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MODIFICAÇÕES NO IDEÁRIO POLÍTICO SOCIAL PROTESTANTE:

APROXIMAÇÕES ENTRE A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO E A TEOLOGIA


RADICAL DO PRESBITERIANO RICHARD SHAULL.

Adriana Guilherme Dias da Silva Figueirêdo1

Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião


Universidade Católica de Pernambuco- UNICAP-Recife-PE.
dricapresbi@gmail.com
Ricardo Jorge Silveira Gomes2
Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião
Universidade Católica de Pernambuco- UNICAP-Recife-PE.
ricardojorgesg@hotmail.com

Resumo: Este artigo se propõe a analisar as modificações sofridas na


concepção dos protestantes no Brasil, acerca das questões políticas e sociais
brasileiras, especialmente no período entre 1952 e 1962, a partir da influência
da Teologia Radical, sistematizada pelo pastor presbiteriano Richard Shaull,
missionário norte americano que esteve em atuação no Seminário Presbiteriano
do Sul entre 1953 e 1958. Por meio da revisão bibliográfica relacionada ao tema
em questão, pretende-se demonstrar as aproximações entre a Teologia da
Libertação proposta no catolicismo e a chamada Teologia Radical de Richard
Shaull, evidenciando em que medida elas se aproximam de forma “ecumênica”,
na busca de soluções para as questões sociais que afligiam o Brasil durante a
mencionada década.
Palavras-chave: Protestantes. Política Social. Teologia

1
Doutoranda e Mestra em Ciências da Religião pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP),
Especialista em Administração Escolar e Planejamento Educacional e em Docência na Educação Infantil
(UFPE). Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Pernambuco. Professora na Rede Municipal
de Educação em Recife e Analista em Gestão Educacional (SEDUC- PE).
2
Doutorando e Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP),
Especialista em Metodologia do Ensino pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Licenciado em História pela Faculdade de Formação de Professores da Zona da Mata Sul (FAMASUL).
Coordenador da Comissão Própria de Avaliação - CPA e docente da Faculdade de Ciências Aplicadas José
Lacerda Filho-FAJOLCA.
1. Introdução

No escopo deste breve artigo, nos propomos a analisar as modificações


evidenciadas no ideário político social protestante, a partir das contribuições do
Rev. Richard Shaull, cuja permanência no Brasil, no período compreendido entre
1952 e 1962, foi marcada pelos deslocamentos teológicos “gestados” no interior
dos movimentos estudantis e ecumênicos identificados com o marxismo e com
a atuação da igreja em face das questões sociais que emergiam para além dos
muros institucionais das escolas teológicas de então, e com os quais interagiu
de modo intenso.

Numa época em que o Brasil e o mundo experimentavam uma efervescência


revolucionária como poucas vezes se viu na história recente, o missionário norte-
americano Richard Shaull ousou “apontar o dedo para a lua” ,conforme as
palavras do teólogo Rubem Alves, ( seu ex- aluno no Seminário Presbiteriano do
Sul), refletindo a intensa e profunda dinâmica social na América Latina e as
movimentações em busca de reformas socais, políticas e econômicas que
tomavam conta das chamadas “bases”, locais de onde partiram as iniciativas em
direção ao que também foi chamado de processo revolucionário latino-
americano.

Conforme relatado por Antônio Gouveia de Mendonça (2005), o recorte


temporal por nós escolhido, destaca-se pela chegada de “um bando de teologias
novas” ao Brasil influenciadas tanto pelo Evangelho Social, cujo maior expoente
foi o pastor batista norte-americano Walter Rauschenbusch (1861-1918)3,
quanto pelo ecumenismo, que teve em um de seus maiores expositores o
arcebispo luterano da Suécia Nathan Söderblom (1866-1931), professor de
história da religião em Upsala que, mesmo de formação evangélica avivalista,
conseguiu ultrapassar barreiras na defesa do seu ideal de união dos cristãos.
Mesmo não tendo prosperado em solo brasileiro, veremos adiante como estas
teologia de base liberal protestante, deslocaram antigas certezas e modificaram

3 Convencido pelo contato com a teologia liberal protestante e, após atuar em meio às camadas
mais pobres da sociedade em vivia, formada sobretudo por imigrantes alemães de que, o pecado
consistia em algo tanto social como individual. Nesta perspectiva, a dimensão ultraterrena e
metafísica da vida cristã, perde espaço e passa a ganhar uma visão mais relacionada a vida
terrena e as relações estabelecidas entre os indivíduos, evidenciando assim, traços de uma
orientação marxista.
o ideário político social no protestantismo vivenciado em solo brasileiro, cujas
repercussões ainda se fazem presente nos dias atuais.

Cientes da impossibilidade de abranger tão denso movimento, situamos de


modo específico a figura do pastor presbiteriano Richard Shaull, cuja influência
exercida por seu ensino durante o período em que esteve no Brasil, foi marcada
por sua forte atuação política em favor das classes menos favorecidas e cuja
teologia lançou as bases da chamada Teologia da Libertação, que embora tenha
se perpetuado na História como sendo um movimento católico apostólico
romano, contou com a participação ativa deste missionário estadunidense desde
o início.

2. A “alma” latino-americana do missionário norte-americano: Os


deslocamentos rumo a Teologia Radical.

Em meio ao cenário da guerra fria que dividia o mundo em dois grandes


blocos: Capitalista e Socialista (expresso sobretudo na vertente comunista), o
missionário norte-americano Richard Shaull junto com sua esposa Mildred,
ingressou na Junta de Missões estrangeiras da Igreja Presbiteriana dos Estados
Unidos da América, motivado sobretudo, pela influência de John Mackay, que foi
reitor do Seminário de Princeton onde Shaull estudou Teologia.

Mackay, também fora missionário no Peru, Uruguai e México, entre 1916


e 1932, e secretário da Junta de Missões para a América Latina da Igreja
Presbiteriana dos EUA, no período compreendido entre 1932 e 1936, e sempre
afirmou que a vida cristã não deveria ser algo para ser visto como de uma sacada
ou camarote, mas um modo de vida concretizado pela caminhada uma vez que
a verdade tinha como objetivo a promoção da bondade (Júnior, 2012. p. 58).
Movido por este impulso, Richard Shaull iniciou sua trajetória missionária na
Colômbia no ano de 1942, após um curto período de atuação pastoral no Texas,
e neste país, teve o primeiro contato com a pobreza, a violência e as
desigualdades sociais tão características dos países em situação de
desenvolvimento que compunham o chamado Terceiro Mundo.

Ainda na Colômbia, onde permaneceu por uma década, Shaull também


teve contato com o marxismo e os movimentos sociais e estudantis de esquerda,
assim como percebeu a inadequação da Teologia Protestante vigente para
responder ao contexto histórico marcado por tantas transformações e desafios
e, embora ainda não sido o período em que radicalizou sua posição teológica,
podemos descrever como sendo parte de um longo percurso, cuja consolidação
viria a ser experimentada em solo brasileiro, anos depois (Huff Júnior, 2012).

Ao sair da Colômbia, Richard Shaull foi designado para integrar um grupo


de estudos intitulado “O desafio do Comunismo”, no Seminário Unido de Nova
Iorque, que versava basicamente, sobre os perigos desta ideologia político
partidária por ser um movimento de natureza totalitária e, mesmo não
concordando com tudo que ali ouvia, Shaull participou deste evento e acabou
conhecendo Paul Lehmann, que estudara com Karl Barth e fora amigo íntimo
de Dietrich Bonhoeffer. Segundo Huff Júnior (2012) , Lehamann que fora
convidado para o mesmo grupo para explanar sobre Teologia e Revolução
acabou sendo a maior fonte de inspiração para a sistematização da Teologia
revolucionária: “Falando ao grupo, justamente sobre “Teologia e Revolução”,
Lehmann demonstrara uma postura mais generosa em relação às
movimentações revolucionárias e/ ou marxistas” (p. 61).

Por meio de uma abordagem teológica contextual, em diálogo com as


questões que ferviam naquele tempo, Paul Lehmann defendia que a
humanização do homem consistia no principal ponto de convergência entre o
marxismo e o cristianismo contribuindo assim para que Shaull e tantos outros
teólogos pudessem compreender sob novos aspectos a crise de sentido que se
manifestava em meio ao ambiente da Guerra fria, cuja polarização também se
estendeu ao meio teológico, de modo que após os seis meses de estudo no
Uniom, ele retornou para o Seminário em Princeton para realizar seu doutorado
sob a orientação de Lehmann. Passado este período e ainda sob a influência do
que Huff Júnior (2012) denominou como uma postura de “suspeição” mais do
que de diálogo com o marxismo, Shaull chega ao Brasil, em 1952, ocupando em
seguida o posto docente no Seminário Presbiteriano do Sul (1953) em Campinas
no estado de São Paulo, provocando o que foi denominado como uma espécie
de furacão (Alves, 1985). O envolvimento ativo do Rev. Richard Shaull com os
movimentos estudantis, tais como a União Cristã de Estudantes do Brasil
(UCEB), terminou por deslocar conceitualmente sua teologia, pois em vista das
demandas oriundas de uma juventude protestante cada vez mais
intelectualizada e politicamente consciente de seu papel em meio a dinâmica
social de sua época, movidos sobretudo por um ponto em especial: A revolução.

A partir de então, por volta de 1955 sua Teologia foi radicalizando cada
vez mais, impulsionada pela aproximação dos movimentos estudantis e os
movimentos ecumênicos nacionais e internacionais de forte atuação na época:
Confederação Evangélica Brasileira (CEB), Conselho Mundial de Igrejas (1948),
e Igreja e Sociedade na América Latina (ISAL). Junto com um dos líderes da
mocidade presbiteriana e da UCEB, Waldo César, iniciou as atividades do Setor
de Responsabilidade Social da Confederação, local privilegiado para o fomento
de discussões e reflexões acerca da responsabilidade dos cristãos e das igrejas
no âmbito social.

Destacam-se de modo particular, as conferências realizadas entre 1955 e


1962, sendo a última delas, Cristo e o processo revolucionário brasileiro, a
Conferência do Nordeste, a mais conhecida e significativa, sediada em Recife.
Toda esta atuação, provocou reações nos meios institucionais , sobretudo por
parte das alas fundamentalistas, que o acusavam de agitação e causador de
discórdia dentro das igrejas, uma vez que ao perceberem a distância entre a
teologia vivida no interior das igrejas e as demandas reais de uma sociedade
marcada pela desigualdade e injustiça social, os jovens estavam se distanciando
da liderança de suas respectivas igrejas. Além disso, a aproximação com órgãos
ligados ao movimento ecumênico, também não era vista com bons olhos por boa
parte da liderança eclesiástica de então. Tais tensões, agravaram-se ao ponto
de Richard Shaull ser desligado da sua função docente no Seminário
Presbiteriano do Sul, após um período de férias em 1958, por meio de uma carta
enviada pelo reitor solicitando que ele não retornasse. Todavia, a potencialidade
de suas ideias, permaneceu influenciando gerações de jovens teólogos e
estudantes que foram inspirados pela chamada Teologia Radical, oriunda das
bases teóricas da teologia europeia, até então desconhecida de boa parte dos
seminaristas brasileiros, conforme nos mostra Antônio Gouvêia de Mendonça
(2005):

