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Resenha

AVALIAÇÃO ANTROPOLÓGICA

GEERTZ, Clifford. Nova luz sobre a antropologia. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de
Janeiro. Jorge Zahar, 2001.

Clifford James Geertz, estadunidense, nascido em 23 de agosto de 1926 e falecido


em 30 de outubro de 2006, foi um dos maiores antropólogos da segunda metade do
século XX. Também podemos dizer que foi um dos maiores pensadores da
segunda metade do século. Ele é considerado como o fundador da antropologia
interpretativa, uma nova maneira de estudar antropologia partindo de um enfoque
interdisciplinar, ao ter lançado a obra “A interpretação das culturas” em 1973.
Geertz terminou sua carreira como mestre do Instituto de Estudos Avançados da
Universidade de Princeton, nos Estados Unidos.
Clifford Geertz teve uma passagem pela marinha, estudou em Ohio e New Jersey e
foi graduado em filosofia e inglês e obteve seu PhD em Antropologia em 1956.
Suas primeiras pesquisas antropológicas ocorreram na Indonésia. Com o passar do
tempo, Geertz desenvolveu algumas críticas aos padrões e metodologias adotadas
pela antropologia da época (fim dos anos 50), chegando a apresentar uma nova
maneira de se estudar a antropologia.
Daí o título de sua última obra: “Nova luz sobre a antropologia”. O título original é
“Available ligth: anthropological reflections on philosophical topics” lançado em 2000
e teve a primeira edição em português lançada em 2001 pela Jorge Zahar Editor.
Geertz escreveu outras vinte obras.
O livro é composto por onze capítulos, o que na verdade são tópicos a cerca do
tema maior “antropologia”, ou seja, os capítulos contêm materiais usados
originalmente em ocasiões como conferências e seminários ou artigos publicados
em periódicos.
O primeiro capítulo – Paisagem e acidente: uma vida de aprendizagem – é um
capítulo mais biográfico. Nele Geertz compartilha com os leitores suas experiências
acadêmicas, abordando como as coisas aconteceram para que ele viesse a se
envolver com os estudos antropológicos. Ele também enfatiza suas primeiras
experiências como pesquisador no campo, como na Indonésia e Marrocos, o que já
o levou a pensar mais sobre assuntos como o que realmente é a cultura e a
religião, o que o fez pensar mais ainda sobre quebras de certos paradigmas (como
estudar um povo só no ponto de vista antropológico?). “O que havia começado
como uma investigação do ‘papel do ritual e da crença na sociedade’ (isso tem que
ser escrito entre aspas), como uma espécie de mecânica comparada, transformou-
se, ao se adensar a trama e me enredar, no estudo de um exemplo particular da
produção do sentido e suas complexidades” (p. 25).
No capítulo 2 – O pensamento como ato moral: dimensões éticas do trabalho de
campo antropológico nos países novos – temos uma discussão interessante logo
no início a respeito do pensamento e a conduta e uma consideração sobre as
ciências sociais. Geertz afirma que “pensamento é conduta e deve ser moralmente
julgado como tal” (p. 30) e que nas ciências sociais, é bom se lembrar, que homens
e mulheres que trabalham em laboratórios, também estão no mesmo meio social “a
que se aplicam os métodos e se transformam as teorias”, ou seja, o pesquisador
não é totalmente neutro. Nas ciências sociais não há o isolamento do objeto de
estudo, isso traz algumas implicações para a metodologia da antropologia.
Geertz continua fazendo um tratamento sobre os chamados novos países e vai
desenvolvendo um pensamento que nem sempre as coisas podem ser
solucionadas de formas tão simples, às vezes, os problemas exigem respostas bem
complexas. Por exemplo, as raízes dos problemas dos novos países - “... se a
reforma agrária pode eliminar os latifúndios, não pode por si só transformar
camponeses pobres tradicionais em competentes fazendeiros modernos”. (p. 35).
“... a tarefa de alinhar a necessidade de manter e aumentar a produção agrícola
com a necessidade de manter e aumentar o emprego agrícola é
extraordinariamente difícil”. (p. 36).
O autor destaca a importância do trabalho de campo como elemento essencial para
a aprendizagem e enfatiza o “desequilíbrio entre a capacidade de revelar problemas
e o poder de resolvê-los” e “a inerente tensão moral entre pesquisador e objeto, por
outro” (p. 43). Ou seja, as análises feitas pelos antropólogos ou outros cientistas
podem revelar problemas, mas nem sempre, vão apresentar necessariamente as
soluções.
