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Avaliação do Potencial Impacto da Marcação CE Sobre a Produção de


Agregados em Portugal

Conference Paper · January 2005

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Mário Quinta-Ferreira
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XV Encontro Nacional do Colégio de Engenharia Geológica e de Minas da Ordem dos Engenheiros

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL IMPACTO DA MARCAÇÃO CE SOBRE A


PRODUÇÃO DE AGREGADOS EM PORTUGAL

Castelo Branco, Fernando


Dep. Ciências da Terra, Universidade de Coimbra, fcbranco@dct.uc.pt

Quinta Ferreira, Mário


Dep. Ciências da Terra, Universidade de Coimbra, mqf@dct.uc.pt

Resumo
Pela transposição da Directiva dos Produtos da Construção ao direito nacional e pela entrada em vigor das
normas harmonizadas aplicáveis aos agregados, passaram os produtores de agregados, desde 1 de Junho
de 2004, a ter de comercializar os seus produtos com marcação CE.

A aposição da marcação CE requer, por parte do produtor, o cumprimento de um conjunto vasto de


requisitos técnicos e administrativos que fazem com que este tenha de realizar investimentos e proceder a
alterações de procedimentos que lhe permitam ajustar os seus produtos e serviços às exigências daí
decorrentes.

De entre os requisitos a cumprir destacam-se os de natureza técnica pois serão os que maior impacto terão
sobre a actividade dos produtores, tanto na perspectiva dos investimentos a realizar quanto na perspectiva
das alterações organizativas a implementar.

Os requisitos técnicos a verificar pelo produtor de agregados prendem-se fundamentalmente com a


caracterização do produto, especificação continuada do seu desempenho e avaliação da sua conformidade,
para o que necessitará de realizar, periodicamente, um amplo e diverso conjunto de ensaios.

Tendo por base a experiência já adquirida no apoio à implementação de sistemas de controlo da produção
em fábrica para cumprimento destes requisitos, procuramos fazer, nesta comunicação, uma avaliação
sumária do impacto que a marcação CE pode ter sobre a produção dos agregados, nomeadamente
identificando as áreas onde existe uma maior necessidade de investimento e procurando responder à
seguinte questão: «com a marcação CE os produtos mantêm-se os mesmos, embora descritos de outra
forma, como afirma John Lay (Lay, 2004), ou pode acontecer que o produtor tenha de alterar os seus
produtos para que passem cumprir os requisitos técnicos a que estão obrigados?»

Para discussão desta questão serão apresentados e analisados dados concretos de caracterização de alguns
agregados e sobre eles serão feitas diversas considerações e apresentadas algumas conclusões.

Ponta Delgada, 26 a 29 de Maio de 2005 1


Título do trabalho (justificado à direita)

1. Introdução
Com as directivas da “Nova abordagem”, a CEE introduz um mecanismo regulador da livre comercialização
de produtos no seio do seu espaço económico comum, o qual permite aos seus estados membros
assegurarem que a comercialização desses produtos é feita salvaguardando o cumprimento de requisitos
essenciais, nomeadamente no âmbito da segurança estrutural, da higiene e segurança dos trabalhadores e
do ambiente, responsabilizando directamente os fabricantes da assumpção dessa responsabilidade.

Em Dezembro de 1988, a Comunidade Europeia publicou a Directiva dos Produtos da Construção


(89/106/CEE, de 21 de Dezembro de 1988) que, sendo uma directiva que se enquadra nas directivas da
“Nova abordagem”, estabelece, no essencial:
• um conjunto de requisitos essenciais a que as obras devem obedecer, os quais vão desde a “Resistência
mecânica e estabilidade” até a “economia de energia e retenção de calor”;
• uma metodologia de certificação da conformidade que compreende seis níveis de controlo, diferenciados
pelos requisitos e responsabilidades que envolvem; e
• as entidades que devem estar envolvidas na certificação da conformidade, nomeadamente os
Organismos Notificados, que podem ser organismos de certificação, organismos de inspecção e/ou
laboratórios de ensaio.

A directiva dos Produtos da Construção tem, ao nível dos princípios, uma abrangência geral mas, para
efeitos de aplicação efectiva, carece de descriminação dos produtos que por ela são abrangidos.

Através do Mandato M125 “Aggregates”, a Comunidade Europeia fez com que os agregados estivessem
directamente abrangidos pela Directiva e incumbiu o CEN – Comité Europeu de Normalização da elaboração
dos documentos normativos que convertessem os requisitos essenciais em propriedades a controlar pelos
fabricantes, estabelecendo as propriedades relevantes, os métodos de ensaio para a sua determinação e a
forma de especificar o seu desempenho.