Quanto ao pensamento teológico, Shaull introduziu seus alunos


no mundo então desconhecido da teologia européia,
pensamento produzido no turbilhão da guerra e do pós-guerra.
O principal nome que surge no cenário seria o do reformado Karl
Barth (1886-1968), tido como o maior teólogo do século XX. Sua
obra, conhecida por “teologia dialética” ou “teologia da Palavra
de Deus”, posteriormente englobada sob o título mais geral de
“neo-ortodoxia”, apontava para a ação contínua de Deus na
história e com a qual o homem devia colaborar. A leitura de
Barth, notável por sua oposição ao nazismo, representava, no
pós-guerra, um apelo aos cristãos para que superassem o
conformismo e avançassem na direção da construção de um
mundo justo (p. 60).

Toda a dinâmica de sua atuação, o tornou um incômodo a ser evitado, e


mais adiante, com o golpe militar de 1964, ele foi impedido de retornar ao Brasil
até a redemocratização em 1985. A seguir descreveremos os principais
aspectos da radicalização conceitual na teologia de Shaull, antes mesmo da
chamada Teologia da Libertação ganhar corpo e forma nos meios católicos,
mostrando que apesar de nativo da ala desenvolvida do mundo (EUA), ele
compreendeu como poucos a realidade social brasileira e impulsionou a igreja a
olhar para o cenário a sua volta.

3. Teologia radical e Teologia da libertação: Convergência Ecumênica


para responder aos desafios sociais da igreja cristã

A medida em que foi sendo cada vez mais “afetado” pelo contexto social
brasileiro, e pelo fervor revolucionário presente no interior da juventude tanto das
igrejas protestantes como nos movimentos estudantis e ecumênicos, Shaull,
mesmo não exercendo mais suas funções da docência no Seminário
Presbiteriano do Sul, e posteriormente impedido de entrar no Brasil durante a
vigência da ditadura militar, teve no contexto internacional sua atuação mais
expressiva, conforme evidenciado em sua participação na Conferência Mundial
sobre Igreja e Sociedade, realizada no ano de 1966 em Genebra:

A conferência, marco fundamental do pensamento e da ação


social ecumênica, revela tanto o ponto culminante da elaboração
teológica de Shaull acerca da revolução quanto sua projeção no
cenário ecumênico e teológico internacional (Huff Junior, 2012.
p. 67).
Num contexto em que o ideário político social protestante fundamentava-
se na dicotomia entre o espiritual e o secular, a elaboração teológica gestada no
prática e nas conceituações de Richard Shaull, avançaram na direção da
superação desta visão tão comum na época, conforme o relato de Rubem Alves
(1985, p. 21):

O meu mundo e o dos meus companheiros de seminário era


simples. Havia Deus nos céus, e presente em todos os lugares;
a terra onde vivíamos, provisoriamente; o inferno; e o destino
eterno de nossas almas. E isto era a única coisa que importava.
A igreja nada tinha a ver com as querelas insignificantes dos
homens. Sua missão a ligava à única coisa que realmente
importava: salvar almas.

Ao assumir o exercício teológico como ação voltada para pensar os


problemas sociais de sua época, o missionário norte-americano Richard Shaull
provocou um sensível deslocamento na percepção cristã dos protestantes de
sua época acerca da vida, da sociedade e da necessidade de transformação
tanto por meio do diálogo ecumênico, quanto pela via revolucionária conforme
destacado por Antônio Gouvêia de Mendonça (2005):

Richard Shaull, além de levar a chamada teologia moderna para


o ambiente em que atuava, ele mesmo passou a pôr em prática
uma teologia da ação e no estilo aberto e ecumênico. Shaull
aponta para a natureza dinâmica de Deus e para o fato de que
sua atividade na história estava prosseguindo rumo a um alvo.
Essa postura de Shaull foi logo vista como uma crítica e um
desafio às igrejas para que saíssem da inércia e do conformismo
e tomassem parte e responsabilidade diante de um mundo em
mudança (p. 60).

