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onde se situava a Confraria, que tinha por
nome “Agla” e como sinal de reconhecimento
o número 4 associado a um padrão gráfico
em forma de coração. No Tarô, o Arcano IV
é O Imperador. Francisco I foi o fundador da
Imprensa Real. Não nos esqueçamos de que
ele foi iniciado à ciência dos mistérios por
Leonardo da Vinci, que morou próximo ao
rei no Castelo de Amboise.
Apesar das pesquisas, ninguém pode
contudo determinar com exatidão as origens
do Tarô. De onde ele veio? Alguns o situam
em torno da bacia mediterrânea a partir do
século XIV. Dele encontramos traços na Es-
panha com os Árabes, na China e na Europa
Oriental, particularmente na Boêmia.
As imagens do Tarô se inscrevem na gran-
de Tradição dos gravadores da Idade Média
e dos Alquimistas, que delas fizeram um sis- Aquilo a que chamamos “símbolo” é um
tema de reprodução dos conhecimentos an- termo, um nome ou uma imagem que remete
tigos. Outrora, a filosofia incluía a metafísica, a um conteúdo mais vasto do que o seu sen-
considerada como um diagrama do Universo, tido imediato, pois ele não é jamais definido
servindo para extrair as raízes da conduta do com precisão e nem tampouco plenamente
homem, orientado para uma visão “transpes- explicado, o que o diferencia do signo, que
soal” e restabelecendo a concepção do invi- por sua vez remete unicamente aos objetos
sível como parte integrante do patrimônio aos quais está associado.
armazenado nos abismos do inconsciente da O simbolismo do Tarô, nessa orientação,
humanidade. Isso faz do Tarô um instrumen- se apresentaria como um suporte de proje-
to e guia prestigioso que restitui a evolução ção tridimensional: a expressão remete ao
da consciência a ela acrescentando as cons- consciente, à integração ao inconsciente e à
truções psicológicas da natureza humana. entrega ao Eu. Essa projeção tridimensional
Por LOUIS CAILLAUD, FRC*
Através do jogo desse fascinante conjun- é uma dinâmica para se acessar a órbita do
to de imagens que é o Tarô, propomos uma imaginário e favorecer uma percepção in-
orientação como via de acesso a um proce- tuitiva, as quais são essenciais à qualidade
dimento psicológico pessoal, ou seja, em que numinosa da interpretação. Intuição e imagi-
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o consulente é seu próprio guia e intérprete. nário desempenham um papel que não pode
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s tarôs teriam surgido de um vestígio gnóstico dos Cátaros, do qual teria se origina- Nesse procedimento é focalizada uma psi-
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do também, na época de Francisco I, uma Confraria que agremiava companheiros e cologia que serve de filão para estabelecer, arrisca perder o essencial de sua espontanei-
mestres das corporações do Livro, gravadores, iluminadores, encadernadores e tam- a partir de símbolos, uma relação com o In- dade, o que reduziria o caráter numinoso e
bém os livreiros que fabricaram os primeiros Tarôs. consciente do consulente. Psicólogos como vivo do símbolo. Uma sinergia é desse modo
Francisco I pertenceu a essa Confraria e, para participar das reuniões em que se desenvolviam Denise Roussel, Jack Hurley e Stuart Kaplan inclinada para o inconsciente a fim de suscitar
seus trabalhos, o soberano deixava incógnito o Palácio do Louvre uma vez por mês para ir até sustentam que o simbolismo do Tarô é um concordâncias e associações e de tentar evi-
espelho do “Inconsciente e do Eu”. denciar arquétipos e reatar relações com o Eu.
