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INFORMATIVO esquematizado

Informativo 528 – STJ


Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: CC 124.063-DF; REsp 1.208.858-SP; REsp 1.185.390-
SP; REsp 512.406-SP; REsp 909.940-ES.

ÍNDICE

Direito Administrativo
 Art. 10 da Lei 8.429/92: é indispensável a comprovação de efetivo prejuízo aos cofres públicos.
 Estado-membro que desapropria domínio útil de imóvel em terreno de marinha deverá pagar laudêmio.

Direito Civil
 O titular do blog é responsável pelos danos causados por artigos de terceiro publicados em seu site.
 Teoria da perda de uma chance: emissora de TV não considerou a resposta correta.

Direito do Consumidor
 Direito de arrependimento: ônus de pagar as despesas postais é do fornecedor.
 É dispensada a prévia comunicação do devedor se o SPC/SERASA estiver apenas reproduzindo
informação negativa que conste de registro público.

Direito Empresarial
 Pós-datação do cheque não modifica o prazo de apresentação nem o prazo prescricional.
 É possível o protesto de cheque por endossatário terceiro de boa-fé mesmo que ele tenha sido sustado
pelo emitente.

Direito Processual Civil


 Juiz não pode negar AJG com base apenas no valor do salário do requerente.
 Termo inicial dos juros e correção monetária no caso de condenação da Fazenda Pública.
 Art. 515, § 3º do CPC: pode ser aplicado se a questão for de direito e de fato, mas não houver
necessidade de se produzirem provas.
 Não cabe a sucessão de partes em processo de MS.
 MP tem legitimidade para ajuizar ACP a fim de garantir acesso a critérios de correção de provas de
concurso público.
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www.dizerodireito.com.br
Direito Penal
 Apropriação indébita previdenciária dispensa dolo específico (animus rem sibi habendi).
 Factoring que empresta dinheiro utilizando recursos de terceiros pratica o crime do art. 16 da Lei n.
7.492/86, de competência da Justiça Federal.

Direito Processual Penal


 Vara da infância e juventude pode julgar estupro de vulnerável se previsto na lei estadual?
 (Ir)retroatividade da indenização mínima prevista no inciso IV do art. 387 do CPP.

Direito Tributário
 Não é possível compensar precatório estadual com dívidas oriundas de tributos federais.
 Verba paga ao empregado demitido sem justa causa no período de estabilidade é isenta de IR.

Direito Previdenciário
 No reexame necessário, o Tribunal não pode modificar a sentença para conceder benefício mais
vantajoso ao segurado (Súmula 45-STJ).

DIREITO ADMINISTRATIVO
Art. 10 da Lei 8.429/92: é indispensável a comprovação de efetivo prejuízo aos cofres públicos
Para a configuração dos atos de improbidade administrativa previstos no art. 10 da Lei n.
8.429/92 é indispensável a comprovação de que tenha havido efetivo prejuízo aos cofres
públicos. Se não houver essa prova, não há como condenar o requerido por improbidade
administrativa.
Tendo ocorrido dispensa de licitação de forma indevida, mas não sendo provado prejuízo ao
erário nem má-fé do administrador, não se verifica a ocorrência de ato de improbidade
administrativa.
Comentários A Lei n. 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa) regulamenta as consequências no
caso da prática de atos de improbidade administrativa.
A LIA traz, em seus arts. 9º, 10 e 11, um rol exemplificativo de atos que caracterizam
improbidade administrativa.

Para a configuração dos atos de improbidade administrativa previstos no art. 10 da Lei n.
8.429/92 é indispensável a comprovação de que tenha havido efetivo prejuízo aos cofres
públicos. Se não houver essa prova, não há como condenar o requerido por improbidade
administrativa.

Veja o seguinte exemplo hipotético:


João, administrador público, realizou a dispensa de licitação para a compra de
determinados bens. O Tribunal de Contas entendeu que a situação em tela não autorizava a
dispensa de licitação, uma vez que não se enquadrava nas hipóteses legais do art. 24 da Lei
n. 8.666/93. Apesar disso, constatou-se que os bens tinham preço compatível com os
praticados no mercado e não houve indícios de que o administrador tenha beneficiado
qualquer pessoa.
De posse dos documentos do Tribunal de Contas, o Ministério Público ajuizou ação de
improbidade contra João, com fulcro no art. 10, VIII, da Lei n. 8.429/92:
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer
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ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
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malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º


desta lei, e notadamente:

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(...)
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente;
Nesse caso concreto, o administrador poderia ser condenado por improbidade
administrativa com base no art. 10, VIII, mesmo não tendo havido dano ao erário?
NÃO. O STJ entende que, para a configuração dos atos de improbidade administrativa
previstos no art. 10 da Lei n. 8.429/1992, exige-se a presença do efetivo dano ao erário
(critério objetivo) e, ao menos, culpa (elemento subjetivo). Não caracterizado o efetivo
prejuízo ao erário, ausente o próprio fato típico (REsp. 1.233.502/MG, Rel. Min. Cesar Asfor
Rocha, DJe 23.08.2012).

Essa é a opinião também da doutrina especializada ao comentar o inciso VIII do art. 10 da LIA:
“A simples dispensa do processo de licitação, por si só, não é motivo para a subsunção na
presente Lei de Improbidade Administrativa, pois é necessário o binômio ilegalidade com
prejuízo ao erário. Isso porque, o inciso em tela é abrigado no caput do art. 10, que
estabelece atos de improbidade que causem lesão ao erário.” (MATTOS, Mauro Roberto
Gomes de. O Limite da Improbidade Administrativa. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 306).
Processo STJ. 1ª Turma. REsp 1.173.677-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/8/2013.

Estado-membro que desapropria domínio útil de imóvel situado


em terreno de marinha deverá pagar laudêmio
(obs: este julgado somente interessa a quem presta concursos federais)

A transferência, para fins de desapropriação, do domínio útil de imóvel aforado da União


constitui operação apta a gerar o recolhimento de laudêmio.
Comentários O que são terrenos de marinha?
Terrenos de marinha são “todos aqueles que, banhados pelas águas do mar ou dos rios e
lagoas navegáveis (estes últimos, exclusivamente, se sofrerem a influência das marés,
porque senão serão terrenos reservados), vão até a distância de 33 metros para a parte da
terra contados da linha do preamar médio, medida em 1831” (CUNHA JÚNIOR, Dirley da.
Curso de Direito Administrativo. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 417).
Isso é um pouco difícil de entender, então, encontrei esta imagem para ilustrar melhor:

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Fonte: http://www.vendariviera.com.br/blog/imoveis/saiba-mais-sobre-o-terreno-de-marinha/

INFORMATIVO esquematizado
Os terrenos de marinha são bens da União (art. 20, VII, da CF/88). Isso se justifica por se
tratar de uma região estratégica em termos de defesa e de segurança nacional (é a “porta
de entrada” de navios mercantes ou de guerra).

Enfiteuse (ou aforamento)


José dos Santos Carvalho Filho (Manual de Direito Administrativo. 23ª ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2010, p. 1311) explica que, em algumas regiões, a União permitiu que
particulares utilizassem, de forma privada, imóveis localizados em terrenos de marinha.
Como essas áreas pertencem à União, o uso por particulares é admitido pelo regime da
enfiteuse (aforamento), que funciona, em síntese, da seguinte forma:
 A União (senhorio direto) transfere ao particular (enfiteuta) o domínio útil.
 O particular (enfiteuta) passa a ter a obrigação de pagar anualmente uma importância a
título de foro ou pensão.

O particular (enfiteuta) pode até transferir para outras pessoas o domínio útil que exerce
sobre o bem?
SIM. Tome-se o seguinte exemplo: João reside em uma casa localizada dentro de um
terreno de marinha, possuindo, portanto, apenas o domínio útil sobre o bem e pagando,
anualmente, o foro. Ocorre que ele quer se mudar. Diante disso, poderá “vender” o
domínio útil para outra pessoa.

A pessoa que transferir o domínio útil do imóvel terá que pagar algum valor para a União?
SIM. A legislação estabelece que a pessoa, antes de efetuar a transferência, deverá pagar
5% do valor do domínio útil à União. Assim, em nosso exemplo, João terá que recolher em
favor da União 5% do valor do domínio útil de sua casa pelo simples fato de ela estar
localizada em terreno de marinha.
Esse valor é chamado de laudêmio e seu pagamento está previsto no art. 3º do Decreto-Lei
n. 2.398/87:
Art. 3° Dependerá do prévio recolhimento do laudêmio, em quantia correspondente a 5%
(cinco por cento) do valor atualizado do domínio pleno e das benfeitorias, a transferência
onerosa, entre vivos, do domínio útil de terreno da União ou de direitos sobre benfeitorias
neles construídas, bem assim a cessão de direito a eles relativos.

Imaginemos que o estado-membro possui interesse no imóvel onde reside João. O estado-
membro poderá desapropriar esse bem?
NÃO. Isso porque a casa de João está localizado em terreno de marinha. Logo, trata-se de
bem da União.

Os bens da União não podem ser desapropriados pelo estado-membro?


NÃO.

Os bens públicos podem ser desapropriados?


SIM. Os bens públicos podem ser objeto de desapropriação, mas apenas por entidades
estatais superiores e desde que haja autorização legislativa para o ato expropriatório.
Assim, a União pode desapropriar bens dos Estados, do DF e dos Municípios; já os Estados
podem desapropriar apenas os bens dos Municípios; os Municípios, por sua vez, não podem
desapropriar bens públicos.
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O que o estado-membro pode fazer, então, para utilizar o imóvel de João?


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O estado-membro poderá desapropriar o domínio útil do imóvel, de forma que ele


continuará pertencendo à União.
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Nesse caso, o estado-membro, ao desapropriar o domínio útil, terá que pagar laudêmio?
SIM. O STJ decidiu que a transferência, para fins de desapropriação, do domínio útil de
imóvel aforado da União constitui operação apta a gerar o recolhimento de laudêmio. Isso
porque, nessa situação, mesmo se tratando de uma desapropriação, não se pode negar que
há uma transferência onerosa entre vivos, de modo a possibilitar a incidência do disposto
no art. 3º do Decreto-lei 2.398/1987.

Obs: O CC-2002 proibiu a constituição de novas enfiteuses (aforamentos), continuando a


existir aquelas que já haviam sido constituídas (elas são regidas pelo CC-1916). O CC-2002
determinou, ainda, que a enfiteuse (aforamento) dos terrenos de marinha poderia
continuar a existir, sendo matéria a ser regulada por lei especial (art. 2.038, § 2º).
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.296.044-RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 15/8/2013.

DIREITO CIVIL
O titular do blog é responsável pelos danos causados por artigos de terceiro publicados em seu site
O titular de blog é responsável pela reparação dos danos morais decorrentes da inserção, em
seu site, por sua conta e risco, de artigo escrito por terceiro.
Comentários O STJ entende que o raciocínio que motivou a edição da Súmula 221 do STJ é aplicável em
relação a todas as formas de imprensa, alcançado, assim, também o serviço de informação
prestado por meio da internet.
Súmula 221-STJ: São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de
publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de
divulgação.

Nesse contexto, cabe ao titular do blog exercer o controle editorial das matérias a serem
postadas, de modo a evitar a propagação de opiniões pessoais que contenham ofensivos à
dignidade pessoal e profissional de outras pessoas.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.381.610-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 3/9/2013.

Teoria da perda de uma chance: emissora de TV não considerou a resposta correta


A emissora responsável pela veiculação de programa televisivo de perguntas e respostas deve
indenizar, pela perda de uma chance, o participante do programa que, apesar de responder
corretamente a pergunta sobre determinado time de futebol, tenha sido indevidamente
desclassificado, ao ter sua resposta considerada errada.
Comentários O que é a teoria da perda de uma chance?
Trata-se de teoria inspirada na doutrina francesa (perte d’une chance).
Segundo essa teoria, se alguém, praticando um ato ilícito, faz com que outra pessoa perca
uma oportunidade de obter uma vantagem ou de evitar um prejuízo, esta conduta enseja
indenização pelos danos causados.
Em outras palavras, o autor do ato ilícito, com a sua conduta, faz com que a vítima perca a
oportunidade de obter uma situação futura melhor.
Com base nesta teoria, indeniza-se não o dano causado, mas sim a chance perdida.

A teoria da perda de uma chance é adotada no Brasil?


SIM, esta teoria é aplicada pelo STJ, que exige, no entanto, que o dano seja REAL, ATUAL e
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CERTO, dentro de um juízo de probabilidade, e não mera possibilidade, porquanto o dano


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potencial ou incerto, no espectro da responsabilidade civil, em regra, não é indenizável


(REsp 1.104.665-RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 9/6/2009).

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Em outros julgados, fala-se que a chance perdida deve ser REAL e SÉRIA, que proporcione
ao lesado efetivas condições pessoais de concorrer à situação futura esperada.
(AgRg no REsp 1220911/RS, Segunda Turma, julgado em 17/03/2011)

Caso concreto em que o STJ aplicou essa teoria:


Júlio foi selecionado para participar de um programa do SBT chamado “Vinte e Um”, no
qual deveria responder a questões referentes ao Corinthians com base no livro denominado
Corinthians é “Preto no Branco”.
O referido livro é composto por páginas brancas e páginas pretas sendo que nas páginas
brancas as informações são fantasiosas e nas páginas pretas as informações são reais.
Depois de superada a fase que lhe garantia 50 mil reais, Júlio decidiu passar para a nova
fase. Se acertasse essa pergunta, ele teria direito de concorrer ao prêmio de 120 mil reais.
Depois de lida a pergunta pelo apresentador Silvio Santos, Júlio respondeu corretamente a
pergunta sobre o placar de uma partida do Corinthians.
O apresentador, no entanto, de acordo com o que ficticiamente constava do livro,
considerou a resposta errada.
Com isso, Júlio foi desclassificado, perdendo a chance de passar para a etapa seguinte, na
qual poderia ganhar 120 mil reais.
Júlio ajuizou, então, ação de indenização contra o SBT.

O que decidiu o STJ?


Apesar de o programa indicar como bibliografia básica o referido livro, o concurso era, na
verdade, sobre o Corinthians (e não sobre o livro).
Assim, não se podia exigir do autor que desse a resposta errada, mesmo estando dessa
forma escrita no livro.
Logo, para o STJ, a emissora deveria ter exigido a resposta verdadeira sobre a história do
clube (e não a parte fictícia).
Como o autor foi indevidamente eliminado do concurso, perdeu a chance de nele
prosseguir e de receber o prêmio de 120 mil reais. Logo, deverá ser indenizado por essa
chance perdida.
Entendeu-se que ele tinha direito, não aos 120 mil reais, porque havia a possibilidade de ele
não acertar a pergunta. No entanto, se entendeu que ele deveria receber a metade do valor
do prêmio seguinte (60 mil reais).
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.383.437-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 13/8/2013.

DIREITO DO CONSUMIDOR
Direito de arrependimento: ônus de pagar as despesas postais é do fornecedor
Se o consumidor comprar algum produto ou serviço por telefone, pela TV ou internet e, quando
for usar, perceber que não gostou, ele tem direito de devolver, recebendo de volta o que pagou.
A isso se dá o nome de direito de arrependimento (art. 49 do CDC).
Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento, os valores eventualmente pagos, a
qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente
atualizados (parágrafo único do art. 49 do CDC).
O ônus de arcar com as despesas postais decorrentes do exercício do direito de
arrependimento é do fornecedor e não pode ser repassado ao consumidor, mesmo que o
contrato assim preveja.
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Comentários Se o consumidor comprar algum produto ou serviço por telefone, pela TV ou internet e,
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quando for usar, perceber que não gostou, ele tem direito de devolver, recebendo de volta o
que pagou?

INFORMATIVO esquematizado
SIM. Trata-se do chamado “direito de arrependimento”, que está previsto no art. 49 do CDC:
Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua
assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de
fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial,
especialmente por telefone ou a domicílio.

Em quais situações ocorre o “direito de arrependimento”?


O consumidor tem direito de arrependimento sempre que a compra do produto ou serviço
ocorrer fora do estabelecimento comercial. É o caso, por exemplo, do consumidor que
compra o produto pela internet, por telefone ou, então, quando o vendedor vai até a casa
da pessoa levando um catálogo para que o comprador escolha o artigo desejado.
Importante reafirmar que esse direito somente existe no caso de aquisição do produto ou
serviço fora do estabelecimento comercial. Ressalte-se que algumas lojas físicas até
oferecem essa comodidade aos seus clientes (a possibilidade de trocar peças de roupa, p.
ex., quando não agradam o destinatário de um presente). Isso, contudo, é uma mera
liberalidade do fornecedor, não havendo uma previsão legal obrigando a loja a adotar essa
prática caso o bem tenha sido adquirido dentro do estabelecimento comercial.