O capítulo 3 – Anti anti-relativismo – foi proferido originalmente na Conferência
magna no encontro anual da American Anthopological Association, Chicago, em
1983. Notamos nesse capítulo um espírito crítico e ousado de C. Geertz, pois ele
levanta um questionamento sobre as propostas conceituais de pessoas como Marx,
Nietzsche e Freud, bem como as propostas mais recentes de especialistas em
biogenética, que tentam explicar todas as coisas relacionadas ao ser humano,
sociedade como sendo conseqüências genéticas.
O capítulo quatro – Os usos da diversidade – aborda as diferenças culturais. Geertz
leva seus leitores a refletirem que a diversidade jamais acabará, existe e continuará
existindo, mas é lógico que algumas práticas vão se perdendo através do tempo.
Em meio a diversidade existente, as pessoas devem aprender a reconhecer as
diferenças e respeitá-las. Respeitá-las não as reprimindo, destruindo ou as
rejeitando. É necessário haver considerações pelas diferenças e as criatividades
sem qualquer ação dominante ou imperialista. Até porque, hoje em dia, as
diversidades estão bem próximas uma das outras. Basta sair às ruas de qualquer
metrópole para notar essa realidade e essa tendência de convívio diversificado
tende só a aumentar cada vez mais.
Daí surge um problema. O discurso de respeito pelas diferenças sociais pode ser
belo, mas na prática, será que as pessoas conseguem realmente fazer isso,
chegando, por exemplo, a “uma opinião comum sobre o que é decente e o que não
é, o que é justo e o que não é, o que é belo e o que não é, o que é razoável e o que
não é, pelo menos não tão cedo, ou talvez nunca” (p. 72).
Clifford Geertz faz uma crítica interessante ao que ele chama de etnocentrismo. Ele
diz que muitos valores, crenças e estilos de conduta adotados por nós, só o foram
porque nascemos onde nascemos, ou seja, se tivéssemos nascido em outra região
do mundo ou época distinta, teríamos como diferente aquilo que hoje temos como
normal (p. 73-74). Isso, segundo Geertz influencia nossos julgamentos, por
exemplo: o “de que xiitas, digamos, por serem outros, constituem um problema,
mas os torcedores de futebol, por exemplo, por serem parte de nós, não o
constituem, ou, pelo menos, não são um problema do mesmo tipo” (p. 74). “Se
quisermos ser capazes de julgar com largueza, como é óbvio que devemos fazer,
precisamos ser capazes de enxergar com largueza” (p. 85). Isto é, o pesquisador
deve tomar cuidado para não se aprisionar em sua própria tradição cultural.
O capítulo cinco com o título “A situação atual” faz uma abordagem crítica dos
padrões e metodologias adotados pela antropologia, especialmente ao rigor
metodológico das tradições acadêmicas. Ele começa dizendo que “ninguém, nem
mesmo os que” praticam a antropologia, sabem “exatamente o que ela é” (p. 86).
“Costuma-se perguntar aos antropólogos, e eles perguntam a si mesmos, em que
sua atividade difere do que fazem o sociólogo, o historiador, o psicólogo ou cientista
político, e eles não têm nenhuma resposta pronta, exceto que sem dúvida há uma
diferença” (p. 86).
Geertz crítica a falta de coerência interna da antropologia e deixa claro que houve
mudanças na metodologia de pesquisa da antropologia, citando novos termos como
antropologia social, dizendo que alguns termos tornaram-se obsoletos,
considerando associação com outras disciplinas como a psicologia e a sociologia,
dando um enfoque interdisciplinar, e dizendo que hoje “em dia, a esmagadora
maioria dos antropólogos sociais não está zarpando para ilhas não registradas nos
mapas ou entrando em paraísos na selva, mas atirando-se em assombrosas
entidades da história mundial, como a Índia, o Japão, o Egito, a Grécia ou o Brasil”
(p. 89).
Algo bem interessante que mostra uma fraqueza da metodologia da antropologia
questionada pelo autor é o fato de dois antropólogos – Obeyesekere e Sahlins –
estudarem o mesmo objeto, o Havaí, e chegarem a conclusões diferentes e
opostas. Isso prova como o pesquisador pode se deixar levar por considerações e
interpretações relacionadas ao seu próprio estilo e modo de ver o mundo,
selecionando por exemplo, as amostras para suas pesquisas de forma bastante
arbitrária.
