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ISSN 1984-9354

SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL (SGA): UMA


PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO EM UM MERCADINHO DE
BAIRRO

Área temática: Gestão Ambiental & Sustentabilidade

Mariana Silva Gonçalves


lucianobispo@gmail.com
Luciano Bispo dos Santos
lucianobispo@gmail.com

Resumo: O aumento da consciência ambiental da população vem forçando empresas de todos os portes a mudar sua
postura e rever ações a respeito dos problemas ambientais cada vez mais evidentes. O presente trabalho desenvolve
uma análise sobre como a questão é tratada por tais empresas e apresenta uma proposta de um sistema de gestão
ambiental adequado à realidade de um mercadinho de bairro, tendo como base para o seu desenvolvimento os
parâmetros da ISO 14001:2004. Segundo a norma, os sistemas de gestão ambiental (SGA) podem ser adequados a
empresas de qualquer tipo, ramo ou porte, sendo inclusive uma fonte agregadora de valor e elemento de promoção de
vantagem competitiva para as empresas que o adotam. Foi também objetivo deste trabalho testar tal proposição.
Apesar desta flexibilidade, ainda são poucas as micro e pequenas empresas que adotam uma postura ética em relação
ao meio ambiental e ao uso dos recursos naturais. A adoção de postura sustentável confere às empresas vantagem
competitiva, já que cresce a cada dia o número de consumidores que se preocupam com as questões ambientais e que
valorizam empresas responsáveis. Trata-se de um estudo de caso que teve como foco a gestão ambiental em micro e
pequenas empresas e o impacto ambiental gerado por sua operação. Foram utilizados dados primários e criado um
Sistema de Gestão Ambiental adequado às especificidades de um mercadinho de bairro, ampliando dessa forma o
conhecimento sobre tema. Para tal, foi necessário identificar as práticas ambientais atuais realizadas pelo
mercadinho; identificar a percepção ambiental da direção da empresa com vistas a desenvolver uma política ambiental
e identificar os riscos ambientais relacionados ao negócio. Os resultados obtidos quanto a aplicação da metodologia
para desenvolvimento do sistema foi positiva indicando ser possível a sua aplicação aos negócios de pequeno porte.
Sendo assim, propor um sistema de gestão ambiental para o Mercado Plenilúnio, é, ao mesmo tempo, contribuir para
conservação do meio ambiente e promover vantagem competitiva à empresa.

Palavras-chaves:
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
13 e 14 de agosto de 2015

INTRODUÇÃO
A questão ambiental tem sido cada vez mais discutida nos últimos anos, impulsionada pela
crescente degradação da natureza a ponto de colocar em risco a vida na terra. Os sinais de
esgotamento podem ser comprovados por diversos fatores, dentre os quais a destruição das florestas,
dos mares, a redução das geleiras em virtude das mudanças climáticas, a perda de biodiversidade em
diversos ecossistemas, o comprometimento da fauna com a extinção de espécies pela caça predatória,
por consequência aumento do número de desastres ambientais.
O homem aparece no centro da questão como um dos principais vetores dessa transformação,
especialmente por se apropriar irresponsavelmente dos recursos naturais tratando-os apenas como
insumo para produção e satisfação das suas necessidades e desejos, demonstrando que seu foco
extrapolou há algum tempo a busca pela sobrevivência.
Segundo Dias (2011, p.13), a degradação ambiental não é novidade, “durante os últimos 200
anos é que agravou o problema ambiental na terra, com a intensificação da industrialização e o
consequente aumento da capacidade de intervenção do homem na natureza”.
Cientistas, pesquisadores, países, comunidades inteiras estão em busca de solução para os
problemas ambientais em curso. Foi somente na década de 1970 que os países se organizaram para
discutir de maneira séria os problemas ambientais, já evidentes naquela época.
A iniciativa de reunir as lideranças mundiais para discutir as questões ambientais, o futuro
ambiental do planeta e propor soluções para os problemas em andamento partiram da Organização das
Nações Unidas – ONU, que passou a promover conferências que dariam origem a tratados e
convenções voltados para preservação ambiental e restauração dos recursos naturais já degradados.
Foi só em 1972 que, impulsionada pela crescente preocupação com os problemas ambientais, a
ONU promoveu a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano que teve
como resultado uma declaração e plano de ação para o meio ambiente humano onde contém 109
recomendações sobre como deveria ser o comportamento humano em relação à natureza. Vinte anos
depois realizava-se a Rio-92 na cidade do Rio de Janeiro e teve um papel fundamental ao ratificar a
ideologia do Desenvolvimento Sustentável como forma de relacionamento viável entre o homem,
empresas e meio ambiente. Tal conceito se baseia premissa de que é necessário conciliar a preservação
da natureza com o crescimento econômico; visto que não se poderia admitir que o mundo fosse
privado das benesses do desenvolvimento, especialmente no caso dos países subdesenvolvidos que
sofriam com fome, doenças, desigualdade e péssimas condições de vida. Mais vinte anos se passaram e
em 2012, novamente na cidade do Rio de Janeiro aconteceu a Rio+20 que teve como objetivo