Existe um prazo máximo para que o consumidor possa exercer esse direito?
SIM. O consumidor poderá desistir do negócio em um prazo de até 7 dias, que são
contados:
 da assinatura do contrato; ou
 do ato de recebimento do produto ou serviço

Obs: esse período de 7 dias é chamado de “prazo de reflexão”.

Por que o legislador previu esse direito de arrependimento?


Quando o consumidor adquire o produto ou serviço fora do estabelecimento comercial, ele
fica ainda mais vulnerável na relação instituída com o fornecedor (GARCIA, Leonardo.
Direito do Consumidor. 5ª ed., Salvador: Juspodivm, 2011, p. 207). Isso porque se o
consumidor está dentro do estabelecimento, ele pode verificar com maior riqueza de
detalhes as características do produto ou serviço (tamanho, largura, cores, condições etc.),
comparando com outros de marcas e modelos diferentes. Já quando está fora do
estabelecimento, esse exame fica mais dificultado, de forma que acaba adquirindo o bem
confiando nas informações dadas pelo fornecedor. Se essas não se confirmam (ainda que
em uma visão subjetiva do adquirente), nada mais justo que ele possa se arrepender do
negócio.

É necessário que o consumidor justifique o motivo pelo qual não quer mais o bem ou
serviço?
NÃO. O direito de arrependimento pode ser exercido de forma absolutamente imotivada,
ou seja, o consumidor não precisa dizer os motivos pelos quais quer devolver o produto ou
serviço, não sendo possível que o fornecedor exija isso para que faça o reembolso.
Pouco importa também se o produto ou serviço não apresenta nenhum vício.
Assim, o produto ou serviço poderá ser devolvido mesmo que esteja funcionando
perfeitamente.

O fornecedor poderá inserir uma cláusula no contrato afirmando que o consumidor não terá
direito de arrependimento?
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NÃO. Eventual cláusula nesse sentido é considerada abusiva, sendo nula de pleno direito,
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nos termos do art. 51, I e II:

INFORMATIVO esquematizado
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que:
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de
qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de
direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a
indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos
neste Código;

Após devolver o produto ou serviço, o consumidor tem direito de receber de volta


inteiramente o valor que pagou?
SIM. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento, os valores eventualmente
pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato,
monetariamente atualizados (parágrafo único do art. 49).

Quem deverá arcar com as despesas de transporte para devolução da mercadoria à loja?
O fornecedor.

Ao efetuar a devolução dos valores ao consumidor, o fornecedor poderá descontar um


percentual pequeno a título de despesas? Ex: o consumidor pagou 2 mil reais por um
notebook comprado pela internet; a loja poderá descontar 50 reais gastos com as despesas
relativas aos correios?
NÃO. O ônus de arcar com as despesas postais decorrentes do exercício do direito de
arrependimento é do fornecedor e não pode ser repassado ao consumidor, mesmo que o
contrato assim preveja. Segundo o STJ, “aceitar o contrário significaria criar limitação ao
direito de arrependimento legalmente não prevista, de modo a desestimular o comércio
fora do estabelecimento, tão comum nos dias atuais. Deve-se considerar, ademais, o fato
de que eventuais prejuízos enfrentados pelo fornecedor nesse tipo de contratação são
inerentes à modalidade de venda agressiva fora do estabelecimento comercial (pela
internet, por telefone ou a domicílio)” (REsp 1.340.604-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 15/8/2013).

Recentemente, o direito de arrependimento foi regulamentado pelo Decreto n. 7.962/2013,


no que se refere ao comércio eletrônico:
Veja o que diz o art. 5º do Decreto n. 7.962/2013:
Art. 5º O fornecedor deve informar, de forma clara e ostensiva, os meios adequados e
eficazes para o exercício do direito de arrependimento pelo consumidor.

§ 1º O consumidor poderá exercer seu direito de arrependimento pela mesma ferramenta


utilizada para a contratação, sem prejuízo de outros meios disponibilizados.

§ 2º O exercício do direito de arrependimento implica a rescisão dos contratos acessórios,


sem qualquer ônus para o consumidor.

§ 3º O exercício do direito de arrependimento será comunicado imediatamente pelo fornecedor


à instituição financeira ou à administradora do cartão de crédito ou similar, para que:
I - a transação não seja lançada na fatura do consumidor; ou
II - seja efetivado o estorno do valor, caso o lançamento na fatura já tenha sido realizado.

§ 4º O fornecedor deve enviar ao consumidor confirmação imediata do recebimento da


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manifestação de arrependimento.

INFORMATIVO esquematizado
Polêmicas envolvendo o direito de arrependimento
Existe uma polêmica envolvendo o direito de arrependimento no caso de bens consumíveis
ou, então, de produtos e serviços cujo uso possa ser feito normalmente nos 7 dias e, após
isso, não haja mais interesse econômico do consumidor em permanecer com a mercadoria.
Nesses casos, muitos fornecedores defendem que não deveria ser permitido o exercício do
direito de arrependimento.
Como exemplo, podemos citar um consumidor que compre um curso on line, assista
durante os 7 dias e, depois, simplesmente queira devolvê-lo afirmando que não gostou.
Outra situação é a do consumidor que compra um e-book, faz a leitura no período de
reflexão e, então, postula a sua devolução.
Nessas hipóteses, alguns fornecedores têm criado embaraço para que o consumidor exerça
seu direito de arrependimento.
Ainda não há um posicionamento do STJ sobre esse ponto específico.
Os órgãos de defesa do consumidor afirmam que, a princípio, mesmo em tais situações é
possível o exercício do direito de arrependimento, considerando que a lei não fez restrições.
No entanto, a depender do caso concreto, vem ganhando força o entendimento de que
seria possível negar o exercício desse direito se ficar comprovado um manifesto abuso por
parte do consumidor, o que violaria o princípio da boa-fé objetiva. Há algumas decisões de
Tribunais de Justiça sustentando essa posição.
Seria interessante que fosse editada uma regulamentação mais detalhada sobre esse
direito, assim como já ocorre em alguns países e também na União Europeia (Diretiva
97/7/CE do Parlamento Europeu).

O direito de arrependimento é igual à “venda a contento” (ad gustum) ou, então, à “venda
sujeita a prova”, previstas, respectivamente, nos arts. 509 e 510 do CC?
NÃO.

A venda feita a contento do comprador entende-se realizada sob condição suspensiva,


ainda que a coisa lhe tenha sido entregue; e não se reputará perfeita enquanto o
adquirente não manifestar seu agrado (art. 509).
Já a venda sujeita a prova presume-se feita sob a condição suspensiva de que a coisa tenha as
qualidades asseguradas pelo vendedor e seja idônea para o fim a que se destina (art. 510).
A principal diferença entre os institutos é a seguinte:
Direito de arrependimento Venda a contento e venda sujeita a prova
O negócio produz efeitos até que se rejeite A eficácia do negócio fica suspensa
o bem. (condição suspensiva) até que o comprador
manifeste se aceita (art. 511 do CC).

Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.340.604-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 15/8/2013.

É dispensada a prévia comunicação do devedor se o SPC/SERASA estiver apenas reproduzindo


informação negativa que conste de registro público
Órgão de proteção ao crédito (exs: SPC, SERASA) não tem o dever de indenizar o devedor pela
inclusão do seu nome, sem prévia notificação, em cadastro negativo na hipótese em que as
informações que deram ensejo ao registro tenham sido coletadas em bancos de dados públicos,
como os pertencentes a cartórios de protesto de títulos e de distribuição judicial. Isso porque
não há, nesses casos, o dever de notificação prévia do devedor no tocante ao registro
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desabonador, haja vista que as informações constantes em bancos de dados públicos acerca da
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inadimplência de devedor já possuem notoriedade pública.

INFORMATIVO esquematizado
Comentários Se o consumidor está inadimplente, o fornecedor poderá incluí-lo em cadastros de proteção
ao crédito (exs: SPC e SERASA)? SIM.

Qual o cuidado prévio que deve ser tomado?


A abertura de qualquer cadastro, ficha, registro e dados pessoais ou de consumo referentes
ao consumidor deverá ser comunicada por escrito a ele (§ 2º do art. 43 do CDC).
Logo, o órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito deverá notificar o devedor
antes de proceder à inscrição (Súmula 359-STJ).
Assim, é ilegal e sempre deve ser cancelada a inscrição do nome do devedor em cadastros
de proteção ao crédito realizada sem a prévia notificação exigida pelo art. 43, § 2º, do CDC.
Em outras palavras, antes de “negativar” o nome do consumidor, o SPC ou a SERASA
deverão notificar o devedor, por escrito, informando acerca dessa possibilidade, a fim de
que o consumidor, se quiser, possa pagar o débito ou questioná-lo judicialmente.

O que acontece se não houver essa notificação prévia?


A ausência de prévia comunicação ao consumidor da inscrição do seu nome em órgão de
proteção ao crédito enseja indenização por danos morais, a ser paga pelos órgãos
mantenedores de cadastros restritivos (exs: SERASA, SPC).

O credor (fornecedor) deverá também pagar indenização por danos morais pelo fato do
consumidor ter sido negativado sem notificação prévia?
NÃO. O credor não é parte legítima para figurar no polo passivo de ação de indenização por
danos morais decorrentes da inscrição em cadastros de inadimplentes sem prévia
comunicação.
A responsabilidade pela inclusão do nome do devedor no cadastro incumbe à entidade que
o mantém, e não ao credor, que apenas informa a existência da dívida (STJ AgRg nos EDcl
no REsp 907.608/RS).
A situação será diferente se o consumidor for negativado por conta de uma dívida que não
existia realmente (dívida irregular). Nesse caso, o fornecedor é quem será responsabilizado.

Se não houve comunicação prévia, a indenização é devida mesmo que depois fique provado
que o débito realmente existe?
SIM. Para que se caracterize o dever da SERASA/SPC de indenizar, é suficiente a ausência de
prévia comunicação, mesmo quando existente a dívida que gerou a inscrição.

Para que haja a condenação em dano moral, é necessário que seja provado o prejuízo
sofrido pelo consumidor?
NÃO. A indenização por danos morais decorre da simples ausência de prévia notificação,
circunstância que se mostra suficiente à caracterização do dano moral. Não há necessidade
da prova do prejuízo sofrido. Trata-se de dano moral in re ipsa, no qual o prejuízo é
presumido.

E no caso de dano material?


Para que haja condenação por danos materiais, é indispensável a prova dos prejuízos
sofridos.

Como é comprovada essa notificação prévia? Exige-se prova de que o consumidor tenha
efetivamente recebido a notificação?
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NÃO. Basta que seja provado que foi enviada uma correspondência ao endereço do
consumidor notificando-o quanto à inscrição de seu nome no respectivo cadastro, sendo
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desnecessário aviso de recebimento (AR).


Súmula 404-STJ: É dispensável o Aviso de Recebimento (AR) na carta de comunicação ao
INFORMATIVO esquematizado
consumidor sobre a negativação de seu nome em bancos de dados e cadastros.

Se o consumidor possui uma negativação anterior legítima e sofre uma nova anotação,
porém desta vez ele não é notificado previamente, este consumidor terá direito de ser
indenizado por causa desta segunda?
NÃO, ele terá direito apenas de pedir o cancelamento da segunda anotação feita sem
notificá-lo.
Súmula 385-STJ: Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe
indenização por dano moral quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao
cancelamento.
Desse modo, conclui-se que a ausência de prévia comunicação ao consumidor da inscrição
do seu nome em cadastros de proteção ao crédito, prevista no art. 43, §2º do CDC, enseja o
direito à compensação por danos morais, salvo quando preexista inscrição desabonadora
regularmente realizada.

Se o consumidor, após ser regularmente comunicado sobre a futura inscrição no cadastro,


ajuíza uma ação para impedir ou retirar seu nome do cadastro negativo, alegando que o
débito não existe, o juiz poderá conceder tutela antecipada ou cautelar deferindo esse
pedido? Quais os requisitos para tanto?
Segundo o STJ, a abstenção da inscrição/manutenção em cadastro de inadimplentes,
requerida em antecipação de tutela e/ou medida cautelar, somente será deferida se,
cumulativamente:
a) a ação for fundada em questionamento integral ou parcial do débito;
b) houver demonstração de que a cobrança indevida se funda na aparência do bom direito
e em jurisprudência consolidada do STF ou STJ;
c) houver depósito da parcela incontroversa ou for prestada a caução fixada conforme o
prudente arbítrio do juiz.
A simples discussão judicial da dívida não é suficiente para obstar a negativação do nome
do devedor nos cadastros de inadimplentes.

Existe um prazo máximo no qual o nome do devedor pode ficar negativado?


SIM. Os cadastros e bancos de dados não poderão conter informações negativas do
consumidor referentes a período superior a 5 anos.
Passado esse prazo, o próprio órgão de cadastro deve retirar a anotação negativa,
independentemente de como esteja a situação da dívida (não importa se ainda está sendo
cobrada em juízo ou se ainda não foi prescrita).
Súmula 323-STJ: A inscrição do nome do devedor pode ser mantida nos serviços de
proteção ao crédito até o prazo máximo de cinco anos, independentemente da prescrição
da execução.

Se o devedor paga a dívida, a quem caberá informar o SPC ou a SERASA dessa situação para
que seja retirado o nome do devedor?
Cumpre ao CREDOR (e não ao devedor) providenciar o cancelamento da anotação negativa
do nome do devedor em cadastro de proteção ao crédito, quando paga a dívida.

Vale ressaltar que é, inclusive, crime, previsto no CDC, quando o fornecedor deixa de
comunicar o pagamento ao cadastro de proteção ao crédito:
Art. 73. Deixar de corrigir imediatamente informação sobre consumidor constante de
11

cadastro, banco de dados, fichas ou registros que sabe ou deveria saber ser inexata:
Pena - Detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses ou multa.
Página

INFORMATIVO esquematizado
Assim, uma vez regularizada a situação de inadimplência do consumidor, deverão ser
imediatamente corrigidos os dados constantes nos órgãos de proteção ao crédito (REsp
255.269/PR).

Qual é o prazo que tem o credor para retirar (dar baixa) do nome do devedor no cadastro
negativo?
O STJ sempre afirmou que o credor deveria fazer isso “imediatamente” ou “em breve
espaço de tempo”. No entanto, a Corte avançou em seu entendimento e estipulou um
prazo certo para que o devedor tome essa providência.
Desse modo, o STJ afirmou que, paga a dívida, o credor tem o prazo de 5 (cinco) dias úteis
para a retirada do nome do consumidor dos cadastros de proteção ao crédito.
(STJ. 3ª Turma, REsp 1.149.998-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/8/2012)

Qual foi o fundamento para se encontrar esse prazo?


O STJ construiu este prazo por meio de aplicação analógica do art. 43, § 3º, do CDC:
Art. 43 (...) § 3º - O consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados e
cadastros, poderá exigir sua imediata correção, devendo o arquivista, no prazo de cinco dias
úteis, comunicar a alteração aos eventuais destinatários das informações incorretas.

Qual é o termo inicial para a contagem?


Este prazo começa a ser contado da data em que houve o pagamento efetivo. No caso de
quitações realizadas mediante cheque, boleto bancário, transferência interbancária ou
outro meio sujeito à confirmação, o prazo começa a ser contado do efetivo ingresso do
numerário na esfera de disponibilidade do credor.

Estipulação de prazo diverso mediante acordo entre as partes:


É possível que seja estipulado entre as partes um outro prazo diferente desses 5 dias, desde
que não seja abusivo.

O que acontece se o credor não retirar o nome do devedor do cadastro no prazo de 5 dias?
A manutenção do registro do nome do devedor em cadastro de inadimplentes após esse
prazo impõe ao credor o pagamento de indenização por dano moral, independentemente
de comprovação do abalo sofrido.

Resumo quanto aos danos causados aos consumidores:


Quem é o responsável pelos danos causados ao consumidor?
1) Se o consumidor não foi notificado previamente acerca da inscrição: a responsabilidade é
somente do órgão de restrição do crédito (exs: SERASA, SPC).
2) Se o consumidor pagou a dívida e o fornecedor não providenciou a retirada do seu nome
do cadastro: a responsabilidade é somente do fornecedor (ex: comerciante).
3) Se o consumidor foi negativado por dívida irregular (ex: dívida que já havia sido paga): a
responsabilidade é somente do fornecedor.