O Mandato M125 estabeleceu ainda os tipos de aplicação dos agregados a abranger pelas normas a editar
pelo CEN e os níveis de certificação da conformidade que seriam aplicáveis.

Segundo o referido mandato, os tipos de agregados que foram inseridos no âmbito de implementação da
directiva foram:
• agregados para betão hidráulico;
• agregados para misturas betuminosas e tratamentos superficiais para estradas, aeroportos e outras áreas
traficáveis;
• agregados para argamassas;
• agregados para misturas não ligadas ou tratadas com ligantes hidráulicos;
• agregados para balastro de via férrea;
• enrocamentos; e
• agregados leves para betões e argamassas.

Os níveis de certificação da conformidade adoptados pelo mandato M125 foram o “2+” para as obras com
elevados requisitos de segurança e 0 “4” para as restantes obras.

O nível 4 prevê unicamente atribuições para o fabricante, competindo-lhe, nomeadamente, a caracterização


inicial dos seus produtos para estabelecimento do seu “tipo”, tendo, para o efeito, que realizar os “ensaios
de tipo iniciais”, e a implementação de um sistema contínuo de controlo da produção, a que se designa por
“Controlo da Produção em Fábrica” ou, simplesmente, por CPF, e que consiste na implementação de um
conjunto de procedimentos de controlo, entre os quais se destaca, pelas suas implicações ao nível dos
investimentos a fazer, o planeamento e realização de um conjunto significativo de ensaios, cujas frequências
mínimas estão preestabelecidas (Paiva, 2002).

O nível 2+ prevê as mesmas atribuições para o fabricante e acrescenta, relativamente ao nível 4, atribuições
para um organismo de certificação notificado, nomeadamente a de realizar a inspecção inicial da fábrica e
do seu controlo da produção e a de, periodicamente, inspeccionar, apreciar e aprovar o controlo da
produção em fábrica implementado pelo produtor.

2 Castelo Branco, Fernando; Quinta Ferreira, Mário


XV Encontro Nacional do Colégio de Engenharia Geológica e de Minas da Ordem dos Engenheiros

Para dar resposta ao mandato M125, o CEN, através da comissão técnica “TC 154 – Aggregates” elaborou e
emitiu um conjunto de normas que estabelecem os requisitos que os produtores devem satisfazer
relativamente aos agregados que produzem e comercializam, bem como um conjunto de normas de ensaio
que definem os métodos de ensaio que devem ser adoptados para a determinação das propriedades visadas
pelos referidos requisitos. Ao primeiro grupo de normas passaremos a designar por “normas harmonizadas”
ou por normas de produto e ao segundo por “normas de ensaio”.

Para cada um dos âmbitos de aplicação dos agregado referidos anteriormente foi emitida uma norma
harmonizada que estabelece:
• o leque de propriedades que podem ser abrangidos pelos ensaios de tipo iniciais e pelo controlo da
produção em fábrica a implementar pelos fornecedores de agregados, habitualmente agrupados em
“propriedades geométricas”, “propriedades físicas e mecânicas”, “propriedades térmicas e de
meteorização” e “propriedades químicas”;
• a forma de especificar/avaliar o desempenho dos agregados relativamente às propriedades a controlar,
definindo três formas distintas de o fazer, designadamente:
• através de “categorias”, sempre que a escolha do agregado, tendo em conta o parâmetro de controlo
em causa, possa ser diferenciada em função da aplicação visada, como seja, por exemplo, a escolha
de um agregado a aplicar em camadas de um pavimento flexível, tendo em conta o Coeficiente de Los
Angeles, está habitualmente sujeita a vários níveis de exigência conforme seja aplicado numa obra de
maior ou menor responsabilidade ou conforme o tipo de camada visada;
• através de valores limite “aceitação/rejeição”, sempre que a avaliação da adequação do agregado
tendo em conta o parâmetro em causa esteja dependente de se atingir um valor acima ou abaixo de
um valor especificado; ou
• através da “declaração do valor obtido” no ensaio realizado, sempre que o tipo de parâmetro
determinado não coloque limitações ao uso, qualquer que seja a aplicação, enquadrando-se nesta
situação a massa volúmica do agregado, ou, então, quando não existe experiência suficiente
relativamente à utilização do parâmetro em causa que permita considerar umas das formas anteriores
de especificar o desempenho do agregado, como é o caso da resistência ao choque térmico;
• as frequências mínimas de realização dos ensaios para determinação dos parâmetros de controlo,
estabelecendo maiores frequências para os parâmetros cujo desempenho está significativamente
dependente do processo de fabrico, como é o caso das propriedades geométricas para as quais se
estabelecem frequências de ensaio que variam entre 2/semana e 1/mês, e frequências menores para os
parâmetros os restantes parâmetros, compreendidas entre 2/ano e 5/ano;
• os requisitos que o Controlo da Produção em Fábrica que o produtor implementa deve satisfazer; e
• o tipo de informação que o fornecedor deve entregar ao cliente por forma a que este possa utilizar o
agregado da forma adequada tendo em vista o cumprimento dos requisitos essenciais estabelecidos na
Directiva dos Produtos da Construção.

