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UNITPAC – CENTRO UNIVERSITÁRIO TOCANTINENSE PRESIDENTE ANTONIO

CARLOS
PSICOLOGIA

A Campanha Setembro Amarelo e os reflexos das ações na prevenção ao


suicídio

Edinalva Barrense da Silva Ferreira

Araguaína/TO
Junho/2022
Edinalva Barrense da Silva Ferreira

A Campanha Setembro Amarelo e os reflexos das ações na prevenção ao


suicídio

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


UNITPAC/ITPAC como requisito parcial para
obtenção do grau de bacharel em Psicologia. Profª
orientadora: Rosângela de Oliveira Siede.

Araguaína/TO
Junho/2022
Edinalva Barrense da Silva Ferreira

A Campanha Setembro Amarelo e os reflexos das ações na prevenção ao


suicídio

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à UNITPAC/ITPAC como requisito


parcial para obtenção do grau de bacharel em Psicologia submetido à Banca
Examinadora em 08 de julho de 2022.

Banca Examinadora:

________________________
Profª. Ma. Rosângela de Oliveira Siede
Orientador(a)
Instituição UNITPAC

________________________
Prof° Dr. Adriano Junio Moreira de Sousa
Avaliador(a)
Instituição UNITPAC

________________________
Profª. Ma. Júlia Carolina da Costa Santos
Avaliador(a)
Instituição UNITPAC
Dedico este trabalho a todas as pessoas que estão
enfrentando um intenso sofrimento psíquico e à todas (os)
aquelas (es) que perderam uma pessoa querida por
suicídio.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Deus, por ter sido o meu guia, por ter me concedido
saúde, força e determinação para permanecer firme durante a minha graduação e
na realização deste trabalho. Sem Ele, não seria possível chegar ao fim dessa
jornada. Sou grata ao Senhor Jesus, por ter cuidado da minha família, dando-lhes
saúde, paciência e força, para me suportar e me acolher nos dias mais difíceis.
Agradeço ao meu esposo, Claudemar, por todo apoio e companheirismo. Obrigada,
meu amor, por permanecer ao meu lado e suportar as minhas crises de estresse e
ansiedade e não medir esforços para que eu alcançasse o meu objetivo. Sem você
ao meu lado a realização desse trabalho não seria possível. Sou grata a minha filha,
Thamires e aos meus filhos, Ualisson e Arthur, por todo apoio, compreensão, amor,
carinho e por serem o conforto que eu precisava para seguir firme e vencer esta
etapa. Aos meus pais, Marinalva e Anilton, por sempre estarem ao meu lado, me
incentivando e apoiando, e por encherem o meu coração de amor e esperança, ao
longo de toda a minha trajetória. Aos meus irmãos, Adriano e Rodrigo e às minhas
irmãs, Ednalda, Edna Mara e Daiane, por acreditarem e apoiarem o meu sonho. Aos
meus sobrinhos e sobrinhas, por todo carinho. À todas as minhas tias e meus tios,
que mesmo de longe, acreditam e torcem por mim. Às minhas cunhadas Claudiane
e Cleiane e a minha sogra Raimunda, por terem me auxiliado quando foi preciso.
Quero agradecer a todos os meus colegas de graduação, em especial ao meu
amigo querido, Ricardo, pelas palavras de incentivo, por todo apoio e por fazer parte
do meu processo de formação profissional. Você, com certeza, é um amigo que
levarei pra vida. Agradeço imensamente a todos os professores e professoras, por
contribuírem de forma tão significativa, para o meu processo de aprendizagem, em
especial a professora Rosângela de Oliveira Siede, responsável pela orientação
deste trabalho. Obrigada, por esclarecer as minhas dúvidas, por toda sua atenção,
paciência e por me motivar durante todo o processo.
“Para aqueles que perderam alguém para o suicídio – o setembro amarelo
pode doer. Para aqueles que se sentem esquecidos e julgados o ano inteiro, para
serem lembrados e acolhidos apenas durante um mês – o setembro amarelo pode
doer... e até revoltar”. (LIMA, 2021).
RESUMO

A CAMPANHA SETEMBRO AMARELO E OS REFLEXOS DAS AÇÕES


NA PREVENÇÃO AO SUICÍDIO
Edinalva Barrense da Silva Ferreira
ednalvabarrense728@gmail.com.

O presente trabalho tem como tema a “campanha setembro amarelo e os reflexos


das ações na prevenção ao suicídio”, tendo como objetivo geral, investigar os
impactos positivos e negativos da Campanha Setembro Amarelo na prevenção ao
suicídio. Para tanto, buscou-se, por meio dos objetivos específicos: compreender o
contexto histórico relacionado ao suicídio; descrever de que forma a Campanha vem
sendo desenvolvida; analisar os impactos do setembro amarelo para os
sobreviventes do suicídio e; identificar as políticas públicas de prevenção ao suicídio
existentes no Brasil e os aspectos relacionados ao setembro amarelo. Quanto a
metodologia utilizada trata-se de uma revisão de literatura. A coleta dos materiais se
deu por meio das plataformas digitais Google Scholar (Google Acadêmico) e o Portal
de Periódicos Eletrônicos em Psicologia (PePSICO). No referencial teórico foi
abordado a história e os significados atribuídos ao suicídio em diferentes povos e
culturas e os dados epidemiológicos deste fenômeno no contexto brasileiro.
Também discorreu sobre o que é o Setembro amarelo e quais os seus objetivos, as
repercussões desta campanha para os sobreviventes enlutados, o luto por suicídio
no contexto familiar, o papel do profissional da Psicologia no processo de
ressignificação do luto por este tipo de perda e as políticas públicas de prevenção ao
suicídio existentes no Brasil. Verificou-se que o setembro amarelo tem uma
importância significativa no que diz respeito as ações de prevenção ao suicídio no
Brasil, contudo foi observado que falta uma maior criticidade na abordagem do
fenômeno do suicídio, bem como a massificação de informações durante a
campanha, que pode se configurar em um fator desencadeador de efeitos
iatrogênicos, tanto para quem perdeu alguém por suicídio quanto para aqueles que
estão enfrentando um intenso sofrimento psíquico. Há também uma lacuna em
relação aos objetivos da campanha e as políticas públicas de prevenção ao suicídio
existentes no país, tendo em vista que os índices de mortes por esta causa
continuam em ascensão. Espera-se que os resultados obtidos neste trabalho
possam contribuir para o desenvolvimento de novas pesquisas acerca de estratégias
de prevenção do suicídio que abarquem todos os grupos sociais impactados por
este fenômeno, bem como a construção de políticas públicas de prevenção que
atuem de forma efetiva, no que se refere a redução das taxas de mortalidade por
esta causa e a minimização dos impactos sociais oriundos deste grave problema de
saúde pública.

Palavras-chave: Prevenção. Reflexos. Setembro Amarelo. Suicídio.


ABSTRACT

THE YELLOW SEPTEMBER CAMPAIGNAN AND THE REFLEXES OF SUICIDE


PREVENTION ACTIONS
Edinalva Barrense da Silva Ferreira
ednalvabarrense728@gmail.com.

The present work has as its theme the "yellow September campaign and the reflexes
of actions in suicide prevention", with the general objective of investigating the
positive and negative impacts of the Yellow September Campaign on suicide
prevention. through the specific objectives: to understand the historical context
related to suicide; describe how the Campaign has been developed; analyze the
impacts of Yellow September for suicide survivors and; to identify existing public
policies for suicide prevention in Brazil and aspects related to Yellow September. As
for the methodology used, it is a literature review. The collection of materials took
place through the digital platforms Google Scholar (Google Academic) and the Portal
of Electronic Journals in Psychology (PePSICO). In the theoretical framework, the
history and meanings attributed to suicide in different peoples and cultures and the
epidemiological data of this phenomenon in the Brazilian context were addressed. He
also discussed what is Yellow September and what are its objectives, the
repercussions of this campaign for bereaved survivors, the mourning for suicide in
the family context, the role of the Psychology professional in the process of
resignifying the mourning for this type of loss and public policies for suicide
prevention in Brazil. It was found that the Yellow September has a significant
importance with regard to suicide prevention actions in Brazil, however, it was
observed that there is a lack of greater criticality in the approach to the phenomenon
of suicide, as well as the massification of information during the campaign, which it
can be a triggering factor for iatrogenic effects, both for those who have lost
someone by suicide and for those who are experiencing intense psychic suffering.
There is also a gap in relation to the campaign's objectives and public policies for
suicide prevention in the country, given that death rates from this cause continue to
rise. It is hoped that the results obtained in this work can contribute to the
development of new research on suicide prevention strategies that cover all social
groups impacted by this phenomenon, as well as the construction of public
prevention policies that act effectively, in terms of reducing mortality rates from this
cause and minimizing the social impacts arising from this serious public health
problem.

Keywords: Prevention. Reflexes. Yellow September. Suicide.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 01: Evolução das taxas de mortalidade por suicídio, ajustadas por idade,
segundo região. Brasil, 2010 a 2019..........................................................................19
FIGURA 02: Evolução das taxas de mortalidade por suicídio, ajustadas por idade,
segundo sexo. Brasil, 2010 a 2019.............................................................................20
FIGURA 03: Evolução das taxas de mortalidade por suicídio, segundo faixa etária.
Brasil, 2010 a 2019.....................................................................................................21
FIGURA 04: Taxas de mortalidade por suicídio segundo faixa etária e região
geográfica. Brasil, 2010 a 2019..................................................................................21
FIGURA 05: Taxas de mortalidade por suicídio, ajustadas por idade, segundo UF.
Brasil, 2010 a 2019.....................................................................................................22
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................15
2 OBJETIVOS...............................................................................................17
2.1 Objetivo Geral............................................................................................17

2.2 Objetivos Específicos.................................................................................17

3 MÉTODOS.................................................................................................18
4 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO SUICÍDIO................................19
4.1 Dados epidemiológicos do suicídio no Brasil.............................................23

5 A CAMPANHA SETEMBRO AMARELO NO BRASIL.............................27


5.1 Atitudes adotadas durante a campanha e as reverberações do setembro
amarelo na prevenção ao suicídio..............................................................................29

5.2 O setembro amarelo e os sobreviventes enlutados por suicídio..............32

6 A MORTE POR SUICÍDIO E O LUTO FAMILIAR...................................35


6.1 O papel do profissional da psicologia no processo de ressignificação do
luto por suicídio...........................................................................................................37

7 O SETEMBRO AMARELO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE


PREVENÇÃO AO SUICÍDIO EXISTENTES NO BRASIL..........................................39
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................46
REFERÊNCIAS...........................................................................................................48
11
1 INTRODUÇÃO

O suicídio é um fenômeno que atravessa a história da humanidade. E,


atualmente, é considerado um problema de saúde pública que afeta a toda a
sociedade, sendo uma das principais causas de morte em todo o mundo, ficando à
frente de doenças como HIV, malária, câncer de mama e até de guerras e
homicídios. Estima-se, que os números de tentativas de suicídio sejam cerca de 10
a 20 vezes maior que o número total de suicídios consumados (OMS, 2014).
Botega (2015), avalia que o comportamento suicida é constituído por três
categorias: a ideação suicida; planos de suicídio e a tentativa de suicídio ou suicídio
consumado. Para este autor, no espectro do comportamento suicida, o ato suicida é
a ponta do iceberg. Ainda de acordo com Botega:

As tentativas de suicídio acabam tendo impacto social e econômico


significativo, representado pela utilização dos serviços de saúde e pelo
efeito psicológico e social sobre o indivíduo e seus familiares, além do ônus
decorrente da incapacitação de longa duração que pode ser ocasionada
pelo ato suicida. (BOTEGA, 2015, p. 52).

