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CARLOS
PSICOLOGIA
Araguaína/TO
Junho/2022
Edinalva Barrense da Silva Ferreira
Araguaína/TO
Junho/2022
Edinalva Barrense da Silva Ferreira
Banca Examinadora:
________________________
Profª. Ma. Rosângela de Oliveira Siede
Orientador(a)
Instituição UNITPAC
________________________
Prof° Dr. Adriano Junio Moreira de Sousa
Avaliador(a)
Instituição UNITPAC
________________________
Profª. Ma. Júlia Carolina da Costa Santos
Avaliador(a)
Instituição UNITPAC
Dedico este trabalho a todas as pessoas que estão
enfrentando um intenso sofrimento psíquico e à todas (os)
aquelas (es) que perderam uma pessoa querida por
suicídio.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente à Deus, por ter sido o meu guia, por ter me concedido
saúde, força e determinação para permanecer firme durante a minha graduação e
na realização deste trabalho. Sem Ele, não seria possível chegar ao fim dessa
jornada. Sou grata ao Senhor Jesus, por ter cuidado da minha família, dando-lhes
saúde, paciência e força, para me suportar e me acolher nos dias mais difíceis.
Agradeço ao meu esposo, Claudemar, por todo apoio e companheirismo. Obrigada,
meu amor, por permanecer ao meu lado e suportar as minhas crises de estresse e
ansiedade e não medir esforços para que eu alcançasse o meu objetivo. Sem você
ao meu lado a realização desse trabalho não seria possível. Sou grata a minha filha,
Thamires e aos meus filhos, Ualisson e Arthur, por todo apoio, compreensão, amor,
carinho e por serem o conforto que eu precisava para seguir firme e vencer esta
etapa. Aos meus pais, Marinalva e Anilton, por sempre estarem ao meu lado, me
incentivando e apoiando, e por encherem o meu coração de amor e esperança, ao
longo de toda a minha trajetória. Aos meus irmãos, Adriano e Rodrigo e às minhas
irmãs, Ednalda, Edna Mara e Daiane, por acreditarem e apoiarem o meu sonho. Aos
meus sobrinhos e sobrinhas, por todo carinho. À todas as minhas tias e meus tios,
que mesmo de longe, acreditam e torcem por mim. Às minhas cunhadas Claudiane
e Cleiane e a minha sogra Raimunda, por terem me auxiliado quando foi preciso.
Quero agradecer a todos os meus colegas de graduação, em especial ao meu
amigo querido, Ricardo, pelas palavras de incentivo, por todo apoio e por fazer parte
do meu processo de formação profissional. Você, com certeza, é um amigo que
levarei pra vida. Agradeço imensamente a todos os professores e professoras, por
contribuírem de forma tão significativa, para o meu processo de aprendizagem, em
especial a professora Rosângela de Oliveira Siede, responsável pela orientação
deste trabalho. Obrigada, por esclarecer as minhas dúvidas, por toda sua atenção,
paciência e por me motivar durante todo o processo.
“Para aqueles que perderam alguém para o suicídio – o setembro amarelo
pode doer. Para aqueles que se sentem esquecidos e julgados o ano inteiro, para
serem lembrados e acolhidos apenas durante um mês – o setembro amarelo pode
doer... e até revoltar”. (LIMA, 2021).
RESUMO
The present work has as its theme the "yellow September campaign and the reflexes
of actions in suicide prevention", with the general objective of investigating the
positive and negative impacts of the Yellow September Campaign on suicide
prevention. through the specific objectives: to understand the historical context
related to suicide; describe how the Campaign has been developed; analyze the
impacts of Yellow September for suicide survivors and; to identify existing public
policies for suicide prevention in Brazil and aspects related to Yellow September. As
for the methodology used, it is a literature review. The collection of materials took
place through the digital platforms Google Scholar (Google Academic) and the Portal
of Electronic Journals in Psychology (PePSICO). In the theoretical framework, the
history and meanings attributed to suicide in different peoples and cultures and the
epidemiological data of this phenomenon in the Brazilian context were addressed. He
also discussed what is Yellow September and what are its objectives, the
repercussions of this campaign for bereaved survivors, the mourning for suicide in
the family context, the role of the Psychology professional in the process of
resignifying the mourning for this type of loss and public policies for suicide
prevention in Brazil. It was found that the Yellow September has a significant
importance with regard to suicide prevention actions in Brazil, however, it was
observed that there is a lack of greater criticality in the approach to the phenomenon
of suicide, as well as the massification of information during the campaign, which it
can be a triggering factor for iatrogenic effects, both for those who have lost
someone by suicide and for those who are experiencing intense psychic suffering.
