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Recursos Eleitoral - José Jairo Gomes (2 Edilção, 2016) PDF
Recursos Eleitoral - José Jairo Gomes (2 Edilção, 2016) PDF
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Recursos eleitorais / José Jairo Gomes – 2. ed. – São Paulo: Atlas, 2016.
ISBN 978-85-970-0543-1
1. Direito eleitoral – Legislação – Brasil 2. Recursos (Direito) – Brasil I. Título.
13-01172 CDU-347.955:342.8(81)
A presente obra expõe um dos temas mais desafiadores do Direito eleitoral, qual
seja, os recursos eleitorais. A inspiração para elaborá-la decorreu da observação feita
por Robert Alexy (2008, p. 470) de que, no “recente debate sobre direitos
fundamentais, poucas foram as ideias que despertaram tanta atenção quanto a
existência de uma conexão entre direitos fundamentais, organização e procedimento”.
O objeto primordial do Direito eleitoral é a liberdade de participação política,
notadamente o exercício das cidadanias ativa (ius suffragii) e passiva (ius honorum),
bem como a ocupação legal dos cargos político-eletivos e o consequente exercício
legítimo do poder estatal. Muitas das questões e dos problemas suscitados no âmbito
dessa disciplina jurídica dizem respeito à concretização de direitos políticos
fundamentais.
Compreendidos como um conjunto de regras e princípios vinculantes, de textura
aberta e fluida, os direitos fundamentais também apresentam uma face processual. O
due process of law constitui seu lado procedimental.
Em sentido amplo, procedimentos constituem sistemas lógico-normativos,
formados por regras e/ou princípios para a obtenção de um resultado, que deve estar
em harmonia com os direitos fundamentais e com a ideia vigorante de justiça.
Segundo Alexy (2008, p. 488), “Direitos a procedimentos judiciais e administrativos
são direitos essenciais a uma ‘proteção jurídica efetiva’.” É condição de uma proteção
jurídica efetiva que o resultado do procedimento proteja os direitos materiais dos
titulares de direitos fundamentais envolvidos.
A inexistência de procedimentos administrativos e judiciais pode significar
violação de direitos fundamentais cuja concretização deles dependam. É que a
ausência de normas regulamentadoras obstaculiza a concretização desses direitos.
Nesse contexto, os recursos apresentam singular importância em qualquer sistema
jurídico, notadamente naqueles que prestigiam os direitos fundamentais.
Se em sentido comum o termo “recurso” exprime todo e qualquer meio
empregado na defesa de um direito, na técnica processual significa expansão ou
desenvolvimento do direito de ação, que ingressa em uma nova etapa, sendo esta
essencial para a afirmação e concretização do direito que se afirma violado. Afinal, é
do julgamento do recurso que surgirá um juízo concreto, racionalmente
fundamentado, de dever-ser.
O texto inicia-se com o delineamento da teoria geral dos recursos e com a
exposição de questões gerais especificamente ligadas aos recursos eleitorais. Em
seguida, trata minudentemente de cada recurso.
O penúltimo capítulo é dedicado a outros meios impugnativos comumente
empregados no Direito eleitoral, mas que estritamente não se inserem no esquema
recursal descrito. Aqui serão expostas garantias constitucionais como o mandado de
segurança e ações como a rescisória.
O último capítulo da obra é dedicado às espécies recursais criminais.
A elaboração do texto baseou-se em acurada pesquisa interdisciplinar, tendo
sempre como nortes o pensamento contemporâneo e a noção de que os institutos
jurídicos não são realidades estanques, mas intercomunicantes; mesmo porque o
sistema jurídico é aberto e não hermético, como pretendeu o positivismo clássico-
liberal.
Analisaram-se variadas fontes doutrinárias e numerosa jurisprudência dos
tribunais, muitas das quais foram citadas nos textos. Consciente de que, na prática, o
sentido das normas postas na Constituição e nos diplomas legais é fixado pelos
tribunais, especial atenção foi dedicada aos precedentes judiciais.
O Autor
ABREVIATURAS
3 Recurso Eleitoral
3.1 Caracterização do recurso eleitoral
3.2 Interposição
3.3 Juízo de admissibilidade
3.4 Prazo
3.5 Efeitos
3.6 Juízo de retratação
3.7 Tramitação no Tribunal Regional Eleitoral
5 Embargos de declaração
5.1 Conceito e pressupostos
5.2 Cabimento contra qualquer decisão judicial
5.3 Procedimento
5.3.1 Prazo de interposição
5.3.2 Há contraditório nos embargos de declaração
5.4 Efeitos
5.5 Embargos manifestamente protelatórios
5.6 Interposição anterior ou simultânea de recurso
6 Agravos
6.1 Generalidades
6.2 Agravo de instrumento
6.3 Agravo interno
6.4 Agravo Regimental
6.5 Agravo em recurso especial ou extraordinário – agravo nos próprios autos
7 Recurso Ordinário Eleitoral
7.1 Recurso ordinário para o Tribunal Superior Eleitoral
7.2 Recurso ordinário eleitoral para o Supremo Tribunal Federal
8 Recurso Especial
8.1 Fundamento e pressupostos
8.1.1 Decisões de Tribunal Regional Eleitoral
8.1.2 Esgotamento das vias ordinárias
8.1.3 Prequestionamento
8.1.3.1 A exigência de decisão expressa sobre a questão
jurídica
8.1.3.2 Decisão implícita sobre a questão jurídica
8.1.3.3 Decisão ficta da questão jurídica: erro, omissão,
contradição ou obscuridade no acórdão
8.1.3.4 Questão de ordem pública
8.1.4 Contrariedade a disposição expressa da Constituição
8.1.5 Contrariedade a disposição expressa de lei
8.1.6 Dissídio jurisprudencial: divergência na interpretação entre
dois ou mais tribunais eleitorais
8.2 Prazo
8.3 Efeitos
8.4 Trâmite do REspe no Tribunal Regional Eleitoral
8.5 Trâmite do REspe no Tribunal Superior Eleitoral
8.6 Recurso especial repetitivo
9 Recurso Extraordinário
9.1 Noções de controle de constitucionalidade
9.2 Controle de constitucionalidade e direito pré-constitucional
9.3 Caracterização do recurso extraordinário
9.4 Não cabimento de RE diante de acórdão de TRE
9.5 Admissibilidade: requisitos específicos
9.5.1 Prequestionamento
9.5.2 Repercussão geral
9.5.2.1 Caracterização da repercussão geral
9.5.2.2 Questões constitucionais reiteradas
9.5.2.3 Repercussão geral em matéria eleitoral
9.6 Interposição
9.7 Prazo de interposição
9.8 Efeitos
9.9 Trâmite no Tribunal Superior Eleitoral
9.10 Trâmite no Supremo Tribunal Federal
9.11 Decisão do Supremo Tribunal Federal
9.12 Eficácia da decisão do Supremo Tribunal Federal
9.13 Recursos extraordinários repetitivos
9.14 Súmulas do STF sobre recurso extraordinário
10 Embargos de Divergência
Referências
1
1.1 DEFINIÇÃO
É natural que decisões em processos jurisdicionais gerem na parte desfavorecida o
sentimento de inconformismo e a vontade de ter o julgamento revisto. Por isso, e
também em atenção às ideias de justiça e harmonia social, o sistema jurídico prevê
formas de impugnação de atos jurisdicionais.