Segundo Geertz, a antropologia deve se relacionar harmoniosamente com outras
disciplinas, como a história, para que os trabalhos possam ser melhor realizados.
Não deve haver conflitos ideológicos entre antropólogos e historiadores. Esses
devem parar de se acusarem mutuamente.
Comentando o enfoque interdisciplinar a partir de três livros citados na página 118,
Geertz diz o seguinte: “a junção da História e da Antropologia não é uma questão
de fundir dois campos acadêmicos num novo Isto ou Aquilo, mas de redefini-los em
termos um do outro, administrando suas relações dentro dos limites de um estudo
particular: as táticas textuais” (p. 119), e mais “a preocupação de que o intercâmbio
com os antropólogos leve a uma perda da alma é ridícula” (p. 123).
O autor termina o capítulo cinco fazendo algumas considerações, entre elas
podemos destacar a questão da generalização e formulação de leis. Geertz chama
a atenção para o perigo de se generalizar as análises e conclusões antropológicas,
usando, por exemplo, frases como: “Todas as sociedades têm...”, o que evidencia
que deve-se ter um respeito as diferenças de forma especial evitando o uso de
rótulos. Quanto a formulação de leis, alguns antropólogos dizem que para que a
antropologia seja reconhecida como uma verdadeira ciência ela precisa de leis,
porém leis formuladas por estes próprios que dizem isso e que ninguém sabe bem
quais são estas leis.
No capítulo seis – O estranho estranhamento: Charles Taylor e as ciências naturais
– C. Geertz trata a contribuição de Charles Taylor para a relação entre as ciências
naturais e as ciências humanas. “... é possível que a criação de um abismo
completo, fixo e intransponível entre as ciências naturais e as ciências humanas
seja um preço alto demais, além de desnecessário, a pagar para manter à distância
essas confusões. Ela é simultaneamente obstrutiva ao progresso de ambas” (p.
132). As palavras desse capítulo reconhecem o trabalho de Taylor: “Combater a
‘naturalização’ das ciências humanas é uma iniciativa necessária, para a qual
Taylor contribuiu de maneira vigorosa; e devemos ser-lhe gratos pelo destemor de
seus esforços nesse aspecto, e por sua precisão” (p. 142).
No capítulo sete – O legado de Thomas Kuhn: o texto certo na hora certa – Clifford
Geertz trata em poucas palavras a grande contribuição de Thomas Kuhn, a quem
ele chama de “Tom”, com a quebra de paradigmas dentro da área da antropologia.
Geertz diz que a obra Estrutura de Thomas Kuhn enfureceu muita gente, pois ele
foi contra uma série de pressupostos estabelecidos até então. “Kuhn não foi a
primeira pessoa, logo em início de carreira, a fazer alguma coisa que atrapalhou os
planos de muita gente...” (p. 148).
O capítulo oito chama-se “O beliscão do destino: a religião como experiência,
sentido, identidade e poder”. Este título faz referência ao livro “As variedades da
experiência religiosa” escrito por William James em 1902. Nas palavras de Geertz,
a “religião”, “nas páginas e no mundo de James – a Nova Inglaterra
transcendentalista em seus estertores -, é uma questão radicalmente pessoal, uma
profunda experiência particular e subjetiva de um ‘estado de fé’ (como ele o
chama), que resiste com inflexibilidade às pretensões do público, do social e do
cotidiano ‘de serem os ditadores únicos e máximos daquilo em que podemos
acreditar”. Geertz diz que o mundo de Wiiliam James estava sofrendo muito
influencia do secularismo, levando fiéis a abandonarem a fé em nome do
“progresso, modernidade e liberdade de consciência” (p. 151), e que muita coisa
que é chamada hoje de religiosa, na verdade não o são, ao mesmo tempo, existem
aspectos externos da religião que impactam a sociedade, sendo assim, religião não
pode ser visto como algo meramente particular e interior (p. 151).
A religião é uma realidade em todo o mundo. “O mundo não funciona apenas com
crenças. Mas dificilmente consegue funcionar sem elas” (p. 155). E uma vez que a
religião se faz presente em todo o mundo, é inevitável que esta seja apresentada
no mundo diversificado com muitas distinções também. Sendo assim, existem
muitas pessoas com crenças diferentes, e o mundo atual permite de forma muito
mais imediata o encontro de “pessoas com tipos de crenças diferentes daquelas
com que se cresceu” (p. 158).
