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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA

FACULDADE DE DIREITO – FDUFBA


CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ESTADO E DIREITO DOS
POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS

METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFICO

Carlos Freitas
Mariana Balen Fernandes
SUMÁRIO

Apresentação ......................................................................................................................3

UNIDADE 1 - Anotações sobre a metodologia da pesquisa ..................................................5

1. Conhecimentos, ciências e pesquisas: da crítica à ciência moderna è emergência e

autonomia das ciências sociais. ........................................................................................6

UNIDADE 2 – métodos e técnicas de pesquisa.................................................................... 13

2.1 – Pesquisa quantitativa e qualitativa......................................................................... 13

Pesquisa documental e histórica .................................................................................... 16

Pesquisa bibliográfica .................................................................................................... 18

Formatação ............................................................................................................................ 19

Elementos textuais ................................................................................................................ 19

Referências ............................................................................................................................ 21

UNIDADE 3 – PRODUÇÃO ACADÊMICA, ARTÍSTICA E CONHECIMENTOS TRADICIONAIS ....... 26

Paper............................................................................................................................. 26

Video............................................................................................................................. 26

Produção artística.................................................................................................................. 27

Projeto de pesquisa ....................................................................................................... 27

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 30
APRESENTAÇÃO

Olá, pessoal! Sejam bem vindos (as) à Disciplina de Metodologia do Trabalho


Científico.
Este será um espaço para discutirmos e trocarmos informações sobre temas de
interesse, curiosidades, tipos de conhecimento que possam servir de motivação para sua
inserção na pesquisa científica. Muitas das idéias oriundas de suas experiências
cotidianas são de extrema importância para que possamos incentivá-lo(la) a assumir um
papel de protagonista na construção de conhecimento em uma determinada área ou
campo acadêmico.
Lembramos que existem caminhos a serem percorridos segundo os temas e as
escolhas feitas por vocês e trabalharemos juntos nessa jornada para que a disciplina
sirva para outras situações, além do meio acadêmico.
Questões atualmente em evidência em nossa sociedade são fundamentais para a
aplicação da pesquisa oriunda das ciências sociais que muito contribuem para esta
disciplina. Buscar o diálogo entre academia e sociedade é o foco de nosso curso e tema
chave desta disciplina.
O conhecimento, no âmbito da pesquisa, não se limita ao saber da academia,
apartado muitas vezes da sociedade. O conhecimento a ser explorado e aprofundado,
especialmente em uma pesquisa nas ciências sociais, pode e deve manter uma abertura
com as pessoas, comunidades e sociedades, que permita um enriquecimento cultural da
própria pesquisa.
Essa perspectiva nos afasta, assim, de uma visão que mantinha o conhecimento
científico como algo distante dos saberes das pessoas e das comunidades. Essa visão
encarava a pesquisa de forma tão exageradamente objetiva, que até mesmo os estudos
sobre as dinâmicas, transformações, conflitos e culturas de um povo e desejos e
subjetividades.
Exemplo de um assunto que antigamente era desvalorizado e que hoje, nas
ciências sociais, pode e deve ser considerado, a depender da metodologia utilizada, é o
senso comum. E como este, outros. Lembro, também neste sentido, sobre a obrigação
do compromisso ético na pesquisa científica. Em um país com profundas e doloridas
desigualdades, como não reconhecer que a pesquisa científica deve contribuir, e muito,
para a superação dessas desigualdades?
A universidade deve, com isso, assumir sua importância cultural e política de um
povo. O conhecimento oriundo das atividades culturais e científicas da universidade
representa contribuição relevante para a autonomia e o desenvolvimento político da
sociedade e do próprio país.

Boa jornada a todos (as)!


UNIDADE 1 - ANOTAÇÕES SOBRE A METODOLOGIA DA
PESQUISA

Carlos Eduardo Soares de Freitas1

Introdução.

Em que as reflexões sobre metodologia da pesquisa podem auxiliar o estudante


do curso de especialização? Tomando esta como uma questão geral, é possível seguir
dois caminhos não excludentes: em um primeiro, pensar a metodologia de maneira
ampla, localizando o tema em meio à ciência, ao conhecimento e à universidade; e em
um segundo e necessariamente posterior momento, nos dirigir a uma certa técnica de
formulação de um projeto adequado para a pesquisa, como um meio de planejamento
das idéias, isto é, como escrever, de forma adequada, organizada e compreensível, uma
pesquisa e seus resultados.

Para trilhar esses caminhos, alguns autores são importantes pelas contribuições
que têm dado à sociedade. Sobre o primeiro tema, Boaventura de Sousa Santos nos
oferece dois textos que servem de apoio, o mais antigo trata de pensar como as ciências
sociais ganham espaço em um contexto antes dominado por paradigmas das ciências
naturais, e um mais recente cuida de refletir como o conhecimento universitário corre
riscos diante do poderio do mercado, e o autor português fornece pistas de como
enfrentar essa situação. Nessa linha, propõe-se o diálogo dos textos de Boaventura, com
o relatório da Comissão Gulbenkian para a Reestruturação das Ciências Sociais, e
outros escritos.

Para o segundo momento, há os autores conhecidos da metodologia que ajudam


a entender o significado da pesquisa, como Pedro Demo, e do projeto de pesquisa, como

1
Bacharel em Direito (UFBA), Mestre e Doutor em Sociologia (UnB). Professor Titular (UNEB) e Adjunto
(UFBA), Pesquisador.
Antônio Carlos Gil, entre outros. A produção literária nesse tema é profícua e as
referências servirão como sugestões para o aprofundamento nas discussões.

1. Conhecimentos, ciências e pesquisas: da crítica à ciência moderna è


emergência e autonomia das ciências sociais.

