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José Paulo Toledo

Arriba, Abajo, Al Centro y Adentro?


Estudo Comparativo de Centralização e Fragmentação Política do caso Argentino,
Chileno e Venezuelano no Século XIX

São Carlos

2020
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS

CIÊNCIAS SOCIAIS

JOSÉ PAULO TOLEDO

Arriba, Abajo, Al Centro y Adentro?


Estudo Comparativo de Centralização e Fragmentação Política do caso Argentino,
Chileno e Venezuelano no Século XIX

Monografia apresentada ao Curso de Ciências


Sociais da Universidade Federal de São Carlos
para obtenção do título de Bacharel em
Ciências Sociais.

Orientação: Profa. Dra. Vera Alves Cepêda


TOLEDO, José Paulo. Arriba, Abajo, Al Centro y Adentro? Estudo Comparativo de
Centralização e Fragmentação Política do caso Argentino, Chileno e Venezuelano no Século
XIX. / José Paulo Toledo, 2020.

Monografia de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade Federal de São Carlos,


Campus São Carlos, São Carlos. Orientadora: Dra. Vera Alves Cepêda.
São Carlos

2020

FOLHA DE APROVAÇÃO

José Paulo Toledo

Arriba, Abajo, Al Centro y Adentro?


Estudo Comparativo de Centralização e Fragmentação Política do caso Argentino, Chileno e
Venezuelano no Século XIX

Monografia apresentada ao Curso de Ciências


Sociais para obtenção do título de Bacharel em
Ciências Sociais. São Carlos, ____ de________
de 2020.

Orientador(a)

______________________________________

Dra. Vera Alves Cepêda

Universidade Federal de São Carlos

Examinador(a)

______________________________________

Dr. Joelson Gonçalves de Carvalho

Universidade Federal de São Carlos


Fiat justitia, et pereat mundus.
AGRADECIMENTOS

Com este trabalho fecho um ciclo tão importante quanto conturbado de minha vida.
Não houve momento de facilidade ou brecha para descanso; raras foram minhas alegrias e
poucos os alentos que recebi. A entrega deste trabalho e o término deste curso, antes de
mais nada, me são expressões de que, assim como meus ancestrais, posso me orgulhar por
um traço se destacar em mim até este ponto de minha existência: força.

Agradeço primeiramente a Profa. Dra. Vera Alves Cepêda por tanto tempo de
orientação, investimento e confiança em minha capacidade, além da possibilidade de tanto
aprender em todo momento em que estive em sua presença; como dito por um pensador de
outrora, “se eu vi mais longe foi por estar nos ombros de gigantes”.

Agradeço também a todos colegas das Ciências Sociais com quem tive o prazer de
dividir ideias, planos e ações: Engel Rodrigues de Lima, Henrique Almeida Forini, Felipe
Duran Souza, com quem dividi tetos consagrados pela amizade e expectativas no futuro;
Gabriel Lino e Nayara Demari, seres humanos de uma qualidade impossível de classificar
que me presentearam com a chance de ser um homem e intelectual melhor do que seria
sem suas participações em minha trajetória; a todos com quem pude dialogar e me
permitiram a honra de partilhar da sabedoria de sua experiência de vida.

Por último e com toda certeza maior importância, agradeço com todo fio de
consciência e cada molécula que forma meu corpo, minha família: Lucas Czapsky Nunes
Theco: não sei o que há antes da existência, mas com certeza viemos do mesmo lugar e
nossos laços não são menores do que aqueles entre irmãos. Sônia Nunes, a mãe de meu
irmão, e mãe um pouco minha também: obrigado. Sem vocês não sei o que seria de mim.
Aos meus pais por sacrificarem o mais sagrado de seus poderes para que hoje eu pudesse
estar aqui, e aos quais honrarei chegando ainda muito mais longe; prometo não permitir
que tal sacrifício seja em vão. Paulo Joaquim de Toledo, não há dia em que não me lembre
do gigante carinhoso que me recebeu nesse mundo. Símbolo de uma força calma e
inteligência autodidata como pouco se veem nesse mundo; sua presença aos olhos de seu
filho é imortal. Luzinete Maria de Toledo, que me ensinou que a maior das lutas é a nossa
com o mundo, e cuja tenacidade e resiliência não conhecem limites: eu te amo. Bianca
Maria de Toledo, cuja beleza e sagacidade não possuem paralelos, personificação de uma
promessa de felicidade a este mundo que tanto parece estar posto contra nós. Amo vocês.
RESUMO

A América do Sul foi colonizada majoritariamente por Espanha e Portugal em duas grandes
faixas de ocupação contínuas que vieram posteriormente a se libertar, e enquanto a América
Lusitana tornou-se um só Estado-nação, o Brasil, a América Hispânica, que foi composta por
três Vice-Reinos e duas Capitanias Gerais, fragmentou-se em 10 Estados diferentes. Isso
ocorre no século XIX em meio à ascensão dos ideais iluministas na Europa e da
independência estadunidense ao norte, experiências que pautaram as ações de inúmeros atores
políticos que pensaram tanto o processo de independência nacional quanto qual é a nação e
como deve ser a organização interna dela. No decorrer destes processos, aparece uma
tendência intensa ao conflito entre projetos que centralizam os poderes no executivo a nível
nacional e projetos que privilegiam a administração nacional por meio da união de suas
partes, e em cada um dos países selecionados para este trabalho essa dinâmica se dá de uma
forma específica, de acordo com a forma como suas elites estavam dispostas politicamente,
economicamente e geograficamente. Este trabalho analisa estes processos desde as lutas
independentistas até a sedimentação de três Estados-nacionais hispano-americanos até o final
do século XIX, privilegiando tanto a perspectiva nacional quanto regional nas relações entre
os Estados-nação ibero-americanos.

Palavras-chave: América Latina; América Hispânica; Estado-nação; Centralização;


Federalização.
ABSTRACT

South America was majorly colonized by Spain and Portugal in two huge continual territories
that would afterwards free themselves, and while Luso America became Brazil, a single
nation-state, Spanish America, which was composed by three Vice-Kingdoms and Two
Captaincy Generals, which would then fragment themselves in ten different countries. This
happens in the XIXth century amid the ascention of illuminist ideals in Europe and the United
States of America independence won on the north, those experiences being the model by
which many political actors would be a part of the independence wars and think what is their
nation and how it should be internally organized. Amidst such processes, a strong tendency
towards conflict by projects that are favorable to the centralization of the national political
power and others favorable to its pulverization amongst the countries parts, which would
result in the country being governed by the sum of its parts, and in each one of the selected
countries this dynamic will show itself in different ways, according to the way its elites were
politically, economically and geographically disposed. This paper analyse such processes
from the independence wars until the consolidation of the three hispanic-american nation-
states until the end of XIXth century, focusing on both the internal national perspectives and
the regional one in the relations between the iberic-american nation-states.

Keywords: Latin America; Hispanic America; Nation-state; Centralization; Federalization.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mapa da América do Sul em 1808..........................................................15

Figura 2 – Mapa da América do Sul em 1830...........................................................20

Figura 3 – Mapa da América do Sul em 1910............................................................47


SUMÁRIO

1. Introdução.................................................................................................................11

2. Matrizes do Colonialismo Europeu na América ...................................................13

3. Projeto de Integração Bolivariano...........................................................................15

4. Desintegração Regional Acelerada...........................................................................25


4.1 – Argentina.................................................................................................25
4.2 – Chile........................................................................................................31
4.3 – Venezuela................................................................................................41

5. Conclusão.......................................................................................................................48

6. Referências.....................................................................................................................52
1. Introdução

A história da América Espanhola após os períodos de independência, dentre tantas


outras chaves, pode ser entendida através de uma constante tensão entre a intensificação de
processos de unificação e fragmentação em momentos onde um bloco histórico termina e
outro se inicia: o Ciclo Confederativo da América Hispânica imediatamente seguinte aos
processos independentistas, as lutas nacionais intestinas entre atores que lutam por autonomia
local em oposição a esforços centralizadores de nível nacional e o princípio de uma
estabilização política, econômica e territorial no final do século XIX serão nossos pontos de
referência para explicitar e exemplificar tal dinâmica, evidenciando tanto a longa duração do
combate entre projetos de Estado centralizadores e federalistas quanto o fato de que tal
conflito existe desde o momento de fundação das nações independentes hispano-americanas,
sendo parte constitutiva de seus Estados-nação uma dinâmica de instabilidade dos regimes.
Esta monografia pode ser dividida em quatro movimentos: os três primeiros são descritivos,
focando em descrever dinâmicas históricas que demonstram a pertinência da leitura como
feita neste trabalho; a conclusão, ao final, termina este trabalho com um esforço comparativo
seguido por uma análise teórica mais aprofundada.

No primeiro movimento deste texto é feita uma análise das diferentes matrizes
coloniais europeias nas Américas e suas características singulares, dando assim um contexto
aos casos estudados em seus processos de formação enquanto parte essencial para o
surgimento do sistema capitalista baseado na subalternidade ao expansionismo europeu, dado
essencial para entender sua posterior configuração socioeconômica e política.

Em um segundo movimento, é feita uma análise dos processos independentistas na


América Espanhola e, em seguida, como se deu o projeto regional de integração proposto por
Simón Bolívar, quais eram suas aspirações em relação a este e quais foram os termos a que se
chegou ao findar o processo, entendendo assim qual foi o referencial hispano-americano para
a centralização política maximizada por meio de uma instituição regional supranacional,
expoente do pensamento político deste período histórico.

No terceiro movimento é exposta uma análise de caso a caso dos processos de state-
building de três expoentes regionais hispano-americanos no século XIX, os quais viriam a ser
centrais na configuração política e econômica da América do Sul em suas respectivas regiões:
primeiramente o caso argentino ao sul do continente, em seguida o venezuelano ao norte e por
último o chileno, em uma posição central, mostrando como a centralização e a fragmentação
política foram tendências tanto internas destes países quanto parte fundamental do
pensamento de criação de suas políticas externas. Assim, vemos como neste período se
maximiza a fragmentação política, atingindo ela o auge de sua intensidade na história latino-
americana com as guerras territoriais e em função de interesses econômicos de elites
nacionais ou até mesmo regionais, sendo portanto o referencial de fragmentação no
pensamento político também deste período.

Ao final será feita uma síntese sobre os pontos em comum e os divergentes entre as
experiências históricas desses atores, fazendo uma exposição sobre a identidade histórica
hispano-americana a partir do pressuposto explicitado no decorrer do texto de que há uma
longuíssima tradição de disputas entre projetos centralizadores e fragmentários tanto a nível
nacional quanto regional, argumentando como é necessário pôr este dado no centro do debate
da formação política de países hispano-americanos: tanto a longa duração do embate entre
projetos de Estado centralizadores e federalistas quanto o fato de que tal conflito existe desde
o momento de fundação das nações independentes hispano-americanas permite entender que
uma parte fundamental do Estado-nação e do pensamento político baseou-se em uma
dinâmica que tem por desdobramento a instabilidade de regimes tanto por inconsistência em
instituições formais quanto pelo pensamento e cultura política que adaptavam-se à
inconsistência e tomavam-na como dado concreto para a atuação política.
2 – Matrizes do Colonialismo Europeu na América

Pode se pensar a colonização da América a partir de algumas chaves diferentes. Neste


trabalho, iniciaremos este raciocínio pelos atores que atuaram ativamente neste processo e nas
formas como o processo se deu.

Na América do Norte houve a tentativa de colonização portuguesa no início do século


XVI, mas após diversas iniciativas falhas, essa ambição cessou (M.F. PICKETT; D.W.
PICKETT, 2011, p.14). Há então uma posterior e duradoura colonização de três nações: ao
nordeste ficaram as colônias inglesas e francesas, cercadas pelo oeste e sul pelo Vice-Reino
da Nova Espanha. As ricas colônias espanholas contrastavam com as colônias francesas e
inglesas que assentaram-se em territórios sem riquezas minerais, conseguindo a Inglaterra
povoar suas terras mais intensamente do que a Espanha que sofria com escassez de mão de
obra desde o século XV (FURTADO, 2003, p.48), quando iniciou-se a invasão da América.
Além disso, a estrutura socioeconômica das colônias inglesas diferia da hispânica por seu
caráter descentralizado, sendo baseado em uma estrutura agraria em pequenas propriedades
que focavam na produção para subsistência, tendo em vista o clima semelhante ao europeu
presente em seus domínios e, portanto, impossibilidade de criar em tais terras produtos que
não poderiam ser criados em solo europeu (LAMOUNIER; COLISTETE, 2018, p.3), o que
criaria as bases para uma sociedade sem disparidades econômicas tão intensas quanto as
colônias ao sul; o destino da colônia francesa foi ser absorvida pela colônia britânica após um
fracasso econômico de tal envergadura que sua perda foi de certa forma um alívio para a
França1 como veremos mais à frente, a estrutura socioeconômica das sociedades hispânicas,
embora diferentes nos detalhes de acordo com suas trajetórias específicas por variáveis como
disponibilidade de mão de obra escrava, terras mais ou menos férteis para produção agrícola,
características demográficas e etc., tem como denominador comum a produção primária-
exportadora como eixo dinâmico de suas economias, a qual seguiria ciclos regionais que
transicionariam os eixos de poder político no continente (FURTADO, 1976, p.19).

O território que hoje chamamos de América Central foi colonizado majoritariamente


pela coroa espanhola que apossou-se de toda sua parte continental. A Inglaterra e a França
conseguiram pequenos territórios nas ilhas caribenhas, infiltrando-se em uma parte estratégica

1
Como exposto na nota de rodapé 25 de Furtado (2003), os gastos da coroa francesa com a colônia do Canadá
eram muito pesados, enquanto, por sua vez, os lucros obtidos dessa colônia nunca deram sinal de crescimento
para chegar a um nível minimamente razoável na compensação deste esforço.
do continente pela facilidade de acesso ao território espanhol e suas rotas comerciais. Para
ambos, a finalidade era econômica utilizando de potencialidades militares como meio: On
n’eut dans les débuts qu’une idée maîtresse: conquête des terres à métaux précieux ou, à
défaut, des terres donnant accès à celles-là2. Posteriormente essas ambições foram
abandonadas e estes territórios passaram a focar na produção de bens como fumo, algodão,
anil e café, além de ver a implementação da mão de obra escrava na produção (FURTADO,
2003, p.48).