Duas questões finais importantes


Existe uma exceção na qual não é necessária a notificação prévia do devedor para que seja
feita uma anotação negativa em seu nome nos cadastros de proteção ao crédito. Qual é?
É dispensada a prévia comunicação do devedor se o órgão de restrição ao crédito (exs: SPC,
SERASA) estiver apenas reproduzindo informação negativa que conste de registro público
12

(exs: anotações de protestos que constem do Tabelionato de Protesto, anotações de


execução fiscal que sejam divulgadas no Diário Oficial):
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(...) É firme a jurisprudência desta Corte no sentido de que a ausência de prévia

INFORMATIVO esquematizado
comunicação ao consumidor da inscrição de seu nome em cadastros de proteção ao
crédito, prevista no art. 43, § 2º, do CDC, não dá ensejo à reparação de danos morais
quando oriunda de informações contidas em assentamentos provenientes de serviços
notariais e de registros, bem como de distribuição de processos judiciais, por serem de
domínio público. (...)
(STJ. 2ª Seção, Rcl 6.173/SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 29/02/2012)

O simples erro no valor inscrito da dívida gera dano moral (ex: a dívida era de 10 mil reais e
foi inscrita como sendo de 15 mil reais)?
NÃO. O STJ entende que o simples erro no valor inscrito da dívida, em órgão de proteção de
crédito, não tem o condão de causar dano moral ao devedor, haja vista que não é o valor do
débito que promove o dano moral ou o abalo de crédito, mas o registro indevido, que, no
caso, não ocorreu, uma vez que a dívida existe, foi reconhecida pelo autor e comprovada,
expressamente (REsp 831162/ES).
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.124.709-TO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/6/2013.

DIREITO EMPRESARIAL

Pós-datação do cheque não modifica o prazo de apresentação nem o prazo prescricional

A pós-datação do cheque não modifica o prazo de apresentação nem o prazo de prescrição do


título. Assim, mesmo em caso de cheque pós-datado, o prazo para apresentação deve ser
contado a partir da data da emissão, não importando o dia futuro combinado com o
beneficiário.
Comentários CHEQUE

Conceito
O cheque é...
- uma ordem de pagamento à vista
- que é dada pelo emitente do cheque
- em favor do indivíduo que consta como beneficiário no cheque (ou seu portador)
- ordem essa que deve ser cumprida por um banco
- que tem a obrigação de pagar a quantia escrita na cártula
- em razão de o emitente do cheque ter fundos (dinheiro) depositados naquela
instituição financeira.

“Trata-se de uma ordem de pagamento, na medida em que seu criador não promete
efetuar pessoalmente o pagamento, mas promete que terceiro irá efetuar esse pagamento.
Esse terceiro deverá ser um banco, no qual o criador do cheque deverá ter fundos
disponíveis. À luz desses fundos, o banco efetuará o pagamento das ordens que lhe forem
sendo apresentadas, vale dizer, o cheque se tornará exigível sempre no momento em que
for apresentado ao sacado (vencimento sempre à vista).” (TOMAZETTE, Marlon. Curso de
Direito Empresarial. Vol. 2. São Paulo: Atlas, 2011, p. 218).

Personagens
a) Emitente (sacador): aquele que dá a ordem de pagamento;
b) Sacado: aquele que recebe a ordem de pagamento (o banco);
13

c) Beneficiário (tomador, portador): é o favorecido da ordem de pagamento, ou seja, aquele


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que tem o direito de receber o valor escrito no cheque.

INFORMATIVO esquematizado
Natureza jurídica
Para a doutrina majoritária, trata-se de um título de crédito.

Legislação aplicável
O cheque é regido atualmente pela Lei n.º 7.357/85.

O que é o chamado “prazo de apresentação do cheque”?


É o prazo de que dispõe o portador do cheque para apresentá-lo ao banco sacado, a fim de
receber o valor determinado na cártula.
Ex: João passa um cheque de 2 mil reais para Eduardo. O prazo de apresentação é o tempo
que Eduardo tem para levar o cheque ao banco e receber o valor.
O prazo de apresentação começa a ser contado da data da emissão do cheque.

De quanto é o prazo de apresentação?


30 dias 60 dias
Se o cheque é da mesma praça do Se o cheque for de praça diferente
pagamento (município onde foi assinado é (município onde foi assinado é diferente
o município da agência pagadora). do município da agência pagadora).
O prazo será de 30 dias se o local da emissão O prazo será de 60 dias se o local da
do cheque (preenchido pelo emitente) for o emissão do cheque (preenchido pelo
mesmo lugar do pagamento (local da agência emitente) for diferente do lugar do
pagadora impressa no cheque). Nesse caso, pagamento (local da agência pagadora
diz-se que o cheque é da mesma praça impressa no cheque). Nesse caso, diz-se
(mesmo município). que o cheque é de outra praça.
Ex: em um cheque de uma agência de São Ex: em um cheque de uma agência de São
Paulo (SP), o emitente datou e assinou São Paulo (SP), o emitente datou e assinou
Paulo (SP) como local da emissão. Manaus (AM) como local da emissão.

Se o beneficiário apresenta o cheque ao banco mesmo após esse prazo, haverá pagamento?
SIM, mesmo após o fim do prazo de apresentação, o cheque pode ser apresentado para
pagamento ao sacado, desde que não esteja prescrito.

Então para que serve esse prazo de apresentação?


A doutrina aponta três finalidades:
1) O fim do prazo de apresentação é o termo inicial do prazo prescricional da execução do
cheque.
2) Só é possível executar o endossante do cheque se ele foi apresentado para pagamento
dentro do prazo legal. Se ele foi apresentado após o prazo, o beneficiário perde o
direito de executar os codevedores. Poderá continuar executando o emitente do
cheque e seus avalistas.
Súmula 600-STF: Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda que não
apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária.
3) O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil ou não comprovar a recusa de
pagamento perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos
disponíveis durante o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que
não lhe seja imputável (art. 47, § 3º, da Lei n. 7.357/85).

Qual é o prazo prescricional para a execução do cheque?


14

6 meses, contados do fim do prazo de apresentação do cheque.


Atente-se que o prazo prescricional somente se inicia quando termina o prazo de
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apresentação, e não da sua efetiva apresentação ao banco sacado.

INFORMATIVO esquematizado
Cheque “pré-datado” (ou “pós-datado”)
Vimos acima que o cheque é uma ordem de pagamento à vista. Isso está, inclusive, previsto
na própria Lei do Cheque (Lei n.º 7.357/85):
Art. 32. O cheque é pagável à vista. Considera-se não-escrita qualquer menção em contrário.

Ocorre que há muitos anos, adotou-se outra prática, qual seja, a de se colocar uma data
futura no cheque, com o objetivo de proporcionar que o emitente tenha um prazo maior
para pagamento. Ex: no dia 16/05, Maria queria fazer uma escova no salão de cabeleireiro.
Ocorre que ainda não havia recebido seu salário. Por isso, combinou com a dona do salão
de “passar” um cheque com data de 04/06, momento no qual a sua remuneração já teria
sido depositada.

Essa prática ganhou o nome de cheque “pré-datado”. A maioria da doutrina, contudo,


prefere utilizar a nomenclatura cheque “pós-datado”. Pode-se utilizar as expressões
indistintamente.

O cheque “pós-datado” pode ser conceituado como um cheque no qual emitente e


beneficiário combinaram que seria colocado um dia futuro na cártula, a fim de que a
apresentação do título somente ocorresse a partir daquela data.

Existem duas formas de se emitir um cheque pós-datado (pré-datado):


a) Preencher o cheque, no campo reservado para o dia de emissão, com uma data futura.
Ex: Maria emitiu o cheque no dia 16/05, mas preencheu o cheque com a data de 04/06.
b) Preencher o cheque, no campo reservado para o dia de emissão, com a data atual. No
entanto, escrever no verso da cártula, um aviso de que o cheque somente deverá ser
descontado em uma data futura. Ex: Maria emitiu o cheque no dia 16/05, mas no verso
do cheque escreveu o seguinte: “bom para o dia 04/06”.

O cheque pós-datado continua sendo uma ordem de pagamento à vista? Se o beneficiário


apresentar o cheque pré-datado antes da data nele escrita, o banco deverá pagá-lo?
SIM. O cheque pré-datado é um acordo entre o emitente e o beneficiário. No entanto, esse
ajuste só vale entre as partes, não produzindo efeitos perante a instituição financeira. Logo,
o cheque (mesmo sendo pré-datado) será pago no dia em que for apresentado ao banco
mesmo que antes da data combinada.
Isso ocorre porque a data futura no cheque é considerada pelo art. 32 da Lei como não-
escrita (inexistente). Assim, é comum os doutrinadores dizerem que, para efeitos de direito
cambiário, a pós-datação não existe (não altera as características e efeitos do cheque).

Se o banco pagar um cheque pós-datado antes da data prevista na cártula, pratica algum
ato ilícito?
NÃO. Ao contrário, como o cheque é, por força de lei, uma ordem de pagamento à vista, o
banco é obrigado, em regra, a pagá-lo.

O beneficiário que apresenta no banco o cheque pós-datado antes da data nele prevista,
pratica algum ato ilícito?
SIM. Como já explicado, o cheque pós-datado é um ajuste de vontades, um acordo entre
emitente e tomador. Logo, o beneficiário, ao descumprir esse pacto, pratica um ilícito
15

contratual, podendo, portanto, ser condenado a indenizar o sacador por danos morais e
materiais. Esse é o entendimento do STJ:
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Súmula 370-STJ: Caracteriza dano moral a apresentação antecipada do cheque pré-datado.

INFORMATIVO esquematizado
O cheque pós-datado amplia o prazo de apresentação? Ex: o cheque foi emitido dia 01/07,
mas ficou combinado que ele só seria apresentado dia 01/09. Em suma, no caso de cheque
pós-datado (pré-datado), a partir de quando é contado o prazo de apresentação?
NÃO. A pós-datação do cheque não modifica o prazo de apresentação nem o prazo de
prescrição do título.
Assim, mesmo em caso de cheque pós-datado, o prazo para apresentação deve ser contado
a partir da data da emissão, não importando o dia futuro combinado com o beneficiário.

A 2ª Seção do STJ pacificou o tema nos seguintes termos:


(...) Ainda que a emissão de cheques pós-datados seja prática costumeira, não encontra
previsão legal. Admitir-se que do acordo extracartular decorra a dilação do prazo
prescricional, importaria na alteração da natureza do cheque como ordem de pagamento à
vista e na infringência do art. 192 do CC, além de violação dos princípios da literalidade e
abstração. Precedentes.
O termo inicial de contagem do prazo prescricional da ação de execução do cheque pelo
beneficiário é de 6 (seis) meses, prevalecendo, para fins de contagem do prazo prescricional
de cheque pós-datado, a data nele regularmente consignada, ou seja, aquela oposta no
espaço reservado para a data de emissão.
(REsp 1068513/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, Segunda Seção, julgado em 14/09/2011)

Vale ressaltar, mais uma vez, que a pós-datação do cheque não interfere nem no prazo de
apresentação nem no prazo prescricional. Como explica André Luiz Santa Cruz:
“(...) em caso de cheque ‘pré-datado’ apresentado ao banco sacado precipitadamente,
deve-se proceder da seguinte maneira: considera-se iniciado o prazo de apresentação não a
partir da data constante do cheque – que, com certeza, designou uma data futura que foi
desrespeitada pelo tomador –, mas a partir da data em que o título foi efetivamente levado
ao banco para desconto; a partir desse dia, pois, contam-se 30 ou 60 dias, respectivamente,
conforme o cheque fosse da mesma praça ou de praças diferentes. Passados esses 30 ou 60
dias, inicia-se o prazo prescricional de 6 meses.” (Direito Empresarial esquematizado. 2ª ed.,
São Paulo: Método, 2012, p. 466).
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.124.709-TO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/6/2013.

É possível o protesto de cheque por endossatário terceiro de boa-fé mesmo que ele tenha sido
sustado pelo emitente

É possível o protesto de cheque, por endossatário terceiro de boa-fé, após o decurso do prazo
de apresentação, mas antes da expiração do prazo para ação cambial de execução, ainda que,
em momento anterior, o título tenha sido sustado pelo emitente em razão do inadimplemento
do negócio jurídico subjacente à emissão da cártula.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
Maria contratou João para fazer os móveis de sua casa.
Ficou combinado que Maria iria pagar 10 mil reais em 5 cheques pré-datados de 2 mil reais,
que deveriam ser descontados um em cada mês.
João não entregou os móveis e sumiu, razão pela qual Maria determinou ao banco a
sustação dos cheques (art. 36 da Lei n. 7.357/85).
Ocorre que, posteriormente, Maria foi surpreendida com o aviso de que os cheques que ela
16

tinha sustado foram levados a protesto por Pedro.


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Pedro adquiriu, de boa-fé, os cheques de João por meio de endosso e, quando foi cobrá-los,
não conseguiu recebê-los, razão pela qual os levou a protesto.

INFORMATIVO esquematizado
Pedro poderia ter levado os cheques a protesto?
SIM. O STJ decidiu que é possível o protesto de cheque, por endossatário terceiro de boa-fé,
após o decurso do prazo de apresentação, mas antes da expiração do prazo para ação
cambial de execução, ainda que, em momento anterior, o título tenha sido sustado pelo
emitente em razão do inadimplemento do negócio jurídico subjacente à emissão da cártula.

O cheque é um título de crédito. Logo, submete-se aos princípios da literalidade, da


abstração, da autonomia das obrigações cambiais e da inoponibilidade das exceções
pessoais a terceiros de boa-fé.

a) Literalidade: os direitos resultantes do título são válidos pelo que nele se contém,
mostrando-se ineficazes, do ponto de vista cambiário, escritos (como a quitação, o aval
e o endosso) que não estejam na própria cártula. Existe uma frase que espelha este
princípio: “O que não está escrito no título não existe no mundo cambiário”.

b) Autonomia: o possuidor de boa-fé exercita um direito próprio, que não pode ser
atrapalhado por conta de relações jurídicas anteriores entre o devedor e antigos
possuidores do título. Assim, o possuidor de boa-fé do título de crédito não tem nada a
ver com o fato de o título ter vícios ou defeitos anteriores. Se ele é o atual possuidor e
está de boa-fé, tem direito ao crédito (obs: existem algumas exceções ao princípio da
autonomia, que não interessam no momento).

c) Abstração: os títulos de crédito, quando circulam, ficam desvinculados da relação que lhe
deu origem. Ex: João comprou um notebook de Ricardo, entregando-lhe uma nota
promissória. Ricardo endossou a nota promissória para Rui. Ricardo acabou nunca levando
o computador para João. Rui (que estava de boa-fé) poderá cobrar de João o crédito
constante da nota promissória e o fato do contrato não ter sido cumprido não poderá ser
invocado para evitar que João pague o débito. Isso porque, como o título circulou, ele já não
tem mais nenhuma vinculação com o negócio jurídico que lhe deu origem.

Os princípios acima elencados têm por objetivo conferir segurança jurídica ao tráfego
comercial e à circulação do crédito. Se a pessoa que recebeu um título de crédito
(aparentemente válido) pudesse ficar sem o dinheiro por força de vícios anteriores ou por
conta de uma quitação que não consta na cártula, isso geraria um enorme risco ao
portador, o que desestimularia as pessoas a aceitarem títulos de crédito.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.124.709-TO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/6/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Juiz não pode negar AJG com base apenas no valor do salário do requerente

O julgador não pode estipular, como único critério para a concessão de assistência judiciária
gratuita, o recebimento de rendimentos líquidos em valor inferior a 10 salários mínimos, sem
considerar, antes do deferimento do benefício, provas que demonstrem a capacidade
financeira do requerente para arcar com as despesas do processo e com os honorários
advocatícios sem prejuízo próprio ou de sua família.
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Comentários Garantia de assistência jurídica integral e gratuita


A CF/88 prevê a garantia da assistência jurídica integral e gratuita em seu art. 5º, LXXIV: o
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Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência
de recursos.

INFORMATIVO esquematizado
Esse dispositivo constitucional consagra duas garantias:
I – Assistência jurídica integral e gratuita II – Benefício da gratuidade judiciária
(assistência judiciária gratuita – AJG).
Fornecimento pelo Estado de orientação e Isenção das despesas que forem necessárias
defesa jurídica, de forma integral e para que a pessoa necessitada possa
gratuita, a ser prestada pela Defensoria defender seus interesses em um processo
Pública, em todos os graus, dos judicial.
necessitados (art. 134 da CF).
Regulada pela Lei Complementar 80/94. Regulada pela Lei n. 1.060/50.

Lei n. 1.060/50


A Lei n. 1.060/50 estabelece normas para a concessão de assistência judiciária aos
necessitados. É conhecida como Lei de Assistência Judiciária (LAJ).