Em seu “Discurso sobre as Ciências”, escrito em 1988, Boaventura de Sousa


Santos apresenta um posicionamento ao mesmo tempo crítico e afirmativo em relação
às ciências. Crítico, pois denuncia o que identifica como pensamento moderno nas
ciências. Afirmativo, por defender uma autonomia das ciências sociais em relação aos
paradigmas que chama de dominantes, que são aqueles que se referencial nas ciências
naturais. Encontramos questionamentos tão marcantes quanto este em outras obras,
como o produzido por um conjunto de cientistas e que foi intitulado como “Para abrir as
Ciências Sociais”. Esses estudiosos compuseram a “Comissão Gulbenkian para a
Reestruturação das Ciências Sociais”2, presidida pelo sociólogo Immanuel Wallerstein,
e que reuniu representantes de grande porte intelectual de diversas áreas, como o
químico Ilya Prigogine, também autor, junto com sua colega Isabelle Stengers, do livro
“A nova aliança”3. Neste trabalho, seus autores formulam uma dura crítica a uma visão
de ciência que lhes parece limitada e insuficiente para enfrentar dúvidas
contemporâneas:

Este insucesso e o de outras tentativas de retornar as ambições da


ciência negando seu mito ensinam-nos coerência temível da visão
clássica. A única interpretação capaz de lhe escapar parecia de fato a
denegação positivista do projeto de compreender, só pelo projeto de
manipular e de prever. O século XIX acreditou descobrir que a
verdade é triste; o progresso da ciência acaba por ser sempre o
mesmo, quaisquer que sejam as convicções pessoais do cientista; o
que a ciência clássica toca, seca e morre. Morre para a diversidade
qualitativa, para a singularidade, para tornar-se a simples
consequência de uma lei geral. O que fora convicção inspiradora para
alguns dos fundadores da ciência moderna aparece doravante como
conclusão da própria ciência, imposta pelo seu sucesso e, parece,
imposta pela racionalidade e objetividade científicas. No momento em
que quer explicar o significado geral de seus resultados e situá-los
numa perspectiva culturalmente pertinente, o físico não tem outra
linguagem senão a do mito, único discurso coerente que responde à
exigência profunda da atividade científica: compreender a natureza e a

2
No Brasil, o livro “Para abrir as Ciências Sociais” foi editado pela Cortês Editora, em 1996.
3
Introduzido no Brasil em 1984, pela Editora da UnB.
maneira pela qual as sociedades humanas nela se inserem.
(PRIGOGINE & STENGERS: 1997, p. 39)

A contundência da crítica faz uma boa imagem do quanto alguns cientistas se


colocam no enfrentamento aos limites que percebem na ciência moderna e na disposição
para as novidades colocadas pela emergência das ciências sociais, muito bem
combinada com a valorização da cultura e em um crescente descompasso entre os
discursos científico e teológico. Nesse passo, os autores propõem uma nova aliança que
permite outros caminhos para as ciências:

Falamos de ressonância entre discursos científicos e teológicos.


Hoje pode falar-se de uma outra ressonância, entre ciências e a
dominação “laica” dum mundo industrializado, reforçada pela
afinidade que se conhece entre o exercício dessa dominação e a
prática compartimentada e muda da ciência. Pensamos que, com a
ciência metamorfoseada, o diálogo cultural é de novo possível e que,
de forma inseparável, uma nova aliança pode firmar-se com a
natureza, em cujo devenir participem o jogo experimental e a aventura
exploratória da ciência. Isto não passa, por certo, de uma
possibilidade. Se a própria ciência convida hoje o cientista à
inteligência e abertura, se os álibis teóricos do dogmatismo e do
menosprezo desaparecem, resta ainda a tarefa concreta, política e
social de criar os circuitos de uma cultura. (Ob. Cit., p. 41)

Mas o que caracterizariam esse “dogmatismo” e “menosprezo” de que falam os


autores?

Podemos, aqui, articular um diálogo entre pensadores, e solicitar ao Boaventura de


Sousa Santos que nos responda. Se assim for possível, o sociólogo português formula a
crítica a um modelo de pensamento identificado com a ciência moderna:

O modelo de racionalidade que preside à ciência moderna constituiu-


se a partir da revolução científica do século XVI e foi desenvolvido
nos séculos seguintes basicamente no domínio das ciências naturais.
Ainda que com alguns prenúncios no século XVIII, é só no século
XIX que este modelo de racionalidade se estende às ciências sociais
emergentes. A partir de então pode falar-se de um modelo global de
racionalidade científica que admitevariedade interna mas que se
distingue e defende, por via de fronteiras ostensivas e ostensivamente
policiadas, de duas formas de conhecimento não-científico (e,
portanto, irracional) potencialmente perturbadoras e intrusas: o senso
comum e as chamadas humanidades ou estudos humanísticos (em que
se incluíram, entre outros, os estudos históricos, filológicos, jurídicos,
literários, filosóficos e teológicos). (SANTOS, 1988, p.48)

Esse modelo de racionalidade não sustentou as questões das áreas de conhecimento


atentas à sociedade que batiam à porta das ciências, o que resultou na crise dos
paradigmas científicos dominantes. Quanto aos efeitos do desgaste desse modelo, duas
vertentes compareceram, uma de manter as ciências sociais metodologicamente presa às
ciências naturais, e outra baseada na autonomia das ciências sociais. Nas palavras de
Boaventura:

A primeira variante — cujo compromisso epistemológico está bem


simbolizado no nome de "física social" com que inicialmente se
designaram os estudos científicos da sociedade — parte do
pressuposto que as ciências naturais são uma aplicação ou
concretização de um modelo de conhecimento universalmente válido
e, de resto, o único válido. Portanto, por maiores que sejam as
diferenças entre os fenômenos naturais e os fenômenos sociais é
sempre possível estudar os últimos como se fossem os primeiros.

(...)

A segunda vertente reivindica para as ciências sociais um estatuto


metodológico próprio. Os obstáculos que há pouco enunciei são,
segundo esta vertente, intransponíveis. Para alguns, é a própria idéia
de ciência da sociedade que está em causa, para outros trata-se tão-só
de empreender uma ciência diferente. O argumento fundamental é que
a ação humana é radicalmente subjetiva. O comportamento humano,
ao contrário dos fenômenos naturais, não pode ser descrito e muito
menos explicado com base nas suas características exteriores e
objetiváveis, uma vez que o mesmo ato externo pode corresponder a
sentidos de ação muito diferentes. (Ob. cit., pp.52/53)

A Comissão Gulbenkian registra que as áreas das ciências sociais que adquiriram
alguma autonomia do final do século XIX aos meados do século XX, passaram a se
distanciar dos critérios predominantes das ciências naturais no pós-guerra.

