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I Congresso Baiano de Engenharia Sanitária e Ambiental - I COBESA

UNIDADE WETLAND TRATANDO ESGOTO DOMÉSTICO PARA USO EM


IRRIGAÇÃO AGRÍCOLA NO SEMI-ÁRIDO DO RIO GRANDE DO NORTE

Anaxsandra da Costa Lima Duarte(1)


Professora do CETEC/UFRB. Doutoranda em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos/UnB. Mestre em Engenharia
Sanitária/UFRN. Graduada em Engenheira Civil/UFRN
Leonete Cristina de Araújo Ferreira
Engenheira Civil da Superintendência de Infraestrutura/UFRN. Mestre em Engenharia Sanitária/UFRN. Especialista em
Engenharia de Segurança do Trabalho/UFRN Graduada em Engenheira Civil/UFRN

Endereço(1): Campus Universitário de Cruz das Almas - Centro - Cruz das Almas- BA – CEP: 44.380-000 Brasil. Tel:
+55 (75) 3621-9362 - e-mail: anaxsandra@gmail.com

RESUMO
O uso de efluentes se apresenta como uma alternativa sustentável no desenvolvimento da agricultura irrigada, no entanto
oferece alguns riscos. Busca-se verificar a possibilidade de reuso na agricultura do efluente tratado por wetland,
analisando o risco sanitário, através da análise das bactérias do grupo coliforme e da presença de ovos de helmintos, e o
risco de salinidade e sodicidade do solo através da RAS°. O sistema está implantado na ETE-CAERN- Parelhas. A
eficiência do sistema é de 100%, 99,34% e 98,72%, para remoção de ovos de helmintos, coliformes termotolerantes e
totais, respectivamente. O efluente final apresenta risco muito alto de salinidade e baixo risco de sodicidade.
Recomenda-se o reuso desta água na irrigação de culturas forrageiras, culturas processadas industrialmente, além de
pastagens, através de gotejamento subsuperficial

PALAVRAS-CHAVE: tratamento de águas residuárias, wetland, uso de água residuária.

INTRODUÇÃO
A agricultura, atividade essencial na subsistência humana, consome cerca de 75% da água disponível no mundo e
enfrenta sérios desafios no semi-árido do nordeste brasileiro, onde a sub-utilização das reservas de água subterrânea, a
alta evaporação que saliniza os mananciais superficiais e os quase oito meses de ausência de chuvas compõem o quadro
da distribuição hídrica.

O uso de efluentes se apresenta como uma alternativa sustentável no desenvolvimento da agricultura irrigada. Contudo,
oferece riscos sanitários aos agricultores e consumidores das culturas irrigadas, além do risco de acúmulo de sais e sódio
trocável no solo, em níveis prejudiciais ao desenvolvimento das plantas

Com o intuito de minimizar esses riscos é necessário o uso de um tratamento que promova efluentes finais de boa
qualidade. Neste contexto, o wetland construído é um sistema utiliza tecnologia simples, de fácil operação e baixo

OBJETIVO
Verificar a possibilidade de uso na agricultura do efluente tratado por wetland construído, analisando o risco sanitário,
através da análise das bactérias do grupo coliforme e da presença de helmintos, e o risco de salinidade e sodicidade do
solo através da Relação de Adsorção de Sódio Corrigida (RAS°).

METODOLOGIA
Os wetlands são sistemas artificialmente projetados para utilizar plantas aquáticas (macrófitas) com substratos (como
areia, solo, cascalho ou outros), onde ocorre a formação de biofilmes os quais agregam populações variadas de
microrganismos que, através de processos biológicos, químicos e físicos, tratam águas residuárias.

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No Brasil não existe legislação própria para o uso de efluentes. Neste trabalho, no tocante ao risco sanitário, será
utilizada a Tabela 1 que contem as orientações dadas pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 1989).

Tabela 1: Orientação para o Uso de Águas Residuárias na Agricultura


COLIFORMES
NEMATÓIDES
CATE TERMOTOLERA
CULTURA GRUPOS DE RISCO INTESTINAIS
GORIA NTES
(OVOS/L)
(UFC/100ML)
Culturas a serem consumidas
Agricultores,
A cruas, campos de esporte, < 0,1 < 103
consumidores, público
parques e jardins.

(B1) Agricultores
(>15 anos), <1 < 105
circunvizinhança
Culturas processadas
industrial-mente, cereais, (B2) ≈ (B1) <1 < 103
forragens, pastagens, árvores
(B3) Agricultores
(incluindo < 15 anos), < 0,1 < 103
circunvizinhança

Irrigação localizada de
plantas da categoria B na
C ausência de riscos para os NA NA NA
agricultores e público em
geral
FONTE: Adaptado de WHO (1989)

Os problemas mais comuns no solo, no que diz respeito à qualidade da água, estão relacionados com a salinidade, a velocidade
de infiltração da água no solo e a toxicidade de íons específicos. Neste trabalho serão avaliados os dois primeiros fatores

O sistema de tratamento tipo wetland está implantado na ETE-CAERN-Parelhas. A região possui um clima semi-árido, com
precipitação pluviométrica anual média de 450 mm, uma temperatura média de 27,5º C e uma umidade relativa média anual
abaixo de 64%. Situa-se entre as coordenadas: 6º 41’ 16” de latitude sul e 36º 39’ 27” de longitude oeste.