There is also a gap in relation to the campaign's objectives and public policies for
suicide prevention in the country, given that death rates from this cause continue to
rise. It is hoped that the results obtained in this work can contribute to the
development of new research on suicide prevention strategies that cover all social
groups impacted by this phenomenon, as well as the construction of public
prevention policies that act effectively, in terms of reducing mortality rates from this
cause and minimizing the social impacts arising from this serious public health
problem.
FIGURA 01: Evolução das taxas de mortalidade por suicídio, ajustadas por idade,
segundo região. Brasil, 2010 a 2019..........................................................................19
FIGURA 02: Evolução das taxas de mortalidade por suicídio, ajustadas por idade,
segundo sexo. Brasil, 2010 a 2019.............................................................................20
FIGURA 03: Evolução das taxas de mortalidade por suicídio, segundo faixa etária.
Brasil, 2010 a 2019.....................................................................................................21
FIGURA 04: Taxas de mortalidade por suicídio segundo faixa etária e região
geográfica. Brasil, 2010 a 2019..................................................................................21
FIGURA 05: Taxas de mortalidade por suicídio, ajustadas por idade, segundo UF.
Brasil, 2010 a 2019.....................................................................................................22
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................15
2 OBJETIVOS...............................................................................................17
2.1 Objetivo Geral............................................................................................17
3 MÉTODOS.................................................................................................18
4 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO SUICÍDIO................................19
4.1 Dados epidemiológicos do suicídio no Brasil.............................................23
Machado e Santos (2015), avaliam que os danos causados pelo ato suicida
são devastadores, afetando economicamente e psicologicamente, a família, amigos
e toda a rede de apoio da pessoa que consumou o ato. Estes autores (2015),
também mencionam os impactos aos serviços de saúde, visto que há um aumento
nos gastos com atendimentos ambulatoriais, cuidados de emergência e tratamento
de sequelas dos sobreviventes.
Além dos impactos econômicos e psicológicos, a dor e o luto dos
sobreviventes, se apresentam como resultado do suicídio, bem como a
intensificação do sofrimento psíquico e uma maior propensão para o
desenvolvimento do comportamento suicida, nas pessoas afetadas por um suicídio,
como familiares, amigos e colegas de trabalho (SCAVANCINI, 2018).
De Leo (2012, p.7), aponta que “O suicídio é a pior de todas as tragédias
humanas. Não apenas representa a culminância de um sofrimento insuportável para
o indivíduo, mas também significa uma dor perpétua e um questionamento
torturante, infindável para os que ficam”.
Ainda sobre impactos oriundos do suicídio, os quais afetam a dinâmica
familiar, econômica e social dos sobreviventes, Kovacs refere que:
O suicídio é uma das mortes mais difíceis de elaborar, pela forte culpa que
desperta. Ativa a sensação de abandono e impotência em quem fica. O
enlutado, além de lidar com a sua própria culpa, é frequentemente alvo de
suspeita da sociedade como sendo o responsável pela morte do outro.
(KOVACS, 1992, p.156)
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Figura 1 - Evolução das taxas de mortalidade por suicídio, ajustadas por idade, segundo
região. Brasil, 2010 a 2019
Figura 2 - Evolução das taxas de mortalidade por suicídio, ajustadas por idade, segundo
sexo. Brasil, 2010 a 2019
Figura 3 - Evolução das taxas de mortalidade por suicídio, segundo faixa etária. Brasil,
2010 a 2019
Figura 4 - Taxas de mortalidade por suicídio segundo faixa etária e região geográfica. Brasil,
2010 a 2019
sobressaem com taxas de suicídio do país, 11,8 e 11,0, respectivamente, por 100
mil habitantes (Figura 5) (BRASIL, 2021).
