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Uso de álcool entre jovens

O padrão de consumo entre jovens é influenciado por vários fatores: família,


mídia, normas culturais ou religiosas, políticas públicas, etc.
Existem evidências que a família e os pais influênciam mais
significativamente no desenvolvimento do padrão de uso de álcool entre
destes jovens. Alem disso, beber na adolescência pode estar ligado ao uso
de outras substâncias. Emocionalmente, eles ainda estão em
desenvolvimento, o que pode aumentar os riscos de danos físicos, por
exemplo:
Jovens podem ser menos sensíveis para alguns efeitos tóxicos do álcool em
comparação aos adultos ou pessoas mais velhas, como resultado, podem
beber de maneira mais pesada;
O desenvolvimento das vias neurais dos jovens os deixam mais vulneráveis
ao dano podendo levar a problemas cognitivos e outras funções fisiológicas;
Jovens são mais propensos que os adultos a se envolverem a danos
associados ao consumo de álcool, tais como:
Beber pesado (“porre" ou embriaguez);
Envolvimento em comportamentos agressivos, resultando em acidentes ou
ferimentos (especialmente acidentes de trânsito);
Participação em outras atividades de risco, tais como comportamento sexual
de risco. ]

RESUMO

De acordo com o último relatório do ESPAD (2012), 74% dos adolescentes portugueses
reportaram ter consumido bebidas alcoólicas no último ano, 52% no último mês e 22%
reportaram “binge drinking”. O consumo de álcool é um problema grave e prevalente entre os
jovens, sendo indispensável identificar fatores associados a este consumo, por forma a
desenvolver estratégias preventivas eficazes.

Objetivos: Descrever as perceções sobre os fatores de risco e protetores associados à


experimentação e ao consumo regular de álcool na adolescência, de acordo com o género.

Metodologia: Recorreu-se à técnica de grupos focais, através da metodologia “World Café”.


Organizaram-se nove grupos de estudantes (n=243): 2 grupos masculinos, 2 femininos, 4 mistos
(de consumidores de álcool) e 1 grupo misto de jovens abstémicos. Os dados foram transcritos e
analisados de acordo com a metodologia de análise de conteúdo.

Resultados: Os participantes identificaram fatores de risco associados à experimentação (ex.


atitudes da família face ao consumo) e ao consumo regular de bebidas alcoólicas (ex. gestão de
emoções negativas). Foram encontradas diferenças de género na experimentação; as atitudes dos
familiares face ao consumo surgem como mais relevantes para os rapazes, enquanto nas
raparigas, a influência dos pares parece ter um papel mais preponderante.

Conclusões: Os dados revelam diferentes fatores associados ao consumo de álcool na


adolescência e identificam diferenças entre géneros. Os programas preventivos devem ter em
conta estas diferenças e desenvolver ações suportadas pelas mesmas. Concomitantemente,
revela-se importante que estes envolvam os pais, consciencializando-os para a influência dos seus
comportamentos nos filhos.
Palavras-chave: Consumo de álcool, Adolescência, Fatores de risco e protetores, Metodologia
World Café

ABSTRACT

According to the last ESPAD Report (2012), 74% of Portuguese adolescents reported to have used
alcohol in the last year, with 52% using it in the last month and 22% reporting binge drinking.
Alcohol consumption is a severe and prevalent problem among adolescents; therefore it is very
important to identify factors associated with this consumption in order to develop effective
preventive strategies.

Objectives: To describe the perceptions about the risk and protective factors associated with
experimentation and regular alcohol consumption in adolescence, by gender.

Methods: A focus group technique was used trough a World Café methodology. Nine groups of
students were organized (n=243): 2 male groups, 2 female groups, 4 mixed groups (boys and
girls who used alcohol) and 1 group of abstinent students. Data was transcribed and analyzed
through a content analysis methodology.

Results: Participants identified risk factors associated with experimentation (e.g.: family attitudes
towards alcohol consumption) and regular alcohol consumption (e.g.: way of dealing with negative
emotions). Gender differences were also identified in experimentation; family attitude towards
alcohol consumption seems to be more relevant to boys, while peer’s influence seems to play a
predominant role to girls.

Conclusions: Data reveals several factors associated with alcohol consumption in adolescents and
identify gender differences. Preventive programs should take these differences into account and
develop actions supported by those. At the same time, it is important that they involve parents,
raising awareness to their influence in children’s behaviors.

Keyword: Alcohol consumption, Adolescence, Risk and protective factors,World Café methodology

Segundo dados da OMS (2012), a Europa lidera o consumo mundial de álcool, com uma média
anual de 12,4 litros por habitante.

De acordo com dados do relatório do European School Survey Project on Alcohol and Other Drugs
(ESPAD) respeitante ao ano de2011 e que envolveu mais de 100 000 estudantes, de 36 países
europeus com uma média de idades de 16 anos, 71% dos jovens portugueses participantes no
estudo afirmam já ter experimentado bebidas alcoólicas sendo que destes 74% afirmam ter
consumido nos últimos 12 meses. No que respeita ao consumo nos últimos 30 dias (que
antecederam o inquérito do ESPAD), 56% dos rapazes e 50% das raparigas portuguesas referiram
ter consumido bebidas alcoólicas no último mês. Mais de metade dos jovens de ambos os sexos
têm um consumo regular de álcool. No que concerne ao consumo excessivo de álcool (5 ou mais
bebidas na mesma ocasião), nos últimos 30 dias, a prevalência registada foi de 27% nos rapazes
e 19% nas raparigas, numa prevalência média de 22% dos jovens. Estes dados indicam que o
consumo de bebidas alcoólicas está integrado no quotidiano de muitos jovens e uma análise da
evolução do consumo nos últimos 16 anos, em Portugal, parece apontar para uma tendência
crescente da prevalência de "binge drinking" em ambos os sexos.

O consumo de álcool é uma das principais causas de morte e de invalidez, sendo o terceiro fator
de risco de morbilidade, depois da hipertensão e do tabagismo (OMS, 2005).

Na adolescência, o consumo de álcool associa-se frequentemente a comportamentos de risco,


entre os quais se incluem as relações sexuais desprotegidas, o contágio de doenças sexualmente
transmissíveis e gravidez indesejada (OMS, 2011); acidentes de viação (Calafat, 2002); danos
cerebrais, alterações estruturais do cérebro e défices cognitivos (Guerri & Pascual, 2010); baixo
rendimento escolar: problemas de atenção, aprendizagem, memória (Brown et al., 2000; Casey et
al., 2000) e dependência na idade adulta (DeWit et al, 2000; Pitkanen et al., 2008; Hingson, et
al., 2006).
É indiscutível que o consumo abusivo de bebidas alcoólicas pelos jovens é um comportamento
lesivo para a saúde individual e coletiva, cujos fatores interessa identificar para melhor agir
preventivamente.

Fatores de risco ou fatores protetores podem ser definidos como caraterísticas, variáveis ou
acontecimentos que quando presentes na vida de um indivíduo aumentam ou reduzem
(respetivamente) a probabilidade de ocorrência de um determinado fenómeno (Swadi, 1999).
Estes podem ser agrupados, globalmente, em caraterísticas individuais (idade, sexo, fatores
genéticos e biológicos e caraterísticas adquiridas como personalidade, atitudes, gostos e
interesses,entre outros); caraterísticas microssociais que se relacionam com as do contexto, mais
próximo, em que o indivíduo se desenvolve como a casa, família, escola, amigos ou vizinhos;
caraterísticas macrossociais, as quais influenciam em grande medida as anteriores como o sistema
social e cultural, os meios de comunicação social, a influência de grupos económicos ou as
instituições oficiais; e em caraterísticas ambientais, ou seja, do meio físico e geográfico, as quais
influem nas condições de vida dominantes numa determinada sociedade, podem sofrer alterações
pela ação humana e possuem grande influência sobre as demais dimensões (Mendoza, Pérez &
Foguet, 1994).

O consumo abusivo e/ou dependência de álcool é determinado pela interação entre diversos
fatores de risco e fatores protetores que per si não são passíveis de explicar o comportamento
alcoólico (Adès & Lejoyeux, 1997). No que respeita ao consumo de substâncias psicoativas, a
literatura sobre o tema tem vindo a demonstrar que podem existir diferentes fatores de risco para
a experimentação, para a manutenção e escalada do consumo, bem como para o comportamento
face a determinada substância (Swadi, 1999).

Para se compreender a constelação de fatores de risco e protetores do consumo abusivo de


substâncias psicoativas devem ser tomados em consideração tanto os aspetos físicos, biológicos e
psicológicos como os aspetos sociais, etno-culturais, económicos e políticos. A prevenção deve
visar a pessoa individualmente, com especial atenção ao seu desenvolvimento pessoal e nível de
informação (que influencia as suas crenças e perceções) assim como ao seu contexto familiar e
social, não esquecendo a influência dos fatores macrossociais, que dificilmente são modificáveis
com intervenções educativas mas devem ser alvo de ações de advocacia em saúde (Kreutter et
al., 1991).

Este estudo teve como objetivo descrever as perceções sobre os fatores de risco e fatores
protetores individuais, micro e macrossociais e ambientais associados à experimentação e ao
consumo regular de álcool em jovens portugueses, de acordo com o género.

MÉTODO

Recorreu-se à técnica de grupos focais, através da metodologia World Café (Brown & Isaacs,


2005).Esta é uma metodologia simples, efetiva e flexível, que permite o acesso a informação
gerada por grandes grupos, acreditando que, ao reproduzir o ambiente de um café, se promove o
diálogo entre os participantes, podendo permitir o acesso a informação resultante da inteligência
coletiva do grupo.

Participantes

Organizaram-se 9 grupos de estudantes universitários (n=243). Entre estes, oito grupos eram
compostos por jovens consumidores de bebidas alcoólicas (2 grupos masculinos, 2 grupos
femininos e 4 grupos mistos) e um grupo era composto por jovens abstémicos de ambos os sexos.
Esta divisão visava a análise de diferenças de género, bem como permitir que os jovens
abstémicos pudessem expressar livremente a sua opinião, sem pressões diretas ou indiretas de
jovens consumidores. A idade média dos 95 participantes homens era de 20,7±1,5 anos e das 138
mulheres era de 20,6±1,6 anos (Tabela 1). Não foram encontradas diferenças de médias na idade
dos participantes segundo o sexo (t= 0,413; df=0,231; p=0,680), pelo que não se considerou
necessário analisar os dados desagregados por grupos etários.

Material
Tendo em conta os objetivos do estudo foi elaborado um guião semiestruturado com questões
específicas acerca da experimentação e consumo regular de álcool, bem como acerca das
perceções relativas ao aumento do consumo de álcool no sexo feminino e dos fatores protetores
relacionados com o consumo de álcool. As questões colocadas para discussão nestas sessões de
grupo foram:

1. Onde, com que idade, com quem e porquê experimentaram bebidas alcoólicas?

2. Porque é que os jovens começam a consumir bebidas alcoólicas?

3. Porque é que os jovens consomem bebidas alcoólicas com regularidade?

4. Há jovens que não consomem álcool ou fazem-no raras vezes. Porque é que os estes jovens
não bebem bebidas alcoólicas?

5. Hoje em dia, regista-se um aumento do consumo de álcool pelas mulheres. Na vossa opinião,
porque é que isto acontece?

Em seguida procedeu-se à validação dos guiões, que foram revistos e aprovados pela equipa de
investigação do projeto em que este estudo se insere.

Procedimento

Cada grupo foi subdividido em pequenos grupos de 4-5 elementos cada, tendo cada um dos
grupos um porta-voz. O pequeno grupo respondia à questão exposta numa mesa, sendo que cada
mesa continha um porta-voz incumbido de incentivar a expressão de todos os participantes e
anotar todas as opiniões, do seu sub-grupo, em folhas grandes. Esgotada a discussão inicial, os
elementos de cada grupo trocam de mesa (exceto o porta-voz) e são desafiados a responder a
uma nova questão, fazendo-se a discussão através do acrescento ou refutação das ideias
anteriormente expostas por outros jovens (Figura 1).

Depois de diversas “rodadas de diálogo”, inicia-se o período de partilha das opiniões com todo o
grupo. É nestas conversas, estilo plenário, que os padrões podem ser identificados, o
conhecimento coletivo cresce e as possibilidades para a ação surgem. É o porta-voz de cada mesa
que apresenta os resultados mas todo o grupo identifica os padrões e obtém consenso (ou não)
acerca dos fatores de risco e dos fatores protetores (individuais, microssociais, macrossociais e
ambientais) para a experimentação e para o consumo regular de bebidas alcoólicas.

Os dados registados nas folhas, pelo porta-voz de cada uma das mesas, foram transcritos e
posteriormente analisados através da técnica de análise de conteúdo, conforme Bardin (2007).
Pretendeu-se identificar, categorizar e agrupar os fatores de risco e protetores, emergentes da
discussão dos grupos, de acordo com as seguintes dimensões: individual, micro e macro social e
ambiental (Mendonza, Pérez e Foguet, 1994).

RESULTADOS

1. Fatores de Risco Associados à Experimentação de Bebidas Alcoólicas

Para identificar os fatores de risco associados à experimentação de bebidas alcoólicas, analisaram-


se os dados relativos à questão “Onde, com que idade, com quem e porquê experimentaram
bebidas alcoólicas?” (Tabelas 2 e 3).

Idade - A idade média de experimentação mais referida pelos participantes foram os 15 anos, com
idade mínima referida de 7/8 anos e máxima de 19 anos: “foi no contexto doméstico, tinha 7/8
anos”(Grupo misto - Mi);“comecei no primeiro ano de universidade, aos 19 anos de idade”(Mi).

Local – No que respeita ao local de experimentação, constata-se que existem diferenças entre
grupos, especialmente notáveis entre o grupo masculino e o feminino. Nos rapazes, os locais
referidos para o primeiro consumo vão desde locais privados como a casa de amigos (“Comecei a
consumir bebidas alcoólicas em casa de amigos”) e a casa do próprio (“Em minha casa”), até
espaços públicos como cafés, bares e discotecas (“no bar da minha terra”), superfícies comerciais
(“no pingo doce ao pé da minha escola”) e locais de festa (“Numa festa de anos com amigos”). No
que concerne às raparigas, os locais apontados para o primeiro consumo foram locais públicos
como cafés, bares e discotecas (“Num bar da cidade”) e festividades (“No jantar de aniversário de
uma amiga”). De ressalvar que o grupo feminino foi o único grupo onde não foi referido a casa do
próprio, como local do primeiro consumo. Contrariamente, no grupo de abstémicos a casa do
próprio foi o único local referido pelo grupo como local de experimentação das bebidas alcoólicas.

Pessoas presentes – Em todos os grupos, com exceção do grupo misto de consumidores, o


primeiro consumo de bebidas alcoólicas foi efetuado com o grupo de amigos (“Estava numa festa
e com os meus amigos”- M); com familiares (“Para experimentar com primos/primas” - F) ou com
os pais (“Comecei a beber com os meus pais” - Ab).

1.1. Fatores Individuais

Curiosidade. A curiosidade ou vontade de experimentar bebidas alcoólicasfoi identificada por três


grupos, nomeadamente pelo grupo masculino, feminino e misto, como um fator que conduziu à
experimentação de álcool: (“Por curiosidade com os meus pais”- M); (“Bebi um shot para
experimentar” - F); (“Com a família, para sentir o ato de experimentar mas estar protegida”- Mi).

Expetativa de diversão. A procura de divertimento foi referida pelo grupo masculino e pelo grupo
misto de consumidores como um dos motivos que os predispuseram à experimentação de bebidas
alcoólicas(“Com amigos, por diversão”- M); (“Nas saídas com os amigos para nos divertirmos”-
Mi).

Parcos conhecimentos dos riscos. Poucos conhecimentos relativamente aos riscos associados ao
consumo de bebidas alcoólicas foram identificados apenas pelo grupo masculino como um dos
fatores que conduziu à experimentação de bebidas alcoólicas (“Pareceu algo inofensivo e beber
um pouco não ia causar algo desagradável, por isso comecei” - M).

1.2. Fatores Microssociais

Frequência de contextos recreativos. Três grupos referiram a ocorrência do primeiro consumo de


bebidas alcoólicas nas saídas com os amigos/colegas: (“Estava numa festa e com os meus
amigos”- M); (“Nas saídas à noite” -F); (“Nas saídas com os amigos” -Mi)

Atitudes dos pais/familiares face ao consumo. A atitude de aceitação dos pais e/ou familiares face
ao consumo de bebidas alcoólicas pelos jovens foi mencionada como fator de risco para a
experimentação em dois grupos, nomeadamente no grupo masculino e no grupo de não
consumidores: “Apenas por convívio com familiares”(M); “Com a família em dias festivos”(Ab).

Oferta de bebidas alcoólicas pelos pais/família. Receber ofertas de bebidas alcoólicas pelos pais
e/ou familiares foi mencionado por todos os grupos como um dos motivos que conduziram à
experimentação de álcool(“Para experimentar com primos/primas” - F); (“Comecei a beber com os
meus pais” - M); (“Com os pais e foi para provar” -Mi); (“Os pais muitas vezes dão-nos bebidas
quando somos pequenos” - Ab).

1.3. Fatores Macrossociais

Norma social. A norma social foi referida por todos os grupos como sendo um fator que conduziu à
experimentação(“Com 15 anos, nas festas académicas” -Mi);(“Comecei a beber porque estava
numa festa com os meus amigos” - M); (“Bebi socialmente com os meus amigos” - F); (“Por
influência de outros, dos amigos” - Ab).A perceção dos participantes de que grande parte dos
jovens da sua idade consome bebidas alcoólicas conduz a uma normalização do comportamento,
tornando-se este num hábito e fazendo parte do seu estilo de vida como jovem.

1.4. Fatores Ambientais

Nenhum dos grupos identificou fatores ambientais como fatores de risco para a experimentação.

2. Fatores de Risco Associados ao Consumo Regular de Bebidas Alcoólicas


Na identificação dos fatores de risco relacionados com o consumo regular, analisaram-se os dados
relativos às questões “Porque é que os jovens começam a consumir bebidas alcoólicas com
regularidade?” e “Porque é que os jovens consomem bebidas alcoólicas com regularidade?”(Tabela
4).

2.1. Fatores Individuais

Prazer/sabor O sabor das bebidas alcoólicas e o prazer decorrente do seu consumo foram referidos
pelos três grupos de jovens consumidores como um dos fatores que mantêm o consumo.
Concomitantemente, este fator foi referido pelo grupo de não consumidores como uma das
potenciais causas que mantém o consumo regular dos jovens: (“Os jovens consomem bebidas
alcoólicas com regularidade porque gostam” - Mi); (“Porque desde que experimentaram
começaram a gostar” - M); (“No meu caso foi porque gostei” - F); (“Talvez por gostarem da
sensação” - Ab).

Expetativa de diversão. O consumo de álcool enquanto promotor de divertimento foi identificado


por três grupos como fator que mantém o consumo regular de bebidas alcoólicas: (“Por diversão”
- M); (“É essencial para se divertirem” - F); (“Porque não têm outra maneira de se divertirem” -
Ab).

Gestão de emoções negativas. O consumo regular de bebidas alcoólicas como forma de gerir
emoções negativas como o stress e a ansiedade ou como instrumento para a abstração mental de
problemas quotidianos foi referido por três grupos, com exceção do grupo misto:(“Bebem para
esquecer os problemas” - M); (“Para se libertarem das tensões diárias” - F); (“Porque se
encontram longe da família, encontram-se em novos ambientes, com novas rotinas, com novos
amigos, com novas exigências” - Ab).

Procura de desinibição. A desinibição através do consumo de álcool foi apenas referido pelo grupo
de jovens abstémicos como um dos potenciais fatores conducentes ao consumo regular (“Talvez
por gostarem da desinibição que a bebida alcoólica dá”).

Baixa autoestima. O consumo de bebidas alcoólicas com o intuito de aumentar a autoconfiança, foi
referido apenas pelo grupo feminino como fator de manutenção do consumo (“Para ganharem
mais confiança, não quer dizer que sejam todos mas talvez seja a maioria”).

2.2. Fatores Microssociais

Frequência de contextos recreativos. Frequentar festas foi identificado por três dos grupos, com
exceção do grupo masculino, como fator de risco para o consumo regular: (“Devido às saídas à
noite” - Mi); (“Porque normalmente bebem quando saem e saem todas as semanas” - F);
(“Porque quando saem à noite não sabem o que fazer, então ocupam-se com os copos” - Ab).

Grupo de pares consumidores. A pertença a um grupo de pares consumidores de álcool foi referida
por todos os grupos, como fator de risco para o consumo regular:(“Devido às saídas à noite com
os amigos” - Mi); (“Por verem os amigos a beber e também quererem apanhar bebedeiras” - M);
(“Por prazer e divertimento quando estão com os amigos” - F); (“Para se sentirem introduzidos
nas atividades com os amigos e praticamente todas as saídas envolvem beber bebidas alcoólicas”
- Ab).