A pessoa beneficiada pela justiça gratuita está dispensada do pagamento de quais verbas?
Art. 3º A assistência judiciária compreende as seguintes isenções:
I - das taxas judiciárias e dos selos;
II - dos emolumentos e custas devidos aos Juízes, órgãos do Ministério Público e
serventuários da justiça;
III - das despesas com as publicações indispensáveis no jornal encarregado da divulgação
dos atos oficiais;
IV - das indenizações devidas às testemunhas que, quando empregados, receberão do
empregador salário integral, como se em serviço estivessem, ressalvado o direito regressivo
contra o poder público federal, no Distrito Federal e nos Territórios; ou contra o poder
público estadual, nos Estados;
V - dos honorários de advogado e peritos.
VI – das despesas com a realização do exame de código genético – DNA que for requisitado
pela autoridade judiciária nas ações de investigação de paternidade ou maternidade.
VII – dos depósitos previstos em lei para interposição de recurso, ajuizamento de ação e
demais atos processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório.

Obs: a assistência judiciária não abrange a isenção do pagamento de multa por litigância de
má-fé (STJ RMS 15.600-SP).

Quem é considerado necessitado para os fins legais?


É aquele cuja situação econômica não lhe permita pagar as custas do processo e os
honorários de advogado, sem prejuízo do sustento próprio ou da família (art. 2º, parágrafo
único, da LAJ).

Quem está abrangido por ela?


 Pessoas físicas (nacionais ou estrangeiras);
 Pessoas jurídicas.

O que é necessário para que se obtenha?


A parte gozará dos benefícios da assistência judiciária mediante simples afirmação, na
própria petição inicial (se for autora) ou na contestação (se for ré), de que não está em
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condições de pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo


próprio ou de sua família (art. 4º da LAJ).
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INFORMATIVO esquematizado
Se a pessoa física faz essa declaração, há uma presunção relativa de que ela seja necessitada
Presume-se pobre, até prova em contrário, quem afirmar essa condição nos termos da lei,
sob pena de pagamento até o décuplo das custas judiciais (art. 4º, § 1º, da LAJ).
Não é necessário que a pessoa física junte nenhuma prova de que é necessitada, sendo
suficiente essa afirmação.

Mesmo havendo essa presunção, o juiz pode indeferir o pedido?


SIM. Segundo o STJ, a afirmação de hipossuficiência, almejando a obtenção do benefício da
assistência judiciária gratuita, possui presunção legal juris tantum, ou seja, relativa,
podendo o magistrado, com amparo no art. 5º, da Lei n.º 1.050/60, infirmar a
miserabilidade da requerente (AgRg no AREsp 121.135/MS, DJe 27/11/2012).
Esse indeferimento pode ocorrer, inclusive, de ofício, ou seja, sem requerimento da parte
adversa (REsp 1196941/SP, DJe 23/03/2011).

Se o magistrado não estiver convencido da impossibilidade da parte de arcar com as custas


do processo, ele poderá exigir que sejam apresentados documentos?
SIM. O magistrado, antes de deferir o pedido, pode investigar a real situação financeira do
requerente da assistência judiciária gratuita (AgRg no AREsp 181.573/MG, DJe 30/10/2012).
Assim, o juízo, para perquirir sobre as reais condições econômico-financeiras do
requerente, poderá solicitar que este comprove nos autos que não pode arcar com as
despesas processuais e com os honorários de sucumbência (REsp 1196941/SP, DJe
23/03/2011).

Para indeferir esse benefício, o juiz poderá criar critérios próprios, como, por exemplo, negar
a gratuidade para todas as pessoas que ganhem acima de determinado valor?
NÃO. Há violação dos arts. 2º e 4º da Lei n. 1.060/50, quando os critérios utilizados pelo
magistrado para deferir o benefício da assistência judiciária revestem-se de caráter
subjetivo, ou seja, criados pelo próprio julgador, tal como ocorreu no caso dos autos
(remuneração líquida inferior a dez salários mínimos), e pelos quais não se consegue inferir
se o pagamento pelo jurisdicionado das despesas com o processo e dos honorários irá ou
não prejudicar o seu sustento e o de sua família.
Nesse contexto, para a concessão da assistência judiciária gratuita, deve ser considerado o
binômio possibilidade-necessidade, com o fim de verificar se as condições econômicas-
financeiras do requerente permitem ou não que este arque com os dispêndios judiciais,
bem como para evitar que aquele que possui recursos venha a ser beneficiado,
desnaturando o instituto (AgRg no AREsp 239.341-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado
em 27/8/2013).
Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 239.341-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 27/8/2013.

Termo inicial dos juros e correção monetária no caso de condenação da Fazenda Pública
Caso a Fazenda Pública seja condenada a pagar verba ilíquida de natureza administrativa
(diferenças remuneratórias) a determinado servidor público, a partir de que momento inicia-se
a contagem da correção monetária e dos juros moratórios?
ATENÇÃO
a) Juros moratórios: desde a citação (art. 219 do CPC; art. 405 do CC);

b) Correção monetária: desde a data do efetivo prejuízo (súmula 43 do STJ), ou seja, dia em que
19

deveria ter sido realizado o pagamento e não foi.


Comentários O tema que será explicado a seguir é muito difícil e ainda poderá ser modificado pelo STF. O
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caminho mais seguro, por enquanto, é adotar a posição que será analisada. Se houver
alteração no entendimento, você será avisado.
INFORMATIVO esquematizado
EC 62/2009
A EC 62/2009 alterou o art. 100 da CF/88 e o art. 97 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias (ADCT) da CF/88 prevendo inúmeras mudanças no regime dos precatórios.
As modificações impostas pela EC 62/2009 dificultaram o recebimento dos precatórios
pelos credores e tornaram ainda mais vantajosa a situação da Fazenda Pública. Por esta
razão, a alteração ficou conhecida, jocosamente, como “Emenda do Calote”.

ADI
Foram propostas quatro ações diretas de inconstitucionalidade contra essa previsão (ADIs
4357/DF, 4425/DF, 4400/DF e 4372/DF), tendo elas sido julgadas parcialmente procedentes.

§ 12 do art. 100 da CF/88


O § 12 do art. 100 da CF/88 foi inserido pela referida EC 62/2009, tendo sido também
questionado nas ações propostas e declarado parcialmente inconstitucional, conforme será
demostrado a seguir.

Qual é a redação do § 12 do art. 100 da CF/88?


§ 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização (= correção
monetária) de valores de requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento,
independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial de remuneração básica
da caderneta de poupança, e, para fins de compensação da mora (= juros de mora),
incidirão juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de
poupança, ficando excluída a incidência de juros compensatórios. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 62/09)

Não se espante. A redação é confusa mesmo. Vamos com calma.

Sobre o que esse § 12 está tratando?


Entre o dia em que o precatório é expedido e a data em que ele é efetivamente pago, são
passados alguns anos. Durante este período, obviamente, se a quantia devida não for
atualizada, haverá uma desvalorização do valor real do crédito em virtude da inflação. Com
o objetivo de evitar essa perda, a Constituição determina que o valor do precatório deve ser
atualizado monetariamente quando for pago.
O § 12 acima transcrito estabelecia a forma de cálculo da correção monetária e dos juros de
mora no caso de atraso no pagamento do precatório. Dissemos “estabelecia” (no passado)
porque parte do § 12 foi declarada inconstitucional pelo STF.

Qual é a forma de cálculo prevista no texto do § 12?


O § 12 previa que, para calcular correção monetária e juros de mora, deveriam ser adotados
os seguintes parâmetros:
 correção monetária: índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança;
 juros de mora: juros simples no mesmo percentual que é pago na poupança.

Assim, de acordo com o texto do § 12, quando a Fazenda Pública estivesse em débito
(atraso), a correção monetária e os juros de mora deveriam adotar os índices e percentuais
aplicáveis às cadernetas de poupança.
20

Essa forma de cálculo seria adotada apenas no caso de atraso de precatórios?


Página

Não. Há uma regra semelhante prevista no art. 1ºF da Lei n. 9.494/97. Veja:
Art. 1º-F. Nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua

INFORMATIVO esquematizado
natureza e para fins de atualização monetária, remuneração do capital e compensação da
mora, haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de
remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança. (Redação dada pela Lei nº
11.960/2009)

Desse modo, o art. 1º F da Lei n. 9.494/97 (redação dada pela Lei n. 11.960/2009), afirma
que, em qualquer condenação imposta à Fazenda Pública, a correção monetária e os juros
de mora seriam iguais aos da poupança.

O que o STF decidiu sobre o § 12 do art. 100 da CF/88?

“índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança”


O STF declarou a inconstitucionalidade da expressão “índice oficial de remuneração básica
da caderneta de poupança”, constante do § 12 do art. 100 da CF.

Por quê?
Para os Ministros, o índice oficial da poupança não consegue evitar a perda de poder
aquisitivo da moeda.
Esse índice é fixado ex ante, ou seja, previamente, a partir de critérios técnicos não
relacionados com a inflação considerada no período. Todo índice definido ex ante é incapaz
de refletir a real flutuação de preços apurada no período em referência.
Dessa maneira, como este índice (da poupança) não consegue manter o valor real da
condenação, ele afronta à garantia da coisa julgada, tendo em vista que o valor real do
crédito previsto na condenação judicial não será o valor que o credor irá receber
efetivamente quando o precatório for pago (este valor terá sido corroído pela inflação).
A finalidade da correção monetária consiste em deixar a parte na mesma situação
econômica que se encontrava antes. Nesse sentido, o direito à correção monetária é um
reflexo imediato da proteção da propriedade.
Vale ressaltar, ainda, que o Poder Público tem seus créditos corrigidos pela taxa SELIC, cujo
valor supera, em muito, o rendimento da poupança, o que reforça o argumento de que a
previsão do § 12 viola também a isonomia.
Em suma, a taxa básica de remuneração da poupança não mede, de forma adequada, a
inflação acumulada do período e, portanto, não pode servir de parâmetro para a correção
monetária.

“independentemente de sua natureza”


O STF também declarou a inconstitucionalidade da expressão “independentemente de sua
natureza”, presente no § 12 do art. 100 da CF, com o objetivo de deixar claro que, para os
precatórios de natureza tributária se aplicam os mesmos juros de mora incidentes sobre o
crédito tributário.
Assim, para o STF, aos precatórios de natureza tributária devem ser aplicados os mesmos
juros de mora que incidem sobre todo e qualquer crédito tributário.
Em suma, em ações de indébito tributário, a Fazenda Pública deverá pagar suas dívidas
segundo o mesmo índice de juros que utiliza para receber os créditos tributários
(atualmente, a SELIC). Isso se justifica em razão do princípio da equidade (isonomia).

O que aconteceu com o art. 1º F da Lei n. 9.494/97?


21

Como vimos acima, o art. 1º-F. da Lei n. 9.494/97, com redação dada pelo art. 5º da Lei n.
11.960/2009, também prevê que, nas condenações impostas à Fazenda Pública, os índices a
Página

serem aplicados são os da caderneta de poupança.

INFORMATIVO esquematizado
Logo, com a declaração de inconstitucionalidade do § 12 do art. 100 da CF, o STF também
declarou inconstitucional, por arrastamento (ou seja, por consequência lógica), o art. 5º da
Lei n. 11.960/2009, que deu a redação ao art. 1º-F. da Lei n. 9.494/97.

Interpretação dada pelo STJ à decisão do STF sobre o art. 1ºF da Lei n. 9.494/97:
A partir da decisão do STF, surgiram algumas dúvidas que não foram respondidas de forma
explícita pelo acórdão.
A principal polêmica surgida é a seguinte: quais os parâmetros de correção monetária e
juros moratórios que deverão ser agora adotados em caso de condenação da Fazenda
Pública?

O STF ainda não enfrentou esse questionamento. No entanto, a 1ª Seção do STJ já foi
chamada a se manifestar e assim interpretou a decisão do STF:

1) Correção monetária: IPCA


Quando a Fazenda Pública for condenada, ela deverá pagar suas dívidas utilizando, como
correção monetária, índices que reflitam a inflação acumulada do período.
Logo, não poderão ser utilizados os índices de remuneração básica da caderneta de
poupança porque estes não conseguem evitar a perda de poder aquisitivo da moeda.
O STF julgou que seria inconstitucional utilizar o índice da poupança para a correção
monetária das condenações da Fazenda Pública. No entanto, na decisão, não foi dito, de
forma expressa, qual deveria ser o índice utilizado no lugar. Diante dessa lacuna, o STJ
entendeu que deve ser aplicado o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que é
divulgado pelo IBGE.
Dessa forma, segundo o STJ, nas condenações impostas à Fazenda Pública, para fins de
atualização monetária (correção monetária), deverá ser utilizado o IPCA.

2) Juros moratórios de débitos não-tributários: POUPANÇA


Os juros moratórios serão equivalentes aos índices oficiais de remuneração básica e juros
aplicáveis à caderneta de poupança.
Atenção: o art. 1ºF da Lei n. 9.494/97 não foi declarado inconstitucional quanto a esse
aspecto. Assim, no caso de juros moratórios quanto a débitos não-tributários da Fazenda
Pública, continua sendo aplicado o art. 1ºF. Veja as palavras do Min. Castro Meira:
“A declaração de inconstitucionalidade parcial por arrastamento do art. 5º da Lei 11.960/09
impôs um desmembramento entre os juros de mora (que continuaram regidos pela regra do
art. 1º-F da Lei 9.494/97) e a correção monetária (que passou a ser calculada pelo IPCA)”
(REsp 1.356.120-RS).

É o que acontece, por exemplo, quando a Fazenda Pública é condenada a pagar benefícios
previdenciários ou verbas a servidores públicos. Em tais situações, os juros moratórios serão
os da poupança.

3) Juros moratórios de débitos tributários: SELIC


Se a Fazenda Pública possui um débito de natureza tributária, deverá ser aplicado o mesmo
índice de juros de mora que incide quando o Poder Público cobra seus créditos tributários.
Desse modo, em ações de indébito tributário, quando a Fazenda Pública for condenada,
deverá pagar suas dívidas segundo o mesmo índice de juros que utiliza para receber os
créditos tributários. Atualmente, esse índice é a SELIC.
22

O entendimento acima exposto foi decidido pela 1ª Seção do STJ no julgamento do REsp
Página

1270439/PR, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 26/06/2013). Vale ressaltar que o STJ

INFORMATIVO esquematizado
tomou essa decisão no regime de recurso repetitivo e que esse aspecto do julgado não foi
divulgado em nenhum informativo. Muita atenção com o tema!
Termo Caso a Fazenda Pública seja condenada a pagar verba ilíquida de natureza administrativa
inicial (diferenças remuneratórias) a determinado servidor público, a partir de que momento inicia-
se a contagem da correção monetária e dos juros moratórios?
a) Juros moratórios: desde a citação (art. 219 do CPC; art. 405 do CC);
b) Correção monetária: desde a data do efetivo prejuízo (súmula 43 do STJ), ou seja, dia
em que teria que ter sido realizado o pagamento e não foi.
Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.356.120-RS, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 14/8/2013.

No reexame necessário, o Tribunal não pode modificar a sentença para conceder benefício mais
vantajoso ao segurado (Súmula 45-STJ)

O Tribunal, ao julgar remessa necessária, não poderá conceder benefício previdenciário mais
vantajoso ao segurado do que aquele que foi conferido pela sentença. Ex: sentença julgou
procedente o auxílio-doença; Tribunal não pode conceder aposentadoria por invalidez.
Aplica-se, no caso, a súmula 45 do STJ: No reexame necessário, é defeso, ao Tribunal, agravar a
condenação imposta à Fazenda Pública.
Comentários Situação 1
João ajuíza uma ação contra o INSS pedindo a concessão de seu auxílio-doença, alegando
que possui uma incapacidade total, mas temporária, para o exercício de suas funções.
Durante a instrução, a perícia conclui que o segurado possui uma incapacidade total e
permanente. Logo, João não faz jus ao auxílio-doença e sim à aposentadoria por invalidez
(esta última, benefício que ele não pediu, nem mesmo subsidiariamente). Vale ressaltar que
a aposentadoria é mais vantajosa ao segurado do que o auxílio-doença.

Diante disso, o juiz poderá conceder a aposentadoria por invalidez, mesmo que o autor, na
petição inicial, tenha requerido somente o auxílio-doença?
SIM. Segundo entende o STJ, o juiz pode conceder ao autor benefício previdenciário diverso
do requerido na inicial, desde que preenchidos os requisitos legais atinentes ao benefício
concedido. Isso porque, tratando-se de matéria previdenciária, deve-se proceder, de forma
menos rígida, à análise do pedido. Assim, nesse contexto, a decisão proferida não pode ser
considerada como extra petita ou ultra petita (2ª Turma. AgRg no REsp 1.367.825-RS, Rel.
Min. Humberto Martins, julgado em 18/4/2013).

