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Alexandre Duarte*
milhares de itinerários individuais que subsistia qualquer coisa do encanto incerto dos
terrenos vagos, dos baldios e dos estaleiros, dos cais de gare e das salas de espera
É ainda no prólogo deste livro que Marc Augé, antropólogo francês e autor de
uma vasta e consagrada obra, levanta o véu do tema e nos situa na temática de análise
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Professor Assistente da Escola Superior de Marketing e Publicidade do IADE, Investigador da UNIDCOM, unidade de I&D e
Doutorando em Ciências da Comunicação na Universidade do Minho. (ale@kanguru.pt)
O objecto de estudo, outrora longínquo, distante e exótico, converge agora,
numa nova postura de observação e análise, para terrenos mais próximos e familiares.
Por forma a dar corpo a esta mudança de perspectiva, Augé cria o conceito de
“pós” sempre implica. Uma evolução acelerada, sem dúvida, mas contínua.
excesso de individualismo.
novo, do seguinte, do próximo, a categoria tempo ganha um novo olhar: “Mal temos
tempo de envelhecer um pouco, e eis que o nosso passado se torna história, que a
que o mundo não tenha, ou tenha pouco, ou menos, sentido, é antes que
um sentido ao mundo.” (p. 28) Hoje, em função desta aceleração, em que o ontem já é
História, onde tudo é acontecimento e que, por haver tantos, já nada o é, deixa de
omnipresença e fazem-nos sentir implicados em tudo e com tudo, mesmo nos lugares
Innis quando afirmou que as noções de tempo e espaço estavam a ser alteradas pela
porque vivemos num mundo que ainda não aprendemos a olhar. Temos de reaprender
corpo, dos sentidos, da frescura de viver – e toda uma linguagem política, que toma
com o nativo, este lugar, enquanto espaço antropológico, é como uma segunda
produzem, enfim, vivem e dele guardam as suas fronteiras, o seu espaço. Esse local
foi escolhido pelos seus antepassados, é o lugar para os seus descendentes e portanto,
observa.” (p. 46). O lugar antropológico define-se pois como identitário, relacional e
histórico.
intimidade do lar, das coisas que consideramos nossas são como que uma inscrição
enquanto marcos designativos das fronteiras entre nós e os outros ao colocar cada
E por fim histórico, uma vez que os habitantes do lugar antropológico vivem
na história, não a fazem, escapando dessa forma “à história como ciência” (p. 48). Ou
referências, está nos antípodas dos “lugares de memória”, reconstruído tantas vezes de
turista ver” provocando nos habitantes mais antigos “alguns sorrisos perplexos, ao
projectar na distância os lugares onde acreditavam ter vivido dia após dia enquanto
naquilo a que Lipovetsky apelidou de narcisismo por medida (1989), onde o indivíduo
vive cada vez mais para si próprio, sem se preocupar quer com as tradições quer com
instituições sociais.
Estes não-lugares são espaços não identitários, não relacionais nem históricos,
incluir desde uma noção de extensão ou distância entre dois pontos (“existia um
espaço de um metro entre cada árvore”) até à ordem de grandeza temporal (“no
espaço de duas horas”), o seu foco não se desvia da análise dos não-lugares nestas
(2010), o espaço do viajante solitário é citado por Augé como exemplo do arquétipo
do não-lugar:
futuro. (p.74)
O espaço do não-lugar não cria pois identidade singular nem relação, mas
instruções de uso (“prima a tecla X”, “proibido circular a mais de 120 Km/h”, “caixa
mundo, uma nova configuração social, característica desta época que se define, como
concluir o raciocínio do autor com uma provocação: se o social começa sempre pelo
indivíduo, tornar-se-á esta medida mínima, na expressão última do início de uma nova
etnologia, a da solidão?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS