Você está na página 1de 3

A EDUCAÇÃO MUSICAL E O USO DO SOFTWARE EDUCATIVO-MUSICAL

Christiane Denardi*

No Brasil, a partir da década de 1990, surgem os softwares educativo-musicais,


mas sem um aumento significativo da utilização desse recurso na educação musical
brasileira, além de escassa pesquisa para criação de tecnologias educacionais voltadas
ao ensino da música. Na área das artes, em especial na educação musical, é comum o
pouco contato de professores de música com os recursos tecnológicos. A fonte desta
resistência está na crença de que o uso da tecnologia possa substituir o trabalho
pedagógico do professor de música. Entretanto, essa atitude pode ser modificada a
partir de uma maior divulgação dos fundamentos e ferramentas tecnológicas
disponíveis aos educadores musicais, com o objetivo de promover o processo ensino-
aprendizagem da música. Mas como usar a tecnologia para o desenvolvimento do
processo ensino-aprendizagem musical?
O principal objetivo do software educativo-musical é promover um ambiente
educacional que seja um recurso facilitador para efetivar o processo ensino-
aprendizagem musical. No entanto, é importante que nas aulas de música haja espaço
para que os alunos se movimentem entre outros materiais, tais como: instrumentos
musicais e recursos audiovisuais, entre outros mais convencionais.
A informática na educação musical prioriza os aspectos teóricos e práticos, tanto
de questões técnicas quanto de questões pedagógicas (teorias de aprendizagem) e
musicais (concepções de educação musical). Até o momento, as principais teorias de
aprendizagem utilizadas na programação dos softwares educativo-musicais são: o
behaviorismo, o cognitivismo e o construtivismo. Em relação às concepções de
educação musical, as mais referenciadas atualmente são: a tradicional, a progressista e
a social.
Também é preciso considerar a qualidade da tecnologia empregada e a
concepção de educação musical atrelada à periodização do desenvolvimento do aluno.
O projeto de um software de educação musical inicia-se com a concepção que se tem
de Homem, educação e mundo e suas implicações no ato de ensinar música. Assim, a
escolha do software educativo-musical para o ensino da música é conseqüência da
decisão e posicionamento do professor de música, na qual os ambientes e sistemas
apóiam sua proposta e encaminhamento metodológico de ensino, possibilitando o
processo pedagógico e não apenas uma atividade isolada na totalidade deste processo.
Atualmente, dentre os mais utilizados destacam-se os seguintes softwares
musicais e educativo-musicais: editores de partitura (para editar, imprimir, gravar e
executar partituras musicais, auxiliando em composições e pré-produção, além de
digitalizar partituras); acompanhamento (para realizar composições, arranjos e auto-
acompanhamento, semelhante aos teclados de acompanhamento automático);
seqüenciadores (permitem gravar, executar e editar músicas, bem como gravar trilhas
de áudio digital junto com a música, ou seja, produzir e compor músicas e pré-
produção); gravação de áudio (para gravação múltipla e simultânea de trilhas de áudio
digitalizado, gravação multicanal de instrumentos, produção e edição de áudio,
engenharia de áudio e produção e acústica musical); síntese sonora (para gerar
sons/timbres, ou seja, são sintetizadores virtuais, os quais possibilitam criar e alterar
sons, assim como pesquisar e armazenar timbres); programas para treinamento
auditivo (afinação, percepção de intervalos/acordes/escalas e ditado melódico e
rítmico); programas para teoria e análise musical (teoria e harmonia musical);
programas para teoria e prática de instrumentos (posições, improvisações e execuções
de diferentes instrumentos); programas de história e apreciação musical (biografia de
compositores, estilos musicais e análise de períodos e obras musicais); programa para
tutores musicais e programas para a criação personalizada do software para situações
específicas de ensino.
Estes programas de música e de educação musical estão classificados de acordo
com sua funcionalidade, ou seja, suas características e possibilidades de uso, e podem
ser utilizados com ou sem a presença do professor de música. Há diversas formas de
um software educativo-musical apresentar o conteúdo musical a ser trabalhado, por
exemplo: por meio de textos expositivos, exercícios, testes, desafios, apreciações e
jogos interativos. Estas atividades podem ser desenvolvidas de forma individual e/ou
coletiva.
Desta forma, a tecnologia aplicada ao campo da educação musical consiste em
uma ferramenta para auxiliar o professor de música na prática do ensino musical, tal
qual o quadro-negro, o retroprojetor, o aparelho de som e os instrumentos musicais. A
informática não substitui este professor, mas lança um desafio a ele: o de onde e como
usa-la em suas aulas de música. Nesta perspectiva cabe alertar a urgência em formar
professores de música para atuar nessa realidade emergente, bem como consultar
profissionais especializados na área de informática, educação e educação musical ao
adquirir estes recursos, pois a escolha correta deste material demanda planejamento e
conhecimento dos envolvidos.
Frente ao exposto, conclui-se que as atividades musicais com software musical e
educativo-musical a serem desenvolvidas dependem da tecnologia disponível e do grau
de conhecimento musical, tecnológico e pedagógico do professor de música, bem como
da formação inicial e continuada destes profissionais. Nesta direção e rumo aos
avanços tecnológicos, o software musical e educativo-musical é um material de apoio e
que não substitui o professor de música competente e atualizado, pois uma boa aula de
música depende mais da atuação profissional do educador musical do que dos recursos
tecnológicos por ele utilizado, ou seja, a tecnologia não é o foco do processo ensino-
aprendizagem musical, mas uma ferramenta a mais que possibilita este processo.
Algumas indicações bibliográficas:

CARPENTER, R. Technology in music classroom. Los Angeles: Alfred Publishing,


1991.

RUDOLPH, T. E. Teaching music with technology. Chicago: GIA, 1996.

SWANWICK, K. Teaching music musically. London: Routledge, 1999.

*
Christiane Denardi (cdenardi@hotmail.com) é psicóloga, pianista, pesquisadora e professora de música e ensino
superior. Mestre em Educação pela PUC-PR, Especialista em Magistério do Ensino Superior e Psicologia
Organizacional e do Trabalho pela PUC-PR e em Educação Musical pela EMBAP. Possui diversos trabalhos
publicados, palestras, oficinas e consultoria nas áreas de Educação, Psicologia e Arte, além de atuar como
colaboradora em revistas e sites educacionais.

Você também pode gostar