De acordo com o Relatório da Organização Mundial da Saúde (2021),


intitulado de “Worldwide in 2019: Global Health Estimates”, que trata das taxas
mundiais de suicídios, só em 2019, mais de 700 mil pessoas morreram por esta
causa em todo o mundo. Diante dos resultados obtidos no relatório citado, a OMS,
desenvolveu novas orientações, a fim de auxiliar os países a melhorarem as
estratégias de prevenção do suicídio e de atendimento as pessoas em risco, tendo
como compromisso reduzir os índices até 2030.
Durkheim (2000), considerado o percussor da sociologia, em especial da
visão sociológica sobre o suicídio, define o fenômeno como toda morte que resulta
direta ou indiretamente de um ato, positivo (ex. arma de fogo) ou negativo (ex. greve
de fome) realizado pela própria vítima, a qual sabia que teria como resultado um
desfecho fatal. Cassorla (2004, p.21, apud SCAVANCINI, 2018, p.28), define o
suicídio como “uma morte em que o indivíduo, voluntária e conscientemente,
executou um ato ou adotou um comportamento que ele acreditava que o levaria à
morte”. A OMS (2014), define o suicídio como um ato deliberado, no qual, a pessoa,
intencionalmente, tem como propósito dar um desfecho final a própria vida.
12

Machado e Santos (2015), avaliam que os danos causados pelo ato suicida
são devastadores, afetando economicamente e psicologicamente, a família, amigos
e toda a rede de apoio da pessoa que consumou o ato. Estes autores (2015),
também mencionam os impactos aos serviços de saúde, visto que há um aumento
nos gastos com atendimentos ambulatoriais, cuidados de emergência e tratamento
de sequelas dos sobreviventes.
Além dos impactos econômicos e psicológicos, a dor e o luto dos
sobreviventes, se apresentam como resultado do suicídio, bem como a
intensificação do sofrimento psíquico e uma maior propensão para o
desenvolvimento do comportamento suicida, nas pessoas afetadas por um suicídio,
como familiares, amigos e colegas de trabalho (SCAVANCINI, 2018).
De Leo (2012, p.7), aponta que “O suicídio é a pior de todas as tragédias
humanas. Não apenas representa a culminância de um sofrimento insuportável para
o indivíduo, mas também significa uma dor perpétua e um questionamento
torturante, infindável para os que ficam”.
Ainda sobre impactos oriundos do suicídio, os quais afetam a dinâmica
familiar, econômica e social dos sobreviventes, Kovacs refere que:

O suicídio é uma das mortes mais difíceis de elaborar, pela forte culpa que
desperta. Ativa a sensação de abandono e impotência em quem fica. O
enlutado, além de lidar com a sua própria culpa, é frequentemente alvo de
suspeita da sociedade como sendo o responsável pela morte do outro.
(KOVACS, 1992, p.156)

Diante do aumento significativo nos índices de suicídio e dos impactos socias


decorrentes deste fenômeno, em 2014, a OMS reconhece o suicídio como uma
prioridade de saúde pública. E neste mesmo ano publicou o primeiro Relatório
Mundial de Suicídio, intitulado de – “Prevenção do suicídio: um imperativo global”, o
qual tinha como objetivo aumentar a conscientização a despeito da importância da
saúde pública, tanto para as tentativas de suicídio quanto para o suicídio
consumado.
Com isso, coloca as ações de prevenção ao suicídio como uma questão de
alta prioridade na agenda global, no que diz respeito a saúde pública.
Recomendando o desenvolvimento de estratégias de conscientização e prevenção
13

do suicídio, por meio de uma abordagem que envolva diversos setores da


sociedade, como saúde, educação, trabalho, agronegócios, justiça, política e até a
mídia (OMS, 2014).
No Brasil, em 2014, como estratégia de conscientização sobre a prevenção
do suicídio, o Centro de Valorização da Vida (CVV), em parceria com a Associação
Brasileira de Psiquiatria (ABP), e o Conselho Federal de Medicina (CFM), lançaram
a “Campanha Setembro Amarelo” (CSA). Desde então, diversas ações informativas
são programadas e desenvolvidas durante todo o mês de setembro.
Diante do exposto e considerando o objetivo ao qual a Campanha Setembro
Amarelo se propõe e os últimos resultados divulgados no Relatório da OMS, surge o
seguinte questionamento: “Quais os efeitos da campanha setembro amarelo para a
prevenção do suicídio e como ficam as demandas suscitadas pela campanha?”
Com base nisto, este trabalho tem como proposta investigar os impactos
positivos e negativos da Campanha Setembro Amarelo na Prevenção ao Suicídio,
por meio de uma revisão bibliográfica. Para tanto, foram utilizadas as bases de
dados Scientific Eletronic Library (SciELO), Google Scholar (Google Acadêmico) e
Portal de Periódicos Eletrônicos em Psicologia PePSIC), inclui-se nesta busca os
artigos científicos, teses e dissertações publicadas nos últimos anos e escritos em
Português.

2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral

Investigar os impactos positivos e negativos da Campanha Setembro Amarelo


na Prevenção ao Suicídio, por meio de uma revisão bibliográfica.

2.2 Objetivos Específicos

 Compreender o contexto histórico relacionado ao suicídio;


 Descrever de que forma a Campanha Setembro Amarelo vem sendo
desenvolvida;
 Analisar os impactos do setembro amarelo para os sobreviventes do
suicídio;
14

 Identificar as políticas públicas de prevenção ao suicídio existente no


Brasil e os aspectos relacionados ao Setembro Amarelo.
3 MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica, a qual é compreendida


como a leitura, análise e interpretação de fontes já existentes. Dentre os quais
podemos citar livros, periódicos, imagens, manuscritos, entre outros (Gil, 2002).
“Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros
pesquisadores e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a
serem pesquisados”. (SEVERINO, 2007, p.106).
A pesquisa é definida por Gil (2002), como:

[...]o procedimento racional e sistemático que tem como objetivo


proporcionar respostas aos problemas que são propostos. A pesquisa é
requerida quando não se dispõe de informação suficiente para responder ao
problema, ou então quando a informação disponível se encontra em tal
estado de desordem que não possa ser adequadamente relacionada ao
problema. (GIL, 2002, p. 17).

O presente trabalho teve como proposta analisar os efeitos positivos e


negativos da Campanha Setembro Amarelo na prevenção ao suicídio. A fim de
encontrar trabalhos científicos que discorressem sobre o tema proposto, foi realizado
uma pesquisa por meio das plataformas digitais Scientific Eletronic Library (SciELO),
Google Scholar (Google Acadêmico) e Portal de Periódicos Eletrônicos em
Psicologia PePSIC). As palavras-chave utilizadas na busca foram: suicídio,
impactos, setembro amarelo.
Os resultados obtidos a partir da busca foi de 2.660, incluindo artigos, livros e
publicações diversas. A fim de identificar os trabalhos que atendiam os critérios
estabelecidos, foi realizada a leitura dos títulos e resumos de diversos trabalhos.
Após a seleção, restaram 10 artigos, 1 monografia e 1 dissertação.
Após as buscas, os materiais encontrados passaram por um processo de
seleção, no qual foram estabelecidos como critérios de inclusão, trabalhos científicos
em Língua Portuguesa e como critérios de exclusão, materiais que não
possibilitassem o acesso gratuito, não abordassem, de forma crítica a temática do
suicídio e a campanha setembro amarelo, bem como as repetições.
15

Os trabalhos foram selecionados de acordo com a questão problema proposta


nesta pesquisa, tendo maior relevância artigos publicados após o ano de 2014.
Porém, é importante ressaltar que materiais como: Teses, livros e artigos científicos
e textos clássicos sobre a temática do suicídio, conhecidos previamente pela autora,
também foram inclusos no arcabouço teórico deste trabalho.

4 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO SUICÍDIO

O comportamento suicida se faz presente na história de diferentes povos,


desde os primórdios, sendo relatado em diversos livros antigos, como exemplo, a
Bíblia. Se apresentando como uma forma heroica de libertar um povo ou relacionado
a fuga, com o propósito de escapar de uma situação sem saída (Bertolote, 2012).
Este autor, cita que: “Ao longo da história da Humanidade, o suicídio tem sido um
importante e constante objeto de estudo da Filosofia - mais particularmente da Ética,
e, a partir da Idade Média, da Teologia através da Epistemologia”. (BERTOLOTE,
2013, p. 122).
De acordo com este mesmo autor (2012), a palavra suicídio é oriunda do
grego autófonos, que significa “que mata a si mesmo”, traduzida para o inglês
(suicide) e posteriormente para outros idiomas. Sendo utilizada pela primeira vez,
em 1643, pelo médico inglês Thomas Browne, em seu livro Religio medice,
publicado em Londres. Esse autor dividia o suicídio de duas formas, sendo uma
delas heroica e a outra patológica. Bertolote (2013), afirma que até então, na
Europa, utilizava-se o termo felo de se, ou assassino de si mesmo. No que diz
respeito ao ponto de vista etimológico o termo suicídio vem do latim Sui (de si
mesmo) e Caedere (matar), que significa matar a si mesmo.
É importante falar sobre os sentidos históricos e sociais atribuídos a este
fenômeno em diferentes sociedades. Botega (2015), cita que em certos povos
primitivos havia a crença de que o suicídio poderia tornar o indivíduo imortal ou ser
fonte de vingança para destruir o inimigo. O ato suicida era parte integrante dos
costumes tribais como uma forma de evitar a desonra, fuga da escravidão, reação a
perdas afetivas, ou como uma maneira de evitar a sobrecarga dos mais jovens, por
conta das limitações da idade avançada.
16