Todavia, no preciso momento em que, pela primeira vez, as


estruturas institucionais das ciências sociais pareciam finalmente
montadas e claramente definidas, as práticas dos cientistas sociais
iriam começar a mudar após a II Guerra Mundial. Tal circunstância
iria criar um fosso cada vez mais fundo entre, de um lado, as práticas e
as posições intelectuais dos cientistas sociais, e, de outro lado, a
organização formal das ciências sociais.
(COMISSÃO GULBENKIAN, 1996, p. 53)
As mudanças provocadas pela guerra nas décadas seguintes permitiram também
impactos relevantes nas ciências e entre os cientistas. A partir dai, a disputa entre as
vertentes mencionadas por Boaventura ganha relevo, assim como a busca de autonomia
metodológica das ciências sociais em relação ao predomínio das ciências naturais.
Nesse contexto, o elemento cultural se apresenta de maneira decisiva no debate,
inclusive quanto ao “ceticismo relativamente às vantagens dos avanços tecnológicos”
(COMISSÃO GULBENKIAN, 1996, p. 98).

Volta-se a palavra para Boaventura, que articula críticas estruturais à construção


racional da ciência moderna. Para manter uma rede de argumentos como os acima
transcritos, tomemos a seguinte passagem, em que o autor detalha a insuficiência da
ciência dominante frente aos desafios postos, tanto pelos avanços das próprias ciências
naturais, quanto da emergência das sociais:

Em primeiro lugar, são questionados o conceito de lei e o conceito


de causalidade que lhe está associado. A formulação das leis da
natureza funda-se na idéia de que os fenômenos observados
independem de tudo exceto de um conjunto razoavelmente pequeno
de condições (as condições iniciais) cuja interferência é observada e
medida. Esta idéia, reconhece-se hoje, obriga a separações grosseiras
entre os fenômenos, separações que, aliás, são sempre provisórias e
precárias uma vez que a verificação da não-interferência de certos
fatores é sempre produto de um conhecimento imperfeito, por mais
perfeito que seja.

(...)

O segundo grande tema de reflexão epistemológica versa mais


sobre o conteúdo do conhecimento científico do que sobre a sua
forma. Sendo um conhecimento mínimo que fecha as portas a muitos
outros saberes sobre o mundo, o conhecimento científico moderno é
um conhecimento desencantado e triste que transforma a natureza
num autômato, ou, como diz Prigogine, num interlocutor
terrivelmente estúpido. Este aviltamento da natureza acaba por aviltar
o próprio cientista na medida em que reduz o suposto diálogo
experimental ao exercício de uma prepotência sobre a natureza. O
rigor científico, porque fundado no rigor matemático, é um rigor que
quantifica e que, ao quantificar, desqualifica, um rigor que, ao
objetivar os fenômenos, os objetualiza e os degrada, que, ao
caracterizar os fenômenos, os caricaturiza. (SANTOS, 1988, pp.
57/58)
A Comissão Gulbenkian também localiza problemas estruturais que põem em xeque
a forma como o conhecimento se desenvolve na ciência moderna. Para tanto, propõe
quatro questões teórico-metodológicas a enfrentar em uma formulação para as ciências
sociais:

1) Na relação do investigador com a investigação, pergunta-se como seria possível


evitar o distanciamento do cientista com o seu contexto físico e social, e se
haveria uma neutralidade por parte do cientista. Dizem os membros da Comissão:

Com o decorrer do tempo, a crença generalizada numa neutralidade


fictícia tornou-se, ela própria, um grande obstáculo ao crescimento do
valor de verdade dos nossos achados. Se isso põe um problema grande
aos estudiosos das ciências naturais, ainda maior é aquele que coloca
aos cientistas sociais. Transpor o reencantamento do mundo para uma
prática razoável e eficaz não será fácil. Mas parece-nos ser uma tarefa
urgente para os cientistas sociais.(COMISSÃO GULBENKIAN,
1996, p. 110)

2) Reintroduzir as variáveis tempo e espaço, mas não como elementos imutáveis. É


preciso que o cientista social perceba essas variáveis como construções sociais.
3) Ultrapassar uma falsa e artificial barreira entre o político, o econômico e o social.
4) A diversidade e interação entre os cientistas sociais devem ser reais e não
meramente formais.

A preocupação da Comissão é declarada no título da sua obra: abrir as ciências


sociais! Os passos propostos não são fáceis, mas as ferramentas estão postas e
publicadas.

Pois bem, identificadas as insuficiências dos paradigmas da ciência moderna, como


então a literatura passa a formular os novos paradigmas para uma leitura mais ousada
das ciências sociais? Em fino compasso com a Comissão Gulbenkian, Boaventura
contribui ao pontuar quatro questões que lhe parecem essenciais e que comporiam o que
chama de paradigmas emergentes:

1) Todo o conhecimento científico-natural é científico-social. Propõem-se uma


aparente inversão: se antes as ciências sociais deveriam seguir critérios e padrões
das ciências naturais, estas passariam a ser relacionadas como sociais, sem
2) prejuízo da sua autonomia. Para o autor, “A distinção dicotômica entre ciências
naturais e ciências sociais começa a deixar de ter sentido e utilidade” (SANTOS,
1988, pp. 57/58).
3) Todo o conhecimento é local e total. Aqui, o autor aproxima-se bem daquela
discussão em torno da necessidade de reintroduzir as variáveis tempo e espaço.
Nas palavras do sociólogo:

No paradigma emergente o conhecimento é total, tem como horizonte


a totalidade universal de que fala Wigner ou a totalidade indivisa de
que fala Bohm. Mas sendo total, é também local. Constitui-se em
redor de temas que em dado momento são adotados por comunidades
interpretativas concretas como projetos de vida.locais, sejam eles
reconstituir a história de umlugar, manter um espaço verde, construir
um computador adequado às necessidades locais, fazer baixar a taxa
de mortalidade infantil, inventar um novo instrumento musical,
erradicar uma doença, etc., etc.(SANTOS, 1988, p. 65)
4) Todo o conhecimento é autoconhecimento. Também colocada pela Comissão,
trata-se de admitir que a investigação afeta o investigador e este é passível de
sofrer influências do seu trabalho. O cientista social lida com questões subjetivas
e situá-las como objetos frios de um olhar neutro se constituiria em equívoco e o
afastaria dos paradigmas que se propõem emergentes para as ciências sociais.
5) Todo o conhecimento científico visa constituir-se num novo senso comum. Esse
paradigma tende a sofrer forte preconceito em face da importância que a
ideologia atribui às conclusões científicas que seguem o roteiro limitado da
ciência moderna. Por esse roteiro, as pesquisas se mantiveram indiferentes a
qualquer tipo de conhecimento popular e suas conclusões revelariam verdades
insuperáveis. Isto é, superáveis apenas por pesquisas posteriores que seguissem o
mesmo modelo. Ao propor a valorização da constituição de um senso comum
enquanto objetivo da pesquisa, o paradigma desloca a prioridade do paradigma
dominante, para aproximar, de alguma forma, a ciência e os sujeitos que
compõem a sociedade. Coma palavra, o autor:

O senso comum faz coincidir causa e intenção; subjaz-lhe uma


visão do mundo assente na ação e no princípio da criatividade e da
responsabilidade individuais. O senso comum é prático e pragmático;
reproduz-se colado às trajetórias e às experiências de vida de um dado
grupo social e nessa correspondência se afirma fiável e securizante. O
senso comum é transparente e evidente; desconfia da opacidade dos
objetivos tecnológicos e do esoterismo do conhecimento que os
projeta em nome do princípio da igualdade do acesso ao discurso, à
competência cognitiva e à competência lingüística. O senso comum é
superficial porque desdenha das estruturas que estão para além da
consciência, mas, por isso mesmo, é exímio em captar a profundidade
horizontal das relações conscientes entre pessoas e entre pessoase
coisas. O senso comum é indisciplinar e imetódico; não resulta de uma
prática especificamente orientada para o produzir; reproduz-se
espontaneamente no suceder quotidiano da vida. O senso comum
aceita o que existe tal como existe; privilegia a ação que não produza
rupturas significativas no real. Por último, o senso comum é retórico e
metafórico; não ensina, persuade.(SANTOS, 1988, p. 70)

Essas construções em torno de novas possibilidades e espaços tendem a trilhar


caminhos para as ciências sociais que minimizam as receitas peremptórias. O
conhecimento científico passaria, de certa maneira, a se concentrar nas dúvidas e
incertezas, ao invés de se ocupar em estabelecer verdades e certezas. Segundo o
experiente pesquisador Pedro Demo,

A certeza da incerteza aponta, pois, para esta ambivalência


sugestiva: a realidade é incerta e o que produzimos sobre ela em
termos de conhecimento também é incerto, por mais que desejássemos
realidade certa e ciência absolutamente confiável. Porquanto, o que é
absolutamente confiável só pode ser reflexo da ingenuidade. (2000:
60)
UNIDADE 2 – MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA

Mariana Balen Fernandes4

2.1 – Pesquisa quantitativa e qualitativa

Vimos anteriormente que a ciência é concebida a partir de conhecimentos


integrados na busca da construção de novos caminhos nas diversas áreas. A academia
deve representar uma possibilidade de diálogo entre os diversos setores da sociedade o
que implica em contemplar novas metodologias e formas de se desenvolver pesquisa.
Veremos aqui parte das contribuições acerca de métodos e técnicas de pesquisa que
poderão ser adaptados à nova realidade social que envolve temas distintos voltados à
temática da diversidade social, por exemplo.
Dos métodos mais utilizados podemos compreender a pesquisa quantitativa e
qualitativa nas ciências sociais. Informações de cunho quantitativo integram dados
estatísticos obtidos por meio de questionários e pesquisa survey. A coleta de dados é
feita a partir de perguntas fechadas, compostas por alternativas e respostas objetivas
como variáveis relativas a
faixa etária, formação,
profissão, etc que serão
transformadas em dados
numéricos (dados
estatísticos sob forma de
gráficos, tabelas) sejam eles
de natureza censitária, uma
pesquisa totalizante quando
são contempladas todas as
unidades da pesquisa
Figura 1- Territórios quilombolas titulados, 2015. Fonte:
(indivíduos, famílias, http://www.portalafricas.com.br/v1/a-bahia-do-brasil-quilombola/
residências, grupos), ou
amostral, que

4
Bacharel em Ciências Sociais (UFRGS), Mestre em Antropologia Social (UFRGS) e Doutora em
Antropologia (UFBA).
abrange um conjunto de unidades selecionadas aleatoriamente ou segundo critérios
previamente estabelecidos no intuito de melhor demonstrar o todo por meio da
representatividade.
A pesquisa qualitativa, por sua vez, abrange a subjetividade ao invés da
objetividade, por meio do convívio (pesquisa empírica, observação participante) e
conversas com pessoas e grupos, muitas vezes guiadas por um roteiro semi-estruturado
ou troca de experiências para obtenção de dados subjetivos e interpretativos sobre um
determinado grupo. Aqui, as perguntas são abertas e abrem espaço para construção de
um diálogo flexível entre o grupo pesquisado e o pesquisador.
Roteiros semi-estruturados, ou perguntas abertas, dão espaço a questões
subjetivas relativas ao “porquê” de certos acontecimentos, escolhas ou opções
apontadas pelo(a) interlocutor(a) muitas vezes na pesquisa quantitativa. Um exemplo
são as pesquisas sobre questões sociais relacionadas à questão étnico-racial,
religiosidade, sexualidade, dentre outros temas em que as informações não são possíveis
de serem obtidas somente com o uso de questionário ou à primeira vista.

a expressão quantitativa, numérica, os dados coletados aparecem sob a


forma de transcrições de entrevistas, anotações de campo, fotografias,
videoteipes, desenhos e vários tipos de documentos. Visando à
compreensão ampla do fenômeno que está sendo estudado, considera
que todos os dados da realidade são importantes e devem ser
examinados. (GODOY, 1995, p. 62)