Geertz crítica aqueles que dizem que a religião tem pura e simplesmente objetivos
materiais pragmáticos e externos, bem como os que acham que religião “não passa
de uma máscara e uma mistificação, um encobrimento ideológico de ambições
perfeitamente seculares e mais ou menos egoístas” (p. 159). Ele reconhece a
existência de coisas feitas em nome da religião, mas que na verdade não deveriam
ter esse nome, e defende a religião genuína dizendo que “a fé sustenta, cura,
consola, corrige as injustiças, melhora a sorte, garante recompensas, explica,
impõe obrigações, abençoa, esclarece, reconcilia, regenera, redime ou salva” (p.
159). Vale lembrar que Geertz teve como objetivo de sua primeira pesquisa feita no
campo a religião, em Java.
O capítulo nove também é uma análise de outro autor. Com o título “Um ato
desequilibrador: a psicologia de Jerome Bruner”, Geertz discute alguns conceitos
desenvolvidos por Bruner. Um ponto interessante, semelhante ao que Geertz fez a
respeito da antropologia, é que ele questiona o que é a psicologia. “Parece um
sortimento de investigações díspares e desconexas, reunidas numa mesma classe
pelo fato de todas se referirem, de um modo ou de outro, a tal ou qual coisa a que
se chama ‘funcionamento mental” (p. 166). Também merece destaque uma nova
retomada sobre o que é cultura. O autor enfatiza o que cultura não é: “uma relíquia
imperialista, uma manobra ideológica ou uma palavra de efeito, como sugerem
variadamente seus diversos críticos, é preciso repensá-la seriamente” (p. 175).
Mais uma vez, nesse capítulo, notamos a proposta de C. Geertz, com seu
pensamento pós-moderno e multicultural, de enxergarmos a antropologia a partir de
um novo ponto de vida neste mundo contemporâneo.
A mesma perspectiva do capítulo nove está presente na abordagem do capítulo dez
– Cultura, mente, cérebro / Cérebro, mente, cultura. Neste capítulo, mais uma vez
num enfoque interdisciplinar, Clifford Geertz trata a antropologia com paralelos com
a psicologia. Ele diz que ambas as disciplinas tem como objetos a cultura e a
mente, o que não é fácil o tratamento para nenhuma das duas, uma vez que são
conceitos que não têm sentidos rigidamente fixos, mas se desenvolvem e
modificam no tempo e espaço.
O último capítulo – O mundo em pedaços: cultura e política no fim do século –
encerra essa obra enfatizando aspectos do mundo pós-moderno como o pluralismo
e a diversidade, com uma abordagem do conceito de nação, país e povo.
Geertz faz um excelente trabalho que leva seus leitores a refletirem sobre o que
define ou quais elementos definem uma nação e de que como deve ser a política
dos dias atuais. Ele diz “tenhamos algo de útil a dizer sobre o mundo desmontado
ou em processo de desmonte, cheio de identidades irrequietas e ligações incertas”
(p. 198). Geertz cita vários exemplos de formação de países e de “desmanche” de
países, como o caso da Indonésia, Papua-Nova Guiné e Birmânia e Iugoslávia
(servo-croata e bósnia) e da Tchecoslováquia, entre outros.
O que define um país é sua história que pode ser lembrada? Sua localização
geográfica? A composição racial, religiosa ou o idioma comum? Citando casos
específicos como o do Canadá, fica claro que o conceito de país não é algo tão
simples de ser definido. “... o que talvez seja mais importante, depende de
construirmos uma concepção mais clara, mais detalhada, menos mecânica,
estereotipada e carregada de clichês daquilo em que consiste a política, do que ela
é” (p. 215).
Geertz também menciona a contribuição do desenvolvimento tecnológico para a
interação entre as culturas diversificadas. Atualmente, por meio de televisão e
internet tudo o que acontece em um determinado país, pode ser visto em qualquer
outro do mundo. Da mesma forma, nesse mundo globalizado, interligado não temos
mais espaço para uma só cultura, e sim para culturas.
Por isso, os líderes políticos precisam compreender esta realidade de mundo para
que possam agir corretamente. O Estado deve ser neutro no que se refere “a
matéria de crenças pessoais, seu individualismo resoluto, sua ênfase na liberdade,
na lei e na universalidade dos direitos humanos” (p. 225).