Na América do Sul, houve uma contraposição entre os modelos coloniais português e


espanhol, tendo diversos indicativos para diferenciá-los de uma forma básica: as divisões
políticas territoriais espanholas já principiam com a criação de vice-reinos, posto que na luso-
América só seria conseguido com a migração da família real com a invasão napoleônica à
Portugal; a fundação de cidades na América Espanhola em contraposição ao predomínio do
rural na construção econômica e cultural da América Portuguesa; a criação da primeira
universidade 20 anos após a conquista do Peru, fomentando já a criação de uma elite
intelectual local para autonomizar a administração local mantendo ao mesmo tempo a
lealdade à coroa, enquanto a primeira universidade brasileira só aparecerá em 1808 com a
vinda da família real; a exploração que, desde o começo, focava na entrada no continente por
parte dos espanhóis enquanto, para os portugueses, por muito tempo só povoou-se o litoral
(HOLANDA, 2004, p.95). Tudo indica que, enquanto a premissa para a colonização
espanhola também fosse a expansão territorial em prol da coroa, esta não se dava predando
sobre os novos territórios, mas sim ocupando-os para criar segurança e estabilidade para que
houvesse durabilidade na ocupação e em qualquer que viesse a ser a forma de aproveitar tais
terras: tanto em Lima, joia da coroa espanhola durante o período colonial, quanto Valparaíso,
cidade portuária chilena que só viria a representar algo economicamente significativo após o
passar de algumas décadas no século XIX, tinham uma organização urbana básica e um
funcionamento político previamente definido pela coroa de formas a privilegiar a
administração local, como veremos mais a frente. A colonização portuguesa, ao contrário,
“dir-se-ia que, aqui, a colônia é simples lugar de passagem, para o governo como para os
súditos” (HOLANDA, 2004, p.98).

2
“No início, tínhamos apenas uma ideia-chave: conquistar terras com metais preciosos ou, em sua falta, terras
dando acesso a elas.” Léon Vignols apud Furtado, 2003, p.49.
3 - Projeto de Integração Bolivariano

Imagem 1: Mapa da América do Sul em 1808

Fonte: https://www.todamateria.com.br/america-espanhola/

A América do Sul, após séculos colonizada, passa por uma rearticulação nas estruturas
políticas até então presentes no continente: as invasões napoleônicas na Península Ibérica tem
pesadas consequências para um continente majoritariamente colonizado pelos dois países que
a compõem. A América Portuguesa, ou o Brasil, recebe a família real que vinha em fuga ao
país, alçando-o de Vice-Reino do Brasil para Império do Brasil, havendo então a necessidade
de desenvolver estruturas técnicas e burocráticas anteriormente desconhecidas neste solo.
Além disso, o território brasileiro sobre posse da família real não foi anteriormente fracionado
em diversos vice-reinos, o que significa que em sua enorme extensão, ele continuou sob uma
só nacionalidade. A porção sul da América Espanhola, por outro lado, havia sido dividida em
três grandes vice-reinos: o Vice-Reino de Nova Granada, equivalente ao que hoje são o
Panamá, a Colômbia, a Venezuela e o Equador; o Vice-Reino do Peru, equivalente ao Peru,
parte da Bolívia e do Equador; o Vice-Reino do Rio do Prata, equivalente a Argentina,
Paraguai, Uruguai, Bolívia e parte do Brasil, além da Capitania Geral do Chile e da
Venezuela. Com as invasões napoleônicas a partir de 1807, parte fundamental da
institucionalidade política informal construída na Espanha e trazida à América Hispânica
pelos colonos é quebrada: os pueblos (FIGUEIREDO; BRAGA, 2017) .
Como citado pelos autores3, o Reino da Espanha funcionava como uma espécie de
“federação de reinos” composta pela coroa de Castela e de Aragão. Havia uma contradição
política entre estes entes pois, enquanto a coroa de Castela obteve sucesso em centralizar no
monarca o poder decisório com baixa interferência da corte, a coroa de Aragão funcionava
com a presença constante da corte no processo decisório, limitando então o poder do monarca.
Para explicitar em que grau isso interferiu na construção do pensamento político hispânico,
cito o juramento de vassalagem do Reino de Aragão: “nós, que somos tão bons como vós,
juramos a vós, que não sois melhores que nós, que vos aceitamos como nosso rei e soberano,
contanto que observeis todas as nossas liberdades e leis; mas se assim não for, não”4.
O princípio básico que então concedia legitimidade ao poder do rei não era baseado
apenas em uma hierarquização proveniente de imposição divina, sendo também condicionado
pelo respeito do monarca de conservar e proteger os direitos de seus súditos; essa mesma
lógica se reproduzia nas relações entre os nobres e os servos a nível local. Dessa forma, os
poderes locais dos vilarejos e das cidades, os pueblos, faziam forte oposição ao absolutismo e
sua característica centralização extremada, ao ponto de que
Na luta para consolidar o absolutismo, foi contra a tradição autônoma das
cidades que a Coroa teve que se bater, saindo vitoriosa apenas quando Carlos
V, nos anos de 1520 e 1521, sufocou com o apoio dos nobres a grande
insurreição dos comuneros, um levante das cidades para manter suas
prerrogativas contra a centralização do poder. Caso único na história do
estado absolutista, a Espanha viu a peculiaridade de um rei ao lado da
nobreza lutando contra os citadinos (artesãos e burgueses, o chamado
terceiro estado) enquanto os demais processos veriam o contrário: o rei,
aliado às cidades, submetendo a aristocracia. (FIGUEIREDO; BRAGA,
2013, p. 322)

Quando Napoleão Bonaparte toma a coroa espanhola e a coloca na cabeça de seu irmão, José
Bonaparte, as colônias veem a oportunidade perfeita para desligarem-se da metrópole,
ganhando independência política e econômica não só sem estarem quebrando seus votos de
vassalagem, tendo em vista que o rei havia caído, quanto colocando estes termos em ação. A
partir de 1808, então, a América Hispânica passa a entrar em um período de mutação em sua
relação com a Espanha onde as significações serão permanentemente transformadas. Como
caracterizado por Gouvêa (1997),
o período entre 1808 e 1810, ou o ponto de mutação [...], momento no qual
se dá pela primeira vez o debate sobre a natureza da representação e da
soberania americana no interior da monarquia espanhola (Guerra, 1993: 31 e

3 Figueiredo; Braga, 2013, p. 312.


4 Apud Figueiredo; Braga, 2013, p. 322.
1994: 208). Indagações como "que nação formamos?", "qual a natureza da
relação existente entre a América e a Espanha?", "qual o significado da
soberania nacional?" e "qual o teor da propalada igualdade de direitos entre
os territórios americanos e a Espanha?" eram, enfim, questões que atestavam
o próprio contexto de desintegração do Antigo Regime: A ruptura aqui se
dava em termos da quebra da antiga relação pessoal e recíproca estabelecida
entre o súdito e o rei, definida portanto como uma relação binária. A noção
de nação enquanto uma grande família era perdida a partir do
desaparecimento da pessoa real. (p.280)

Em 1810 acontecem as três primeiras5 cristalizações dessa transformação ideológica


em solo hispano-americano: em abril na Venezuela, é proclamado o primeiro cabildo abierto
da América Espanhola6, o primeiro da região norte do continente sul-americano, onde as elites
dizem que os oficiais que ainda representavam o governo colonial agora apoiavam o reinado
do usurpador José Bonaparte, sendo então a junta administrativa independente fiel ao rei
deposto; no mês seguinte, de 18 a 25 de maio, acontece em Buenos Aires, a capital do Vice-
Reino do Rio do Prata, a Revolução de Maio, havendo a deposição do Vice-Rei e a
proclamação de um cabildo abierto7 e uma posterior junta administrativa independente;
(TARVER; FREDERICK, 2005, p.49; EASTWOOD, 2006, p.118). A partir de então outros
atores passarão a agir da mesma forma, e em consonância ao modus operandi do que foi feito
por estas duas províncias; um ótimo exemplo de tal afirmação se encontra na atuação da junta
independente proclamada na Capitania Geral do Chile em 18 de setembro de 1810, quando
uma de suas primeiras ações foi avisar tal feito à junta de governo de Buenos Aires
(MEDINA. 1960, p.121; COLLIER; SATER, 2004, p. 33).
Passadas as lutas de independência, tornava-se cada vez mais imprescindível a
manutenção desse status frente aos desejos colonialistas espanhóis, tendo em vista que desde
1812, com a campanha francesa em território russo sendo um revés decisivo, o declínio do
Império Francês sob Napoleão Bonaparte atinge seu auge e leva enfim à deposição do um dia
imperador com a Batalha de Waterloo em 1815 (AMAN, 1978), sendo devolvidas as coroas

5 É interessante notar que se inicia a característica polarização de projetos entre províncias do sul e do norte da
América Hispânica aqui, quando os dois primeiros polos políticos de vanguarda surgem quase
concomitantemente em eixos geograficamente opostos. Aprofundaremos esta discussão mais a frente.
6 Este fato ficou posteriormente conhecido como o Incidente de la Casa del Florero, onde criollos depuseram o
Vice-Rei e redigiram sua primeira carta de independência da Colômbia. Para mais informações, visite
<https://www.colombia.com/colombia-info/historia-de-colombia/independencia-y-republica/independencia/>.
7 Os cabildos eram juntas administrativas municipais que eram preenchidos somente por membros das elites
locais. A proclamação de um cabildo abierto significava que, se não todos os cidadãos que habitavam na área
administrativa daquele cabildo poderiam opinar sobre pautas de bem comum, pelo menos uma expansão do
espaço que antes era ocupado apenas por membros das elites locais acontece. (FIGUEIREDO; BRAGA, 2017;
GOUVÊA,1997; MOORE, 1942).
às famílias reais que foram anteriormente expulsas de seus tronos. Ao retornar ao trono, a
família real espanhola vê que os territórios que foram anteriormente suas colônias não mais o
eram, e não desejavam voltar a sê-lo.
A Espanha então, apoiada pela Santa Aliança, uma aliança no período imediato após a
queda de Napoleão composta pela Rússia, Prússia e Áustria com a finalidade de sufocar os
movimentos republicanos e antimonárquicos que apareciam tanto nas colônias quanto na
Europa, reivindica o retorno da América Espanhola à condição de colônia e ameaça uma
resposta negativa com guerra de recolonização. Além disso, as Repúblicas Hispano-
Americanas temiam a única monarquia do continente: o Império do Brasil. Havia temores de
que, sendo também uma monarquia, este tenderia a aliar-se também à Santa Aliança e
combater a recém-obtida independência. Tal fato precisou ser diplomaticamente trabalhado
pelo Brasil; já combatendo na região do prata há muitos anos e sentindo o desgaste causado
pela questão platina e as constantes ameaças separatistas regionais, a última coisa que o Brasil
poderia querer seria tanto que, por medo, seus vizinhos atacassem seu território, quanto que
por este mesmo motivo somado ao movimento antimonárquico, antiescravista e liberal, um
pensamento antibrasileiro se apresentasse como eixo fundamental de uma política necessária
entre os hispano-americanos, e em um movimento unificado e liderado pelos argentinos uma
guerra entre hispano-americanos e brasileiros viesse a ocorrer (MARCELO, 2013; 2015);
momentos como o Incidente de Chiquitos8 foram de extrema tensão exatamente por aumentar
a pressão geopolítica regional, dando a entender que o Império Brasileiro teria realmente um
ideal expansionista e, portanto, ameaçador.
Entretanto, ao mesmo tempo, “Sua mãe [referente a Dom Pedro I] Carlota Joaquina
era irmã do rei espanhol, Fernando VII contra quem repugnava Bolívar. Sua primeira esposa,
a inteligente Leopoldina de Hamburgo, era filha de Francisco I, imperados da Áustria”

8 “O incidente da província boliviana de Chiquitos, ocorrido entre abril e maio de 1825, serviu para aflorar estes
medos e quase provocou a formação de uma liga antibrasileira. Desejando resistir às tropas revolucionárias de
Antonio José de Sucre e manter-se fiel à coroa espanhola, o governador Sebastião Ramos pediu proteção ao
governo de Mato Grosso que, sem consultar a corte no Rio de Janeiro, anexou aquela província ao seu território
(SECHINGER, 1976, p.232-276). Tal ato foi encarado como uma tentativa de expansionismo brasileiro sobre os
governos republicanos e o general Sucre logo tratou de organizar uma força contra-revolucionária para não só
vingar aquela anexação mas "entrar em Mato Grosso e revolucionar todo o país, proclamando a liberdade, os
princípios republicanos e democráticos", pois considerava aquela atitude "a mais escandalosa violação do direito
internacional e do direito das gentes, que não podemos suportar com tranquilidade” (SECHINGER, 1976,
p.243). Sucre ainda buscou o apoio de Simon Bolívar – que o recomendou agir com cautela – e das províncias
unidas argentinas pois sabia dos interesses das mesmas sobre a Cisplatina, ocupada pelo governo brasileiro.
Sechinger sustenta que a formação da liga antibrasileira só não foi para frente pelo fato de as autoridades de
Mato Grosso terem voltado atrás da anexação antes mesmo da desautorização de D. Pedro I e pela falta de apoio
do primeiro-ministro inglês George Canning e do vice-presidente da GrãColômbia Francisco de Paula
Santander.” (MARCELO, 2015, p.3)
(ASSIS, SARTI, ZWERTES, 2015, p. 9). Sendo assim, o Império do Brasil decidiu não
pender para nenhum dos lados: reconheceu a independência de seus vizinhos e a legitimidade
de iniciativas integracionistas hispano-americanas, mas sem dar apoio direto a nenhuma delas,
mantendo boas relações tanto com a Espanha quanto com a América Espanhola.
Neste contexto, em 1826, Simón Bolívar sendo presidente tanto da Grã-Colômbia
quanto do Peru, convoca as outras nações da América Espanhola a participar de um congresso
que tomaria lugar no Panamá – na época parte da Grã-Colômbia. A proposta deste congresso
que viria a ser conhecido como o Congresso Anfictiônico do Panamá, era discutir uma
unificação latino-americana9 para que houvesse uma defesa consolidada contra agressões
recolonizadoras, sendo abertamente, então, influenciado pelos gregos; os exemplos mais
famosos de ligas anfictiônicas criadas pelos gregos foram a Liga de Delos e a Liga do
Peloponeso. Como dito por Assis, Sarti e Zeirtes (2015),
A fonte mais importante para a política bolivariana foi a influencia das
antigas cidades-Estado da Grécia, da qual deriva o termo ‘liga anfitiônica’ –
que se refere ao termo ‘anfictiões’, nome dado a cada um dos Estados
confederados da Grécia antiga – o qual Bolívar utilizou para se referir à
Conferência do Panamá. (p.12)

