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Nome: Érick Moreira Turma: TRO4

ENREDO DE DOM CASMURRO

Construído em flash-back, o protagonista masculino (Dom Casmurro), já cinqüentão e


solitário, tenta "atar as duas pontas da vida" (infância e velhice), contando a história de
sua vida ao lado de Capitu, a qual acaba tomando conta do romance, dada a sua força e
o seu mistério.

Toda essa obra está ligada ao estilo realista, embora seja correto reconhecer que um
escritor da categoria de Machado de Assis não pode ficar preso às delimitações de um
estilo de época.

Dom Casmurro foi publicado em 1900 e é um dos romances mais conhecidos de


Machado. Narra em primeira pessoa a estória de Bentinho que, por circunstância várias,
vai se fechando em si mesmo e passa a ser conhecido como Dom Casmurro. Sua estória
é a seguinte: Órfão de pai, criado com carinho pela mãe (D. Glória), protegido do
mundo pelo círculo doméstico e familiar (tia Justina, tio Cosme, José Dias), Bentinho é
destinado à vida sacerdotal, em cumprimento a uma antiga promessa de sua mãe.

A vida do seminário, no entanto, não o atrai, ao contrário do namoro com Capitu, filha
dos vizinhos. Apesar de comprometida pela promessa, D. Glória também sofre com a
idéia de separar-se do filho único, interno no seminário. Por expediente de José Dias, o
agregado da família, Bentinho abandona o seminário e, em seu lugar, ordena-se um
escravo.

Correm os anos e com eles o amor de Bentinho e Capitu. Entre o namoro e o casamento,
Bentinho se forma em Direito e estreita a sua amizade com um ex-colega de seminário,
Escobar, que acaba se casando com Sancha, amiga de Capitu.

Do casamento de Bentinho e Capitu nasce Ezequiel. Escobar morre e, durante seu


enterro, Bentinho julga estranha a forma qual Capitu contempla o cadáver. A partir daí,
os ciúmes vão aumentando e precipita-se a crise. Á medida que cresce, Ezequiel se
torna cada vez mais parecido com Escobar. Bentinho muito ciumento, chega a planejar
o assassinato da esposa e do filho, seguido pelo seu suicídio, mas não tem coragem. A
tragédia dilui-se na separação do casal.

Capitu viaja com o filho para a Europa, onde morre anos depois. Ezequiel, já mocó,
volta ao Brasil para visitar o pai, que apenas constata a semelhança entre e antigo colega
de seminário. Ezequiel volta a viajar e morre no estrangeiro. Bentinho, cada vez mais
fechado em usas dúvidas,  passa a ser chamado de casmurro pelos amigos e vizinhos e
põe-se a escrever de sua vida (o romance).

ORGANIZAÇÃO / ESTRUTURA

A visão, pois, que temos dos fatos é perpassada da sua ótica subjetiva e unilateral: "tudo
que sabemos do seu passado, de seus amores, de Capitu, só o conhecemos do seu
ângulo" - observa o Prof. Delson Gonçalves Ferreira em estudo sobre Dom Casmurro.
Em conseqüência disso, paira dúvida sobre o adultério de Capitu - dúvida que não se
tem dissipado ao longo dos anos.
O romance , como já observamos, é construído a partir de um flash-back, por um
cinqüentão solitário e casmurro, "à la recherche de  temps perdu" ("à procura do tempo
perdido"), o qual procura "atar as duas pontas da vida" ( infância e velhice). Perpassa.
Pois, o romance uma atmosfera memorialista, dando a impressão de autobiografia, a
qual, com o que se sabe, não tem nada a ver com Machado de Assis.

O título do livro ("Dom Casmurro") reflete uma das características mais marcantes do
protagonista masculino no crepúsculo da existência: a visão amarga e doída de quem foi
traído e machucado pela vida, e, em conseqüência disso vai-se isolando e
ensimesmando. "Não consultes dicionários, Casmurro não está aqui no sentido que eles
lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por
ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo" (Cap. I).