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incorporar novos temas e realizar um diagnostico de tudo que já foi feito nas outras convenções
realizadas.
Muita coisa mudou de lá pra cá, apesar disso é difícil o consenso entre os países membros a
respeito das possíveis soluções. Especialmente quando é necessário “cortar na própria carne”
reduzindo crescimento ou abrindo mão dos benefícios do desenvolvimento, pouco ou nada sustentável.
Uma parte da solução do problema passa pela mudança de consciência e de comportamento dos
cidadãos consumidores diante da natureza e da forma com que vivem para tornar possível a
preservação do meio ambiente. Apesar de não ser possível descartar a responsabilidade das empresas
neste cenário de degradação, os consumidores estão na ponta desse processo e se tornaram alvo das
empresas para venda e utilização dos seus produtos.
As empresas utilizam processos pouco sustentáveis, que continuam afetando o meio ambiente,
através do consumo excessivo de agua e energia, emissão de poluentes, descartes inadequados de
resíduos, desmatamento, poluição das aguas, dentre outros.
Mas, no atual ambiente de competição empresarial, as empresas que pretendem se manter e
ainda se destacar no mercado, devem se preocupar com o meio ambiente e adotar práticas sustentáveis,
não só para melhorar sua imagem no mercado, mas também para preservar o meio ambiente. Nos
termos de Barbieri (2004), as práticas deveriam ser outras:
A solução dos problemas ambientais, ou sua minimização, exige uma nova
atitude de empresários e administradores, que devem abranger e levar em
consideração o meio ambiente em suas decisões e adotar concepções
administrativas e tecnológicas que contribuam para ampliar a capacidade de
suporte do planeta.

As micro e pequenas empresas estão em busca por sucesso e vantagem competitiva, deixando de
priorizar somente a maximização do lucro e começando a se preocupar também com sua imagem no
mercado, desenvolvendo estratégias que visam o investimento em ações que integrem as suas
necessidades e ao mesmo tempo, preservem o meio ambiente. Logo, a empresa ganhará
competitividade se estabelecer práticas sustentáveis na sua relação com consumidores, clientes,
fornecedores, funcionários e com a sociedade em geral.
Os sistemas de gestão ambiental têm sido umas das opções utilizadas pelas organizações para
melhorar o seu desempenho ambiental e alcançar objetivos econômicos.
Segundo Dias (2011, p.102), o objetivo do sistema de gestão ambiental “é conseguir que os
efeitos ambientais não ultrapassem a capacidade de carga do meio onde se encontra a organização, ou
seja, obter-se um desenvolvimento sustentável”. Com o intuito de melhorar o desempenho do seu

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negocio tanto para com os seus consumidores quanto com o meio ambiente, surgiu a proposta de um
sistema de gestão ambiental para o Mercado Plenilúnio.
O presente artigo tem a gestão ambiental como tema central, sendo o problema que conduziu o
estudo podendo ser descrito como o impacto ambiental causado por micro e pequenas empresas e a
implantação de sistemas de gestão ambiental. Dessa forma, o objetivo geral do estudo é propor um
sistema de gestão ambiental adequado a realidade específica de um mercadinho de bairro. Para tal, foi
necessário identificar as práticas ambientais atuais realizadas pelo mercadinho; identificar a percepção
ambiental da direção da empresa com vistas a desenvolver uma política ambiental e identificar os
riscos ambientais relacionados ao negócio.