Além do recurso, há outros instrumentos legais preordenados à impugnação de
atos judiciais, tais como o mandado de segurança (CF, art. 5o, LXIX; Lei nº
12.016/2009), a ação rescisória (CE, art. 22, I, j; novo CPC, arts. 966-975), a
reclamação (CF, art. 102, I, l, art. 105, I, f; novo CPC, arts. 988-993).
Se em sentido amplo o termo “recurso” denota todo meio usado pela parte
litigante em defesa de seu direito, tecnicamente apresenta sentido bem definido na
ciência processual. Significa a expansão ou o desenvolvimento da ação, que ingressa
em uma nova fase. É por isso que se diz que o recurso se desenvolve na mesma
relação jurídica processual, não sendo, portanto, uma nova ação, tampouco dá origem
a um novo processo.
À luz do Direito processual civil brasileiro, o eminente jurista Barbosa Moreira
(2012, nº 135, p. 233) conceitua recurso como “o remédio voluntário idôneo a
ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a
integração de decisão judicial que se impugna”.
Na lição de Baptista da Silva (1996, p. 345), recurso “é o procedimento através do
qual a parte, ou quem esteja legitimado a intervir na causa, provoca o reexame das
decisões judiciais, a fim de que elas sejam invalidadas ou reformadas pelo próprio
magistrado que as proferiu ou por algum órgão de jurisdição superior”.
Já Marinoni e Arenhart (2007, p. 499) definem, de forma ampla, recurso como
“os meios de impugnação de decisões judiciais, voluntários, internos à relação jurídica
processual em que se forma o ato judicial atacado, aptos a obter deste a anulação, a
reforma ou o aprimoramento”. Assinalam ser irrelevante que a reapreciação do ato
atacado se dê por órgão distinto daquele que o proferiu, já que inexiste “a
necessidade de deslocamento da competência para apreciação do recurso para órgão
judiciário distinto daquele que proferiu a decisão impugnada”.
Esclarece Freitas Câmara (2012, p. 60-62) que pelo recurso se podem alcançar
quatro resultados, a saber: reforma, invalidação, esclarecimento e integração da
decisão impugnada. Reforma haverá sempre que se detectar error in judicando (erro
de julgamento, de conteúdo) na decisão recorrida, ou seja, sempre que houver
ferimento ao Direito; nesse caso, a decisão do tribunal substituirá a impugnada. A
invalidação pressupõe a ocorrência de error in procedendo (erro de forma, de
procedimento), caso em que a decisão recorrida será anulada e, pois, desconstituída;
por conseguinte, outra decisão deverá ser prolatada pelo juízo a quo. Na hipótese de
esclarecimento, a decisão recorrida é contraditória ou obscura; nessa situação,
pretende-se que o juízo prolator da decisão reexprima o que nela já havia afirmado,
desta feita de forma clara e induvidosa. Por fim, na integração há omissão na decisão,
devendo a lacuna ser suprida; nessa situação, quer-se que o órgão judicial prolator da
decisão a reexprima, desta feita apreciando a questão sobre a qual se omitiu, o que
implica reabertura da atividade decisória.
1.2 CLASSIFICAÇÃO
Pode o recurso ser classificado em total e parcial, principal e adesivo, ordinário e
excepcional.
Qualifica-se como total o recurso que tem por objeto toda a matéria impugnável
da decisão atacada, enquanto parcial é aquele que versa parte dessa matéria; neste
caso, a parcela não recorrida do decisum torna-se estável: sobre ela ocorre preclusão
ou coisa julgada. A presente classificação é respaldada pelo art. 1.002 do novo CPC,
segundo o qual “a decisão pode ser impugnada no todo ou em parte”.
No tocante ao recurso parcial, adverte Amaral Santos (1989, p. 104) que “deverá
o recorrente especificar no ato da interposição qual a parte do ato decisório é
impugnada, pois, assim não o fazendo, o recurso abrangerá todas as suas conclusões”.
Chama-se recurso principal ou independente o interposto pela parte,
independentemente da outra, com vistas à salvaguarda de seus interesses, em
consonância com as exigências legais. No entanto, havendo sucumbência recíproca,
ou seja, se forem vencidos autor e réu, o art. 997, § 1º, do novo CPC permite que ao
recurso interposto por uma das partes possa aderir a outra parte. Nesse caso, o recurso
é denominado adesivo ou subordinado, ficando sua tramitação dependente do
recurso principal. Não se trata – assinalam Wambier et al. (2015, p. 997) – de espécie
de recurso, mas de uma “forma diferenciada de interposição”.
O recurso adesivo somente é admissível na apelação e nos recursos extraordinário
e especial, devendo ser “dirigido ao órgão perante o qual o recurso independente fora
interposto, no prazo de que a parte dispõe para responder”. Dada sua subordinação,
“não será conhecido se houver desistência do recurso principal ou se for ele
considerado inadmissível” (CPC/2015, art. 997, § 2º, I, II e III). Nos dois recursos
devem-se observar as mesmas regras de admissibilidade e julgamento no tribunal.
Já quanto aos recursos ordinário e excepcional, tem-se que o primeiro tem por
objetivo tutelar a situação jurídica da parte no processo, enquanto o segundo visa
preservar o ordenamento jurídico. Nesse sentido, esclarece Freitas Câmara (2012, p.
65) que são chamados ordinários “os recursos cujo objeto imediato é a tutela do
direito subjetivo, e excepcionais aqueles cujo fim imediato é a tutela do direito
objetivo”. Na primeira categoria encontram-se recursos como apelação, recurso
eleitoral, agravo interno, embargos declaratórios e recurso ordinário. Na segunda
estão os recursos especial e extraordinário.1
Uma antiga concepção classificava os recursos segundo a fonte, separando-os em
ordinário e extraordinário. Ordinários – explica Amaral Santos (1989, p. 103) – são
todos os recursos instituídos pelo Código de Processo Civil; “extraordinário será
apenas o assim denominado e instituído pela Constituição”. Entretanto, esse critério
classificatório não tem valor no atual sistema processual. Isso porque a Constituição
Federal prevê recursos a que expressamente denomina ordinários, consoante se vê em
seus arts. 102, II, 105, II. Por outro lado, os recursos extraordinário e ordinário
constitucionais contam com previsão também nos arts. 1.029 a 1.041 do novo Código
de Processo Civil.
1.3 PRINCÍPIOS
Os princípios recursais orientam a interpretação nesse setor do conhecimento
jurídico. Entre outros,2 vale aludir aos seguintes: duplo grau de jurisdição,
taxatividade, unirrecorribilidade, fungibilidade, proibição de reformatio in pejus,
dialeticidade.
Duplo grau de jurisdição – reza esse princípio que o ato judicial desfavorável à
parte, que lhe causar prejuízo jurídico, deve ser revisto por outro órgão integrante do
Poder Judiciário. Encontra-se ligado à ideia de justiça e ao humano sentimento de
inconformismo em relação a decisões desfavoráveis, além do risco (ou real
possibilidade) de o órgão julgador cometer erro.