Pressão de pares. O consumo de álcool como estratégia necessária para integrar um determinado
grupo de pares de que o jovem gostava de fazer parte foi um fator identificado por três grupos,
com exceção do grupo misto, para a manutenção do consumo:(“Para se imporem e pertencerem a
um grupo de pessoas” - M); (“Alguns é só mesmo pelo facto de se quererem instalar num
determinado grupo” - F); (“Muitas vezes para serem aceites em determinados grupos” - Ab).

“Estatuto social”. No mesmo sentido, o consumo de bebidas alcoólicas enquanto promotor de


“estatuto social” entre os pares foi identificado por três grupos: (“Para se imporem, por vezes
para se mostrarem” - M); (“É uma questão de estatuto” - F); (“Porque acham que fica bem e que
vão ter outro estatuto” - Ab).

Disponibilidade financeira. Ter dinheiro disponível para a aquisição de bebidas alcoólicas foi
referido por todos os grupos como fator de risco para o consumo regular de álcool:(“Ter dinheiro
regula o consumo” - M);(“Não podemos comprar a não ser que nos ofereçam” - Mi); (“Se não se
tem dinheiro não se pode consumir” - F); (“Mais dinheiro significa mais consumo” - Ab).

2.3 Fatores Macrossociais

Norma social. O facto da ingestão de bebidas alcoólicas ser um comportamento socialmente


aceite, frequente e desejável foi identificado como fator de risco por todos os grupos: (“Também
porque se tornou moda” - Mi); (“É uma moda hoje em dia” - M); (“Talvez pela pressão que
sentem de viver numa sociedade onde quase não se vê nenhum jovem que não beba” - F); (“Por
moda e quando não sabem de outras maneiras de se divertirem, todos fazem isso” - Ab).

2.4.Fatores Ambientais

Acessibilidade a bebidas alcoólicas. A facilidade de acesso e de compra de bebidas alcoólicas foi


identificada apenas pelo grupo misto: “É de fácil acessibilidade de compra”.

3. Fatores de Risco Associados ao Aumento do Consumo de Bebidas Alcoólicas no Sexo


Feminino

Os fatores de risco associados ao aumento do consumo de álcool no sexo feminino resultaram da


análise dos dados relativos à questão “Hoje em dia, regista-se um aumento do consumo de álcool
pelas mulheres. Na vossa opinião, porque é que isto acontece?” (Tabela 5).

3.1. Fatores Individuais

Prazer/sabor. O sabor das bebidas alcoólicas e o prazer decorrente do consumo foram


identificados por dois grupos como potenciais fatores de risco para o aumento do consumo
feminino: (“Porque gostam de bebidas doces” - Mi); (“Cada vez existem mais bebidas que
agradam às mulheres” - F).

Expetativa de diversão. A procura de divertimento foi identificada em dois grupos, nomeadamente


no grupo misto e no grupo feminino:(“Bebem para se divertirem porque ao beberem ficam mais
divertidas” - Mi); (“Hoje em dia algumas mulheres bebem para socializar, para se divertirem e se
embriagarem” - F).

Procura de desinibição. O consumo de álcool como promotor de desinibição nos contatos sociais foi
referido por três grupos com exceção do grupo misto de consumidores: (“Para se sentirem
desinibidas” - M); (“Para maior desinibição” - F); (“Por necessidade de se desinibir” - Ab).

3.2.Fatores Microssociais

Pressão de pares. Consumir bebidas alcoólicas como forma de integrar um determinado grupo, foi
mencionado por dois grupos: (“Querem sentir-se integradas” - M); (“Por necessidade de inclusão
nos grupos” - Ab).

3.3.Fatores Macrossociais

Norma social: A perceção que o consumo feminino é um comportamento comum entre as


mulheres e socialmente aceite foi referido apenas pelo grupo masculino (“Por moda”).

Mudanças sociais face ao papel da mulher: As mudanças sociais decorrentes das alterações de
crenças face ao papel da mulher na sociedade foram identificadas por três grupos: (“Atualmente
já não há tantas restrições como antigamente” - Mi); (“Por começarem a sair cada vez mais cedo
e com mais frequência” - F); (“Possibilidade de frequentar espaços noturnos sem companhia
masculina” - Ab).

Igualdade de género: O aumento do consumo feminino é ainda entendido por três grupos como
resultante da procura de igualdade de género pelo sexo feminino: (“Para as mulheres mostrarem
que não são inferiores aos homens” - Mi); (“Têm necessidade de se mostrarem tão resistentes
como o homem” - M); (“Existe a típica competição do “eu consigo beber mais do que tu” - F).
3.4.Fatores Ambientais

Acessibilidade. A maior facilidade de acesso a bebidas alcoólicas para o sexo feminino, foi
identificada por um grupo como fator de risco para o aumento do consumo: (“Estão mais perto do
consumo de álcool” - Mi);

4. Fatores de Proteção Relacionados com o Consumo de Bebidas Alcoólicas

Os fatores de proteção associados ao consumo de álcool resultaram da análise dos dados relativos
à questão “Há jovens que não consomem álcool ou fazem-no raras vezes. Porque é que os estes
jovens não bebem bebidas alcoólicas regularmente?” (Tabela 6).

4.1.Fatores Individuais

Ausência de curiosidade. A ausência de curiosidade relativamente aos efeitos do álcool foi


mencionada por dois grupos, nomeadamente o grupo masculino e o grupo misto: (“Porque não
têm interesse, nunca tiveram curiosidade” - M); (“O álcool é indiferente para eles” - Mi).

Estratégias de divertimento alternativas. A capacidade de divertimento sem recurso a bebidas


alcoólicas foi referida por dois grupos como fator protetor do consumo de álcool: (“Porque não
necessitam de o fazer para se divertirem” - F); (“Não precisamos do álcool para nos divertirmos,
não se depende do álcool se não o fizermos um hábito” - Ab).

Prazer/sabor. O facto de alguns jovens não apreciarem o sabor das bebidas alcoólicas ou não
sentirem prazer com o seu consumo foi referido como fator de proteção para o consumo por todos
os grupos: (“Não gostam do sabor” - Mi); (“Depende do gosto de cada um” - M); “Há alguns que
não gostam da sensação (…) uns não bebem porque não gostam”(F); “Não gostam do
aspeto/sabor/odor”(Ab).

Conhecimentos e crenças. O conhecimento dos riscos associados ao consumo de álcool foi


identificado por dois grupos como fator de proteção para o consumo de álcool: (“Devem ter
consciência dos perigos que o álcool pode trazer” - Mi); (“Sabem os malefícios das bebidas
alcoólicas” - Ab).

Prática de exercício físico. A prática de desporto, enquanto fator protetor para o consumo de
álcool, foi referida apenas pelo grupo misto (“Outros porque fazem desporto”).

Doença. A impossibilidade de ingestão de álcool devido a problemas de saúde foi referida por
todos os grupos: (“Uns por doença” - Mi);(“Porque têm problemas de saúde” - M); (“Porque não
podem” - F); (“Por várias razões (…) por saúde (…) não podem ingerir” - Ab).

Estratégias de coping adequadas: Ter competências de copinga dequadas para lidar com as


pressões dos pares, gerir emoções negativas e lidar com acontecimentos adversos, não sendo
necessário o recurso ao consumo de álcool, foi mencionado por três grupos como um fator de
proteção para o consumo: (“Não sentem necessidade de abstraírem-se” - F); (“Não se deixam
influenciar, não têm esta necessidade” - M); (“Têm confiança necessária nas relações sociais” -
Ab).

Experiências negativas com álcool: Ter experienciado, no passado, acontecimentos negativos


devido ao consumo de álcool foi referido por todos os grupos enquanto fator protetor do consumo:
(“A terceira razão serão as más experiências” - Mi); (“Porque tiveram más experiências
anteriormente” - M); (“Porque já ficaram com ressaca devido às bebidas consumidas” - F); (“Têm
exemplos práticos das consequências da ingestão de álcool” - Ab).

4.2.Fatores Microssociais

Não frequência de contextos recreativos. Não sair à noite foi referido por três grupos como fator
protetor do consumo: “Porque nunca saem à noite”(M); “Porque se calhar não saem muito à
noite”(F); “Porque não saem à noite”(Ab).
Grupo de pares não consumidores. Pertencer a um grupo de pares não consumidores de álcool foi
referido apenas pelo grupo de não consumidores: “Porque o seu grupo de amigos não bebe e não
fazem pressão para ele beber”.

História familiar de alcoolismo. Um historial familiar de alcoolismo foi identificado pelo grupo
feminino como fator protetor do consumo “Alguns têm história de bêbados na família”.

Disponibilidade financeira. As dificuldades económicas foram mencionadas por todos os grupos


como fator de proteção do consumo de álcool: “Os amigos quando estão bêbados ou são ricos é
que nos oferecem”(Mi”); “Porque se calhar não têm dinheiro”(M); “Alguns não têm dinheiro”(F);
“Não têm dinheiro para gastar com este vício”(Ab).

Atitudes dos pais face ao consumo. A opção de não consumir por proibição parental, foi referida
apenas pelo grupo masculino (“Por causa dos pais proibirem”).

4.3.Fatores Macrossociais

Valores de vida/religião. Foi mencionado por dois grupos enquanto fator de proteção do consumo
de álcool: “Uns não bebem porque é contra os ideais, religião”(F); “Devido à religião”(Ab).

4.4.Fatores Ambientais

Acessibilidade. As dificuldades de acesso a bebidas alcoólicas, como fator protetor do consumo,


foram apenas referidas pelo grupo masculino (“Nem sempre estão disponíveis essas bebidas”).

DISCUSSÃO

Embora o alcoolismo nos adultos seja um problema de saúde, social e económico grave e muito
prevalente, o consumo abusivo de álcool por adolescentes e jovens tem consequências diferentes
das evidenciadas nos adultos, devido à fase de desenvolvimento em que se encontram
(Pechansky, Szobot, & Scivoletto, 2004). Assim, torna-se relevante identificar os fatores de risco
para a experimentação e para o consumo regular de álcool, com base em diferenças de género,
com o intuito da construção de programas preventivos mais eficazes e direcionados para as
necessidades reais dos jovens.

No presente estudo, a experimentação dos participantes ocorreu, em média, aos 15 anos de


idade, o que está de acordo com os dados do último relatório do HBSC (2012)onde se regista um
aumento da prevalência do consumo de álcool com a idade, sendo este tendencialmente mais
elevado aos 15 anos. Não se registaram diferenças entre o sexo masculino e o feminino no que
respeita à idade de início de consumo.

Relativamente aos locais de primeiro consumo, enquanto os rapazes referiram locais privados
como a casa do próprio ou a casa de amigos, as raparigas parecem tender a iniciar os consumos
em locais públicos como cafés, bares e discotecas e em alturas de festas ou comemorações. No
mesmo sentido, no sexo feminino não se registou referência à presença dos pais aquando da
experimentação de bebidas alcoólicas, contrariamente ao registado no sexo masculino. Estas
diferenças podem ficar a dever-se a crenças relacionadas com os papéis de género, que tornam
mais aceitável, no seio da família, o consumo de álcool masculino, comparativamente com o
feminino. Ainda no que respeita às pessoas presentes aquando da experimentação, todos os
grupos mencionaram a presença de amigos/as, tal como descrito na literatura sobre o tema que
refere a influência dos amigos como um dos principais fatores de risco para o consumo (Hong,
Lee, Grogan-Kaylor & Huang, 2011; Danielsson, Wennberg, Tengström & Romelsjö, 2010; Llorens,
Barrio, Sánchez & Suelves, 2011).

Quanto aos fatores associados à experimentação de bebidas alcoólicas, a curiosidade foi referida
por todos os grupos de consumidores, não tendo sido referida pelo grupo de abstémicos. Parcos
conhecimentos dos riscos associados e a atitude dos pais/familiares face ao consumo foram
fatores que surgiram associados essencialmente ao sexo masculino, não tendo sido referidos nem
no grupo feminino nem no grupo misto. Ambos os fatores estão presentes na literatura, sendo que
a atitude dos pais/familiares face ao consumo se revela bastante mais influente do que a primeira
(Nash, McQueen & Bray, 2005; Mares, Vorst, Engels & Lichtwarck-Aschoff, 2011).Contudo, estes
dados parecem apontar para a hipótese das atitudes dos pais e familiares face ao consumo
poderem exercer maior influência no sexo masculino, comparativamente ao feminino,
possivelmente decorrente de crenças associadas a papéis de género.

A oferta de bebidas alcoólicas pela família e a norma social (crença de que a maioria das pessoas
consomem bebidas alcoólicas) foram referidos por todos os grupos como fatores de risco para a
experimentação, estando de acordo com a literatura que frequentemente demonstra a forte
associação entre o consumo de bebidas alcoólicas pelos progenitores, e consequente oferta de
bebidas aos adolescentes, e o consumo de álcool dos jovens (Chartier, Hesselbrock & Hesselbrock,
2011; Mares, Vorst, Engels & Lichtwarck-Aschoff, 2011; Donovan, 2004).A literatura tem
demonstrado que os primeiros consumos de bebidas alcoólicas tendem a ocorrer na família, sendo
os comportamentos da mesma um dos fatores de risco com maior influência para o consumo de
álcool dos jovens (Martino, Ellickson & McCaffrey, 2009; Mares, Vorst, Engels & Lichtwarck-
Aschoff, 2011). No mesmo sentido, alguns estudos mostraram a relação entre aquilo que os
jovens creem ser o expectável face ao consumo de álcool (norma social) e o consumo de bebidas
alcoólicas pelos próprios (Svensson, 2010; Kuntsche, Rehm, & Gmel, 2004).

Não foram identificados fatores ambientais por nenhum dos grupos relativamente à
experimentação de álcool. Este dado parece indicar que os jovens têm alguma dificuldade em
identificar a influência de fatores ambientais, como a geografia do país, a acessibilidade a bebidas
alcoólicas, entre outros, como fatores de risco a atuarem na experimentação de bebidas
alcoólicas.

O prazer decorrente do consumo de bebidas alcoólicas, a pertença a um grupo de pares


consumidores, a disponibilidade financeira e a norma social, foram identificados por todos os
grupos como fatores de risco para o consumo regular de álcool. A par das atitudes e
comportamentos dos pais e familiares face ao consumo, as atitudes e comportamentos dos grupos
de pares face a bebidas alcoólicas são os fatores de risco mais frequentemente referidos na
literatura como fortemente associados ao consumo de álcool (Zarzar, et al., 2012; Svensson,
2010;Bekman, Cummings & Brown, 2010). A disponibilidade financeira, ou o dinheiro disponível
para despesas pessoais, embora menos referida pela literatura, surge igualmente como fator de
risco para o consumo (Donath et al., 2012).Embora no presente estudo o prazer decorrente do
consumo de bebidas alcoólicas tenha sido identificado por todos os grupos enquanto fator de risco
para o consumo regular, o mesmo raramente é referido pela literatura. De ressalvar que a
“pressão dos pares” para o consumo e o “estatuto social” decorrente do mesmo, foram igualmente
identificados por três grupos como fatores de risco para o consumo. Num país vitivinícola em que
o álcool é uma substância socialmente aceite, utilizada no quotidiano e onde existe um modelo
hegemónico de recreação centrado no consumo de álcool (Calafat et al, 2004), não beber bebidas
alcoólicas pode ser motivo de exclusão entre pares ou pelo menos de menor integração nas
práticas de diversão dos jovens.

De salientar ainda que, tal como referido na literatura, os dados apontam no sentido de o
consumo de álcool entre os jovens servir a gestão de emoções negativas perante as quais não têm
estratégias emocionais e cognitivas para lidar (Chartier, Hesselbrock & Hesselbrock, 2010;
Schulte, Ramo & Brown, 2009).No que respeita às diferenças de género, a “baixa autoestima”
enquanto fator de risco para o consumo regular de álcool, foi unicamente identificado pelo grupo
feminino, sugerindo que mais frequentemente o consumo de álcool possa ser utilizado pelas
raparigas como forma de aumentar a autoconfiança, comparativamente com os rapazes. A
facilidade de acesso a bebidas alcoólicas enquanto fator de risco para o consumo foi identificada
unicamente pelo grupo misto como fator de risco para o consumo regular, sendo contudo um fator
frequentemente presente na literatura (Kuntsche, Rehm, & Gmel, 2004; Brook, et al., 2011).

No que concerne aos fatores de risco associados ao aumento do consumo feminino, as “mudanças
sociais face ao papel da mulher”, ou seja a alteração das crenças associadas a papéis de género, e
a “igualdade de género”, isto é, a procura da igualdade de género pelo sexo feminino, foram os
fatores de risco que reuniram maior consenso entre os grupos como associados ao consumo
feminino. No que respeita a diferenças de género, apenas o grupo masculino identificou a “normal
social” como fator de risco para o aumento do consumo feminino.

Relativamente aos fatores protetores do consumo de álcool, não gostar do sabor das bebidas
alcoólicas ou a ausência de prazer decorrente do seu consumo, a existência de uma doença
impeditiva do consumo, as experiências negativas passadas decorrentes do consumo de bebidas
alcoólicas e ter pouca disponibilidade financeira foram os fatores de risco identificados por todos
os grupos como protetores do consumo de álcool. No mesmo sentido, possuir estratégias
de coping adequadas e a não frequência de contextos recreativos foram identificados por três
grupos como fatores protetores do consumo de bebidas alcoólicas. Outros fatores presentes neste
estudo relacionaram-se com estratégias de divertimento alternativas, conhecimentos e crenças
acerca do consumo de álcool e valores de vida ou religiosos. De salientar, que apenas o grupo de
jovens abstémicos identificou a não pertença a um grupo de pares consumidores como fator
protetor do consumo.

De forma geral, a maioria dos fatores de risco associados ao consumo de álcool implicam a
expetativa de receber uma gratificação decorrente deste consumo seja por prazer e diversão, seja
para evitar mal-estar emocional e psicológico e lidar com situações adversas ou para a aceitação
familiar e social. No entanto, este consumo também implica um importante potencial de danos,
quer a nível físico, psicológico e/ou social, a curto ou a longo prazo. O limite da idade mínima para
o consumo de álcoolprende-se com a incapacidade do organismo para metabolizar o álcool, ou
seja, pelo fato do fígado ser imaturo até à maioridade, segregando pouca quantidade de enzima
álcool-desidrogenase (ADH) que converte o álcool em acetaldeído (sendo este produto mais tóxico
que o próprio álcool) e pela idade mínima para assumir a responsabilidade judicial por condutas
ilegais ou perigosas.

Os dados do presente estudo sugerem que os programas de prevenção do consumo de álcool


devem ter em conta as diferenças de género relativas aos fatores de risco e protetores associados
ao consumo de álcool, e desenvolver ações preventivas com base nessas diferenças. Assim, é
relevante que estes programas se centrem essencialmente em três dimensões: o desenvolvimento
pessoal e social dos jovens, permitindo-lhes a aprendizagem de estratégias de coping, a promoção
da autoestima e do autodesenvolvimento; o trabalho com os pais e encarregados de educação, no
sentido de os sensibilizar para os perigos do consumo de bebidas alcoólicas por menores de idade,
conscientizando-os para os efeitos da modelagem e para a relevância das atitudes que
apresentam face ao consumo de álcool relativamente ao impacto que estas exercem no consumo
dos filhos, bem como a importância da gestão do dinheiro disponibilizado e da monitorização e
supervisão parental (ex. saídas noturnas e grupos de amigos); e, por fim, o terceiro aspeto a
trabalhar é a influência do grupo de pares, com o treino de estratégias de resistência a pressões
externas que incentivem os jovens ao consumo.

Sendo a escola o local onde os jovens passam grande parte da sua vida, este poderá ser o lugar
ideal para se intervir em educação e promoção para a saúde, em geral, e em prevenção dos
consumos, em particular, através de um Projeto Educativo (Calafat & Munar, 1999), que envolva,
simultaneamente, uma formação adequada junto de pais e professores. Neste contexto, os
psicólogos surgem como os profissionais mais habilitados para a elaboração de programas
preventivos do consumo de substâncias, podendo desenvolver um papel crucial no trabalho com
os jovens, na formação de professores, bem como no trabalho com os pais e encarregados de
educação.