Figura 5 - Taxas de mortalidade por suicídio, ajustadas por idade, segundo UF. Brasil, Fonte:
2010 a 2019
Reis (2019), ainda ressalta que quando se trata dos grupos mais vulneráveis
ao suicídio, nota – se uma falta de representatividade nas campanhas, relatando que
em seu estudo, apenas o grupo dos policiais militares foi representado em uma
pequena porcentagem dos materiais divulgados. Não sendo levado em
consideração outros grupos que apresentam altos índices de morte por suicídio,
como os indígenas, a comunidade LGBTQIA+ e os idosos. A autora também infere
que há uma confusão quanto ao público-alvo da campanha, bem como a carência
de discurso que instiguem a ação. Foi observado uma ambiguidade na narrativa, ou
seja, se o material é direcionado a pessoas com comportamento suicida ou à
pessoas que podem ajudar quem está passando por um sofrimento psíquico.
Para Bezerra e Silva (2019), os materiais divulgados durante a campanha
indicam que o movimento setembro amarelo é mais voltado para o público que não
está em risco de suicídio, se considerarmos que as taxas apresentadas devem
impressionar os grupos que não apresentam riscos, para que estes se atentem aos
sinais, a fim de evitar, de algum modo, uma morte por suicídio. Estes autores ainda
alertam sobre a importância de se atentar sobre a forma como tais dados são
divulgados, pois falar de um tema tão complexo, reproduzindo e propagando
informações, sem conhecimento de causa e cuidado, não se atentando até onde,
para quem e como chegam as informações, pode desencadear um efeito contrário
ao que se objetiva a campanha.
Araújo (2021), verifica que durante o mês de setembro cresce de forma
avassaladora o número de profissionais de saúde mental ou até da gestão de
negócios, ofertando soluções instantâneas para o comportamento suicida, sejam
elas de caráter comportamental, motivacional ou medicamentosa. Alguns abordam a
temática de forma simplista, com cheklists de condutas a serem seguidas a fim de
reduzir a zero os índices de suicídios no Brasil, algo impensável, tendo em vista a
complexidade do ser humano.
27
O suicídio é uma morte como nenhuma outra, e aqueles que são deixados
para lutar com isso devem enfrentar uma dor sem igual. Eles são deixados
com o choque e o infindável “e se”. São deixados com a raiva e a culpa e,
vezes por outra, com um terrível sentimento de alívio. São deixados para
uma infinidade de perguntas dos outros, respondidas ou não, sobre o
motivo; são deixados ao silêncio dos outros, que estão horrorizados,
embaraçados, e incapazes de formular um bilhete de pêsames, dar um
abraço, fazer um comentário; e são deixados com outros pensando – e eles
também – que poderiam ter sido feito mais. (JAMISON, 2010, p. 264. Apud
FUKUMITSU, 2013, p. 32).
conseguido identificar os sinais comportamentais, a raiva por não ter impedido que
alguém tão próximo tirasse a própria vida, a frustração por se sentir impotente diante
do ocorrido, dentre outras reações afetivas, podendo desencadear um intenso
sofrimento psíquico (OLIVEIRA et al., 2021).
Vale destacar que quando se trata do fenômeno suicídio, fala – se em fatores
de riscos e fatores de proteção, enquadrando as condições biológicas neste
primeiro. Neste sentido, Scavancini instrui que:
um tipo de perda não expressa socialmente, sendo associada ao luto não autorizado
(WORDEN, 2013). Este autor ainda refere que:
Para Rocha e Lima (2019), após uma perda por suicídio é importante que os
enlutados recebam ajuda especializada para o processo de ressignificação do luto.
Neste sentido, Fukumitsu e Kovács (2015, p. 43), referem que “[...]o processo de luto
exige uma assimilação da morte violenta e repentina que se instalou na vida. É
preciso metabolizar para que a pessoa em luto não se torne refém permanente da
tragédia que a impactou.”
Kreuz e Bredemeier (2021), ressaltam que pensar na morte de um ente
querido é algo que desencadeia um desconforto, independentemente de como se
dará esse fato. Contudo, a morte repentina decorrente de suicídio é aterrorizante,
tanto pelo o impacto da perda em si, quanto pelas circunstâncias implicadas no ato.