Ademais, em termos práticos, a possibilidade de crítica e reexame da decisão faz
que o órgão prolator seja mais cauteloso ao examinar as questões levantadas nos
autos, e também mais cuidadoso na fundamentação. Como assevera Greco Filho
(2012, p. 325), os vários graus de jurisdição existem não apenas porque os superiores
podem ter mais conhecimento ou sabedoria, mas sobretudo porque, em cada qual
deles, o órgão jurisdicional vê o caso concreto de maneira própria e, portanto,
distinta. Por encontrar-se mais próximo do fato, o primeiro grau de jurisdição tem a
oportunidade de apreciar todos os pormenores da lide, inclusive fatores de difícil
transcrição para o papel, como a sinceridade de uma testemunha. Já o segundo grau,
porque está mais distante dos fatos, pode ter uma visão mais adequada do contexto
dos acontecimentos e de outros casos análogos, além de aperfeiçoar a interpretação
do direito.
Na doutrina tem-se sustentado inexistir direito fundamental ao duplo grau de
jurisdição, porque ele não foi expresso na Lei Maior. A esse respeito, assinala Tavares
(2012, p. 750, 753, 759) ser correto dizer que a Lei Maior prevê a existência de
diversos juízos, distribuídos em diferentes instâncias e graus de jurisdição, dentro de
uma estrutura hierárquica própria. De igual modo, a Constituição prevê
determinados recursos, como o ordinário, o especial e o extraordinário. Entretanto,
disso não surge “o chamado duplo grau de jurisdição como princípio constitucional”.
Em tese ou abstratamente, “não há o mandamento do duplo grau de jurisdição no
sistema constitucional pátrio atual [...]”. Até porque ele seria afastado pela existência
de competência originária do Supremo Tribunal Federal. Na verdade, o princípio em
tela é incompatível com a previsão de competência originária para as instâncias
superiores jurisdicionais, cujas decisões são irrecorríveis para outros juízos.
No mesmo diapasão, depois de afirmar que a “norma constitucional não garante o
direito de recorrer”, assegura Marinoni (2007, v. 1, p. 319) que o legislador não está
impedido “de estabelecer um procedimento que não dê às partes o direito de recorrer
contra o julgamento”. Para esse autor, o duplo grau constitui um mito, “não podendo
ser considerado um princípio fundamental de justiça, já que ele não garante a
qualidade e a efetividade da prestação jurisdicional”. Esclarece, ainda, que “nenhum
ordenamento, nem na Itália nem em qualquer outro país – nem mesmo na França,
onde a ideia do double degré de jurisdiction parece estar particularmente arraigada –,
considera o duplo grau de jurisdição como uma garantia constitucional. Ao contrário,
em quase todos os países existem mitigações do duplo grau, justamente para atender
ao princípio fundamental de acesso à justiça. [...]”. Assim, em determinadas situações,
nada impediria que o recurso seja suprimido em prol da efetividade do processo.
Pondere-se, todavia, que, embora não esteja inscrito de maneira expressa no rol
dos direitos e garantias fundamentais, o princípio em apreço emana da ideia de
justiça e encontra-se ligado à concepção atual de Estado Democrático de Direito. Por
assegurar à parte um segundo juízo acerca da solução dada à lide, reduz o risco de
erro judicial e eleva o índice de confiança e a segurança do sistema jurídico. Por outro
lado, a recorribilidade das decisões judiciais é já uma tradição no ordenamento
brasileiro.
Como todo princípio jurídico, a realização do princípio do duplo grau de
jurisdição pode ocorrer em diferentes graus ou medidas, a depender da ponderação
de circunstâncias fáticas e jurídicas.
Assim, o duplo grau de jurisdição pode ser excepcionado pela legislação
infraconstitucional. Entre essas exceções contam-se os embargos de declaração (que
são julgados pelo mesmo órgão judicial prolator da decisão recorrida) e as ações de
competência originária do Supremo Tribunal Federal, cujas decisões são impugnáveis
perante o próprio Tribunal Supremo.
Taxatividade – por esse princípio, as espécies recursais devem ser expressamente
estabelecidas em lei. Em razão da competência privativa prevista no art. 22, I, da Lei
Maior, somente à União é dado legislar sobre as matérias processual e eleitoral, e,
portanto, estabelecer recursos na seara eleitoral.
No Direito eleitoral, fora da esfera criminal, podem-se arrolar as seguintes
espécies recursais:
[...] 1. De acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, não se cogita a ocorrência de reformatio in
pejus quando a alteração da sentença, em sede de remessa necessária ou recurso voluntário, se dá em razão de
matéria de ordem pública. 2. Agravo regimental não provido” (STJ, AgRg no REsp nº 1261397/MA, 1ª T., Rel. Min.
Arnaldo Esteves Lima, DJe 03.10.2012).
[...] 4. Pode o órgão julgador conhecer, de ofício, das questões de ordem pública, sem que isso implique julgamento
extra petita ou reformatio in pejus. Precedentes do STJ. 5. No âmbito do STJ, tal orientação também encontra
guarida, consoante prescreve o art. 257 do RI/STJ. É necessário, porém, que a instância recursal seja aberta, o que
ocorre quando o apelo preenche todos os requisitos de admissibilidade. 6. Agravo regimental não provido” (STJ,
AgRg no AgRg no REsp nº 1218791/PE, 2ª T., Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 12.09.2011).
Significativas foram as alterações, no que tange aos recursos para o STJ e para o STF. O Novo Código contém regra
expressa, que leva ao aproveitamento do processo, de forma plena, devendo ser decididas todas as razões que
podem levar ao provimento ou ao improvimento do recurso.
[...] inicia-se a sua apreciação, o que se faz com a realização do juízo de admissibilidade. Esse pode ser definido
como a fase do julgamento do recurso em que se verifica a presença ou não dos requisitos de admissibilidade do
mesmo, revelando-se como preliminar do juízo de mérito.
Nesses dois casos, portanto, é o próprio relator quem decide o mérito do recurso.
Fora dessas hipóteses, o relator deverá admitir e dar seguimento ao recurso para
que seja julgado pelo órgão colegiado a que pertence.
Frise-se que o órgão ad quem somente aprecia o mérito recursal (i. e., o pedido
formulado no recurso) após vencida a fase anterior, atinente à admissão. A
admissibilidade constitui matéria preliminar.
Dispõe o caput do art. 938 do novo CPC: “A questão preliminar suscitada no
julgamento será decidida antes do mérito, deste não se conhecendo caso seja
incompatível com a decisão [...].” E também o art. 939: “Se a preliminar for rejeitada
ou se a apreciação do mérito for com ela compatível, seguir-se--ão a discussão e o
julgamento da matéria principal, sobre a qual deverão se pronunciar os juízes
vencidos na preliminar.”
Não se deve, pois, confundir o mérito do recurso com o mérito da causa. Esse
último é determinado na petição inicial pelo autor da demanda e envolve sempre
questão de direito material. Já no recurso o mérito consiste no que se impugna na
decisão recorrida. Aqui o que se postula é um novo julgamento para reformar, anular,
integrar ou aperfeiçoar a decisão de que se recorre; esse pedido constitui o mérito
recursal e pode ou não se referir a uma questão de direito material. Assim, o mérito
do recurso pode ser mais restrito que o mérito da causa, podendo até mesmo ser
diverso, como ocorre na hipótese em que o objeto recursal é constituído por questão
processual. Para exemplificar, pense-se na hipótese em que o pedido formulado no
recurso consiste na invalidação da sentença, ou no reconhecimento de ausência de
pressuposto processual ou condição da ação. Nesses exemplos, é óbvio que a
pretensão recursal é diferente do objeto da ação, ou seja, do pedido formulado na
petição inicial. Conforme ensina Theodoro Júnior (2012, p. 595):
Às vezes a pretensão de invalidação da sentença, formulada pelo recorrente, envolverá questão puramente
processual. Seu julgamento, porém, não será de preliminar, mas de mérito, mérito não da causa e sim do recurso.