Além dos países presididos por Bolívar, foram chamados como participantes o
México, a República Centro-Americana, hoje equivalente à Guatemala, Honduras, Costa
Rica, Nicarágua e El Salvador, o Chile e o já citado Rio do Prata. Além destes, foram
chamados os Estados Unidos da América, a Grã-Bretanha, o Brasil e os Países Baixos como
observadores. De todos os chamados, apenas a Grã-Colômbia, o Peru, o México e a República
Centro-Americana compareceram, enquanto dos observadores apenas a Grã-Bretanha e os
Países Baixos compareceram.
Propunha-se que este congresso fosse composto por ministros plenipotenciários
enviados por cada um dos países participantes, sendo a proposta original de Bolívar a
integração regional federativa por meio de um órgão supranacional permanente com poderes
para arbitrar conflitos regionais com representação em uma assembleia regional de
plenipotenciários, a unificação das forças armadas permanentes nacionais em forças armadas

9 É importante desmistificar o projeto bolivariano como algo a frente do seu tempo ou próprio do gênio
individual do agente; conquanto Bolívar tenha sido o primeiro agente a ter sucesso em pautar em larga escala o
debate sobre a unificação da Hispano-América, diversos contemporâneos dele como Francisco de Miranda,
influência direta de Bolívar nos combates pela Primeira República Venezuelana; José Cecíllio del Vale, líder da
República Centro-Americana propôs também a confederação destes Estados; mesmo dentro do aparato estatal
brasileiro, Silvestre Ferreira Pinheiro, Ministro de Negócios Estrangeiros e Guerra de Dom João VI propunha
este curso de ação. Demonstra-se , assim, que a unificação latino-americana era uma ideia difusa entre diversos
agentes de diversas posições sociais diferentes, tanto na América Espanhola quanto lusófona. (FIGUEIREDO;
BRAGA, 2017, p.310; GRANDE, 2018, p. 408).
permanentes regionais, pertencentes então não mais aos Estados-nação e sim ao órgão
supranacional, a definição das fronteiras nacionais de acordo com o uti possidetis levantado
em 1810 e a criação de tratados comerciais. Esse projeto, entretanto, tem duas frentes a se
abordar para ser compreendido integralmente, estando uma ligada ao passado e outra ao
futuro.

Imagem 2: Mapa da América do Sul em 1830

Fonte: http://www.megatimes.com.br/2012/02/independencia-da-america-espanhola.html

Quanto ao passado, o projeto bolivariano inspirou-se, como já citado anteriormente,


nas ligas anfictiônicas gregas. Mas se a inspiração grega trazia consigo um valor ligado à
moral, criando “um compromisso entre ‘o amor à independência das cidades-Estado e a
necessidade de se proteger como ‘um corpo poderoso e respeitado’” (GRANDE, 2018,
p.397), por outro, “o projeto de Bolívar se apropriava da estrutura política do Império
Espanhol – ‘uma federação de reinos’” (FIGUEIREDO; BRAGA, 2017, p.312). A estrutura
institucional proposta por Bolívar era centralizadora, assim como o sistema colonial onde o
poder se concentra na metrópole. Essa foi uma das bases do conflito com o projeto
bolivariano durante o congresso.
Sobre o futuro, há de se deixar claro que esta federação latino-americana não possui
uma finalidade defensiva; está ligada à defesa conjunturalmente, só e somente devido ao
momento de atividade de uma reação imperialista. Em moldes extremamente parecidos com o
Destino Manifesto estadunidense, Bolívar propunha um projeto expansionista baseado em
uma premissa de levar ao mundo todo as liberdades presentes no sistema liberal republicano,
fazendo com que, eventualmente, todos os países do mundo fizessem parte de uma grande
federação. Portanto, se a princípio essa federação era “um sistema de garantias capaz de
proteger as repúblicas hispano-americanas de agressões externas e das ameaças internas à sua
estabilidade institucional: un escudo de nuestro novo destino10” (FIGUEIREDO; BRAGA,
2017, p.312), posteriormente ela viria a ser o instrumento para a execução de um projeto

Mais que local, trata-se de um projeto universalista. Bolívar não deseja


apenas uma organização internacional para a Hispano-América
independente, vislumbrando já um arranjo semelhante que unificaria toda a
Terra baixo sua jurisdição. Combatendo por independência e por instituições
republicanas, os americanos teriam a tarefa histórica de derrotar o
conservadorismo – reorganizado sob a Santa Aliança – e restabelecer o
“equilíbrio do mundo”. Com isso, essa entidade política de vocação
universal incorporaria cada vez mais estados. Nas palavras de Bolívar, “en la
marcha de los siglos podría encontrarse, quizá, una sola nación cubriendo
al universo, la federal”. (FIGUEIREDO; BRAGA, 2017, p.313)

Resumidamente, o projeto ao redor desta federação seria criar uma “América integrada, forte
para ser livre e livre para propagar a liberdade, cumpriria sua missão de reequilibrar o mundo
e redistribuir o poder que então se concentrava na Europa” (FIGUEIREDO; BRAGA, 2017,
p.312). A partir desta perspectiva de futuro, fica claro o porquê, entre todas as lideranças
latino-americanas, Bolívar era abertamente receoso quanto ao expansionismo estadunidense,
prevendo um conflito de interesses e eventual risco de dominação imperialista.
Esses dois eixos deste projeto se provaram contraproducentes quando postos frente ao
objetivo de ganhar apoio das neófitas nações vizinhas; primeiramente, as revoluções
independentistas foram feitas em contraposição à combinação de centralização extremada
com ilegitimidade do poder central. Fazendo o paralelo, a proposta bolivariana não era outra
coisa que não a centralização administrativa da região, limitando a autonomia dos Estados-
nação que compusessem a federação e os interesses de suas elites locais. Vinha desde a
Espanha um processo histórico que condicionava a legitimidade política à capacidade do
chefe de Estado de respeitar os governados e garantir a manutenção de seus direitos. Os
pueblos foram uma formidável força política durante os processos de independência, e ao
derrotarem a metrópole nas guerras de libertação não estavam dispostos a se desfazerem do
recém conquistado poder (FIGUEIREDO; BRAGA, 2017). Além disso, após a libertação, as
elites locais que anteriormente estavam sufocadas pelo domínio colonial buscavam não

10 Grifo do texto original.


libertar o resto do mundo em um projeto expansionista liderado por Bolívar e a Grã-
Colômbia, temendo ainda um protagonismo forçado por parte deste Estado que então
destacava-se pelo poderio proporcionado pela riqueza do território e numerosa população,
como já haviam assentado que a motivação de suas ações seria pautada pelo benefício local.
Imbuídos de sua missão libertadora, parte das elites instaurou modelos
político-institucionais cujas bases se assentavam no republicanismo e no
constitucionalismo, mas também na centralização das instituições de Estado
e no militarismo. A perseguição aos antigos representantes da metrópole e a
disposição beligerante dessas forças [bolivarianas] ampliou a resistência dos
grupos locais que se sentiam cada vez mais alijados do poder. (GRANDE,
2018, p. 407)

Seja por um nacionalismo recém-descoberto pelas populações latino-americanas, seja por um


regionalismo econômico egoístico das elites, a centralização do projeto era vista como
indesejável. A argumentação substanciada até aqui nos mostra que
“En oposición a una ideia común de los historiadores, esto sugere que el
Congresso del Panamá no fue utópico ni prematuro, sino que llegó
tardiamente, em momentos em que la complexidad y los costos de reverter el
sentido centrífugo de las fuerzas em pugna eram muy elevados” ( REZA,
2012, p.21 Apud GRANDE, 2018, p.404).

Ao findar o congresso, Bolívar se vê derrotado em duas frentes: primeiramente, duas


das maiores potências hispano-americanas, o Chile e a Argentina, negaram o convite e não
compareceram à assembleia, passando tanto a mensagem de que não havia sequer uma
possibilidade de discutir se unificar a uma organização supranacional quanto uma possível
submissão a Bolívar e o eixo norte da América do Sul, deixando clara a polarização
continental entre Argentina, Grã-Colômbia e Brasil. E um dos países que compareceu, o Peru,
foi abertamente hostil à iniciativa;
Em 2 de março, Manuel Vidaurre, Ministro das Relações Exteriores do Peru
ordena ao representante de seu país na assembleia que abandone o congresso
e retorne imediatamente ao seu país. Com essa medida, Vidaurre declarou
abertamente sua oposição a Bolívar, além de liderar parte das tropas
peruanas na ocupação da Colômbia em 1829. (GRANDE, 2018, p. 406)

Dessa forma, o projeto de integração regional latino-americano por meio de uma


organização supranacional permanente deixa de ser realidade e é aprovada uma organização
intergovernamental esporádica, impossibilitando também a arbitragem de conflitos regionais;
a proposta de criação de um exército permanente hispano-americano é diluída para a criação
de um exército regional temporário, até o reconhecimento das independências por parte da
Espanha acontecer e, portanto, cessar o maior perigo de ataque estrangeiro a qualquer um dos
países; o estabelecimento de fronteiras é protelado e nenhum tratado comercial é fechado.
Portanto, é possível concluir que havia certa unidade ideológica que orbitava os ideais liberais
republicanos e se interligavam por meio da luta anticolonial, mas uma intensa fragmentação
política impedia que laços mais profundos e duráveis unissem estes países em um só projeto.
“O projeto de Bolívar fracassara e ele próprio o lamenta afirmando que o Congresso do
Panamá ‘no es otra cosa que aquel loco griego que pretendía dirigir desde una roca los buques
que navegaban. Su poder será una sombra y sus decretos consejos. Nada más.”
(FIGUEIREDO; BRAGA, 2017, p.314).
Não bastando a derrota referente à organização do projeto, após o término do
Congresso Anfictiônico do Panamá, no ano seguinte há uma reunião para um segundo
congresso, dessa vez em Tacubaya, no México, onde não se aprofundaram os debates nem se
apresentaram novidades. Apenas a Grã-Colômbia ratificou as deliberações tiradas das
discussões;
Não foram poucas as tentativas dos conferencistas e dos presidentes das
nações, principalmente Guadalupe Victoria do México, para que as casas
legislativas de seus países ratificassem os acordos. Victoria chegou a
suplicar aos congressistas mexicanos que concluíssem os debates com vistas
a aprovação dos tratados. Contudo, desde a instalação da assembleia em
Tacubaya em 1827, era notório o desprezo da maior parte dos deputados e
senadores mexicanos pelo movimento de união e liga das nações. Os
ministros plenipotenciários Pedro Gual e Antonio Larrazábal, relataram na
última reunião da assembleia plenipotenciária de Tacubaya, em 9 de outubro
de 1827, que ambos estavam convencidos, após o fracasso das ratificações
dos tratados nas casas legislativas daquele país, que o México, de fato, nunca
teve interesse nas negociações em trânsito, nem tão pouco na formação de
uma confederação de países latino-americanos, com exceção de seu
presidente, Guadalupe Vitória (REZA, 2012, p. 127-128). (GRANDE, 2018,
p.407)

As condições conjunturais não “sopravam ventos em popa” para o progresso da


iniciativa bolivariana por questões endógenas, mas havia também as questões exógenas: os
Estados Unidos da América vinham de um período de expansionismo tanto territorial quanto
de influência geopolítica. Quando souberam do que exatamente foi proposto no congresso de
1826, fizeram questão de enviar observadores ao congresso de 1827 para prejudicar o
andamento das sessões; uma Liga Federativa Hispano-Americana conflitava com o projeto
estadunidense baseado na Doutrina Monroe, ou “a América para americanos”. Os Estados
Unidos desejavam projetar-se como potência hegemônica do continente americano de norte a
sul, mas para isso precisavam da fragilidade regional latino-americana, ou então não haveria
quem ser protegido e, portanto, dependente (GRANDE, 2018, p.407).
Dessa forma, terminam as negociações pela construção de uma Federação Hispano-
Americana com um total e completo fracasso em seu tempo presente, embora tal iniciativa
tenha sido posteriormente uma consolidada base para a construção de tratados internacionais.
Em 1928, como já citado, o Peru invade a Grã-Colômbia e inicia um conflito que vai causar a
dissolução deste país no que hoje conhecemos como Equador, Colômbia, Venezuela e
Panamá, e em 1930, sob circunstâncias dúbias (LUDWIG, 1943), morre Simón Bolívar que,
ainda em vida, assistiu o início da desintegração acelerada da América Latina; neste período,
com a dissolução da Grã-Colômbia e a independência panamenha, a fronteira entre o Panamá
e a Colômbia passa a ser o marco geográfico da separação entre América do Sul e América
Central (ROCHA, 2018).
4 – Século XIX: Desintegração Regional Acelerada

A invasão da Grã-Colômbia pelo Peru foi a última pá de terra jogada sobre a sepultura
da integração regional a nível supranacional como propôs Bolívar. A partir deste momento, as
relações tanto em nível regional quanto nacional na América do Sul passarão a seguir uma
lógica hobbesiana no sentido de que se o homem é o lobo do homem, então todo o curso de
ação dos atores envolvidos nestas relações buscará dominar os outros ou resistir à dominação
dos outros sobre si. Como base para esta discussão, utilizo as experiências políticas
I – argentinas, II – venezuelanas e III – chilenas, sendo estes países as principais potencias
regionais hispano-americanos durante este período e projetarão suas iniciativas geopolíticas
sobre seus vizinhos sul-americanas. Combinarei elas então à hipótese condutora utilizada
nesta monografia: existe um conflito histórico entre projetos centralizadores e fragmentários
no pensamento e na vida política dos países hispano-americanos, sendo essa tendência uma
força presente também na regência das relações regionais dentre esses mesmos países e seus
demais vizinhos.