Se uma parte significativa das propriedade abrangidas pelas normas harmonizadas é de utilização corrente
na generalidade dos estados membros da comunidade, como por exemplo a “distribuição granulométrica” e
o “coeficiente Los Angeles” outra, também significativa, é composta por propriedades somente utilizadas por
alguns estados membros, como por exemplo o “coeficiente de escoamento” e o “coeficiente micro-Deval”.

A obrigatoriedade de um produtor integrar no seu Controlo da Produção em Fábrica uma qualquer


propriedade especificada nas normas harmonizadas está dependente das seguintes regras:
• sempre que da leitura da norma não subsista qualquer dúvida de que deve ser determinada a
propriedade em causa;
• sempre que a norma estabeleça que a propriedade deva ser determinada “quando requerida” e o estado
membro onde o agregado é comercializado requeira a sua determinação por via regulamentar;
• sempre que o desempenho do agregado relativamente à propriedade em causa esteja sujeito a um valor
limite de “aceitação/rejeição”.

Logo que o produtor/fornecedor realize os ensaios de tipo iniciais e implemente o Controlo da Produção em
Fábrica, está em condições de ser auditado por um Organismo de Certificação Notificado e, em caso de
avaliação positiva e na posse do respectivo certificado de conformidade, apor a “marcação CE” nos
agregados que comercializa, evidenciando-a nos documentos comerciais que formalizam a venda dos seus
produtos, constituindo este acto a presunção de conformidade com as normas harmonizadas e, por via
destas, com a Directiva dos Produtos da Construção, presunção esta da inteira responsabilidade do
produtor/fornecedor.

Ponta Delgada, 26 a 29 de Maio de 2005 3


Título do trabalho (justificado à direita)

A comercialização dos agregados no Espaço Económico Europeu passou a estar obrigada à marcação CE a
partir de 1 de Junho de 2004, data a partir da qual terminou o período de coexistência das normas
harmonizadas com normas nacionais que lhe sejam afins.

Portugal, enquanto Estado-membro da Comunidade Europeia, transpôs a Directiva dos Produtos da


Construção para o direito nacional em 1993, por via do Decreto-Lei n.º 113/93, de 10 de Abril.

Por via do Despacho n.º 10 222/2004 do Instituto Português da Qualidade foi adoptado como único sistema
de certificação de conformidade o sistema 2+, independentemente do tipo de obra ou aplicação em que o
agregado é incorporado.

Até à data não se conhecem quaisquer requisitos regulamentares no âmbito das propriedades a requerer
para efeitos da marcação CE, pelo que os produtores devem, como padrão mínimo, incluir no seu sistema de
controlo os parâmetros que não são apresentados nas normas harmonizadas como “quando requeridos” e
aqueles para os quais as mesmas normas estabeleçam um valor limite “aceitação/rejeição”.

Tendo em conta a realidade nacional à data da obrigatoriedade da marcação CE, no âmbito dos agregados,
facilmente se percebe que os produtores para poderem estar em conformidade com os requisitos
apresentados anteriormente tiveram, têm ou terão de fazer investimentos de diversa natureza, desde a
compra de equipamentos até ao desenvolvimento de novas competências (Castelo Branco, 2003).