Botega (2015), cita que na Antiguidade Greco-Romana, o suicídio era uma


prática racional de um direito pessoal, de modo geral, era uma prática tolerável,
desde que não se parecesse um desrespeito gratuito aos deuses. Neste período, o
valor social pertencia ao Estado, sendo necessário que as autoridades consentissem
o ato. O desrespeito a esta norma era passível de punições, como o impedimento
das honras fúnebres e a decepação da mão do cadáver que era enterrada à parte.
Ainda segundo Botega (2015), na Idade Média o fenômeno passa a ser visto
pelo paradigma religioso, com a ideia de pecado em Santo Agostinho. Neste
período, o ato de tirar a própria vida passou a ser considerado como um pecado
mortal, pois rejeitar a vida era o mesmo que rejeitar a Deus. Como consequência, o
corpo do morto poderia sofrer punições como a forca e ter o peito atravessado por
estaca e uma pedra colocada em cima do rosto, a fim de garantir que o morto não
retornaria para assustar os vivos.
A partir da Idade Moderna, rompe-se com o olhar religioso frente ao ato,
dando espaço para uma visão existencial e humanizada para a questão (MINOIS,
1998 apud SCAVANCINI; CORNEJO; CESCON, 2019). Após a Revolução Industrial,
no século XIX, a sociedade passa por grandes transformações, e com isso o suicídio
passa de um julgamento moral, religioso ou legal para um problema científico
(SCAVANCINI; CORNEJO; CESCON, 2019).
Durkheim em 1897, em sua obra intitulada Le suicide (2000), relaciona o
suicídio a fatores sociais, como algo imposto ao indivíduo, pela coletividade, em sua
pesquisa, esse autor, rejeita todo argumento que não envolva fatores sociais, dentre
eles as disposições orgânicas psíquicas, as características do ambiente físico e o
processo de imitação.
Durkheim (1996 apud Botega, 2015), sustenta a sua base empírica por meio
da análise do padrão das taxas de suicídio em alguns países, realizadas em
subgrupos sociais específicos (sexo, estado civil, profissão, religião e etnias),
observando as diferenças nos números entre católicos e protestantes europeus, nos
quais o autor discute de forma dialética, referindo que os números de suicídio de um
país estão relacionados a sua situação atual e que as alterações nessas taxas se
associam aos problemas que afetam tal sociedade.
17

Para Durkheim (2000), a partir da Revolução Industrial, a tríade: Família,


Estado e Igreja deixaram de funcionar de forma harmônica, não havendo nada que
os substituísse. Diante disso, este autor propõe, a partir de duas variáveis
(integração e controle social) quatro tipos de suicídio, sendo estes: o suicídio
egoísta, suicídio altruísta, suicídio anômico e suicídio fatalista. Os quais, segundo
Scavancini (2018), estão ligados as relações sociais de uma pessoa, a qual se
integra e participa de um determinado grupo e dele se sente pertencente, se
comportando de acordo com as normas sociais e morais instituídas pela sociedade
da qual esta faz parte, sendo o respeito as normativas impostas, os requisitos
exigidos para que a mesma faça parte de um grupo.
O suicídio egoísta ocorre entre pessoas pouco ou nada integradas a um
grupo social, ou seja, são indivíduos que são pertencentes a grupos não aceitos
socialmente; O suicídio altruísta, diz respeito a pessoas com alta integração social,
no qual há o sacrifício da própria vida pelo bem de outro ou de um grupo, ou até
mesmo para defender/proteger ideias, como exemplo camicases, homens-bomba,
religiosos, militares (SCAVANCINI, 2018).
O suicídio anômico pode ser observado entre indivíduos que estão inseridos
em uma sociedade na qual tem-se a ausência ou enfraquecimento das normas
sociais, sociedades em crise econômica, quando há grandes conflitos entre as
classes sociais, em que o funcionamento da sociedade é alterado; o suicídio fatalista
acontece entre pessoas que vivem em situações de intensa pressão social, os quais
estão submetidos ou submetem-se a regras e controles rígidos, onde não há
esperança de mudança ou que não conseguem modificar a situação que estão
inseridos, como por exemplo escravos, prisioneiros, pessoas que perderam a honra
ou que precisam lidar com constantes desilusões (BOTEGA, 2015).
No entanto, mesmo a teoria de Durkheim tendo contribuído para o
desenvolvimento de muitas pesquisas referentes ao ato suicida, existe críticas à sua
obra. Minayo (1998), cita que:

Os vários estudiosos que seguem essa corrente discutem o papel do


sujeito, dos significados e das intencionalidades como parte integrante do
fato e do ato social. Desta forma, recusam a posição de Durkheim que retira
do âmbito da sociologia toda a gama de relações sociais e de reações que
compõem a complexa dinâmica da autoviolência humana, para encerrá-la
em variáveis e regularidades sociais. É claro que a posição de Durkheim se
18

apoia na sua premissa básica de coerção da sociedade sobre o indivíduo, e


é a partir daí que explica (para usar uma de suas categorias) esse fato
social. (MINAYO, 1998, p. 423).

Edwin S. Shneidman, considerado o pai da suicidologia, aponta que do ponto


de vista psicológico, para que um suicídio aconteça existe uma combinação de
elementos, como: sentimento de desamparo, desesperança; sofrimento intolerável;
atitude de autodesvalorização; constrição marcada da mente, com prejuízo das
tarefas do dia a dia (SCAVANCINI, 2018). Vale ressaltar, que a psychache, termo
denominado por Shneidman de dor psíquica, trata-se:

[...]de uma dor intolerável, vivenciada como uma turbulência emocional


interminável, uma sensação angustiante de estar preso em si mesmo, sem
encontrar a saída. [...] decorre do desespero de não ter as necessidades
psicológicas básicas atendidas, como as necessidades de realização, de
autonomia, de reconhecimento, de amparo e evitação de humilhação de
vergonha e de dor. (BOTEGA, 2015, p.76).

Botega (2015), relaciona o comportamento suicida com os quatro Ds: a


depressão, o desamparo, a desesperança e o desespero. Este autor (2015), ainda
refere que: “Nessa condição, a combinação de desespero e desesperança leva a
necessidade de um alívio rápido: a cessação da consciência para interromper a dor
psíquica”. Ou seja, para Chiles & Strosahl (2005 apud Scavancini, 2018, p. 31) , “o
suicídio nesses casos não é visto como problema e sim como solução, para um
problema sentido, apresentando os três Is: intolerável, inescapável e interminável”.
Cândido (2011, p.74), cita que: “O comportamento suicida, como todo
comportamento humano é claramente um fenômeno multidimensional, resultante da
interação de fatores complexos”. Desta forma, “o suicídio é o comportamento em
que a pessoa coloca sua própria vida em risco, uma vez que procura formas
propositais de autodestruição, pensando em estratégias para atingir esse objetivo.”
(RAMBO; PEZZI, 2019, p.20).
19

4.1 Dados epidemiológicos do suicídio no Brasil

Dados atualizados e divulgados pelo Ministério da Saúde, em setembro de


2021, por meio do Boletim Epidemiológico referentes a Mortalidade por Suicídio no
Brasil, o qual tem como referência os números registrados no Sistema de
Informações sobre Mortalidade (SIM), apontam que no Brasil, de 2010 a 2019,
112.230 mil pessoas morreram por suicídio, sendo que em 2010 foram 9.454 e em
2019 13.523 vidas perdidas, por este tipo de morte (BRASIL, 2021).
O boletim também indica que a taxa nacional subiu de 5,24 por 100 mil
habitantes, em 2010, para 6,6, por 100 mil habitantes, em 2019, sendo que as
regiões Sul e Centro-Oeste, concentram os maiores números de suicídios entre as
regiões brasileiras. Os dados também demonstram, maior prevalência de mortes por
suicídio entre homens, com um risco 3,8 maior que em mulheres. Apresentando, em
2019, uma taxa de mortalidade de 10,7 por 100 mil, ao passo que entre as mulheres
o número é de 2,9. Ao verificar a evolução das mortes em decorrência do suicídio,
segundo o sexo, no período de 2010 e 2019, foi observado um aumento de 29% nas
taxas de suicídio entre as mulheres e 26% entre os homens (Figuras 1 e 2)
(BRASIL, 2021).

Figura 1 - Evolução das taxas de mortalidade por suicídio, ajustadas por idade, segundo
região. Brasil, 2010 a 2019

Fonte: Ministério da Saúde – Secretaria de Vigilância em Saúde.


20

Figura 2 - Evolução das taxas de mortalidade por suicídio, ajustadas por idade, segundo
sexo. Brasil, 2010 a 2019

Fonte: Ministério da Saúde – Secretaria de Vigilância em Saúde

Ao analisar a distribuição do risco de morte por suicídio, tendo como base


faixa etária, foi observado que as Regiões Sul e Centro-Oeste se destacaram com
maiores taxas de suicídio de adolescentes de 15 a 19 anos. Neste cenário as
Regiões Norte e Centro-Oeste, se destacam com maiores índices de mortes por
suicídio entre jovens de 15 a 19 anos, com taxas de 9,7 e 9,8, respectivamente, por
100 mil habitantes. Foi percebido uma elevação das taxas em todas as faixas etárias
e um avanço significativo nos índices de mortalidade por suicídio entre adolescentes
e menores de 14 anos (Figuras 3 e 4) (BRASIL, 2021).
21

Figura 3 - Evolução das taxas de mortalidade por suicídio, segundo faixa etária. Brasil,
2010 a 2019

Fonte: Ministério da Saúde – Secretaria de vigilância em Saúde .

Figura 4 - Taxas de mortalidade por suicídio segundo faixa etária e região geográfica. Brasil,
2010 a 2019

Fonte: Ministério da Saúde – Secretaria de Vigilância em Saúde.

Ao analisar a mortalidade por suicídio entre os estados brasileiros, foi


observado que todos os estados da Região Sul do País apresentaram taxas
superiores a média nacional. Os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina se
22

sobressaem com taxas de suicídio do país, 11,8 e 11,0, respectivamente, por 100
mil habitantes (Figura 5) (BRASIL, 2021).

Figura 5 - Taxas de mortalidade por suicídio, ajustadas por idade, segundo UF. Brasil, Fonte:
2010 a 2019

Ministério da Saúde – Secretaria de Vigilância em Saúde.