Preliminares do recurso são apenas as questões que antecedem a apreciação do pedido contido no próprio recurso,
são as que se localizam no juízo de admissibilidade.
I. Não se exime da intempestividade a circunstância de o recurso ter sido, no prazo, protocolado erroneamente em
tribunal incompetente. II. É direito da parte vencedora, para sua segurança, ter certeza de que, no prazo legal,
perante o órgão judiciário competente, foi ou não impugnada a decisão. III. Não logrando a parte agravante trazer
argumentos hábeis a ensejar a modificação da decisão impugnada, fica ela mantida por seus fundamentos (STJ,
AgRg no Ag no 327262/MG, 4a Turma, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 24.09.2001, p. 316).
Em igual sentido: STJ, AgRg no Ag no 933179/SP, 2a Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ 30.11.2007, p. 429.
Ação. Desistência. A desistência da ação pressupõe não haver sido proferida, ainda, sentença de mérito,
sendo que, contestada, requer o consentimento do réu. À manifestação de vontade da parte não podem
ser conferidos contornos equiparáveis a verdadeira rescisória sem ocorrência do segundo juízo, ou seja,
voltado a decisão que, no julgamento da lide, substitua a anterior (STF, RE no 163976 ED/MG, 2a T., Rel.
Min. Marco Aurélio, DJ 26.04.1996).
[...] 3. Não se admite o pedido de desistência da ação quando formulado pelo recorrido após ter sido
proferida sentença de mérito. Precedentes do STF e do STJ (TSE, AgR-REspe no 20483/SP, PSS 25.09.2012).
[...] as decisões sujeitas a “recurso suspensivo” já não produzem efeitos desde o momento em que proferidas. A
interposição do recurso não impede sua eficácia, mas tão somente prolonga o estado de ineficácia em que aquelas
decisões se encontram. Em outros termos, a interposição de “recurso suspensivo” apenas faz subsistir o óbice à
produção dos efeitos da decisão que existia desde o momento em que a mesma foi proferida. É nesse sentido que se
afirma, em boa doutrina, que o efeito suspensivo não é efeito da interposição do recurso, mas sim efeito da
recorribilidade. O que se quer dizer é que o mero fato de a decisão ser recorrível através de “recurso suspensivo”,
isto é, estar sujeita a recurso dotado desse efeito, já é capaz de impedir a produção de seus efeitos. Uma vez
interposto o recurso, esse estado de ineficácia permanece até o julgamento da impugnação. Decorrido o prazo
previsto em lei sem que o recurso seja interposto, a decisão poderá, aí sim, passar a produzir efeitos.
Sabe-se que este efeito, dito suspensivo, impede a eficácia da decisão quando esta é positiva, ou seja, determina
uma providência, constitui uma relação jurídica, condena alguém a pagar. No entanto, se a decisão for de
improcedência, e se a ocorrência do dano decorrente da ausência do provimento pleiteado, pode o recorrente pedir
antecipação da tutela recursal com os mesmos fundamentos: risco de dano e probabilidade de provimento do
recurso.
Não há como afastar essa possibilidade, como decorrência de inafastável aplicação do princípio da isonomia,
ainda que não prevista expressamente na lei.
A possibilidade de se levantarem questões de ordem pública que não tenham sido objeto de discussão no juízo a
quo sempre foi ligada, tradicionalmente, à dimensão da profundidade do efeito devolutivo. E este aspecto
continua sendo relevante à luz do NCPC, pois se ninguém alegou e não houve decisão, não haveria mesmo como
existir recurso. No entanto, o tribunal desta matéria pode conhecer.
Por outro lado, para alguns autores, o indigitado efeito translativo constituiria na
verdade um princípio, denominado princípio inquisitório. Nesse sentido é a lição de
Cheim Jorge (2011, p. 266): “O princípio inquisitório, como o próprio nome sugere, é
aquele através do qual se permite, especialmente na esfera recursal, que o juiz
conheça de questões que não foram pelas partes impugnadas em seu recurso.”
De todo modo, vale salientar que o pronunciamento ex officio do tribunal
pressupõe que o recurso tenha sido admitido.
Substitutivo – a decisão do tribunal ad quem substitui a do juízo recorrido. Isso
ocorre ainda que o recurso seja parcial, ou seja, abranja uma parcela da decisão; nesse
caso, a substituição ocorre apenas quanto à parte que foi objeto do recurso.
Denominado substitutivo, esse efeito é previsto no art. 1.008 do novo CPC, que
reza: “O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a decisão impugnada no que
tiver sido objeto de recurso.”
Observe-se que a substituição ocorrerá: (i) se o recurso for provido para reformar
a decisão impugnada – hipótese de error in judicando; (ii) se for negado provimento
ao recurso, mantendo-se ou confirmando-se a decisão recorrida.
Não haverá substituição, entretanto, se houver anulação, rescisão ou cassação da
decisão recorrida, com a determinação ao órgão a quo de que outra seja prolatada.
Muitas vezes, isso ocorre na hipótese em que é acolhida arguição de error in
procedendo ou de falha formal. A esse respeito, tome-se o exemplo apresentado por
Wambier et al. (2015, p. 1.438) de tribunal de 2º grau “que cassa sentença que
extingue o processo por falta de legitimidade do autor. Se o tribunal considerar o
autor parte legítima deverá, normalmente, haver outra decisão do juízo a quo, agora
sobre o mérito”.
De qualquer sorte, para todos os fins, a decisão do tribunal torna insubsistente a
decisão recorrida.
Conforme ressalta Theodoro Júnior (2012, p. 608), a mesma matéria pode ser
objeto de sucessivas impugnações recursais no mesmo processo, caso em que cada
julgamento substitui o precedente e apenas o último prevalece para operar a coisa
julgada.
Expansivo – também chamado de extensivo, esse efeito ocorre quando a decisão
no julgamento do recurso é mais abrangente do que o pedido ou o mérito recursal.
Classifica-se o efeito extensivo em objetivo e subjetivo. Será objetivo quando se
referir a atos processuais, ex.: quando do julgamento de apelação, o tribunal acolhe
preliminar para anular ato processual, o que torna sem efeito outros atos que dele
dependam (CPC/2015, art. 281). Será subjetivo quando forem atingidos sujeitos (e
não atos do processo), ex.: o recurso interposto por um dos litisconsortes a todos
aproveita, salvo se distintos ou opostos os seus interesses (CPC/2015, art. 1.005).