da qual se refugia. Todavia, ele sente neces- disso, a vegetação verde é considerada como será capaz de orientar seu despertar interior e ideação e toda busca empreendidas na força
sidade de buscar uma passagem que dê para uma esperança de renovação que se inscreve tomar consciência de suas próprias potencia- do espírito triunfam em favor daquilo que
um horizonte mais amplo. Porém, por não na corrente de sua existência. lidades para melhor se governar. é justo e verdadeiro em si. Aquilo que vem
ousar, ele prefere se fechar em si mesmo e Intervém o Arcano X, A Roda da Fortuna. A fim de reforçar sua ação, apresenta-se o do espírito torna o homem virtuoso. A Bela
esperar. Pelo quê…? Está no movimento de suas intenções passar Arcano VIII, A Justiça. O homem tem o dever domina a fera, força criativa do homem que
No entanto, as janelas de cor azul-noite na pelo centro de si mesmo, lá onde se encontra o de se inspirar nele. Ora, como o pensamento domina as paixões, as quais serão consumi-
imagem evocam uma libertação psicológica eixo, a fim de promover um equilíbrio sereno. engendra o ato, o sentimento de justiça assume das pelo sacrifício do ego.
que o convida a focalizar seu desejo de fugir Os gravadores medievais acrescentaram à roda uma importância quanto às decisões e com- É evidente que aquilo que torna virtuoso
de sua prisão e se reportar a ideias originais e dois animais alegóricos, Anúbis e Thyphon. O portamentos. A justiça ilustra a ação justa que exige de si mesmo uma determinada auto-
renovadas. Por isso o orvalho colorido. primeiro reflete os aspectos secretos e numi- permite o equilíbrio, como o flagelo e a balan- ridade, que é o que designa o Arcano IIII,
Logo, acrescenta-se o Arcano XVII, A nosos da alma, ao passo que o segundo traz os ça, que oscila em seu centro de estabilidade. O Imperador. Essa alta personagem, que
Estrela. Essa jovem mulher é comparável a aspectos conflituosos. O Hermanúbis sentado Isso merece uma reflexão ao se associar a espa- representa a autoridade e o poder, sabe que
uma fonte de água fresca; ela simboliza a sobre a roda sugere a razão a serviço da inteli- da sustentada na mão esquerda. A inteligência o mundo deve ser regido com dignidade, e
Anima no homem, servindo de mediadora gência. O gládio por sua vez é o discernimento do coração! Em outras palavras: “Conduzir um não explorado. Notemos que é nisto que o
entre o consciente e o inconsciente. A Anima, das causas justas. Esse Arcano designa indis- combate com equidade e com uma força tran- homem, para o seu próprio bem e em favor
e o Animus no caso da mulher, são conside- cutivelmente o movimento: “O homem deve quila que exclui toda paixão e todo excesso”. de seus semelhantes, deve se concentrar. O
rados Arquétipos. A água que se derrama do evitar se demorar em atitudes fossilizantes para Esta força tranquila nos é revelada pelo trono no qual o Imperador está sentado re-
vaso é confiada à inteligência e à intuição, não agir como a mulher de Loth”. Arcano XI, chamado também Serenidade. Ele presenta aquilo que o homem estabeleceu:
representadas pela corrente e pelos cabelos Isso nos conduz ao Arcano III, A Impe- se apresenta como uma mulher de aspecto suas crenças, seu saber e também o seu po-
azuis que emolduram o rosto de nossa jovem. ratriz. A coroa, a veste azul e o cetro com a sereno que consegue abrir a boca de um leão. der, muitíssimas vezes explorado para fins
Sua nudez evoca uma transparência capaz de cruz são atributos de ideação espiritual que, Se a justiça estabiliza aquele que age de ma- pessoais. Esse trono, porém deve lhe garantir
suscitar uma mudança para sentimentos no- mesmo secreta, é o voto piedoso de todo ser neira justa, por extensão a Força se predispõe a justa medida de sua autoridade. O pássaro
bres, representados pelo céu estrelado. Além humano. Guiado por essa realeza, o homem a tornar o homem consciente de que toda Fênix representa aquilo que deve ser mudado