O romance se compõe de 148 capítulos curtos, com títulos bem precisos, que refletem o
seu conteúdo. A narrativa vai lenta até o capítulo XCVII, a partir do qual se acelera,
como declara o próprio narrador, ao dar-se conta da sua lentidão: "Agora não há mais
que levá-la a grandes pernadas, capítulo sobre capítulo, pouca emenda, pouca reflexão,
tudo em resumo. Já esta página vale por meses, outras valerão por anos, e assim
chegares ao final" (Cap. XCVII).

Assim, pois, até o capítulo XCVII, quando o narrador sai do seminário, "com pouco
mais de dezessete anos", focaliza-se, em câmera lenta, a infância e a adolescência, dada
necessidade do narrador traçar o perfil dos protagonistas da estória (Bentinho e Capitu),
revelando, desde as entranhas, o caráter e as tendências de cada um: afinal, o adulto
sempre se assenta no pilar da infância, como insinua Dom Casmurro, no final da
narrativa, ao referir-se a Capitu: "Se te lembras bem da Capitu menina, hás de
reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca" (Cap.
CXLVIII).

Quanto ao lugar em que decorre a ação, trata-se do Rio de Janeiro da época do Império:
há inúmeras referências a lugares, ruas, bairros, praças, teatros, salões de baile que
evocam essa cidade imperial. Por outro lado, há também ligeiras referências a São
Paulo, onde foi estudar Direito o ex-seminarista Bentinho, e também à Europa onde
morre Capitu, e mesmo aos lugares sagrados, onde morre Ezequiel (Jerusalém).

7) Cronologicamente falando, a narrativa decorre durante o segundo Império, detendo-


se mais o autor na inicia pela razão exposta no item 5. Contudo, construído sob a forma
de flash-back; “o que domina no livro não é esse tempo cronológico; é o psicológico,
que se passa dentro das personagens, dentro da própria vida”, observa o Prof. Delson
Gonçalves. Debruçado sobre a reconstrução da longínqua inicia de outrora, o solitário e
magoado Dom Casmurro vai reconstituindo o “tempo perdido” de sua existência,
filtrando os fatos sob sua ótica de cinqüentão amargurado, revivendo a vida subjacente,
que jaz nas suas entranhas.

ESTILO DO AUTOR/LINGUAGEM

O estilo de Machado de Assis, marcado pela sobriedade, correção e concisão, apresenta


traços inconfundíveis, que vamos alistar.

A linguagem de Machado de Assis é marcadamente acadêmica: clássica, bem cuidada,


regida pelas normas de correção gramatical. Entretanto, em alguns pontos, tal como
ocorre no Modernismo, ele registra aspectos típicos da língua da personagem, como
nesta fala de um vendedor de cocada:

- Sinhazinha, qué cocada hoje? 


- Cocadinha tá boa...

Outro aspecto interessante é o uso freqüente de alusõees, referências e citações que vão
como que confirmando as suas idéias e pensamentos, o que, por outro lado, revela bem
a espantosa cultura e erudição de Machado de Assis, adquiridas de forma autodidata
como vimos.

Ao longo das suas narrativas, Machado de Assis (ou o narrador que conduz a estória),
sempre gostou de estabelecer uni diálogo com o(a) leitor(a): conversa com ele(a), dá-lhe
conselhos, pondera e explica: “Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo; se te
lembras bem da Capitu menina...” (Cap. CXLVIII).

Estilo de Época

Os romances realistas sempre se fundamentam num caso de adultério, como se pode ver
nos diversos autores da época (Eça de Queirós, Aluísio Azevedo etc). Em Dom
Casmurro é exatamente a suspeita de adultério que sustenta o enredo do romance. Tudo
se constrói em torno desse possível adultério de Capita.