1 A esse respeito, Greco Filho (2012, p. 331) faz alusão a recursos ordinários e extraordinários. Para esse autor,
ordinários são aqueles “previstos no processo comum para a correção de algum prejuízo; os recursos
extraordinários, apesar de aplicarem-se também ao processo comum, estão consagrados em nível
constitucional e têm por função não apenas a correção do caso concreto, mas também a uniformidade de
interpretação da legislação federal e a eficácia e integridade das normas da própria Constituição. Têm estes
últimos, portanto, uma função política. Além disso, nos recursos extraordinários não mais se questiona
matéria de fato, mas apenas matéria de direito. São recursos extraordinários o recurso especial ao Superior
Tribunal de Justiça (art. 105, III, da CF), o recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal (art. 102, III, da
CF) e os embargos de divergência no STF e no STJ”.
2 Discorrendo sobre esse tema, Cheim Jorge (2011, p. 220) aponta os seguintes princípios regentes do sistema
recursal: voluntariedade, dialeticidade, singularidade, duplo grau de jurisdição, taxatividade, dispositivo,
inquisitório, ineficácia das decisões recorríveis, fungibilidade. Recusa o autor a qualidade de verdadeiro
princípio à proibição de reformatio in pejus, entre outros; para tanto, argumenta que a proibição de piorar a
situação do recorrente decorre do princípio dispositivo ou princípio da demanda, pelos quais ao juiz só é dado
se manifestar “quando provocado, e na medida dessa provocação”, de sorte que, se não houve provocação, não
poderia ex officio prejudicar o recorrente.
3 Isso não é possível no sistema recursal eleitoral. Como se verá adiante, o recurso extraordinário só tem
cabimento contra acórdão do Tribunal Superior Eleitoral.
4 Em sentido diverso, o § 3º do art. 267 do CPC/1973 estabelecia que tal matéria só poderia ser conhecida de
ofício “enquanto não proferida a sentença de mérito”. Eis o teor daquele dispositivo: “O juiz conhecerá de
ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não proferida a sentença de mérito, da matéria
constante dos ns. IV, V e Vl; todavia, o réu que a não alegar, na primeira oportunidade em que lhe caiba falar
nos autos, responderá pelas custas de retardamento.”
5 Eis o teor do texto legal: “Art. 938. [...] § 1º Constatada a ocorrência de vício sanável, inclusive aquele que possa
ser conhecido de ofício, o relator determinará a realização ou a renovação do ato processual, no próprio
tribunal ou em primeiro grau de jurisdição, intimadas as partes.”
6 O art. 216 do CE também veicula uma hipótese de efeito suspensivo de recurso. Porém, esse dispositivo foi
revogado pelo citado § 2º, art. 257, do CE. A revogação se deu por força do art. 2º, § 1º, da LINDB (D-L nº
4.657/1942), segundo o qual lei posterior revoga a anterior “quando regule inteiramente a matéria de que
tratava a lei anterior”.
7 Conforme salientado anteriormente, em razão da obrigatória observância do contraditório (ou proibição da
surpresa), antes de decidir, deve o órgão judicial conferir à parte oportunidade de se manifestar sobre a
matéria. É nesse sentido o art. 10 do novo CPC.
2
1. A assinatura digital equivale à manuscrita, por isso que o equívoco no sentido de que a petição do agravo
regimental restada apócrifa quando dela constava assinatura eletrônica deve ser corrigido. 1.1. Embargos de
declaração acolhidos, com consequente conhecimento do agravo regimental [...] (STF, RE 470885, AgR-ED/RS, 1a
Turma, Rel. Min. Luiz Fux, DJe 34, 16.02.2012).
1. Recurso. Embargos de declaração. Oposição a acórdão que julgou agravo regimental. Assinatura eletrônica.
Demonstração. Embargos acolhidos. Reconsideração. Demonstrada a existência de assinatura eletrônica na
petição de agravo regimental, deve ser apreciado o recurso [...] (STF, AI 724488 AgR-ED/SP, 2a Turma, Rel. Min.
Cezar Peluso, DJe 113, 19.06.2009).
Ato processual: recurso: chancela eletrônica: exigência de regulamentação do seu uso para resguardo da segurança
jurídica. 1. Assente o entendimento do Supremo Tribunal de que apenas a petição em que o advogado tenha
firmado originalmente sua assinatura tem validade reconhecida. Precedentes. 2. No caso dos autos, não se trata de
certificado digital ou versão impressa de documento digital protegido por certificado digital; trata-se de mera
chancela eletrônica sem qualquer regulamentação e cuja originalidade não é possível afirmar sem o auxílio de
perícia técnica. 3. A necessidade de regulamentação para a utilização da assinatura digitalizada não é mero
formalismo processual, mas exigência razoável que visa impedir a prática de atos cuja responsabilização não seria
possível (STF, AI 564765/RJ, 1a Turma, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 17.03.2006, p. 15).
Agravo. Interposição. Formalidade. A imagem digitalizada de assinatura não é suficiente para concluir-se estar o
recurso devidamente firmado, por não se enquadrar nos casos de assinatura eletrônica admitidos na legislação.
Decisão: o tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo regimental, nos termos do voto do relator” (TSE, AgR-
AI no 62102/MT, DJe, t. 181, 20.09.2012, p. 14).
E mais: TSE, AgR-AI nº 99612/MT, DJe 12.03.2015; AgR-AI nº 62102/ MT. DJe 29.08.2013.
[...] 2. Se a investigação judicial cumula a apuração de abuso do poder econômico, bem como captação ilícita de
sufrágio e propaganda eleitoral irregular, é de se reconhecer que incide o art. 5o da Res. TSE no 22.624/2008, que
dispõe sobre as reclamações e representações para apuração de infrações à Lei das Eleições, referente ao pleito de
2008, o qual expressamente prevê que, salvo aqueles endereçados ao Supremo Tribunal Federal, as petições ou
recursos relativos às representações serão admitidos, quando possível, via fac-símile, dispensando o
encaminhamento do texto original, não se aplicando, portanto, o disposto na Lei no 9.800/1999.
3. A dispensa de tal providência é a solução que melhor se coaduna com os princípios que norteiam a Justiça
Eleitoral, em especial os da economia e celeridade processuais, de modo a contribuir para agilidade do processo
eleitoral [...] (TSE, AgR-REspe no 1313147/BA, DJe 02.08.2010, p. 214).
Agravo regimental em agravo regimental em agravo de instrumento. 2. Recurso interposto por fac-símile. Processo
eleitoral. Não aplicabilidade da Lei 9.800/1999. Regularidade formal do recurso. 3. Agravo regimental a que se dá
provimento. Decisão: O tribunal, por maioria, proveu o agravo regimental, nos termos do voto do Ministro
Gilmar Mendes, que redigirá o acórdão. Vencido o Ministro Marco Aurélio (TSE, AgR-AgR-AI no 10809/ GO, DJe,
tomo 146, 1o.08.2012, p. 186-187).
2.3 LEGITIMIDADE
Em geral, os recursos eleitorais podem ser interpostos pela parte vencida, pelo
litisconsorte, pelo assistente e pelo Ministério Público (CPC/2015, arts. 118, 121 e
996).
A legitimidade para recorrer do Ministério Público pode ser extraída diretamente
da Constituição Federal. Isso porque o art. 127 da Lei Maior o incumbe da defesa da
ordem jurídica e do regime democrático. E o sufrágio é certamente um dos principais
ícones do regime democrático. A legitimidade recursal do Parquet abrange tanto os
processos em que é parte como aqueles em que oficiou como fiscal da lei (CPC/2015,
art. 996, caput).