Os resultados obtidos demonstraram um aumento consistente nos números


de morte por suicídio nos últimos 10 anos e um crescimento de 43% na taxa anual
de mortes, apontando um acréscimo no risco em todas as regiões brasileiras
(BRASIL, 2021).
Oliveira et al (2020), realizaram um estudo o qual teve como proposta,
analisar as notificações de mortes por suicídio no Brasil antes e depois do
lançamento da CSA, mais especificamente, no período compreendido entre 2013 e
2016, utilizando dados secundários contidos no Sistema de Informações sobre
Mortalidade (SIM) e no Sistema de Informação de Agravos e Notificação (SINAN),
disponibilizados pelo DATASUS. Tal estudo, demonstrou que os números
relacionados as mortes decorrentes de suicídio apresentaram dados crescentes
após a criação da referida campanha, indicando uma variação nos índices de
mortalidade de 45 em 2013, para 75 em 2016, correspondendo a uma elevação de
66,6% nas taxas entre os anos citados acima, tendo como base as notificações
realizadas no DATASUS.
23

Corroborando com isso, o 1° Boletim Epidemiológico, sobre as mortalidades


por suicídio no Brasil, nos anos de 2011 a 2015, divulgado em 2017, aponta que as
taxas de suicídio por 100 mil habitantes, no ano de 2011 era de 5,3 e de 5,7, em
2015. Comparando com o Boletim Epidemiológico, divulgado em 2021, observa-se
que os índices são ascendentes, visto que, no ano de 2019, a média nacional de
mortes por esta causa, foi de 6,6 por 100 mil habitantes. (BRASIL, 2017; BRASIL,
2021). O Relatório divulgado pela OMS, já citado anteriormente, aponta que, ao
passo que, mundialmente, as taxas de suicídio vêm diminuindo, nas Américas os
números são crescentes (OMS, 2021).
Cândido (2011), ressalta que os números informados não levam em
consideração o alto índice de subnotificação presente no nosso sistema de saúde, a
exemplo do que acontece em vários países em desenvolvimento. Para este autor
(2011), isso ocorre devido a fatores como o estigma existente em torno do tema,
bem como as dificuldades em caracterizar e notificar o fenômeno, sendo comum no
âmbito da saúde pública brasileira, por exemplo, que tentativas de suicídio sejam
notificadas como intoxicações ou traumatismos, sem maiores especificações.

5 A CAMPANHA SETEMBRO AMARELO NO BRASIL

No Brasil, em 2014, tendo como base o dia 10 de setembro, Dia Mundial de


Prevenção ao Suicídio, instituído, em 2003, pela Associação Internacional de
Prevenção ao Suicídio (International Association for Suicide Prevention - IASP), em
parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Federação Mundial de
Saúde Mental, houve a criação do Setembro Amarelo. Tal campanha vem se
tornando uma das estratégias de prevenção do suicídio com maior relevância, visto
que, foi a partir da sua criação que as questões relacionadas a prevenção das
mortes por autoextermínio vêm crescendo, ganhando força e visibilidade e contando
cada vez mais com a adesão de instituições públicas e privadas, órgãos de classe e
da sociedade como um todo (CARVALHO-RIGO, 2017).
A Campanha Setembro Amarelo tem como foco trabalhar a questão da
prevenção do suicídio, a ampliação dos meios de divulgação, contando com novos
espaços, com o auxílio da mídia, iluminando em tons amarelos os monumentos
históricos, pontos turísticos, espaços públicos e privados no Brasil inteiro. Em 2017,
24

a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina


(CFM) lançaram as Diretrizes para Participação e Divulgação do Setembro Amarelo.
O documento tem como objetivo orientar as pessoas, as empresas e demais
parceiros que queiram contribuir para ampliação da causa (CFM, 2021).
Carvalho-Rigo (2017), destaca que a relevância e grandeza da campanha
setembro amarelo não se resume apenas em iluminar de amarelo praças e
monumentos importantes, mas conscientizar a sociedade sobre um grave problema
de saúde pública e, acima de tudo, desenvolver estratégias capazes de absorver as
demandas suscitadas após a campanha.
Corroborando com isso, Gonçalves et al. (2021), destaca a magnitude da
campanha setembro amarelo, que por meio dos conteúdos divulgados no mês de
setembro, convida a sociedade a refletir e tomar consciência, acerca de um
fenômeno que ainda é rodeado de estigma e preconceito. Tal movimento, instiga a
sociedade brasileira a abrir espaço para que questões relacionadas ao sofrimento
psíquico e ao comportamento suicida, sejam discutidos para além de setembro,
outro ponto a ser considerado é o caráter social do setembro amarelo, pois trata-se
de um movimento de ordem de saúde pública, não visando fins lucrativos.
Neste sentido, Scavancini (2018), aponta a necessidade de aumentar a
consciência a respeito do fenômeno do suicídio, para além de somente falar em
quebrar o tabu, para que não incorra na simplificação de uma discussão tão
complexa. Para tanto, a autora sugere o desenvolvimento e utilização dos 6Cs
necessários para ampliar a consciência, diminuir o estigma e prevenir o suicídio:
Conscientização; Campanhas; Capacitação; Competências; Conversa e Conexão:

Conscientização (awareness) para as pessoas perceberem e saberem que


o suicídio existe e que é um problema de todos; Campanhas para ajudar na
conscientização e divulgação da problemática do suicídio; Capacitação para
ensinar as pessoas e os profissionais como lidar e tratar do suicídio;
Competência (literacy) para saber quando e como usar esse conhecimento
para a pessoa com comportamento suicida e as pessoas próximas;
Conversa para incentivar o diálogo e a possibilidade de falar abertamente
sobre o suicídio e Conexão (connectedness) saudável entre pessoas,
familiares, organizações, comunidades e grupos para perceber que há
pessoas que se importam com a questão, assim, unindo forças na
prevenção do suicídio. (SCAVANCINI, 2018, p. 213).
25

Durante todo o período da Campanha é enfatizado a importância de se


atentar aos sinais verbais e comportamentais, bem como, fatores de risco e
proteção, a fim de identificar pessoas em risco de suicídio. Na cartilha intitulada
“Suicídio: informando para prevenir”, elaborada pela Associação Brasileira de
Psiquiatria (2014), a identificação dos “sinais” e fatores de riscos são colocados
como ponto central para prevenção do autoextermínio.
Oliveira et al. (2021), observam que há uma grande movimentação da
população, em especial, de profissionais de saúde mental com o intuito de promover
rodas de conversas sobre o tema, bem como ofertar atendimento aqueles que
precisam. Estes autores ainda refletem sobre a massificação de informações acerca
dos dados epidemiológicos que buscam confirmar a importância das ações de
prevenção.

5.1 Atitudes adotadas durante a campanha e as reverberações do setembro


amarelo na prevenção ao suicídio

Bertolucci (2021), relata que neste período há uma propagação em massa de


inúmeras informações relacionadas ao suicídio, nos mais variados espaços, como
escolas, universidades, hospitais e nas mídias sociais, com orientações sobre “o que
se fala”, “como se fala” e “quem fala”. Neste contexto, é comum se deparar com um
grande número de psicólogos (as) palestrantes, se colocando em um lugar de
“suposto saber” e atribuindo possíveis causas para as tentativas e/ou suicídios
consumados, além de uma dita “orientação" aos familiares e outros profissionais, a
fim de identificar “suicidas em potencial”. Para esta autora (2021), tal postura tornam
técnicas as experiências humanas e suas diferenças.
Reis (2019), ressalta que mesmo diante da necessidade de discutir o suicídio
durante o ano todo, mais de 50% das produções publicitárias relacionadas a
prevenção, se concentram no mês de setembro. E 80% destas, são divulgadas em
forma de posts nas redes sociais. Ainda de acordo com esta autora (2019), a
prevenção do suicídio é abordada de forma pontual no mês de setembro, contudo,
existe limitações nos materiais publicados, visto que há informações incompletas e
frases de efeito sem muitas especificações:
26

“Setembro Amarelo: mês de prevenção ao suicídio” junto a assinatura do


anunciante, e não tentavam persuadir o leitor. Não era fornecido número de
telefone, site ou endereço para buscar maiores informações. É marcante,
também, a falta de diretrizes: muitas campanhas afirmavam que era
importante buscar e/ou oferecer ajuda, e ao mesmo tempo não diziam onde,
como, com quem, quando, porquê. (REIS, 2019, p. 58).

Reis (2019), ainda ressalta que quando se trata dos grupos mais vulneráveis
ao suicídio, nota – se uma falta de representatividade nas campanhas, relatando que
em seu estudo, apenas o grupo dos policiais militares foi representado em uma
pequena porcentagem dos materiais divulgados. Não sendo levado em
consideração outros grupos que apresentam altos índices de morte por suicídio,
como os indígenas, a comunidade LGBTQIA+ e os idosos. A autora também infere
que há uma confusão quanto ao público-alvo da campanha, bem como a carência
de discurso que instiguem a ação. Foi observado uma ambiguidade na narrativa, ou
seja, se o material é direcionado a pessoas com comportamento suicida ou à
pessoas que podem ajudar quem está passando por um sofrimento psíquico.
Para Bezerra e Silva (2019), os materiais divulgados durante a campanha
indicam que o movimento setembro amarelo é mais voltado para o público que não
está em risco de suicídio, se considerarmos que as taxas apresentadas devem
impressionar os grupos que não apresentam riscos, para que estes se atentem aos
sinais, a fim de evitar, de algum modo, uma morte por suicídio. Estes autores ainda
alertam sobre a importância de se atentar sobre a forma como tais dados são
divulgados, pois falar de um tema tão complexo, reproduzindo e propagando
informações, sem conhecimento de causa e cuidado, não se atentando até onde,
para quem e como chegam as informações, pode desencadear um efeito contrário
ao que se objetiva a campanha.
Araújo (2021), verifica que durante o mês de setembro cresce de forma
avassaladora o número de profissionais de saúde mental ou até da gestão de
negócios, ofertando soluções instantâneas para o comportamento suicida, sejam
elas de caráter comportamental, motivacional ou medicamentosa. Alguns abordam a
temática de forma simplista, com cheklists de condutas a serem seguidas a fim de
reduzir a zero os índices de suicídios no Brasil, algo impensável, tendo em vista a
complexidade do ser humano.
27