Entretanto, não há uma preocupação excessiva em contar a estória, preocupação maior é


com a análise, uma análise dissecante e profunda, em que o escritor procura desnudar a
personagem e revelar as suas entranhas. Sem dúvida por isso, Machado de Assis
retroage à infância, tentando buscar a origem do problema focalizado.

Por essa razão, a narrativa é lenta, pausada - anda bem devagar. Aliás, o próprio
Machado de Assis reconhece isso, ao declarar em passagem famosa de Memórias
póstumas de Brás Cubas que vale também para Dom Casmurro: “...o livro anda
devagar; tu (conversa com o leitor) amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e
fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda,
andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...”

Embora adote a primeira pessoa como técnica narrativa, o narrador de Dom Casmurro
se coloca à distância: no extremo da vida (velhice), o protagonista masculino reconstitui
o seu passado, assumindo assim um ângulo de visão marcado pela objetividade. Embora
seja personagem da estaria e participe dela, o narrador coloca-se fora e ausente enquanto
narra e reconstitui os fatos (“flash-back”).

ASPECTOS TEMÁTICOS MARCANTES

Muitos aspectos temáticos podem ser detectados na obra de Machado de Assis, que
nunca foi escritor de grandes teses. Ao longo de Dom Casmurro muitas idéias
interessantes vêm apresentadas.

Apoiando-se numa frase de um tenor, Machado de Assis declara que “a vida é uma
ópera”. Com efeito, a existência humana é perpassada de fases, o que evoca bem, como
a vida de Dom Casmurro, os atos de uma ópera: há sempre uma fase de “solo”, marcado
por hesitações e buscas, e unia fase em que se vive um “duo terníssimo”, com que o eu e
o outro (Bentinho e Capitu) se aproximam e se harmonizam; depois a coisa se complica
com a presença de um terceiro (Escobar), que se instala para formar o triângulo que
desfaz a unidade; enfim surge um quarto (Ezequiel), que esfacela de vez o “duo” da
união harmoniosa de outrora. Tudo se vai e se esvai pela vida, e na alma humana vão
ficando as mágoas e ressentimentos dos sons plangentes que se desfazem na solidão
abissal.

Tal como ocorre em “Conto de escola” (conto machadiano que integra o volume Várias
Histórias), Machado de Assis vê a infância como o pilar que sustenta o adulto: o caráter
e as tendências se forjam no forno da infância. Como ele dizem Memórias Póstumas, “o
menino é pai do homem”. É o que se vê em Dom Casmurro. O autor dedica
praticamente meio romance à infância, com o fim de mostrar “ab ovo” o embrião do
caráter das personagens principais e concluir que a Capitu menina estava dentro da
adulta, “como a fruta dentro da casca”.

Ao apresentar o perfil de Capitu, Machado de Assis revela traços da psicologia


feminina: a arte de dissimular e a capacidade que tem a mulher para sair-se bem de
situações embaraçosas. Essa capacidade de dissimulação de Capitu, sem dúvida,
contribui enormemente para deixar no leitor de Dom Casmurro a dúvida que paira no
final do romance: houve ou não houve adultério?

Apesar do “duo terníssimo” de Bentinho e Capitu, Dom Casmurro é um romance de


velhos e solitários (D. Glória, Tio Cosme, Pe. Cabral, José Dias, Prima Justina, além do
narrador). Como é próprio de Machado de Assis a velhice no livro é perpassada de uma
visão amarga e melancólica, dominada por magoas e ressentimentos. Sem dúvida,
podemos afirmar que, filtrada pela ótica do narrador, Machado de Assis insinua que a
existência humana sempre desemboca na casmurrice e na solidão.

Tudo vai-se desfazendo com o crepúsculo da existência humana: a graça, a beleza, as


flores de antanho; pela vida vazia, vão ficando as lágrimas, a cinza, o nada. Vista de
uma perspectiva pessimista (como é  freqüente em Machado de Assis), a velhice é
perpassada de amargura, solidão e sensação de vazio e perda qual se acentua e dói ainda
mais com a consciência da irreversibilidade do tempo.