No que concerne à coligação partidária, embora seja dotada de legitimidade
recursal, seu caráter unitário impede que os partidos que a integram, isoladamente,
pratiquem atos no processo jurisdicional eleitoral. Portanto, também não lhes é dado
recorrer. Isso porque os interesses em jogo já não são parciais ou particulares, mas
coletivos, pertencendo a todos os membros do grupo. De sorte que o interesse de um
dos grêmios consorciados poderá não coincidir com o dos demais.
Quanto ao assistente, conquanto se lhe reconheça o direito de recorrer, não goza
de plena autonomia em relação ao assistido. Isso porque há conexão entre as relações
jurídicas titularizadas por ambos, não podendo o assistente praticar ato processual
colidente com o realizado pelo assistido. Assim, se o assistido aceita, expressa ou
tacitamente, o decisum, renuncia ao recurso ou dele desiste, esses atos prejudicam o
recurso do assistente. Tranquila é essa interpretação no âmbito do Superior Tribunal
de Justiça, a ver:
1. A assistência simples pressupõe vínculo jurídico conexo entre o assistido e o assistente, mercê de o art. 50 do
CPC [de 1973; vide art. 119 do CPC de 2015] assentar que, verbis: “Pendendo uma causa entre duas ou mais pessoas,
o terceiro que tiver interesse jurídico em que a sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo
para assisti-la.” Por isso que o provimento jurisdicional final repercutirá tanto na órbita jurídica de um quanto na
do outro. Consectariamente, é defeso ao assistente praticar atos judiciais em contraposição ao assistido, cessando
a assistência em face da desistência ou da extinção do feito. (Precedentes: REsp 266219/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª
Turma, DJ 03.04.2006; REsp 1056127/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª Turma, DJ 16.09.2008; REsp
535937/SP, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª Turma, DJ 10.10.2006). 2. No caso em foco, o Conselho Regional de
Medicina Veterinária do Estado de Pernambuco (CRMV-PE), réu na ação civil pública, não recorreu do acórdão
prolatado pelo TRF da 5ª Região, sendo defeso ao pretenso assistente fazê-lo porquanto lhe careça interesse
recursal. 3. Recurso especial não conhecido (STJ, REsp no 1093191/PE, 1a Turma, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe
19.11.2008).
Art. 257. [...] § 2º O recurso ordinário interposto contra decisão proferida por juiz eleitoral ou por Tribunal
Regional Eleitoral que resulte em cassação de registro, afastamento do titular ou perda de mandato eletivo será
recebido pelo tribunal competente com efeito suspensivo.
Extrai-se desse dispositivo que o recurso interposto contra decisão proferida por
juiz eleitoral ou Tribunal Regional Eleitoral terá efeito suspensivo sempre que dela
resultar: i) cassação de registro; ii) afastamento do titular; iii) perda de mandato
eletivo.
As decisões de TRE abrangidas por essa regra são apenas as atinentes à sua
competência originária, proferidas em eleições federais e estaduais (governador,
senador, deputado federal, deputado distrital e deputado estadual). Isso porque os
acórdãos proferidos por TRE no âmbito de sua competência recursal são recorríveis
mediante recurso especial, que, por natureza, não tem efeito suspensivo.
Ademais, o citado § 2º usa o termo “recurso ordinário” no sentido de “recurso
não excepcional”, ou seja, recurso próprio dos primeiro e segundo graus de jurisdição.
Trata-se, portanto, do recurso eleitoral (CE, art. 265) e do recurso ordinário eleitoral
para o TSE (CF, art. 121, § 4º, III e IV, e CE, art. 276, II, a).
Por outro lado, estabelece o art. 216 do Código Eleitoral:
Art. 216. Enquanto o Tribunal Superior não decidir o recurso interposto contra a expedição do diploma, poderá o
diplomado exercer o mandato em toda a sua plenitude.
Art. 15. Transitada em julgado ou publicada a decisão proferida por órgão colegiado que declarar a inelegibilidade
do candidato, ser-lhe-á negado registro, ou cancelado, se já tiver sido feito, ou declarado nulo o diploma, se já
expedido.
Para lograr a sustação da eficácia imediata da decisão que lhe é desfavorável, deve
o interessado manejar o instrumento processual adequado. Normalmente, isso é feito
em sede de tutela provisória de urgência de natureza cautelar, requerida em caráter
antecedente, em consonância com os arts. 300 e 305 do CPC/2015. Cumpre-lhe,
então, demonstrar a existência de fumus boni juris (consubstanciado na viabilidade
do recurso ou na plausibilidade dos fundamentos que argui) e periculum in mora
(expresso pelo risco concreto de ocorrência de dano grave, como, e.g., ser o
mandatário afastado do exercício do cargo).
Sobre isso, a jurisprudência já se pronunciou em diversas oportunidades:
Agravo regimental. Ação cautelar. Decisão liminar. Atribuição de efeito suspensivo a recurso especial.
Excepcionalidade demonstrada. A atribuição de efeito suspensivo ao recurso especial – apelo que, nos termos do
art. 257 do Código Eleitoral, é desprovido de tal efeito – é medida excepcional, apenas admissível quando
demonstrados o perigo de dano irreparável ou de difícil reparação e a plausibilidade jurídica das razões recursais
[...] (TSE, AgR-AC nº 194443/SP, DJe t. 68, 10.04.2015, p. 32).
[...] 3. A ausência de demonstração da viabilidade do recurso inviabiliza a concessão de efeito suspensivo em sede
cautelar [...] (TSE, AgR-AC nº 428581/MG, DJe 14.03.2011, p. 13-14).
1. O deferimento de pedido liminar em ação cautelar para atribuir efeito suspensivo a recurso não dotado desse
efeito exige a presença conjugada do fumus boni juris, consubstanciado na plausibilidade do direito invocado, e do
periculum in mora, o qual se traduz na ineficácia da decisão se concedida somente no julgamento definitivo da ação
[...] (TSE, AgR-AC nº 91072/MG, DJe 05.08.2010, p. 81).
O fumus boni iuris que enseja a concessão de liminar em medida cautelar para dar efeito suspensivo a recurso
especial, diz com a viabilidade deste [...] (TSE, AMC nº 1688/RJ, DJ, v. 1, 16.09.2005, p. 170).
2.5 PRAZOS
Os atos processuais devem ser realizados nos prazos prescritos em lei (CPC/2015,
art. 218, caput).
Em princípio, o prazo de interposição de recursos eleitorais é de três dias. Nesse
sentido, reza o art. 258 do CE: “Sempre que a lei não fixar prazo especial, o recurso
deverá ser interposto em três dias da publicação do ato, resolução ou despacho.”
Há exceções, porém. A mais relevante encontra-se no art. 96 da Lei no
9.504/1997. Para as hipóteses previstas nessa norma, o prazo recursal será de 24
horas, conforme dispõe o § 8o desse artigo:
Quando cabível recurso contra a decisão, este deverá ser apresentado no prazo de 24 horas da publicação da
decisão em cartório ou sessão, assegurado ao recorrido o oferecimento de contrarrazões, em igual prazo, a contar
da sua notificação.
Mas o prazo recursal de 24 horas não é aplicável se, apesar de o fato ser previsto
na Lei no 9.504/1997, esta contiver regra específica estabelecendo lapso diverso.