Relevância do estudo

O presente estudo é relevante por se adequar às demandas e padrões responsáveis em relação a


conservação da natureza, diante disso as empresas estão buscando melhoria continua através de
ferramentas de identificação de problemas e soluções ambientais.
Sendo assim, propor um sistema de gestão ambiental para um mercadinho de bairro é, ao mesmo
tempo, contribuir para conservação do meio ambiente e promover vantagem competitiva à empresa.

Micro e pequenas empresas no Brasil

As micro e pequenas empresas tem tido papel importante na economia do Brasil, conforme:

Nos últimos doze anos, as micros e pequenas empresas (MPE), ao lado dos
microempreendedores individuais (MEI), representaram importante e indispensável elemento
para movimentação da economia brasileira, que deve ao segmento 52% dos empregos formais
e 40% da massa salarial. Com crescimento significativo na última década, o setor influencia de
forma direta na geração de recursos e já representa 25% do PIB nacional. Só em 2012, foram
891,7 mil empregos criados (JORNAL DO BRASIL, 2013).

“As micro e pequenas empresa correspondem a 99% das empresas brasileiras” (GLOBO.COM,
2012), o que acarreta novos empregos consequentemente aumentando a distribuição de renda e
diminuindo a pobreza e desenvolvimento da economia do Brasil.

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No ano de 2006, entrou em vigor a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas que Institui o
Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, também conhecido como a Lei
Geral da Micro e Pequena Empresa.

A Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, “trouxe inovações que permitem aproveitar melhor o
potencial estratégico dos pequenos negócios em favor das cidades” (PORTAL DO
EMPREENDEDOR, 2012). Isso ocorre porque existem caminhos que melhoram o ambiente para essas
atividades, como diminuição da burocracia e dos impostos, acesso às compras governamentais e
criação do agente de desenvolvimento, profissional contratado pelas prefeituras para articular políticas
públicas em favor das micro e pequenas empresas.

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) é uma empresa que tem
por finalidade apoiar empreendimentos que visem o desenvolvimento nacional. “O banco investe em
empreendimentos de organizações e pessoas físicas segundo critérios que priorizam o
desenvolvimento com inclusão social, criação de emprego e renda e geração de divisas” (BNDES,
2013). Sendo assim, as micro e pequenas empresas tem a oportunidade de obter empréstimos com taxa
bem menores em relação a outros bancos.

As empresas possuem uma classificação de acordo com sua receita bruta anual, que é medida
através do produto de venda de bens e serviços nas operações de conta própria, o preço dos serviços
prestados e o resultado nas operações em conta alheia, não incluídas as vendas canceladas e os
descontos incondicionais concedidos conforme mostra a Figura 1.

Figura 1: Classificação de porte de empresa adotada pelo BNDES

Classificação Receita operacional bruta anual


Microempresa Menor ou igual a R$ 2,4 milhões
Pequena empresa Maior que R$ 2,4 milhões e menor ou
igual a R$ 16 milhões
Média empresa Maior que R$ 16 milhões e menor ou
igual a R$ 90 milhões
Média-grande empresa Maior que R$ 90 milhões e menor ou
igual a R$ 300 milhões
Grande empresa Maior que R$ 300 milhões
Fonte: BNDES

Cenário ambiental e a influencia da empresa

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Muitos empresários ainda não veem oportunidade de ganhos ao investir no meio ambiente,
conforme Backer (1995):

A indústria assim como o setor de serviços é administrada por uma geração de


executivos que praticamente não possui nenhum tipo de cultura do meio
ambiente e consideram que as regulamentações ambientais impõem gastos
significativos, diminuem a produtividade e reduzem a capacidade das empresas
de competirem em mercados mais exigentes, principalmente nos mercados
internacionais.

Ou seja, para a maioria dos empresários investir na preservação do meio ambiente gera custos
financeiros altos, como mostra a pesquisa do SEBRAE:

Para uma maioria simples de empresários (46%), a questão ambiental representa oportunidades
de ganhos, o que pode ser considerado como um fato bastante positivo. Por outro lado, para
16% deles, essa questão representa custos e despesas; e para 38%, nem ganhos, nem despesas.
Para um grupo ainda não desprezível de empresários (54%), as oportunidades de ganhos
relacionadas à questão ambiental ainda não estão bem evidenciadas (SEBRAE, 2012).

