuja veracidade permite uma contratação que atenda a suas
justas expectativas. É uma equação que leva em conta a probabilidade de ocorrência do evento
que será garantido, assim se impondo estrita observância à boa-fé dos contratantes, especialmente
em suas informações e declarações, para que ambos tenham sua confiança preservada na
entabulação”. E conclui o civilista: “Em rigor, o presente dispositivo repete, para o contrato de
seguro, a mesma exigência que, em geral, o Código estabeleceu, no art. 422, para todos os
contratos, ocupando-se, porém, de especificá-lo no seguro, dada sua característica intrínseca de
especial dependência da veracidade das partes para que a contratação se ostente equânime e
solidária. (...)” (GODOY, Claudio Luiz Bueno de. Código Civil Comentado. Doutrina e
Jurisprudência. In: PELUSO, Cezar (Coord.). São Paulo: Manole, 2007, p.632).
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10 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 8.ed. São Paulo: Atlas, 2008, p.430.
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11 Portanto, se comprovada a premeditação do segurado e, por conseguinte, que seu suicídio foi
consciente, elide-se a obrigação de indenizar da seguradora, naturalmente porque a hipótese se
enquadra perfeitamente como “fato exclusivo do segurado”, excludente da responsabilidade civil
– lembre-se que o art. 768 do Código Civil estabelece que o “segurado perderá o direito à garantia
se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato”.
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Seguro de Pessoas. Negativas de Pagamento das Seguradoras. 2.ed. Curitiba: Juruá, 2009.
14 É elucidativo, a respeito do tema, recorte extraído da ementa de acórdão proferido pelo Superior
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Adota-se, aqui, orientação doutrinária elaborada por LEONE TRIDA SENE. Confira-se sua lição:
“Segundo o estatuído no art. 397 do CC, ‘o inadimplemento de obrigação, positiva e líquida, no
seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor’. No caso do contrato de seguro, como
inexiste um termo previamente fixado para o cumprimento da obrigação, posto que o mesmo
depende de fato futuro e incerto, adota-se a regra do parágrafo único desse mesmo artigo, isto é,
‘não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial’.
Judicialmente, é a citação que tem o condão de colocar em mora o segurador, contando, pois, os
juros a partir da mesma (CC, art. 405). Extrajudicialmente, configurar-se-á a mora, com a
notificação do segurador. Trata-se da denominada mora ex persona. Por óbvio, então, somente
diante do caso concreto é que será possível definir o termo inicial da contagem dos juros.
Consideremos, pois, três hipóteses: 1ª: sem ter comunicado o sinistro à seguradora, o
segurado/beneficiário propõe ação judicial de cobrança. Neste caso, a seguradora somente foi
cientificada de seu dever de cumprir o contratado, isto é, somente foi constituída em mora por
oportunidade da citação. 2ª: com o advento do sinistro, o segurado/beneficiário faz a devida
comunicação do mesmo. Dentro do prazo contratual, em regra 30 dias, a seguradora decide negar
o pagamento. Proposta a ação de cobrança, o termo inicial da contagem do prazo será a data da
negativa da seguradora, pois, com a comunicação do sinistro, nasceu a obrigação de adimplir o
seguro dentro do prazo previsto em contrato ou regulamento da Susep. Assim, com a resposta
negativa da seguradora, esta fica constituída em mora. 3ª: com o advento do sinistro, o
segurado/beneficiário faz a devida comunicação do mesmo. Depois do prazo previsto em
contrato para o cumprimento de sua obrigação, a segurador nega o pagamento da
indenização/capital segurado. Neste caso, como a seguradora ultrapassou o prazo de que
dispunha para fazer o pagamento, o termo a quo para a contagem dos juros, em caso de ação
julgada procedente, será a data limite que tinha a seguradora para adimplir o contrato. Em suma,
há de se perquirir no caso concreto quando o segurador foi constituído em mora” (SENE, Leone
Trida. Seguro de Pessoas. Negativas de Pagamento das Seguradoras. 2.ed. Curitiba : Juruá, 2009,
p.232-233).
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D OUTRI NA C IVI L
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A GO STO /2010
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