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Donovan, J. (2004). Adolescent alcohol initiation: A review of psychosocial 

Introdução: As primeiras exposições ao álcool acontecem na adolescência, período de mudanças físicas


e psicológicas. Diferentes factores associam‐se ao consumo de álcool na adolescência: a idade de início
de consumo e a relação com os pais, entre outros. Queremos aceder à prevalência dos comportamentos
de consumo de álcool, explorar a associação entre os mesmos e factores analisados em estudos
internacionais e nacionais, numa amostra de adolescentes que estuda numa zona do interior do país.
Pretendemos, também, analisar associações entre esses comportamentos e variáveis associadas ao
facto dos jovens residirem no interior e explorar o papel preditivo das variáveis com as quais tenhamos
encontrado associações significativas com os comportamentos de consumo de álcool. Metodologia: 163
adolescentes (média de idades, M=15,3; 54,6% raparigas) preencheram um Questionário sobre o
Consumo de Bebidas Alcoólicas na Adolescência e a Rosenberg Self‐Esteem Scale. Resultados: Um
número considerável de jovens (83,2%) já experimentou álcool. Uma percentagem significativa começou
a beber entre os 12‐13 anos (45.3%) e 34,6% consumiu álcool pela primeira vez na presença dos
pais/familiares. Quanto à frequência do consumo, 70,9% bebe raramente e a maioria (58,3%) de forma
moderada. Verificámos diferenças de género nas 3 variáveis dependentes do estudo (alguma vez bebeste
álcool; frequência com que bebes; quando bebes, quanto bebes). Uma percentagem maior de raparigas
já experimentou álcool mas os rapazes bebem com maior frequência e é maior a percentagem de rapazes
que bebe excessivamente. Um número maior de raparigas vivenciou sintomatologia depressiva em toda a
vida e nas duas últimas semanas (e sintomatologia ansiosa nesse mesmo período). As raparigas
apresentam uma menor auto‐estima. Os rapazes mais velhos, que reprovaram, que frequentam locais
envolvendo maior risco nos tempos livres e saem à noite nos fins‐de‐semana apresentam maior
probabilidade de já ter experimentado álcool. O mesmo sucede com as raparigas mais velhas, que
frequentam locais envolvendo maior risco nos tempos livres, que saem à noite nos fins‐de‐semana, que
frequentam locais de maior risco quando saem nos fins‐de‐semana e que não praticam desporto. Os
rapazes que saem à noite nos fins‐de‐semana bebem com maior frequência e as raparigas mais novas,
com uma boa relação com a mãe e que saem para locais envolvendo menor risco bebem mais raramente.
Os rapazes e raparigas que passam os tempos livres em locais envolvendo maior risco apresentam maior
probabilidade de consumir álcool excessivamente, tal como as raparigas que vivenciaram sintomatologia
depressiva em toda a vida e ansiosa nas duas últimas semanas. A variável onde passas os tempos livres
não mostrou predizer a quantidade do consumo, nos rapazes, mas aumenta em cinco vezes a
probabilidade das raparigas beberem excessivamente. Conclusão: Como uma grande percentagem de
jovens já experimentou bebidas alcoólicas, os rapazes o fazem frequentemente e de forma excessiva e os
locais frequentados à noite e a sintomatologia depressiva/ansiosa predizem o consumo nas raparigas é
urgente intervir preventivamente envolvendo os jovens em actividades proporcionais aos seus gostos,
para reduzir o envolvimento noutras actividades e aumentar/reduzir a sua auto‐estima/sintomas
depressivos/ansiosos. A intervenção terapêutica pode ser necessária, em contexto escolar.

Em vista que geralmente as primeiras experiências com drogas


ocorrem na adolescência, e que esta é uma das maiores preocupações de
saúde pública, cada vez mais pesquisadores tem-se voltado às
intervenções no campo dos fatores associados ao uso de drogas na
adolescência. Desta forma, o conhecimento preciso destes fatores é de
suma importância, pois permite intervenções sobre comportamentos e
fatores de risco, com visões a inibir o possível progresso para o uso
pesado de drogas lícitas e ilícitas, vício progressivamente deletério para
o jovem (SOLDERA et al., 2004; BAUS; KUPEK; PIRES, 2002).

Sanchez, Oliveira e Nappo (2005) corroboram ao afirmar que


programas de prevenção e intervenção precoce são de custo reduzido em
comparação a programas efetivos de tratamento à dependência química.
Assim, enfatiza-se a necessidade do aprimoramento dos programas de
prevenção, visando não somente os fatores associados ao uso, mas
também os fatores internos que motivam o não uso de drogas.

Em relação ao público-alvo desta pesquisa, buscaram-se


adolescentes matriculados em uma escola pública no período noturno,
sendo que esta fase de desenvolvimento é demarcada por constantes
conflitos psicossociais, necessidade de integração social, busca da
autoestima e dependência familiar, o que aumenta o risco para o uso de
drogas (SANCHEZ; OLIVEIRA; NAPPO, 2005). Além disso, Soldera et
al. (2004) por meio de suas pesquisas na área, afirma ser um fator de
risco para o uso de drogas na adolescência a associação dos estudos no
período noturno e trabalho durante o dia, por conta do estresse
consequente em assumir uma função adulta e repleta de obrigações.

3. Referencial Teórico
3.1 A Adolescência
A adolescência pode ser caracterizada como um momento especial
na vida do indivíduo, na qual o jovem têm dificuldades em aceitar
orientações, pois está se tornando adulto e quer testar a possibilidade de
desfrutar do poder para realizar suas decisões. Esse período da
adolescência pode ser definido como um estágio de transição no
desenvolvimento humano, entre a infância e maturidade física, psíquica
e social, que caracteriza o status adulto (BAUMKARTEN, 2006).

Segundo Erickson (1976 apud BAUMKARTEN, 2006), a


adolescência é um momento conturbado e agitado e repleto de conflitos.
O adolescente pode se deparar com o risco de afetividade segura,
sentimento de culpa pelo comportamento independente, conflito entre os
pais, crise de identidade e a incerteza sobre seu próprio status. Além
disso, a adolescência é caracterizada como o período emque o jovem irá
procurar seu próprio papel na sociedade.

Nesse período, por desejar definir sua própria identidade, o jovem


afasta-se de sua família e se integra a grupos de amizade, no entanto, se
os integrantes desse grupo costumam fazer uso de drogas, acaba levando
o jovem recém-incluído no grupo, que se sinta pressionado, e
consequentemente, utilize a droga por conta da influência dos amigos
(MARQUES; CRUZ, 2000).

Assim como o uso de drogas está ligado a influência dos amigos,


existem outros fatores que podem influenciar o consumo das substâncias
na adolescência. Caldeira (1997 apud BAUMKARTEN, 2006), cita
alguns fatores tais como, o desafio da transgressão às normas
estabelecidas pelo mundo dos adultos e a curiosidade pelo novo e
proibido. Tais fatores supracitados podem motivar o jovem a
experimentar as substâncias lícitas ou ilícitas pela primeira vez.

Outro fator que talvez seja o mais influenciador para o consumo de


substâncias, é a prática de fazer uso das drogas para ‘esquecer
problemas’, fazendo com que o uso da droga se torne uma válvula de
escape. Esse fator é mencionado com frequência entre os usuários, no
qual afirmam que é o principal motivo para fazer uso das substâncias
ilícitas e bebidas alcoólicas. De modo geral, quando o indivíduo não é
resiliente frente às situações adversas, acaba recorrendo muitas vezes ao
uso de drogas. Portanto, é possível afirmar que a droga é consumida,
muitas vezes, como uma fórmula mágica para resolver problemas e
superar as dificuldades (BAPTISTA-NETO, 2009).

3.2 Drogas: Conceito Geral


As drogas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), são
substâncias químicas que podem ser de origem natural ou sintética, que
afetam de alguma forma o sistema nervoso, podendo causar alterações
na mente, no organismo e no comportamento do indivíduo. Em outras
palavras, a droga pode ser definida como uma substância que exerce
alguma ação em organismos vivos. Essa é uma definição geral sobre as
substâncias que podem ser usadas na medicina, tanto para tratamentos de
doenças, como também drogas utilizadas com outros fins, como por
exemplo, tintas, colas e combustíveis (LONGENECKER, 2002).

As drogas de origem natural são obtidas de determinadas plantas,


de animais ou até de alguns minerais, como a nicotina que está presente
na folha do tabaco, a cafeína no café ou a tetraidrocanabinol (THC) na
maconha, extraída do ópio na papoula. Já as sintéticas, fabricadas em
laboratórios, são drogas que possuem uma maior variação, encontra-se
nesse grupo a dolantina, a mescalina, metaqualona, LSD, entre outras.
Diante disso, vale mencionar que existem dois tipos de drogas, as lícitas,
como é o caso do álcool, nicotina, ansiolíticos e dos barbitúricos; e as
ilícitas, como maconha, cocaína, heroína, ecstasy e crack (VIZZOLTO,
1988).

Acerca da progressão do uso dessas substâncias, cabe ressaltar que


os adolescentes, inicialmente, passam pela fase de experimentação, no
qual o indivíduo tem curiosidade de saber seus efeitos e acaba fazendo
uso de substâncias. Passando pela experimentação, vem o uso ocasional,
em que o jovem faz o uso moderado da droga e geralmente não expõe o
indivíduo a situações de

risco para a saúde física ou psicológica. Após diversos usos


ocasionais, o jovem faz utilização cada vez mais frequente e em maiores
quantidade da substância, o que resulta no abuso de drogas, situação que
causa danos à saúde física, psíquica ou social ao indivíduo, e,
consequentemente, após os abusos o usuário se torna dependente,
fazendo uso compulsivo da substância, priorizando o seu consumo em
detrimento dos interesses pessoais, sociais ou profissionais
(BAUMKARTEN, 2006).

3.3 Prejuízos Causados pelo Consumo de


Drogas
Silber e Souza (1998) levantaram dados a respeito do consumo de
álcool, fumo e outras drogas entre estudantes do 1º e 2º graus em 10
capitais brasileiras, e com isso, evidenciam que o álcool é a droga mais
utilizada pelos adolescentes, seguida à distância por tabaco, inalantes e
medicamentos psicotrópicos. Em último plano apareceram as drogas
ilícitas, como a cannabis sativa e a cocaína. Estudos mais recentes
realizados por Tiba (2007) confirmam que o álcool é a droga mais
utilizada pela juventude, sendo que alcoólatras ocupam 90% dos leitos
hospitalares destinados à dependência química.

Como visto, os adolescentes geralmente começam a fazer o uso de


substâncias de primeira linha, como o tabaco, álcool e maconha. O
tabaco constitui a causa mais previsível de doença e morte no mundo
inteiro, ocasionando cerca de 4 milhões de mortes por ano em todo o
mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em relação
aos sintomas do uso crônico, o tabaco cria rapidamente dependência
química e em um curto prazo desenvolve-se a tolerância, isto é, o
sistema de recompensa deixa de presentear com o prazer o ato de fumar
e passa a ocorrer somente o alívio da síndrome da abstinência. As
consequências do uso são tosse, mau hálito, coloração amarela dos
dentes e dedos, agravamento de asma, bronquite, câncer de pulmão e
doenças nas vias aéreas superiores. Segundo Tiba (2007), quase 30% de
todos os casos de câncer são causados pelo consumo de tabaco
(SILBER; SOUZA, 1998).

No caso do álcool, a droga mais consumida em todas as idades,


promove graves consequências para a saúde do adolescente, e
atualmente ocupa a segunda colocação na relação de maior causa de
mortes na juventude e está muito associado a comportamentos violentos
Dentre os sintomas ocasionados pelo uso crônico, pode-se citar a
intoxicação alcoólica grave, diminuição da memória de fixação e
evocação, fabulação, parada respiratória, gastrite, diarréias e vômitos
agudos e crônicos e quando associado à outra substância psicoativa, os
efeitos somam e tornam-se mais tóxicos e de ação prolongada. Além
disso, o consumo de álcool em adolescentes pode gerar conflitos na vida
familiar e profissional, além de conflitos com polícia, escola, amigos e
saúde pública. O uso prolongado da substância pode, sobretudo, gerar a
síndrome da abstinência, ocasionando um maior risco de morte em
adolescentes em decorrência da falta de controle que possuem (SILBER;
SOUZA, 1998; TIBA, 2007).

Sabe-se que a cannabis sativa, mais conhecida como maconha, é


uma substância psicoativa muito comum entre os adolescentes, sendo
considerada a droga ilegal mais consumida em todo o mundo. A
maconha pode produzir a síndrome amotivacional, caracteriza,
basicamente, por passividade indiferença, insensibilidade, falta de ação e
reação á estímulos, apatia, falta de objetivos, de ambição e de interesse
em comunicação e atividades escolares (ZAMBOM, 2009). No entanto,
Tiba (2007) ressalva que também pode provocar quadros de ansiedade,
depressões, pânicos, além de quadros psicóticos.

O consumo a longo prazo pode ocasionar câncer de pulmão,


problemas relacionados ao sistema reprodutor, queda do desempenho
intelectual, perda significativa na memória e concentração. Como citado
anteriormente, a maconha pode gerar problemas no sistema reprodutor,
nos homens diminui a produção de testosterona e nas mulheres o ciclo
menstrual é desregulado. Portanto, considera-se que a maconha priva o
indivíduo de atingir seu potencial de capacidade intelectual e física
(TIBA, 2007; MARQUES; CRUZ, 2000).

No que se refere aos prejuízos escolares causados pelo consumo da


maconha, tem-se demonstrado a queda no rendimento escolar,
isolamento social, mudança de amizades, problemas relacionados à
aprendizagem, imaturidade, aumento de conflitos por conta da
irritabilidade, distração e problemas na concentração e comunicação. Há
ainda uma perturbação na capacidade de calcular tempo e espaço, ou
seja, o usuário erra consideravelmente a discriminação do tempo, tendo a
sensação de ter passado horas, quando na verdade, passaram-se minutos,
ou ainda, metros podem parecer cinco vezes maiores para usuários
(TIBA, 2007; BAUS; KUPEK; PIRES, 2002).

Os solventes ou inalantes são todas as substâncias que podem ser


inaladas pelo nariz ou pela boca. Incluem produtos para uso doméstico e
industrial, como por exemplo, a cola de sapateiro, solventes de tinta,
benzina, esmalte e lança-perfume. Segundo pesquisa realizada em 2004
pelo CEBRID – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas
Psicotrópicas da Universidade Federal de São Paulo, a terceira droga
mais consumida na vida são os solventes e inalantes, com 15,4%. Esses
produtos contem substâncias pertencentes a um grupo químico chamado
de hidrocarboneto, que são responsáveis pelo efeito psicótico. Segundo
Carlini et al. (2001), a aspiração repetida e crônica pode ocasionar a
destruição de neurônios, causando lesões permanentes do Sistema
Nervoso Central (SNC). Contudo, os problemas não se restringem a isso,
também pode ocorrer anorexia, depressão, irritabilidade, paranóia,
dificuldades na concentração, déficit de memória assim como prejuízos
mais graves como neuropatia periférica, disfunção cerebelar e demência
(TIBA, 2007).

A cocaína é uma substância natural e altamente viciante, extraída


das folhas de uma planta, mais conhecida como coca ou epadú. Os
efeitos provocados pelo consumo de cocaína também ocorrem no
consumo do crack e da merla. No entanto, como o pó de cocaína é
consumido por aspiração ou dissolvido em água para o uso endovenoso,
está geralmente associado à transmissão de hepatites do tipo B e C e
AIDS. Os sintomas ocasionados pelo consumo crônico pode produzir
renite, necrose, perfuração do septo nasal, hipertensão arterial,
taquicardia, infarto agudo do miocárdio, aneurismas dissecantes da aorta,
hemorragias cerebrais intracranianas, atrofia cerebral, hemorragias
cerebrais e crises convulsivas (TIBA, 2007; ALBERTANI;
SCIVOLETTO; ZEMEL, 2004).

Tanto a cocaína como o crack e a merla, induzem a tolerância,


resultando em maiores doses de uso na tentativa de sentir efeitos mais
intensos. No entanto, aumentar as dosagens pode acarretar um
comportamento agressivo, irritabilidade, tremores e atitudes bizarras
devido à presença da paranoia. A paranoia, por sua vez, causa grande
desconforto nos usuários, provocando medo e desconfianças intensos, o
que resulta em situações de agressividade extrema. Além disso, o uso
crônico dessas substâncias pode provocar uma degeneração irreversível
dos músculos esqueléticos, denominada rabdomiólise (BAPTISTA-
NETO, 2009).

Consumida geralmente na adolescência, a heroína desenvolve


tolerância e a síndrome da abstinência nos usuários após oito horas do
consumo. Assim como a cocaína, a heroína possui alto risco de
contaminação pelo compartilhamento de seringas e infecções nos locais
das picadas. Além disso, a substância pode produzir quadros
psiquiátricos, e até mesmo morte por overdose (TIBA, 2007; CASTRO;
ROSA, 2010).

As anfetaminas, comumente comercializadas em festas eletrônicas,


são rapidamente absorvidas pelo organismo, produzindo efeitos de até
dez horas. Devido à euforia que a substância causa, os usuários podem
desenvolver tolerância, necessitando de doses cada vez maiores para se
satisfazer. Consumida de maneira acentuada, a substância pode provocar
perda de peso significável, efeitos neurotóxicos em neurônios
monoamianérgicos, complicações psiquiátricas e complicações
neurológicas (TIBA, 2007).

Assim como as anfetaminas, os alucinógenos também são


substâncias geralmente consumidas em festas eletrônicas por produzir
alucinações, principalmente visuais, alterações do pensamento e do
humor. Com o consumo crônico da substância, o usuário pode apresentar
quadros psicóticos, exigindo tratamento psiquiátrico (TIBA, 2007).

Portanto, o uso de drogas pode provocar complicações agudas por


intoxicação ou overdose, e crônicas com alterações duradouras ou até
mesmo irreversíveis (SOLDERA et al., 2004). Assim, tratando-se de
adolescentes, todas as substâncias psicoativas utilizadas de forma
abusiva aumentam os riscos para acidentes e violência, por conta da
redução dos cuidados de autopreservação, que nesta fase já se encontra
vulnerável.

3.4 Variáveis Socioculturais Associadas ao uso


Pesado de Drogas
Segundo Soldera et al. (2004), pesquisadores consideram que o uso
indevido de drogas na adolescência não é causado somente por um fator
isolado, mas sim, por uma combinação de fatores. Dentre os fatores de
risco que influenciam o adolescente a fazer o uso de substâncias, os mais
evidentes são os genéticos, psicológicos, familiares, socioeconômicos e
culturais.
Os fatores genéticos envolvidos nos aspectos de dependência
química são de relevância, uma vez que investigações genômicas têm
apontado características  para o fato de funções neurobiológicas
tornarem o indivíduo propenso ao uso de eventuais substâncias ilícitas
(CANAVEZ; ALVES; CANAVEZ, 2010). Baptista-Neto (2009)
corrobora ao afirmar que especialistas acreditam que fatores genéticos
respondam por até 60% da vulnerabilidade de um indivíduo à
dependência química, sendo que o restante seria resultado de fatores
ambientais.

No caso dos fatores psicológicos que tornam o adolescente


vulnerável ao consumo de drogas, encontram-se a baixa autoestima,
sintomas depressivos, rebeldia, baixa ou falta de responsabilidade,
ausência de limites, necessidades de buscar novas experiências, caráter
onipotente, imaturidade afetiva, problemas de identidade e até a
necessidade de se sentir aceitável por um grupo. Como exemplo disso, é
possível citar que adolescentes deprimidos ou ansiosos podem recorrer
às drogas para se sentirem mais relaxados, ou adolescentes com
dependência em drogas têm mais dificuldades para tolerar problemas do
cotidiano, muitas vezes recorrendo às drogas quando se sentem
frustrados, e assim por diante (CANAVEZ; ALVES; CANAVEZ, 2010).

O âmbito familiar, assim como a qualidade do convívio com os


pais a partir do nascimento, certamente influencia o comportamento
futuro dos filhos nas suas relações íntimas e na forma como lidarão com
as pessoas ao seu redor (BAPTISTA NETO, 2009). A família exerce
importante influência ao indivíduo, mas, quando há conflitos entre os
pais, este se torna um dos fatores que mais propiciam o adolescente a
fazer o uso de drogas, pois deixa exposto à hostilidade, a crítica
destrutiva e a raiva.

Aspectos culturais tanto subjetivos como familiares também


exercem influência significativa sobre o jovem, sendo assim, a presença
de pais que usam algum tipo de drogas, a incapacidade de controlar os
filhos, indisciplina e uso de drogas pelos irmãos, ou ainda conviver com
os pais separados, são fatores que predispõe à maior iniciação ou
continuação de drogas por parte dos adolescentes. Pais usuários de
substâncias, tanto lícitas quanto ilícitas, estão ensinando os filhos a ter
esse mesmo comportamento. O convívio em uma família que considera
aceitável o fato do adolescente consumir qualquer substância psicoativa
é uma porta que se abre para que ele também seja aceito (BARRETO,
2000 apud CANAVEZ; ALVES; CANAVEZ, 2010).

Acerca de aspectos socioeconômicos envolvidos, a maior


disponibilidade financeira exerce uma função facilitadora para o
consumo de drogas. Indivíduos que estejam inseridos em um patamar
elevado socioeconômico, tendem a ter acesso facilmente à drogas. Outro
fator propiciador para o uso de drogas é o desemprego. Segundo
pesquisas, estudantes que possuem um maior tempo livre estão mais
vulneráveis ao uso de drogas (SOLDERA et al., 2004).

Fatores demográficos como, idade, gênero e cor também estão


relacionados ao uso de drogas. Adolescentes do sexo masculino possuem
preferência em maconha e cocaína, enquanto que adolescentes do sexo
feminino consomem mais drogas em forma de medicamentos sem
prescrição, principalmente ansiolíticos, utilizados geralmente com o
intuito de diminuir a ansiedade/tensão e anfetamínicos que estimulam o
sistema nervoso central, fazendo o cérebro trabalhar mais depressa,
utilizado para permanecerem longos períodos sem comer (BAUS;
KUPEK; PIRES, 2002).