Ainda segundo essas autoras (2021), diante de uma morte por suicídio, emergem
questionamentos acerca dos “porquês” que persistem sem serem respondidos. Por
consequência do estigma que circunda este tipo de morte e a falta de respostas que
justifiquem o ato, pode [...]emergir sentimentos muito intensos de auto culpa, raiva,
medo e profunda dor. Estas pessoas fortemente impactadas pelo suicídio,
denominadas sobreviventes, experimentarão um luto com especificidades (KREUZ;
BREDEMEIER, 2021, p. 228).
A fim de atender as demandas dos sobreviventes, surge a necessidade de se
oferecer diferentes serviços de apoio direcionados aos enlutados por suicídio.
(FLEXHAUG e YAZGANOGLU, 2008 apud CORNEJO, 2018). Para denominar tais
serviços de apoio, utiliza-se o termo “postvention” (posvenção), o qual foi cunhado
por Edwin Shneidman (1973) e caracteriza a “prevenção” para futuras gerações
(tradução Instituto Vita Alere). A posvenção diz respeito a todo cuidado direcionado
aos sobreviventes enlutados por suicídio, com o objetivo de oferecer apoio
emocional, intervenções, acolhimento e assistência à todas as pessoas impactadas
por um suicídio consumado (SCAVANCINI et al., 2020).
Na intervenção do luto por este tipo de perda “[...] um dos objetivos do
profissional, em especial da (o) psicóloga (o), é o de se tornar facilitador para que o
enlutado possa se reconciliar com a vida após o suicídio de um ente querido”
(FUKUMITSU; KOVÁCS, 2015, p. 44). Worden (2013), aponta alguns procedimentos
necessários para a intervenção com os sobreviventes enlutados, que seria: testar a
realidade de culpa e responsabilidade; corrigir distorções e negações; explorar
fantasias de futuro; trabalhar a raiva; testar a realidade do sentimento de abandono
34
e auxiliar na busca para encontrar significado na morte. O autor discorre sobre tais
procedimentos:
risco de suicídio. Isso não significa que durante o mês de setembro haja
uma elevação da incidência de suicídios, entretanto há sim uma maior
conscientização da sociedade e sua consequente mobilização em busca da
assistência e da prevenção. (CARVALHO-RIGO, 2017, p. 3).
agir diante de pessoas com comportamento suicida, bem como manejar os grupos
considerados de risco (Botega, 2015).
Já em 2011, o Ministério da Saúde, por meio da portaria n° 3.088, de 23 de
dezembro de 2011, implantou a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), destinada as
pessoas com sofrimento psíquico ou transtorno mental e com necessidades
oriundas do uso de crack, álcool e outras drogas, na esfera do Sistema Único de
Saúde (SUS), desta forma, o cuidado em saúde mental é ofertado interligando toda
a rede que compõe a RAPS (BRASIL, 2011).
Em 2013, durante a 66ª Assembleia Mundial da Saúde, a Organização
Mundial da Saúde (OMS), estabeleceu um Plano de Ação Integral de Saúde Mental,
no qual vários países, dentre eles o Brasil, se comprometeram a implementar
estratégias de prevenção e redução de 10% nos índices de suicídio, até 2020. Tal
plano, juntamente com a publicação, no ano seguinte do Relatório “Prevenindo o
Suicídio: Um Imperativo Global, se constituem em um marco importante na agenda
de prevenção ao suicídio em nível mundial (OMS, 2013; OMS, 2014).
A Portaria n° 1.271/2014 do Ministério da Saúde, define a Lista Nacional de
Notificação Compulsória de doenças e agravos e eventos de saúde pública nos
serviços de saúde público e privado em todo território nacional, incluindo nesta Lista
as tentativas de suicídio e o suicídio consumado agravos de notificação compulsória
imediata. Sendo necessário o acionamento imediato da rede de atenção e proteção,
para que se adotem as medidas adequadas para cada caso (BRASIL, 2014).
Ainda empenhado no desenvolvimento de estratégias de prevenção ao
suicídio, em 2017, o Ministério da Saúde ratifica o compromisso firmado na Portaria
n° 1.876/2006, e pública a Agenda de ações Estratégicas para a Vigilância do
Suicídio e Promoção da Saúde no Brasil 2017-2020. Esta Agenda de Ações
Estratégicas, tem como objetivo ampliação e fortalecimento das ações de promoção
da saúde, bem como a prevenção e atenção integral voltadas ao suicídio, a fim de
reduzir as tentativas e as mortes por suicídio. Observando os determinantes sociais
da saúde e as especificidades das populações e grupos sociais em situação de
maior vulnerabilidade a este fenômeno e os municípios e grupos de municípios com
alto índice de mortes por esta causa (BRASIL, 2017).