Assim, o prazo recursal será de três dias (e não de 24 horas) nos seguintes casos:
processo de prestação de contas de campanha (LE, art. 30, §§ 5o e 6o), ação por
arrecadação ou gasto ilícito de recurso em campanha eleitoral (LE, art. 30-A, § 3o),
ação por captação ilícita de sufrágio (LE, art. 41-A, § 4o), ação por conduta vedada
(LE, art. 73, § 13).
Conquanto o texto do citado § 8o empregue termos genéricos como “decisão”
(que abarca sentença, decisão monocrática de relator e acórdão do órgão colegiado do
tribunal) e “sessão” (que é realizada tanto no TRE quanto no TSE), existe uma
tendência na jurisprudência de aplicar esse prazo de 24 horas apenas aos recursos que
tramitam da primeira para a segunda instância. Isso significa que ele não incidiria nos
recursos excepcionais que tramitam do TRE para o TSE, e deste para o STF. Aqui, o
prazo recursal é sempre de três dias. Assim: (i) o “prazo para interposição de recurso
especial eleitoral nas representações regidas pela Lei 9.504/1997 é de três dias [...]”
(TSE, AgR-REspe no 32743/RN, DJe, t. 120, 27.06.2011, p. 23). Em igual sentido vide:
art. 35 da Res. TSE no 23.367/2011, art. 34 da Res. TSE no 23.193/2009; art. 21 da
Res. TSE no 22.624/2007; (ii) STF Súmula 728: “É de três dias o prazo para a
interposição de recurso extraordinário contra decisão do Tribunal Superior Eleitoral,
contado, quando for o caso, a partir da publicação do acórdão, na própria sessão de
julgamento, nos termos do art. 12 da Lei 6.055/1974, que não foi revogado pela Lei
8.950/1994.”
Se os recursos excepcionais devem ser interpostos no prazo de três dias, é razoável
entender-se que outros recursos a eles ligados – como o agravo nos próprios autos e o
agravo regimental contra decisão monocrática do relator9 – devam observar aquele
mesmo lapso.
Há, no entanto, casos em que, a despeito da clara previsão do § 8o do aludido art.
96, a própria Lei no 9.504/1997 estabelece específica e expressamente o prazo recursal
de 24 horas. É isso que ocorre com o art. 58, § 5o, que tem por objeto o direito de
resposta. Nessas hipóteses, o recurso deve sempre ser interposto em 24 horas,
independentemente de sua natureza comum ou excepcional.
As contrarrazões devem ser apresentadas no mesmo prazo previsto para a
interposição do recurso a que elas se referem. Essa regra é emanação do devido
processo legal, sendo expressão do princípio da paridade de armas; de sorte que ao
réu devem ser proporcionadas as mesmas chances ou oportunidades disponibilizadas
ao autor.
Diferentemente do que ocorre no processo civil comum, no processo jurisdicional
eleitoral o Ministério Público, a Fazenda Pública (i.e., União, estados, Distrito
Federal, municípios e respectivas autarquias e fundações de direito público) e a
Defensoria Pública não gozam de prazo em dobro para recorrer (CPC/2015, arts. 180,
183 e 186). De igual modo, havendo litisconsórcio e tendo os litisconsortes diferentes
procuradores, de escritórios de advocacia distintos, não se conta em dobro o prazo
recursal (CPC/2015, art. 229). Isso é assim em razão da especialidade que rege o
processo jurisdicional eleitoral, bem como da necessidade de que a prestação
jurisdicional seja entregue sem demora.
Extrai-se da primeira parte do art. 16 da LC no 64/199010 que os prazos recursais
eleitorais são comuns às partes, e correm em cartório ou secretaria. Por conseguinte,
os autos não podem ser retirados; a extração de cópias deve ser providenciada no
âmbito dos órgãos assinalados.
Mas essa regra não se aplica ao Ministério Público Eleitoral, que tem por lei a
prerrogativa processual de “receber intimação pessoalmente nos autos em qualquer
processo e grau de jurisdição nos feitos em que tiver que oficiar” (LC no 75/1993, art.
18, II, h). Tal prerrogativa funcional é igualmente prevista no art. 41, IV, da Lei nº
8.625/1993, que reza: “Art. 41. Constituem prerrogativas dos membros do Ministério
Público, no exercício de sua função, além de outras previstas na Lei Orgânica: [...] IV
– receber intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição, através da
entrega dos autos com vista.”
Isso significa que, para o fim de intimação de decisões judiciais, os autos físicos
devem ser remetidos ao órgão de execução do Ministério Público ou disponibilizados
para que ele providencie sua retirada.11
Em tal caso, figurando o Parquet como parte ativa na relação processual,12 o prazo
respectivo não poderá ser comum, mas sucessivo. Isso porque, enquanto os autos
estiverem com vista ao órgão ministerial, a parte adversa não poderá acessá-los.
Urge ressaltar, contudo, que, no período compreendido entre o registro de
candidatura e a proclamação dos eleitos, impera a lei de inelegibilidades segundo a
qual os prazos “são peremptórios e contínuos e correm em secretaria ou cartório”, não
se suspendendo “aos sábados, domingos e feriados” (LC 64/1990, art. 16). Infere-se
disso que, nos processos relativos ao pleito em curso,13 excepcionalmente a intimação
do Parquet não é feita pessoalmente nos autos físicos do processo. Tem-se entendido
que a intimação deve ocorrer com a entrega de cópia da sentença judicial ou com a
publicação do acórdão na própria sessão de julgamento do tribunal eleitoral, sessão
essa que conta com a participação do representante do Ministério Público.14
Essa exceção é justificada no peculiar contexto eleitoral, máxime pela prevalência
do princípio da especialidade (lex especiali revogat generali) no conflito normativo que
se estabelece entre o aludido art. 16 da LC no 64/1990 e o art. 18, II, h, da LC no
75/1993. É inegável que a primeira regra é especial em relação à segunda, que confere
prerrogativa de intimação pessoal ao órgão do Ministério Público Eleitoral. Há, aqui,
uma situação a que a doutrina denomina antinomia de segundo grau. Sobre isso, tive
oportunidade de expor:
Conflito entre os critérios de especialidade e cronológico – é certo que leis especial e geral possuem campos
próprios de incidência. Isso, porém, não impede que uma norma anterior-especial entre em choque com outra
posterior-geral. A primeira norma prevalece se se observar a especialidade, e a segunda se se seguir o cronológico.
Nessa hipótese, a lei especial poderá prevalecer em alguns casos, como ocorre, e. g., em um conflito entre o Código
de Defesa do Consumidor (Lei no 8.078/1990) e o novo Código Civil (Lei no 10.406/2002). Mas em certos casos
poderá prevalecer a lei geral-posterior (Gomes, 2012b, p. 73).
Assim, a regra geral é a de que os prazos são contados apenas em dias úteis e não
em dias corridos (como previa o CPC de 1973).
Essa regra não se aplica, entretanto, aos processos que se desenvolvem no período
compreendido entre o registro de candidatura e a proclamação dos candidatos eleitos,
pois eles correm em dias não úteis. Isso ocorre com processos como registro de
candidatura, representação por propaganda irregular e direito de resposta.
Sendo o prazo de natureza processual, incide o disposto no art. 224 do novo CPC,
que reza:
Art. 224. Salvo disposição em contrário, os prazos serão contados excluindo o dia do começo e incluindo o dia do
vencimento.