A propagação em massa de informações, pode fazer com que as pessoas,


em um determinado momento, não se atentem mais ao que é divulgado,
permanecendo apenas o grupo das pessoas que se interessam pelo tema, vestindo
camiseta e participando de eventos, distribuindo materiais informativos, tentando,
mas sem êxito, conscientizar a sociedade (SCAVANCINI, 2018).
Para Araújo (2021), a ampliação da campanha para o mês inteiro
desencadeou, nos últimos tempos, um efeito iatrogênico, promovendo a
mercantilização e a desinformação sobre o comportamento suicida. Visto que, tomou
rumos diferentes da proposta inicial, constituindo-se uma tendência de mercado
(market trend), servindo de trampolim para autopromoção de profissionais
qualificados e não qualificados, personalidades digitais, celebridades e políticos
(Araújo, 2021). Quanto a isso, Scavancini, alerta que: “Pessoas famosas falando
sobre suicídio, merecem cuidado especial devido a sua capacidade de influenciar
positiva ou negativamente” (SCAVANCINI, 2018, p. 221).
Scavancini (2018), traz o conceito de marketing amarelo como uma crítica ao
engajamento das pessoas durante as campanhas a fim de cumprirem protocolo e se
promoverem nas redes sociais. A prevenção ao suicídio vai além de simplesmente
colocar fitinhas amarelas, é muito mais do que uma ação de marketing com o nome
de conscientização, para tanto é necessário que se tenha mais engajamento para
que as campanhas não se resumam apenas ao marketing amarelo e não se limitem
a um único mês.
Garcia (2019), alerta para o viés biomédico adotado nas mensagens
amplamente divulgadas nas redes sociais, durante a campanha. Como exemplo a
afirmativa encontrada no site da Conselho Federal de Medicina (2021), que diz:
“Cerca de 96,8% dos casos de suicídio estavam relacionados a transtornos mentais.
Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de
substâncias.” Tal postura se constitui um problema, pois “explicar o suicídio somente
a partir do modelo médico dos transtornos mentais ou da irracionalidade do impulso
impede que outras vozes, outros motivos, outros fatores sejam levados em
consideração”. (SCAVANCINI, 2018, p. 186).
É importante ressaltar a questão da medicalização do suicídio durante a
campanha, pois de acordo com Garcia (2019), com o crescimento do setembro
amarelo, o movimento passou a contar com a participação da indústria farmacêutica
28

em sua divulgação, embora os grandes laboratórios não a organizem oficialmente.


Fato que pode ser observado em uma postagem divulgada, No Facebook, no perfil
empresarial, do laboratório Daiichi Sankyo Brasil, na campanha de 2018:
O Setembro Amarelo existe para falar, esclarecer, conscientizar e estimular
a prevenção sobre o suicídio. As doenças mentais podem ser o gancho para
um desfecho tão triste; uma dessas doenças é a depressão bipolar, que
mais causa mortes por suicídios no mundo. Por isso, lembre-se: depressão
bipolar pode ser tratada! Se você ou alguém próximo tem sintomas de
depressão ou de qualquer outro transtorno afetivo, busque auxílio médico!
(DAIICHI SANKYO BRASIL, 2018 apud GARCIA, 2019, p. 48).

De acordo com Garcia (2019), o caráter biomédico do Setembro Amarelo vem


recebendo críticas, mesmo que dispersas. Diante de uma manifestação nas redes
sociais, feita pela Associação Brasileira de Psiquiatria, de que “suicídio é uma
emergência médica” e que “apenas conversar não resolve”, levou a Associação
Brasileira de Saúde Mental a publicar uma nota de repúdio, em setembro de 2018,
se contrapondo a tal manifestação:

A postagem reduz a complexidade deste fenômeno que é humano - com


múltiplos condicionantes nos aspectos existenciais, psíquicos, sociais,
midiáticos, culturais e também, mas não exclusivamente biológico– a uma
captura unilateral por uma disciplina/saber e assim, se contrapõe aos
esforços interdisciplinares e interprofissionais de compreensão e atuação no
sentido da defesa da vida. […] é mandatário enfatizar o crescimento das
taxas epidemiológicas de suicídios em sociedades submetidas a políticas
neoliberais e de austeridade. Esta evidência tem sido desconsiderada nas
campanhas nacionais de proteção a tais pessoas reduzindo a complexidade
do fenômeno suicídio a uma condição biológica. (ABRASME, 2018 apud
CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA 15° REGIÃO, 2018).

Além do caráter biomédico e medicamentoso, Araújo (2021), alerta para o


caráter mercadológico adotado durante a campanha. Para este autor, um fenômeno
que é socialmente determinado, transforma-se em objeto de discurso
individualizante e patologizante, limitando-se a uma anormalidade a ser corrigida.
Fazendo com que até profissionais com formação adequada, deixem se levar por
esse tipo de racionalidade. Desta forma:

 A tendência neoliberal de converter tudo, inclusive a saúde mental, em


objeto de administração empresarial de si, torna muitos profissionais
qualificados reféns dessa lógica mercadológica. Mesmo sem a intenção,
muitos colaboram para a espetacularização e mercantilização do suicídio ao
restringirem seu campo de reflexão a soluções morais, discursos de união e
29

empatia, por justamente serem os mais propícios ao consumo nas redes


sociais e à aceitação pelo senso comum. Esta fórmula seduz inclusive
gestores públicos, que compram a ideia e assim se eximem da
responsabilidade de implementar políticas públicas de redução das
desigualdades. Aliás, é importante lembrar que a redução das
desigualdades tem impacto na redução dos suicídios. (ARAÚJO, 2021).

5.2 O setembro amarelo e os sobreviventes enlutados por suicídio

Em meio a um cenário em que o foco é a prevenção ao suicídio, no qual


existe uma propagação em massa de informações sobre o fenômeno, como fatores
de riscos e fatores e de proteção, bem como a importância de se atentar aos sinais,
outros personagens são afetados, os quais, são descritos na literatura, como
“sobreviventes”, este grupo vivencia as especificidades do luto por suicídio,
(TAVARES, 2013).
Segundo Fontenelle (2008 apud Scavancini; Cornejo; Cescon, 2019), não é
por acaso que as pessoas enlutadas e impactadas por um suicídio são chamadas de
“sobreviventes”, pois os estudos realizados até então, indicam que as reações
emocionais das pessoas que vivenciam esse tipo de perda, são comparáveis às de
indivíduos que passaram por eventos traumáticos, como por exemplo, um estupro,
uma guerra ou até mesmo, foram vítimas de um crime violento.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2014), para cada
suicídio consumado, cerca de 5 a 10 pessoas são impactadas, desde familiares,
amigos, profissionais, colegas até pessoas que testemunharam o fato. No entanto,
dependendo das relações socioafetivas da vítima e do contexto no qual o fato foi
consumado, é possível que este número seja bem maior. Scavancini et al (2020),
estimam que cerca de 135 pessoas podem ser impactadas por este tipo de morte,
indicando, que no Brasil, um total de aproximadamente, um milhão e oitocentas mil
pessoas são afetadas pelo suicídio.
No Brasil, utiliza-se o termo “sobrevivente enlutado pelo suicídio”, a fim de
evitar confusão com a definição de pessoas que tentaram o suicídio, mas o ato não
foi consumado (SCAVANCINI; MELEIRO, 2018). Quando o suicídio de um ente
querido é consumado tudo fica diferente, para Scavancini, Cornejo e Cescon (2019,
p. 2014), “Há uma vida antes e uma após o suicídio de alguém amado, nada será
igual. Serão necessários uma ressignificação e reconstrução.”
30

Segundo Bertolote (2012), as pessoas que perdem alguém por suicídio,


tendem a tomar para si a responsabilidade, pelo ocorrido do que outros que
perderam um ente querido por causas naturais, além de sentirem-se mais
envergonhados e isolados que os demais. Jamison ressalta que:

O suicídio é uma morte como nenhuma outra, e aqueles que são deixados
para lutar com isso devem enfrentar uma dor sem igual. Eles são deixados
com o choque e o infindável “e se”. São deixados com a raiva e a culpa e,
vezes por outra, com um terrível sentimento de alívio. São deixados para
uma infinidade de perguntas dos outros, respondidas ou não, sobre o
motivo; são deixados ao silêncio dos outros, que estão horrorizados,
embaraçados, e incapazes de formular um bilhete de pêsames, dar um
abraço, fazer um comentário; e são deixados com outros pensando – e eles
também – que poderiam ter sido feito mais. (JAMISON, 2010, p. 264. Apud
FUKUMITSU, 2013, p. 32).

De acordo com Bezerra e Silva (2019), no mês de setembro as redes sociais


são transformadas em murais para exposição de informações sobre a prevenção ao
suicídio. Segundo estas autoras, neste período, fala -se sobre fatores de risco e
proteção, sinais de risco, dicas de como se deve ou não deve agir, do que pode ou
não ser dito, diante de uma pessoa com comportamento suicida, além das inúmeras
lives de valorização da vida. Se por um lado há uma ampliação na divulgação da
campanha e de informações cientificamente relevantes, por outro lado se observa
uma banalização do tema, pois muitas vezes é reproduzido sem pouca ou nenhuma
criticidade.
Durante a campanha, é comum nos depararmos com inúmeros posters,
publicados nas redes sociais e em outros meios de comunicação, contendo a
seguinte legenda: “90% dos suicídios poderiam ser evitados”. Tal frase é
reproduzida tendo como base informações divulgadas pela a OMS (2006), que a
partir de estudos retrospectivos de “autópsia psicológica”, em que é realizada uma
investigação pós-morte, acerca dos determinantes psicológicos envolvidos nas
vítimas de mortes violentas, conclui que 90% dos casos das pessoas que morreram
por suicídio, tinha algum transtorno mental, sendo assim, ao se tratar uma doença
mental, consequentemente, evita o suicídio.
Tal discurso pode reforçar a ideia de que algo mais poderia ter sido feito para
que aquele ente querido não tivesse consumado o ato, ressurgindo nos
sobreviventes o sentimento de culpa, raiva e frustração: a culpa por não ter
31

conseguido identificar os sinais comportamentais, a raiva por não ter impedido que
alguém tão próximo tirasse a própria vida, a frustração por se sentir impotente diante
do ocorrido, dentre outras reações afetivas, podendo desencadear um intenso
sofrimento psíquico (OLIVEIRA et al., 2021).
Vale destacar que quando se trata do fenômeno suicídio, fala – se em fatores
de riscos e fatores de proteção, enquadrando as condições biológicas neste
primeiro. Neste sentido, Scavancini instrui que:

Nunca se deve apresentar versão simplista para um fenômeno complexo,


tentar explicá-lo somente por um ângulo é uma visão reducionista. Nem
todos os fatores têm o mesmo peso para as pessoas, porque o suicídio é
um ato individual, que terá influências de múltiplos fatores em diferentes
graus para cada pessoa. Não se pode culpar uma pessoa pela doença de
outra, assim como não cabe uma única explicação causal para o suicídio,
como se somente um fator (ou pessoa) fosse o responsável por essa morte.
(SCAVANCINI, 2018, p. 34).