Atingir a sustentabilidade tem sido um dos maiores desafios entre as empresas, que se alcançado
seria de grande importância, pois colaboraria em diminuir a poluição e o desperdício dos recursos
naturais. Umas das ações utilizadas pelas micro e pequenas empresas para atingir a sustentabilidade é
implantação de sistema de gestão ambiental que busca a melhoria continua da qualidade ambiental de
seus serviços e produtos.

Mas por outro lado Donaire (1995, p.102) afirma que “se uma empresa pretende implantar a
gestão ambiental em sua estrutura organizacional, deve ter em mente que seu pessoal pode
transformar-se na maior ameaça ou no maior potencial para que os resultados esperados sejam
alcançados”, para que o sistema de gestão ambiental seja uma questão positiva dentro da empresa é
necessário que haja uma mudança no comportamento dos colaboradores através de ações que os
integrem ao novo cenário ambiental que a empresa está propondo.

Outro fator importante é adequar o sistema de gestão ambiental aos processos da empresa, de
forma que modifique positivamente o seu comprometimento ambiental sem afetar o desempenho
financeiro e operacional.

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Sistema de gestão ambiental

Para Denise Curi (2012, p. 58), um sistema de gestão ambiental é “um conjunto de funções em
uma empresa que tem o objetivo de diminuir o impacto negativo de suas atividades sobre a natureza”.
Já para Dias (2011, p. 104), “é o conjunto de responsabilidades organizacionais, procedimentos,
processos e meios que se adotam para a implantação de um politica ambiental em determinado
empresa ou unidade produtiva”.

Para fins do presente artigo, adotaremos a definição de SGA contida na Norma NBR 14004:2005
que o define como “a parte de um sistema de gestão de uma organização utilizada para desenvolver e
implementar sua política ambiental e para gerenciar seus aspectos ambientais”. Ainda no contexto
desta norma, “um sistema de gestão é um conjunto de elementos inter-relacionados utilizados para
estabelecer a política e os objetivos e para atingir esses objetivos” e “inclui estrutura organizacional,
atividades de planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos.”

O objetivo de um sistema de gestão ambiental é melhora continua da qualidade ambiental dos


serviços, produtos e ambiente de trabalho, seja qual for a organização publica ou privada, mas para isto
é necessário o envolvimento de todos os departamentos da organização, pois só a implantação e
operação do sistema de gestão ambiental por si só, não resultará na redução imediata de impactos
ambientais adversos. O seu foco pode ser definido como a possibilidade de desenvolver, programar,
organizar, coordenar e rastrear as atividades organizacionais relacionadas ao meio ambiente visando
conformidade e redução de resíduo.

Através dos sistemas de gestão ambiental as organizações contribuem para responsabilidade


social e o cumprimento da legislação, possibilitando identificar oportunidades de redução do uso de
materiais. O sistema de gestão ambiental tem por objetivo provir as empresas de instrumentos que
permitam reduzir os danos ao meio ambiente, mas de maneira que seus benefícios ultrapassem os
limites dos custos que foram implementados.
Para ter um SGA implementado e funcionando é necessário seguir os requisitos do ciclo PDCA
(planejar, executar, verificar e agir), conforme apresentado na Figura 2.

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Figura 2 — Estrutura do SGA segundo o modelo PDCA

Melhoria
Contínua
Política
Ambiental

Revisão pela Planejamento


Gestão

Verificação Implementação
e Operação

Fonte: ABNT ISO 14001:2004.

Segundo NBR ISO 1400:2005, o ciclo PDCA é dividido em cinco partes:

 Politica ambiental: estabelece os princípios de ação para uma organização. Estabelece o nível
de responsabilidade e desempenho ambiental de uma organização, contra o qual todas as ações
subsequentes serão julgadas. Recomenda-se que a politica seja apropriada aos impactos
ambientais das atividades, produtos e serviços da organização.
 Planejamento: é critico para a plena realização da politica ambiental de uma organização e para
o estabelecimento, implementação e manutenção de seu sistema de gestão ambiental.