A dimensão religiosa também se revela neste assunto, sendo que a


literatura revela que jovens ligados a alguma religião que considera o
consumo de drogas como algo inaceitável e pecador fazem menos uso de
drogas do que adolescentes que não possuem práticas religiosas
(SOLDERA et al., 2004).

Por fim, no que diz respeito a eventos estressantes pode-se citar


situações adversas como a morte, doenças ou acidentes entre membros
da família e amigos, mudanças de escola ou de residência, separação,
divórcio ou novo casamento dos pais, problemas financeiros na família,
entre outros. Segundo pesquisas, os aspectos supracitados podem
influenciar o consumo de drogas quando associados a fatores
psicológicos individuais (SCHENKER; MINAYO, 2005).

De forma sintetizada, os autores Tavares, Béria e Lima (2004, p.


789) desenvolveram um esquema que exemplifica o sistema de fatores
que influenciam o consumo de drogas, como visto a seguir:
Fonte: Tavares, Béria e Lima (2004, p. 789).

3.5 Risco e Fatores de Risco para o Uso de


Drogas
Inicialmente, é relevante particularizar os conceitos de risco e fator
de risco, sendo que risco define-se como a consequência da livre e
consciente decisão de se expor a uma situação na qual o indivíduo busca
a satisfação de um desejo ou bem, podendo estar vulnerável a um evento
que possa lhe causar algum dano físico, psicológico e/ou financeiro, e
fatores de risco caracteriza-se por condições ou variáveis associadas à
possibilidade da ocorrência de fatores negativos para a saúde bem-estar e
desempenho social, que por ventura, tornam a pessoa vulnerável a
assumir comportamentos arriscados, como por exemplo, cometer o
abuso de substâncias (CASTRO; ROSA, 2010).
Em outras palavras, fatores de risco relacionam-se a eventos
negativos de vida, que quando presentes aumentam a probabilidade do
indivíduo apresentar problemas físicos, sociais e/ou emocionais
(POLETTO; KOLLER, 2008).

Ficar exposto a esses fatores poderá afetar negativamente o


desenvolvimento de qualquer indivíduo, trazendo problemas
principalmente acerca de aspectos psicológicos e comportamentais.
Além disso, acredita-se que condições de pobreza, famílias
desestruturadas, filhos de pais com problemas psicopatológicos, são
fatores  de risco que podem ocasionar ou facilitar o consumo de drogas
(SAPIENZA; PEDROMÔNICO,2005).

Segundo pesquisas realizadas por Castro e Rosa (2010), um


indivíduo não começa o consumo de substâncias por apenas um fator
isolado, mas sim, um conjunto de fatores que interligados influem o
indivíduo para consumi-la. Destacam-se, portanto, os sistemas da
família, escola, amigos e a comunidade, os quais o adolescente está
inserido e interage frequentemente.

Estas instituições possuem um papel fundamental como fatores de


proteção, porém, também podem assumir um papel de fator de risco se
exercer influência que leve ao consumo de drogas. Como exemplos
disto, no âmbito familiar os fatores que podem desencadear o consumo
de drogas envolvem pais que fazem o abuso de drogas, que sofrem de
doenças mentais, excessivamente autoritários ou muito exigentes,
conflitos familiares, ou ainda, pais negligentes. Já no que tange ao
âmbito escolar, pode-se afirmar que os fatores negativos são baixo
desempenho escolar, falta de regras claras, exclusão social, falta de
vínculos ou problemas de aprendizagem.

Outro ambiente que o adolescente interage diretamente e é


influenciado, diz respeito à comunidade. Neste contexto, podem estar
presentes os seguintes fatores de risco para o consumo de drogas:
violência, escassez de recursos para prevenção do consumo de
substâncias, assim como falta de oportunidades de trabalho e lazer.
Assim, quando o indivíduo participa de um contexto em que a violência
é considerada como algo comum, a tendência será deste aprender por
meio das atitudes dos outros, e, consequentemente, se tornar violento e
estar frequentemente envolvido com roubos e consumo de drogas
(BAUMKARTEN, 2006).

No que diz respeito aos fatores de risco individuais, pode-se citar:


insegurança, insatisfação com a vida, sintomas depressivos, curiosidade
e busca pelo prazer. O risco torna-se ainda maior quando os adolescentes
já possuem alguma tendência psicótica, isto é, tem uma predisposição a
surtos psicóticos, a droga passa a ser um veículo para as manifestações
dessa psicose latente (VIZZOLTO, 1988).

Segundo Vizzolto (1988), entre os fatores determinantes para o


consumo de drogas na adolescência, estão à busca pelo status social e a
falta de religiosidade. Nowlis (1987 apud BAUMKARTEN, 2006)
corrobora ao afirmar que, muitos adolescentes consomem drogas como
forma de adquirir prestígio social frente às suas relações amorosas.
Como já mencionado anteriormente, a prática religiosa por parte dos
adolescentes acaba construindo uma barragem para o consumo, o que
denota ser um fator protetivo para o não uso de drogas.

Ainda, existem fatores de risco relacionado à própria substância, os


quais podem ser mencionados a facilidade para sua obtenção, influência
da mídia e fácil desenvolvimento à dependência. É inegável que os
meios de comunicação podem ser um veículo de informações que podem
servir tanto para facilitar o consumo, quanto para prevení-lo. Diversas
vezes observa-se em filmes ou novelas uma distorção da realidade acerca
da drogadição, isto é, a ideia passada por esses meios dá a entender que
consumir drogas na adolescência é algo normal e que não produz
consequências negativas a saúde e a qualidade de vida (CASTRO;
ROSA, 2010; BAPTISTA-NETO, 2009).

A partir dessas informações, pode-se afirmar que fatores


ambientais e genéticos contribuem significativamente para o uso
indevido de drogas (CASTRO; ROSA, 2010). Neste caso, filhos de pais
dependentes de drogas possuem uma pré-disposição para o consumo de
forma indevida. Já em relação aos aspectos ambientais, a exposição aos
modismos é particularmente importante sobre a adolescência, pois
reflete a tendência do momento e os adolescentes estão vulneráveisà
essas influências.
3.6 Mecanismos de Proteção: Desenvolver a
Resiliência
Fatores de proteção são descritos como recursos pessoais ou sociais
que neutralizam o impacto do risco. Estes fatores podem atuar como um
escudo para favorecer o desenvolvimento humano, quando pareciam sem
esperança de superação por sua intensa ou prolongada exposição a
fatores de risco, o que demanda a existência de suporte social e de um
autoconceito positivo, servindo de proteção contra os efeitos de
experiências estressantes (SAPIENZA; PEDROMÔNICO, 2005).

Em outras palavras, fatores de proteção também devem ser


abordados como processos, nos quais diferentes fatos interagem entre si
e alteram atrajetória do indivíduo, produzindo uma experiência de
cuidado, fortalecimento ou amparo ao risco. Dentre os fatores que
proteção que determinam o não uso de drogas, o aspecto pessoal que
mais deve ser ressaltado, diz respeito à resiliência. A resiliência

constitui a capacidade de reduzir os impactos negativos dos riscos


frente às situações adversas, estabelecer a autoestima por meio das
relações de afeto seguras, e, ainda, criar oportunidades para reverter o
quadro de risco (FERRO; GAYA, 2014).

Para a psicologia, o termo resiliência caracteriza a capacidade de


um indivíduo superar situações negativas, ou seja, a técnica de se resistir
flexivelmente às adversidades, como por exemplo, a perda de algum ente
querido, descobrir uma doença, receber uma nota baixa e mesmo assim,
buscar estratégias para esquivar-se delas ou superá-las, pode ser definida
como resiliência (ANGST, 2013; YUNES; SZYMANSKI, 2002).

A resiliência também pode ser definida como uma predisposição do


indivíduo recuperar-se e manter um comportamento apropriado após um
dano sofrido. Essa possibilidade de superação não significa uma
eliminação de algum evento ocorrido, mas sim, atribuir um novo
significado para o evento (VERGARA, 2008; GODOY et al., 2010).

Na medida em que o resiliente lança mão de seus recursos positivos


para enfrentar as adversidades, esta se torna um fator de proteção para a
adaptação do indivíduo as exigências do mundo contemporâneo.
Ressalta-se que, a resiliência não é uma característica fixa da pessoa,
pode ter início e desaparecer em determinados momentos da vida, bem
como estar presente em algumas áreas e ausente em outras. Pode-se
entender que a resiliência não somente é uma característica subjetiva de
cada indivíduo, como também é uma capacidade inata, adquirida à partir
da interação dinâmica entre as características individuais e a
complexidade do contexto ecológico (POLETTO; KOLLER, 2008;
SAPIENZA; PEDROMÔNICO, 2005).

Sameroff et al. (1987 apud SAPIENZA; PEDROMÔNICO, 2005),


constatou, por meio de pesquisas, que crianças expostas a um elevado
número de riscos, possuem uma história pobre de frequente adaptação,
tornando-se mais resilientes. Já Haggertyet al. (2000 apud SAPIENZA;
PEDROMÔNICO, 2005) acreditam que adultos e crianças em situações
de risco podem tirar aproveito de suas competências, as quais podem
servir como protetoras contra as adversidades, independentemente do
número de riscos.

Portanto, considera-se a resiliência como uma estratégia de


enfrentamento para o uso de drogas, com possibilidades de contribuição
para a autonomia, competência social, autoregulação e inteligência do
adolescente. Estudos indicam que adolescentes que possuem a resiliência
mais desenvolvida, tendem a consumir menos álcool, tabaco e outras
drogas, o que demanda compreender mais a fundo sobre esse construto,
para a posteriori elaborar programas para o treinamento da resiliência
como forma preventiva ao uso de drogas (AMATO, 2010; INFANTE,
2005).

4. Objetivos

4.1 Objetivo Geral


4.1.1 Analisar os fatores de risco e de proteção relacionados ao uso
indevido de drogas entre estudantes da 3ª série do Ensino Médio da
Escola de Educação Básica Santa Teresinha.

4.2 Objetivos Específicos


4.2.1 Propiciar um ambiente acolhedor com o intuito de facilitar o
relato dos participantes;

4.2.2 Disponibilizar informações à respeito das drogas e suas


respectivas consequências à saúde e à vida do indivíduo que lhe permita
reconhecer desvios da normalidade e o leve a procurar meios para
corrigi-los;

4.2.3 Identificar os aspectos que influenciam o uso de drogas entre


adolescentes, bem como os motivos que impedem o adolescente de
consumir drogas;

4.2.4 Desenvolver dinâmicas direcionadas a resiliência, visando seu


aperfeiçoamento como fator de proteção;

4.2.5 Oportunizar debates e reflexões em torno dos fatores de


ordem pessoal, familiar, econômico, cultural que influem ao uso abusivo
de drogas.

5. Metodologia

5.1 Delineamento
Trata-se de um estudo de natureza qualitativa, na qual opera uma
compreensão profunda de certos fenômenos sociais, apoiados no
pressuposto do aspecto subjetivo da ação social, visto que tem como
foco principal, fenômenos complexos e/ou únicos. Pode-se afirmar que,
a pesquisa é do tipo descritiva-exploratória. Esta visa descrever as
características do fenômeno a ser pesquisado, bem como busca conhecer,
explorar e elucidar determinado tema, proporcionando novas hipóteses e
visões acerca do objeto pesquisado, através da utilização de técnicas
padronizadas, tais como coleta de dados, questionário e observação
sistemática, sendo esta uma pesquisa voltada para atuação prática (GIL,
2008).

Em relação ao método, este tem por modalidade a pesquisa-ação. A


pesquisa-ação possui base empírica, caracterizando-se por uma relação
direta do pesquisador com o grupo pesquisado e origina-se de
necessidades sociais reais, buscando produzir transformações e
ressignificações no ambiente pesquisado, baseando-se em reflexões e
criações coletivas. A pesquisa-ação é frequentemente utilizada para
pesquisas voltadas as áreas da educação, política, agronomia,
publicidade e propaganda, assim como na área organizacional, bancária
e de saúde (GIL, 2008; GRITTEM; MEIER; ZAGONEL, 2008).

Para avaliar os resultados obtidos no roteiro de entrevista


semiestruturada, foi escolhido o método da Análise de Conteúdo. A
mesma surgiu no século XX nos Estados Unidos nas análises
jornalísticas, porém logo, passou a ser interesse de cientistas de diversas
áreas. A análise de conteúdo pode ser tanto quantitativa, quando traça
uma frequência das características que se repetem no conteúdo do texto
ou qualitativa quando considera a presença ou ausência de determinada
característica na mensagem (CAREGNATO; MUTTI, 2006).

Em suma, os autores Caregnato e Mutti (2006, p. 632) trazem a


análise de conteúdo como sendo “uma técnica de pesquisa que trabalha
com a palavra, permitindo de forma prática e objetiva produzir
inferências do conteúdo da comunicação de um texto replicáveis ao seu
contexto social”. Portanto, por meio da expressão do sujeito, a análise do
conteúdo deverá buscar categorizar unidades no texto (palavras ou
frases) que repetem-se, denotando um tipo de expressão representativa
ligada ao objetivo do estudo.

Vale destacar que o presente plano de ação servirá como apoio para
a intervenção, caso esta seja a necessidade real do público-alvo. Desta
forma, se for constatado, por meio das atividades planejadas, que
existam outras necessidades de intervenção, o plano de ação será
reformulado pelos acadêmicos a fim de atendê-las e promover melhorias.

5.2 Participantes
Os participantes da pesquisa serão adolescentes com faixa etária
entre 16 a 18 anos, matriculados na 3ª série do Ensino Médio do período
noturno na Escola de Educação Básica Santa Teresinha.

5.3 Encontros e seus Respectivos


Instrumentos
O projeto será desenvolvido em encontros com datas ainda não
oficializadas, previstos para o ano de 2016. Como citado no cronograma,
as atividades planejadas necessitam, no mínimo, de sete encontros, mas,
considera-se que poderá sofrer ajustes com eventuais novos encontros,
dependendo da demanda e da necessidade. A duração de cada encontro
será de aproximadamente 60 minutos. A prática irá ocorrer na Clínica
Escola e Serviços de Psicologia (CESP), localizada nas proximidades do
Centro Universitário de Brusque - UNIFEBE, mais especificamente na
Rua Dorval Luz, 123, Bairro Santa Terezinha, CEP: 88352-400, Brusque
– SC.

5.1.1 Encontro 01

O primeiro encontro será realizado na Escola de Educação Básica


Santa Teresinha, com o intuito de facilitar a apresentação da proposta de
intervenção. Previamente, os acadêmicos desta pesquisa irão apresentar a
proposta de intervenção, certificar os participantes sobre os objetivos do
presente trabalho, assim como o anonimato das informações a serem
coletadas durante os encontros. Além disso, será descrito como e onde
irá ocorrer os encontros e atividades. Após a explanação, será realizado o
levantamento dos alunos que desejam participar da pesquisa, para
eventual alteração do planejamento dos encontros.

5.1.2 Encontro 02

No segundo encontro, será realizado atendimento individual na


CESP, devendo acontecer em um horário que seja viável tanto para o
pesquisador, quanto para o participante. O primeiro objetivo deste
encontro será sensibilizar o participante da relevância da pesquisa,
explicitando sobre os tipos de drogas e suas consequências à saúde e
qualidade de vida. Após, será realizada a coleta de dados por meio do
questionário sociodemográfico (apêndice B), composto por perguntas
que visam a identificação de aspectos socioculturais do participante que
podem estar relacionados com o uso de drogas.

5.1.3 Encontro 03

Antes de iniciar a atividade, será questionado aos participantes


quanto à compreensão em relação a: resiliência, adversidade,
vulnerabilidade e fatores de risco, para posterior registrá-las em uma
cartolina que ficará exposta no centro da sala. No decorrer, o orientador
irá apresentar os conceitos citados anteriormente, visando o
esclarecimento de dúvidas. A segunda etapa da atividade consiste em
entregar aos participantesuma ficha que contém o conceito de cada
termo, como visto abaixo:

RESILIÊNCIA ADVERSIDAD VULNERABILIDADE FA


E DE RISC

Resiliência é a Contrariedade ou Vulnerabilidade é a São


habilidade do indivíduo oposição à condição predisposição a desordem ou de risco
de manejar seus normal da vida ou das suscetibilidade psicológica que eventos
recursos pessoais e atividades impede o indivíduo responder, que aum
contextuais a fim de desenvolvidas pelos de forma satisfatória, quando probabili
superar alguma seres humanos submetido à situações de risco apresenta
adversidade (INFANTE, 2005). ou eventos estressores problema
(SAPIENZA; (YUNES; SZYMANSKI, social,
PEDROMÔNICO, 2002). emociona
2005). indivíduo
(YUNES
SZYMA
2002).

Quadro 01: Ficha de reconhecimento de conceitos apresentados no


encontro.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2015.

Ao prosseguir a atividade, serão distribuídas novas fichas,


conforme formato abaixo, em que cada participante tendo como
orientação os conceitos de resiliência, adversidade, vulnerabilidade e
fatores de risco, deverá discutir e relacionar situações pessoais de sua
vida em que esses conceitos estão concretamente inseridos.

RESILIÊNCI ADVERSIDAD VULNERABILIDADE FATO


A E ES
RISCO

       
 

Quadro 02: Ficha de reconhecimento de conceitos apresentados no


encontro.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2015.

Os participantes serão convocados a socializar seus resultados com


os demais membros do grupo. Juntamente com o orientador, cada
participante irá retomar sua resposta inicial escrita na cartolina,
relacionar com a teoria apresentada nas fichas e na explicação do
orientador, assim como relatar as situações descritas na segunda ficha. O
objetivo desta atividade é realizar uma análise comparativa, como
recurso para consolidar o conhecimento sobre os termos e reconhecer a
realidade dos participantes.

5.1.4 Encontro 04

Neste encontro, já será possível analisar se esta intervenção irá


oferecer suporte a real necessidade do contexto. Em caso positivo, será
realizado um feedback do encontro anterior, relembrando conceitos e
consequências do uso de drogas, a fim de garantir o entendimento do
participante sobre a temática. Com isso,

será realizada a entrevista semiestruturada individual (apêndice C)


com o objetivo de identificar a ocorrência de uso de substâncias lícitas e
ilícitas, investigar o histórico de comportamentos dos participantes, bem
como possíveis influências que originaram o consumo de substâncias.

A segunda atividade proposta para este encontro consiste em uma


dinâmica reflexiva com foco na resiliência. Os participantes serão
divididos em quatro grupos. Será entregue a cada grupo dois fatores de
resiliência com seus respectivos significados, conforme visto abaixo:

Grupo 01

FATORES DE SIGNIFICADO
RESILIÊNCIA

  É a habilidade de se manter calmo


sob pressão. Para utilizar essa habilidade,
  as pessoas costumam aglutinar um
conjunto de aptidões, conseguindo com
Administração isso, obter a autoregulação. Quando a
das emoções presença desta capacidade é rudimentar, as
pessoas percebem dificuldades em manter
relacionamentos e, com frequência,
desgastam emocionalmente os que
convivem com elas e se tornam pessoas
difíceis no ambiente profissional.

  É compreendido como a habilidade


de não agir impulsivamente. Pessoas que
  têm um quociente de resiliência elevado
neste fator são propensas a ter um alto
Controle dos quociente de resiliência em Administração
impulsos de Emoções. Ambas as habilidades são
vistas como estruturadas a partir de
sistemas de crenças parecidas na pessoa,
gerando nelas a conexão entre si.

Quadro 03: Fatores de resiliência e seus respectivos conceitos.

Fonte: Adaptado de Belmont (2009, p. 19).

Grupo 02

FATORES DE SIGNIFICADO
RESILIÊNCIA
Otimismo É a habilidade de ter a firme
convicção de que a situação irá mudar para
melhor quando envolvida em adversidade
e manter a esperança de um futuro
promissor, por se acreditar em ter a
capacidade para gerenciar a adversidade
que venha surgir no amanhã. O otimismo
quando somado com a autoeficácia
promove a motivação para a busca de
soluções e recuperação.

Auto eficácia É a convicção de ser eficaz nas


ações. Sinaliza a crença de poder encontrar
soluções para os problemas que por
ventura possam surgir com a certeza de se
sobressair.

Quadro 04: Fatores de resiliência e seus respectivos conceitos.

Fonte: Adaptado de Belmont (2009, p. 19).

Grupo 03

FATORES DE SIGNIFICADO
RESILIÊNCIA

Análise do Descreve a habilidade de identificar


ambiente precisamente as causas dos problemas e
das adversidades. Quando incrementamos
em nós a capacidade de lermos de maneira
correta o ambiente que nos cerca, com o
qual estamos envolvidos, passamos a
entender melhor o processo que está ao
nosso redor e maior será nossa capacidade
de responder o que nos está sendo
proposto.

Empatia É a habilidade de se colocar no lugar


do outro, imaginando-se nas mesmas
condições que este para melhor entendê-lo
e ajudá-lo.

Quadro 05: Fatores de resiliência e seus respectivos conceitos.

Fonte: Adaptado de Belmont (2009, p. 19).