Carvalho-Rigo (2017), salienta que durante o período da campanha os


sobreviventes são tomados de grande sensibilidade, não raro, durante o mês de
setembro as pessoas que perderam alguém por suicídio reeditam dores antigas ou
recentes relacionadas a perda de alguém próximo por suicídio.

6 A MORTE POR SUICÍDIO E O LUTO FAMILIAR

O suicídio “pode gerar o que é nomeado de luto complicado, que ocorre


quando há uma intensificação do luto até o ponto em que a pessoa se sente
sobrecarregada ou permanece interminavelmente num estado de luto, sem
progressão do processo em direção a sua evolução”. (SCAVANCINI; CORNEJO;
CESCON, 2019, p.204). Se constituindo na “[...] crise de luto mais difícil para
qualquer família enfrentar e resolver de maneira eficaz”. (WORDEN, 2013, p. 130).
Quando um suicídio é consumado, a família fica em estado de choque e após
o impacto inicial precisam lidar com o sofrimento, as repercussões da perda no
funcionamento do sistema familiar e as marcas deixadas pelo ato traumático
(DUTRA et al, 2018). Além das reações emocionais agudas e os sentimentos
oriundos da morte por suicídio, os familiares também precisam enfrentar o
julgamento da sociedade e o estigma que circunda este fenômeno, visto que esse é
32

um tipo de perda não expressa socialmente, sendo associada ao luto não autorizado
(WORDEN, 2013). Este autor ainda refere que:

Os sobreviventes são os que têm de sofrer a vergonha depois que um


membro da família tira sua própria vida e esse senso de vergonha pode ser
influenciado pelas reações dos outros. “Ninguém conversará comigo”, disse
uma mulher, cujo filho se matou. “Eles agem como se isso nunca tivesse
acontecido”. Essa pressão emocional adicional não apenas afeta a
interação dos sobreviventes com a sociedade, como também pode alterar
dramaticamente os relacionamentos dentro da unidade familiar (WORDEN,
2013, p. 130).

Dutra et al (2018), inferem que a morte por suicídio é um acontecimento


traumático e a angústia e o desespero tomam conta dos familiares, pois não há uma
justificativa para o ato, os “porquês” ficam sem respostas o que faz com que os
familiares se questionem sobre a veracidade do fato e atribuam outras causas para
o óbito. Neste sentido, Worden, refere que:

A família cria um mito sobre o que realmente aconteceu à vítima e qualquer


um que desafia esse mito, mencionando a morte com seu nome real, vira
alvo da raiva dos outros, que precisam ver isso como morte acidental ou
outro tipo de fenômeno mais natural. Esse tipo de pensamento distorcido
pode ser considerado útil durante curto período, mas definitivamente não é
produtivo a longo prazo. (WORDEN, 2013, p. 132).

Vale destacar que o luto é um processo saudável para a elaboração de uma


perda, no entanto, quando se fala em luto por suicídio é preciso levar em
consideração as especificidades que caracterizam esse tipo de luto, como a
intensificação dos sentimentos de culpa, vergonha, isolamento, dentre outros já
mencionados, que podem desencadear um estado de estresse aumentado e um
intenso sofrimento psíquico, o que pode representar um importante fator de risco
para o suicídio (AGUIRRE e SLATER, 2010 apud CORNEJO, 2018).

6.1 O papel do profissional da psicologia no processo de ressignificação do


luto por suicídio
33

Para Rocha e Lima (2019), após uma perda por suicídio é importante que os
enlutados recebam ajuda especializada para o processo de ressignificação do luto.
Neste sentido, Fukumitsu e Kovács (2015, p. 43), referem que “[...]o processo de luto
exige uma assimilação da morte violenta e repentina que se instalou na vida. É
preciso metabolizar para que a pessoa em luto não se torne refém permanente da
tragédia que a impactou.”
Kreuz e Bredemeier (2021), ressaltam que pensar na morte de um ente
querido é algo que desencadeia um desconforto, independentemente de como se
dará esse fato. Contudo, a morte repentina decorrente de suicídio é aterrorizante,
tanto pelo o impacto da perda em si, quanto pelas circunstâncias implicadas no ato.
Ainda segundo essas autoras (2021), diante de uma morte por suicídio, emergem
questionamentos acerca dos “porquês” que persistem sem serem respondidos. Por
consequência do estigma que circunda este tipo de morte e a falta de respostas que
justifiquem o ato, pode [...]emergir sentimentos muito intensos de auto culpa, raiva,
medo e profunda dor. Estas pessoas fortemente impactadas pelo suicídio,
denominadas sobreviventes, experimentarão um luto com especificidades (KREUZ;
BREDEMEIER, 2021, p. 228).
A fim de atender as demandas dos sobreviventes, surge a necessidade de se
oferecer diferentes serviços de apoio direcionados aos enlutados por suicídio.
(FLEXHAUG e YAZGANOGLU, 2008 apud CORNEJO, 2018). Para denominar tais
serviços de apoio, utiliza-se o termo “postvention” (posvenção), o qual foi cunhado
por Edwin Shneidman (1973) e caracteriza a “prevenção” para futuras gerações
(tradução Instituto Vita Alere). A posvenção diz respeito a todo cuidado direcionado
aos sobreviventes enlutados por suicídio, com o objetivo de oferecer apoio
emocional, intervenções, acolhimento e assistência à todas as pessoas impactadas
por um suicídio consumado (SCAVANCINI et al., 2020).
Na intervenção do luto por este tipo de perda “[...] um dos objetivos do
profissional, em especial da (o) psicóloga (o), é o de se tornar facilitador para que o
enlutado possa se reconciliar com a vida após o suicídio de um ente querido”
(FUKUMITSU; KOVÁCS, 2015, p. 44). Worden (2013), aponta alguns procedimentos
necessários para a intervenção com os sobreviventes enlutados, que seria: testar a
realidade de culpa e responsabilidade; corrigir distorções e negações; explorar
fantasias de futuro; trabalhar a raiva; testar a realidade do sentimento de abandono
34

e auxiliar na busca para encontrar significado na morte. O autor discorre sobre tais
procedimentos:

Quando a responsabilização é a característica predominante, o conselheiro


também pode promover o teste de realidade. Se a culpabilização toma a
forma de bode expiatório, os encontros em família podem ser um modo
eficaz para resolver isso. [...] os sobreviventes precisam encarar a realidade
do suicídio para que sejam capazes de trabalhá-lo. Usar palavras fortes com
eles, tais como “se matou” ou “se enforcou” pode facilitar isso. [...] outra
tarefa é corrigir distorções e redefinir a imagem do falecido, trazendo-a mais
próxima da realidade. Muitos sobreviventes tendem a ver a vítima ou como
totalmente boa ou como totalmente má, uma ilusão que precisa ser
desafiada. [...] use o teste de realidade para explorar as fantasias que os
sobreviventes têm sobre como a morte os afetará no futuro. [...] trabalhar
com a raiva e a fúria que tal morte pode engendrar permite sua expressão,
ao mesmo tempo em que reforça o controle pessoal que o sobrevivente tem
sobre esses sentimentos. [...] sentir-se abandonado é talvez um dos
resultados mais devastadores do suicídio. [...] pode haver alguma realidade
nesse sentimento, mas o nível de realidade pode ser avaliado. [...] os
sobreviventes dos indivíduos que tiraram suas próprias vidas são
confrontados, adicionalmente, por morte que é repentina, inesperada e,
algumas vezes, violenta. [...] Há necessidade de buscar resposta do porquê
o ente querido tirou a sua própria vida e, em particular, determinar o estado
de espírito do falecido antes da morte. [...]Dar sentido ao suicídio é um
processo complexo e não é linear. (WORDEN, 2013, pgs. 133-134).

Para Cândido (2011), os profissionais de psicologia podem ser os mais


indicados para auxiliar as pessoas enlutadas por este tipo de morte, a fim de que os
mesmos compreendam o contexto de vulnerabilidade decorrentes da sua perda,
com o intuito de desestimular atitudes de acusação mútua e autodirecionada,
promovendo novas perspectivas e contribuindo para ressignificar o ocorrido.
Contudo, é necessário que o processo de ressignificação da perda seja conduzido
por profissionais especializados que reconheçam de forma empática o sofrimento
gerado pelo luto por suicídio, a fim de promover o diálogo entre os sobreviventes e
os que os cercam (KREUZ; BREDEMEIER, 2021).
Batista e Santos (2014), citam que o acompanhamento sistematizado das
pessoas enlutadas por um suicídio, contribui para prevenir o comportamento suicida
posteriormente. Para estes autores, reforçar a rede de apoio social desta população
consiste em um importante fator de proteção. Sendo assim, “[...]é importante pensar
e agir na promoção, intervenção e posvenção e, somente será possível, com um
35

conhecimento profundo da sociedade e dos seus eventos de vida.” (BATISTA;


SANTOS, 2014, p. 23).
Desta forma, ressalta-se que cabe ao psicólogo intervir de diversas maneiras,
como exemplo: prestar atendimento psicoterápico individual à pessoa enlutada e no
contexto familiar, na promoção da saúde mental e no compartilhamento de
informações sobre a prevenção do suicídio e as suas implicações sociais, bem como
a criação e divulgação dos grupos de apoio aos sobreviventes enlutados (ROCHA;
LIMA, 2019).

7 SETEMBRO AMARELO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE PREVENÇÃO AO


SUICÍDIO NO BRASIL

Segundo Rosa, Lima e Aguiar (2021), as políticas públicas, são


compreendidas como instrumentos técnicos-políticos que visam o enfrentamento de
um determinado problema social: algo percebido como indesejável e que necessita
de estratégias compensatórias, a fim de minimizar o problema.
Com a propagação em massa de informações torna-se visível um fenômeno
que ainda é invisibilizado e ao descortinar questões relacionadas ao suicídio, rompe-
se o silêncio, “expondo para o coletivo o sofrimento individual” (D’OLIVEIRA, 2016).
Para ilustrar as demandas suscitadas pela campanha setembro amarelo
Carvalho-Rigo (2017), traz a teoria da Lei de Say (1803), também conhecida como
Lei dos mercados de Say ou Lei da preservação do poder de compra, por meio da
qual o economista francês Jean-Baptiste Say, explicou o funcionamento dos
mercados.
Tal teoria, conhecida pelo aforisma: a “oferta cria a sua própria demanda”,
define que quando há um aumento na produção, cresce a oferta e,
consequentemente, aumenta a demanda (MOREIRA, 2005). A Lei de Say “Esta Lei,
muito utilizada pela publicidade, aposta na geração da demanda por um produto
(consumo), a partir da sua oferta publicitária” (CARVALHO-RIGO, 2017). Tendo
como base essa teoria, Carvalho-Rigo (2017), explica que:

[...] a elevação da oferta de informações sobre suicídio durante o Setembro


Amarelo, produzirá, consequentemente, um aumento acentuado na
demanda de serviços especializados de atenção e cuidado a pessoas em
36

risco de suicídio. Isso não significa que durante o mês de setembro haja
uma elevação da incidência de suicídios, entretanto há sim uma maior
conscientização da sociedade e sua consequente mobilização em busca da
assistência e da prevenção. (CARVALHO-RIGO, 2017, p. 3).