Interessante pensarmos no uso de outros caminhos, ou seja, a utilização


simultânea de vários métodos e técnicas como, por exemplo, a pesquisa etnográfica e o
método da observação participante aliada à pesquisa documental, histórica e estatística,
ou sociológica.
É importante entendermos que dados quali e quanti são complementares e
podem ser aplicados simultaneamente a qualquer tempo e lugar, desde que tenhamos em
mente os objetivos de nossa pesquisa. Santos Filho (2001) traz tal perspectiva ao
indagar que os estudos sobre a sociedade devem considerar sua complexidade e
diversidade o que não pode ser atingido apenas com uma única abordagem
metodológica. Um dos aspectos relevantes quanto ao uso da pesquisa quali-quanti é que
na ausência ou impossibilidade de informações de natureza quanti, podemos
compreender uma dada realidade por meio de dados qualitativos.
2.2 - Método etnográfico

A pesquisa etnográfica tem por base o aprofundamento de informações de cunho


subjetivo, questões relacionadas às trajetórias das pessoas ou grupos pesquisados,
principalmente no que diz respeito aos temas ligados à diversidade cultural e social.
Como conhecer o “outro” de forma responsável, respeitosa e “científica”? Como
compreender uma realidade diversa da minha? Que tipo de relação devo manter com o
grupo pesquisado? São questões que permeiam a pesquisa etnográfica desde o inicio do
século XX. O conhecimento aprimorado sobre a visão que o grupo pesquisado faz de si
mesmo é o objetivo da etnografia
realizada via observação
participante, ou seja, um
conhecimento produzido a partir
da experiência vivida na
construção de troca entre
pesquisador e interlocutores.
Envolve a pesquisa de
natureza qualitativa e empírica.
Imagem 1 – Imagem do livro “Tristes Trópicos”, de Levy-Strauss,
A etnografia é composta pelo 1996.
trabalho de campo, também
chamado de observação participante onde convivemos um tempo considerável com o
grupo pesquisado para, desta forma, conhecermos sua realidade, como demonstram
Eckert e Rocha (2008). Ou seja, a partir do olhar do próprio grupo, de como entende seu
modo de vida. Há um exercício de alteridade por parte do pesquisador uma vez que nos
distanciamos de nossa própria realidade para nos aproximarmos e darmos voz ao grupo
em questão nos colocando, assim, no “lugar do outro” para, após, retornarmos ao nosso
lugar de origem, onde ocorrerá a análise dos dados de campo.
Se o método etnográfico é composto por inúmeros procedimentos
incluindo levantamento de dados de pesquisa probabilística e
quantitativa (demografia, morfologia, geografia, genealogia), a
observação direta é sem dúvida a técnica privilegiada para investigar
os saberes e as práticas da vida social e reconhecer as ações e as
representações coletivas da vida humana. As primeiras inserções no
universo de pesquisa conhecidas como “saídas exploratórias”, são
norteadas pelo olhar atento ao contexto e a tudo o que acontece no
espaço observado. A curiosidade é logo substituída por indagações
sobre como a realidade social é construída. (ECKERT; ROCHA,
2008.)

Para os registros de campo, podemos utilizar recursos audiovisuais; diário de


campo ( ou caderno de campo) onde fazemos descrições/anotações sobre o que
vivenciamos, sobre nossas impressões e observações; entrevistas semi-estruturadas e,
principalmente, a observação participante. Nesse momento, existe um cuidado quanto à
abordagem inicial junto ao grupo a ser pesquisado, uma vez que significa a porta de
entrada para a pesquisa, o que irá influenciar boa parte do trabalho. Um bom trabalho de
campo inicia com uma boa abordagem. Não há modelo ou “receita” a ser seguida, mas o
uso da percepção e a transparência quanto aos objetivos e utilização dos dados da
pesquisa que devem ser esclarecidos ao grupo que irá nos dar seu consentimento para a
realização e continuidade da pesquisa. Trata-se de uma relação de confiança que uma
vez construída possibilita o acesso a dados subjetivos de extrema importância para o
estudo sobre temas complexos envolvendo conflitos de naturezas diversas - violência,
sexualidade, religiosidade, família, questão étnico-racial, etc. É útil também para os
estudos de caso onde a pesquisa está direcionada a uma trajetória social ou individual
específica.

Pesquisa documental e histórica

Na pesquisa histórica buscamos informações de cunho quantitativo ou


qualitativo de contextos passados mas que tenham relevância na compreensão de um
tema atual. Não há porque pesquisar algo ocorrido no passado sem que tenhamos algo a
dizer ou refletir sobre o presente. Contextualizar um tema recente de nosso interesse é
fundamental para um trabalho ou pesquisa de qualidade. Significa dizer também que
ambos - passado e presente – são complementares e não há hierarquia em termos
temporais.
O que fazemos é priorizar o que entendemos ser o foco de nosso estudo ou
pesquisa. As fontes e documentos históricos – arquivos, documentos, cartórios,
prontuários, etc. – são registros materiais que remetem a rupturas e continuidades no
tempo e que podem tomar significados distintos a depender do contexto da pesquisa.
Para Godoy,
os documentos constituem uma rica fonte de dados. O exame de
materiais de natureza diversa, que ainda não receberam um tratamento
analítico, ou que podem ser reexaminados, buscando-se novas e/ ou
interpretações complementares, constitui o que estamos denominando
pesquisa documental. A palavra ”documentos", neste caso, deve ser
entendida de uma forma ampla, incluindo os materiais escritos (como,
por exemplo, jornais, revistas, diários, obras literárias, científicas e
técnicas, cartas, memorandos, relatórios), as estatísticas (que
produzem um registro ordenado e regular de vários aspectos da vida
de determinada sociedade) e os elementos icono- gráficos ( como, por
exemplo, sinais, grafismos, imagens, fotografias, filmes). Tais
documentos são considerados 1/ primários" quando produzidos por
pessoas que vivenciaram diretamente o evento que está sendo
estudado, ou 1/ secundários", quando coletados por pessoas que não
estavam presentes por ocasião da sua ocorrência.(GODOY, 1992,
p.22)

Podemos relacioná-los a dados


etnográficos, estatísticos, o que supõe certa
dinamicidade da pesquisa histórica justamente por
criar uma visão temporal que dá lógica e auxilia na
organização de nossos argumentos no momento de
elaboração de nossos trabalhos acadêmicos. Uma
técnica bastante interessante neste tipo de pesquisa
é a história oral em que as pessoas com quem
dialogamos em campo, nossos interlocutores,
narram suas trajetórias indicando situações de
conflitos, uniões, estratégias, rupturas, relações
com outros grupos, dentre outros aspectos a partir
Imagem 2 – Acervo Histórico da
de discurso que se expressa de modo seqüencial. O Bilbioteca Nacional. / Fonte:
https://www.levyleiloeiro.com.br/peca.a
relato pessoal passa a ser interessante para
sp?ID=133669
pensarmos sua relação com representações de
experiências coletivas (ALBERTI, 2000, p.01)
A memória é o elemento central pois são lembranças sobre fatos ocorridos e
vivenciados que tornam esta técnica interessante sob o ponto de vista do interlocutor.
Como este percebe sua trajetória social, familiar, política, religiosa, etc? Como isso é
expresso em sua narrativa? São questões a serem contempladas por meio da história
oral.
Pesquisa bibliográfica

Diz respeito ao levantamento inicial e seqüencial de nosso trabalho acadêmico.