Grupo 04

FATORES DE SIGNIFICADO
RESILIÊNCIA

Alcançar pessoas É a habilidade de se conectar a outras


pessoas para viabilizar soluções para
adversidades da vida. Trata-se de não
alimentar o medo de se expor ao fracasso e
ao ridículo em publico e não superestimar
que as probabilidades de tentativas
fracassadas levam a finais catastróficos.

Humor Significa a capacidade de expressar


em palavras, gestos ou atitudes corporais
os elementos cômicos, incongruentes ou
hilariantes de uma situação, obtendo um
efeito tranquilizador e prazeroso,
facilitando um certo distanciamento do
problema e favorecendo a tomada de
decisão para resolvê-lo.

Quadro 06: Fatores de resiliência e seus respectivos conceitos.

Fonte: Adaptado de Belmont (2009, p. 19).

Os grupos serão orientados a fazer a leitura dos fatores de


resiliência e seus significados, conforme consta na ficha acima, e em
seguida, responder as seguintes questões:

 Essas características estão presentes em meus comportamentos?


 Em que momentos estes fatores são exigidos em minha vida?
 Quais ações podem fortalecer as minhas qualidades?

O aplicador distribuirá uma folha de papel A4 para cada


participante responder, com prazo estimado de 10 minutos para a
finalização das questões. Ao

final da atividade, ocorrerá a socialização das respostas, bem como


a relação da dinâmica com o tema ‘drogas’.

5.1.5 Encontro 05

Como prática voltada à reflexão acerca do respeito e valores


pessoais, buscou-se a realização de uma dinâmica denominada
‘Dinâmica do Coração’. Esta dinâmica visa proporcionar momentos
reflexivos acerca das atitudes que estão sendo prestadas a fim de
modificar a realidade dos usuários de drogas presentes em nossa
comunidade, assim como possibilita perceber o conhecimento do
participante sobre as práticas interventivas instituídas em sua
comunidade. A dinâmica demanda um desenho decoração, que deverá
ser posicionado no centro da sala, com os alunos em volta em formação
de círculo.

Em um primeiro momento, cada participante escreve em um papel


uma palavra que expresse o que vê e ouve das pessoas da comunidade à
respeito do mundo das drogas e das vítimas da dependência e o
posiciona fora do coração. Feito isso, solicita-se aos participantes que
escrevam dentro do coração uma palavra que expresse o que está sendo
feito para reduzir a problemática das drogas em nossa comunidade e na
sociedade de modo geral. Quando todos finalizaram, pedir que
comparem o que está escrito dentro e fora do coração, por fim,
questionar qual a posição que este possui em relação às drogas e suas
vítimas.

A partir disso, será organizada uma roda de conversa para discutir


os argumentos que foram relatados em cada questão da dinâmica do
coração, deixando um espaço livre para aqueles que desejarem expor sua
opinião, e possíveis propostas de melhorias que poderiam ser realizadas
para modificar a realidade da drogadição na adolescência.

5.1.6 Encontro 06
Para desenvolver atividades que mostrem aspectos a serem
modificados para aprimorar a resiliência dos estudantes, o presente
encontro trará a atividade de Psicodrama ‘O Teatro da Espontaneidade’.
A atividade será realizada da seguinte maneira: o orientador irá dividir o
grupo em quatro pequenos grupos, será realizada a leitura de uma
situação-problema (apêndice D) envolvendo um problema de saúde

recém-descoberto pelo receptor. Logo, em cada grupo deverá


constar cinco personagens diferentes (mãe/pai/responsável; diretor
escolar; amigo; membro da comunidade; cônjuge), em que deverão
dramatizar a situação conforme reagiriam diante de tal situação. Cabe
mencionar que o tempo limite para o planejamento da dramatização será
de 10 minutos, sendo que o próprio grupo será responsável por atribuir a
cada participante um personagem da história para dramatizar.

A proposta é que os estudantes se coloquem no lugar do outro por


meio da dramatização, além de possibilitar a observação de
comportamentos que possam ser resilientes em cada um. Contudo,
observa-se que foram atribuídos a cada grupo, personagens que impõe
influencia significativa sobre o indivíduo, para assim desenvolver um
olhar diferenciado nos estudantes. Após as dramatizações, cada membro
do grupo irá explicar quais os sentimentos que tiveram durante a
elaboração do roteiro e descrever como chegou à conclusão final dos
comportamentos que iria dramatizar.

Como fechamento do encontro, o orientador irá analisar as


dramatizações identificando os comportamentos que mais se classificam
em resilientes, reforçando tais comportamentos, e mostrando outros
caminhos que poderiam ser elencados em caso de comportamentos não
resilientes, a fim de modificá-los.

5.1.7 Encontro 07

Como fechamento das intervenções, será apresentado um vídeo que


conta a história verídica de superação de Taylor Morris. Solicita-se que,
após a visualização do vídeo, sejam descritos em uma folha os fatores de
risco, assim como os fatores de proteção contidos no mesmo. Assim que
todos os participantes concluírem a atividade, será socializado com os
demais, o que cada um considerou como fator de proteção e de risco,
argumentando sobre os motivos que o levaram a escolher tais
acontecimentos. Solicita-se ao grupo que analisem e procurem
identificar na história os fatores de resiliência que foram discutidos no
encontro anterior.

Por fim, os acadêmicos irão dar um feedback das intervenções,


visando o esclarecimento de dúvidas e hipóteses levantadas. Além disso,
com o intuito de receber uma devolutiva e opinião sobre aspectos que
foram relevantes e que possam ser modificados para promover melhorias
pessoais e de trabalhos nos  acadêmicos que realizaram as intervenções,
será posicionado no centro do ambiente uma caixa, a qual será
solicitado feedback dos encontros (apêndice E), ao mesmo tempo em
que é garantido o sigilo dos participantes para facilitar a disponibilização
de sugestões. Assim, acredita-se que por meio do feedback, possamos
nos aprimorar e melhorar a intervenção, caso for realizada novamente
com novos indivíduos.

6. Cronograma

D HOR LOCAL
ATA ÁRIO

    Apresentação da proposta de intervenção


na Escola de Educação Básica Santa Terezinha.
1 A
º dia definir Identificar os alunos que desejam
participar da intervenção.

    Intervenção individual na Clínica Escola e


Serviços de Psicologia – CESP.
2 A
º dia definir Sensibilização e apresentação do tema,
bem como sua importância;

Aplicação do questionário
sociodemográfico.

    Dinâmica de grupo para a explicação dos


conceitos de: resiliência, adversidades,
3 A vulnerabilidade e fatores de risco.
º dia definir
Identificar e compartilhar momentos que
se enquadram a cada conceito.

    Feedback do encontro anterior.

4 A Aplicação individual da entrevista


º dia definir semiestruturada para investigar o consumo de
substâncias lícitas e ilícitas.

Dinâmica para identificar comportamentos


resilientes.

    Realização da Dinâmica do Coração


realizada em grupo.
5 A
º dia definir Roda de conversa.

    Realização de atividade de Psicodrama:


“O Teatro da Espontaneidade”.
6 A
º dia definir Discussão e opinião sobre as atitudes
representadas pelos estudantes.

    Apresentar um vídeo demonstrando a


história de superação de Taylor Morris, com
7 A foco na resiliência.
º dia definir
Solicitar feedback das intervenções a fim
de promover melhorias em futuros trabalhos
acadêmicos dos autores;

Fechamento da intervenção.

Quadro 07: Cronograma de atividades do plano de ação.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2015.


Sobre os Autores:

Referências:

Como citar este artigo:


Seguindo normatização ABNT para citação de sites e artigos online:

DIAS, Jones Ivan; MAESTRI, Maísa Hodecker e Mauriane Lira. Fatores de Risco e Proteção
para o Consumo de Drogas na Adolescência. Psicologado, [S.l.]. (2016). Disponível
em https://psicologado.com.br/psicopatologia/saude-mental/fatores-de-risco-e-protecao-para-o-consumo-
de-drogas-na-adolescencia . Acesso em 5 Mai 2020.

Seguindo normatização ISO 690/2010 para citação de sites:

DIAS, Jones Ivan; MAESTRI, Maísa Hodecker e Mauriane Lira. Fatores de Risco e Proteção
para o Consumo de Drogas na Adolescência [online]. Psicologado, (2016) [viewed date: 06
May 2020]. Available from https://psicologado.com.br/psicopatologia/saude-mental/fatores-de-risco-e-
protecao-para-o-consumo-de-drogas-na-adolescencia
(4)
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CONSUMO DE ÁLCOOL NOS ADOLESCENTES CAPACITAÇÃO DE UM GRUPO DE PROMOTORES