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 Implementação e operação: recomenda-se que uma organização providencie recursos,


capacitação, estruturas e mecanismos de suporte necessários para: atender sua politica
ambiental seus objetivos e metas; responder a alterações de seus requisitos; comunicar-se
sobre questões do sistema de gestão ambiental com as partes interessadas; fornecer condições
para a operação e melhoria continua do sistema de gestão ambiental, visando aumentar o seu
desempenho ambiental.
 Verificação: envolve medição, monitoramento e avaliação do desempenho ambiental de uma
organização. Recomenda-se que a ação preventiva seja utilizada para identificar possíveis
problemas antes que eles ocorram. A ação corretiva consiste na identificação e correção de
problemas no sistema de gestão ambiental.
 Análise critica pela administração: é recomendado que uma organização periodicamente análise
e aprimore continuamente seu sistema de gestão ambiental, com o objetivo de aprimorar seu
desempenho ambiental geral.

Mercado Plenilúnio

O mercado Plenilúnio é uma microempresa com gestão familiar que está na segunda geração da
família, fundado em 25 de setembro de 1969, pelo pai com recursos próprios. Hoje é gerenciado pelos
filhos: Henrique e Roberto, seu quadro funcional com oito colaboradores, suas atividades estão
concentradas na comercialização de vários tipos e gêneros alimentícios com marcas, bem como
utensílios para casa, produtos de limpeza, bebidas alcoólicas, refrigerantes, sucos e derivados, frutas,
verduras, legumes. Ainda conta com um espaço que funciona como uma mini padaria. Possui um
cartão próprio com facilidades para seus clientes. Com um faturamento mensal de R$ 45.000,00. Está
situado no endereço: Avenida Dom Helder Câmara, 3025 - Maria da Graça - Rio de Janeiro.

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METODO

Tipo de pesquisa

Trata-se de um estudo de caso com a proposta de desenvolvimento de uma ferramenta gerencial


voltada para melhoria do desempenho ambiental de um mercadinho de bairro. Segundo Gil (2010,
p.37), o estudo de caso “consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira
que permita seu amplo e detalhado conhecimento, tarefa praticamente impossível mediante outros
delineamentos já considerados”.

Coleta de dados

Os dados para o desenvolvimento do presente estudo foram obtidos por meio de entrevistas em
profundidade com a utilização de roteiro semiestruturados e observação direta das rotinas da empresa
analisada. Segundo Gil (2010, p.120), “na maioria dos estudos de casos bem conduzidos, a coleta de
dados é feita mediante entrevistas, observação e análise de documentos”.

Proposta de um SGA para o Mercado Plenilúnio

Para a abertura de um estabelecimento é necessário estar de acordo com a legislação do


município e com os alvarás dentro da validade. O mercado possui todos os alvarás necessários para o
seu funcionamento, conforme a Prefeitura do Rio de Janeiro os alvarás são: alvará de funcionamento,
vigilância sanitária e do corpo dos bombeiros, os alvarás estão descritos assim:
 Alvará de funcionamento: é exigido pelo Município de onde a empresa será instalada e
dependem da legislação especifica do próprio município.
 Alvará de vigilância sanitária: para a emissão do alvará, são fiscalizadas as condições de
geração, acondicionamento, armazenamento, comercialização, transporte e destinação de
resíduos, além da organização de trabalho e do manuseio de substâncias, produtos, máquinas
e/ou equipamentos que apresentem riscos à saúde do trabalhador ou da coletividade.

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 Corpo de bombeiros: como regra, toda e qualquer empresa precisa estar dentro das regras de
segurança, no que se refere à estrutura de prevenção de incêndios e pânico. A adequação das
instalações é verificada pelo Corpo de Bombeiros. A empresa deve solicitar a vistoria dos
Bombeiros em suas instalações e a comprovação da regularidade através de licenciamento
específico.