Segundo Botega (2015), no Brasil, até aproximadamente o ano de 2000, em


decorrência das doenças endêmicas e dos crimes violentos, o suicídio não se
configurava como um problema de saúde pública. Este autor menciona alguns
marcos recentes na trajetória da prevenção ao suicídio no contexto brasileiro, dentre
eles destaca – se o Centro de Valorização da Vida (CVV), o qual iniciou as suas
atividades em São Paulo, no ano 1962.
O CVV é uma associação civil, não governamental e sem fins lucrativos,
sendo reconhecida em 1973, como uma entidade de Utilidade Pública Federal.
Desde então, presta serviço gratuito de apoio emocional e prevenção ao suicídio,
com atendimento 24 horas, por meio do telefone 188 (ligação sem custo em todo o
país), presencial, via chat e e-mail. Atualmente são realizados cerca de três milhões
de atendimentos, contando com quatro mil voluntários, localizados em 24 estados e
mais o Distrito Federal. Contudo, é importante ressaltar que o CVV, oferece um
atendimento pontual em uma situação de crise, o que sem dúvida nenhuma, é de
grande valia, porém não se configura em um atendimento especializado (CVV).
De acordo com Botega (2015), foi a partir de 2005, que o Brasil iniciou os
seus primeiros passos em relação a prevenção ao suicídio, quando o Ministério da
Saúde, por meio da Portaria 2.542, que institui o Grupo de Trabalho com o objetivo
de elaborar e implantar a Estratégia Nacional de Prevenção ao Suicídio. Este grupo
era formado por representantes do governo, de entidades da sociedade civil e
universidades, o qual tinha como foco desenvolver um plano nacional de prevenção.
Posterior a criação deste plano, por meio da Portaria n° 1.876, de 2006, foi
implantada as Diretrizes Brasileira para um Plano Nacional de Prevenção do
Suicídio (BRASIL, 2006). Além dessas Diretrizes, o Ministério da Saúde, com o
apoio financeiro da Organização Pan-americana de Saúde, também publicou e
disponibilizou na internet, dois manuais, um direcionado aos profissionais de saúde
mental; e o outro reuniu dados bibliográficos sobre suicídio e familiares enlutados, os
referidos manuais, tem como objetivo orientar as equipes de saúde acerca de como
37

agir diante de pessoas com comportamento suicida, bem como manejar os grupos
considerados de risco (Botega, 2015).
Já em 2011, o Ministério da Saúde, por meio da portaria n° 3.088, de 23 de
dezembro de 2011, implantou a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), destinada as
pessoas com sofrimento psíquico ou transtorno mental e com necessidades
oriundas do uso de crack, álcool e outras drogas, na esfera do Sistema Único de
Saúde (SUS), desta forma, o cuidado em saúde mental é ofertado interligando toda
a rede que compõe a RAPS (BRASIL, 2011).
Em 2013, durante a 66ª Assembleia Mundial da Saúde, a Organização
Mundial da Saúde (OMS), estabeleceu um Plano de Ação Integral de Saúde Mental,
no qual vários países, dentre eles o Brasil, se comprometeram a implementar
estratégias de prevenção e redução de 10% nos índices de suicídio, até 2020. Tal
plano, juntamente com a publicação, no ano seguinte do Relatório “Prevenindo o
Suicídio: Um Imperativo Global, se constituem em um marco importante na agenda
de prevenção ao suicídio em nível mundial (OMS, 2013; OMS, 2014).
A Portaria n° 1.271/2014 do Ministério da Saúde, define a Lista Nacional de
Notificação Compulsória de doenças e agravos e eventos de saúde pública nos
serviços de saúde público e privado em todo território nacional, incluindo nesta Lista
as tentativas de suicídio e o suicídio consumado agravos de notificação compulsória
imediata. Sendo necessário o acionamento imediato da rede de atenção e proteção,
para que se adotem as medidas adequadas para cada caso (BRASIL, 2014).
Ainda empenhado no desenvolvimento de estratégias de prevenção ao
suicídio, em 2017, o Ministério da Saúde ratifica o compromisso firmado na Portaria
n° 1.876/2006, e pública a Agenda de ações Estratégicas para a Vigilância do
Suicídio e Promoção da Saúde no Brasil 2017-2020. Esta Agenda de Ações
Estratégicas, tem como objetivo ampliação e fortalecimento das ações de promoção
da saúde, bem como a prevenção e atenção integral voltadas ao suicídio, a fim de
reduzir as tentativas e as mortes por suicídio. Observando os determinantes sociais
da saúde e as especificidades das populações e grupos sociais em situação de
maior vulnerabilidade a este fenômeno e os municípios e grupos de municípios com
alto índice de mortes por esta causa (BRASIL, 2017).
Neste mesmo ano, o Ministério da Saúde pública a Portaria N° 3.491 de 18 de
dezembro de 2017, visando construir e coordenar estratégias relacionadas a
38

prevenção de mortes por suicídio no Brasil, tendo como apoio as Diretrizes


Nacionais para Prevenção ao suicídio e as Diretrizes Organizacionais das Redes de
Atenção à Saúde. Sendo instituído também, o incentivo financeiro de custeio para o
desenvolvimento de projetos de promoção da saúde, vigilância e atenção integral,
voltados para a prevenção do suicídio no contexto da Rede de Atenção Psicossocial
do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da Portaria N° 3.491/2017 (BRASIL,
2017).
Em maio de 2018, os estados de Amazonas, Mato Grosso do Sul, Piauí,
Roraima, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, apresentaram os maiores índices de
mortes por suicídio, sendo que o primeiro destes ocupa a 10ª posição no ranking, o
que pode ser em decorrência do grande número de indígenas nesta região, visto
que há uma alta incidência de mortes por esta causa entre esta população. Fazendo
com que o Ministério da Saúde, publicasse a Portaria n° 1.315 de maio de 2018,
com o objetivo de aperfeiçoar as estratégias que buscam superar este grave
problema, direcionando apoio técnico e financeiro para estes seis Estados e os
acompanha no desenvolvimento de Projetos de Promoção da Saúde, Vigilância e
Atenção Integral à Saúde, direcionados para Prevenção do Suicídio no âmbito da
Rede de Atenção Psicossocial (BRASIL, 2018).
Para Baptista (2017), no que diz respeito a regulamentação das políticas
públicas de saúde, as portarias ministeriais são instrumentos de grande relevância,
pois ocupam um papel importante no direcionamento destas políticas, na execução
das leis, decretos e regulamentos aprovados pelo Poder Legislativo, de acordo com
o que é previsto na Constituição Federal de 1988. Corroborando com isso, Paula e
Botti citam que “O debate sobre as normas jurídicas voltadas para a prevenção do
suicídio colabora na compreensão de como a temática está sendo conduzida no
Brasil.” (PAULA; BOTTI, 2021, p. 147).
Ainda no que concerne ao desenvolvimento das normativas que objetivam a
redução dos números de mortes por suicídio e as violências autoprovocadas, a Lei
n° 13.819/2019, sancionada em abril do mesmo ano, merece especial destaque,
visto que, institui a Política Nacional de Prevenção de Automutilação e do Suicídio.
Tendo como proposta a notificação compulsória dos casos de autolesão e
comportamento suicida. A citada Lei, estabelece como metas:
39

I - promover a saúde mental; II - prevenir a violência autoprovocada; III -


controlar os fatores determinantes e condicionantes da saúde mental; IV -
garantir o acesso à atenção psicossocial das pessoas em sofrimento
psíquico agudo ou crônico, especialmente daquelas com histórico de
ideação suicida, automutilações e tentativa de suicídio; V - abordar
adequadamente os familiares e as pessoas próximas das vítimas de suicídio
e garantir-lhes assistência psicossocial; VI - informar e sensibilizar a
sociedade sobre a importância e a relevância das lesões autoprovocadas
como problemas de saúde pública passíveis de prevenção; VII - promover a
articulação intersetorial para a prevenção do suicídio, envolvendo entidades
de saúde, educação, comunicação, imprensa, polícia, entre outras; VIII -
promover a notificação de eventos, o desenvolvimento e o aprimoramento
de métodos de coleta e análise de dados sobre automutilações, tentativas
de suicídio e suicídios consumados, envolvendo a União, os Estados, o
Distrito Federal, os Municípios e os estabelecimentos de saúde e de
medicina legal, para subsidiar a formulação de políticas e tomadas de
decisão; IX - promover a educação permanente de gestores e de
profissionais de saúde em todos os níveis de atenção quanto ao sofrimento
psíquico e às lesões autoprovocadas. (BRASIL, 2019, Art. 3°).

Nota-se um empenho do Ministério da Saúde, na construção de normativas


voltadas para a prevenção do suicídio, contudo é de grande relevância que as
Unidades Básicas de Saúde, as quais atuam com foco na promoção da saúde,
desenvolvam o seu plano de trabalho considerando também a prevenção do
suicídio, uma vez que, a Atenção Primária a Saúde (APS) é a porta de entrada para
os demais serviços do SUS (GUIMARÃES; SANTOS; LIMA, 2020).
Ferreira e colaboradores (2018), aponta para a dicotomia percebida no âmbito
da Atenção Primária à Saúde (APS), tendo em vista que há uma necessidade de se
oferecer um atendimento especializado para lidar com esta demanda, no entanto é
evidente o despreparo dos profissionais que atuam nestes serviços, em relação ao
comportamento suicida. Estes autores ainda mencionam que:

Os profissionais que atuam na APS mostram-se despreparados e/ou


desamparados para exercer o importante papel de prevenção ao
comportamento suicida, seja por falta de tempo devido à sobrecarga de
trabalho, falta de preparo ou conhecimento, falta de capacitação
profissional, carência de uma rede de apoio e/ou ausência de políticas,
programas e iniciativas locais de prevenção ao suicídio. (FERREIRA et al,
2018, p. 54).