Antes de qualquer trabalho de campo, é importante levantarmos dados secundários –
estudos publicados (impressos ou virtuais) em livros ou textos, artigos – acerca do
assunto a ser pesquisado. A pesquisa bibliográfica ocorre durante toda nossa produção,
pois, muitas vezes há necessidade de adaptamos a teoria e adequarmos nosso tema ou
objeto de pesquisa. É importante utilizarmos corretamente o que fora produzido
anteriormente por outros estudiosos. As citações – diretas e indiretas, são aqui também
assunto para este tópico pois dizem respeito não somente à valorização do trabalho
desenvolvido pelos autores dos livros, mas de nosso próprio trabalho. Significa dizer
que ao referirmos um autor/autora de maneira correta, demonstramos o quanto nos
esforçamos em conhecer o tema em questão, bem como evitamos problemas acerca do
mau uso do conhecimento, ou seja, o plágio. Para tanto, utilizaremos as normas da
ABNT referentes às citações e referências bibliográficas, sites e documentos
consultados.5

5
Sobre Normas da ABNT, utilizamos o texto Orientações para elaboração de trabalhos acadêmicos:
dissertações, teses, TCG de Pedagogia, TCE de Especialização; organização de Ana Gabriela Clipes
Ferreira... [et al.] – Porto Alegre: UFRGS/FACED/BSE, 2014. Disponível em:<
http://www.ufrgs.br/bibedu/2014%20ORIENTACOES%20PARA%20ELABORACAO%20DE%20TRABALHOS
%20ACADEMICOS.pdf>. Acesso em 01/06/2017. (Adaptado)
Formatação

Textos:

Fonte do texto: Arial ou Times New Roman

Tamanho da fonte do texto: 12

Proporções das margens: margem superior e esquerda: 3 cm ; margem inferior e


direita: 2 cm ; parágrafo: 1,0cm a partir da margem esquerda de 3 cm.

Espaçamento entre linhas: 1,5cm

Espaçamento entre Parágrafos: clicar 2 vezes “Enter”; clicar 1 vez “Enter” e


escrever a partir do 2º ”Enter”.

Citações diretas:

a) mais de três linhas: destacar do texto e recuar 4 cm a partir da margem esquerda;


espaço entre linhas: simples; tamanho da fonte: 10;

b) menos de três linhas: entre aspas, no corpo do texto.

Elementos textuais

CITAÇÕES

Citações diretas: a cópia fiel do trecho retirado do texto original

Citações indiretas: Texto baseado na obra do autor consultado, consistindo em


transcrição na o textual da(s) ideia(s) do autor consultado. Indicar apenas a data, não
havendo necessidade de indicação da página.

Citação de citação: Transcrição direta ou indireta de um texto em que não se teve


acesso ao original, ou seja, retirada de fonte citada pelo autor da obra consultada.
Indicar o autor da citação, seguido da data da obra original, a expressão latina
“apud”, o nome do autor consultado, a data da obra consultada e a página onde
consta a citação.

Fonte: Manual de ORIENTAÇÕES PARA ELABORAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS: dissertações, teses, TCG
de Pedagogia, TCE de Especialização, 2014, p.37. Fonte:
http://www.ufrgs.br/bibedu/2014%20ORIENTACOES%20PARA%20ELABORACAO%20DE%20TRABALHOS%20AC
ADEMICOS.pdf (Adaptado)
Figura 2 – Retirada do Manual de ORIENTAÇÕES PARA ELABORAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS: dissertações,
teses, TCG de Pedagogia, TCE de Especialização, 2014, p.37. Fonte:
http://www.ufrgs.br/bibedu/2014%20ORIENTACOES%20PARA%20ELABORACAO%20DE%20TRABALHOS%20ACAD
EMICOS.pdf
Referências

Referência é o “[...] conjunto padronizado de elementos descritivos, retirados de um


documento, que permite sua identificação individual [...]” (ASSOCIAÇÃO, 2011, p. 3)
no todo ou em parte, impressos ou registrados em diversos tipos de suporte.

As referências devem ser digitadas na margem esquerda usando-se espaço simples


nas entrelinhas e dois espaços simples para separar as referências entre si. O nome
do autor de várias obras referenciadas pode ser repetido e as referências organizadas
em ordem alfabética do título, nesta ordem não se contam o artigo inicial do título.

Exemplo:
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança.
FREIRE, Paulo. A Educação Popular.
5.1.1 Uso da Sinalização (______): traço repetido de autoria nas referências

Eventualmente, o nome do autor de várias obras referenciadas, pode ser


substituído nas referências seguintes a primeira, por traço (equivalente a seis
espaços) e ponto.
Exemplo:
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança.
______. A Educação Popular.

Fonte: Manual de ORIENTAÇÕES PARA ELABORAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS: dissertações, teses, TCG
de Pedagogia, TCE de Especialização, 2014, p.37. Fonte:
http://www.ufrgs.br/bibedu/2014%20ORIENTACOES%20PARA%20ELABORACAO%20DE%20TRABALHOS%20AC
ADEMICOS.pdf (Adaptado)

http://www.ufrgs.br/bibedu/2014%20ORIENTACOES%20PARA%20ELABORACAO%20DE%20TRABALHOS%20AC
ADEMICOS.pdf (Adaptado)

Figura 4 – Retirada do Manual de ORIENTAÇÕES PARA ELABORAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS: dissertações,


teses, TCG de Pedagogia, TCE de Especialização, 2014, p.27
Figura 5 – “Figura 19- Exemplos de documentos considerados no todo”, retirada do Manual de ORIENTAÇÕES
PARA ELABORAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS: dissertações, teses, TCG de Pedagogia, TCE de Especialização, 2014, p.28.

