Esta avalição compõe-se de quatro questões discursivas com valor de 25 pontos
cada. Valor total da avaliação: 100/100.
As respostas às questões deverão ser entregues em via impressa diretamente ao
Professor da disciplina no dia assinalado. As páginas deverão ser todas rubricadas pelo aluno.
Critérios Avaliativos:
a) Uso adequado do referencial teórico adotado para a disciplina; b)
Clareza argumentativa; c) Uso correto da norma culta da língua portuguesa
1) Quais as implicações para uma “História da Arte” no Brasil a partir de como
o conceito de “Arte” se formulou e estruturou historicamente no Ocidente? Como os campos da “História” como um conjunto de narrativas que veicula sentidos em torno de uma nação, sua cultura e civilização e da Arte- seus objetos, fenômenos e manifestações- se articulam em nosso país e de que maneira estas narrativas oficiais devem ser objeto de revisão e problematização para que possamos pensar a “Arte no Brasil”?
Resposta: As implicações para uma “História da Arte”, são que essa
história tem sido escrita e contada a partir de perspectivas eurocêntricas, advindas dos colonizadores que invadiram e inventaram suas próprias narrativas sobre o Brasil, através de seus modelos e conceitos, do que é Arte. Assim sendo, se levarmos em consideração que o discurso da “História da Arte” é o que autoriza que algo possa ser considerado arte, e essa história está sendo contada a partir da visão dos europeus, com isso parte da arte que era produzida no país, por indígenas e africanos, foi e ainda é excluída e vítima de muito preconceito, em que muitos desses objetos foram parar em museus etnográficos, pois o Ocidente não via eles como arte. Os campos da “História”, como foi dito no parágrafo anterior, se articulam no país ainda dentro do que os colonizadores contaram e registraram sobre. Sendo assim, essas narrativas oficiais, devem ser revistas e problematizadas para que a “História da Arte” no Brasil, possa mudar para uma perspectiva de nós mesmo, aprendendo com os indígenas e os africanos, visto que, a partir das histórias dos europeus, muita coisa foi mascarada e distorcida, sobre acontecimentos que ocorreram no país, inclusive em muitas obras feitas por artistas daquele período, como por exemplo, na Primeira Missa no Brasil de Victor Meirelles. Para, desta forma, ir sofrendo uma descolonização cultural. Porém, não descartando completamente as teorias eurocêntricas, mas mesclando com as outras. “Rumo a uma caixa de ferramentas mestiças”, como está escrito no livro Histórias Mestiças.
2) Em Negerplastik, texto do alemão Carl Einstein de 1915, há todo um
movimento de reavaliação da arte africana. Como situar o negro na Arte do Brasil a partir da história de sua diáspora e desterro, de sua apropriação como figura a compor obras concebidas pelo discurso acadêmico sem correr o risco de o tornar um objeto do “olhar branco”?
Resposta: O negro deve ser situado na Arte do Brasil, de maneira,
que suas obras sejam vistas com um olhar livre dos conceitos e medidas eurocêntricas, e vistas sem uma imagem predefinida do que é arte, para não ser entendido apenas como um objeto etnográfico. Ademais, é importante que seja entendido e discutido mais sobre as culturas africanas, reconstituindo os laços perdidos pela diáspora (reafirmando que o continente africano é formado por diversas etnias, dialetos e hábitos culturais e, que longe de ser único; ele é múltiplo), da mesma maneira, tudo que eles passaram durante a escravidão no país, para que, assim, quebre os preconceitos e os estereótipos criados sobre essa Arte do negro, ditas como primitivas, que ainda persistem nos dias atuais, mesmo após abolição da escravatura (1888). Dessa forma, vamos conseguir ver aqueles objetos como obras de arte, inserindo dentro da Arte no Brasil. Além do mais, é importante que não se valorize só as produções de artes negras, feitas por brancos, mas valorizar os artistas negros/as brasileiros, em atividades em todos os períodos da arte brasileira, demonstrando a grande contribuição deles para a arte brasileira. Através, de exposições e divulgação desses artistas, como na exposição A mão afro- brasileira, no MAM SP, que reunia vários artistas que o processo de apagamento, existente na construção da história da arte brasileira, não reconhecia como de origem negra, entre eles, o Aleijadinho.
3) A escultura Alegoria do Império Brasileiro (1872) de Francisco Chaves
Pinheiro (1822-1884), assim como as pinturas O último tamoio (1883) de Rodolfo Amoedo e A primeira missa no Brasil (1860) e Moema (1866) de Victor Meirelles propõem uma determinada figuração do indígena brasileiro na arte e em nossa história. Discorra sobre o que estas imagens mascaram, ao mesmo tempo que denunciam, sobre o lugar do índio no discurso oficial da História e da História da Arte no Brasil.