Situação 2
João ajuíza uma ação contra o INSS pedindo a concessão de seu auxílio-doença, alegando
que possui uma incapacidade total, mas temporária, para o exercício de suas funções.
Durante a instrução, a perícia conclui que o segurado possui uma incapacidade total e
permanente. Logo, João não faz jus ao auxílio-doença e sim à aposentadoria por invalidez
(esta última, benefício que ele não pediu, nem mesmo subsidiariamente).

Na sentença (que tramitou sob o procedimento ordinário – não era JEF), o juiz concede o
auxílio-doença (requerido pelo autor) e nada fala sobre a aposentadoria por invalidez.
Nem João nem o INSS recorrem contra a decisão.

Ocorre que a presente sentença estava sujeita a reexame necessário, nos termos do art.
23

475, I, do CPC:
Página

Art. 475. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de
confirmada pelo tribunal, a sentença:

INFORMATIVO esquematizado
I – proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município, e as respectivas
autarquias e fundações de direito público;

Logo, o juiz, mesmo sem recurso das partes, remeteu o processo ao TRF para que a
sentença fosse examinada pelo Tribunal em remessa necessária.

O Tribunal, ao julgar o reexame necessário, verificando que o segurado tinha direito à


aposentadoria por invalidez (e não auxílio-doença), poderá conceder a aposentadoria?
NÃO. Segundo decidiu o STJ, o Tribunal, em remessa necessária, inexistindo recurso do
segurado, não pode determinar a concessão de benefício previdenciário que entenda mais
vantajoso ao segurado.

O STJ reafirmou que o juiz pode conceder ao autor benefício previdenciário diverso do
requerido na petição inicial, desde que preenchidos os requisitos legais atinentes ao
benefício concedido, sem que isso configure julgamento extra petita ou ultra petita. Esse
entendimento, ressalte-se, leva em consideração os fins sociais das normas previdenciárias,
bem como a hipossuficiência do segurado.

Contudo, a referida possibilidade não se estende à hipótese de julgamento da remessa


necessária (art. 475 do CPC), tendo em vista sua específica devolutividade, restrita à
confirmação da sentença e à consequente promoção da maior segurança possível para a
Fazenda Pública, evitando-se que esta seja indevidamente condenada.

Em outras palavras, a remessa necessária existe para garantir a maior segurança possível à
Fazenda Pública, livrando-a de condenação indevida. Portanto, o reexame obrigatório tem
por finalidade proteger a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município, e as respectivas
autarquias e fundações de direito público contra eventual desacerto da sentença avessa a
seus interesses. Logo, não é possível, no reexame necessário, piorar a situação da Fazenda
Pública.

Assim, a concessão de benefício mais vantajoso ao beneficiário no julgamento de remessa


necessária importaria verdadeira reformatio in pejus¸ situação que não é admitida pela
jurisprudência, conforme exposto na Súmula 45 do STJ:
Súmula 45 do STJ: No reexame necessário, é defeso, ao Tribunal, agravar a condenação
imposta à Fazenda Pública.

Processo STJ. 1ª Turma. REsp 1.379.494-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 13/8/2013.

Art. 515, § 3º do CPC: pode ser aplicado se a questão for de direito e de fato, mas não houver
necessidade de se produzirem provas
O § 3º do art. 515 do CPC prevê a chamada “teoria da causa madura”, nos seguintes termos:
§ 3º Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode
julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em
condições de imediato julgamento.

A redação literal do § 3º exige que a causa verse sobre questão exclusivamente de direito. No
24

entanto, o STJ amplia esta possibilidade e afirma que o mencionado dispositivo deve ser
interpretado em conjunto com o art. 330, I, o qual permite ao magistrado julgar
Página

antecipadamente a lide se esta versar unicamente sobre questões de direito ou, “sendo de
direito e de fato, não houver necessidade de produzir prova em audiência”.
INFORMATIVO esquematizado
Logo, no exame de apelação interposta contra sentença que tenha julgado o processo sem
resolução de mérito, o Tribunal pode julgar desde logo a lide, mediante a aplicação do
procedimento previsto no art. 515, § 3º, do CPC, na hipótese em que não houver necessidade de
produção de provas (causa madura), ainda que, para a análise do recurso, seja inevitável a
apreciação do acervo probatório contido nos autos.
Comentários O § 3º do art. 515 do CPC estabelece o seguinte:
§ 3º Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal
pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver
em condições de imediato julgamento.

Esse dispositivo permite que o TJ ou o TRF, ao julgar a apelação interposta contra sentença
terminativa, julgue ele próprio (o Tribunal) o mérito da ação caso entenda que o juiz não
deveria ter extinguido o processo sem resolução do mérito.

Ex: “A” ajuíza uma ação contra “B” e o magistrado profere sentença extinguindo o processo
sem resolução do mérito, por entender que o autor seria parte ilegítima (art. 267, VI, do
CPC). “A” interpõe apelação ao TJ. O Tribunal analisa o recurso e entende que “A” é sim
parte legítima, ou seja, não havia razão jurídica para o magistrado ter extinguido o processo
sem examinar o mérito. Ao invés de mandar o processo de volta à 1ª instância para analisar
o mérito, o próprio TJ poderá julgar o mérito da demanda. Para isso, no entanto, o § 3º do
art. 515 afirma que a causa tem que versar exclusivamente sobre matéria de direito e deve
estar em condições de imediato julgamento.

O § 3º do art. 515 é denominado por alguns doutrinadores e julgados de “teoria da causa


madura”.

Requisitos para aplicação do § 3º do art. 515:

Em regra, para que seja aplicado o § 3º do art. 515, a


sentença examinada pelo Tribunal deve ter sido
terminativa, ou seja, fundada em um dos incisos do
a) O juiz deve ter extinguido o art. 267 do CPC.
processo sem julgamento do Vale ressaltar, no entanto, que se a apelação for
mérito, nos termos do art. interposta contra sentença que reconheceu a
267 do CPC (exceção no caso prescrição ou a decadência, caso o Tribunal discorde
de prescrição e decadência). do juiz, também será possível aplicar a teoria da
causa madura mesmo se tratando de matérias
elencadas no inciso IV do art. 269 do CPC (neste
sentido: REsp 274.736/DF).
O § 3º está ligado ao art. 515, que trata sobre a
apelação. Por conta disso, o entendimento majoritário
no STJ e STF é o de que a teoria da causa madura
somente se aplica quando o Tribunal estiver julgando
uma apelação.
b) A parte deve ter interposto
Assim, por exemplo, para a maioria dos julgados do STJ
recurso de apelação.
e STF, o § 3º do art. 515 NÃO pode ser adotado pelo
Tribunal no julgamento de recurso ordinário contra
25

sentença em mandado de segurança (posição a ser


adotada nos concursos).
Página

INFORMATIVO esquematizado
Vale mencionar que o tema é polêmico e que a doutrina
critica esta posição, afirmando que a regra deste § 3º
pode ser aplicada, por analogia, a outros recursos, como
é o caso do recurso ordinário (há decisões da 1ª Turma
do STJ neste sentido).
Cuidado: a redação literal do § 3º exige que a causa
verse sobre questão exclusivamente de direito. No
entanto, o STJ amplia essa possibilidade e afirma que o
mencionado dispositivo deve ser interpretado em
conjunto com o art. 330, I, o qual permite ao magistrado
julgar antecipadamente a lide se esta versar unicamente
sobre questões de direito ou, "sendo de direito e de fato,
não houver necessidade de produzir prova em
audiência". Veja:
c) A causa em análise deve
“A regra do art. 515, § 3º, do CPC deve ser interpretada
tratar sobre questão
em consonância com a preconizada pelo art. 330, I, do
exclusivamente de direito
CPC, razão pela qual, ainda que a questão seja de direito
(poderá também ser aplicada
e de fato, não havendo necessidade de produzir prova
se a questão for de direito e
(causa madura), poderá o Tribunal julgar desde logo a
de fato, mas não houver
lide, no exame da apelação interposta contra a sentença
necessidade de se
que julgara extinto o processo sem resolução de
produzirem provas).
mérito.” (EREsp 874.507/SC, Rel. Min. Arnaldo Esteves
Lima, Corte Especial, julgado em 19/06/2013)

Para o STJ, configura questão de direito (e não de fato),


aquela em que o Tribunal analisa as provas
incontroversas existentes nos autos e de lá extrai o
direito aplicável, caso em que não há óbice para que
incida a regra do art. 515, § 3º, porquanto discute, em
última análise, a qualificação jurídica dos fatos ou suas
consequências legais (Min. Arnaldo Esteves Lima).
A causa deve estar madura, ou seja, pronta para
d) A causa deve estar em julgamento imediato, sem que o Tribunal precise tomar
condições de imediato qualquer outra providência. Se ainda for necessária
julgamento. qualquer outra providência por parte do Tribunal, não se
aplica o § 3º do art. 515 do CPC.

Para que se aplique o § 3º do art. 515, é necessário que a parte recorrente tenha requerido
expressamente essa providência quando interpôs o recurso ou o Tribunal poderá aplicar a
teoria da causa madura de ofício?
A regra prevista no § 3º do art. 515 do CPC pode ser aplicada de ofício pelo Tribunal, ou
seja, mesmo que o recorrente não tenha requerido essa providência em seu recurso.
Assim, conforme a jurisprudência do STJ, ainda que não exista pedido expresso da parte
recorrente, afastada a extinção do processo sem exame do mérito, pode o Tribunal, de
imediato, julgar o feito, aplicando-se a teoria da causa madura, nos termos do art. 515, § 3º,
do CPC (AgRg no AREsp 93.707/SP, Min. Sidnei Beneti, 3ª Turma, julgado em 05/02/2013).
Processo STJ. Corte Especial. EREsp 874.507-SC, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 19/6/2013.
26
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INFORMATIVO esquematizado
Não cabe a sucessão de partes em processo de MS

No mandado de segurança, se o impetrante morre, os seus herdeiros não podem se habilitar


para continuar o processo. Assim, falecendo o impetrante, o mandado de segurança será
extinto sem resolução do mérito, ainda que já esteja em fase de recurso. Isso ocorre em razão
do caráter mandamental e da natureza personalíssima do MS.
Comentários Em regra, quando o autor da ação morre no curso do processo, deverá ser analisado o seguinte:
a) Se o direito pleiteado na ação for transmissível: deverá ser determinada a suspensão do
processo (art. 265, I, do CPC) para que se realize a substituição do autor falecido por seu
espólio ou pelos seus sucessores mediante o procedimento de habilitação (art. 1.055);
b) Se o direito pleiteado na ação for personalíssimo (intransmissível): haverá a extinção do
processo sem resolução do mérito (art. 267, IX).

No caso do mandado de segurança, a jurisprudência pacífica do STF e do STJ entende que o


falecimento do impetrante causa a extinção do MS sem resolução do mérito por ser
intransmissível, salvo se sua morte ocorrer após o trânsito em julgado, quando já iniciada a
execução de algum valor reconhecido na sentença.

Assim, segundo a jurisprudência consolidada, não cabe a habilitação de herdeiros em


mandado de segurança, quando houver falecimento do impetrante. Falecendo o
impetrante, deve o mandado de segurança ser extinto, sem resolução de mérito (art. 267,
IX, do CPC).

Mesmo que o mandado de segurança já tenha sido julgado em outras instâncias e que
esteja apenas aguardando o julgamento de recurso extraordinário, caso o impetrante
morra, o recurso extraordinário não terá seu mérito apreciado e será extinto sem resolução
do mérito.

Vale ressaltar que os herdeiros poderão pleitear o direito que eventualmente possuam por
meio das vias ordinárias, ou seja, mediante o ajuizamento de uma ação ordinária. O que
não podem é continuar o mandado de segurança impetrado pelo falecido.

Essa é também a posição do STJ:


1. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, na esteira de precedentes do excelso
Supremo Tribunal Federal, firmou já entendimento no sentido de que, em razão do caráter
mandamental e da natureza personalíssima da ação mandamental, é incabível a sucessão
de partes em processo de mandado de segurança.
2. Recurso especial conhecido e provido, ressalvando-se o direito dos herdeiros do
impetrante de recorrerem às vias ordinárias.
(REsp 112.207/PR, 6.ª Turma, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJ de 05/11/2001.)

Processo STJ. 3ª Seção. EDcl no MS 11.581-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/6/2013.

MP tem legitimidade para ajuizar ACP a fim de garantir acesso a critérios de correção de provas
de concurso público
O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública com o objetivo de
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garantir o acesso a critérios de correção de provas de concurso público.


Comentários O concurso público é o principal instrumento de garantia do sistema de meritocracia na
Página

organização estatal, um dos pilares dorsais do Estado Social de Direito brasileiro,


condensado e concretizado na CF. Suas duas qualidades essenciais – ser concurso, o que
INFORMATIVO esquematizado
implica genuína competição, sem cartas marcadas, e ser público, no duplo sentido de
certame transparente e de controle amplo de sua integridade – fazem com que deva ser
reconhecida a legitimidade ad causam do Ministério Público para atuar.
Processo STJ. 2ª Turma. REsp 1.362.269-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 16/5/2013.

DIREITO PENAL
Apropriação indébita previdenciária dispensa dolo específico (animus rem sibi habendi)
Para a caracterização do crime de apropriação indébita de contribuição previdenciária (art.
168-A do CP), não há necessidade de comprovação de dolo específico.
Trata-se de crime omissivo próprio, que se perfaz com a mera omissão de recolhimento de
contribuição previdenciária no prazo e na forma legais.
Desnecessária, portanto, a demonstração do animus rem sibi habendi, bem como a
comprovação do especial fim de fraudar a Previdência Social.
Comentários
APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA (art. 168-A do Código Penal)

Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos


contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Elemento subjetivo: é o dolo. Não existe forma culposa.

Na apropriação indébita comum (art. 168 do CP), além do dolo, exige-se um elemento
subjetivo especial (“dolo específico”), que consiste na intenção do agente de não mais
devolver a coisa ao seu proprietário.
Assim, na apropriação indébita comum, exige-se “dolo + elemento subjetivo especial”
(intenção de não mais devolver).
No direito, quando alguém age com a intenção de ter a coisa para si, dizemos que essa
pessoa possui animus rem sibi habendi.
Logo, na apropriação indébita comum só existe crime se ficar provado o dolo + animus rem
sibi habendi.

Para que se configure a apropriação indébita previdenciária, exige-se que fique provado que
o sujeito queria ficar com o dinheiro das contribuições previdenciárias para si? Dito de outro
modo, exige-se animus rem sibi habendi? Uma terceira forma de perguntar a mesma coisa,
exige-se “dolo específico” (elemento subjetivo especial)?
NÃO. É pacífico no STF e STJ que, para a caracterização do crime de apropriação indébita de
contribuição previdenciária (art. 168-A do CP), não há necessidade de comprovação do
“dolo específico” de se apropriar de valores destinados à previdência social. Não se exige
animus rem sibi habendi (STJ. 6ª Turma. AgRg no Ag 1.083.417-SP, Rel. Min. Og Fernandes,
julgado em 25/6/2013).
O art. 168-A do CP é um tipo penal congruente, ou seja, que não possui “dolo específico”.

Apropriação indébita COMUM Apropriação indébita PREVIDENCIÁRIA


Dolo + elemento subjetivo especial Basta o dolo “genérico”.
(exige-se animus rem sibi habendi) (não se exige animus rem sibi habendi)
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Para maiores informações sobre esse crime, veja a apostila publicada no site
(http://www.dizerodireito.com.br/2013/10/apropriacao-indebita-previdenciaria.html).
Página

Processo STJ. 3ª Seção. EREsp 1.296.631-RN, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 11/9/2013.

INFORMATIVO esquematizado
Factoring que empresta dinheiro utilizando recursos de terceiros pratica o crime do art. 16 da Lei
n. 7.492/86, de competência da Justiça Federal
Compete à Justiça Federal processar e julgar a conduta daquele que, por meio de pessoa
jurídica instituída para a prestação de serviço de factoring, realiza, sem autorização legal, a
captação, intermediação e aplicação de recursos financeiros de terceiros, sob a promessa de
que estes receberiam, em contrapartida, rendimentos superiores aos aplicados no mercado.
Isso porque a referida conduta se subsume, em princípio, ao tipo do art. 16 da Lei 7.492/1986
(Lei dos Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional), consistente em fazer “operar, sem a
devida autorização, ou com autorização obtida mediante declaração falsa, instituição
financeira, inclusive de distribuição de valores mobiliários ou de câmbio”.
Ademais, nessa hipótese, apesar de o delito haver sido praticado por meio de pessoa jurídica
criada para a realização de atividade de factoring, deve-se considerar ter esta operado como
verdadeira instituição financeira, justificando-se, assim, a fixação da competência na Justiça
Federal.
Comentários CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Sistema Financeiro Nacional


Sistema Financeiro Nacional é o conjunto de órgãos, entidades e empresas que atuam na
regulamentação, controle e fiscalização das atividades relacionadas com a circulação de
moeda e de crédito em nosso país. Divide-se em dois subsistemas:
a) Normativo: formado pelos órgãos e entidades responsáveis pela regulamentação e
fiscalização da circulação de moeda e de crédito. Exs: CMN, BACEN, CVM etc.
b) Operativo: constituído pelas pessoas jurídicas que operacionalizam (executam) a
circulação de moeda e de crédito. É o caso dos bancos, bolsas de valores, seguradoras,
sociedades de capitalização, entidades de previdência complementar etc.