DA SAÚDE Ana Margarida Mostardinha Alves Murteiro Relatório de estágio orientado por:
Professora Cláudia Mariana Julião Bacatum Lisboa 2012 1 ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM
DE LISBOA CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO DE
ENFERMAGEM COMUNITÁRIA UNIDADE CURRICULAR ESTÁGIO COM RELATÓRIO CONSUMO
DE ÁLCOOL NOS ADOLESCENTES CAPACITAÇÃO DE UM GRUPO DE PROMOTORES DA SAÚDE
Ana Margarida Mostardinha Alves Murteiro Relatório de estágio orientado por: Professora
Cláudia Mariana Julião Bacatum Lisboa 2012 2 AGRADECIMENTOS Um sincero OBRIGADO a
todas as pessoas que contribuíram para a realização deste trabalho. Em primeiro lugar à minha
orientadora, Professora Cláudia Bacatum, pela disponibilidade e apoio, bem como pelo
incentivo e confiança nos meus interesses e realizações pessoais. Um reconhecido
agradecimento à equipa da UCSP pela forma como me acolheram e apoiaram ao longo de todo
este percurso, por acreditarem e proporcionarem todas as condições para a realização da
minha intervenção e pelo constante incentivo e partilha. Às pessoas que participaram na
intervenção pela sua disponibilidade e motivação, pela sua entrega à intervenção e à
comunidade, e pela sua capacidade de compromisso e intenção de assumir um papel activo
como promotores da saúde no seio da sua comunidade. A todos os parceiros que contribuíram
para a concretização da intervenção comunitária. Aos profissionais pelo suporte que
proporcionaram longo de todas as etapas do processo, pela sua disponibilidade e pela
objectividade e partilha. Às associações comunitárias pela forma como acolheram e
acreditaram na intervenção e nas estratégias seleccionadas, e por disponibilizarem os meios
necessários para a sua consecução. Não poderia deixar de agradecer aos que me estão
próximos, família e amigos, pelo estímulo e compreensão das ausências e falhas de quem se
divide por entusiasmo e vontade de saber. 3 RESUMO O consumo de álcool acarreta
significantes problemas, colocando em perigo a saúde e bem-estar individual, familiar e social,
pelo que se assume como um grave problema de Saúde Pública. Na adolescência o consumo
de álcool é preocupante pois para além de provocar danos cerebrais, existe a evidência de que
o início precoce de consumo de álcool está associado a comportamentos de risco. Tendo em
conta a magnitude e complexidade do fenómeno do consumo de álcool, a intervenção nesta
problemática deve considerar o individuo, pares, família e comunidade. Neste contexto é
urgente que o enfermeiro comunitário desenvolva estratégias de intervenção direccionadas à
educação para o consumo de álcool nos adolescentes, com especial foco na promoção da
saúde. A intervenção comunitária teve por objectivo promover a capacidade de um grupo de
promotores da saúde desenvolver actividades de educação pelos pares no âmbito do consumo
de álcool nos adolescentes, tendo sido realizada no território da Alta de Lisboa junto de 16
participantes. Como metodologia foi seguido o Planeamento em Saúde, de acordo com
Tavares, e como referencial teórico optou-se pelo Modelo de Promoção da Saúde, de Nola
Pender. No diagnóstico de situação recorreu-se ao Questionário de Conhecimentos acerca do
Álcool, de Barroso, Mendes e Barbosa, e a um Questionário de Caracterização. Os resultados
obtidos evidenciam a ausência de conhecimentos de estratégias de intervenção da educação
pelos pares no âmbito do consumo de álcool nos adolescentes, bem como défices de
conhecimentos relativos ao álcool e bebidas alcoólicas e às repercussões individuais dos
problemas ligados ao álcool. O processo de capacitação teve por base a Educação pelos Pares
como estratégia de promoção da saúde e prevenção dos consumos, e o estabelecimento de
parcerias comunitárias. A intervenção comunitária desenvolvida atingiu os objectivos a que se
propôs, e permitiu o desenvolvimento de competências especializadas em enfermagem
comunitária. Palavras-chave: adolescentes, consumo de álcool, promoção da saúde, educação
pelos pares, enfermagem comunitária. 4 ABSTRACT Alcohol consumption causes significant
problems, endangering the health and wellbeing of individuals, families and society, emerging
as a serious public health problem. In adolescence alcohol consumption is worrying because,
besides causing brain damage, there is evidence that early initiation of alcohol consumption is
associated with risky behaviors. Taking into account the magnitude and complexity of the
phenomenon of alcohol consumption, the intervention on this matter should consider the
individual, peers, family and community. In this context it is urgent that the community nurse
develops intervention strategies directed to alcohol consumption education in adolescents,
with special focus on health promotion. The community intervention aimed to promote the
ability of a group of health promoters to develop peer education activities on alcohol
consumption among adolescents, and was conducted in Alta de Lisboa territory, with 16
participants. The methodology followed was the Health Planning, according to Tavares, and as
theoretical framework it was chosen the Nola Pender’s Health Promotion Model. In the
diagnosis of the situation were used both, the Questionário de Conhecimentos acerca do
Álcool (Questionnaire of Knowledge on Alcohol), of Barroso, Barbosa and Mendes, and a
Characterization Questionnaire. The results show the absence of knowledge of peer education
intervention strategies in the context of alcohol consumption in adolescents, as well as deficits
in knowledge about alcohol and alcoholic beverages, and the effects of individual
alcoholrelated problems. The empowerment process was based on Peer Education as a
strategy of health promotion and prevention of consumption, and on the establishment of
community partnerships. The developed community intervention achieved the objectives that
were established, and allowed the development of specialized skills in community nursing.
Keywords: adolescents, alcohol consumption, health promotion, peer education, community
nursing. 5 ÍNDICE LISTA DE SIGLAS
INTRODUÇÃO...............................................................................................................8 1.
ENQUADRAMENTO TEÓRICO .................................................................................10 1.1. A
Adolescência........................................................................................................10 1.1.1.
Adolescência e Comportamentos de Saúde.....................................................11 1.1.2.
Adolescência e o grupo de pares......................................................................12 1.2. O Consumo
de Álcool na Adolescência ..................................................................13 1.3. A Enfermagem
Comunitária e a Promoção da Saúde dos Adolescentes ...............15 1.3.1. Prevenção do
Consumo de Álcool na Adolescência - Educação pelos Pares..17 1.3.2. Modelo de Promoção da
Saúde de Nola Pender..............................................20 2.
METODOLOGIA .........................................................................................................23 2.1.
Diagnóstico de Situação..........................................................................................23 2.1.1.
Contexto ............................................................................................................24 2.1.2.
População .........................................................................................................25 2.1.3.
Instrumentos e procedimentos de colheita de dados ........................................26 2.1.4.
Questões éticas.................................................................................................27 2.1.5.
Apresentação e análise dos dados....................................................................28 2.2.
Determinação de Prioridades ..................................................................................32 2.2.1.
Diagnósticos de Enfermagem............................................................................33 2.3. Fixação de
Objectivos .............................................................................................34 2.4. Selecção de
Estratégias..........................................................................................36 2.5. Preparação
Operacional - Programação.................................................................38 2.6.
Avaliação.................................................................................................................42 3.
CONCLUSÕES...........................................................................................................45 3.1.
Reflexão sobre as Competências Adquiridas ..........................................................45 3.2.
Considerações Finais ..............................................................................................47 6
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................................49
ANEXOS……………………………………………………………………….…………………….. 54 Anexo I - Factores de
Risco e Factores de Protecção do consumo de álcool Anexo II - Questionário de Conhecimentos
Acerca do Álcool Anexo III - Autorização para utilização do Questionário de Conhecimentos
Acerca do Álcool Anexo IV - Cartaz de divulgação da "Semana do Álcool" Anexo V - Plano de
orientação do Peddy-Paper Anexo VI - Materais de exposição na "Semana do Álcool"
APÊNDICES…………………………………………………………………………………………73 Apêndice I -
Questionário de Caracterização da população Apêndice II - Consentimento livre e esclarecido
Apêndice III - Caracterização da população Apêndice IV - Resultados do Questionário de
Conhecimentos Acerca do Álcool Apêndice V - Aplicação de técnica de determinação de
prioridades Apêndice VI - Inter-relação actividades/objectivos Apêndice VII - Cronograma de
Gantt Apêndice VIII - Plano Operacional Apêndice IX - Plano de Sessão Educatica: O que
precisas de saber sobre bebidas alcoolicas Apêndice X - Plano de Sessão Educativa: Beber pode
parecer divertido, mas para decidires é preciso conhecer os riscos Apêndice XI - Plano de
Sessão Educativa: O educador sou eu, e agora? Apêndice XII - Questionário de avaliação das
Sessões Educativas Apêndice XIII - Plano de Sessão Informativa dirigida aos profissionais da
UCSP e ACES 7 LISTA DE SIGLAS ACES – Agrupamento de Centros de Saúde CIPE – Classificação
Internacional para a Prática de Enfermagem DGS – Direcção Geral de Saúde EEECSP –
Enfermeiro Especialista em Enfermagem Comunitária e de Saúde Pública ESEL – Escola
Superior de Enfermagem de Lisboa IDT – Instituto da Droga a da Toxicodependência INS –
Inquérito Nacional de Saúde INSA – Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge OE – Ordem
dos Enfermeiros OMS – Organização Mundial de Saúde PLA – Problemas Ligados ao Álcool
PNRPLA – Plano Nacional de Redução dos Problemas Ligados ao Álcool PNS – Plano Nacional
de Saúde QCAA – Questionário de Conhecimentos Acerca do Álcool UCSP – Unidade de
Cuidados de Saúde Personalizados WHO – World Health Organization 8 INTRODUÇÃO A
realização do presente relatório de estágio de enfermagem comunitária e da família insere-se
no âmbito do 2º Curso de Mestrado em Enfermagem na Área de Especialização em
Enfermagem Comunitária. A intervenção de enfermagem comunitária decorreu de Outubro de
2011 a Fevereiro de 2012, assumindo a temática do Consumo de Álcool nos Adolescentes -
Capacitação de um Grupo de Promotores da Saúde. A pertinência do desenvolvimento desta
temática tem por base a magnitude do consumo de álcool como grave problema de Saúde
Pública, e a consciencialização de que consumo de álcool é actualmente um dos factores de
risco com maior impacto nas doenças crónicas não transmissíveis relacionadas com os estilos
de vida (Direcção Geral de Saúde, 2003). De facto, apesar da sua ampla aceitação social, o
álcool, como substância psicoactiva, apresenta critérios de perigosidade, quer pela grave
dependência física e psicológica que provoca, quer pelos efeitos negativos sobre a saúde em
geral, quando consumido em excesso (Edwards, Marshall, & Cook, 1999). A revisão de
literatura revela diversas definições de adolescência, que em comum têm o facto de a
considerarem como um período de grandes mudanças, em que o adolescente começa a definir
a sua identidade, os seus valores e a tomar as suas decisões. De acordo com Carvalho e Leal
(2006) esta é também uma fase de vulnerabilidade marcada por um processo de construção
pessoal, e de emancipação da família, com crescente importância do grupo de pares, sendo
frequente a adopção de comportamentos de risco para a saúde, nomeadamente o consumo
de álcool. O reconhecimento desta realidade revela que é urgente encontrar estratégias de
intervenção direccionadas á educação para o consumo de álcool nos adolescentes, com
especial foco na promoção da saúde. Nesta linha de pensamento o Modelo de Promoção da
Saúde, de Nola Pender, surge como o referencial teórico de Enfermagem que suporta o
projecto de intervenção comunitária. É um modelo de enfermagem que apresenta uma
estrutura simples e clara, possibilitando ao enfermeiro um cuidar ao individuo e/ou grupo,
articulando três aspectos básicos que condicionam o comportamento de promoção da saúde:
as características e experiencias individuais, os sentimentos e conhecimentos do
comportamento e o resultado do comportamento (Pender, Murdaugh, & Parsons, 2011). No
âmbito da presente intervenção comunitária, é de considerar que o Modelo de Promoção da
Saúde 9 integra na sua construção as bases teóricas da Teoria Social Cognitiva, de Albert
Bandura, salientando as influências interpessoais (família, pares) nos sentimentos e
conhecimento associados ao comportamento de saúde, o que serve de suporte para a
metodologia de intervenção com promotores da saúde. O reconhecimento da influência do
ambiente social dos adolescentes na adopção de comportamentos de saúde, com destaque
para o grupo de pares pela sua importância nesta fase do ciclo de vida, enquadra a Educação
pelos Pares. Esta assume-se assim com uma estratégia de promoção da saúde e prevenção de
comportamentos de risco, sendo particularmente importante pelo seu caracter de “duplo
empowerment”, isto é, permite simultaneamente a promoção de comportamentos
promotores da saúde nos educadores de pares e no grupo-alvo das suas intervenções, por
meio da intervenção do profissional de enfermagem (Brito, 2009). Face ao referido, a
intervenção comunitária desenvolvida teve por finalidade a capacitação de um grupo de
promotores da saúde para a prevenção do consumo e dos problemas ligados ao álcool na
adolescência. A consecução da finalidade assentou na implementação do projecto de
intervenção comunitária, numa Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados, e em parceria
com associações comunitárias do território da Alta de Lisboa. Para melhor compreensão do
presente relatório, este encontra-se organizado em três capítulos. No primeiro será realizado
um enquadramento teórico, onde será contextualizada a adolescência, comportamentos de
saúde, grupo de pares, a realidade do consumo de álcool nos adolescentes, bem como o papel
da enfermagem comunitária na promoção da saúde nesta problemática. O segundo capítulo
centra-se na metodologia, neste caso no Planeamento em Saúde, com referência a todos os
procedimentos efectuado em cada uma das suas seis etapas. No terceiro capítulo, referente às
conclusões da intervenção, será efectua uma reflexão sobre as competências adquiridas e
desenvolvidas na área de espacialização de enfermagem comunitária, bem como às
considerações finais, com referência às limitações do planeamento e intervenção comunitária
e às implicações para a prática. A redacção do relatório obedece ao guia orientador para a
elaboração de trabalhos escritos, de acordo com a Norma Portuguesa (405-1, 2, 3 e 4) (Escola
Superior de Enfermagem de Lisboa, 2011). Para as citações e referências bibliográficas optou-
se pelas normas da American Psychological Association, na sua 5ª edição (Association, 2001).
10 1. ENQUADRAMENTO TEÓRICO O consumo de álcool e os problemas a ele associados
constituem-se como um fenómeno: universal, porque afecta a população mundial
independentemente das suas diferenciações individuais e sociais; significativo, porque é
responsável, em termos de saúde global, por um número cada vez maior de mortes e
incapacidades, assumindo-se como um importante problema de Saúde Pública; complexo
porque estão envolvidos diversos factores de ordem individual, familiar e social. Os prejuízos
de saúde individuais, familiares e sociais associados ao consumo de álcool, requerem do
enfermeiro uma preparação que lhe permita responder às necessidades de saúde da
população, enraizadas em aspectos sociais. Assim, a intervenção do enfermeiro especialista
em enfermagem comunitária e de saúde pública (EEECSP) pode ser encarada como um recurso
essencial nos cuidados aos indivíduos, famílias e comunidade com problemas relacionados
com o consumo de álcool. 1.1. A Adolescência De acordo com a Organização Mundial de Saúde
(OMS), a adolescência foi delimitada, por conveniência estatística, ao período do
desenvolvimento humano compreendido entre os 10 e os 19 anos de idade (World Health
Organization [WHO], 1977). A delimitação da faixa etária a que corresponde esta fase da vida
varia entre os diferentes autores, contudo existe unanimidade no que se refere à adolescência
se iniciar com as alterações psicobiológicas da puberdade, terminando com inserção social e
profissional do indivíduo (Palacios, 1995). O desenvolvimento na adolescência é assim
acompanhado por grandes transformações corporais, denotando-se uma necessidade do
adolescente se fechar sobre si próprio para enfrentar todas as mudanças e, simultaneamente,
manifestar movimentos afectivos cada vez mais afirmativos, mas igualmente contraditórios em
relação aos outros e em particular aos pais. Esta fase do desenvolvimento humano assume-se
como um período de grandes mudanças, em que o adolescente começa a definir a sua
identidade e a tomar as suas decisões, mostrando-se paralelamente inseguro e vulnerável,
sendo facilmente influenciado pelos meios de comunicação social, pelo grupo de amigos, bem
como pelo ambiente familiar (Braconnier & Marcelli, 2000). Neste processo de maturação,
marcado por profundas alterações a nível físico, cognitivo 11 e sócio emocional, é de destacar
a importância do desenvolvimento de autonomia e independência e a aquisição de
competências necessárias para funcionarem efectivamente no mundo adulto (Moreira, 2001).
Apesar da existência de regularidades, é de ressalvar que os adolescentes não são todos iguais,
possuem diferentes tempos, respondendo às solicitações da vida de um modo único e pessoal.
Neste sentido, Palacios (1995) defende que é melhor falar de adolescentes do que de
adolescência, devendo cada caso ser avaliado na perspectiva da história evolutiva do individuo
e das suas características. 1.1.1. Adolescência e Comportamentos de Saúde Quando o
adolescente tenta emancipar-se na construção de uma identidade própria, adopta
comportamentos que visam atingir a sua autonomia e a independência dos pais,
caracterizados pela inovação e diferença, dando origem a condutas por vezes perigosas. De
acordo com Moreira (2001) a adolescência assume-se como um período de desenvolvimento
muito importante caracterizado por um progressivo declínio do impacto dos pais e um
correspondente aumento da influência da rede de pares, das pressões directas e indirectas
várias para assumir determinadas condutas, e de uma percepção de invulnerabilidade face a
comportamentos comprometedores da saúde, o que pode resultar na adopção de
comportamentos de risco. Na mesma linha de pensamento, e de acordo com a Direcção Geral
de Saúde (DGS), nos adolescentes os principais problemas de saúde identificam-se com as
repercussões dos comportamentos de risco: sedentarismo, desequilíbrios alimentares,
condutas violentas, morbilidade e mortalidade por acidentes, maternidade precoce, e
comportamentos potencialmente aditivos (DGS, 2002). Também Morais e Viana (2004, citando
Frasquilho, 1996) salienta que os comportamentos de risco estão entre as principais causas de
morte nos adolescentes, com revelo para o consumo de álcool e outras substâncias. Na
compreensão dos comportamentos de saúde nos adolescentes é também importante
entender o significado das condutas dos adolescentes. Assim, são de considerar como
principais determinantes dos comportamentos de saúde do adolescente os factores cognitivos
e sociais, tais como atitudes face aos comportamentos, crenças, expectativas e influência dos
grupos de referência dos indivíduos, a família e grupo de pares. Neste âmbito, Matos et al.
(2003) defende que para atingirem o seu pleno 12 potencial, os adolescentes necessitam de
suporte adequado, acessibilidade à informação e aos serviços de saúde. Através do
reconhecimento da sua diversidade, das suas potencialidades, dos seus hábitos de vida e do
seu contexto social e cultural, é possível adequar estratégias de intervenção, sendo
fundamental promover a participação dos adolescentes como parceiros na procura de
soluções para os diferentes problemas. 1.1.2. Adolescência e o grupo de pares Os adolescentes
manifestam uma tendência para o envolvimento em actividades de experimentação social no
contexto de grupos regidos por normas e condutas não convencionais, resultando num
processo de autonomização caracterizado pela substituição dos modelos parentais por grupos
de pares, com quem os adolescentes passam mais tempo, procurando nestes respostas às suas
dúvidas e incertezas (Farate, 2000). Os pares são extremamente importantes para o
desenvolvimento normal do adolescente, na medida em que estabelece relações entre
indivíduos e um sentido de pertença a um grupo, contribuindo para a capacidade de
estabelecer relações interpessoais, de controlo social e aquisição de valores (Sprinthall &
Collins, 2003). De acordo com Dias (2006), os adolescentes recebem e aprendem grande parte
da informação através dos pares, sendo a influência destes extremamente importante nas
expectativas, atitudes e comportamentos dos indivíduos. Fazer parte de um grupo de pares
proporciona a oportunidade de desenvolver as competências para a resolução de conflitos; a
aceitação e o respeito pela diversidade; aumento da auto-estima; maior conhecimento e
consciência das questões relacionadas com a saúde; tolerância; comunicação com o público e
liderança (McDonald, Roche, Durbridge, & Skinner, 2003). É de salientar que é no grupo de
pares que o adolescente afirma as suas diferenças geracionais, obrigando a exigências
identificativas muito fortes, no entanto, se o grupo é importante para a integração social do
adolescente, pode também ser incitador a experiencias de consumo de substâncias ou
comportamentos desviantes (Morais & Viana, 2004). Também Farate (2000) e Matos (2008)
referem que a influência dos pares é uma das principais causas do consumo de substâncias na
adolescência. Fazendo referência a investigação epidemiológica, Farate (2000) citando T. Ong,
salienta um estudo que aponta que 80% dos consumidores tiveram o seu primeiro contacto
com substâncias psicoactivas no seio do grupo de pares e que 54% fizeram a sua primeira
experiência de consumo com um amigo. 13 Assim, o grupo de pares tanto pode influenciar o
comportamento responsável, a maturidade e o desenvolvimento saudável, como pode
promover a adopção de comportamentos de risco, representando como tal um importante
foco de intervenção junto de adolescentes. 1.2. O Consumo de Álcool na Adolescência O
consumo de substâncias só é possível com a participação do indivíduo, a partir da relação
triangular entre o sujeito, a substância e o contexto dos consumos (Olivenstein 1985, citado
por Sommer, 2004). Entendendo o álcool como um agente patogénico, Mello, Barrias e Breda
(2001), avançam conceitos e definições centrando-se no álcool e nas bebidas alcoólicas, bem
como nos Problemas Ligados ao Álcool (PLA) que classificam em quatro tipos: no individuo, na
família, no trabalho e comunidade. Os PLA foram definidos em 1982, no decorrer da 35ª
Assembleia Mundial de Saúde como, “uma expressão imprecisa (…) para designar as
consequências que atingem não só o bebedor mas também a família e a colectividade em
geral. As perturbações causadas podem ser físicas, mentais ou sociais e resultarem de
episódios agudos de um consumo excessivo ou de um consumo prolongado.” (idem, p.15).
Nesta perspectiva de risco associado ao consumo de álcool e da doença alcoólica, evidenciam-
se as repercussões do consumo de álcool, que os mesmos autores classificam em repercussões
individuais dos PLA, e repercussões sociais dos PLA (que engloba as consequências na família,
no trabalho e na comunidade). Uma análise epidemiológica do consumo de álcool mostra que
entre os paísesmembros da União Europeia, Portugal se assume como um dos maiores
consumidores de bebidas alcoólicas e de prevalência de PLA. De acordo com estimativas de
2002 da OMS, na região europeia, o álcool foi responsável por 6,1% de todas as mortes, 12,3%
de todos os anos de vida perdidos e 10,7% de todos os anos de vida perdidos ajustados à
incapacidade, afectando sobretudo os homens e jovens dos 15 aos 29 anos (McCarthy, Aarons,
& Brown, 2002). A nível nacional, o Inquérito Nacional de Saúde (INS) assume-se como uma
referência na avaliação do estado de saúde da população portuguesa. Relativamente ao
consumo de álcool nos últimos 12 meses, e numa comparação dos dois últimos INS,
1998/1999 (Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge [INSA], 2000) e 2005/2006 (INSA,
2009) regista-se um aumento de 50,4% para 53,8 % de consumidores. No INS 14 2005/2006
assiste-se a um aumento mais relevante no género feminino, nas faixas etárias dos 15-24 e 45-
64 anos, continuando os homens a ser os maiores consumidores (idem). Dados do Inquérito
Nacional em Meio Escolar, de 2006 (Feijão, 2010) relativos à prevalência de alunos do 3º Ciclo
que já consumiram álcool ao longo da vida evidenciam um decréscimo relativamente a 2001,
passando dos 67 para os 60%, contudo assiste-se a um aumento das prevalências de consumos
actuais (últimos 30 dias). Em 2007, foi realizado o II Inquérito Nacional ao Consumo de
Substâncias Psicoactivas na População Portuguesa, no qual a prevalência de consumo de álcool
surge como mais elevada que as outras substâncias, destacando um aumento dos consumos