Figura 6 –“ Figura 20- Exemplos de Partes de Documentos”, retirada do Manual de ORIENTAÇÕES PARA
ELABORAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS: dissertações, teses, TCG de Pedagogia, TCE de Especialização, 2014, 29-30.

Figura 7 – Retirada do Manual de ORIENTAÇÕES PARA ELABORAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS: dissertações, teses,
Figuras 6 –“ Figura 20- Exemplos de Partes de Documentos”, retirada do Manual de ORIENTAÇÕES PARA
ELABORAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS: dissertações, teses, TCG de Pedagogia, TCE de Especialização, 2014, 29-30.
Atividade: Escolha um dos tipos de pesquisa qualitativa e exemplifique com dados
etnográficos, documentais ou bibliográficos. Observe as regas de citações e referências
acima expostas. As utilize, de acordo com as fontes que você irá apresentar.

Fórum: Os desafios impostos à pesquisa científica na área das ciências sociais fez
destas fonte de inúmeras contribuições para a produção de conhecimento. Um
conhecimento que reconhece a subjetividade como fonte para a reflexão e definição de
métodos próprios para sua percepção e apreensão. Dos aspectos não objetivos
concernente à pesquisa social, quais questões podemos pensar como relevante à nossa
inserção neste campo? Você já se imaginou com parte deste processo? Quais situações
podemos usar como exemplos para nossa pesquisa envolvendo subjetividades, dados
não observáveis à primeira vista, ou “a olho nu”. E que estratégias podemos simular
como supostas soluções a estes desafios? Como exemplo, compartilhe alguma
situação vivida por você em que os demais colegas possam compartilhar também seus
pontos de vista metodológicos.
UNIDADE 3 – PRODUÇÃO ACADÊMICA, ARTÍSTICA E
CONHECIMENTOS TRADICIONAIS

A Unidade 3 é composta por tipos de textos acadêmicos que poderão ser


utilizados nas avaliações das disciplinas e Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC)..

Paper

O paper é um texto sintético que apresenta dados gerais sobre nossa pesquisa ou
trabalho em desenvolvimento ou concluído. Tem por objetivo divulgar nossa pesquisa,
dados e resultados até então obtidos e por este motivo é um tipo de texto a ser publicado
em anais de eventos, revistas, periódicos. É composto por:
a) Título da pesquisa ou estudo;
b) Autor, local de atividade e endereço eletrônico;
c) Resumo (cerca de 250 palavras), palavras-chave (três)
d) Texto contendo metodologia, dados de pesquisa, considerações finais ou
resultados até então obtidos;
e) Referências.

Video

A produção de audiovisual em pesquisas acadêmicas demanda trabalho de campo,


análise dos dados e edição do material coletado. Além disso, tem relação com a
bibliografia debatida durante as disciplinas. Em um vídeo etnográfico, por exemplo, a
voz do grupo pesquisado é o que mais se evidencia ao passo que a do pesquisador
praticamente desaparece. Outro exemplo é quando a narrativa do pesquisador serve
como guia para as informações a serem apresentadas no vídeo em formato de
“documentário”, o que não exclui a utilização de dados de diversas naturezas:
históricos, etnográficos, bibliográficos, etc. è importante, no entanto, darmos crédito aos
nossos interlocutores pois são também autores dos vídeos produzido, assim como de
possíveis autores e fontes documentais. Trata-se de uma linguagem textual composta
por uma narrativa audiovisual. É importante também atentar para o consentimento
informado quanto aos objetivos da pesquisa e não divulgação/publicação das imagens
sem a aprovação dos interlocutores ou grupo pesquisado.
Produção artística

Esta modalidade de produção textual


engloba desde a literatura, poema,
contos, cordéis, etc. A criatividade
acima descrita para a escolha e
produção audiovisual encontra apoio
também para narrativas de naturezas
diversas em forma de texto escrito ou
audiovisual. A dimensão artística
dialoga diretamente com as
especificidades dos grupos tradicionais, tema deste curso, uma vez que representam a
diversidade social e cultural presente em nossa sociedade sob as mais diversas
linguagens e códigos. O pensar e o conhecer não se restringem nem excluem linguagens
comumente utilizadas pelo acadêmico, as chamadas teorias. O que propormos aqui é
rompermos com modelos hierárquicos com base em dicotomias entre o erudito e
popular, o acadêmico e o artístico, o acadêmico e o tradicional, mas criarmos um especo
de diálogo onde as expressões acerca dos diferentes campos do saber sejam valorizadas.
A arte está também associada ao trabalho intelectual, crítico e acadêmico. A utilização
ou a produção de textos literários em pesquisas acadêmicas auxiliam tanto na análise de
dados quanto nas contribuições que a pesquisa poderá oferecer a determinado grupo ou
instituição. O uso de diferentes linguagens tem cunho democrático e possibilita maior
abrangência e acesso quanto ao conteúdo dos estudos que iremos desenvolver.

Atividade: apresente uma pequena narrativa em forma de literatura ou vídeo


acerca de um tema de seu interesse e relacione com a metodologia utilizada. Não
tenha receio, pois os desafios que enfrentou serão muito bem vindos em sua
narrativa audiovisual ou literária.