Nas palavras do próprio Richard Shaull, a posição de “inércia” perante a


realidade, não consistia mais como uma opção válida em virtude das
transformações pelas quais passava o mundo de então, e que provavelmente,
se alongariam para além daqueles anos, pois como um caminho sem volta, uma
vez que o anseio de mudanças evidenciado no mundo todo, exigia um
posicionamento de todos, o que incluía os cristãos:

Se quisermos preservar os elementos mais importantes da


nossa herança moral e religiosa e contribuir para a formação do
futuro, não podemos permanecer fora da luta revolucionária nem
nos retirar dela. O único comportamento responsável é aquele
que não foge a esta luta e ao que estiver além dela (SHAULL,
1966. p. 13).

Mais adiante, na mesma obra, ele menciona o papel do cristianismo na


luta revolucionária, rompendo com a antiga posição de cumplicidade com o statu
quo, e contribuindo com recursos de pensamento e ação para os grupos cristãos
envolvidos nas lutas revolucionárias ao redor do mundo, recursos dos quais eles
só puderam tomar consciência a partir da herança cristã. Logo, ele sistematiza
uma perspectiva teológica da revolução, a partir de uma percepção da ação
divina na história como obra de um Deus histórico-dinâmico, cujo Messias
enviado a terra representa o papel de um político revolucionário, que por meio
de sua vida, morte e ressureição restaura todas as coisas, logo ele situa a
perspectiva revolucionária a partir de preceitos bíblicos que podem e devem
nortear a teologia (SHAULL, 1966. Pp 17-19).

Considerando que o foco das tensões sempre seriam as fronteiras entre


a humanização e a desumanização, o que envolve os indivíduos e o bem-estar
destes, tanto naquele momento como no futuro, Richard Shaull lança as bases
do que viria a ser conhecido também por Teologia da Libertação, que, conforme
pontuado por Altmann, Bobsin e Zwetsch (1997, p. 129) embora tenha sua
emergência datada como sendo em 1971, na verdade, foi apenas a data de
culminância de um processo que remonta a década de 1950 e 1960 e mesmo
que tenha sido associado mais diretamente ao catolicismo, na verdade, foi um
fenômeno ecumênico.

Os mesmo autores destacam que, embora tendo sido de natureza


ecumênica e resultado da dinâmica social latino-americana, como a maioria da
população professava a fé católica, foi nesta igreja que pode ser mais percebida
a manifestação deste fenômeno ecumênico pois, no interior das igrejas houve
uma forte atuação de católicos leigos, com a formação de comunidades de base
e o desenvolvimento de uma pastoral alinhada com o movimento social, fatores
que influenciaram na posterior formulação acadêmica da Teologia da Libertação.
Tais fatos, associados a eventos históricos chave tais como a realização do
Concílio Vaticano II (1962/65), cuja repercussão nos meios seculares acerca das
modificações feitas para adequar a Igreja Católica ao mundo moderno, e a II
Conferência Episcopal (católica) Latino-Americana realizada em 1968, em
Medellín, Colômbia, também contribuíram para o fortalecimento deste
fenômeno.

Leonardo Boff (2010) ao pontuar os principais aspectos conceituais da


Teologia da Libertação, destaca o encontro com Cristo pobre nos pobres, como
origem desta elaboração teológica que, busca uma ação que liberta (libert-ação),
a partir da reflexão da fé como prática libertadora:

Refletir a partir da prática, no interior do imenso esforço dos


pobres com seus aliados, buscando inspirações na fé e no
Evangelho para o compromisso contra a pobreza em favor da
libertação integral de todo o homem e do homem todo, isso que
significa a Teologia da Libertação [...] O compromisso com a
libertação dos milhões de oprimidos de nosso mundo devolve ao
Evangelho uma credibilidade que teve nos seus primórdios e nos
grandes momentos de santidade e profecia. (p.20).