4.1 – Argentina

A história política argentina nos primeiros cinquenta anos do período após a


proclamação da Junta de Buenos Aires centra-se no conflito entre elites com aspirações
políticas centralizadoras dos centros econômicos contra as elites de aspirações federalistas dos
caudilhos provincianos11 (ROJAS, 2003, p.21); enquanto os caudilhos eram parte de uma
estrutura produtiva colonial primário-exportadora e sua potencialidade girava no entorno da
venda de commodities bovinos12, os comerciantes tinham uma potencialidade dupla fazendo a
recepção da produção agrícola e repassando-a ao mercado internacional, enquanto ao mesmo
tempo importava deste mesmo mercado bens europeus para abastecer o mercado interno
(WASSERMAN, 2003, p. 189). Mesmo assim, essa dinâmica era positiva às duas elites, pois
forçou a expansão da fronteira agrícola, por um lado, e aumentou cada vez mais a produção e

11 Existiram diversos outros conflitos internos como os conflitos com populações nativas, por exemplo.
Entretanto, tais conflitos não foram centrais na formulação institucional do Estado argentino quando postos
frente aos conflitos entre elites políticas e econômicas.
12 “La plata de Bolivia, los cueros y la carne salada —tasajo, consumido sobre todo por los esclavos de las
plantaciones de azúcar de Brasil y Cuba— eran las exportaciones dominantes.” (ROJAS, 2003, p. 21)
a integração econômica nacional aos mercados internacionais, de outro (J.C. BROWN, 2010,
p.103).

Entretanto, a elite comercial urbana de Buenos Aires, dizendo-se politicamente


legítima para decidir pela totalidade da nação, cria controles sobre a negociação dos produtos
provincianos deliberando que toda exportação à Europa deveria necessariamente passar pelo
porto de Buenos Aires. Para os caudilhos provincianos, isto se assemelhava bastante ao
domínio colonial espanhol; mesmo entre a elite urbana havia um caos intenso: a maior parte
dos políticos tentavam ganhar poder por meio de golpes uns nos outros, e os governos não
apoiavam-se na constituição, mas antes em poderes extralegais baseados em Estado de
Emergência (J.C. BROWN, 2010, p. 104).

Em 1820, entretanto, há uma primeira vitória das forças provincianas, que impõem
então o projeto federalista descentralizado que propicia o domínio dos poderes locais; pauta-
se a criação de barreiras alfandegárias contra produtos manufaturados estrangeiros que eram
produzidos também em solo nacional, beneficiando a empresa argentina, e na porção
litorânea, pauta-se a quebra do monopólio de Buenos Aires como único porto que lucra com
taxação aduaneira (WASSERMAN, 2003). Entretanto, a elite urbana lutou contra tais
esforços de volta, criando um período de guerras civis, golpes e instabilidade política
generalizada. Isso causou um caos social extremo. Como diz J.C. Brown (2010),

No one escaped the repercussions of revolution and civil war in the Río de la
Plata. The military impressment recruited hundreds of young men of the
popular classes in the cities and countryside. Deserters turned to banditry,
preying on cattle herds and plaguing the commercial routes, or they went to
live among the Indians. Gaucho armies laid siege to Montevideo and
invaded Paraguay and Bolivia. Once the loyalist forces retreated, armed
factions turned on one another as patriot politicians sought advantage. Long
subject to Hispanic incursion, the Pampas Indians took advantage of the
confusion and raided rural settlements and cart trains. Merchants had to pay
forced loans and extraordinary taxes, landowners lost cattle, rural women
were kidnapped by Indians, and urban women saw their men taken into the
militias. (p.106)

Esse cenário viria a mudar somente em 1826, quando Juan Manuel de Rosas, militar
provincial portenho de inclinação federalista, toma o poder e descentraliza novamente a
política argentina em um período de fortalecimento da elite provinciana, com a expansão da
fronteira agrícola ao sul de Buenos Aires por meio da expulsão, assimilação ou destruição de
populações indígenas, conseguindo terras férteis para plantação e criação de gado. Neste
mesmo movimento, fortalece a concentração fundiária argentina por meio da venda e até
mesmo doação de enormes porções de terras aos caudilhos provincianos (LYNCH, 1993, p.4).
Entretanto, seu governo era extremamente repressivo, despolitizando até mesmo populações
favoráveis ao regime, e vinha criando tensões regionais: devido a disputas por regulações
relativas a navegação fluvial em rios compartilhados, políticas econômicas que enfatizavam o
desenvolvimento do mercado e das forças produtivas argentinas em detrimento da importação
de produtos, vendo a potência regional concorrente crescer demais, em 1851 o Brasil decide
investir-se na derrocada do governo de Rosas.
Unido ao Uruguai, recém-atacado por ordens de Rosas, e tendo como homem de frente
do movimento Justo José Urquiza, caudilho da província de Entre Rios, militar de inclinação
centralizadora, conseguem derrotar Rosas e tomar o poder; embora isso não estivesse claro
para os atores então, essa união seria um ensaio da Tríplice Aliança que, posteriormente, se
uniria para a Guerra do Paraguai. Entretanto, a província de Buenos Aires não admite um
Estado centralizado e declara-se uma república independente em 1853. Neste período,
Urquiza fecha tratados de auxílio mútuo com o Brasil, abre a navegação fluvial e recebe
diversas levas de imigrantes de todo o mundo, integrando-se fortemente no mercado
internacional para competir com a potência econômica de Buenos Aires, objetivo que nunca
foi atingido.
Só em 1860 a Federação Argentina retoma coercitivamente a província, e já em 1861
precisa reafirmar tal domínio por conta de resistências ao cumprimento do acordo de
reintegração; embora as forças de Urquiza tenham vencido, sua obtenção não foi mais do que
uma vitória pírrica que expôs o quanto suas forças estavam gastas (LYNCH, 1993, p.40). A
imagem de Urquiza é desgastada durante estes processos e uma possível terceira revolta de
Buenos Aires poderia não ser debelada com facilidade, dadas estas condições. Então, para
pacificar as elites, Urquiza renuncia a presidência em 1862, sendo ela assumida então por
Bartolomeu Mitre, que fora previamente presidente da República de Buenos Aires, e resolveu
a questão entre centralização e fragmentação realizando reformas políticas e econômicas,
centralizando parte do poder político nacional e controlando Buenos Aires de perto, sendo
esta a nova capital argentina, mas dando em troca às elites da província fortes impulsos na
obtenção de grandes bonificações econômicas, e preservando parte da autonomia política das
outras elites provinciais enquanto bonificava-as também, embora com parte substancialmente
menor da renda nacional, quando em relação à recebida por Buenos Aires 13; a resolução então

13 “Mitre concordou em dividir os direitos alfandegários com as demais províncias através de um


cálculo que era relacionado com a densidade demográfica e a produtividade, o que ainda permitia à
pendeu para a aplicação da organização política federalista, embora negociada para não haver
um executivo central esvaziado (WASSERMAN, 2003).
No momento seguinte, após a unificação nacional argentina e o que parecia um
período de estabilidade política e social, a argentina passa a mirar sua influência regional; se a
Banda Oriental foi dada como território perdido pelos argentinos após sua independência, não
deixou de ser vista como uma área de influência pela mesma; para estabilizar a situação
política uruguaia, em 1863 o governo argentino juntamente ao governo brasileiro apoia
Venancio Flores, um caudilho insurgente uruguaio, no que ficou conhecido como a Guerra do
Uruguai. Da mesma forma, apesar de reconhecer a independência paraguaia, não era possível
deixar intacto aquele templo a um sistema político centralizado que poderia vir a ser uma
fonte de inspiração ou um modelo para caudilhos que tendessem à centralização política.
Neste momento, tanto o Brasil quanto a Argentina já tinham ciência do futuro confronto
iminente com o Paraguai e, portanto, estavam fechando nós soltos: um Uruguai
descompromissado com as duas potências fronteiriças poderia vir a ser uma carta na manga
de um Paraguai que tendia a se consolidar como uma forte potência regional. Em 1864
próximo ao fim da Guerra do Uruguai, Soláno Lopez, então presidente do Paraguai, pede
passagem pela região das missões à Argentina para chegar ao Brasil, pois
The Paraná River remained Brazil’s fastest route of communication between
the capital of Rio de Janeiro and the interior state of Mato Grosso. In late
1864, the Paraguayans intercepted and held a Brazilian gunboat taking the
new Mato Grosso governor to his post via the Paraguay River; in response,
the political authorities in Rio de Janeiro declared war. (J.C. BROWN, 2010,
p.130)

Ao ter este pedido negado, Soláno Lopez declara guerra também à Argentina, e assim se
inicia a Guerra do Paraguai. A Guerra do Uruguai, entretanto, termina em 1865, resultando
em um governo pró-Brasil e Argentina, que alia-se aos mesmos no maior conflito armado
entre nações da história da América do Sul (LYNCH, 1993).
Enquanto retoricamente a guerra seria feita pela expansão dos valores republicanos, da
liberdade e da civilização e para fazer manutenção da segurança da navegação fluvial em rios
divididos regionalmente entre os países, na prática
The treaty of alliance contained secret clauses providing for the annexation
of disputed territory in northern Paraguay by Brazil and regions in the east
and west of Paraguay by Argentina; and the war would not cease until the

Buenos Aires um enriquecimento maior do que às demais regiões do país. Além disso, Buenos Aires
comprometeu-se a assumir as dívidas das províncias decadentes do interior como se fossem dívidas
públicas nacionais.” (WASSERMAN, 2003, p. 190)
total destruction of the Paraguayan government. Basically the allies were
determined to remove the focus of attraction which a strong Paraguay
exercised on their peripheral regions. (LYNCH, 1993, p. 45)

Ao fim da Guerra, de um lado o Paraguai que tinha uma política focada em


potencialidades nacionais, com mercado fechado e crescimento baseado em consumo interno,
teve sua população14, sua infraestrutura, seu território, suas instituições e, por fim, suas
potencialidades foram absolutamente obliteradas; mas em benefício da Grã-Bretanha15, seu
mercado foi aberto. Do outro, o esforço de guerra foi de um peso absolutamente titânico nas
economias dos países vencedores:
O Uruguai tinha feito um empréstimo que em 1864 chegava a um milhão de
libras esterlinas. Assim que terminou a guerra, em 1871, negociou o
segundo, por 3.500.000 libras esterlinas (Rippy, 1959:142). A Argentina, até
1864, continuava acumulando seu primeiro empréstimo feito em 1824, no
valor de um milhão de libras esterlinas. Mas a partir de 1865 (segundo ano
do conflito com o Paraguai) e até 1876, negociou oito empréstimos em um
total de 18.747.884 libras esterlinas (Pomer, 1968:357). O Brasil, entre 1824
e 1865, tinha acumulado empréstimos num montante de 18.138.120 libras
esterlinas; desse total apenas o de 1865 foi de um terço, ou seja, de
6.363.613. Depois da guerra, em 1871, negociou um empréstimo de três
milhões de libras esterlinas; em 1875, outro no valor de 5.301.200.
Posteriormente, entre 1883 e 1889, endividou-se com mais quatro
empréstimos num total de 37.202.900 libras esterlinas. Isso que dizer que em
18 anos (de 1871 a 1889), o Brasil conseguiu empréstimos de 45.500.000
libras esterlinas, ou seja, quase duas vezes e meia a mais que nos 47 anos
precedentes (Pomer, 1968:83 e 355). Foi essa uma das maneiras como o
capital participou nessa guerra. Através desses empréstimos, britânicos
especialmente, foi possível, em grande parte, manter os exércitos aliados.
Simultaneamente, ao Paraguai se negou a possibilidade de conseguir
qualquer empréstimo, apesar desse país ter enviado agentes especiais para
obtê-lo no Mercado Monetário de Londres (Fornos Peñalba, 1979:116-117).
(AMAYO, 1995, p.265)

Entretanto, apesar de dificuldades infraestruturais que dificultavam desde o


escoamento de mercadorias pelo sistema logístico absolutamente insuficiente como à baixa

14 “Only 230,000 citizens survived from a prewar population of more than 400,000. By war’s end, women
outnumbered men by a ratio of 14 to one.” (J.C. BROWN, 2010, p.130); “George G. Petre, ministro británico en
la Argentina, escribió que la población del Paraguay fue ‘reducida de cerca de un millón de personas bajo el
gobierno de Solano López a no más de trescientas mil, de las cuales más de las tres cuartas parte eran mujeres"
(LANATA, 2002, p.140). Embora haja disparidade numérica, o princípio do extermínio permanece consistente.
15 Há uma vertente na historiografia sul-americana que coloca como uma das principais (se não a principal)
razões explicativas da Guerra do Paraguai a interferência do imperialismo britânico na política regional sul-
americana. Neste texto, tal pensamento é representado por Enrique Amayo (1995); o autor realmente tem pontos
importantes que demonstram uma clara participação da Grã-Bretanha ao incitar a guerra. Entretanto, ao dar
primazia ao imperialismo, descarta as razões nativas já citadas e a capacidade de agência minimamente
autônoma destes países, como se fosse possível, se necessário, os agentes imperialistas obrigarem países
periféricos a entrarem em guerra. Creio, então, ser um equívoco privilegiar, neste período, a interferência
externa, embora nunca desprezando-a enquanto parte da explicação deste fato histórico.
qualidade da criação bovina e caprina (GALLO, 1995), as exportações argentinas foram
absorvidas rapidamente por mercados ávidos por matéria prima para produção de tecidos de
maneira aceleradamente crescente16;

In 1822, Argentine exports reached five million silver pesos and stayed at
this level until the 1840s, despite considerable annual variations. They then
increased, and towards the end of the period reached seven million. Another
jump in exports occurred in the period after 1860, when they reached 14
million, and a decade later, in 1870, they had increased still more, to 30
million silver pesos. (CONDE, 1995, p.48)

Em 1974, há um novo embate entre duas facções da elite buenairense que discutiam a
classificação de Buenos Aires como uma província pertencente à federação ou autônoma.
Logo, um lado tem esforço centralizador, cristalizado em Nicolás Avallaneda e no Partido
Nacionalista, criado por Mitre ao conseguir o poder em 1862, e o esforço autonomista
cristalizado em Adolfo Alsina, defendendo a manutenção de Buenos Aires como província
autônoma dentro da Federação Argentina. Em 1877, Avallaneda encontra um modo de
resolver a crise institucional por meio do diálogo em uma negociação entre as partes; a paz
produzida, porém, não seria duradoura.