É neste contexto que se enquadra o presente trabalho, tendo como objectivos maiores:
• identificar as principais implicações ao nível da organização da produção decorrentes da implementação
de um sistema que vá ao encontro dos requisitos da marcação CE, nomeadamente no que se refere aos
procedimentos a implementar e aos meios que lhe devem estar afectos;
• avaliar se ao nível dos meios de produção, o cumprimentos dos requisitos da marcação CE podem impor
investimentos por forma a que os produtos atinjam níveis de desempenho superiores aos que
anteriormente eram exigidos, respondendo, assim, à questão: «com a marcação CE os produtos
mantêm-se os mesmos, embora descritos de outra forma, como afirma John Lay (Lay, 2004), ou pode
acontecer que o produtor tenha de alterar os seus produtos para que passem cumprir os requisitos
técnicos a que estão obrigados?».

Face a estes objectivos, apresenta-se:


• na secção dois deste trabalho, uma listagem das principais alterações a introduzir na forma de
funcionamento das empresas produtoras e fornecedoras de agregados e dos tipos de investimentos a
realizar para cumprir a marcação CE; e
• na secção três, uma reflexão sobre a questão formulada anteriormente, recorrendo a dados concretos de
caracterização de agregados obtidos em processos de implementação de Sistemas de Controlo da
Produção em Fábrica.

2. Principais implicações para os produtores de agregados decorrentes da


implementação da marcação CE
Nesta secção procura-se identificar as principais implicações a que está sujeito um produtor/fornecedor de
agregados quando se propõe cumprir os requisitos das normas harmonizadas para poder apor a marcação
CE nos agregados que comercializa.

Na listagem que se apresenta na tabela 1 não houve a pretensão de se ser exaustivo, antes procurou-se
enumerar os aspectos mais relevantes, seja pelos valores envolvidos seja pelo grau de dificuldade de
implementação das medidas a adoptar. Os itens serão apresentados segundo a sequência dos requisitos
mais relevantes do Controlo da Produção em Fábrica incluídos nos anexos respectivos das normas
harmonizadas, como por exemplo o Anexo H da Norma Portuguesa NP EN 12620:2004 Agregados para
betão.

O cenário que foi considerado para efeitos do que se apresenta seguidamente foi o de uma empresa que
explora uma pedreira, que transforma a rocha desmontada em duas instalações de quebra e selecção para
produção de 15 produtos comercialmente diferenciados e que não implementa qualquer sistema de gestão
da qualidade.

4 Castelo Branco, Fernando; Quinta Ferreira, Mário


XV Encontro Nacional do Colégio de Engenharia Geológica e de Minas da Ordem dos Engenheiros

Tabela 1 – Principais implicações para os produtores de agregados decorrentes do cumprimento dos


requisitos mais relevantes da marcação CE.
Requisitos Implicações para o produtor/fornecedor Pos.
Para o processo de concepção e desenvolvimento do Sistema de Controlo da
Produção em Fábrica, o produtor recorre habitualmente a serviços externos para
Geral realização de diagnóstico para identificação de necessidades e para apoio ao 1
desenvolvimento do processo, já que não dispõe, habitualmente, dessas
competências no seio da sua organização.
O produtor deve nomear uma pessoa que fique responsável por assegurar que os
requisitos do Controlo da Produção em Fábrica (CPF), em particular, e os da
marcação CE, em geral, são satisfeitos. Esta pessoa pode ou não ser da Gestão de
2
Topo, mas deverá ter a autoridade necessária ao sucesso do sistema. É ela que em
primeira instância responde pelo incumprimento dos requisitos da marcação
(requisitos legais)
O produtor deve definir as responsabilidades, a autoridade e a relação mútua do
pessoal que gere, executa e verifica as tarefas que afectam a qualidade dos
3
produtos. Ao fazer esta definição a empresa facilmente se apercebe que uma boa
Organização parte das pessoas que trabalham na pedreira são envolvidos pelo sistema.
O produtor deve realizar auditorias internas para verificar a eficácia do sistema
implementado. Como habitualmente não tem no seio da sua organização as
competências necessárias para a realização de auditorias recorre a serviços
4
externos para o efeito ou então dá formação a seus colaboradores. Tendo em conta
a dimensão e qualificação dos quadros destas empresas, esta segunda opção é
menos adoptada.
O responsável pelo CPF deve assegurar que os dados da implementação do
sistema, incluindo os das auditorias, são analisados pela gestão de topo e que esta 5
procede à revisão periódica do sistema.
Definir, documentar e implementar procedimentos para controlo dos documentos
do sistema de CPF, incluindo os de origem externa. Estes procedimentos devem
definir a forma de fazer e as responsabilidades para aprovação, edição, distribuição 6
e gestão da documentação. Relativamente ao padrão normal, este é um processo
que implica introdução de novos procedimentos na organização da empresa.
O produtor deve rever os seus contratos com os seus fornecedores, nomeadamente
com os que são responsáveis pela prestação de serviços relevantes para o
Procediment cumprimento dos requisitos da marcação CE, como sejam, por exemplo, os
7
os de transportadores. A realidade mostra que os contratos com os fornecedores não
controlo estão formalizados e/ou não incluem qualquer referência aos requisitos relevantes
para a qualidade dos produtos.
O produtor deve ter documentação detalhada sobre a natureza da matéria-prima,
da sua origem e forma de exploração. Cumprindo a legislação no que toca ao Plano 8
de Pedreira facilmente se responde a este requisito.
O produtor deve estabelecer um procedimento para identificação e controlo de
substanciais perigosas. O cumprimento deste requisito passa fundamentalmente 9
por atribuição de responsabilidades e por passagem de alguma informação.
O produtor deve definir procedimentos para identificar e controlar os materiais,
incluindo, se necessário, durante o processo de fabrico para controlar eventuais
Gestão da alterações na qualidade provocadas por alterações climatéricas.
produção Este requisito tem como principal implicação terem que se fazer acções de 10
(continua…) sensibilização junto dos responsáveis pela produção no sentido de que as rotinas
diárias passem a incluir inspecções visuais às frentes de pedreira e aos materiais
circulantes.