Deste modo, podemos observar a convergência nas ideias conceituais


tanto de Richard Shaull, como nas acima mencionadas, e que convergem para
o mesmo ponto de interseção: a leitura e a prática do Evangelho em chave
libertadora.

4. Conclusões

Descrito como um período de grandes mudanças, e marcado pelo que


Antonio Gouvêia Mendonça (2005) classificou como a maior “encruzilhada”
do protestantismo no Brasil, o período compreendido entre 1952-1962
quando o missionário norte-americano Richard Shaull esteve no Brasil,
marcou de modo profundo a teologia vivida e pensada nas igrejas de então,
apresentando novas perspectivas de envolvimento dos cristãos com a
realidade histórica nacional, propondo uma visão para além dos muros das
igrejas. Embora ele defina este período como tendo um “fim melancólico” nos
anos 1970,o fato é que, embora sufocado por fatores históricos diversos,
inclusive internacionais, a formulação acadêmica da Teologia da Libertação
e a atuação das comunidades eclesiais de base, permanece viva no interior
das igrejas católicas, e mesmo nas igrejas protestantes, a Teologia de Missão
Integral (TMI), cujo marco firmado a partir do Pacto de Lausane 4,
permanecem com o foco voltado para a vivência de uma fé cristã de modo a
contemplar o homem em sua integralidade, sem desconsiderar o contexto
sócio-político e cultural em que eles vivem.

Ainda que existam diferenças doutrinárias ligadas a especificidade


denominacional, o fato é que, em seus primórdios, o movimento de
modificação no ideário sócio-político dos cristãos protestantes, foi “forjado”
em meio ao movimento ecumênico, tendo na figura do missionário norte-
americano Richard Shaull, um influente teólogo e ativista em favor das
causas sociais da camada mais empobrecida da sociedade latino-americana,
cuja reflexão inspirou as bases Teologia da Libertação, evidenciando as
possibilidades de diálogo existentes entre as correntes do cristianismo, na
busca de soluções para as questões que afligem indistintamente os cidadãos
que habitam as sociedades latino-americanas, profundamente marcadas
pela desigualdade social e pobreza.

5. Referências

ALTMANN, W.; BOBSIN, O.; ZWETSCH, R. E. Perspectivas da teologia da


libertação. Impasses e novos rumos num contexto de globalização. Estudos
Teológicos, v. 37, n. 2, 1997. Disponível em:
http://www.est.com.br/periodicos/index.php/estudos_teologicos/article/view/784/
719. Acesso em: junho de 2019.
ALVES, Rubem. (org.). De Dentro do Furacão – Richard Shaull e os Primórdios
da Teologia da Libertação. São Paulo, Sagarana, 1985.
BOFF, Leonardo; BOFF, Clodovis . Como fazer teologia da libertação. 10. ed.
Petrópolis: Vozes, 2010.9.
HUFF JÚNIOR, Arnaldo Érico. Teologia e revolução: a radicalização teológico-
política de Richard Shaull. Estudos de Religião, v. 26, n. 43, p. 56-76 , 2012 .
Disponível em: file:///C:/Users/PMRecife/Downloads/Dialnet-
TeologiaERevolucao-6342486%20(2).pdf. Acesso em: junho de 2019.
MENDONÇA, A. O protestantismo no Brasil e suas encruzilhadas . Revista USP,
n. 67, p. 48-67, 1 nov. 2005. Disponível em:

4
Documento produzido após a realização do Congresso Internacional para Evangelização
Mundial, em Lausanne, Suiça, em 1974, serviu para o universo evangélico (evangelical) como
um evento de “aggiornamento”, ou atualização como o Concílio do Vaticano II (1959-1963) serviu
para a Igreja Católica Romana.
http://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/13455/15273. Acesso em: 01
junho de 2019.
SHAULL, Richard. As transformações profundas à luz de uma teologia
evangélica. Petrópolis: Vozes, 1966. 94 p.

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