O que mais se aproxima sobre a questão ambiental é o alvará de vigilância sanitária que visa a
coleta, transporte e destino correto de resíduos sólidos, pois é exigido que essas atividades se
processem em condições que não tragam prejuízos para à saúde assim como para o meio ambiente.
Apesar de se tratar de um pequeno negócio, a operação do mercado gera impactos ambientais,
que, segundo Dias (2011, pag.73) pode ser definido “como a modificação no meio ambiente causada
pela ação do homem”.
A análise do funcionamento do mercado e levantamento dos processos envolvidos em sua
operação, permitiu a identificação dos principais impactos ambientais gerados por uma empresa com
esta estrutura, os quais são apresentados a seguir:
 Uso de sacolas plásticas, embalagens de papelão que contribuem para emissão de gazes e a
diminuição da camada de ozônio.
 Ausência de tratamento de resíduos.
 Uso excessivo de energia elétrica e água
 Manuseio e armazenagem de substâncias químicas

O mercado não realiza nenhum processo que vise à preservação do meio ambiente, até mesmo
pelo desconhecimento da parte dos donos, mas para sanar o problema, o presente trabalho propõe um
sistema de gestão ambiental adequado à realidade do empreendimento, de acordo com o ciclo PDCA.
O primeiro passo para se construir um sistema de gestão ambiental é definir uma Política
Ambiental que servirá de elemento motor do sistema. Conforme afirma Dissi (2013), o sistema deve
refletir:
O comprometimento da alta administração em relação ao atendimento às leis
aplicáveis e à melhoria contínua, constituindo a base para o estabelecimento
dos objetivos e metas da organização e, ainda, ser suficientemente clara para
seu entendimento pelas partes interessadas, internas e externas, permitindo sua
periódica analise e revisão.

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A análise da sua estrutura, de seus processos e da visão ambiental dos proprietários do mercado,
desenvolveu uma Proposta de Política Ambiental a ser adotada pelo mercado Plenilúnio:

 Politica Ambiental Mercado Plenilúnio:

 Atuar de acordo com as exigências da legislação ambiental, as normas e os


compromissos.

 Buscar a melhoria contínua do seu desempenho ambiental, com ênfase na diminuição da


geração de resíduos e redução do consumo dos recursos naturais, que são gerados
através das atividades diárias.

 Estabelecer canais de comunicação das questões do meio ambiente com seus


consumidores e fornecedores.

 Treinar e conscientizar todos os seus colaboradores sobre a importância da


sustentabilidade, através de processos educativos.

Uma política ambiental de uma empresa será estabelecida, desenvolvida e implementada dentre
outras formas, pelo funcionamento do sistema de gestão ambiental (NBR 14004:2005).
Com a política ambiental definida foi possível desenvolver um Sistema de Gestão Ambiental
adequado às realidades do Mercado Plenilúnio. A estrutura conceitual do sistema de gestão ambiental
do Plenilúnio pode ser observada a seguir:

 Planejar: Para obter um sistema de gestão ambiental claro e objetivo, o primeiro passo será a
verificação dos principais impactos que o mercado causa ao meio ambiente de acordo com
suas atividades e processo, gerando assim um relatório para que tenhamos de base para
elaborar práticas sustentáveis.
 Desenvolver: Serão escolhidas ações praticas que serão realizadas no dia a dia do
funcionamento do mercado. Para que os processos de preservação ao meio ambiente possam

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ser feitos, será dado um treinamento aos colaboradores para que conscientizem e participem
ativamente do sistema de gestão ambiental.
 Checar: Quando o sistema estiver sendo implantado será necessário verificar se esta tudo de
acordo com o que foi proposto. Essa analise será feita através de relatórios mensais que irão
medir e monitorar o desempenho ambiental, pois como o mercado possui um espaço pequeno
não é necessária uma inspeção mais severa.
 Atuar: Se ocorrerem imprevistos no meio da realização dos processos será preciso realizar
ações corretivas para que os problemas sejam resolvidos. Para saber se os objetivos foram
alcançados, os gerentes irão realizar relatórios mensais.

Um Sistema de Gestão Ambiental é um conjunto de elementos inter-relacionados de ações que ao


serem desenvolvidos permitirão atingir os objetivos ambientais propostos na Política Ambiental da
empresa.
No Quadro 1, são apresentadas as atividades planejadas para compor o SGA Mercado Plenilúnio.

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Quadro 1 – Atividades que compõe o SGA proposto para o Mercado Plenilúnio

Processos Ações poluidoras Ação proposta

Utilização de sacolas Demoram em média até 100 Incentivar seus clientes a


plásticas para se decompor. utilizarem sacolas recicláveis e
oferecer descontos de R$0,10
para cada duas sacolas
utilizadas.