Nas eleições de 1880 os argentinos polarizam-se entre apoiadores do General Julio


Roca, favorável à federalização de Buenos Aires e fortalecimento do Estado central, e Carlos
Tejedor, governador da província buenairense e favorável à condição de província autônoma.
Ao final do embate político, tomou parte uma batalha entre os lados com aproximadamente
20,000 combatentes e posteriores 2,500 mortos, e apesar da desvantagem material dada a
riqueza em poder da elite da província, Roca sai vencedor do embate e Buenos Aires passa a
fazer parte da Federação Argentina em condições semelhantes às outras províncias (GALLO,
1995). Isso ocorre com o apoio das outras províncias com um raciocínio de que, com o
enfraquecimento de Buenos Aires, o poder político seria redistribuído entre todos de forma
mais igualitária. Porém, então,

The following years witnessed the approval of a series of laws that


overwhelmingly transferred power to the central government. The city of
Buenos Aires was federalized, which partially weakened the dominant
position enjoyed by the province of Buenos Aires. The National Army was
put on a sound footing, and the provincial militias were disbanded. For the
first time a common unit of currency for the whole country was adopted.

16 Houve uma breve pausa nesse crescimento durante a severa crise de 1874-1877, rapidamente contornada.
(GALLO, 1995)
Primary education and the Civil Register (which until then had been in the
hands of the Catholic church) were made subject to the jurisdiction of the
national authorities. [...] Many supporters of Roca in the interior had
believed that the defeat of Buenos Aires would strengthen their respective
provinces […] [but] the future leader of the Radical opposition party, was
not very far from the truth when he asserted in 1880 that the future would
see the creation of a central government so strong that it would absorb 'all
the strength of the peoples and cities of the Republic' (GALLO, 1995, p.82)

Com Roca o Estado argentino consegue se consolidar. A Guerra do Paraguai e a


expansão da fronteira agrícola contra os indígenas dá um senso de urgência para que seja feita
então uma centralização política intensa (J.C. BROWN, 2010, P.136) e até então sem
paralelos na política argentina, a qual se mantém estável e com um crescimento acelerado de
em média 5% ao ano. Isto, por sua vez, auxilia na conservação do regime por algumas
décadas de crescente prosperidade e aumento exponencial nas exportações de commodities,
características que só vieram a mudar após a 1ª Guerra Mundial (GALLO,1995).

4.2 – Chile
O Chile é visto como pelos estudiosos de política latino-americana como uma exceção
frente à instabilidade dos regimes presentes nos outros países do continente no século XIX
(BLAKEMORE, 1993; COLLIER, 1993; COLLIER; SATER, 2004; WASSERMAN, 2003).
São diversos os fatores que podem ter sido relevantes para essa característica: o território
relativamente compacto, a população escassa e concentrada, um senso de hierarquia muito
bem internalizado pela maioria dos habitantes do país durante o período colonial, o
isolamento a que o país foi submetido por sua geografia, estando separado do Peru por um
deserto ao norte, Argentina por uma cordilheira ao leste e da Espanha por um continente e um
oceano, ou ainda uma combinação de todos estes fatores que favoreceu a criação de uma
nação específica em meio a tantos países maiores e mais populosos.
Vindo de um período colonial caracterizado por uma mescla entre economia
agropecuária, mineração e uma protoindústria de abastecimento interno e proclamando uma
junta de governo independente em 1810 seguindo a trilha deixada pela argentina, o Chile
passa por um processo de libertação semelhante aos seus vizinhos: há um primeiro momento
entre 1810 e 1813 onde existe um conflito entre os monarquistas, ainda leais à coroa que
esperavam ver retornar ao trono, e os independentistas, vendo a oportunidade de tomar a
política social e econômica em suas próprias mãos. Em 1813 o Vice-Rei do Peru manda
tropas ao Chile para desmanchar as rebeliões independentistas e ganha apoio das províncias
do sul chileno, criando uma guerra civil. Neste momento aparece a imagem do libertador
comum aos processos independentistas sul-americanos: enquanto ao sul estava San Martí e ao
norte estava Bolívar, no Chile há a figura libertadora de Bernardo O’Higgins.
Após as falhas de José Miguel Carreras, seu predecessor, para conter os avanços dos
monarquistas, a junta chilena vai indica-lo como comandante das forças independentistas.
Após um primeiro sucesso, entretanto, há a divisão das forças independentistas entre
O’Higgins e Carreras, desgastando suas forças que seriam em seguida atacadas por uma nova
onda de tropas peruanas e chilenas, forçando O’Higgins a exilar-se na Argentina após cruzar
as montanhas na fronteira entre os territórios. Entre 1814 e 1816 a reação monarquista em
alta, devido ao retorno do rei espanhol ao trono, destruiu o que havia sido produzido pelas
iniciativas liberais chilenas. Havia um plano para contragolpe, entretanto: as províncias do
Rio do Prata ainda se mantinham livres e fortes sob a imagem de San Martí, que planejava
libertar o Chile para usá-lo como base para um ataque marítimo ao Vice-Reinado do Peru,
chave para a libertação hispano-americana. Este movimento é iniciado em 1817, e O’Higgins
havia se tornado próximo de San Martí, comandando parte das tropas de seu exército. Em um
ataque rápido vindo pela cadeia de montanhas da fronteira, fato absolutamente surpreendente
para as tropas monarquistas, abriu-se o caminho para Santiago e após recusar assumir o
governo chileno para manter-se na luta contra o Vice-Reinado do Peru, San Martí delega esta
função à O’Higgins (COLLIER; SATER, 2004, p.35-38).
Estando em tempos de Guerra, uma de suas primeiras ações como chefe de governo
foi criar uma academia militar que, ao final de 1818, havia produzido 4,800 soldados, dando à
O’Higgins um exército maior do que o argentino que havia liberado o Chile e então, após a
notícia de um novo ataque por parte de forças peruanas, é proclamada a independência chilena
que, após derrotas contra as forças peruanas, em um último esforço que envolveu um San
Martí quase derrotado e O’Higgins lutando gravemente ferido por batalhas anteriores,
consegue uma grande vitória que aniquila as forças peruanas e consolida a independência
chilena. O esforço seguinte é a liberação peruana empreendida por San Martí com um exército
e financiamento em grande parte chileno enquanto O’Higgins administrava seu neófito país.
Daí para frente ocorre a libertação peruana, o lendário e controverso encontro entre San Martí
e Bolívar em 1822 e a expulsão espanhola da América a se finalizar por Bolívar, que assume
tal responsabilidade (COLLIER; SATER, 2004, p.38).
Após esta breve contextualização para o singular contexto chileno de construção
nacional, comecemos a entende-lo por si mesmo a partir das tensões entre centralização e
descentralização como é a proposta deste trabalho: em 1823, O’Higgins apresenta uma
proposta de constituição que, entre outros detalhes, outorgaria ao presidente um mandato de
10 anos (COLLIER; SATER, 2004, p.47). Vindo de um momento onde o traço belicista
criava uma tolerância à centralização da autoridade nacional para fazer frente a um inimigo
externo, O’Higgins via com bons olhos a centralização do poder em si para que pudesse
implementar o projeto que tinha em mente para o state-building chileno; as elites chilenas, por
outro lado, agora que hegemonicamente liberais, viram com horror essa proposição
imediatamente condenada por ser autoritária (WASSERMAN, 2003, p. 191). Em rápida
escalada,
The final blow to the regime was struck by General Ramón Freire, the
Intendant of Concepción. […] Freire’s pronunciamiento against the
“monstrous foetus” of the new constitution (November 1822) was the signal
for the northern province, Coquimbo, to follow suit. […] The inevitable
conspiracy was soon hatched in Santiago. On January 28, 1823, in one of the
classic scenes of Chilean history, O’Higgins agreed to abdicate. (COLLIER;
SATER, 2004, p.48).

Freire então torna-se o presidente e governa até 1827 em meio ao que foi um momento
de efervescência na cultura política chilena. Entre 1823 e 1830 cinco constituições diferentes
foram promulgadas, mais de 100 jornais diferentes foram publicados (COLLIER; SATER,
2004, p.49), e em 1827 inicia-se uma experiência descentralizadora federalista na política
chilena, buscando dessa forma conciliar os interesses das elites locais. A questão entretanto
permaneceu irresoluta, pois a fragmentação da classe política em diversas facções havia
atingido tal grau que a inércia impedia o desligamento das intrigas entre grupos, criando então
um Estado enfraquecido pela desunião de suas partes e, principalmente, uma ala liberal
desgastada pelo constante atrito com seus integrantes.
Em 1829, em meio ao caos liberal, uma aliança entre grupos conservadores do sul do
país, seguidores de O’Higgins, se revoltam contra o governo e, em 1830, tomam-no. Diego
Portales, um comerciante de Valparaíso, foi o mentor intelectual desta empresa; havia nele,
entretanto, um desapego aos altos cargos estatais. Como ele mesmo disse, “If one day I took
up a stick and gave tranquility to the country it was only so that the bastards and whores of
Santiago would let me get on with my work in peace”17 (COLLIER; SATER, 2004, p.51;
COLLIER, 1993, p.4); Portales se manteve na política por julgar necessário administrar o
desenvolvimento do Estado, eventualmente afastando-se dos cargos públicos e dedicando-se
ao comércio e à atividades empresariais, vindo a retornar à vida pública como Governador de
Valparaíso, posteriormente. Collier e Sater (2004, p.53) ponderam que, talvez, a forma como
essa figura central na história estatal chilena tenha se comportado possa ter sido um fator

17 Grifos do texto original.


importante para o não desenvolvimento do caudilhismo no Chile, claramente exceção na
América Hispânica; quão irônico é pensar que o personalismo e caudilhismo politico possa
não ter se desenvolvido devido as aspirações e vontades de um homem?
Em 1831 o General Joaquin Prieto, indicação de Portales, é eleito presidente e
posteriormente reeleito em 1836, ficando 10 anos no governo. Em 1833 é promulgada a
constituição proposta por Portales, sendo extremamente autoritária, segundo Wasserman
(2003, p.191), mas que dava ao legislativo contrapesos legais aos possíveis abusos
presidenciais; se por um lado ela permitia mandatos de 5 anos com a possibilidade de
reeleição, por outro ao congresso era dado o poder de não aceitar a proposta de alocação
orçamentária do executivo e propostas da área militar, como criação de novas bases ou novos
postos, e um veto presidencial poderia ser revertido com votos favoráveis a tal ato por 2/3 da
casa. (COLLIER, 1993, p.4).
De qualquer forma, a centralização era obvia e intensa (COLLIER, 1993, p.7;
COLLIER; SATER, 2004, p.55): o congresso poderia delegar poderes emergenciais ao
presidente, suspendendo temporariamente a constituição e os direitos civis18; os
administradores regionais eram chamados de “intendentes” e conhecidos como agentes
naturais da presidência; foi criada uma Guarda Nacional sob o comando dos intendentes que
defenderia o legalismo em caso de tentativas de golpes militares, mesmo que essa
possibilidade fosse remota por conta de expurgos no exército; o presidente poderia declarar
Estado de Sítio em províncias específicas sem necessidade de aprovação prévia do congresso,
sendo que este poderia votar essa autorização posteriormente19; eleições presidenciais votadas
de forma indireta; controle do processo eleitoral por parte dos conservadores que ocupavam o
governo com uso do aparato estatal:
the government resorted to any number of methods - intimidation, temporary
arrest, personation, bribery - to prevent opposition voters from exercising
their franchise and to secure comfortable majorities for its own candidates.
The operation was co-ordinated by the Minister of the Interior, and his
subaltern agents in the provinces, the Intendants, the departamental
gobernadores and the subdelegados (COLLIER, 1993, p.6)20.