Neste mesmo ano, o Ministério da Saúde pública a Portaria N° 3.491 de 18 de
dezembro de 2017, visando construir e coordenar estratégias relacionadas a
38
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
fenômeno, bem como avaliar como ficam as demandas suscitadas durante o período
da campanha.
Para alcançar uma melhor compreensão sobre os impactos positivos e
negativos da Campanha Setembro Amarelo na prevenção ao suicídio, definiu-se
quatro objetivos. O primeiro objetivo foi buscar compreender o contexto histórico do
suicídio, no qual verificou-se que este fenômeno sempre se fez presente na história
da humanidade, no entanto, em cada período da história e em diferentes povos, são
atribuídos sentidos históricos e sociais distintos, desde um julgamento moral,
religioso ou legal, até ser visto como um problema cientifico à ser investigado.
Contudo, o que se percebe é que o tabu e o estigma em torno deste
fenômeno permanecem até os dias atuais, mesmo sendo apontado, pela OMS,
como um problema de saúde pública e uma das principais causas de mortes em
todo o mundo. Os significados atribuídos ao suicídio, contribui para o fortalecimento
da resistência ao debate acerca desta temática e, consequentemente, o aumento
continuo nas taxas de mortes decorrentes do autoextermínio.
Depois buscou-se descrever de que forma a campanha setembro amarelo
vem sendo desenvolvida. A análise permitiu concluir que o Setembro Amarelo é,
sem dúvida nenhuma, uma das maiores estratégias de prevenção do suicídio
existente no país, tendo em vista o seu alcance e adesão de diferentes entidades,
órgãos de classe e da sociedade como um todo. Entretanto, mesmo contando com o
alcance e magnitude desta campanha, de acordo com os últimos Boletins
Epidemiológicos, divulgados pelo Ministério da saúde, em 2017 e 2021, os índices
de suicídio continuam em ascensão no país. O que de certa forma, demonstra uma
lacuna em relação a campanha, visto que tal estratégia tem como objetivo prevenir e
reduzir as mortalidades por suicídio.
A elevação nas taxas de suicídio, após quase oito anos da criação da
campanha, pode demonstrar um efeito iatrogênico da citada estratégia, o que pode
estar relacionado a maneira como a mesma vem sendo desenvolvida. Porquanto,
como apresentado no decorrer deste trabalho, alguns autores têm uma visão crítica
em relação a forma simplista com que um tema tão complexo é abordado durante o
mês de setembro, apontando também, uma banalização e concentração das
informações durante este período. Bem como, as diversas publicações em redes
43
vem se mostrando ineficiente quando se trata da redução das mortes por esta
causa, visto que, como já citado anteriormente, os índices de suicídio no Brasil
continuam elevados.
Vale ressaltar que este trabalho não tem a pretensão de invalidar a relevância
e magnitude da Campanha Setembro Amarelo, mas sim, levar os leitores a
refletirem de forma crítica sobre a complexidade do fenômeno do suicídio, a fim de
que se aborde a temática levando em consideração os diferentes aspectos
envolvidos no ato suicida e não apenas por uma perspectiva motivacional e de
valorização da vida.
Conclui-se que esse trabalho possa contribuir para que sejam desenvolvidas
novas formas e novos olhares em relação a prevenção do suicídio, bem como a
necessidade da realização de ações de prevenção durante todo ano, evitando
assim, a concentração de informações somente no mês de setembro e a abordagem
de forma simplista acerca de um fenômeno tão complexo. Levando em conta os
serviços de apoio emocional e de saúde mental disponíveis e a sua efetividade, no
que diz respeito a absorção das demandas suscitadas durante a campanha.
Este trabalho não finaliza nesta etapa, é importante que sejam desenvolvidas
pesquisas que delimitem métodos de abordagem de prevenção ao comportamento
suicida, abarcando outros personagens que são impactados de forma direta pelo
suicídio de alguém próximo, bem como aqueles que estão enfrentando um intenso
sofrimento psíquico, e que podem sentir-se ainda mais fragilizados durante o
período da campanha.
45
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