e renascer na consciência a fim de se abrir a colunas simbolizam o Rigor e a Clemência tada pelas duas crianças de sexos diferentes de Eis o que o Arcano XIIII, A Temperança,
uma psicologia renovada. sobre as quais a Sabedoria se apóia. Esses três mãos dadas num gesto de união com aquilo ilustra bem: essa ida e volta da água efetuada
Se por um lado o cetro é um atributo da princípios são os catalisadores de uma voca- que vem do alto. O sol é o símbolo do Self. pela mulher, que sugere que o homem fertili-
autoridade, por outro ele confere também a ção de Ser. Este sábio, em seu olhar, parece Sua luz atravessa as zonas não luminosas do za e fecunda a corrente de seus atos e de seus
sabedoria que ilumina o Arcano II, A Papisa. querer nos dizer: “É preciso conhecer a si mes- Eu, sem que com isso o seu brilho seja altera- pensamentos a fim de moderar seus compor-
Ela revela o caminho que culmina no coração mo para se tornar um Homem de desejo…”. do, representado pelas gotas de orvalho. É de tamentos. Esse fluxo salvador convida o ho-
do “Livro” que contém as páginas de nossa Isso nos confronta com o Arcano XXI, O fato reconhecer que a luz do Espírito é o crité- mem a empreender um despertar espiritual
própria natureza. Ainda nessa metáfora, de- Mundo. A imagem nos mostra uma mulher rio imperativo da sabedoria e dos sentimentos da consciência que, como um eco, repercuti-
cifrar as páginas desse “livro” pode se revelar nua no interior de uma coroa oval. Essa jo- nobres. Entretanto, luz e sombra acompa- rá numa esfera numinosa da personalidade: o
como algo muito edificante para consigo vem mulher representa a alma humana no nham o homem, revelando o “claro-escuro” Self. “O Self é o centro e o perímetro da natu-
mesmo. As cores vermelha e azul evocam o mundo, representado pela coroa, que sugere de sua natureza, o aspecto de sua dualidade. reza do homem”, dizia Carl Jung.
fluxo do dinamismo e da devoção. os limites da compreensão humana. A nudez Para ilustrar esse aspecto, se apresenta a No Arcano XX, O Julgamento, constatamos
Logo, o homem com tal desejo aspira é a imagem do despojamento de nossa perso- nós o Arcano XVIII, A Lua. Se o Sol exprime que essa ressonância engendrará efeitos que
ao essencial; para conquistá-lo, ele sente a nalidade. É ainda a imagem de um Arquéti- o princípio masculino, a Lua exprime o prin- provocarão a ruptura de uma psicologia muitas
necessidade de ser guiado pelo Arcano V, O po, o Anima-Animus, que na natureza huma- cípio feminino. Ela é o “claro-escuro” do nos- vezes restritiva. Escutemos aquilo que nos diz a
Papa. A imagem desse Arcano transparece a na desempenha o papel de mediador entre o so Eu, que simboliza a água inerte da maré concha do anjo que ressoa: “As causas que engen-
nobreza aparente do semblante emoldurado Eu objetivo e o Eu subjetivo. É um aspecto de à qual se acrescenta uma lagosta que anda draram efeitos devem ser superadas a fim de que
pela barba e pelos cabelos brancos, marcas de nossa interioridade que é preciso conhecer. para trás, ilustrando a indecisão e os limites se esteja apto a assumir a Temperança – o equilí-
uma grande sabedoria. O dinamismo das co- Se o homem deseja conhecer a si mesmo, que nos impomos. Reencontramos os nossos brio de nossa natureza física, psíquica e espiritu-
res manifesta os aspectos de um espírito es- ele necessita da luz do Espírito, que será por- instintos não canalizados sob a forma de dois al”. É isso o que representam as três personagens
clarecido, o que garante à nossa personagem tanto o Arcano XVIIII, O Sol. A imagem, por cães que ladram. É aí que o homem encontra em atitude de devoção e a outra personagem
o Domínio. Por seu gesto, ele indica a via seu desenho, ilustra a luz de uma Consciência suas próprias oposições – seus próprios con- vista de costas no quadrado verde, símbolo de
cardíaca, fonte de devoção espiritual. As duas superior àquela da mente corporal represen- flitos que ele deve moderar pela temperança. renovação: “É preciso renascer de cima!”.