Essa constituição viria a funcionar plenamente até 1891, e só 38 anos depois de sua
promulgação haveria uma emenda a ela. Houve estabilidade política até a metade do século

18 Segundo Collier e Sater (2004, p.55), aproximadamente um terço do período entre 1833 e 1861 foi governado
com vigência dos poderes emergenciais ao executivo.
19 Além da clara contradição presente em autorizar posteriormente, o congresso nunca desaprovou ação deste
cunho por parte do executivo (COLLIER; SATER, 2004, p.55)
20 Grifos do texto original.
XIX pois com todos os poderes executivos casados ao aparelhamento do Estado, o legislativo
21
era tão absolutamente complacente que era dito como “anêmico” . Além disso, dois fatos
extremamente importantes na história chilena neste período garantiriam um boom econômico
e elevação moral da população.
Primeiramente, desde 1830 diversas reformas econômicas foram feitas para
rebalancear as contas públicas, fato atingido com sucesso por volta de 1840; houve um
investimento em infraestrutura para transformar Valparaíso em uma cidade portuária chave
para o comércio na América do Sul; em 1832 foram descobertas minas de prata abundantes na
região norte do país; houve um crescimento populacional e uma transferência no eixo
primário-exportador, havendo um foco também no abastecimento nacional, aquecendo o
mercado interno e ativando o efeito multiplicador da moeda. Resumidamente, o Chile passava
então pelo período de maior bonança econômica de sua história combinada a uma
administração eficiente destes bens, embora ainda com intensa concentração de renda, dada a
característica estratificação social e elitismo político que foi herdado da realidade colonial.
Em segundo lugar, durante os processos de libertação, o Peru foi antagonista aberto
dos ideais republicanos, e interferiu intensamente no Chile, criando uma tensão entre os
atores. Durante o início da década de 1830, diversas tensões comerciais deterioraram
constantemente as relações entre as duas nações, e em 1836 é fundada a Confederação
Peruana-Boliviana que unia os dois países para tentar reaquecer suas economias ajuntando as
produções de ambos. Este fato ameaçava o Chile que tinha agora exatamente na fronteira
norte seu território de mineração, eixo central de sua economia, com um possível
expansionismo da Confederação, além da ameaça à hegemonia naval obtida sobre a costa do
Pacífico (WASSERMAN, 2003, p.195; MARCELO, 2013, p.7). Neste mesmo ano, General
Freire, presidente chileno em 1823, sai do Peru com um pequeno exército para tentar dar um
golpe em Santiago e retomar o poder, entretanto perde, é capturado, e abre um precedente
para sobre interferência peruana sobre a política chilena, sendo então declarada a 1ª Guerra do
Pacífico. Em 1839, após destruir as forças navais peruanas e desembarcar forças terrestres
melhor equipadas e treinadas em território peruano, o Chile obtém a vitória, e o governo
soube aproveitar o fato para intensificar propaganda nacionalista, elevando a moral popular.
Porém, em um primeiro momento, a guerra foi vista negativamente, principalmente
por conta do recrutamento forçado, dando à oposição um golpe de oportunidade para assumir
o governo. Em 1837, como Governador de Valparaíso, Portales ouve rumores de que o

21 Collier; Sater, 2004, p.55.


coronel de um batalhão próximo à cidade estaria preparando uma rebelião, e convoca-o para
prestar esclarecimentos. Consta que ao ser questionado sobre tal fato, o coronel responde “If I
ever make a revolution against you, your excellency will be the first to know22”.
Posteriormente, durante a organização das tropas que então seriam mandadas ao Peru,
Portales vai a este regimento verificar as tropas e descobre em primeira mão que elas estavam
amotinadas, sendo aprisionado e levado junto com as tropas rebeldes à Valparaíso para
presenciar o ataque à cidade. As tropas rebeldes são derrotadas, mas Portales foi encontrado
morto vítima de 35 facadas; mesmo que seu mentor intelectual estivesse morto, a ala
conservadora da política chilena sai fortalecida com um mártir e o esforço de guerra ganha
popularidade, mesmo que o mártir em si fosse alvo de comentários dúbios23.
Em 1841, o General Manuel Bulnes, líder das tropas chilenas na 1ª Guerra do Pacífico
e indicado por seu antecessor, o General Joaquin Prieto, é eleito para a presidência. A década
entre 41 e 51 é inerte às conquistas recentes no campo econômico e militar e a estabilidade
manteve-se. Wasserman (2003) diz que Prieto
encontrou o país orgulhoso da vitória na guerra e, especialmente, do
presidente que havia derrotado o exército boliviano. Ao mesmo tempo, o
aumento da demanda internacional por produtos agrícolas, sobretudo os
cereais, deu novo alento aos proprietários do centro do país. A abertura de
novos mercados, da Califórnia e Austrália devido ao auge do ouro, foi
responsável pelo desenvolvimento mais acelerado do setor de transportes e
comunicações.

Politicamente, Bulnes foi um conciliador entre conservadores e liberais, aproximando


diversos dos liberais que anteriormente foram inimigos mortais do regime de Portales de seu
governo, resultando em um período de tranquilidade também por esta frente. Porém, isso quer
dizer também que durante seu governo os liberais puderam fortalecer suas posições e suas
bases, fato que posteriormente permitiria que a ala política conservadora viesse a ter sua
hegemonia contestada.
Isso se cristaliza em 1849, quando os liberais tem um candidato próprio para as
eleições de 1851, e torna-se ainda mais evidente em 1850, quando pela primeira vez na
história chilena desde a Constituição de 33, na assembleia, um deputado liberal de nome José
Victorino Lastarria usa a arma de controle legislativo sobre o executivo com seriedade,
propondo o atraso no repasse de verba ao executivo, tendo esse pedido falhado por apenas um

22 Vicuña Mackenna, D. Diego Portales, p. 372 apud Collier; Sater, 2004, p.65.
23 “He was an extraordinary and talented man, and he idolized the homeland […] but he was becoming more
and more corrupted, without (in my view) being aware of this himself.” J. A. Alvarez to Manuel Montt, June 12,
1837. Revista Chilena de Historia y Geografía, No. 27 (1917), p. 197 apud Collier; Sater, 2004, p.66.
voto (COLLIER; SATER, 2004, p.106). Isso pode parecer frustrante, por um lado, mas deve-
se ter em mente que os liberais chilenos anteriormente a Bulnes foram politicamente
trucidados. Em 10 anos foram capazes de se reerguer e desafiar abertamente a força
conservadora.
A oposição conservadora vinha na imagem de Manuel Montt, um homem muito
menos disposto à conciliação do que Bulnes e indicado como clara reação ao fortalecimento
liberal; tantas demonstrações de poder cultivaram medo entre os conservadores (COLLIER,
1993, p.8). Em 1851, ano eleitoral, há uma revolta por parte de uma organização liberal da
qual Lastarria era parte que toma uma cidade. O governo declara Estado de Sítio, invade a
cidade e derrota os revoltosos e exila as lideranças, Lastarria incluso, aparentemente
destruindo novamente a ala liberal. Entretanto, logo após Montt ganhar as eleições, ainda no
desfile de posse, uma mensagem chega a ele dizendo que Concepcíon, a província fortificada
entre Santiago e o território ocupado pelos índios araucanos, havia se levantado contra o
regime e a favor da posse do General José María de la Cruz, intendente da mesma e primo de
Bulnes.
Após alguns confrontos intensos entre os dois exércitos, Cruz rende-se e o governo
cede a ele termos honrosos, permitindo aos militares revoltosos o reingresso nas forças
armadas sem regressão de patente ou diminuição de soldo, embora fossem haver punições
para os envolvidos (COLLIER; SATER, 2004, p.108). Assim, após o maior perigo enfrentado
pelos conservadores desde que conseguiram chegar ao poder em 1830, eles conseguem
continuar no poder e Montt cumpre seu primeiro mandato de 5 anos sem maiores incidentes.
Não pode-se dizer o mesmo sobre o segundo.
Em conflito aberto com a Igreja causado por um enfrentamento com o Arcebispo de
Santiago, Montt ameaça exilar o bispo, causando um tempestuoso antagonismo para consigo
por parte do clero, dos conservadores que tinham laços com o clero e um apoio a este
movimento por parte dos liberais. Isso levou ao Congresso conseguir aplicar a tática de 1850
dessa vez com sucesso, retendo a verba e consequentemente amarrando as mãos do executivo.
Montt vê isso como uso ilegal de poderes públicos e pensa em resignar do cargo, mas
mantém-se no mesmo e negocia com o legislativo, colocando 2 dos 4 ministérios existentes
nas mãos de liberais que, após pouco tempo, brigam com o mesmo e resignam-se, acabando
com o progresso no diálogo entre as partes (COLLIER; SARTE, 2004, p.111).
Nesse contexto, toda a oposição a Montt unificou-se em 1859 no Partido Nacional,
conhecido também como a Fusão Liberal-Conservadora, partido que aglutinou diversos atores
importantes de ambas as alas políticas. A animosidade política levou ao ponto de uma nova
revolta armada que estourou quase que simultaneamente em diversos pontos do país. Na
grande maioria destes locais, as revoltas foram rapidamente dispersas, mas no norte, onde
residiam os barões da mineração, essas revoltas tomaram um corpo mais robusto e bateram de
frente com as forças do governo, chegando a capturar cidades no caminho para Santiago. Em
uma batalha decisiva, entretanto, as forças governamentais perseveraram e derrotaram os
revoltosos. A incontestável vitória militar se provou pírrica frente à opinião pública e Montt
foi o último presidente sucessivo da longa linhagem conservadora herdeira do projeto
portalenho (COLLIER, SARTE, 2004, p.116; WASSERMAN, 2003, p. 192).
Foi eleito presidente então, a partir Fusão Liberal-Conservadora, José Joaquin Pérez, o
último presidente que viria a governar por um decênio e o início de um processo de
liberalização política, reformando a Constituição de 1833 em 1871 para impedir a reeleição
presidencial. Neste período, houve concomitantemente e talvez por conta da liberalização,
uma expansão ideológica na política chilena com a fundação do Partido Radical, liberais
ligados aos ideais clericais, e a oposição interna no Partido Nacional por parte daqueles que
ainda apoiavam Montt, os chamados monttistas (COLLIER, 1993, p. 9). Todas essas
denominações, entretanto, concordavam em um ponto central: era necessário diminuir os
poderes do presidente. Isso iniciou um processo de sucessivo enfraquecimento do executivo
que perpassou o governo Pérez (1856-71), o imediatamente posterior Federico Errázuriz
Zañartu (1971-76), momento histórico em que a Fusão Liberal-Conservadora finalmente
encontra uma contradição fundamental e se dissolve, dissolvendo também a possibilidade de
estabilidade do governo, e seu sucessor Aníbal Pinto (1876-1881), sendo o governo desse
último já extremamente dificultado pelas relações rebalanceadas entre o executivo e o
legislativo ainda não compreendidas pelos atores políticos acostumados a um modelo que
manteve-se estático por tanto tempo.
Além das dificuldades políticas, o governo Pinto também inicia seu trajeto já em meio
de uma forte crise econômica que aumenta em gravidade continuamente desde os anos 50
(COLLIER; SARTE, 2004, p.114), pois
with the appearance in the world economy of new and more efficient
producers of both wheat and copper, Chile was now being displaced in her
most important export markets. […] Copper prices, briefly boosted by the
Franco-Prussian war (as they had earlier been by the Crimean war), went
into sharp decline. The value of silver exports halved within four years,
though the cause often assigned to this — the shift to the gold standard by
Germany and other nations — may have been exaggerated by historians. On
top of all this, an alarming and untimely cycle of both flooding and drought
in the central valley brought three disastrous harvests in a row. […] The
peso, stable for so long, began to depreciate, falling from 46$ in 1872 to 33$
by 1879. […]it was the start of a century of inflation. (COLLIER, 1993,
p.27)

E concomitantemente a esta crise econômica, as tensões por delimitação territorial estavam no


limite na fronteira sul e norte: ao sul, a disputa com a Argentina pela patagônia; ao norte,
investimentos chilenos na área boliviana de mineração foram nacionalizados. Sendo
impossível para o Chile lutar estas duas batalhas em um mesmo momento, e sendo a
Argentina um oponente formidável mesmo nos momentos de acelerado crescimento
econômico chileno, é necessário priorizar; predando sobre territórios ricos em cobre e os
ainda mais valiosos nitratos, dando inicio em 1879 à 2ª Guerra do Pacífico. Porém, em 1881,
em meio à Guerra com os vizinhos ao norte e no fim de seu mandato, o governo Pinto é
assertivamente questionado pela Argentina sobre a questão patagônica e decide abrir mão de
disputar este território, concentrando-se novamente em um conflito com seus vizinhos ao
norte, passando em seguida seu mandato ao sucessor liberal Domingo Santa Maria ainda em
1881........................................................................................................................
A Bolívia e o Peru tinham um tratado secreto de assistência mútua vigente, o que
significou que, novamente, o Chile lutaria com ambos os países. Ao final, como que reflexo
de um embate prévio comparativo entre as forças produtivas e estabilidade política nacionais,
o Chile vence as forças combinadas bolivianas e peruanas, avançando ainda sobre território
peruano e conquistando sua capital, Lima, forçando a implantação de um governo não hostil a
si. Como resultado, em 1884 o Chile aumenta seu território em um terço do que era
anteriormente, conquistando territórios ricos em minerais, aumenta sua moral, aumenta sua
hegemonia geopolítica sobre a região do Pacífico retirando da Bolívia a saída para o mar,
permitindo a passagem de mercadorias bolivianas pelo território chileno mas criando então
uma dependência para consigo. Mas mais importante que tudo isso, para o governo, esses
fatos se resumem em poucas palavras: reaquece a economia chilena e faz a manutenção da
estabilidade do governo (COLLIER, 1993, p.31; COLLIER; SARTE, 2004, P.127-139;
WASSERMAN, 2003, p.193).

Se no começo do século XIX o Chile tem no eixo central de sua economia a


exportação agropecuária e por volta dos anos 40 inicia-se o ciclo do cobre e da prata, a partir
de 1884 há início o ciclo dos nitratos, matéria prima para a fabricação de fertilizantes muito
valorizados no mercado internacional. Aqui entra uma transformação na base da estrutura
política e social chilena: no poder já há alguns mandatos, e com o aparelhamento do Estado
consolidado o suficiente para interferir nas eleições legislativas, Santa Maria consegue criar
uma maioria no Congresso e os liberais põe em prática um item que compunha sua agenda
desde o princípio de sua história; a laicidade do Estado e a diminuição dos poderes da Igreja
vieram em um só pacote que visava

to remove from ecclesiastical jurisdiction the registry of births and deaths


and transfer them to the state; to institute civil matrimony; to ensure liberty
of conscience; and to permit the dead of whatever religious persuasion to be
buried in cemeteries hitherto restricted to Catholics and controlled by the
Catholic church. (BLAKEMORE, 1993, p.38)

Disposto a manter esse projeto liberal em movimento, Santa Maria usa dos
tradicionais métodos de repressão violenta e aberta durante as eleições para garantir que seu
Ministro do Interior, José Manuel Balmaceda, sucedesse-o na presidência e, com intensa
aplicação dos métodos citados24, esse objetivo é alcançado, e se Santa Maria conseguiu fazer
com que essas leis fossem aprovadas no congresso, Balmaceda garantiu que elas fossem
cumpridas, garantindo-lhe um genuíno e intenso ódio por parte dos conservadores. Entretanto,
a aprovação desse item histórico teve um efeito colateral inesperado: implementada a
laicidade do Estado, os liberais buscam outras pautas, havendo uma fragmentação neste
campo a partir da adesão a uma ou outra pauta central. Isso cristaliza-se em uma união de
liberais, conservadores e radicais contra o abuso de poder e aparelhamento do Estado por
parte do chefe do executivo nacional (BLAKEMORE, 1993, p.42), que apesar de rapidamente
derrotada, não deixa de ser um sinal de perigo.