Resposta: Estas imagens mascaram e denunciam, a grande violência
e as políticas de extermínio aos indígenas no período, no qual, o Brasil foi invadido pelos europeus. Assim como, ignoram as revoltas e a resistência que ocorreram, contra a catequização e a escravidão, exercitadas pelos índios. Na escultura Alegoria do Império Brasileiro, o índio parece estar sendo representado, como uma estátua grega de tanga, um herói e símbolo da nação brasileira, dessa maneira, todo o massacre e o preconceito dos colonizadores, em relação a essa população são mascarados. Tal como, na pintura A primeira missa no Brasil, os indígenas parecem estar admirados e estarem pacíficos enquanto assistem à missa, porém, não foi isso que ocorreu, já que a maioria foi obrigada, na qual, muitos deles resistiram e foram assassinados por não aceitarem a catequização. Na releitura dessa obra, de Denilson Baniwa, os índios são representando mortos, em volta de uma cruz, sendo assim, mais fiel à história real dos acontecimentos, do que a pintura de Victor Meirelles. Por fim, as pinturas O último Tamoio e Moema, fazem uma denúncia sobre a erotização e a vulnerabilidade dos índios, pela forma como eles estão estirados no chão e com suas tangas rasgadas na lateral, pois aos olhos dos europeus, principalmente as índias, eram vistas como um objeto sexual. Como também, pode ser uma crítica ao extermínio dos índios, uma vez que, nas duas obras eles parecem estar mortos.
4) Discorra sobre a importância da obra de Antônio Francisco Lisboa, o
Aleijadinho, assim como da pintura encontrada sobretudo nos tetos das igrejas brasileiras do período para uma climatização “crioulizada” (GLISSANT, 2013) do Barroco. De que modos o Barroco colonial brasileiro se aproxima e se distancia do europeu?
Resposta: O Aleijadinho, foi um importante escultor do período do
Barroco, sendo ele filho de uma escrava e de um português, em que atualmente suas obras são reconhecidas como patrimônio cultural, tanto pela quantidade e qualidade de suas esculturas, que possuíam características que remetiam a ele, como os olhos e a bocas, as expressões e a sensação de movimento que o Aleijadinho conseguia produzir. As obras do Aleijadinho possuem uma grande importância para o período do Barroco no Brasil, pois ele inaugurou um caminho novo, através de suas obras, na arquitetura do Brasil colônia, se distanciando das tradições e características portuguesas e europeias. Dessa forma, suas obras contribuíram para que o Barroco brasileiro se diferenciasse do Barroco europeu, devido ao fato de ter construído um diálogo com várias fontes, povos e matrizes culturais, que iam além das fronteiras da Europa, contribuindo, assim, para a “crioulização” do Barroco. Visto que, ele gerou uma arte hibrida, com influências portuguesas e de povos brasileiros. Como também, as pinturas nos tetos das igrejas, contribuíram para a climatização “crioulizada” do Barroco, já que, devido a extração do ouro na época, as cidades estavam crescendo e vários artistas eram contratados para pintar as igrejas, e não era apenas europeus, muitas vezes tinham escravos e outras figuras marginalizadas que trabalhavam nessa arte também. Sendo assim, colocando suas influências e aspectos culturais nessas pinturas, passando a não possuir, apenas as características do portugueses. O Barroco colonial brasileiro se aproxima do Barroco europeu, na ideia da contrarreforma, da arte decadente, atordoada, com muitos elementos, acúmulo e detalhes, dela se destacar mais nas igrejas do que em outros ambientes, dos altares rebuscados e das pinturas no teto das igrejas, que parecem coisas arquitetônicas. O Barroco, se distância, sendo mais simples do que na Europa, pelas condições financeiras não serem as mesmas, utilizando técnicas e materiais mais baratos. Do mesmo modo, possuindo menos ouro nas pinturas e esculturas, com as igrejas sendo menos rebuscadas. Além do mais, mesmo que, o Barroco na Europa tinha influencias da igreja, a arte tinha um efeito mais decorativo e visual, do que no Brasil, que possuía um caráter bem mais religioso, sendo comandada pela Igreja. Por fim, o Barroco europeu empregava tons mais escuros e suaves, enquanto o do Brasil, possuía tons mais fortes e expressivos, com o uso de cores vivas.