de bebidas alcoólicas entre os 15 e os 17 anos, e 11,2% de adolescentes dos 15 aos 19 anos
que referem ter-se embriagado no último mês (Balsa, 2008). O projecto European School
Survey Project on Alcohol and Other Drugs (ESPAD), de 2007, divulga que 60% dos alunos
portugueses, entre os 15 e16 anos, consumiu álcool nos últimos 30 dias, 26% refere ter-se
embriagado nos últimos 12 meses e 11% refere terse embriagado nos últimos 30 dias. Mais
recentemente foram divulgados alguns dados do mesmo estudo, realizado em 2011 (Instituto
da Droga e da Toxicodependência [IDT], 2011), que revelam um decréscimo na percentagem
de alunos portugueses que experimentaram e que consomem actualmente álcool (últimos 30
dias), verificando-se contudo um aumento da frequência dos episódios de embriaguez, em
todos os grupos etários e em ambos os sexos, sendo mais acentuada a partir dos 15 anos e nas
raparigas. É ainda destacada a manutenção de elevadas percentagens de consumidores com
idades entre os 13 e 15 anos. Os dados nacionais de 2010 do Health Behaviour in School-aged
Children (Matos, 2011), no que ao consumo de álcool diz respeito, revelam uma diminuição do
consumo regular de álcool, mas não do seu abuso episódico. No que se refere à idade de
experimentação do consumo de álcool esta é muito precoce, cerca de 40% dos adolescentes
consumiu pela primeira vez aos 12-13 anos e 50% referem ter-se embriagado pela primeira vez
aos 14 anos. A par com estes dados epidemiológicos, a OMS vem alertar para o aumento de
um padrão de consumo de álcool nos adolescentes, o binge drinking (WHO, 2011), ou
consumo esporádico excessivo, que se caracteriza como o consumo que excede 5 a 6 bebidas
no homem e 4 a 5 bebidas na mulher, numa mesma ocasião e num espaço de tempo limitado
(IDT, 2010). Esta não é uma realidade recente, já em 2001 a OMS, no Global Status Report
Alcohol and Young People, se centrava sobre este padrão de 15 consumo enraizado no
aumento do consumo de bebidas destiladas nos adolescentes, bebidas energéticas com álcool
e alcopops (bebidas alcoólicas açucaradas) que se tornam mais apelativas (WHO, 2001). Em
Portugal, apesar de o consumo tipo binge ocorrer em todas as idades, é muito evidente na
classe etária dos 15-24 anos, registandose um consumo de 4 a 6 bebidas numa só ocasião pelo
menos uma vez no último ano em 48,3% dos jovens nesta faixa etária (Balsa, 2008). Neste
ponto é de salientar que em Portugal a percepção do risco associado ao consumo de álcool por
parte dos adolescentes é menor que na maioria dos países europeus, sendo que 44% dos
adolescentes portugueses discorda da nocividade dos consumos ocasionais, e só 11%
considera o álcool uma substância perigosa (Oliveira (2008). Quanto à percepção dos jovens
sobre o consumo esporádico excessivo, 19,7% destes atribui pouco ou nenhum risco ao
consumo de 5 ou mais bebidas alcoólicas num fim-de-semana (Balsa, 2008). Na análise destes
dados é importante ter presente que o consumo excessivo de álcool acarreta consequências
nefastas tanto ao nível da saúde do adolescente, como na sua interacção sociocultural. Na
realidade, o consumo de álcool em idades precoces é duplamente preocupante: por um lado é
de considerar que o sistema biológico do adolescente não está maturo, diminuindo a
capacidade de degradação do álcool, e provocando danos cerebrais e deficits neurocognitivos
com impacto na aprendizagem e desenvolvimento intelectual; e por outro lado, existe a
evidência de que o início precoce de consumo de álcool está associado a comportamentos de
risco como a violência, acidentes, absentismo escolar e o risco para o uso de outras drogas
(Barroso, Barbosa, & Mendes, 2006; Matos, 2008). De acordo com Trindade e Correia (1999), o
consumo de álcool na adolescência, num curto prazo, pode acarretar consequências como a
diminuição do rendimento escolar e a adopção de comportamentos de risco para a saúde. 1.3.
A Enfermagem Comunitária e a Promoção da Saúde dos Adolescentes Face ao anteriormente
exposto, urge uma consciencialização para a problemática do consumo de álcool nos
adolescentes e para a necessidade de uma intervenção integrada, devendo o enfermeiro
assumir um papel activo. Para uma abordagem nacional integrada e concertada, é importante
ter presente a consecução dos objectivos do Plano Nacional de Saúde (PNS). No PNS
2004/2010 são 16 de considerar que o Programa Nacional de Prevenção dos Problemas
Ligados ao Álcool e o Programa Nacional de Intervenção Integrada sobre os Determinantes de
Saúde Relacionados com os Estilos de Vida que considera o consumo de álcool como um
determinante sobre o qual urge intervir (DGS, 2004). No entanto, uma avaliação externa ao
PNS, realizada pela OMS, defende que é improvável que o indicador “consumo de álcool” se
aproxime das metas do PNS, apesar de os PLA se revelarem um importante problema de Saúde
Pública em Portugal (WHO, 2010). No PNS 2011/2016, em discussão, no âmbito das estratégias
para a saúde, é defendido que o Sistema de Saúde deve assumir a responsabilidade de
promover, potenciar e preservar a saúde ao longo do ciclo da vida destacando, no âmbito de
“Uma Juventude à Procura de um Futuro Saudável”, a necessidade de intervir nos
determinantes de saúde, nomeadamente na redução do consumo de álcool (Alto Comissariado
da Saúde, 2011). O mesmo plano remete para o actualmente em vigor, Plano Nacional para a
Redução dos Problemas Ligados ao Álcool (PNRPLA) 2010/2012, da responsabilidade do IDT,
que tem por finalidade reduzir o consumo nocivo de álcool entre a população e diminuir os
seus efeitos nefastos em termos sociais e de saúde (IDT, 2010). Como uma das áreas
prioritárias de intervenção do referido PNRPLA surgem os jovens, sendo apresentadas como
metas: baixar a prevalência de embriaguez no último ano em jovens entre os 15 e os 19 anos;
e baixar a prevalência de consumo binge pelo menos uma vez no ultimo ano, nos jovens entre
os 15 e os 24 anos. Neste quadro, a intervenção do EEECSP deve ser encarada como um
recurso essencial nos cuidados aos indivíduos, grupos e comunidade, com problemas
relacionados com o consumo de álcool, “o enfermeiro especialista em enfermagem
comunitária e de saúde pública, fruto do seu conhecimento e experiência clínica, assume um
entendimento profundo sobre as respostas humanas aos processos de vida e aos problemas
de saúde e uma elevada capacidade para responder de forma adequada às necessidades dos
diferentes clientes (pessoas, grupos ou comunidade), proporcionando efectivos ganhos em
saúde.” (Ordem dos Enfermeiros [OE], 2010, p.1) Assim, é fundamental que o enfermeiro
reconheça as suas potencialidades para responder às necessidades da população, explorar
novas alternativas, fazer adaptações nos projectos de intervenção e promover a saúde das
pessoas com problemas decorrentes do consumo de álcool (Naegle, 1994). No mesmo sentido,
Mathre (2011) salienta que o enfermeiro, ao reconhecer a problemática do consumo de álcool
pode 17 utilizar os seus conhecimentos e capacidades para dar resposta a indivíduos, famílias e
comunidade. Para alcançar um estado de saúde óptimo o enfermeiro deverá reconhecer o
conjunto de intervenções alternativas ou complementares ao consumo de álcool, o ensino e o
reforço de competências e de tomada de decisão ajudará os adolescentes a aumentar a
responsabilidade pela sua saúde e dirigir a sua atenção para outras opções disponíveis.
Entender esta problemática, bem como as estratégias de intervenção a implementar não pode
desligar-se dos factores que determinam e favorecem o consumo de álcool nos adolescentes.
Assim, é de considerar uma vulnerabilidade, perante um conjunto de factores individuais, em
jogo com parâmetros situacionais e sociais, conferindo ao álcool o papel de agente patogénico
(Mello et al., 2001). Neste processo é fundamental compreender a interacção entre factores
de risco e de protecção (FerreiraBorges & Filho, 2004), apresentados em anexo (Anexo I). Na
intervenção no consumo de álcool nos adolescentes o EEECSP deve desenvolver estratégias
que contribuam para a promoção dos factores de protecção e para a diminuição de factores de
risco associados aos consumos. A revisão de literatura revela uma maior eficácia na adopção
de medidas de promoção da saúde na intervenção dirigida à problemática do consumo
excessivo de álcool nos adolescentes, devendo ter em conta uma visão positiva da saúde como
algo que se deseja alcançar, e não uma intervenção orientada para o acto de “evitar”. 1.3.1.
Prevenção do Consumo de Álcool na Adolescência - Educação pelos Pares De acordo com
Mello et al. (2001) o objectivo primordial da prevenção do consumo e dos PLA é a diminuição,
quantitativa e qualitativa, destes problemas, através de acções que antecipem a iniciação, o
desenvolvimento e os posteriores efeitos do consumo. Para (Morel, Boulanger, Hervé, &
Tonnelet, 2001) a finalidade da prevenção é melhorar a saúde das pessoas, o seu-bem-estar e
as suas condições de existência, através do aumento dos níveis de saber e competência, da
promoção da responsabilidade individual e do desenvolvimento de laços socais e
comunitários. Tendo em conta a especificidade e complexidade do fenómeno dos PLA, torna-
se compreensível a dificuldade no desenvolvimento de estratégias efectivas de intervenção.
Assim, e face à diversidade de programas preventivos o National Institute of Drug Abuse, em
1997, sugere 13 princípios que devem ser considerados na prática preventiva, dos quais se
destaca o imperativo de que os programas de prevenção devem incluir 18 estratégias que
permitam aos sujeitos resistir à oferta, reforçar o compromisso pessoal e as atitudes contra o
abuso de substâncias, e aumentar a competência social, como a relação com os pares
(Moreira, 2001). Também Ferreira-Borges e Filho (2004) e Mello et al. (2001), numa
sistematização das intervenções dos profissionais de saúde ao nível da prevenção e promoção
da saúde no âmbito do consumo de álcool, definem 3 áreas de intervenção: limitação da
oferta, redução das condições sociais associadas ao uso de álcool e redução da procura. De
acordo com os dados epidemiológicos anteriormente apresentados, o consumo de álcool tem
o seu começo no início da adolescência, sendo como tal uma fase do desenvolvimento
humano que merece a atenção dos profissionais de saúde. Nesta perspectiva, e de acordo com
diversas abordagens teóricas, existe uma ligação potencial entre os períodos críticos do
desenvolvimento comportamental dos adolescentes e a eficácia das intervenções preventivas,
sendo fundamental que as intervenções se desenvolvam antes dos padrões comportamentais
estarem estáveis e resistentes à mudança (Barroso et al., 2006). Noutra perspectiva, Moreira
(2001, citando Tobler, 1986) destaca que os programas mais efectivos são os multimodais, isto
é, devem ser dirigidos ao individuo como ser total, tendo em conta as várias dimensões que
interagem no processo de desenvolvimento. No mesmo sentido, para Hoffman e Heineman
(1987) a intervenção comunitária parece uma boa alternativa, contemplando intervenções
directas tanto ao indivíduo, como à família e grupos específicos da comunidade, dos quais se
destaca o grupo de pares pela importante influência que assume na adopção de
comportamentos dos adolescentes. A influência dos pares é um aspecto complexo, estas
relações são referidas como potencialmente perigosas, no entanto, a ausência deste tipo de
interacções pessoais pode também colocar o adolescente em risco. Desta forma a presença de
pares nem sempre representa o envolvimento em comportamentos de risco, podendo agir
antes como um factor de protecção (Matos, 2008; Morel et al., 2001). De acordo com Morel et
al. (2001) este aspecto justifica que cada vez mais seja preconizada a procura de apoio na
influência dos pares no sentido preventivo quando se intervém junto de população
adolescente. No âmbito da intervenção por meio de pares emerge o conceito de Promotores
da Saúde, definido implicitamente através da compreensão do conceito de Promoção da
Saúde. De acordo com a Carta de Ottawa, (WHO, 1986) a promoção da saúde pode ser 19
encarada como um processo que visa criar condições que permitam aos indivíduos e aos
grupos controlar a sua saúde, e dos grupos em que se inserem, agindo sobre os factores que a
influenciam. A promoção da saúde tem por base um pensamento centrado na saúde que
coloca a tónica no aumento das capacidades e resistências dos indivíduos e grupos, para lidar
de forma positiva com os factores adversos da vida (Loureiro & Miranda, 2010). Neste
contexto, é de ressalvar que a promoção da saúde não é apenas responsabilidade do sector da
saúde, mas sim de todos os indivíduos, grupos e comunidades. Para Green (1979, citado por
Loureiro & Miranda, 2010) a promoção da saúde deve ser entendida como uma combinação
de educação para a saúde e respectivas intervenções destinadas a facilitar mudanças de
comportamento e do ambiente conducente à saúde. Como estratégia de promoção da saúde e
prevenção de comportamentos de risco destaca-se a Educação pelos Pares, que envolve
membros experientes e de apoio num grupo específico [os Promotores da Saúde], a fim de
incentivar uma mudança comportamental desejável entre membros do mesmo grupo (Turner
& Sheperd, 1999). É uma forma de educação social em que uma minoria representativa de um
grupo influencia os valores, crenças e mesmo comportamentos, por vezes radicalmente, nos
membros integrantes desse grupo (Brito, 2009). Após uma análise a diferentes conceitos de
Educação pelos Pares, McDonald et al. (2003) define a educação pelos pares, no domínio do
consumo de álcool e outras drogas, como o fornecimento e partilha de informação sobre a
problemática, através de uma mensagem adequada ao grupo alvo, ao ser transmita por
indivíduos similares em termos de características (idade, cultura, experiências prévias) e com
uma posição social suficientemente reconhecida no grupo e como tal capaz de exercer
influência. Os mesmos autores avançam que o educador de pares, ou promotor da saúde, é a
pessoa que reúne as condições necessárias para ser um par (mesmas características, mesmas
experiencias prévias e pertença ao grupo), credível, com capacidade de exercer influência
social, e que tenha recebido formação para assumir o papel de educador. O educador de pares
deve estar capacitado com informações relacionada com a problemática do consumo de álcool
e PLA, e competências ao nível da providenciar informação, educar, facilitar o acesso e
discussão, e influenciar as normas sociais. Face ao exposto, a Educação pelos Pares assume-se
como estratégia preferencial no âmbito da promoção da saúde das populações, sendo
amplamente utilizada a nível 20 mundial (Brito, 2009), no entanto as vantagens da opção por
esta estratégia de intervenção nem sempre são claras (Turner & Shepherd, 1999). Neste
sentido, os referidos autores, bem como McDonald et al. (2003), avançam com as justificações
que se revelam mais frequentes na revisão teórica sobre o tema: maior relação custo-
eficiência quando comparada com outras estratégias; credibilidade da informação transmitida
pelos pares, a evidência científica revela maior sucesso na transmissão de informação pelos
pares do que pelos profissionais na medida em que o grupo alvo se identifica com estes; reduz
o cariz interventivo, por meio de profissionais, da promoção da saúde, possibilitando uma
maior aceitabilidade da informação transmitida pelos pares; permite chegar mais facilmente a
população ocultas, de difícil acesso pelos métodos convencionais; oportunidade de capacitar
todos os envolvidos no processo de educação pelos pares, sendo considerada uma
metodologia de duplo empowerment, permitindo promover a aprendizagem e
desenvolvimento do outro e si mesmo, em simultâneo; utiliza formas de partilha de
informação e aconselhamento já estabelecidas no seio de um grupo; os educadores de pares
podem funcionar como modelos positivos e possibilitar o reforço das aprendizagens através de
um contacto permanente. A formação de jovens promotores da saúde é também defendida
pela United Nations Children Found (2011) que refere que o incentivo ao protagonismo juvenil
deve ser encarado como uma força transformadora, sendo o investimento em adolescentes e
a valorização das suas potencialidades, criatividade e dinamismo, elementos chave para a
promoção da saúde e cidadania. 1.3.2. Modelo de Promoção da Saúde de Nola Pender No
âmbito da Enfermagem, o Modelo de Promoção da Saúde, de Nola Pender, defende uma
abordagem biopsicosocial no contacto contínuo com a pessoa, representando o enfermeiro
uma classe profissional que tem uma oportunidade única de assumir a liderança na promoção
de uma melhor saúde para a comunidade. Os enfermeiros como maior grupo profissional nos
cuidados de saúde representam um papel vital ao desenvolver cuidados de promoção da
saúde e prevenção da doença acessíveis a toda a população. Assim, na promoção de mudanças
de comportamentos relacionados com a saúde, aumentar comportamentos saudáveis e
reduzir comportamentos de risco para a saúde, são o grande desafio do Enfermeiro (Pender et
al., 2011). 21 Este é um modelo em que a pessoa assume uma posição central e expressa-se de
forma única e pessoal de acordo com os seus esquemas cognitivos e perceptivos e de acordo
com os factores modificadores a que é exposta, provenientes do ambiente na medida em que
as influências interpessoais têm implicação nos sentimentos e conhecimento associados aos
comportamentos. As pessoas têm o poder e a capacidade para mudar os comportamentos de
saúde ou modificar os estilos de vida relacionados com a sua saúde, sendo o papel da
Enfermagem: promover um ambiente positivo para a mudança, servir de catalisador dessa
mudança assistindo nas diferentes etapas do processo, e ainda aumentar a capacidade
individual para manter a mudança. Relativamente ao conceito de saúde, este modelo tem por
base uma visão que inclui o bem-estar mental, social e espiritual, defendendo uma abordagem
proactiva que inclui a construção de forças, fortalecimento de recursos e promoção da
resiliência (idem). Em termos operacionais este modelo teórico de Enfermagem é bastante
organizador na medida em que considera e articula três aspectos básicos que condicionam o
comportamento de promoção da saúde: as características e experiencias individuais; os
sentimentos e conhecimentos específicos do comportamento; e o resultado do
comportamento, o comportamento promotor da saúde De ressalvar que os sentimentos e
conhecimentos face ao comportamento são considerados, neste modelo, o centro da
intervenção na medida em que são susceptíveis de ser alterados através das acções de
enfermagem ao considerar a percepção dos benefícios e barreiras à acção, a percepção de
auto-eficácia, os sentimentos associados à acção e a influência interpessoal e situacional.
Ainda a este nível, as autoras salientam que os prestadores de cuidados de saúde, a família e o
grupo de pares podem influenciar positiva ou negativamente a adopção de comportamentos
de promoção da saúde (idem). Centrando a população alvo da intervenção comunitária, e à luz
das mesmas autoras, os adolescentes são considerados um grupo de alto risco na adopção de
comportamentos de risco com danos para a saúde, como o consumo de álcool. O ambiente
social dos adolescentes exerce uma influência significativa nos comportamentos de saúde,
sendo o grupo de pares destacado pelo importante papel que desempenha na modelação dos
estilos de vida destes, podendo assim assumir-se como um importante suporte na mudança de
comportamentos, enquadrando a Educação pelos Pares. O Modelo de Promoção da Saúde
integrou na sua construção bases teóricas da Teoria Social Cognitiva, de Albert Bandura (idem),
também a Educação pelos Pares utiliza 22 esta teoria para explicar e suportar a sua
metodologia (McDonald et al. 2003; Turner & Shepherd, 1999), pelo que se revela importante
explanar os seus fundamentos. A Teoria Social Cognitiva emerge da Teoria da Aprendizagem
Social, tendo o seu autor optado por mudar o nome para enfatizar o papel que a cognição
desempenha na construção da realidade, auto-regulação e execução do comportamento
(Pajares & Olaz, 2008). Na sua teoria, Bandura centra-se no estudo do comportamento
humano quando inserido no contexto social (Bandura, 2008), dando valor aos processos
cognitivos dos indivíduos, sendo que as pessoas influenciam as situações através dos seus
comportamentos, que por sua vez irão influenciar os seus pensamentos e afectos e,
subsequentemente, o seu comportamento, numa interacção bidireccional entre a pessoa, o
ambiente e o comportamento (Bandura, 2004). Focando os determinantes do comportamento
de saúde, é destacado o conhecimento dos riscos e benefícios de saúde, caracterizado como a
pré-condição para a mudança de hábitos de vida. A percepção de auto-eficácia, entendida
como o julgamento da capacidade pessoal, é igualmente destacada visto estar na base da
motivação para o comportamento (Bandura, 2004; Pajares & Olaz, 2008). Adaptando a Teoria
Social Cognitiva à Educação pelos Pares, o conceito de modelação social reveste-se de
importância. De acordo com Bandura (2008), o conhecimento de processos de modelação
oferece orientações informativas sobre como proporcionar que as pessoas efectuem
mudanças pessoais, organizacionais e sociais. No contexto do consumo de álcool em
adolescentes, é sustentado que as decisões tomadas por estes em relação aos consumos são
semelhantes a outros comportamentos sociais, que se moldam pela observação do grupo
social, sendo o grande desafio de um grupo de pares promotores da saúde o proporcionar
oportunidades para um modelo de comportamentos desejados (McDonald et al., 2003). Face
ao exposto, o Modelo de Promoção da Saúde, de Nola Pender, ao integrar a Teoria Social
Cognitiva, e fundamentando a metodologia de Educação pelos Pares revela-se o referencial
teórico de excelência para a intervenção comunitária. Adicionalmente, este modelo ao
procurar descrever a natureza multidimensional do ser humano na procura de saúde, numa
perspectiva de Enfermagem, revela-se muito organizador na clarificação das condicionantes do
comportamento promotor da saúde e de estratégias de intervenção com vista à promoção da
saúde. 23 2. METODOLOGIA Os prejuízos de saúde individuais, familiares e sociais associados
ao consumo de álcool, anteriormente explicitados, requerem do enfermeiro uma preparação
que lhe permita responder às necessidades de saúde da população. Decorrendo da sua
formação especializada em Enfermagem Comunitária e de Saúde Publica, o enfermeiro
adquire competências que lhe permite participar na avaliação multicausal dos problemas de
saúde publica e no desenvolvimento de programas e projectos de intervenção (OE, 2010).
Neste contexto, a metodologia do Planeamento em Saúde revela-se crucial em termos de
administração da saúde, na medida em que possibilita a racionalização de recursos com vista a
atingir objectivos fixados, dirigidos à redução de problemas de saúde prioritários, implicando
uma intervenção multisectorial (Imperatori & Giraldes, 1993), permitindo a escolha das
melhores soluções entre as várias alternativas, tendo em consideração os constrangimentos
actuais ou previsiveis no futuro (Tavares, 1990). No mesmo sentido, Durán (1989) salienta a
participação da população no processo de planeamento, com o objectivo de alcançar, em
áreas e prazos estabelecidos, os melhores níveis de saúde das populações, utilizando de forma
racional e eficaz os recursos à sua disposição, “é o processo pelo qual se decide conseguir um
futuro melhor do que o presente, mudando o que é necessário para lá chegar” (idem, p.19).
De seguida será apresentado o planeamento da intervenção comunitária no âmbito da
prevenção dos consumos de álcool nos adolescentes, com base a metodologia do
Planeamento da Saúde. Neste processo continuo e dinâmico, foram seguidas as etapas do
Planeamento em Saúde definidas por Tavares (1990). Assim, neste capítulo será apresentada a
descrição de cada etapa do desenvolvimento e execução da intervenção comunitária:
diagnóstico de situação, determinação de prioridades, fixação de objectivos, selecção de
estratégias, preparação operacional – programação, e avaliação. 2.1. Diagnóstico de Situação
O diagnóstico de situação é a primeira etapa do planeamento, assumindo importância central
na medida em que, é nesta etapa que são identificados os problemas e necessidades de saúde
da população e, consequentemente, desta depende directamente a definição de prioridades e
a avaliação (Imperatori & Giraldes, 1993; Tavares, 1990). Os mesmos autores defendem que a
qualidade do diagnóstico depende 24 da qualidade e quantidade da informação colhida.
Também Durán (1989) defende que os dados colhidos devem ser recentes, objectivos,
verídicos e fiáveis, devendo reflectir a realidade presente. Para a consecução do diagnóstico de
situação, e de acordo com as orientações de Tavares (1990), de seguida será apresentado o
contexto em que foi desenvolvida a intervenção comunitária e a população-alvo, os
instrumentos e procedimentos de colheita de dados utilizados bem como uma reflexão sobre
as questões éticas tidas em consideração, e finalmente a apresentação e análise dos dados.
2.1.1. Contexto A intervenção comunitária foi desenvolvida num Agrupamento de Centros de
Saúde (ACES) da cidade de Lisboa, numa Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados
(UCSP), e integrado no programa de Saúde Escolar. A UCSP garante a prestação de cuidados de
saúde primários à população residente na área geográfica de três freguesias da cidade de
Lisboa, numa área de aproximadamente 10 Km2 . Através de uma análise baseada na
experiência e conhecimento das características e problemas de saúde da população abrangida
pela UCSP, a Enfermeira Coordenadora da UCSP e a Enfermeira da Saúde Escolar,
evidenciaram o problema do consumo excessivo de álcool na adolescência como uma
realidade no território da Alta de Lisboa. Esta análise vem reforçada num projecto de
Formação de Mediadores Juvenis, em 2010, com apoio do K’CIDADE - Programa de
Desenvolvimento Comunitário Urbano, onde numa análise inicial o grupo de mediadores em
formação identificou o “consumo excessivo de álcool nos jovens”, como um dos problemas
presentes na Alta de Lisboa. Neste contexto, optou-se por desenvolver o projecto de
intervenção comunitária no âmbito da prevenção do consumo de álcool nos adolescentes na
Alta de Lisboa. O território da Alta de Lisboa abrange geograficamente parte de duas