Utilização da agua A lavagem do ambiente é feita Reaproveitar a agua da chuva


com uso excessivo da agua, para lavagem do mercado;
assim como na utilização do Nos sanitários, utilizar
vaso sanitário é uma dosagem válvulas que otimizam o
normal para cada descarga consumo de água, com volume
utilizada. de descarga diferentes para
cada necessidade dos
usuários.

Descarte de lixo Não existe separação correta, o Separar o lixo de acordo com o
lixo é colocado na rua dentro de seu material e despertar o
uma caçamba nos dias em que a interesse de ajudar ONGs que
Comlurb passa para recolher o através da reciclagem geram
lixo. empregos e transformam lixo
em utilidades para a sociedade.

Utilização de energia Uso de lâmpadas comuns que Uso de lâmpadas fluorescentes


elétrica consumem mais energia e de alta eficiência energética,
geram riscos á saúde, já que longa durabilidade e baixo teor
possuem alto teor de mercúrio, de mercúrio, para redução de
assim como aparelhos que ficam riscos à saúde. Desligar os
ligados sem que ninguém esteja aparelhos quando os mesmos
utilizando. não estiverem sendo
utilizados.

Descarte de resíduos Descarte incorreto gerando Detectar empresas de


sólidos odores no esgoto. reciclagem que transformam
os resíduos sólidos em
biodiesel, sabão e etc.
.
Entrega a domicilio A entrega é feita de carro, o que Pequenas entregas poderiam
das compras aumenta a emissão de gases. ser feitas de bicicleta.

Treinamento dos Funcionários mal treinados Treinamento constante dos


colaboradores podem usar erradamente os funcionários para que possam
recursos da empresa. usar corretamente os recursos

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e materiais da empresa e que


estejam preparados para
orientar os clientes no
aproveitamento e combinação
de materiais (limpeza,
alimentos, energia)

Compras Não possui nenhuma abordagem Realizar compra certifica ou


dos impactos que os produtos empresas com rotulação
causam ao meio ambiente ambiental

Layout do mercado Produtos que não possuem uma Privilegiar os produtos com
abordagem ambiental. uma abordagem ambiental.

Fonte: Desenvolvido pelo autor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O mundo vem passando por grandes mudanças que obrigam as empresas a buscarem meio de se
adaptarem a essa nova realidade, e com isso sobreviver no mercado em que atuam, desta forma só
terão oportunidade de permanecer no mercado as empresas que investirem cada vez mais em processos
ecologicamente corretos. Para o mercado Plenilúnio conseguir sobreviver nessa nova era de
sustentabilidade, seguir a politica ambiental proposta seria o primeiro passo, dando continuidade na
implantação de um sistema de gestão ambiental tendo por base a realidade do mercado, trazendo
grandes recompensas para o mercado, assim como na preservação do meio ambiente.
Contratempos foram encontrados ao longo do trabalho, mesmo obtendo uma relação interpessoal
com os proprietários, por algum receio não quiseram dar informações mais especificas sobre o
negocio, assim como na proposta para implantar um sistema de gestão ambiental, pois desconhecem e
nunca pensaram em processos que visam à preservação do meio ambiente. Foi percebido que o
mercado tem a intenção de focar em aspectos específicos e não veem no sistema de gestão ambiental a
oportunidades de ganhos.
Para implantar um sistema de gestão ambiental é necessária uma conscientização de todos os
setores da empresa, assim como o interesse por informações sobre o assunto. Empresas pequenas
enfrentam certas dificuldades por obterem uma estrutura pequena e não dispor de investimentos para
tal, assim como a falta de informação por parte dos proprietários. Segundo Tim Smith, vice-presidente
da Walden Asset Management: “A Sustentabilidade se tornou importante para empresas de todos os

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tamanhos. Porém, elas contam que compreendem a importância, mas não estão exatamente certas de
como engajarem-se nisto” (AGENDA SUSTENTÄVEL, 2010).

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REFERÊNCIAS

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XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
13 e 14 de agosto de 2015

VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em Administração. 6 ed. São Paulo: Atlas,


2005.

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