Durante seu governo, Balmaceda, após uma falha tentativa de conciliar os interesses
do Partido Liberal e Radical, passa a implementar um projeto de desenvolvimento por meio
da imposição de gestores tecnocratas na máquina do Estado, principalmente nas áreas
relacionadas da nascente industrialização chilena como os nitratos, transportes e
comunicação. Isso é visto pelos liberais, parte de uma elite acostumada aos jogos políticos de
relações partidárias via distribuição de ministérios, como uma forma de centralizar os poderes
em si, tendo em vista que viam os tecnocratas como não mais do que fantoches
(BLAKEMORE, 1993, p.48). Além disso, há uma grande parte da oposição favorável às
eleições livres sem interferência do governo, e em 1890 uma reunião destes atores é atacada
por forças policiais. Ainda no mesmo ano, houve a primeira grande greve da história chilena,

24 “a good deal of disorder and not a little loss of life, revolvers, knives and stones having been freely used. At
one [voting] table, six people were killed and thirty wounded.” Minister Fraser to Lord Rosebery, June 19, 1886
apud Collier; Sater, 2004, p.150.
deflagrada em diversos pontos da nação e a relação entre a oposição e o presidente deteriorou-
se aceleradamente, perdendo a maioria em ambas as casas legislativas até que, em 1891, em
um ambiente político de caos generalizado e franca hostilidade entre os poderes, inicia-se a
quarta guerra civil chilena no século XIX, com a oposição apoiada pela marinha e Balmaceda
pelo exército. Ainda em 1891, após 8 meses, o conflito termina com Balmaceda sendo
derrotado e suicidando-se enquanto refugiado na embaixada argentina em Santiago.

Estruturalmente, inicia-se um período marcado pela inversão da histórica força


presidencial, onde agora o congresso passa a ter um excessivo controle sobre o presidente no
que ficou conhecido como a República Parlamentarista: vota-se uma maior autonomia
municipal frente ao poder executivo central e as eleições passam a ocorrer sem interferência
do governo central, deixando então de existir uma maioria automática de apoio às propostas
executivas e criando uma efetiva necessidade de coalizões. Isso significa, porém, que se antes
o governo central interferia nas eleições para garantir uma maioria, nesse período os grandes
proprietários rurais vão utilizar dessa autonomia local para vender os cargos a partir da
garantia de eleição por influência sobre o eleitorado (BLAKEMORE, 1993, p.57). Além
disso, como dito por Balmaceda em seu testamento, sem um executivo forte, a tendência é
que houvesse uma fragmentação política e o fortalecimento de facções com interesses
próprios; talvez não fosse uma análise racional sendo feita, mas sim um sentimentalismo de
alguém próximo ao suicídio depois de perder tudo que conquistou durante sua vida, mas
Balmaceda simplesmente descreveu o mesmo cenário que Portales presenciou. Balmaceda
estava certo e a política chilena entra no século XX de forma fragmentada após quase um
século de centralização e meio século de hegemonia unipartidária.

4.3 – Venezuela

A Grã-Colômbia foi formada em 1819, no Congresso de Angosturra, a partir da


iniciativa de Simón Bolívar, que após duas campanhas de libertação conseguiu efetivamente
proclamar a independência hispano-americana no norte do continente e consolidar tal status.
Entretanto, dentro da neófita nação, havia tensões na forma como se daria a organização do
novo Estado: Bolívar, como já posto em questão anteriormente, era fortemente centralizador
mesmo no tangente à organização nacional. Para o intelectual,

El Presidente de la República viene a ser en nuestra Constitución, como el


Sol que, firme en su centro, da vida al Universo. Esta suprema Autoridad
debe ser perpetua; porque en los sistemas sin jerarquías se necesita más que
en otros, un punto fijo alrededor del cual giren los Magistrados y los
ciudadanos (BOLIVAR, 1819 apud PLAZA, 2001, p.10)

A nação de Bolívar não fora a de seu nascimento, mas a de sua criação: quando Bolívar cita o
termo “nação”, refere-se sempre à Grã-Colômbia. Entretanto, dentro do alto escalão do
governo grã-colombiano, diversos atores não pensavam de tal forma. Francisco de Paula
Santander, neste mesmo momento, pensava a partir de sua nacionalidade neogranadina;
Andrés Bello, intelectual e diplomata venezuelano hora diria que era parte do povo
colombiano, hora venezuelano e até mesmo chileno; Francisco de Miranda, o primeiro grande
líder revolucionário da América Espanhola diria ser colombiano e americano, como que não
definindo, ou talvez conseguindo definir, a qual nação ele estaria vinculado (EASTWOOD,
2006, p.135). Estes discursos demonstravam então um grande problema na unidade nacional
grã-colombiana, tendo em vista que justamente os organizadores e fundadores da nação não
abraçaram a unidade da mesma; um sintoma ainda mais grave desta questão foi a rebelião de
1826 liderada por José Antônio Páez, caudilho que busca a independência venezuelana contra
a Grã-Colômbia. Tudo isso indica que a integridade territorial e nacional estava alicerçada na
imagem de um homem e, ceteris paribus, ela morreria com ele. Em 1830 morre Bolívar e,
com ele, a já raquítica unidade nacional.

Também em 1830 inicia-se o que ficou conhecido na história venezuelana como a era
dos caudilhos; há tempos descontentes com o governo centralizado grão-colombiano, as elites
venezuelanas fortaleceram a propaganda sobre os benefícios de um regime federalista. José
Antônio Páez retorna aos holofotes ao proclamar a independência venezuelana novamente,
mas dessa vez sem ter que enfrentar uma força externa forte o suficiente para fazer uma
oposição poderosa e invalidar o apoio das elites locais anti-bolivarianistas e as massas, se não
eram contra Bolívar, eram a favor da independência venezuelana. E se não por todas as outras
pistas, talvez poderia se deduzir, sua qualidade de caudilho denota uma dominação sobre um
fragmento do território, e com este conjunto da obra, a Venezuela vem a ser inicialmente um
país rural escravista25, extremamente fragmentado politicamente e com fortes identidades
regionais (TARVER; FREDERICK, 2005, p.62).

25 Há de se pensar na relação entre o desejo por independência de uma elite primordialmente ligada à
ruralidade primário-exportadora dependente da preservação da escravidão com revoltas anti-
bolivarianas como a de 1826, quando duas das primeiras transformações de estruturas sociais do
projeto de Bolívar foram a abolição da escravidão e a reforma agrária, como indicado por Figueroa
(1967), embora também seja necessário deduzir que a proposta bolivariana de presidência vitalícia e
demais centralizações extremamente rijas desagradassem até o mais tímido dos republicanos que viam
Entre 1830 e 1848 há o período chamado de oligarquia conservadora, sendo Páez o
principal ator na política nacional venezuelana de então. Eleito presidente em 1830, 1838 e
perdendo em 1842, mas ainda controlando o governo por meio da estrutura partidária
proporcionada pela conjuntura e influência. Há certa discussão no meio acadêmico sobre o
caráter de seus governos: Tarver e Frederick (2005), chegam à conclusão de que o governo de
Páez, com todas as controvérsias que o nome carregava, foi um período positivo para o state-
building venezuelano para além da estrutura colonial, tendo em vista que ele construiu um
aparato burocrático formado por critérios técnicos com especialistas comandando os
processos; Plaza (2001), por outro lado, diz que

si bien las premisas desde las cuales partió el proyecto nacional venezolano
de la Cuarta República en sus inicios sí se llevaron a cabo, es bien sabido
que los resultados políticos, económicos y sociales alcanzados no estuvieron
a la altura de lo que las élites de entonces se propusieron. Ante la no
consumación de las expectativas creadas por el proceso de la independencia
y la sensación de orfandad y desamparo que ese proceso generó, la idea de la
política en la Venezuela del siglo XIX no se correspondió con una
aproximación racional a la misma, sino que, en nuestra forma de hacer y
entender la política, convivieron formas racionales con formas sentimentales
y personalistas. (p.12)

É possível entender o argumento feito pela autora, sendo o personalismo 26 em suas mais
diversas formas um elemento importante da história sul-americana, e especificamente no
caudilhismo hispano-americano e coronelismo brasileiro. Entretanto, “las expectativas
creadas por el proceso de la independencia y la sensación de orfandad y desamparo que ese
proceso generó” sem provas materiais que sustentem tal afirmação dificultam atestar sua
veracidade diante de termos com apelo tão forte à interpretações subjetivas da realidade. Em
oposição, Tarver e Frederick (2005) dão embasamento às suas afirmações com exemplos,
como a construção da estrutura socioeconômica venezuelana a partir da exportação de café, e
como em 1840, com a queda do preço pago no mercado internacional, iniciou-se uma crise
que teria consequências mais a frente.

Formam-se dois partidos durante esse momento de crise: os conservadores e os


liberais. Páez fazia parte do Partido Conservador, e José Tadeo Monaga, um general

nas mesmas “a monarchy, whose title has been cautiously changed in the vain hope of deceiving
people with republican forms.” (CÓRDOVA aped M. BROWN, 2012, p.54)
26 “Personal leadership may thus create a successful band; by the same token, however, the personal nature of
leadership also threatens band maintenance. If the caudillo is killed or dies of natural causes, the band will
disintegrate because there can be no institutionalized successor. The qualities of leadership reside in his person,
not in the office.” (WOLF; HANSEN, 1967, p.175)
bolivarianista que enriqueceu durante as guerras de libertação, entrou no Partido Liberal no
começo da trajetória do mesmo, sendo conhecido por uma retórica intensamente
centralizadora. Entretanto, como elemento conservado no trajeto histórico da política
venezuelana, a estrutura partidária era personalista, não havendo agendas políticas diferentes
entre os partidos. Em 1846, crendo que uma vez no poder seu discurso viria a se tornar
moderado, Páez nomeia Tadeo Monagas como seu sucessor, e em 1848 ele vence as eleições.
As esperanças de Páez provaram-se inocentes uma vez que, ao assumir o poder, Tadeo exila-o
e retira do governo todos que fossem ligados ao Partido Conservador, iniciando uma ditadura
que duraria 10 anos (TARVER; FREDERICK, 2005, p.65).

Indicando para cargos técnicos pessoas sem a qualificação necessária, ele assegurou
controle sobre a burocracia estatal, fechou mídias de oposição ao regime e forçou o congresso
a submeter-se ao executivo. Seu governo foi conhecido pela irresponsabilidade fiscal –dois
bancos públicos faliram durante seu governo– e clientelismo abundante (M. BROWN, 2012,
p.148) permitindo que se burlassem as leis sistematicamente fazendo da corrupção uma
característica social, e em 1950 seu irmão mais novo, José Gregorio Monagas, vence as
eleições e mantém o mesmo padrão. Positivamente, foi em neste período em que a escravidão
foi abolida (TARVER; FREDERICK, 2005, p. 65). Os governadores das províncias, após
tanto tempo de abuso por parte do governo central e não encontrando dificuldades em forjar
uma união por conta de diferentes agendas ou programas políticos, visto que os partidos eram
profundamente pragmáticos, unem-se e depõem os Monagas em 1858.

Após tal ação, entretanto, algo insustentável ocorreu: não havia acordo entre os
caudilhos sobre quem deveria ser presidente após a deposição dos Monagas, criando um
vácuo de poder. Em 1858 começa a chamada Guerra Larga entre caudilhos pró-federalismo e
caudilhos pró-centralização para decidir quem sucederia no domínio sobre a política
venezuelana, demonstrando que tanto o federalismo quanto a centralização, da forma como
foram aplicados, não foram reconhecidos pelas elites como modelos a seguir ou retomar.
Dessa vez, porém, houve uma transição política onde os militares provincianos parecem
perder força com sua retórica política extremamente fragmentária. Há agora uma nova
dinâmica; o Partido Conservador agrupa os pró-centralização, e neste ano, é criado o Partido
Federalista, aglutinando aqueles que defendiam a descentralização (RAMIREZ; VARNAGY,
2012, p. 42).
No período entre 1858 e 1861 três presidentes diferentes tomaram posse, para que
então o último deles fosse deposto e Páez voltasse do exílio, assumindo a presidência como o
candidato indicado por lideranças do Partido Conservador. A violência da guerra é
intensificada e após falhas tentativas de negociação para encontrar um meio termo que
permitisse o retorno ao diálogo entre os partidos e, em 1863, o Partido Conservador se rende e
assina o Tratado de Coche, pacificando a nação. Entretanto, ao final do embate,

The conciliatory peace forged in the Treaty of Coche meant only a nominal
triumph for the federalist cause. In reality, the aspirations of a federation
never became anything more than mere ideals. Juan Crisostomo Falcon
shared the spoils of war with his closest circle of cronies, so one type of
corruption was merely replaced by another. In the end, the basic foundations
of Venezuela's oligarchic society remain unchanged. The spirit of the
Federal War […] never amounted to more than mere rhetorical debate
among the country's political elite. (TARVER; FREDERICK, 2005, p.68)