Ponta Delgada, 26 a 29 de Maio de 2005 5


Título do trabalho (justificado à direita)

Tabela 1 – Principais implicações para os produtores de agregados decorrentes do cumprimento dos


requisitos mais relevantes da marcação CE (Continuação).
Requisitos Implicações para o produtor/fornecedor Pos.
O produtor deve definir procedimentos para assegurar que o material é
armazenado de modo controlado, que os locais de armazenamento e que os
produtos armazenados estão identificados e que o material armazenado mantém a
conformidade com os requisitos.
Este requisito tem como principal implicação fazer-se uma análise da adequação
…Gestão da
dos locais e regras de armazenamento e implementar as alterações decorrentes
produção 11
dessa análise. Implica também que haja uma identificação dos produtos e locais de
armazenamento, facto que não está assegurado à partida.
Em muitas pedreiras, o adequado cumprimento deste requisito pode implicar
importantes alterações ao nível do parque de materiais de forma a evitar riscos de
mistura, poluição, segregação e evolução granulométrica. Esta situação agrava-se
significativamente em períodos de recessão, por acumulação de stocks.
Para a cumprir com os requisitos da inspecção e ensaio, tanto na óptica da
caracterização inicial dos produtos, como na da verificação da manutenção do
desempenho dos produtos relativamente às propriedades relevantes, nos termos
assumidos e declarados pelo produtor, este necessita de ter instalações
laboratoriais próprias devidamente equipadas e recursos humanos qualificados que
lhe permitem assegurar, em tempo útil, a realização dos ensaios previstos,
respeitando as frequências mínimas estabelecidas pelas normas harmonizadas.
Em alternativa aos recursos próprios, o produtor pode recorrer a laboratórios
externos desde que estes assegurem o cumprimento dos requisitos a que o
produtor está obrigado, nomeadamente os que se referem ao controlo metrológico
Inspecção e
dos equipamentos laboratoriais, garantindo, nomeadamente, que os equipamentos 12
ensaio
utilizados na realização dos ensaios se mantêm em adequado estado de calibração.
Uma solução equilibrada parece apontar para que o produtor monte um laboratório
que lhe permita realizar os ensaios cuja frequência mínima prevista é maior,
nomeadamente para determinação das propriedades que estão mais dependentes
do processo de fabrico e assim poder ter respostas mais rápidas que lhe permitam
intervir em tempo oportuno em caso de não conformidade, contratando os
restantes ensaios a laboratórios externos.
Relativamente às inspecções e ensaios, o produtor deve ainda ter em consideração
que a componente técnica dos requisitos a satisfazer é de alguma complexidade
pelo que deverá dotar-se de recursos humanos com competência técnica adequada.
Na sequência das inspecções e ensaios, o produtor deve registar, investigar e tratar
todas as não conformidades detectadas e, se necessário, empreender acções
Controlo do
correctivas.
produto não 13
Na quase generalidade das empresas que não implementam sistemas de gestão da
conforme
qualidade este é um processo novo, nomeadamente no que se refere à sua
formalização, implicando uma forte acção de sensibilização dos seus intervenientes.
Dado que as empresas quando avançam para implementação de um sistema desta
natureza não dispõem das competências necessárias a este objectivo têm que fazer
investimentos em formação para que os seus colaboradores fiquem em condições
de colaborar na concepção, desenvolvimento e implementação do sistema.
Formação 14
Muitas empresas que não têm nos seus quadros elementos com formação superior
acabam mesmo por sentir a necessidade de contratar novos colaboradores,
nomeadamente de técnicos das especialidades da Engenharia Geológica e de
Minas.
Depois de obter a certificação do seu Sistema de Controlo da Produção em Fábrica,
o produtor passa a ter de emitir uma declaração de conformidade onde assume
Declaração de
cumprir as normas harmonizadas aplicáveis e a disponibilizar aos seus clientes esta
conformidade
declaração e informação que descreva os seus produtos. 15
e informação
Como implicações mais relevantes destacam-se a necessidade de alterar os
do produto
modelos das guias de remessa, para que incluam os dados relativos à marcação CE,
e um incremento de burocracia no processo de expedição dos produtos.