É impressionante em Dom Casmurro a ação devastadora do tempo sobre coisas e


pessoas. Poucos ficam, como o desencantado Dom Casmurro, para contar a história:
todos são devorados pela ação voraz e demolidora do tempo - todos morrem. E quem
fica vivo, como Dom Casmurro, é atormentado pela mágoa pelos ressentimentos e,
sobretudo, pela solidão catacumbal da casmurrice e do desencanto.

Como é próprio da literatura realista (e sobretudo de Machado de Assis) um dos


propósitos do livro é desmascarar o ser humano, revelando a precariedade e a hipocrisia
das relações sociais. Em entrevista à Folha de São Paulo (3/8/91) com o ensaista inglês
John Gledson, o Prof. Luiz Roncari (autor de Assim não brinco mais) observa e
pergunta: “A questão do adultério, traição ou não, só ganha importância mesmo no
último terço do livro, na parte efetiva da intriga, mas a mentira está muito presente em
todo o livro. A verdadeira questão não seria: como a mentira é fundamental para a
manutenção das relações sociais, das relações humanas?”
Em suma, em Dom Casmurro pode-se ver um perfil da sociedade da época (e
certamente de hoje), como afirma o ensaísta John Gledson no prefácio de seu livro
Machado de Assis: impostura e realismo: “Este livro procura descobrir as intenções de
Machado em Dom Casmurro. Seu engenho e inteligência superiores mio são postos em
dúvida; mas espero mostrar que o que lhes confere a agudeza, a lâmina pontiaguda, é a
sua visão da sociedade na qual se criou, na qual teve muito sucesso profissional, mas
que - em um nível que só encontra expressão em suas maiores obras - talvez detestasse”.

Outro ponto que se destaca em Dom Casmurro é a religião, a começar pelo próprio
nome do narrador (Bento, Bentinho) e Capitu, que “está bem próximo de capeta”,
conforme observa o Prof. Antônio Dimas, da USP. Sem perfilar unia linha
anticlericalista (tão em voga na época), “a gente não pode deixar de levar em conta a
religião no livro”, diz o Prof. John Gledson. “E o único romance de Machado onde a
religião católica aparece com tanta importância. Em Helena, a religião é um pouco
abstrata Mas aqui é o catolicismo, com suas Aves-Marias, seus Padres-Nossos, com
seus santos, seminários etc. Ele cita a Bíblia de um jeito terrível As vezes cita São Pedro
no seu momento mais anti-feminista - em que as mulheres devem estar sujeitas a seus
maridos -, para reforçar o seu ponto de vista. Ou seja, é um livro que retrata o
catolicismo e retrata mal, evidentemente. Isso está na linha de Eça de Queirós só que
mostra como a religião funciona na vida Intima das pessoas”.

Confrontando com os romances românticos, que nos passam uma visão idealizada do
amor e do casamento (como é próprio do Romantismo), Dom Casmurro mostra o lado
terrível, contundente, patético (e real?) do casamento, do amor e da vida. Embora a vida
humana possa ter os seus encantos (é perfeitamente possível o “duo terníssimo” do
casamento, da amizade - das relações sociais), a visão apresentada por Machado de
Assis acerca da vida (especialmente do casamento, do amor e da amizade) é amarga e
niilista, filtrada pela ótica de um narrador casmurro, ressentido e magoado pelas
trapaças da sorte. Distante do “happy end” dos romances românticos, em que o
casamento é uma verdadeira comunhão de amor, em Dom Casmurro o casamento é
simplesmente uma comunhão de bens, que “dura quinze meses e onze contos de réis”,
como disse o cético Brás Cubas.

http://www.mundovestibular.com.br/articles/415/1/DOM-CASMURRO---Machado-de-Assis--
Resumo/Paacutegina1.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Dom_Casmurro

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