Relevância e previsão constitucional


Ter um Sistema Financeiro sólido, confiável e eficiente é muito importante para o progresso
de um país porque assim estará disponível maior volume de crédito circulando no mercado,
com um custo menor.
Havendo facilidade de acesso às linhas de crédito, os empresários poderão investir em
novos empreendimentos, gerando empregos e riquezas. De igual modo, o mercado
consumidor terá facilidades para aquisição dos bens e serviços, satisfazendo suas
necessidades pessoais e mantendo aquecida a economia.
Ciente dessa relevância, a CF/88 previu, em seu art. 192, que o Sistema Financeiro Nacional
deverá ser “estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a
servir aos interesses da coletividade”.

Lei n. 7.492/86


Diante da relevância já exposta, o legislador entendeu ser necessária a edição de uma lei
específica para punir condutas que atentem contra o bom funcionamento do Sistema
Financeiro Nacional.
Atualmente, os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional são previstos na Lei n.
7.492/86. Vale ressaltar que essa Lei continua em vigor, tendo sido recepcionada pela CF/88
(RHC 84182, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, julgado em 24/08/2004).

Instituição financeira
29

A Lei n. 7.492/86, antes de tratar sobre os crimes, logo em seu art. 1º, define em que
consiste uma instituição financeira para os efeitos penais.
Página

A Lei conceitua, no caput do art. 1º, o que é instituição financeira e também apresenta
entidades que devem ser a ela equiparadas (parágrafo único).

INFORMATIVO esquematizado
Art. 1º Considera-se instituição financeira, para efeito desta lei, a pessoa jurídica de direito
público ou privado, que tenha como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou
não, a captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros de terceiros, em
moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição, negociação,
intermediação ou administração de valores mobiliários.
Parágrafo único. Equipara-se à instituição financeira:
I - a pessoa jurídica que capte ou administre seguros, câmbio, consórcio, capitalização ou
qualquer tipo de poupança, ou recursos de terceiros;
II - a pessoa natural que exerça quaisquer das atividades referidas neste artigo, ainda que
de forma eventual.

INSTITUIÇÃO FINANCEIRA EM SENTIDO PRÓPRIO (ART. 1º, CAPUT)


Instituição financeira é a pessoa jurídica que realize
I – a captação, intermediação ou aplicação II – a custódia, emissão, distribuição,
de recursos financeiros de terceiros. negociação, intermediação ou
administração de valores mobiliários.
Comentários: Comentários:
Essa é a atividade típica dos bancos Valores mobiliários são títulos emitidos por
comerciais. sociedades empresariais e negociadas no
Atenção: os recursos financeiros devem ser mercado de capitais (bolsa de valores ou
de terceiros. Para fins penais, se uma mercado de balcão). Para a sociedade que
determinada pessoa jurídica realiza emite (vende), é uma forma de obter novos
aplicação de recursos financeiros próprios, recursos. Para a pessoa que adquire, trata-
ela não realiza ato típico de instituição se de um investimento. O exemplo mais
financeira. conhecido de valor mobiliário são as ações.
Podemos citar também as debêntures e os
bônus de subscrição.
Exemplos: bancos, cooperativas de crédito, Exemplos: bolsas de valores, sociedades
sociedades de crédito. corretoras de títulos e valores mobiliários.

INSTITUIÇÃO FINANCEIRA POR EQUIPARAÇÃO (ART. 1º, PARÁGRAFO ÚNICO)


Equipara-se à instituição financeira
I - a pessoa jurídica que capte ou II - a pessoa natural que exerça quaisquer
administre seguros, câmbio, consórcio, das atividades próprias de instituição
capitalização ou qualquer tipo de financeira, ainda que de forma eventual.
poupança, ou recursos de terceiros; e
Comentários: Comentários:
Importante gravar as atividades Repare que, para fins de crimes contra o
equiparadas, quais sejam, seguro, câmbio, SFN, a pessoa natural pode ser equiparada
consórcio e capitalização. a uma instituição financeira.
Exemplos: agência de turismo que faz Exemplo: pessoa física que exercia
operações de câmbio, fundos de pensão, atividade de consórcio sem autorização do
empresas de consórcio. BACEN.
30

Factoring
As empresas de factoring são consideradas instituições financeiras?
Página

NÃO. A factoring não faz a captação de dinheiro de terceiros, como acontece com os
bancos. A empresa de factoring utiliza recursos próprios em suas atividades.

INFORMATIVO esquematizado
Logo, a factoring não integra o Sistema Financeiro Nacional nem necessita de autorização
do Banco Central para funcionar. Nesse sentido: CC 98.062/SP, Rel. Min. Jorge Mussi,
Terceira Seção, julgado em 25/08/2010.

Resumo:
I – a captação, intermediação ou aplicação de
Instituição financeira em recursos financeiros de terceiros;
SENTIDO PRÓPRIO
é a pessoa jurídica (de direito privado
ou público) que realiza, como atividade II – a custódia, emissão, distribuição,
principal ou acessória negociação, intermediação ou administração
de valores mobiliários.

I - a pessoa jurídica que capte ou administre


seguros, câmbio, consórcio, capitalização ou
qualquer tipo de poupança, ou recursos de
Instituição financeira
terceiros; e
POR EQUIPARAÇÃO é
II - a pessoa natural que exerça quaisquer das
atividades próprias de instituição financeira,
ainda que de forma eventual.

FAZER OPERAÇÃO INSTITUIÇÃO FINANCEIRA SEM AUTORIZAÇÃO LEGAL (ART. 16)

Vamos estudar agora o art. 16 da Lei n. 7.492/86, que traz o delito de fazer operar
instituição financeira sem a devida autorização ou obtida com declaração falsa.

Art. 16. Fazer operar, sem a devida autorização, ou com autorização obtida mediante
declaração (Vetado) falsa, instituição financeira, inclusive de distribuição de valores
mobiliários ou de câmbio:
Pena - Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Em que consiste o delito


O indivíduo comete esse crime quando faz funcionar uma instituição financeira:
 sem possuir autorização legal; ou
 com uma autorização que ele obteve utilizando-se de documento falso.

Para que uma instituição financeira seja criada e funcione é necessária autorização?
SIM. Uma instituição financeira é uma atividade econômica que, se conduzida de forma
inadequada, pode gerar gravíssimos prejuízos a terceiros e à economia do país. Como
exemplo, basta recordar os inúmeros problemas que ocorreram em razão da liquidação dos
Bancos Econômico, Nacional e Bamerindus, na década de 90. Além disso, se não houver
uma intensa fiscalização, a atividade bancária pode servir como instrumento para a prática
de delitos, como a lavagem de dinheiro e a evasão de divisas.
Por essas razões, a Lei n. 4.595/64 afirma que as instituições financeiras somente poderão
funcionar no País com a prévia autorização do Banco Central. Se forem estrangeiras, será
necessário ainda um decreto do Poder Executivo (art. 18).
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Sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum).
Página

Sujeito passivo: Estado (em sentido amplo).

INFORMATIVO esquematizado
Distribuição de valores mobiliários ou de câmbio:
O art. 16 afirma que também está incluída no conceito de instituição financeira a atividade
de “distribuição de valores mobiliários ou de câmbio”. Essa menção era desnecessária, uma
vez que o inciso I do parágrafo único do art. 1º da Lei já havia feito essa equiparação.

Consórcios: como vimos nos comentários ao parágrafo único do art. 1º da Lei, quem
desempenha a atividade de “consórcio” é equiparado à instituição financeira. Justamente
por isso, o STF entende que a pessoa que faz funcionar consórcio sem autorização legal
pratica o delito do art. 16:
De acordo com os artigos 1º, parágrafo único e inciso I, e 16 da Lei nº 7.492, de 16 de junho
de 1986, consubstanciam crimes contra o Sistema Financeiro Nacional a formação e o
funcionamento de consórcio à margem de balizamento legal, de instrução do Banco Central
do Brasil. (...)
(RHC 84182, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, julgado em 24/08/2004)

Elemento subjetivo: é o dolo, não se exigindo nenhum elemento subjetivo específico.

Consumação: ocorre com a prática de ao menos uma operação própria de instituição


financeira.
Para que se consuma, não é necessária a ocorrência de prejuízo para terceiros.
Trata-se de crime formal e de mera conduta.

Tentativa: é possível.

Habitualidade: prevalece que não se trata de crime habitual.

Instalações físicas de banco:


O crime pode se consumar mesmo que a instituição financeira não tenha instalações físicas
condizentes com a de um banco, com caixas, funcionários etc. O que interessa é verificar se
foram realizadas atividades próprias de uma instituição financeira. Nesse sentido: MAIA,
Rodolfo Tigre. Dos Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional. Anotações à Lei Federal n.
7.492/86. São Paulo: Malheiros, 1996, p. 444.

Instituições financeiras por equiparação:


Em provas de concurso, tenha muito cuidado com os exemplos que narram situações
envolvendo atividades próprias de instituições financeiras por equiparação (art. 1º,
parágrafo único). Assim, configura o crime do art. 16 quando a pessoa pratica atividades de
seguro, de câmbio, de consórcio ou de capitalização, sem autorização legal.

Factoring
Se o dono/administrador da factoring utiliza a empresa para emprestar dinheiro, pratica
esse crime?
Como vimos acima, a factoring não é uma instituição financeira, considerando que não
pode fazer a captação de dinheiro de terceiros, como acontece com os bancos. Além disso,
a factoring não pode emprestar dinheiro. O que a factoring pode fazer é “comprar” títulos
de crédito que ainda irão vencer, fazendo com que a empresa aumente seu capital de giro.
Desse modo, repito: a factoring não pode fazer empréstimos.
32

E se o dono da factoring realizar empréstimos, ele cometerá qual delito?


Em regra, pratica o crime do art. 4º da Lei n. 1.521/51. Isso porque, como regra, quando a
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factoring realiza, de forma ilegal, empréstimos, ela o faz utilizando recursos próprios. O art.

INFORMATIVO esquematizado
1º da Lei n. 7.492/86 afirma que somente pode ser considerada instituição financeira
quem capta, intermedia ou aplica recursos financeiros de terceiros. Logo, a factoring,
quando empresta recursos próprios para terceiros não atua como instituição financeira
segundo a definição do art. 1º.
(...) As empresas popularmente conhecidas como factoring desempenham atividades de
fomento mercantil, de cunho meramente comercial, em que se ajusta a compra de créditos
vencíveis, mediante preço certo e ajustado, e com recursos próprios, não podendo ser
caracterizadas como instituições financeiras.
3. In casu, comprovando-se a abusividade dos juros cobrados nas operações de
empréstimo, configura-se o crime de usura, previsto no art. 4°, da Lei n° 1.521/51, cuja
competência para julgamento é da Justiça Estadual. (...)
(CC 98062/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, Terceira Seção, julgado em 25/08/2010)

Excepcionalmente, pode-se imaginar uma situação em que a factoring, de forma ilegal,


capta dinheiro de terceiros e empresta esses recursos, com cobrança de juros, a outras
pessoas. Ex: João cede 100 mil reais para a factoring e esta empresta esse dinheiro para
Antônio, que irá pagar 10% de juros ao mês. A factoring remunera João com 3% e lucra 7%.
Nesse caso, como a factoring captou e aplicou recursos de terceiros, operou como
verdadeira instituição financeira, o que configura, em tese, o crime do art. 16 da Lei n.
7.492/86, de competência da Justiça Federal (CC 115.338/PR, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, Terceira Seção, julgado em 26/06/2013).

Agiota
O chamado “agiota” pratica o delito do art. 16?
Em regra não. O agiota é aquela pessoa que empresta dinheiro seu a outras pessoas,
cobrando juros e multa superiores aos que são legalmente permitidos. Segundo o
entendimento majoritário, o agiota não pode ser equiparado a instituição financeira em
razão de emprestar recursos financeiros próprios (e não de terceiros).
Logo, o agiota responde pelo delito do art. 4º da Lei n. 1.521/51 (Lei de Economia Popular),
delito de competência da Justiça Estadual, e não pelo art. 16 da Lei n. 7.492/86.
(...) Na hipótese em que se cuida de empréstimos a juros, com valores próprios e não
captados de terceiros, há, em tese, delito de usura e, não, contra o Sistema Financeiro.
(CC 99305/PR, Min. Maria Thereza De Assis Moura, Terceira Seção, julgado em 11/02/2009)

No entanto, se ficar comprovado que o agiota faz a captação de recursos de terceiros e,


com essas verbas, empresta para outros, poderá ser equiparado à instituição financeira e,
portanto, praticar o art. 16. Essa, contudo, não é a situação mais comum na prática.

Delito do art. 4º da Lei n. 1.521/51:


Como vimos pelos julgados acima, o ponto de toque para diferenciar os delitos é saber se os
recursos emprestados são próprios ou de terceiros:
Art. 4º da Lei n. 1.521/51 Art. 16 da Lei n. 7.492/86
Recursos próprios Recursos de terceiros

Delito do art. 27-E da Lei n. 6.385/76:


33

O art. 27-E da Lei n. 6.385/76 prevê o seguinte crime:


Página

Art. 27-E. Atuar, ainda que a título gratuito, no mercado de valores mobiliários, como
instituição integrante do sistema de distribuição, administrador de carteira coletiva ou

INFORMATIVO esquematizado
individual, agente autônomo de investimento, auditor independente, analista de valores
mobiliários, agente fiduciário ou exercer qualquer cargo, profissão, atividade ou função,
sem estar, para esse fim, autorizado ou registrado junto à autoridade administrativa
competente, quando exigido por lei ou regulamento:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. (Incluído pela Lei 10.303/2001)

Diante disso, indaga-se: o crime do art. 16 da Lei n. 7.492/86 foi revogado pelo delito do
art. 27-E da Lei n.º 6.404/76 (Incluído pela Lei 10.303/2001)?
Não. Segundo decidiu o STF, não houve revogação, uma vez que a objetividade jurídica dos
tipos penais é distinta e há elementos da estrutura dos dois tipos que também não se
confundem. O bem jurídico tutelado pela Lei n. 7.492/86 é a higidez do Sistema Financeiro
Nacional, considerando-se instituição financeira aquela que tenha por atividade principal a
captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros de terceiros. A seu turno, a
Lei 10.303/2001 protege a integridade do mercado de valores mobiliários (HC 94955/SP, rel.
Min. Ellen Gracie, 21.10.2008).
Desse modo, o crime do art. 27-E da Lei n.º 6.404/76 é específico em relação ao do art. 16.

COMPETÊNCIA
De quem é a competência para julgar os crimes contra o sistema financeiro nacional?
Compete à Justiça Federal julgar os crimes contra o sistema financeiro nacional, previstos
na Lei n. 7.492/86.

A CF/88 prevê, em seu art. 109, VI:


Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;

O inciso VI afirma que os crimes contra o sistema financeiro e contra a ordem econômico-
financeira somente serão de competência da Justiça Federal nos casos determinados por
lei. Em outras palavras, nem todos os crimes contra o sistema financeiro e contra a ordem
econômico-financeira serão de competência da Justiça Federal, mas apenas nas hipóteses
em que lei assim determinar.

Os crimes contra o sistema financeiro estão previstos na Lei n. 7.492/86 e são julgados pela
Justiça Federal por expressa previsão legal. Isso porque o art. 26 da lei n. 7.492/86
estabelece:
Art. 26. A ação penal, nos crimes previstos nesta lei, será promovida pelo Ministério Público
Federal, perante a Justiça Federal.

O crime de concessão de empréstimos vedados, previsto no art. 34 da Lei n. 4.595/64, de


certa forma também atenta contra o Sistema Financeiro Nacional, no entanto, no caso
desse delito, a competência será, em regra, da Justiça Estadual, considerando que não
existe lei atribuindo sua apuração à Justiça Federal.
Processo STJ. 3ª Seção. CC 115.338-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/6/2013.
34
Página

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO PROCESSUAL PENAL

Vara da infância e juventude pode julgar estupro de vulnerável se previsto na lei estadual?