Projeto de pesquisa

O projeto de pesquisa diz respeito ao nosso planejamento inicial: O que queremos


pesquisar? Porque? É um assunto relevante? Porque? Como iremos pesquisar? Quais
questões são importantes e tem relação com o assunto que desejo pesquisar e conhecer?
Que instrumentos irei utilizar? O que já tenho de informações sobre o assunto? São
questões que norteiam constantemente nossa pesquisa mas que de antemão nos auxiliam
durante nossa jornada de produção de um TCC. Se há interesse, há produção. A questão
aqui é organizarmos as muitas idéias que irão surgir. Uma estrutura é sugerida a partir
do projeto de pesquisa. Longe de criar obstáculos à nossa compreensão sobre
determinado assunto, o projeto nos impõe foco e sistematização, fundamentais para
qualquer tipo de produção textual ou audiovisual no campo acadêmico, incluído sua
finalização por meio de produções artísticas. O projeto, em outros termos, refina nossa
pesquisa, lapida e representa um exercício de reflexão constante. Um projeto é
composto basicamente pela escolha do tema, do objeto de pesquisa, dos objetivos geral
e específicos, de metodologia, de justificativa, de hipóteses, de problema de pesquisa e
de referências.
Para a elaboração de um projeto de pesquisa, podemos destacar os seguintes elementos
básicos:
a) Tema: o assunto a ser desenvolvido, um assunto atual que possa ser
desenvolvido, para além do que já fora produzido;
b) Problema de pesquisa: sugere uma indagação, dúvidas, perguntas de interesse
sobre o tema escolhido, algo que demande certa curiosidade e a busca por
respostas sobre o tema;
c) Hipóteses: uma suposição anterior à pesquisa a ser desenvolvida que dará uma
reposta (confirmação ou não; verdadeiras ou falsas) a esta ideia inicial sobre o
problema, a questão anteriormente pensada;
d) Objetivos: a) Gerais: indicam o que eu quero com esta pesquisa; b) Específicos:
indicação de procedimentos de como eu irei alcançar o objetivo geral, quais
caminhos irei seguir. Diferentemente da metodologia, os objetivos específicos
tem função intermediadora (LLAKATOS & MARCONI, 1992) indicam e
iniciam com ações, metas que terei que seguir para atingir o objetivo geral;
e) Justificativa: apresenta a relevância de minha pesquisa, o porquê de pesquisar
determinado assunto. São questões pertinentes: “o estágio em que se encontra a
teoria respeitante ao tema; • as contribuições teóricas que a pesquisa pode trazer;
• importância do tema do ponto de vista geral; • importância do tema para os
casos particulares em questão; • possibilidade de se sugerir modificações no
âmbito da realidade abarcada pelo tema proposto; • descoberta de soluções para
casos gerais e/ou particulares etc.” (LAKATOS & MARCONI, 1992, p. 103).
f) Proposta teórico-metodológica: engloba o estado da arte do estudo, que temos
em termos de conceitos e bibliografia referente a estudos sobre o tema, além da
forma como pretendemos realizar a pesquisa – métodos e técnicas.

Atividade: Apresente, de modo criativo, o tema de interesse de sua pesquisa e que


tenha relação com a diversidade social. Discorra sobre o assunto e aponte dúvidas que
queira sanar posteriormente.

Fórum: Como sugestão ao tema de pesquisa, podemos discutir sobre questões em


torno da diversidade social e cultural. Para tanto, seguem algumas imagens que
poderão motivá-los ao debate. Percebam os diferentes olhares sobre temas comuns e
observem como isto nos levará a “lapidar”, detalhar ou recortar um mesmo assunto.
Caso nenhuma das imagens seja de seu interesse, envie uma que possa contribuir com
nosso debate. Tenham uma boa reflexão!
Imagens:
Os desafios foram apresentados como forma de trocarmos informações e
experiências. Usem a criatividade, encontrem seus temas de interesse e sejam críticos!
Construiremos estes caminhos juntos e com o devido respeito às suas escolhas.

REFERÊNCIAS

Básica:
GODOY, Arilda Schmidt. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades.
In.: Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v.35, n.2, 1995. Disponível
em:< http://www.scielo.br/pdf/rae/v35n2/a08v35n2.pdf>. Acesso em: 12/05/2015.
_______________________. Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. Revista de
Administração de Empresas. São Paulo, v.35, n.2, 1995. Disponível
em:<http://www.scielo.br/pdf/rae/v35n3/a04v35n3.pdf>. Acesso em: 12/05/2015.
PALMEIRA, Moacir [et al]. Dossiê: Antropologia e Literatura. Revista de Ciências
Sociais. Periódico do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-
Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará – UFC, v.44, n.2.–
Fortaleza, UFC, 2013. Disponível em:<
http://www.periodicos.ufc.br/revcienso/article/view/839/816>. Acesso em 20/06/2017.
FERREIRA, Ana Gabriela [et al]. Orientações para elaboração de trabalhos
acadêmicos: dissertações, teses, TCG de Pedagogia, TCE de Especialização;
organização de Ana Gabriela Clipes Ferreira... [et al.] – Porto Alegre:
UFRGS/FACED/BSE, 2014. Disponível em:<
http://www.ufrgs.br/bibedu/2013%20ORIENTACOES%20PARA%20ELABORACAO
%20DE%20TRABALHOS%20ACADEMICOS.pdf>. Acesso em:01/06/2017.

Complementar:
ALBERTI, Verena. Indivíduo e biografia na história oral. Rio de Janeiro: CPDOC,
2000. Disponível em:< http://r1.ufrrj.br/conselhoescolar/wp-
content/uploads/indiv%C3%ADduoehistoriaoralverenaalberti.pdf>. Acesso em
10/04/2017.
ECKERT, Cornélia; ROCHA, Ana Luísa C. Etnografia: saberes e práticas.In.: Ciências
Humanas: pesquisa e método. Porto Alegre: Editora da Universidade, 2008. Disponível
em:<ttp://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/30176/000673630.pdf>. Acesso
em: 30/01/2017.
COMISSÃO GULBENKIAN. Para abrir as ciências sociais. São Paulo: Cortez
Editora, 1996.
DEMO, Pedro. Certeza da incerteza: ambivalências do conhecimento e da vida.
Brasília: Editora Plano, 2000.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências na transição para
uma ciência pós-moderna. Estudos avançados. Vol.2, nº2, São Paulo May/Aug. 1988.
SANTOS, Boaventura de Sousa. A universidade no século XXI: para uma reforma
democrática e emancipatória da Universidade. 3ª edição. São Paulo: Cortez Editora,
2011.
SANTOS FILHO, J. Camilo dos. Pesquisa quantitativa versus pesquisa qualitativa:
o desafio paradigmático. In: SANTOSFILHO, J. Camilo dos; GAMBOA, Silvio
Sánchez. Pesquisa educacional: quantidade-qualidade. 4. ed. São Paulo: Cortez, p.13-
59, 2001.

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