6 Castelo Branco, Fernando; Quinta Ferreira, Mário


XV Encontro Nacional do Colégio de Engenharia Geológica e de Minas da Ordem dos Engenheiros

De entre as implicações para o produtor/fornecedor decorrentes do cumprimento dos requisitos da


marcação CE listadas na tabela anterior destacam-se, pelo nível de investimento e/ou dificuldade de
implementação, as referenciadas com as posições 1, 11, 12 e 15, com particular destaque para a 12 já que é
aquela que maior investimento requer, tanto ao nível da aquisição de instalações e equipamentos
laboratoriais como ao nível da aquisição/desenvolvimento de novas competências técnicas.

Se ao nível dos recursos a afectar estas implicações são relevantes, também o são ao nível do proveito que
podem dar às empresas. Neste aspecto mais uma vez se destacam os investimentos a fazer para a
realização das inspecções e ensaios os quais disponibilizarão à empresa ferramentas importantes para a
relação com os seus clientes, tornando-as mais competitivas.

3. Reflexão sobre a necessidade de proceder a investimentos em meios de


produção para satisfazer os requisitos da marcação CE
Uma questão que se coloca quando se avalia o impacto da marcação CE é o de saber se os produtores têm
de alterar os seus produtos para poderem cumprir os requisitos das normas harmonizadas.

Numa primeira análise pode tender-se a concluir que a forma como são definidos os requisitos a cumprir
pelos produtos deixa suficiente flexibilidade de forma a que o seu desempenho relativamente aos vários
tipos de propriedades se possa facilmente encaixar nos limites estabelecidos, nomeadamente porque, para
uma parte significativa das propriedades, o desempenho dos produtos é definido em termos de categoriais,
estando ao dispor dos produtores um leque amplo de categorias, não deixando de fora produtos por falta de
uma categoria em que se enquadrem.

É neste contexto que John Lay, representante do Reino Unido no Comité Técnico “TC 154 – Aggregates”,
afirma, a este propósito, que «o agregado é o mesmo, descrito de forma diferente» (Lay, 2004),
naturalmente condicionado pelo conhecimento que tem da realidade do seu país.

Para as propriedades relativamente às quais o desempenho dos produtos é definido em termos de


categorias, a afirmação de John Lay não levanta grandes questões, nomeadamente quando o leque de
categoriais é suficientemente amplo para poder enquadrar qualquer desempenho. O mesmo não acontece
para as propriedades com valores limites de aceitação/rejeição estabelecidos ou para as propriedades que,
sendo descritas em termos de categorias, possuem um leque de opções restrito, como é o caso dos
requisitos granulométricos em que são poucas as categorias disponíveis, funcionando, nalgumas situações,
como valores limite de aceitação/rejeição.

Pela experiência adquirida em Portugal no apoio à implementação e controlo de Sistemas de Controlo da


Produção em Fábrica pode concluir-se que a afirmação de John Lay nem sempre corresponde à realidade.
Para o demonstrar apresenta-se seguidamente uma situação em que essa afirmação não é completamente
aplicável. Os dados que se seguem não correspondem a um caso concreto mas sim a um conjunto de casos
conhecidos dos autores do presente trabalho, sendo sintetizados e apresentados como um caso hipotético.

Considere-se, por exemplo, o cenário referido na secção anterior em que a empresa objecto de análise
explora uma pedreira e transforma a rocha desmontada em duas instalações de quebra e selecção contíguas
para fabrico de 11 produtos comercialmente diferenciados, sendo que 4 deles são produzidos em qualquer
uma das instalações. As duas instalações serão seguidamente identificadas como instalação 1 e 2.