freguesias da cidade de Lisboa, e caracteriza-se por uma heterogeneidade social e pela
reincidência de problemáticas sociais, na medida em que resultada de uma operação urbana
que, por um lado, contempla o realojamento da população residente em habitação precária e,
por outro, a construção de prédios de venda livre (K’CIDADE, 2009). De acordo com dados de
2009, a Alta de Lisboa apresenta uma população estimada de 16.994, sendo que a população
jovem, 22,5%, tem um peso mais expressivo que a população idosa, 13,2%. O nível de
instrução da população do bairro é considerada 25 um factor crítico, na medida em que 9,5%
da população é analfabeta, e apenas 2,9% e 11% frequentou o ensino superior e ensino
secundário, respectivamente (idem). Apesar das características particulares deste bairro,
marcado por problemas socioeconómicos importantes como uma elevada taxa de
desemprego, uma baixa capacidade de aforro e um sentimento de insegurança, cerca de
61,6% da população revela-se satisfeita com a vivência do bairro, 23,2% mais ou menos e
15,3% insatisfeitos. O consumo de substância apresenta-se associado tanto à insatisfação com
o bairro, como ao sentimento de insegurança (idem). No seu diagnóstico de famílias na
comunidade, o K’CIDADE (2010) identifica, no âmbito da saúde, as dependências de álcool e
outras drogas como um problema major da comunidade, revelando que esta é uma realidade
muito presente na Alta de Lisboa. Neste contexto, como uma das respostas possíveis aos
problemas de saúde são identificados o que designam por “jovens mediadores”, reforçando a
pertinência da presente intervenção de enfermagem comunitária, e o seu desenvolvimento
neste contexto específico. 2.1.2. População De acordo com Imperatori e Giraldes (1993) a
descrição da população é um elemento fundamental da caracterização do diagnóstico de
situação. A população é assim definida com o conjunto de elementos de um grupo bem
definido, que tenham em comum uma ou várias características semelhantes, e sobre o qual se
desenvolve a intervenção (Fortin, 1999; Glick & Stanhope, 2011). Partindo da finalidade e foco
de intervenção de enfermagem, a população-alvo é constituída por adolescentes e jovens
promotores da saúde. De clarificar que, apesar do foco de intervenção de enfermagem se
centrar nos adolescentes, a inclusão de participantes com idades superiores aos 19 anos
(limite etário da definição de adolescência) é justificada na medida em que a evidência
científica sugere que a mensagem transmitida por educadores de pares ligeiramente mais
velhos é reconhecida como mais credível (McDonald et al., 2003) Na identificação deste grupo,
no contexto da sua comunidade, partiu-se um grupo de “jovens mediadores” já constituído no
âmbito de um Programa de Desenvolvimento Comunitário, na Alta de Lisboa, com o qual a
UCSP mantém uma cooperação activa. No contacto com este grupo, que entretanto se
constituiu como associação, foram identificados outros adolescentes e jovens que
desempenham um papel semelhante a 26 nível comunitário e que desenvolvem a sua acção
no âmbito de outras duas associações comunitárias da Alta de Lisboa. Assim, foram
identificados 16 participantes, que têm em comum o facto de residirem na Alta de Lisboa, e
desenvolverem acções dirigidas preferencialmente a adolescentes, com o fim de promover a
saúde da sua comunidade. A problemática do consumo de álcool foi identificada como uma
realidade proeminente na Alta de Lisboa, e sobre a qual o grupo sentia incapacidade para
intervir, revelando-se do interesse destes participar na intervenção comunitária desenvolvida.
2.1.3. Instrumentos e procedimentos de colheita de dados O diagnóstico de situação envolve a
definição de problemas e necessidades de saúde na área em análise, neste caso o consumo de
álcool, sendo imprescindível proceder a um levantamento destes e assim obter um
conhecimento efectivo da população (Imperatori & Giraldes, 1993; Tavares, 1990). Também
Shuster e Goeppinger (2011) defendem que o primeiro objectivo da colheita de dados é
recolher informação útil acerca da comunidade e da sua saúde. Neste sentido, após uma
extensa pesquisa bibliográfica, tendo em conta: a finalidade da intervenção, capacitação de
um grupo de promotores da saúde; o horizonte temporal da intervenção; e o referencial
teórico de suporte, o Modelo de Promoção da Saúde, de Nola Pender, que identifica a
cognição e a percepção como os principais determinantes do comportamento promotor da
saúde (Pender et al., 2011), o Questionário de Conhecimentos acerca do Álcool (QCAA) de
Barroso, Mendes e Barbosa (2009, citado em Barroso, 2009), apresentou-se como a opção
mais adequada (Anexo II) O QCAA, é um questionário de autopreenchimento constituído por
40 itens com possibilidade de resposta dicotómica, verdadeiro ou falso, e avalia os
conhecimentos úteis acerca do álcool, existindo 21 afirmações verdadeiras
(1,2,3,7,8,10,12,13,17,19,21,25,26, 27,30,33,35,37,38,39 e 40) e 19 falsas
(4,5,6,9,11,14,15,16,18,20,22,23,24,28,29,31,32, 34 e 36). A pontuação varia de 0 a 40 pontos,
atribuindo às respostas verdadeiras 1 ponto, e às falsas 0 pontos. Este questionário foi
validado quanto à legibilidade e compreensibilidade pelos autores (Barroso, 2009). Tendo em
conta que o objectivo primordial do diagnóstico de situação é identificação de necessidades, a
pontuação final do QCAA não se revelou suficiente. Assim, e tendo presente o prestigiado
trabalho desenvolvido por Mello et al. (2001) no 27 âmbito do consumo de álcool e dos PLA
em Portugal, já apresentado no capítulo anterior do relatório, foram analisados os 40 itens do
questionário com o objectivo de criar dimensões e permitir uma segunda abordagem de
análise dos dados. No seguimento, uma exaustiva comparação entre os itens do QCAA e os
fundamentos teóricos referidos foram criadas 5 dimensões de análise: álcool e bebidas
alcoólicas (6 itens), álcool no organismo (11 itens), aspectos clínicos do consumo de álcool (13
itens), falsos conceitos (6 itens) e repercussões sociais dos PLA (4 itens). De ressalvar que o
processo de definição das dimensões do QCAA foi validado por 2 peritos que desenvolvem a
sua actividade profissional no âmbito da intervenção no consumo de álcool e PLA. O QCAA foi
precedido de um Questionário de Caracterização (Apêndice I) construído para o efeito, que
inclui as características sociodemográficas, bem como as experiências anteriores e actuais
relativas ao consumo de álcool, e o conhecimento de estratégias de intervenção na educação
pelos pares no âmbito do consumo de álcool em adolescentes, em concordância com os
fundamentos do Modelo de Promoção da Saúde no domínio das características e experiências
pessoais, bem como dos sentimentos e conhecimentos específicos do comportamento. Em
termos de procedimentos, foi agendada uma reunião com os elementos do grupo de
promotores da saúde na qual foram explicitados os objectivos do projecto, o período de
intervenção e o teor da sua participação. A reunião decorreu em espaço angariado pelo grupo,
uma associação comunitária da Alta de Lisboa que cedeu o espaço durante todo o período de
desenvolvimento da intervenção comunitária (Outubro de 2011 a Fevereiro de 2012), com a
duração de cerca de 45 minutos. Após os esclarecimentos e o consentimento de todos os
participantes em participar no projecto de intervenção comunitária (no respeito pelos
princípios éticos que são apresentados de seguida) foram aplicados, os dois questionários de
autopreenchimento anteriormente explicitados, num único momento. A aplicação dos
questionários foi efectuada por administração directa, isto é, os questionários foram
preenchidos pelos próprios participantes (Quivy & Campenhoudt, 2005). 2.1.4. Questões éticas
Na prática de enfermagem é fundamental ter em atenção os direitos das pessoas, centro de
todas as acções de enfermagem (Silva, Fletcher & Sorrell, 2011). No mesmo sentido, a OE
reforça que as intervenções de enfermagem devem ser realizadas com a 28 preocupação da
defesa da liberdade e da dignidade da pessoa humana e do enfermeiro (OE, 2009a).
Reconhecendo a importância das questões éticas na prática dos cuidados de enfermagem, foi
preocupação garantir a sua aplicação em todas as etapas do presente projecto de intervenção
comunitária. Na observância dos princípios éticos e morais aceites pela comunidade científica,
tal como apresentados por Fortin (1999), foram tidos em conta os direitos fundamentais da
pessoa, como sendo: o direito à autodeterminação; direito à intimidade; direito ao anonimato
e à confidencialidade; direito à protecção contra o desconforto e prejuízo e direito a um
tratamento justo e equitativo. Em resposta aos direitos da pessoa, Fry (1999) reforçam os
deveres e responsabilidade dos profissionais de saúde, neste caso do enfermeiro, como sendo:
os deveres de código (actuar de acordo com o Código Deontológico), o dever de veracidade, o
dever de defesa, a regra de confidencialidade, o cuidar e a responsabilidade moral. No
seguimento, a integração dos participantes no projecto de intervenção comunitária, bem
como a aplicação dos instrumentos de colheita de dados foi precedido da solicitação do
consentimento livre e esclarecido, por escrito (Apêndice II). A elaboração do formulário de
consentimento livre e esclarecido teve em conta as orientações de Fortin (1999),
apresentando uma informação clara e precisa, numa linguagem compreensível, simples e
comum. A mesma autora ressalva que antes da assinatura do consentimento é fundamental
oferecer informações sobre o projecto e em que consiste a participação no mesmo, bem como
salvaguardar o direito dos participantes em se retirar em qualquer momento do
desenvolvimento do projecto, sem qualquer penalização e sem o dever de justificação, o que
foi respeitado. Tendo em conta que a intervenção comunitária exige um acompanhamento dos
participantes, aos questionários preenchidos foi atribuído um código por participante, apenas
conhecido pela enfermeira mestranda, garantindo o anonimato e confidencialidade dos dados
colhidos, tal como salvaguardado pela supracitada autora. Neste contexto é ainda de referir
que a aplicação do QCAA foi precedida pela autorização dos autores, na pessoa da Professora
Doutora Teresa Barroso (Anexo III). 2.1.5. Apresentação e análise dos dados Os dados
recolhidos foram introduzidos no programa informático Microsoft Excel ® 2010, e tratados de
acordo com a estatística descritiva, o que inclui a distribuição de 29 frequências, nas variáveis
discretas, e as medidas de tendência central e de dispersão, nas variáveis contínuas (Fortin,
1999). Nesta apresentação e análise dos dados serão apenas destacados os dados
considerados mais relevantes, tanto para a caracterização da população, como para a
identificação de problemas. A totalidade dos dados analisados é apresentada em apêndice,
sendo os relativos à caracterização da população apresentados no Apêndice III, e os dados
relativos aos resultados do QCAA no Apêndice IV. No seguimento, e relativamente à
caracterização sociodemográfica, os participantes da intervenção são maioritariamente do
género masculino (62,50%), com idades compreendidas entre os 16 e os 24 anos, sendo a faixa
etária dos 19 aos 21 anos que apresenta maior frequência, com 43,75%. Ainda relativamente à
idade, de referir que a média de idade dos participantes é de 20,88 (±2,88) anos, com uma
mediana de 21 anos. Relativamente à escolaridade, o ensino secundário é a habilitação
literária mais frequente, com 43,75%, sendo de referir que 3 participantes se encontram ainda
a frequentar o ensino secundário, tendo concluído apenas o ensino básico, 3º ciclo. Dos 13
participantes que já abandonaram o ensino, a nível laboral 84,62% encontram-se no activo e
15,38% desempregados. No que se refere à caracterização do consumo de álcool, mais
especificamente à primeira experiência de consumo, todos os participantes revelam já ter
consumido álcool, verificando-se que a faixa etária de iniciação de consumos mais frequentes
é dos 15 aos 18 anos (62,50%), apresentando contudo uma média de 14,63 (±3,46) anos, ainda
assim acima das médias nacionais apresentadas anteriormente nos dados epidemiológicos. No
entanto é de salientar um dado preocupante e merecedor de reflexão, uma frequência de
18,75% de primeiro consumo de álcool entre os 7 e os 10 anos. No que se refere à companhia
nos primeiros consumos, os amigos/colegas destacam-se com 62,50%, sendo de denotar uma
elevada percentagem na companhia de familiares, nomeadamente ao nível das idades mais
precoces, o que deve agravar a preocupação dos profissionais de saúde. Centrando os
consumos actuais, maioritariamente os participantes revelam consumir raramente (56,25%) e
preferencialmente na companhia exclusiva de amigos/colegas (81,25%), sendo que os outros
12,50% fazem referência aos amigos/colegas e familiares e 6,25% aos amigos/colegas e
sozinho. Estes dados vêm destacar a importância do grupo de pares na problemática do
consumo de álcool nos adolescentes, reforçando a pertinência do actual projecto de
intervenção comunitária. 30 Relativamente à frequência dos episódios de embriaguez, 68,75%
dos participantes referem embriagar-se raramente, sendo contudo de ressalvar que 31,25%
dos participantes referem um consumo de 5 ou mais bebidas alcoólicas numa mesma ocasião,
preenchendo os critérios de binge drinking, e reforçando a elevada prevalência deste padrão
de consumo entre os adolescentes e jovens portugueses, tal como referidos noutros estudos
apresentados aquando da análise epidemiológica à problemática do consumo de álcool na
adolescência. Tendo em conta a finalidade da intervenção comunitária, numa primeira análise
foi centrado o conhecimento relativo a estratégias de promoção da saúde junto de
adolescentes no âmbito do consumo de álcool, sendo estes dados provenientes do
questionário de caracterização dos participantes. Neste contexto é de recordar a constituição
do grupo de promotores da saúde, com alguns elementos que já foram alvo de formação no
âmbito da educação pelos pares, aquando a sua constituição como “jovens mediadores”
(31,25%), e de elementos que desempenharem um papel semelhante na intervenção
comunitária que desenvolvem (68,75%), como já foi refiado aquando da caracterização da
população. No entanto, e apesar destas características, a totalidade do grupo (100,00%)
considera não ter conhecimentos relativos a estratégias de intervenção na educação pelos
pares no âmbito do consumo de álcool nos adolescentes. No que se refere ao QCAA, tal como
verificado num estudo realizado pelos autores da escala (Barroso, Mendes, & Barbosa, 2009),
optou-se por proceder a uma análise por item, contabilizando as respostas correctas (1 ponto)
e as respostas incorrectas (0 pontos), sendo assim 16 (dezasseis) o valor máximo, e 0 (zero) o
mínimo. Assim, em comparação com o citado estudo, que apresenta 4 itens com uma
percentagem de respostas incorrectas superior a 60%, a população da presente intervenção
apresenta 9 itens com a mesma percentagem de respostas incorrectas, nas quais se repetem
os 4 itens identificados no citado estudo (itens 1, 16,34 e 37), destacando-se em ambos os
casos o item 1 com a maior percentagem de respostas incorrectas. Tendo em conta que foi
necessário proceder à criação de dimensões de análise, de acordo com a finalidade do
diagnóstico de situação, seguidamente serão apresentados os dados por dimensão. De forma a
facilitar a comparação dos dados nas diferentes dimensões, para além das medidas de
tendência central e de dispersão será apresentada a pontuação por dimensão, traduzida em
percentagem de respostas correctas. Relativamente à dimensão álcool e bebidas alcoólicas,
verifica-se uma média de 9,34 (±5,68) respostas correctas, com uma mediana de 10,50, sendo
possível verificar 31 pelo valor do desvio padrão uma elevada dispersão da pontuação por
item. Neste sentido, é de referir que nesta dimensão se encontram pontuações desde de 1
(item 1) a 16 respostas correctas (item 29). A pontuação nesta dimensão é assim de 58,38%
respostas correctas. A dimensão álcool no organismo apresenta uma média de 9,90 (±3,30)
respostas correctas, traduzindo uma pontuação de 61,89% de respostas correctas.
Decorrentes da ingestão de álcool evidenciam-se os aspectos clínicos do consumo de álcool,
dimensão que apresenta uma pontuação de 66,81%, resultante de uma média de respostas
correctas de 10,69 (±3,54). Associados aos aspectos clínicos do consumo de álcool surgem os
falsos conceitos, verificando-se nesta dimensão uma pontuação de 62,50%, com uma média de
respostas correctas de 10,00 (±3,52). Destacada das outras dimensões de análise surge a
dimensão repercussões sociais dos PLA ao apresentar uma maior pontuação de respostas
correctas no QCAA, com o valor 93,75%. Esta pontuação resulta de uma média de respostas
correctas de 15,00 (±2,00), muito próximo de 16 respostas correctas, o valor máximo de
respostas correctas por item do QCAA. Uma análise dos dados no sentido de identificar os
problemas que emergem do diagnóstico de situação efectuado ao grupo de promotores da
saúde exigiu uma segunda interpretação dos dados. Por conseguinte, na tentativa de
identificar áreas problemáticas foram analisadas as dimensões álcool no organismo, aspectos
clínicos do consumo de álcool e falsos conceitos, tendo-se verificado que todas as dimensões
se reportam a um conceito comum: as consequências individuais do consumo de álcool. Assim,
visto tratarem-se de três aspectos indissociáveis na educação para o consumo de álcool ao
nível das consequências individuais do consumo, optou-se por criar uma nova dimensão de
análise, repercussões individuais dos PLA, respeitando a terminologia de Mello et al. (2001). A
opção de englobar as dimensões álcool no organismo, aspectos clínicos do consumo de álcool
e falsos conceitos, em uma única dimensão de análise revela-se facilitadora tanto na
identificação de problemas ao nível do conhecimento acerca do álcool no grupo de
promotores da saúde, como na orientação para as estratégias de intervenção. No seguimento,
analisando a dimensão repercussões individuais dos PLA verificase uma média de 10,27
(±3,35), que corresponde a uma pontuação de 64,19% de respostas correctas, valores que não
diferem em grande margem, tanto em termos de 32 medidas de tendência central como de
dispersão, dos apresentados em cada uma das três dimensões que engloba. Tendo em conta
que o diagnóstico de situação deve terminar sempre com uma lista de problemas sobre os
quais se pretende intervir para solucionar ou minimizar (Tavares, 1990), da análise dos dados
anteriormente explicitada é possível identificar três problemas: ausência de conhecimento de
estratégias de intervenção na educação pelos pares no âmbito do consumo de álcool nos
adolescentes; défice de conhecimentos relativos à substância álcool e bebidas alcoólicas;
défice de conhecimentos relativos às repercussões individuais dos PLA. 2.2. Determinação de
Prioridades Na segunda etapa do Planeamento em Saúde, a essência reside num processo de
tomada de decisão. Assim, esta etapa traduz-se na hierarquização dos problemas identificados
no diagnóstico de situação, permitindo uma utilização eficiente dos recursos e a optimização
dos resultados. Na determinação de prioridades, é essencial que se recorra ao uso de critérios
através dos quais se ordenam os problemas, sendo a escolha dos critérios e a sua valorização
crucial nesta etapa (Imperatori & Giraldes, 1993; Tavares, 1990). Tendo em conta as
características do grupo de promotores da saúde, bem como a natureza dos problemas
identificados, as técnicas gerais de ordenação, nomeadamente a Comparação por Pares,
referida por Tavares (1990), apresenta-se como uma opção elegível. A Comparação por Pares
permite a comparação entre 2 problemas, sendo que cada problema será comparado com
todos os outros identificados. Para cada par de problemas será indicado o considerado mais
importante, sendo a definição de prioridades estabelecida a partir da contagem do número de
vezes que cada problema foi seleccionado como o mais importante (idem). Para efeitos de
determinação de prioridades foi considerado importante procederse à aplicação da técnica
seleccionada junto da população alvo da intervenção, o grupo de promotores da saúde. O
tamanho do grupo, 16 elementos, tornou possível esta opção, na medida em que foi
considerada como exequível. Assim, foi marcada uma reunião onde estiveram presentes todos
os participantes do projecto de intervenção comunitária, grupo de promotores da saúde e
enfermeira, com a duração de 45 minutos. 33 Os resultados da análise dos dados recolhidos
com a identificação dos problemas considerados foram devolvidos aos participantes, tendo
estes obtido a concordância do grupo. De seguida foram comparados os problemas entre si,
em grupos de 2, e atribuída uma pontuação final por problema, correspondente ao número de
vez que o problema em análise é escolhido em relação ao problema com que é comparado. A
técnica de priorização foi facilmente compreendida pelos elementos do grupo que muito
facilmente, e de forma unânime, procederam à escolha dos problemas de acordo com as
regras definidas e com as necessidades sentidas. Assim, na aplicação da técnica de
Comparação por Pares, tal como sugerido por Tavares (1990), foi construído um quadro de
priorização (Apêndice V) que permitiu sistematizar a seguinte ordenação dos problemas: 1º.
ausência de conhecimento de estratégias de intervenção na educação pelos pares no âmbito
do consumo de álcool nos adolescentes (com o valor final de 2); 2º. défice de conhecimentos
relativos às repercussões individuais dos PLA (com o valor final de 1). 3º. défice de
conhecimentos relativos à substância álcool e bebidas alcoólicas (com o valor final de 0); 2.2.1.
Diagnósticos de Enfermagem A elaboração de diagnósticos de enfermagem é fundamental
para a prática de cuidados na medida em que proporciona a base para seleccionar as
intervenções de enfermagem a implementar e os resultados a atingir. Para a elaboração dos
diagnósticos de enfermagem foi adoptada a Classificação Internacional para a Prática de
Enfermagem (CIPE®), na sua versão 2, na medida em que é considerada pela OE como um
instrumento basilar para a prática de enfermagem, sendo fundamental para o
desenvolvimento contínuo da profissão (OE, 2011) Analisando os problemas à luz do
referencial teórico do Modelo de Promoção da Saúde, de Nola Pender, verifica-se que todos se
enquadram ao nível das cognições do comportamento, podendo assim ser alterados através
das acções de enfermagem (Pender et al., 2011). As mesmas autoras salientam que os
prestadores de cuidados de saúde e o grupo de pares podem influenciar positiva ou
negativamente a adopção de comportamentos de promoção da saúde. Assim, é justificada a
intervenção de enfermagem junto de um grupo de promotores da saúde com a finalidade de
os capacitar 34 e alterar comportamentos, e paralelamente potenciar a sua intervenção como
pares dos adolescentes da sua comunidade, influenciando a adopção de comportamentos
promotores da saúde, neste caso no âmbito do consumo de álcool. Neste contexto surge a
Educação pelos Pares, já definida neste trabalho como metodologia de “duplo
empowerment”. A este nível é fundamental explicitar, que para se ser considerado um
educador de pares no âmbito de consumo de álcool é necessário receber formação que
aborde tanto os conhecimentos sobre o consumo de álcool e as questões relacionadas com
mesmo, como as competências para educar, transmitir informação, facilitar a discussão e
influenciar as normas sociais (McDonald et al., 2003) Face ao exposto, foi considerado que os
problemas identificados se enquadram num aspecto comum, a capacitação do grupo de
promotores da saúde, sendo estes entendidos como informação relevante das necessidades
de formação específicas deste grupo. Assim, foi formulado o seguinte diagnóstico de
enfermagem, de acordo com a CIPE® 2: Capacidade para desempenhar o papel (Foco) de
educar (Acção) sobre o abuso de álcool (Foco) comprometida (Juízo), no grupo (Cliente) de
promotores da saúde. 2.3. Fixação de Objectivos Face ao diagnóstico de enfermagem procede-
se à fixação de objectivos a atingir num período de tempo definido. Este é um aspecto
fundamental do Planeamento em Saúde na medida em que da correcta quantificação dos
objectivos se poderão avaliar os resultados da intervenção (Imperatori & Giraldes, 1993). De
acordo com os citados autores e Tavares (1990) a fixação de objectivos compreende a selecção
de indicadores, determinação da tendência do problema, fixação dos objectivos a atingir, e a
tradução dos objectivos em objectivos operacionais ou metas. Assim, foram determinados
indicadores de resultado ou impacto e de actividade ou execução (Tavares, 1990). A
determinação da tendência do problema não foi realizada pela inexistência de dados
anteriores sobre os problemas identificados. No que se refere à formulação de objectivos,
estes devem identificar cinco elementos: a natureza da situação desejada, os critérios de
sucesso ou fracasso, a população-alvo, a zona de aplicação do projecto e o tempo em que
deverá ser atingido (idem). No Modelo de Promoção da Saúde, Pender et al. (2011) defendem
que a promoção de mudanças de comportamentos relacionados com a saúde são o grande 35
desafio do enfermeiro, devendo este intervir ao nível dos sentimentos e cognições que podem
afectar o comportamento, capacitando para a tomada de decisões congruentes com
comportamentos promotores da saúde. Assim, com base nos pressupostos enunciados, a
intervenção comunitária teve como objectivo geral: Promover a capacidade de um grupo de
promotores da saúde desenvolver actividades de educação pelos pares no âmbito do consumo
de álcool nos adolescentes, no território da Alta de Lisboa, de Outubro de 2011 a Fevereiro de
2012. Decorrentes do objectivo geral surgem os objectivos operacionais, que enunciam um
resultado desejável e tecnicamente exequível, de forma mensurável (idem). Para esta
intervenção comunitária foram então definidos para território da Alta de Lisboa, de Outubro
de 2011 a Fevereiro de 2012: aumentar os conhecimentos, em 70% dos elementos do grupo
de promotores da saúde, relativamente às consequências individuais do consumo de álcool;
aumentar os conhecimentos dos elementos do grupo de promotores da saúde, em 10%, na
dimensão repercussões individuais dos PLA do QCAA; aumentar os conhecimentos, em 70%
dos elementos do grupo de promotores da

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