Clifford Geertz merece destaque entre os antropólogos devido a sua coragem de
buscar debates dentre pessoas de sua área, bem como com outros acadêmicos de
disciplinas distintas. Ele não procura simplesmente destruir idéias e conceitos, mas
sim, procurar entendê-los de forma adequada, procurando as devidas relevâncias
para a atualidade.
Isso evidencia sua insatisfação com o comodismo e seu bom preparo para interagir
com disciplinas e conceitos como: psicologia, história, sociologia, política, nação,
cultura, etc. Seu enfoque interdisciplinar é excelente. As disciplinas precisam ter
mais deste tipo de interação. É um desafio para as instituições de ensino
procurarem esse tipo de abordagem, bem como os próprios professores de
qualquer disciplina que seja, procurar conhecer bem sua própria área, mas também
várias outras contribuindo com a formação mais completa de seus alunos.
A insatisfação de Geertz com o comodismo é algo louvável, pois isso o levou a
estudar e pesquisar profundamente para buscar respostas para várias coisas que
estavam o incomodando. Este deve ser o espírito de qualquer estudioso.
Merece destaque as críticas de Geertz, pois desta forma ele contribuiu e está
contribuindo para a quebra de muitos paradigmas da sociedade em muitas áreas.
Sua crítica a psicologia quanto ao que é exatamente seu objeto de estudo é bem
interessante. Críticas como estas mostram que nem tudo que encontramos em
livros deve ser simplesmente lido e tido como verdade devido as referências do ou
dos autores. 
Como bem disse o autor, muitas pessoas atualmente estão procurando respostas
para todos os problemas humanos, partindo da biogenética. Estas tentativas tentam
desculpar os homens, fazendo com que ninguém mais enfatize a responsabilidade
individual perante suas ações.
Geertz também vai contra muitos acadêmicos ao considerar a religião como algo
bom para a sociedade. Normalmente ouvimos intelectuais sempre desprezando
aspectos religiosos dizendo até que não há nenhuma interação de religião com o
mundo científico.
Algo bem destacado também neste livro é o trabalho de campo, o corpo-a-corpo.
Com certeza, esse tipo de trabalho contribuiu com a melhor formação de Geertz,
pois desta maneira ele pode conviver de forma direta e dinâmica com os povos que
ele estava pesquisando. Conseqüentemente, ele passou a repensar alguns
conceitos como o de cultura e o de metodologia da antropologia.
Outro ponto forte deste livro é a visão ampla do mundo demonstrada do autor.
Geertz demonstra uma familiaridade incrível com a história mundial, bem como com
as características, aspectos e elementos de muitos países, mesmo dos quais ele
não pode pesquisar pessoalmente. Ele demonstra um conhecimento apreciável do
mundo globalizado.
A abordagem feita sobre a diversidade mundial e conseqüentemente da a atitude
de respeito e de contribuição para a harmonia entre os diferentes, também é um
ponto saliente do livro. Quanto mais reconhecimento se tem da diversidade
mundial, mais cuidado se tem com os julgamentos incorretos. Porém, devemos
considerar que em meio a tantas coisas relativas e tantas dificuldades de se
determinar o que é certo e o que é errado, temos as Escrituras Sagradas, que
expressam a vontade absoluta de Deus.
Desta forma, a Bíblia determina o que é virtude e o que é errado para qualquer
sociedade ou cultura do mundo. O que devemos fazer é evitar o erro de embutir
nossa cultura na Palavra de Deus, ou seja, erramos quando fazemos a Bíblia dizer
aquilo que queremos que ela diga.
Mais na parte de edição, podemos notar, os editores trocaram o título original ao
invés de traduzi-lo. Desta forma, o título em português parece ir contra algumas
insinuações do próprio autor de não estar criando nenhum novo modelo.
Quanto a composição da obra, a falta de um capítulo introdutório e um capítulo com
considerações finais, deixa o livro meio sem conexão. É quase que um amontoado
de textos sem ligações lógicas uns com os outros, o que deixa a leitura bastante
cansativa para aqueles que não são da área da antropologia.
As notas de rodapé deveriam ficar nas páginas nas quais o texto faz a referência.
Isso ajudaria o leitor. As notas no fim do livro fazem com que algumas explicações
sejam perdidas.
Geertz faz citações de muitos nomes que para quem não tem conhecimento básico
de antropologia fica difícil acompanhar as referências feitas. Por isso, o livro é mais
recomendável para estudantes de antropologia, história, cultura e sociologia.