Admita-se que com a caracterização realizada no âmbito dos ensaios de tipo iniciais se concluiu que os 4
produtos comuns às duas instalações apresentavam características granulométricas médias semelhantes,
mas não exactamente iguais, como ilustra a Fig. 1. Os produtos em causa eram um agregado fino,
correntemente designado por pó de pedra, e 3 agregados grossos, habitualmente designados por britas.
Para diferenciar as características dos 4 produtos fabricados nas duas instalações, as respectivas curvas
granulométricas foram identificadas na Fig. 1 referenciando o tipo de agregado, respectivamente AF
(Agregado fino) ou AG (Agregado grosso), diferenciando os agregados grossos por números de 1 a 3,
correspondendo o 1 aos agregados grossos mais finos e o 3 aos mais grossos, e referenciando a instalação
em que foram fabricados.

Ponta Delgada, 26 a 29 de Maio de 2005 7


Título do trabalho (justificado à direita)

Caracterização granulométrica inicial

100

90 AF - Instalação 1
AF - Instalação 2
80 AG 1 - Instalação 1
AG 1 - Instalação 2
% acumulada de passados

70
AG 2 - Instalação 1
AG 2 - Instalação 2
60
AG 3 - Instalação 1
50 AG 3 - Instalação 2

40

30

20

10

0
0,063 0,125 0,25 0,5 1 2 4 5,6 8 11,2 16 22,4 31,5 63
6,3 10 12,5 14 20
Abertura do peneiros (mm)

Figura 1: Caracterização granulométrica inicial.

Como pode ser observado na figura anterior, os produtos produzidos nas duas instalações apresentam
granulometrias próximas, havendo uma boa correspondência entre os dois agregados finos e
correspondências menos boas entre os agregados grossos equivalentes.

Embora haja entre cada um dos pares de agregados grossos diferenças não negligenciáveis ao nível das
suas dimensões, as quais são definidas em termos de d/D, em que “d” e “D” correspondem às aberturas dos
peneiros menor e maior que a caracterizam, respectivamente, sendo admissível que haja pequenas
percentagens de partículas passadas e retidas nesses peneiros, o nível de sobreposição entre essas
dimensões é demasiado elevada, o que, do ponto de vista comercial, e da própria produção, cria
significativas dificuldades.

Do ponto de vista comercial levanta dificuldades porque, tendo em conta os requisitos da marcação CE, o
produtor passa a ter que considerar 7 produtos diferenciados, 1 agregado fino e 6 agregados grossos,
enquanto que anteriormente considerava somente 4, 1 agregado fino e 3 grossos, tendo que gerir as
entregas contando com este pressuposto.

Na perspectiva da produção as dificuldades resultantes desta situação prendem-se com o facto de que
sendo 7 produtos diferenciados, em vez de 4, a disponibilidade de área de armazenamento aumenta
significativamente. Para uma boa parte dos produtores, uma situação deste tipo pode ser muito nociva já
que as condições de armazenamento são frequentemente precárias, particularmente em período de fraco
escoamento dos produtos.

Em face de uma situação como a que foi relatada, o produtor pode optar entre considerar os 7 produtos e
desenvolver todo o processo de marcação CE, admitindo as implicações já referidas, entre outras
decorrentes deste mesmo processo, ou então implementar alterações ao nível do processo produtivo que
permitam aproximar as características dos produtos das duas instalações de forma a que possam ser
tratados como produtos iguais.

As alterações a implementar ao nível do processo produtivo para resolver esta situação podem passar, por
exemplo, por uma intervenção que aproxime as eficiências de crivagem das duas instalações. Uma forma
possível passaria pela alteração das redes utilizadas. O resultado desta intervenção poderia ser o que se
representa na Fig. 2.

8 Castelo Branco, Fernando; Quinta Ferreira, Mário


XV Encontro Nacional do Colégio de Engenharia Geológica e de Minas da Ordem dos Engenheiros

Caracterização granulométrica após alteração dos meios de produção

100

90 AF - Instalação 1
AF - Instalação 2
80 AG 1 - Instalação 1
AG 1 - Instalação 2
% acumulada de passados

70
AG 2 - Instalação 1
AG 2 - Instalação 2
60
AG 3 - Instalação 1
50 AG 3 - Instalação 2

40

30

20

10

0
0,063 0,125 0,25 0,5 1 2 4 5,6 8 11,2 16 22,4 31,5 63
Abertura do peneiros (mm) 6,3 10 12,5 14 20

Figura 2: Caracterização granulométrica após alteração dos meios de produção.