Neste sentido, Carvalho-Rigo (2017), alerta para a fragmentação da saúde


mental no Brasil, visto que os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e demais
serviços de saúde mental, existentes no país. Estes serviços são qualitativamente
40

insuficientes, e além disso, ainda se encontram em situação precária,


especialmente, aqueles situados nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil, com
equipes reduzidas, despreparadas e sem motivação, falta também ambientes com
estrutura apropriada e profissionais especializados.
Diante disso, Botega (2015), instrui quanto a necessidade de os serviços
públicos de saúde abarcarem a prevenção do suicídio como parte integrante na
rotina e no rol das funções dos profissionais de saúde. Levando em conta que a
depressão e o uso nocivo de bebidas alcoólicas são importantes fatores de risco
para o suicídio, sendo de fundamental importância que os profissionais que
compõem estes serviços, identifiquem de forma precoce o comportamento suicida,
reconheçam os transtornos mentais e se há comorbidade de depressão com o
consumo exacerbado de substâncias psicoativas. Sendo este o primeiro passo para
identificação prévia e manejo adequado do comportamento suicida. Este autor ainda
pontua que:

Nos cursos de capacitação – nos projetos assistenciais ligados à prevenção


em geral -, é preciso, antes de qualquer coisa, “mobilizar mentes e
corações” para a problemática do suicídio que não é do campo da morte,
como pode inicialmente parecer, mas dos mistérios da existência. Para
tanto, antes de informações e de treinamentos para avaliar e manejar riscos,
é preciso examinar as atitudes e a disponibilidade interna que guardamos
em relação aos pacientes suicidas atendidos”. (BOTEGA, 2015, p. 267).

Todavia, Botega (2015), alerta para a necessidade de uma maior efetividade


nas ações de prevenção ao suicídio proposta pelas Diretrizes políticas existentes,
para que tais estratégias possam ser realizadas na prática. O autor ainda conclui
que as ações devem ser embasadas cientificamente, estabelecendo uma boa
relação entre política, proteção e pesquisa, o que é raro de alcançar.
Nesta perspectiva, Scavancini (2018, p. 212), destaca que a conscientização
“[...]deve ser multifatorial, multisetorial e multidisciplinar. [...]social, cultural, moral
política religiosa, comunitária, individual, médica etc.” Pois, é necessário que se
compreenda este fenômeno por diferentes aspectos, a fim de que seja desenvolvida
por e para diferentes setores e profissionais (SCAVANCINI, 2018).
Para Scavancini (2018,), “o suicídio é um problema de todos”, com isso,
autora cita outras iniciativas que merecem destaque, quando se trata de prevenção
41

ao suicídio, como a Associação Brasileira de Estudos e Prevenção de Suicídio


(ABEPS), fundada em 2015, durante o I Simpósio Latino-americano de prevenção
ao suicídio. No entanto, devido a burocracia existente no nosso país, a mesma só foi
registrada oficialmente em 2017. A ABEPS, tem como objetivo fomentar o estudo, a
discussão e a pesquisa acerca do fenômeno do suicídio. A efetivação da ABEPS,
demonstra quanto a questão da prevenção ao suicídio vem evoluindo. Além disso,
Scavancini (2018), também ressalta que a criação de ONGs pode ser um caminho
possível e com grande reverberação para a prevenção e conscientização desse
problema de saúde pública.
Para Botega (2015, p. 254), “de maneira simplificada poderíamos afirmar que
não se previne o suicídio, mas sim as condições de sofrimento humano passíveis de
melhora.” Neste sentido, o autor menciona um modelo de ações, voltadas para
grupos específicos da população, baseadas em suas condições de saúde e o grau
de risco para o ato suicida, assistindo também, casos individuais. Tal modelo é
composto por três níveis de prevenção, sendo estas: a Prevenção Universal;
Prevenção Seletiva e a Prevenção Indicada.
Souza e Meleiro (2018), inferem que a prevenção universal é direcionada
para o público em geral e consiste em limitar o acesso aos meios letais (armas,
pesticidas, medicamentos) e construções arquitetônicas, com condições que
priorizem a segurança, a fim de evitar o ato suicida. Na prevenção seletiva as ações
são voltadas para indivíduos ou subgrupos populacionais que apresentam um risco
elevado e que são reconhecidamente propensos a desenvolver o comportamento
suicida, como exemplo, pessoas com certos transtornos mentais ou outros agravos
de saúde. A prevenção indicada é dirigida a grupos populacionais com altíssima
propensão ao suicídio, com sinais e sintomas, observando especialmente, pessoas
com tentativas anteriores.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho intentou compreender os reflexos das ações


desenvolvidas durante a campanha setembro amarelo na prevenção ao suicídio,
para tanto realizou-se uma revisão bibliográfica com o objetivo de identificar de que
maneira tal campanha vem sendo desenvolvida e os impactos relacionados a este
42

fenômeno, bem como avaliar como ficam as demandas suscitadas durante o período
da campanha.
Para alcançar uma melhor compreensão sobre os impactos positivos e
negativos da Campanha Setembro Amarelo na prevenção ao suicídio, definiu-se
quatro objetivos. O primeiro objetivo foi buscar compreender o contexto histórico do
suicídio, no qual verificou-se que este fenômeno sempre se fez presente na história
da humanidade, no entanto, em cada período da história e em diferentes povos, são
atribuídos sentidos históricos e sociais distintos, desde um julgamento moral,
religioso ou legal, até ser visto como um problema cientifico à ser investigado.
Contudo, o que se percebe é que o tabu e o estigma em torno deste
fenômeno permanecem até os dias atuais, mesmo sendo apontado, pela OMS,
como um problema de saúde pública e uma das principais causas de mortes em
todo o mundo. Os significados atribuídos ao suicídio, contribui para o fortalecimento
da resistência ao debate acerca desta temática e, consequentemente, o aumento
continuo nas taxas de mortes decorrentes do autoextermínio.
Depois buscou-se descrever de que forma a campanha setembro amarelo
vem sendo desenvolvida. A análise permitiu concluir que o Setembro Amarelo é,
sem dúvida nenhuma, uma das maiores estratégias de prevenção do suicídio
existente no país, tendo em vista o seu alcance e adesão de diferentes entidades,
órgãos de classe e da sociedade como um todo. Entretanto, mesmo contando com o
alcance e magnitude desta campanha, de acordo com os últimos Boletins
Epidemiológicos, divulgados pelo Ministério da saúde, em 2017 e 2021, os índices
de suicídio continuam em ascensão no país. O que de certa forma, demonstra uma
lacuna em relação a campanha, visto que tal estratégia tem como objetivo prevenir e
reduzir as mortalidades por suicídio.
A elevação nas taxas de suicídio, após quase oito anos da criação da
campanha, pode demonstrar um efeito iatrogênico da citada estratégia, o que pode
estar relacionado a maneira como a mesma vem sendo desenvolvida. Porquanto,
como apresentado no decorrer deste trabalho, alguns autores têm uma visão crítica
em relação a forma simplista com que um tema tão complexo é abordado durante o
mês de setembro, apontando também, uma banalização e concentração das
informações durante este período. Bem como, as diversas publicações em redes
43

sociais, como marketing digital e mercadológico disfarçados de conscientização,


visando apenas a autopromoção, sem levar em consideração o que se fala, para
quem fala, até aonde chega e como chega, o que é compartilhado.
O terceiro objetivo específico, teve como proposta analisar os impactos da
Campanha, para os sobreviventes enlutados por suicídio, neste aspecto notou-se as
peculiaridades do luto por este tipo de perda e que a forma como a temática é
tratada contribui para que os sobreviventes se sintam ainda mais fragilizados,
ressurgindo nos mesmos os sentimentos de culpa, raiva, impotência dentre outras
disposições afetivas. Foi observado também, a inexistência de ações direcionadas
para este público, algo necessário, considerando que este grupo pode apresentar
propensão ao comportamento suicida.
Por último buscou-se identificar as políticas públicas de prevenção ao suicídio
no Brasil e os aspectos relacionados ao setembro amarelo. Neste sentido, observou-
se que desde o ano de 2005 o Brasil vem se empenhando no que diz respeito ao
desenvolvimento de normativas que vá de encontro com a problemática do suicídio
e os impactos decorrentes do mesmo. Contudo, percebe-se que ainda falta
efetividade por parte dos serviços públicos de saúde, o que se deve a falta de
especialização dos profissionais da Atenção Primária à Saúde, a fragmentação dos
serviços da Rede de Atenção Psicossocial e a falta de comunicação entre os
diferentes setores da sociedade, demonstrando um distanciamento entre o
desenvolvimento das políticas públicas e a sua aplicabilidade.
Com isso, confirmou-se aspectos positivos e negativos do Setembro amarelo.
Os pontos positivos identificados são o alcance da campanha e a adesão dos
diferentes grupos da sociedade empenhados em prol da conscientização e
prevenção do suicídio. Os pontos negativos é a forma simplista com que o fenômeno
é abordado, a falta de criticidade ao publicar e compartilhar informações, bem como
a massificação de conteúdos concentrados em um único período do ano e a falta de
acolhimento as pessoas que perderam alguém próximo por suicídio e aqueles que
estão enfrentando um intenso sofrimento psíquico e que, por vezes, têm as suas
dores reduzidas a uma “falta de valorização da vida”.
Sendo assim, a partir dos achados no decorrer deste trabalho, identificou-se
que o setembro amarelo desempenha um papel significativo em relação a
visibilidade das questões que dizem respeito a conscientização do suicídio, porém
44

vem se mostrando ineficiente quando se trata da redução das mortes por esta
causa, visto que, como já citado anteriormente, os índices de suicídio no Brasil
continuam elevados.
Vale ressaltar que este trabalho não tem a pretensão de invalidar a relevância
e magnitude da Campanha Setembro Amarelo, mas sim, levar os leitores a
refletirem de forma crítica sobre a complexidade do fenômeno do suicídio, a fim de
que se aborde a temática levando em consideração os diferentes aspectos
envolvidos no ato suicida e não apenas por uma perspectiva motivacional e de
valorização da vida.
Conclui-se que esse trabalho possa contribuir para que sejam desenvolvidas
novas formas e novos olhares em relação a prevenção do suicídio, bem como a
necessidade da realização de ações de prevenção durante todo ano, evitando
assim, a concentração de informações somente no mês de setembro e a abordagem
de forma simplista acerca de um fenômeno tão complexo. Levando em conta os
serviços de apoio emocional e de saúde mental disponíveis e a sua efetividade, no
que diz respeito a absorção das demandas suscitadas durante a campanha.
Este trabalho não finaliza nesta etapa, é importante que sejam desenvolvidas
pesquisas que delimitem métodos de abordagem de prevenção ao comportamento
suicida, abarcando outros personagens que são impactados de forma direta pelo
suicídio de alguém próximo, bem como aqueles que estão enfrentando um intenso
sofrimento psíquico, e que podem sentir-se ainda mais fragilizados durante o
período da campanha.
45

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