Lei estadual poderá determinar que o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP) seja
julgado pela vara da infância e juventude (art. 145 do ECA), mesmo não tendo o art. 148 do ECA
previsto competência criminal para essa vara especializada?
1ª corrente: SIM. Decisões da 1ª Turma do STF e 5ª Turma do STJ.
2ª corrente: NÃO. Decisão da 6ª Turma do STJ.

Comentários Lei estadual de organização judiciária


A organização judiciária de cada Estado é matéria de competência do Poder Legislativo
estadual, mediante lei de iniciativa do Poder Judiciário local (art. 125, § 1º, da CF/88):

§ 1º - A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de


organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.

Em outras palavras, o Tribunal de Justiça de cada Estado envia à Assembleia Legislativa um


projeto de lei disciplinando a estrutura e as competências do Tribunal, das comarcas e de
cada vara, entre outros assuntos. Essa lei, quando aprovada, é chamada de Lei (ou Código)
de organização judiciária. É como se fosse uma Lei orgânica do Poder Judiciário estadual.

A Lei de organização judiciária possui uma relativa liberdade para disciplinar a competência
de cada juízo e vara. Assim, por exemplo, o Código de organização judiciária poderá prever
varas especializadas em crimes contra a ordem tributária, em crimes organizados, em
crimes de trânsito etc.

Varas especializadas e exclusivas da infância e juventude


O ECA previu, em seu art. 145, a possibilidade de os Estados criarem varas especializadas e
exclusivas para tratar dos assuntos ali disciplinados. Essas varas ficaram conhecidas como
“juizados da infância e juventude”. Veja a redação legal:
Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar varas especializadas e exclusivas da
infância e da juventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por
número de habitantes, dotá-las de infra-estrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive
em plantões.

E qual é a competência das varas especializadas da infância e juventude?


O próprio ECA já afirma quais seriam as competências da vara especializada. Confira:
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para:
I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração de ato
infracional atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis;
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo;
III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes;
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos afetos à
criança e ao adolescente, observado o disposto no art. 209;
V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em entidades de atendimento,
35

aplicando as medidas cabíveis;


VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações contra norma de proteção à
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criança ou adolescente;
VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar, aplicando as medidas cabíveis.
INFORMATIVO esquematizado
Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adolescente nas hipóteses do art. 98, é
também competente a Justiça da Infância e da Juventude para o fim de:
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, perda ou modificação da tutela ou
guarda;
c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento;
d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna ou materna, em relação ao
exercício do poder familiar;
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando faltarem os pais;
f) designar curador especial em casos de apresentação de queixa ou representação, ou de
outros procedimentos judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ou
adolescente;
g) conhecer de ações de alimentos;
h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento dos registros de nascimento e
óbito.

Os arts. 145 e 148 do ECA são inconstitucionais por violarem a competência dos Estados
para legislarem sobre a organização judiciária (art. 125, § 1º, da CF/88)?
NÃO. Isso porque o art. 145 do ECA não impôs uma obrigação aos Estados de que criassem
juizados da infância e juventude, estabelecendo apenas uma faculdade.
Assim, o art. 145 não cria varas judiciais, não define limites de comarcas nem estabelece um
número de magistrados a serem alocados nos Juizados da Infância e Juventude. Estes temas
seriam concernentes às peculiaridades e circunstâncias locais.
O mencionado artigo apenas faculta a criação dessas varas especializadas e o art. 148 do
ECA prevê as competências que tais juizados terão caso sejam criados.
Não há qualquer problema no fato de a lei federal sugerir aos Tribunais estaduais a criação
de órgãos jurisdicionais especializados. Vale ressaltar que, recentemente, o STF afirmou que
isso é constitucional, ao julgar válida a previsão do art. 33 da Lei Maria da Penha, que
autoriza os Estados a criarem Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
(Plenário. ADC 19/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9/2/2012).

Competência da vara da infância e juventude para julgar estupro de vulnerável


No Rio Grande do Sul, a lei estadual previu que a vara da infância e juventude, além das
matérias previstas no art. 148 do ECA, teria competência também para julgar os réus
(adultos) que cometem o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A, do CP).
Assim, a lei gaúcha ampliou as hipóteses de competência da vara da infância e juventude,
conferindo a possibilidade de ela julgar processos criminais, o que não é previsto no art. 148
do ECA.

Essa previsão da lei estadual é válida?


Existe polêmica sobre o assunto, havendo decisões nos dois sentidos:
SIM NÃO
1ª Turma do STF: HC 113102, Rel. Min. 6ª Turma do STJ:
Marco Aurélio, julgado em 18/12/2012. “(...) o ECA permitiu que os Estados e o
Distrito Federal possam criar, na estrutura
5ª Turma do STJ: HC 219.218/RS, Rel. Min. do Poder Judiciário, varas especializadas e
Laurita Vaz, julgado em 17/09/2013. exclusivas para processar e julgar
36

demandas envolvendo crianças e


Argumento principal: os Estados-membros adolescentes (art. 145). Todavia, o referido
Página

são autorizados pelo art. 125, § 1º da diploma restringiu, no seu art. 148, quais

INFORMATIVO esquematizado
CF/88 a distribuir as competências entre as matérias podem ser abrangidas por essas
diversas varas. varas. Neste dispositivo, não há previsão
de competência para julgamento de feitos
criminais na hipótese de vítimas crianças
ou adolescentes. Dessa forma, não é
possível a ampliação do rol de competência
do juizado da infância e da juventude por
meio de lei estadual, de modo a modificar
o juízo natural da causa.” RHC 37.603-RS,
Rel. Min. Assusete Magalhães, DJe
16/10/2013.

O tema ainda não é pacífico e será necessário aguardar mais um pouco para se ter plena
certeza da posição do STJ.
Processo STJ.
5ª Turma. HC 219.218/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 17/09/2013.
6ª Turma. RHC 37.603-RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, DJe 16/10/2013.

(Ir)retroatividade da indenização mínima prevista no inciso IV do art. 387 do CPP

A previsão da indenização contida no inciso IV do art. 387 surgiu com a Lei n. 11.719/2008. Se o crime
ocorreu antes da Lei e foi sentenciado após a sua vigência, pode ser aplicado o dispositivo e fixado o valor
mínimo de reparação dos danos?
1ª corrente: SIM 2ª corrente: NÃO
Trata-se de norma de direito processual. Assim, Trata-se de norma híbrida (de direito material e
ainda que o processo tenha se iniciado antes da processual) e, por ser mais gravosa ao réu, não
Lei n. 11.719/2008, se ele for sentenciado após pode ser aplicada a fatos praticados antes de
a sua vigência, deverá observar a fixação do sua vigência.
valor mínimo de que trata o art. 387, IV, do CPP.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.176.708-RS, Rel. Min. STJ. 5ª Turma. REsp 1.193.083-RS, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 12/6/2012. Laurita Vaz, julgado em 20/8/2013.

Comentários A sentença penal condenatória, depois de transitada em julgado, produz diversos efeitos.

Um dos efeitos é que a condenação gera a obrigação do réu de reparar o dano causado:
Código Penal
Art. 91. São efeitos da condenação:
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;

A sentença condenatória, inclusive, constitui-se em título executivo judicial:


Código de Processo Civil
Art. 475-N. São títulos executivos judiciais:
II – a sentença penal condenatória transitada em julgado;

Assim, a vítima (ou seus sucessores), de posse da sentença que condenou o réu, após o seu
37

trânsito em julgado, dispõe de um título que poderá ser executado no juízo cível para
cobrar o ressarcimento pelos prejuízos sofridos em decorrência do crime.
Página

INFORMATIVO esquematizado
Qual era, no entanto, a dificuldade antes da Lei n. 11.719/2008?
Apesar de ser reconhecida a obrigação de indenizar (an debeatur), não era possível que a
vítima (ou seus sucessores) executassem imediatamente a sentença porque não havia sido
definido ainda o valor da indenização (quantum debeatur). Em outras palavras, a sentença
condenatória reconhecia que a vítima tinha direito à indenização a ser paga pelo
condenado, mas não dizia o quanto.

Com isso, a vítima (ou seus sucessores) tinha ainda que tomar uma outra providência antes
de executar: fazer a liquidação (art. 475-A do CPC).

O legislador tentou facilitar a situação da vítima e, por meio da Lei n. 11.719/2008, alterou
o CPP, prevendo que o juiz, ao condenar o réu, já estabeleça na sentença um valor mínimo
que o condenado estará obrigado a pagar a título de reparação dos danos causados. Veja:
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:
IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os
prejuízos sofridos pelo ofendido; (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

Desse modo, se o juiz, na própria sentença, já fixar um valor certo para a reparação dos
danos, não será necessário que a vítima ainda faça a liquidação, bastando que execute este
valor caso não seja pago voluntariamente pelo condenado.

Veja o parágrafo único do art. 63 do CPP, que explicita essa possibilidade:


Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução,
no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou
seus herdeiros.
Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser
efetuada pelo valor fixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código sem
prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido. (Incluído pela Lei nº
11.719, de 2008).

Algumas observações sobre o art. 387, IV do CPP:

1) Qual é a natureza jurídica dessa fixação do valor mínimo de reparação?


Trata-se de um efeito extrapenal genérico da condenação.

2) A vítima poderá pleitear indenização maior no juízo cível


O juiz fixará um valor mínimo. Assim, a vítima poderá executar desde logo este valor
mínimo e pleitear um valor maior que o fixado na sentença, bastando, para isso, que prove
que os danos que sofreu foram maiores que a quantia estabelecida na sentença. Essa prova
é feita em procedimento de liquidação por artigos (procedimento cível regulado pelos arts.
475-E e 475-F do CPC).

3) Para que seja fixado o valor da reparação, deverá haver pedido expresso e formal do MP
ou do ofendido
(...) Este Tribunal sufragou o entendimento de que deve haver pedido expresso e formal,
feito pelo parquet ou pelo ofendido, para que seja fixado na sentença o valor mínimo de
reparação dos danos causados à vítima, a fim de que seja oportunizado ao réu o
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contraditório e sob pena de violação ao princípio da ampla defesa. (...)


(AgRg no AREsp 389.234/DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, julgado
Página

em 08/10/2013)

INFORMATIVO esquematizado
4) Deverá haver provas dos prejuízos sofridos
O STJ já decidiu que o juiz somente poderá fixar este valor se existirem provas nos autos
que demonstrem os prejuízos sofridos pela vítima em decorrência do crime. Dessa feita, é
importante que o Ministério Público ou eventual assistente de acusação junte
comprovantes dos danos causados pela infração para que o magistrado disponha de
elementos para a fixação de que trata o art. 387, IV, do CPP. Vale ressaltar, ainda, que o réu
tem direito de se manifestar sobre esses documentos juntados e contraditar o valor
pleiteado como indenização. Nesse sentido:
A fixação da reparação civil mínima também não dispensa a participação do réu, sob pena
de frontal violação ao seu direito de contraditório e ampla defesa, na medida em que o
autor da infração faz jus à manifestação sobre a pretensão indenizatória, que, se
procedente, pesará em seu desfavor. (...)
(REsp 1236070/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Quinta Turma, julgado em 27/03/2012)

5) O julgador penal é obrigado a sempre fixar esse valor mínimo?


NÃO. O juiz pode deixar de fixar o valor mínimo em algumas situações, como, por exemplo:
a) quando não houver prova do prejuízo;
b) se os fatos forem complexos e a apuração da indenização demandar dilação probatória, o
juízo criminal poderá deixar de fixar o valor mínimo, que deverá ser apurado em ação civil;
c) quando a vítima já tiver sido indenizada no juízo cível.

O exemplo citado nesta letra “b” foi justamente o que ocorreu no julgamento do
“Mensalão”. O STF rejeitou o pedido formulado pelo MPF, em sede de alegações finais, no
sentido de que fosse fixado valor mínimo para reparação dos danos causados pelas
infrações penais, sob o argumento de que a complexidade dos fatos e a imbricação de
condutas tornaria inviável assentar o montante mínimo. Assim, não haveria como
identificar com precisão qual a quantia devida por cada réu, o que só seria possível por
meio de ação civil, com dilação probatória para esclarecimento desse ponto (Plenário. AP
470/MG, rel. Min. Joaquim Barbosa, 17.12.2012).

6) Além dos prejuízos materiais, o juiz poderá também condenar o réu a pagar a vítima por
danos morais?
1ª corrente: SIM. Posição de Norberto Avena.
2ª corrente: NÃO. Defendida por Eugênio Pacelli.

7) O art. 387, IV, do CPP, com a redação dada pela Lei n. 11.719/2008, fez com que o Brasil
passasse a adotar a chamada “cumulação de instâncias” em matéria de indenização pela
prática de crimes?
NÃO. A cumulação de instâncias (ou união de instâncias) em matéria de indenização pela
prática de crimes ocorre quando um mesmo juízo resolve a lide penal (julga o crime) e
também já decide, de forma exauriente, a indenização devida à vítima do delito. Conforme
explica Pacelli e Fischer, “por esse sistema, o ajuizamento da demanda penal determina a
unidade de juízo para a apreciação da matéria cível” (Comentários ao Código de Processo
Penal e Sua Jurisprudência. São Paulo: Atlas, 2012, p. 769). No Brasil, não há unidade de
instâncias porque o juízo criminal irá apenas, quando for possível, definir um valor mínimo
de indenização pelos danos sofridos sem, contudo, esgotar a apreciação do tema, que ainda
poderá ser examinado pelo juízo cível para aumentar esse valor.
Assim, continuamos adotando o modelo da separação mitigada de instâncias.
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INFORMATIVO esquematizado
8) A previsão da indenização contida no inciso IV do art. 387 surgiu com a Lei n. 
11.719/2008. Se o crime ocorreu antes da Lei e foi sentenciado após a sua vigência, pode ser
aplicado o dispositivo e fixado o valor mínimo de reparação dos danos?
1ª corrente: SIM 2ª corrente: NÃO
Trata-se de norma de direito processual. Trata-se de norma híbrida (de direito
Assim, ainda que o processo tenha se material e processual) e, por ser mais
iniciado antes da Lei n. 11.719/2008, se gravosa ao réu, não pode ser aplicada a
ele for sentenciado após a sua vigência, fatos praticados antes de sua vigência.
deverá observar a fixação do valor mínimo
de que trata o art. 387, IV, do CPP.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.176.708-RS, Rel. Min. STJ. 5ª Turma. REsp 1.193.083-RS, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em Laurita Vaz, julgado em 20/8/2013.
12/6/2012.

9) O condenado poderá impugnar o valor fixado na forma do art. 387, IV, do CPP por meio
de um habeas corpus?
NÃO. A via processual do habeas corpus não é adequada para impugnar a reparação civil
fixada na sentença penal condenatória, com base no art. 387, IV, do CPP, tendo em vista
que a sua imposição não acarreta ameaça, sequer indireta ou reflexa, à liberdade de
locomoção (HC 191.724/RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 15/10/2013).

10) Se a punibilidade do condenado for extinta pela prescrição da pretensão punitiva,


haverá extinção também do valor de reparação imposto na sentença?
SIM. Extinta a condenação pela prescrição, extingue-se também a condenação pecuniária
fixada como reparação dos danos causados à vítima, nos termos do art. 387, IV, do CPP,
pois dela decorrente, ficando ressalvada a utilização de ação cível, caso a vítima entenda
que haja prejuízos a serem reparados (EDcl no AgRg no REsp 1260305/ES, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 12/03/2013).
Processo STJ. 5ª Turma. REsp 1.193.083-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 20/8/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO

Não é possível compensar precatório estadual com dívidas oriundas de tributos federais

Não é possível a compensação de precatórios estaduais com dívidas oriundas de tributos


federais. Isso porque, nessa hipótese, não há identidade entre devedor e credor.
Comentários Compensação
Compensação é a extinção de duas ou mais obrigações, cujos credores são ao mesmo
tempo devedores um do outro.
Assim, se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas
obrigações extinguem-se, até onde se compensarem (art. 368 do CC).
Ex: João deve 10 mil reais a Pedro por conta de uma obrigação (contrato de compra e
venda); por força de outra obrigação (contrato de prestação de serviços), Pedro deve 10 mil
reais a João.
No exemplo acima, a compensação foi total (as dívidas eram iguais). Mas é possível (e bem
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mais comum) que a compensação seja parcial (quando os valores são diferentes). Seria a
hipótese caso Pedro devesse apenas 6 mil reais a João. Logo, somente restaria um crédito
Página

de 4 mil reais.