Pessoas de outras áreas aproveitarão muito menos.
A linguagem é bem cansativa e às vezes confusa. O autor usa demasiadamente
expressões explicativas entre vírgulas, parênteses ou hífens, o que dificulta o
acompanhamento do raciocínio lógico do mesmo.
O já destacado espírito pesquisador e crítico de Geertz deve estar presente em
qualquer pessoa do mundo acadêmico. Acredito que como pastor e professor devo
fazer o mesmo. Devo me aprofundar cada vez mais em temáticas de minha
principal área de interesse – a teologia – mas também em disciplinas que possam
melhorar meu desempenho como ministro do Senhor.
Acredito que não há espaço para uma vida sem leituras, trabalhos e pesquisas para
aqueles que querem compreender melhor as pessoas e o mundo no qual estamos
inseridos. É o que podemos chamar de formação continuada. Pretendo sempre
estar envolvido com momentos de aprendizagem em meu ministério.
Fui desafiado a procurar organizar-me para ler, sistematicamente, obras de
assuntos não teológicos, para melhorar a compreensão do mundo globalizado.
Outro desafio para meu ministério é o tempo para reflexão. Preciso de tempo em
tempo, procurar momentos para refletir sobre meu ministério para não estar preso a
qualquer tipo de tradicionalismo ou comodismo. Preciso estabelecer de tempo em
tempo, auto-avaliações para minha vida para não deixar de crescer em práticas que
possam melhorar meu desempenho e principalmente melhorar o crescimento da
igreja na qual sirvo a Deus, estabelecendo estratégias contextualizadas.
Fui levado a pensar também a respeito das diferenças religiosas que encontramos,
especialmente no Brasil. A realidade é que temos um povo bastante religioso e que
precisamos melhorar o diálogo. Precisamos aproveitar momentos para nos
expressarmos e também permitir que outros falem. Os diálogos vão melhorar acima
de tudo, nossas convicções doutrinárias e nosso conhecimento sobre os
argumentos dos outros.
Ter uma visão mais abrangente do mundo é algo muito interessante. Devemos
pensar mais sobre qual é a cultura de nosso povo. Acho que isso é um ponto
importante para os trabalhos missionários e também para a prática de cultos em
muitas igrejas. Devemos repensar algumas formas de implantação de igreja, que
mais parecem uma colonização, ou seja, uma cultura dominante é imposta sobre
outras pessoas que não são respeitadas como indivíduos ativos que possuem uma
cultura diferente. Desta forma, nossos cultos de adoração devem estar mais
relacionados ao povo brasileiro do que aos europeus ou estadunidenses.
Isso nos faz pensar sobre a música da igreja local, as vestimentas e alguns usos e
costumes também.
Outro aspecto a ser considerado é o estudo das Escrituras. Geertz trata a
antropologia interpretativa e podemos fazer um paralelo com a tarefa do intérprete
das Escrituras. Se ele não tomar cuidado, ele pode lançar sobre a Bíblia seus
padrões e valores e achar que sua cultura é a correta por ser bíblica, quando na
verdade, ele não foi neutro em suas interpretações bíblicas. Cabe ao estudioso da
Palavra de dedicar para que não cometa esse erro.
A importância do estudo da Palavra de Deus também está relacionada a busca de
absolutos num mundo de tantos relativos. A falta de um estudo diligente pode nos
levar a achar que até mesmo a Bíblia é um conjunto de princípios relativos, quando
na verdade, a vontade, o caráter e a Palavra de Deus estão acima de qualquer
época, lugar, circunstância ou mesmo pessoas. Devemos salientar a vontade de
Deus para qualquer cultura desse mundo.
Devemos enfatizar o que Deus diz é a verdade. Sendo assim, mesmo buscando a
interatividade com outras disciplinas teremos conflitos e nestas situações temos
que saber priorizar as Escrituras. Por exemplo, a Bíblia diz que os salvos por Cristo,
aqueles que confiam nele, foram libertos do pecado, não são mais escravos do
pecado e por isso não vivem mais na prática do pecado, ou seja, o poder de Cristo
é suficiente para libertar qualquer pessoa de qualquer prática que desagrada a
Deus, sendo assim, pecado deve ser chamado de pecado e não de problema
genético ou psicológico como algumas vezes fazem a biogenética e a psicologia.

Postado há 30th July 2008 por Fernando F. Sousa

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