Com o triunfo do Partido Federal, o General Juan Crisóstomo Falcón assume a


presidência do país. É feita uma nova constituição que vai privilegiar a federalização,
chegando a alguns extremos, como, por exemplo, o fato de que “the constitution allowed two
or more states to unite and form a separate unit or secede if they saw fit” (TARVER;
FREDERICK, 2005, p.69). Esses extremos eram característica das dinâmicas de poder entre
as elites e o Estado: os caudilhos eram extremamente regionalistas e não conseguiam articular
a construção de projetos pessoais de poder, projetos regionais de coordenação e projetos
nacionais de state-building, havendo momentos de aberta desobediência por parte das
províncias em relação ao governo central, impossibilitando o funcionamento de um Estado
liberal burguês.
Falcón herda um país em crise econômica e social, e incapaz de controlar tais
situações, em 1867 sofre pressão por parte da Revolución Azul, movimento liderado por José
Tadeo Monagas, sendo então expulso do país e a presidência passando para Monagas. Neste
mesmo ano, porém, José Tadeo morre e em 1869 seu filho, José Ruperto Monagas, é
escolhido pela Assembleia Nacional para substituí-lo. Em 1870, com auxílio do ex-presidente
Falcón, Antônio Guzman Blanco, fundador da União Liberal que posteriormente vem a se
chamar de Partido Liberal da Venezuela, sendo também conhecido como Gran Partido
Liberal Amarelo (RAMIREZ; VARNAGY, 2012, p.42), e torna-se um ditador que governará
a Venezuela por 18 anos, dando inicio para o que posteriormente veio a se chamar de
Guzmanato.
Durante um primeiro período que foi de 1870-1877, houve um processo de
modernização econômica e social: um alto investimento em modernização urbana e
construção de infraestrutura, como um aqueduto para a cidade de Caracas, uma estrada
Caracas-Valencia, a construção de dois portos e a implantação de ferrovias pela primeira vez
na história do país; a implantação de uma educação básica pública e compulsória; a criação da
moeda nacional, facilitando a execução e fiscalização de transições financeiras. Politicamente,
houve novamente uma centralização no posto do presidente, permitindo que ele enfraquecesse
estruturas de poder locais e, portanto, enfraquecesse estruturalmente os caudilhos. O reflexo
mais claro disso foi a diminuição de estados que compunham o país: de 20 para 9 (TARVER;
FREDERICK, 2005, p.70).
Em 1877, Francisco Linares Alcántara assume o poder e passa a implementar um
projeto diferente daquele proposto por Guzman, o que leva a uma rebelião onde de um lado
estavam os guzmanistas e do outro os alcantaristas no que ficou conhecido como Revolución
Reinvindicadora. A vitória foi dos guzmanistas e a partir de então ou o governo era
diretamente de Guzman ou de algum aliado seu. Segundo Tarver e Frederick (2005),

The most vigorous attempt to create a national state in the nineteenth century
occurred during the regime of Antonio Guzman Blanco. This was only the
second time in Venezuelan republican history during which the affairs of
state followed a peaceful and well-intentioned course. By the end of his third
and last administration, Venezuela possessed public works, modern laws,
national symbols and sentiments, and an administration. (p. 70)

Porém, assim como a Grã-Colômbia foi com Bolívar, a Venezuela foi com Guzman: o sonho
de uma Venezuela moderna não parecia ser mais que o projeto de um homem, visto que após
sua morte o projeto não obteve adesão e recuou.
De 1888 até 1892 governaram os únicos dois presidentes civis a história venezuelana
até então por um mandato inteiro em tempos de paz: Juan Pablo Rojas Paúl (1888-1890) e
Raimundo Andueza Palacio (1890-1892). O primeiro mandato não teve grande impacto
histórico, sendo então um princípio de decadência pós-guzman; o segundo, entretanto, foi
palco para outro conflito. Palacio tenta fazer mudanças profundas na constituição que
incluíam o aumento no mandato presidencial e a possibilidade de reeleição, criando uma onda
de revolta pelo país. Assim começa a curta Revolución Legalista que termina com Palacio
deposto e General Joaquim Cipriano Crespo como presidente eleito, promulgando uma nova
constituição que garantiu o voto secreto (RAMIREZ; VARNAGY, 2012, p.42; TARVER;
FREDERICK, 2005, p.71).
Após o governo Crespo há um curto porém conturbado período de instabilidade
política notavelmente intensa: seu governo termina em 1898 e o candidato que ele apoiou
venceu. O opositor, entretanto, diz ter havido fraude e levantou-se em armas, sendo o mesmo
feito do lado legalista. Durante os combates Crespo foi morto, mas o candidato de sua
indicação venceu e garantiu seu posto como presidente. Em 1899, entretanto, sofre um golpe
por parte do General Cipriano Castro, dando inicio ao que viria a ser conhecido como a
Hegemonia Andina, que apesar de vir por parte de um defensor do federalismo, terminaria
sendo um período de alta centralização e consolidação do Estado-nacional venezuelano,
durando então 40 anos século XX adentro (TARVER; FREDERICK, 2005, p.71).

Imagem 3: América do Sul em 1903

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5. Conclusão

A história destes três países no período de construção e sedimentação dos Estados-


nação tem diversos elementos em comum: uma divisão primária na política pós-ciclo
confederativo entre centralizadores e descentralizadores que complexifica-se com passar do
tempo, permanecendo, entretanto, o âmago das discussões; a instabilidade dos regimes
decorrente da fragmentação entre diferentes interesses de facções elitistas; a sustentação de
projetos políticos estar diretamente ligada ao prestígio de determinados atores; um state-
building eficiente nos períodos de centralização; uma multipolaridade geopolítica continental
baseada no que um dia foi a Grã-Colômbia, nas Repúblicas do Pacífico e na Região do Prata.

Nos três países em questão, assim que as independências estavam garantidas, formou-
se a estrutura política de forma quase que de forma edipiana: San Martí na Argentina27,
O’Higgins no Chile e Bolívar na Venezuela, as figuras libertadoras, são rapidamente
mitificadas no cânone de heróis, sendo parte essencial da mitologia nacional e construção de
sua identidade. Concomitantemente, seus projetos políticos são ignorados pelas elites
hegemônicas, e uma política descentralizada foi o início comum às repúblicas hispano-
americanas. No caso argentino, esse início tornou-se um período duradouro, com o Governo
Rosas durando aproximadamente 30 anos, fortalecendo a estrutura fundiária concentradíssima
e aumentando a produção agrícola, agradando então ambas as elites existentes em seu país: a
provinciana latifundiária e a comercial buenairense, mantendo a estabilidade de seu regime
que viria a ser destruído por esforços conjuntos de uma gananciosa oposição argentina com
apoio brasileiro querendo garantir hegemonia regional em suas províncias sulinas. No Chile,
após a deposição de O’Higgins em 1823, o General Freire governa até 1827 em um ensaio
liberal para a descentralização extrema que ocorreria até 1830, transformando o governo em
uma massa de interesses conflitantes que não conseguiam focar na produção de um projeto
nacional, talvez por falta de um arcabouço institucional que limitasse a briga de interesses
individuais, talvez pela incapacidade dos atores políticos de então de entenderem-se enquanto
nacionais, em um conflito semelhante ao “Estado Maior” de Bolívar, sendo então dobrados
por Diego Portales e seu projeto nacional baseado em uma centralização executiva
proporcionalmente inversa ao período anterior, durando praticamente 60 anos. Por sua vez,
Páez descentraliza imediatamente a estrutura política venezuelana ao desvincular seu país da

27 Incrivelmente, San Martí era monarquista e chegou a buscar na Europa príncipes dignos de reinarem as
províncias americanas que, em seus planos, tornariam-se reinos independentes.
intensamente centralizada Grã-Colômbia de Bolívar, tendo para tanto apoio de todas as elites
nacionais traumatizadas por um afastamento do poder decisório, com o projeto bolivariano
privilegiando o território colombiano ao venezuelano.

Nos casos argentino e chileno, a transição de regimes ocorreu em momentos onde os


governantes estavam presos à ideais passados: Rosas era um salmão nadando rio acima.
Assumiu o poder e cresceu em seu posto devido à exportação bovina, mas sendo incapaz de se
adaptar aos novos tempos, produto de suas próprias políticas quando a economia argentina
transicionou para um período majoritariamente baseado na lã ovina; ao final, não teve apoio
das elites provincianas que viam nele uma relíquia do passado, não teve apoio da população
muda que produziu por meio de uma repressão titânica, e muito menos da elite mercantil que
prosperava sem sua interferência. As elites chilenas, por outro lado, perderam-se em suas
liberdades, indo com muita sede ao pote. Por tanto tempo foram aliciados de interesses
próprios que ao assumirem a direção do Estado, esqueceram que ele deveria ser, em algum
nível, representativo dos interesses conjuntos – nacionais. A fragmentação num nível tão
intenso quanto o de então era um perigo de nível internacional, possibilitando que a
desarticulação interna se tornasse uma fraqueza a ser explorada por outras nações. Dessa
forma abrem brecha para que alguém que tenha essa função centralizadora organizativa em
mente capture o Estado e, por meio de gestões econômicas que reflitam tal prioridade,
garantam o fortalecimento do Estado nacional internamente e regionalmente. A Venezuela,
entretanto, presa aos caudilhos, talvez fosse a mais prejudicada em questão de criação de uma
identidade nacional, visto que durante quase 100 anos, sua política foi dominada por
personalismo, seu state-building não conseguia atingir níveis minimamente razoáveis para
organizar a sociedade ao redor do aparato estatal e a iniciativa privada não tinha em si
potência para, ou sequer interesse em impor exógenamente ao Estado um projeto econômico,
demorando quase o período total de um século para ver o primeiro esforço de articulação para
fortalecimento das capacidades estatais.

E apesar de uma institucionalidade dúbia, focada mais em indivíduos do que em


projetos, a dinâmica partidária é um bom retrato das trajetórias políticas destes países. É dito
que o Chile seria uma exceção latino-americana pela estabilidade de seu regime no século
XIX, fato comprovado pela perenidade de sua Constituição de 33. Creio que após certo
aprofundamento na história política chilena, é possível dizer que nunca houve estabilidade
real entre suas elites, e sua estabilidade institucional foi baseada no abuso do aparelhamento
de Estado, não em seu bom funcionamento devido ao sistema de pesos e contrapesos. Se
tanto, seu modelo era o de pesos e impulsos, permitindo a um poder definir a composição do
outro, impedindo a existência de uma oposição legal e, portanto, o regime liberal democrático.
Mesmo assim, o caso do projeto de Portales é exceção dentre os atores envolvidos na política
dos países analisados e deve ser creditado como tal; é possível especular que a perenidade de
seu projeto após sua morte se deva a tanto tempo em vida garantindo que ele fosse
implementado, criando mecanismos institucionais que burlaram os princípios básicos do ideal
republicano, mas permitindo a construção de uma nação forte e cultura política própria de
suas elites. A pequena criação de partidos quando combinada a alta produção de tentativas de
golpes pode ser um retrato de todo esse cenário, onde oposição institucional era francamente
improdutiva, e a melhor chance de assumir o poder era através da tomada do mesmo. Na
Argentina a vida política foi mais simples com um conflito aberto entre duas partes com
projetos diametralmente opostos do princípio ao final do século, havendo apenas alguns
esforços conciliatórios em meio a este cenário que, eventualmente, voltaria a ser; fato
transformado apenas na virada ao século XX. Por último, a Venezuela também retrata
perfeitamente sua vida política pela vida partidária, com a criação de diversos partidos
personalistas ligados não ao projeto nacional pensado por um ator, mas sim seus interesses
individuais, havendo ditaduras entre os caminhos e numerosas tentativas de golpe,
demonstrando também haver um baixo mérito do regime republicano liberal democrático.

Há, por último, a polarização geopolítica destes países em suas áreas de influência: ao
norte, a Venezuela teve algumas tensões territoriais com as guianas e a Colômbia, mas não
foram estes pontos que podem colocá-la como um polo de poder sul-americano no século
XIX, e sim sua relação com os Estados Unidos da América que utilizava-a como posto
avançado de sua política para o caribe, fazendo com que todo agressor arriscasse transformar
uma agressão ao governo venezuelano num incidente diplomático maior do que o esperado,
além de um possível apoio do mesmo para políticas regionais. No Chile, como comprovado
pelas duas Guerras do Pacífico, uma hegemonia regional ao norte foi obtida frente à potência
colonial peruana e a posterior Bolívia, implantando um governo amigável na primeira e uma
dependência comercial da segunda, se não impedindo, dificultando qualquer reação
antagônica ao Chile pelo risco de isolamento, enquanto assentou suas relações ao leste
entregando a patagônia à Argentina. A Argentina, por último, mantém-se em concorrência
com o Brasil como potência hegemônica continental: a Guerra do Paraguai retirou um terceiro
elemento da equação, a Guerra do Uruguai foi uma vitória dividida entre o Estado argentino e
brasileiro, não alterando as balanças então, e uma corrida armamentista aos finais do século
XIX foi o sinal da disputa pelo posto de hegemon regional. Infelizmente, não puderam
imaginar a potência com que o norte cairia sobre si no século seguinte, levando o
imperialismo e uma subalternidade ás potências para um nível até então não imaginado,
criando um hegemon hemisférico.

Este cenário de extrema instabilidade constante e onipresente na política hispano-


americana é um fator retroalimentado: quando tem-se o ideal da revolução legitimado desde o
princípio de sua história, seguido por uma concentração de poder decisório nas mãos de
poucos atores que alienam outras parcelas da sociedade desta potência, não há outra saída
senão a renovação do ideal revolucionário de rompimento das instituições políticas para
implantação de um novo sistema. Isso perdura, como demonstrado, pelo século XIX nos
países analisados, e conjuntamente à construção da economia regional com base na produção
primário-exportadora, delineiam-se as fragilidades regionais: se a política instável denota um
centro de gravidade instável para os regimes, a economia subalterna exibe a propensão a
intervenção externa no state-building em algum momento histórico, de forma a não permitir
que esse se dê de forma autônoma dirigida apenas por seus interesses nacionais. Portanto, seja
vendo a análise pender para a centralização política ou sua fragmentação, para o progressismo
ou conservadorismo, ao estudioso da política hispano-americana não se pode tirar do centro
do debate, se não uma tendência, um dado cultural próprio da história regional: a
possibilidade dos atores de tentarem criar rupturas com as instituições presentes aumenta
conforme eles sintam-se sem outra saída, seja por obstrução das instituições formais ou abuso
das informais, dando ênfase à implantação de novos regimes e não à possibilidade de
ingressar novamente no sistema política e reforma-lo.
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