INFORMATIVO esquematizado
É possível que ocorra a compensação no direito tributário?
SIM. Ocorre quando o contribuinte possui um crédito para receber do Fisco, podendo ser
feito o encontro de contas do valor que o sujeito passivo tem que pagar com a quantia que
tem a receber da Administração.
Trata-se de causa de extinção da obrigação tributária (art. 156, II, do CTN).
Vale ressaltar, no entanto, que, para que haja a compensação de créditos tributários, é
indispensável que o ente tributante (União, Estados/DF, Municípios) edite uma lei
estabelecendo as condições e garantias em que isso ocorre ou, então, delegando essa
estipulação para uma autoridade administrativa. É o que está previsto no CTN:
Art. 170. A lei pode, nas condições e sob as garantias que estipular, ou cuja estipulação em
cada caso atribuir à autoridade administrativa, autorizar a compensação de créditos
tributários com créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo contra
a Fazenda pública.
Parágrafo único. Sendo vincendo o crédito do sujeito passivo, a lei determinará, para os
efeitos deste artigo, a apuração do seu montante, não podendo, porém, cominar redução
maior que a correspondente ao juro de 1% (um por cento) ao mês pelo tempo a decorrer
entre a data da compensação e a do vencimento.

É possível que uma pessoa que tenha 500 mil reais de precatórios para receber de um
estado-membro utilize esse crédito para compensar 500 mil reais que ele esteja devendo de
tributos federais?
NÃO. Não é possível a compensação de precatórios estaduais com dívidas oriundas de
tributos federais. A razão é muito simples: nessa hipótese, não há identidade entre devedor
e credor. A pessoa é credora do estado-membro e devedora da União. Logo, a União nada
tem a ver com esse crédito que a pessoa tem para receber.
Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 334.227-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 6/8/2013.

Verba paga ao empregado demitido sem justa causa no período de estabilidade é isenta de IR

Não incide imposto de renda sobre o valor da indenização paga ao empregado demitido sem
justa causa no período de estabilidade provisória.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
João é presidente do sindicato e empregado de determinada fábrica.
O empregado que for dirigente sindical goza de estabilidade provisória, não podendo ser
dispensado a partir do momento do registro de sua candidatura até 1 (um) ano após o final
do seu mandato, salvo se cometer falta grave (§ 3º do art. 543 da CLT).
Caso o empregado, mesmo assim, seja demitido sem justa causa e não seja mais viável a
reintegração, ele poderá ser indenizado (Súmula 396 do TST).

João terá que pagar imposto de renda sobre o valor recebido como indenização?
NÃO. Segundo entende o STJ, a verba paga a título de indenização por rompimento do
contrato de trabalho no período de estabilidade provisória (decorrente de imposição legal e
não de liberalidade do empregador) não pode sofrer a incidência do imposto de renda.

“A verba paga ao empregado demitido sem justa causa no período de estabilidade


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provisória é isenta da incidência do Imposto de Renda.” (REsp. 1.335.511/PB, Rel. Min.


Herman Benjamin, DJe 10.10.2012).
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Processo STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.215.211-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 6/8/2013.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

No reexame necessário, o Tribunal não pode modificar a sentença para conceder benefício mais
vantajoso ao segurado (Súmula 45-STJ)

O Tribunal, ao julgar remessa necessária, não poderá conceder benefício previdenciário mais
vantajoso ao segurado do que aquele que foi conferido pela sentença. Ex: sentença julgou
procedente o auxílio-doença; Tribunal não pode conceder aposentadoria por invalidez.
Aplica-se, no caso, a súmula 45 do STJ: No reexame necessário, é defeso, ao Tribunal, agravar a
condenação imposta à Fazenda Pública.
Comentários Para maiores informações, vide julgado indexado na seção de Direito Processual Civil.
Processo STJ. 1ª Turma. REsp 1.379.494-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 13/8/2013.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) Tendo ocorrido dispensa de licitação de forma indevida, haverá ato de improbidade administrativa
mesmo que não seja provado prejuízo ao erário e má-fé do administrador. ( )
2) A transferência, para fins de desapropriação, do domínio útil de imóvel aforado da União constitui
operação apta a gerar o recolhimento de laudêmio. ( )
3) O titular de blog não é responsável pela reparação dos danos morais decorrentes da inserção, em seu
site, por sua conta e risco, de artigo escrito por terceiro. ( )
4) O ônus de arcar com as despesas postais decorrentes do exercício do direito de arrependimento é do
fornecedor, salvo estipulação contratual expressa e destacada em sentido contrário. ( )
5) É dispensada a prévia comunicação do devedor se o SPC/SERASA estiver apenas reproduzindo
informação negativa que conste de registro público. ( )
6) É dispensável o Aviso de Recebimento (AR) na carta de comunicação ao consumidor sobre a
negativação de seu nome em bancos de dados e cadastros. ( )
7) Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral
quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento. ( )
8) A inscrição do nome do devedor pode ser mantida nos serviços de proteção ao crédito até o prazo
máximo de cinco anos, salvo se o prazo prescricional tiver sido suspenso ou interrompido. ( )
9) A pós-datação do cheque não modifica o prazo de apresentação nem o prazo de prescrição do título. ( )
10) (OAB XI 2013 FGV) O prazo de apresentação do cheque ao sacado para pagamento é de 30 (trinta) dias,
contados da data de emissão, quando o lugar de emissão for o mesmo do de pagamento. ( )
11) (OAB XI 2013 FGV) O portador, apresentado o cheque e não realizado seu pagamento, deverá
promover a ação executiva em face do emitente em até 6 (seis) meses após a expiração do prazo de
apresentação. ( )
12) Não é possível o protesto de cheque, por endossatário terceiro de boa-fé, após o decurso do prazo de
apresentação, mas antes da expiração do prazo para ação cambial de execução, ainda que, em
momento anterior, o título tenha sido sustado pelo emitente em razão do inadimplemento do negócio
jurídico subjacente à emissão da cártula. ( )
13) O juiz não pode negar a concessão de assistência judiciária gratuita com base em critérios subjetivos. ( )
14) (DPE/SC 2012 FEPESE) Os cidadãos necessitados que fizerem jus ao benefício da assistência judiciária
gratuita, prevista na Lei Federal no 1.060, de 1950, deverão, necessariamente, optar por fazer uso do
serviço da Defensoria Pública. ( )
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15) No mandado de segurança, se o impetrante morre, os seus herdeiros não podem se habilitar para
continuar o processo. ( )
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16) O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública com o objetivo de garantir o acesso
a critérios de correção de provas de concurso público. ( )

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17) (Juiz Federal TRF5 2011 CESPE) O delito de apropriação indébita previdenciária, previsto no art. 168-A do
CP, é omissivo próprio, dispensando-se, para a sua caracterização, qualquer especial fim de agir. ( )
18) (Promotor MPSP 2013) É permitido ao juiz, na sentença condenatória criminal, estabelecer valor
mínimo para a reparação de danos, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido. ( )
19) (Promotor MPDFT 2013) É absolutamente nula a sentença de condenação, por não haver o juiz fixado
valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração. ( )
20) (Juiz Federal TRF1 2011 CESPE) No atual sistema processual penal, ocorre a cumulação de instâncias,
assim nominado pela doutrina o dever do juiz, quando da prolação de sentença condenatória, de fixar
valor mínimo para a reparação dos danos emergentes causados pelo crime, considerados os prejuízos
sofridos pelo ofendido, mas não os danos morais, independentemente de pedido expresso da vítima e
da existência de debates anteriores acerca dos danos e de sua extensão. ( )

Gabarito
1. E 2. C 3. E 4. E 5. C 6. C 7. C 8. E 9. C 10. C
11. C 12. E 13. C 14. E 15. C 16. C 17. C 18. C 19. E 20. E

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JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE MENOR
RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. COMPETÊNCIA INTERNA PARA JULGAR AÇÃO DISCRIMINATÓRIA DE TERRAS
PÚBLICAS.
Compete à Primeira Seção do STJ e a suas respectivas Turmas julgar feito referente a ação discriminatória de
terras públicas. De fato, a competência interna é fixada a partir da natureza da relação jurídica litigiosa. Nesse
contexto, o art. 9º, § 1º, XIV, do RISTJ estabelece que compete à Primeira Seção processar e julgar os feitos que
envolvem matéria de direito público, atinente à delimitação do patrimônio estatal. Sendo assim, como a ação
discriminatória de terras públicas refere-se a patrimônio estatal, questão eminentemente de direito público, a
competência da Primeira Seção deve ser preservada. Cabe ressaltar, a propósito, que situação diversa ocorre
quando a demanda encerra discussão acerca de posse ou domínio de coisa alheia proposta por particular (ações
de usucapião, reivindicatórias, reintegratórias) e o debate sobre a discriminação de terras públicas se dá apenas
incidentalmente, o que configura hipótese de competência da Segunda Seção, conforme estabelece o art. 9º, §
2º, I, do RISTJ. Precedentes citados: EREsp 1.193.379-SP, Corte Especial, DJe 17/4/2013; RMS 27.524-TO,
Primeira Turma, DJe 19/8/2009; e EDcl no REsp 617.428-SP, Segunda Turma, DJe 12/9/2011.
CC 124.063-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 2/10/2013.

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. IMPOSSIBILIDADE DE QUE AUTOR E RÉU REALIZEM COMPENSAÇÃO
QUE ENVOLVA CRÉDITO OBJETO DE PENHORA NO ROSTO DOS AUTOS.
A penhora de crédito pleiteado em juízo – anotada no rosto dos autos e de cuja constituição tenham sido
as partes intimadas – impede que autor e réu realizem posterior compensação que envolva o referido
crédito. Aplica-se, nessa hipótese, a regra contida no art. 380 do CC, que dispõe ser inadmissível “a
compensação em prejuízo de direito de terceiro”. Afirma ainda o referido dispositivo que o “devedor que
se torne credor do seu credor, depois de penhorado o crédito deste, não pode opor ao exequente a
compensação, de que contra o próprio credor disporia”. Busca-se, dessa forma, evitar lesão a direito de
terceiro diretamente interessado na constrição. Deve-se observar, portanto, que o art. 380 do CC tem por
escopo coibir a utilização da compensação como forma de esvaziar penhora anterior. Trata-se, assim, de
norma de caráter protetivo e de realce na busca de um processo de resultado. Ademais, segundo os arts.
673 e 674 do CPC, a penhora no rosto dos autos altera subjetivamente a figura a quem deverá ser efetuado
o pagamento, conferindo a esta os bens que forem adjudicados ou que couberem ao devedor. Ressalte-se
que a impossibilidade de compensação nessas circunstâncias decorre também do princípio da boa-fé
objetiva, valor comportamental que impõe às partes o dever de cooperação e de lealdade na relação
processual. REsp 1.208.858-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 3/9/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RECEBIMENTO DE EMBARGOS DO DEVEDOR COMO IMPUGNAÇÃO AO


CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.
Em execuções de sentença iniciadas antes da vigência da Lei 11.232/2005, que instituiu a fase de
cumprimento de sentença e estabeleceu a “impugnação” como meio de defesa do executado, os
embargos do devedor opostos após o início da vigência da referida lei devem ser recebidos como
impugnação ao cumprimento de sentença na hipótese em que o juiz, com o advento do novo diploma,
não tenha convertido expressamente o procedimento, alertando as partes de que a execução de
sentença passou a ser cumprimento de sentença. De fato, no direito brasileiro, não se reconhece a
existência de direito adquirido à aplicação das regras de determinado procedimento. Por isso, a lei se aplica
imediatamente ao processo em curso. Vale a regra do tempus regit actum e, nesse sentido, seria impreciso
afirmar que a execução da sentença, uma vez iniciada, é imune a mudanças procedimentais. Ocorre que a
aplicação cega da regra geral de direito intertemporal poderia ter consequências verdadeiramente
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desastrosas e, diante disso, temperamentos são necessários. Observe-se que o processo civil muito
comumente vem sendo distorcido de forma a prestar enorme desserviço ao estado democrático de direito,
Página

deixando de ser instrumento da justiça para se tornar terreno incerto, repleto de arapucas e percalços, em
que só se aventuram aqueles que não têm mais nada a perder. Todavia, o direito processual não pode ser

INFORMATIVO esquematizado
utilizado como elemento surpresa, a cercear injusta e despropositadamente uma solução de mérito. A
razoabilidade deve ser aliada do Poder Judiciário nessa tarefa, de forma que se alcance efetiva distribuição
de justiça. Não se deve, portanto, impor surpresas processuais, pois essas só prejudicam a parte que tem
razão no mérito da disputa. O processo civil dos óbices e das armadilhas é o processo civil dos rábulas.
Mesmo os advogados mais competentes e estudiosos estão sujeitos ao esquecimento, ao lapso, e não se
pode exigir que todos tenham conhecimento das mais recônditas nuances criadas pela jurisprudência. O
direito das partes não pode depender de tão pouco. Nas questões controvertidas, convém que se adote,
sempre que possível, a opção que aumente a viabilidade do processo e as chances de julgamento do mérito
da lide. Nesse contexto, transpondo o quanto exposto até aqui para a hipótese em discussão – na qual é
patente a existência de dúvida em relação ao procedimento cabível –, conclui-se, em respeito ao princípio
da segurança jurídica, serem os embargos do devedor cabíveis caso inexista a expressa conversão do
procedimento. REsp 1.185.390-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/8/2013.

DIREITO EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL. CUSTAS JUDICIAIS NAS HABILITAÇÕES RETARDATÁRIAS DE


CRÉDITO.
Nas falências regidas pelo Decreto-Lei 7.661/1945, a habilitação retardatária de crédito enseja o
pagamento de custas judiciais. Embora os arts. 82 e 98 do Decreto-Lei 7.661/1945, que tratavam da
habilitação de crédito, não fizessem menção expressa ao recolhimento de custas processuais nas
habilitações retardatárias, o art. 23 do referido diploma legal estabelecia que, em algumas situações,
haveria a necessidade de seu recolhimento. Desse modo, enquanto a habilitação de crédito formulada no
prazo do edital de convocação de credores é mero incidente processual – o que acarreta a isenção de
custas –, a habilitação tardia do crédito constitui procedimento autônomo, que acarreta a movimentação
de toda a máquina judiciária para seu processamento e para sua análise, ensejando, assim, o pagamento de
custas judiciais. Confirmando esse entendimento, a Lei 11.101/2005, em seu art. 10, § 3º, prevê que os
credores retardatários ficarão sujeitos ao pagamento de custas. Isso ocorre porque são eles que dão causa
às despesas, com a efetivação dos atos processuais da habilitação.
REsp 512.406-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 27/8/2013.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. INAPLICABILIDADE DO ART. 191 DO CPC EM EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO.


O autor da ação principal que, em exceção de suspeição, tenha sido admitido como assistente simples do
perito excepto não pode ser considerado “litisconsorte” para efeito de aplicação do art. 191 do CPC –
prazo em dobro para recorrer no caso de litisconsortes com diferentes procuradores –, ainda que o
referido incidente tenha sido acolhido para anular decisão favorável ao autor da demanda originária. De
fato, as exceções de impedimento ou suspeição são opostas em face do magistrado e seus auxiliares, de
modo a restaurar a higidez na prestação jurisdicional, diante de um vício interno do órgão que está
prestando a jurisdição. Objetivam sanar possível vício existente no processo, não em relação às partes
litigantes, mas sim no órgão que está prestando a jurisdição ou em auxiliar deste, como é o caso do perito
(art. 139 do CPC). Assim sendo, a exceção de suspeição do perito é um incidente processual em que o
expert figura como réu, como promovido, o que, entretanto, não enseja a participação da parte contrária à
excipiente. Tratando-se de arguição de suspeição, por sua própria natureza, somente o excepto terá
condições de refutar as alegações que lhe sejam atribuídas. Nesse contexto, a parte autora da ação
principal, na situação em análise, não pode ser considerada litisconsorte do excepto, tendo em vista que
ela jamais poderia ser demandada em uma exceção de suspeição. Tampouco pode ser admitida como
assistente litisconsorcial, pois o julgamento da exceção não atinge diretamente sua esfera jurídica, mas
apenas anula fases maculadas de um processo, nada obstante o indiscutível interesse das partes no
resultado final da exceção. Ressalta-se, ademais, que, na hipótese em análise, a parte autora sequer
poderia ter sido admitida como assistente simples, pois, na exceção em apreço, por consectário lógico,
somente aquele de quem se poderia exigir isenção e imparcialidade pode ser apontado como suspeito e,
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assim, tem legitimidade para reconhecer ou refutar as alegações, considerando as hipóteses de suspeição
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previstas no art. 135 do CPC. REsp 909.940-ES, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 17/9/2013.

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