O sistema de tratamento é constituído de grade de barras, caixa de área, uma lagoa de facultativa primária e um wetland, o qual
possui dimensões de 15,00 m de largura e 28,00 m de comprimento, totalizando uma área de 420 m² . O efluente do wetland é
encaminhado para seu respectivo poço de sucção, e posteriormente bombeado para um reservatório, para irrigação agrícola. O
esquema de funcionamento pode ser observado na Figura 1. O substrato é composto por rejeitos de cerâmica vermelha (cacos
de telhas). A macrófita é a forrageira popularmente denominada “capim Andrequicé” (Echinochloa crus-galli, (L..) Pers.).
Foram realizadas treze coletas, com freqüência, salvo alguns inconvenientes técnicos, quinzenal.

Para a quantificação de coliformes termotolerantes utilizou-se a técnica de membrana filtrante (APHA, 1998). Na quantificação
dos ovos de helmintos foi utilizado o método de sedimentação desenvolvido por Bailenger (1979) e modificado por Ayres &
Mara (1996). A determinação da RASº é calculada pela expressão proposta por Suarez (1981) apud Ayers & Westcot (1991), a
qual ajusta a concentração de cálcio na água ao valor de equilíbrio esperado depois da irrigação.

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LAGOA
1
FACULTATIVA ESGOTOBRUTO
PRIMÁRIA

RIO SERIDÓ
FILTROANAERÓBIO
(FAN)

WETLAND
POÇODESUCÇÃO
(FAN)
POÇODESUCÇÃO
(WETLAND)
CASADEBOMBAS
3

RESERVATÓRIO RESERVATÓRIO
EFLUENTEFAN DOEFLUENTE
PONTOSDECOLETA
4 WETLAND
1 ESGOTOBRUTO
2 EFLUENTELAGOAFACULTATIVA IRRIGAÇÃO
3 EFLUENTEWETLAND
4 EFLUENTEWETLANDRESERVATÓRIO
CAMPODEPESQUISA

Figura 1 – Esquema de Funcionamento da ETE Parelhas

RESULTADOS E DISCUSSÕES
A figura 2 a apresenta a remoção de ovos de helmintos ao longo das etapas de tratamento do esgoto. A lagoa facultativa, na
remoção de helmintos, tem uma eficiência de 96,74%, o que significa uma média de 0,54 ovos/L. A eficiência do sistema
completo do tratamento de esgoto é de 100%.

A figura 2 b mostra o decaimento das bactérias do grupo de coliformes. A eficiência do sistema é de 99,34% e 98,72%,
resultando em efluente com 1,4x105 e 4,1x105 UFC/100mL para CTerm e CT, respectivamente. Houve um pequeno aumento,
sem significância estatística, da concentração destas bactérias do efluente do wetland para o reservatório

Figura 2 a. Remoção de ovos de helmintos Figura 2 b. Decaimento de CTerm e CT

A figura 3 apresenta um diagrama de classificação das águas para irrigação que relaciona RAS° e condutividade elétrica.
Todas as amostras se classificam como C3S1, o que significa risco muito alto de salinidade, devido à condutividade
elétrica média de 1979 microS/cm e baixo risco de sodicidade, com valores de RASº com média de 6,11 g.L-1A
organização do texto e seu formato seguirão as presentes instruções:

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Figura 3. Diagrama de águas para irrigação.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Não há risco sanitário em relação à contaminação por ovos de helmintos, porém o sistema não obteve o mesmo êxito na
remoção de coliformes. A média geométrica de CTerm e CT foi superior a 10³ e 105, respectivamente, o que inviabiliza
a irrigação de culturas que serão consumidas cruas.

O efluente não apresenta risco algum em relação à sodicidade; contudo, sua alta salinidade pode provocar a falta de
água durante as etapas de desenvolvimento sensíveis à escassez, provocando diminuição dos rendimentos.

Com base em todas as restrições acima citadas, pode-se recomendar o reuso desta água na irrigação de culturas
forrageiras, como sorgo, algodoeiro e soja, salientando que a irrigação deve ser através de gotejamento subsuperficial e
que os agricultores, maiores de 15 anos, devem usar todos os EPI’s necessários, para que não haja risco de
contaminação destes.

REFERÊNCIAS
1. APHA; AWWA; WPCF . Standard Methods for the Examination of Water and Wasterwater. 20th ed. Washington
D.C.: American Public Health Association, 1998. 1153p.
2. AYERS, R.S. & WESTCOT D.W. Water Quality for Agriculture. FAO, Rome, 1991.218 p.
3. AYRES, R & MARA, D. Analysis of wastewater for use in agriculture. A laboratory manual of parasitological and
bacteriological techniques. WHO (1996), Geneva.
4. WHO (1989) WORLD HEALTH ORGANIZATION.Health guidelines for the use of wastewater in agriculture and
aquaculture. Technical report series. 778. Geneva: World Health and Organization, 72p. 1989.

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