Como pode ser observado no gráfico apresentado na Fig. 2 as distribuições granulométricas dos agregados
produzidos nas duas instalações aproximaram-se muito significativamente com as alterações efectuadas, ao
ponto de poderem ser considerados produtos iguais. Aplicando os requisitos granulométricos das várias
normas harmonizadas aplicáveis a estes agregados verifica-se que os produtos da instalação 1 são
classificados nas mesmas categorias que os correspondentes da instalação 2, podendo, por isso, ser tratados
como produtos iguais.

Nestas circunstâncias é bom realçar que deve ser dada especial atenção à dispersão dos valores observada
ao longo do controlo da produção em fábrica uma vez que a dispersão dos valores tenderá a ser maior
quando se consideram os dados das duas instalações em conjunto do que quando se consideram os dados
das duas instalações separadamente. Uma dispersão elevada nas características granulométricas pode pôr
em causa o cumprimento dos requisitos granulométricos.

A situação relatada serve ainda para realçar um aspecto importante relacionado com a problemática em
causa e que se prende com os benefícios para os consumidores, que poderão decorrer da implementação da
marcação CE.

Com base nos dados apresentados podemos ver que na situação descrita como característica do momento
anterior à implementação do sistema de controlo da produção em fábrica (Fig. 1) o nível de desempenho
dos agregados produzidos, relativamente às características granulométricas era muito menor do que o
observado após a introdução das alterações descritas (Fig. 2).

É, pois, expectável que com a marcação CE possa haver ganhos efectivos em termos da qualidade dos
agregados comercializados, podendo deles tirar vantagem tanto consumidores como produtores,
nomeadamente os que, entre estes, se mostrarem mais competentes.

4. Conclusões
Em síntese, podemos chegar a duas conclusões principais, nomeadamente que:
• para a grande maioria das empresas produtoras de agregados, a implementação de um Sistema de
Controlo da Produção em Fábrica implicará significativos investimentos, sendo de destacar os
relacionados com os meios laboratoriais e com o desenvolvimento e/ou recrutamento de novas
competências; e
• poderão ser necessários investimentos ao nível dos meios de produção de forma a que os produtos
produzidos possam satisfazer os requisitos incluídos nas normas harmonizadas.

Ponta Delgada, 26 a 29 de Maio de 2005 9


Título do trabalho (justificado à direita)

Como balanço, espera-se que dos investimentos feitos possam resultar ganhos efectivos para os
consumidores e, em consequências destes, benefícios para os produtores.

Referências bibliográficas
Castelo Branco, Fernando (2003). “Normalização europeia e marcação CE – Novos desafios”. Conferência
apresentada no Seminário sobre Agregados realizado pela SPG no LNEC. Lisboa

Decreto Lei n.º 113/93, de 10 de Abril (1993). Transpõe a Directiva dos Produtos da Construção
(89/106/CEE) para o direito nacional. Diário da República – I Série – A – N.º 84. I.N. Casa da Moeda,
Lisboa.

Despacho n.º 10 222/2004 (2.ª série) de 6 de Maio (2004). Lista as normas harmonizadas e respectivos
sistemas de avaliação da conformidade para os agregados e fixa o sistema 2+ de avaliação de
conformidade dos agregados. Instituto Português da Qualidade (IPQ), Caparica.

Directiva 89/106/CEE do Conselho, de 21 de Dezembro (1988). Estabelece a aproximação das disposições


legislativas, regulamentares e administrativas dos Estados-membros no que respeita aos produtos de
construção. Publicada no Jornal Oficial n.º L 040, de 11/02/1989 (p. 0012-0026).

Lay, John (2004). “Implementation of European Standards for Aggregates”. Conferência apresentada nas
Jornadas de Normalização realizadas pelo IEP – Instituto das Estradas de Portugal e pelo ONS –
IEstradasP nas instalações do IEP. Almada

Norma Portuguesa NP EN 12620 (2004). “Agregados para betão”. Instituto Português da Qualidade (IPQ),
Caparica.

Paiva, José Vasconcelos (2002). “Directiva dos produtos de construção. Presente e futuro”. LNEC, Lisboa.

10 Castelo Branco, Fernando; Quinta Ferreira, Mário

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