§ 1º Os dias do começo e do vencimento do prazo serão protraídos para o primeiro dia útil seguinte, se coincidirem
com dia em que o expediente forense for encerrado antes ou iniciado depois da hora normal ou houver
indisponibilidade da comunicação eletrônica.
§ 2º Considera-se como data de publicação o primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da informação no
Diário da Justiça eletrônico.
§ 3º A contagem do prazo terá início no primeiro dia útil que seguir ao da publicação.
Art. 94 [...] § 5º Nos Tribunais Eleitorais, os advogados dos candidatos ou dos partidos e coligações serão
intimados para os feitos que não versem sobre a cassação do registro ou do diploma de que trata esta Lei por meio
da publicação de edital eletrônico publicado na página do respectivo Tribunal na Internet, iniciando-se a contagem
do prazo no dia seguinte ao da divulgação.
A interpretação contrario sensu desse dispositivo revela que, nos feitos que
versarem sobre cassação do registro ou do diploma fundados na Lei nº 9.504/1997
(ex.: art. 41-A, captação ilícita de sufrágio), as intimações dos advogados dos
candidatos ou dos partidos e coligações não poderão ocorrer “por meio da publicação
de edital eletrônico publicado na página do respectivo Tribunal na Internet”.
Portanto, naquelas hipóteses, a intimação da sentença deverá ocorrer por uma das
formas há pouco assinaladas.
De outro lado, nos feitos que não versarem “sobre a cassação do registro ou do
diploma” de que trata a Lei nº 9.504/1997 (ex.: representação por propaganda
eleitoral irregular), as intimações dos advogados poderão ocorrer “por meio da
publicação de edital eletrônico publicado na página do respectivo Tribunal na
Internet”. Nesse caso, inicia-se “a contagem do prazo no dia seguinte ao da
divulgação.”
Termo final do prazo – no tocante ao dies ad quem ou termo final do prazo, a
aferição é feita com base no instante em que a peça recursal é protocolada na Justiça
Eleitoral.
Sendo a peça recursal remetida pelo correio, a interposição deve considerar-se
feita no momento da postagem. A esse respeito, dispõe o art. 1.003, § 4º, do novo
CPC: “Para aferição da tempestividade do recurso remetido pelo correio, será
considerada como data de interposição a data de postagem.” Claro está, portanto, que
à parte não se pode atribuir responsabilidade por eventual atraso ocorrente no âmbito
do correio, já que não tem qualquer influência nas atividades dessa entidade.
No entanto, sob a égide do CPC de 1973, havia se consolidado o entendimento
segundo o qual para a aferição do cumprimento do prazo dever-se-ia considerar não
o momento da postagem ou remessa, mas o da recepção da peça no cartório ou
secretaria da Justiça Eleitoral.17
Ressalte-se que os prazos recursais são preclusivos, salvo quando for discutida
matéria constitucional (CE, art. 259). Nessa hipótese, a questão constitucional deve
ser apresentada em outra oportunidade, não se podendo promover a reabertura de
prazo já encerrado.
No período compreendido entre o registro de candidatura até a proclamação dos
candidatos eleitos, os prazos dos processos respectivos (ex.: registro de candidatura,
Airc, representação por propaganda irregular etc.) correm nos finais de semana e
feriados, não se suspendendo nem se interrompendo. Nesse sentido dispõe o art. 16
da Lei de Inelegibilidades – LC no 64/1990:
Art. 16. Os prazos a que se referem o art. 3o e seguintes desta lei complementar são peremptórios e contínuos e
correm em secretaria ou cartório e, a partir da data do encerramento do prazo para registro de candidatos, não se
suspendem aos sábados, domingos e feriados.18
[...] 1. A alegação de que Tribunal Regional da Bahia encerrou seu expediente antecipadamente no dia 04.06.2010
(sexta-feira) não foi demonstrada, uma vez que não constam nos autos documentos que a comprovem. 2. A
jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral é uníssona ao afirmar a impossibilidade de inovação das teses
recursais em sede de agravo. 3. Agravo regimental desprovido. Decisão: O tribunal, por unanimidade, desproveu o
agravo regimental, nos termos do voto do relator (TSE, AgR-AI no 185207/BA, DJe 08.02.2011, p. 60).
Não se pode olvidar que a tempestividade dos recursos é matéria de ordem
pública, por isso “pode ser analisada a qualquer tempo e grau de jurisdição,
independentemente de manifestação das partes [...]” (TSE, AgR--RO no 2360/SP, DJe
04.05.2010, p. 28-29). Insere-se, portanto, no âmbito do efeito translativo dos
recursos.
Intempestividade reflexa – qualifica-se como reflexa ou indireta a
intempestividade de um recurso quando outro recurso, anterior àquele, tiver sido
protocolado fora do lapso legal. Como o recurso anterior padece de intempestividade,
esse vício afeta o posterior, que, portanto, torna-se igualmente intempestivo. À guisa
de exemplo, citem-se os seguintes julgados:
[...] 2. Os embargos de declaração extemporâneos não interrompem o prazo para interposição do recurso especial
eleitoral. Portanto, padece de intempestividade reflexa o apelo especial interposto pelo agravante. 3. Cabe ao
Tribunal Superior Eleitoral a análise final sobre a tempestividade do apelo nobre, bem como examinar eventual
intempestividade reflexa. 4. Agravo regimental desprovido. Decisão: O tribunal, por unanimidade, desproveu o
agravo regimental, nos termos do voto do Relator” (TSE, AgR-REspe nº 170621/CE, DJe t. 122, 01.07.2013, p. 42).
2. No caso vertente, o acórdão embargado foi publicado em sessão plenária do dia 23.08.2010 e transitou em
julgado em 26.08.2010. Os embargos protocolizados em 27.08.2010, após o tríduo legal, não foram conhecidos, o
que acarreta a intempestividade reflexa do recurso especial. 3. Agravo regimental desprovido. Decisão: O tribunal,
por unanimidade, desproveu o agravo regimental, nos termos do voto do Relator” (TSE, AgR-REspe nº 428728/SP,
PSS 14.10.2010).
2.7 PREVENÇÃO
A distribuição de um recurso no tribunal ad quem torna o relator prevento para
os que forem interpostos subsequentemente, na mesma relação processual.20A
mudança de distribuição deve ser justificada pela ocorrência de causa relevante,
como, e.g., renúncia, morte, encerramento da investidura do juiz ou ministro no
Tribunal Eleitoral. Em tais casos, deve o processo ser redistribuído preferencialmente
a membro que haja participado de julgamento anterior.
Outrossim, o art. 260 do CE estabelece específica regra geral de prevenção. Por
ela, “a distribuição do primeiro recurso que chegar ao Tribunal Regional ou Tribunal
Superior prevenirá a competência do relator para todos os demais casos do mesmo
município ou Estado”. Note-se, porém, que a prevenção aí prevista diz respeito
exclusivamente aos recursos parciais interpostos por ocasião da votação e apuração
dos votos. Nesse sentido: TSE, AgMC no 13854/MG, DJ 13.05.1994, p. 11.381; REspe
no 21380/MG, DJ, v. 1, 06.08.2004, p. 164.
Recurso de diplomação. Alegação de erro de direito e de fato na contagem de votos. Invocação ao art. 276, II, a, do
Código Eleitoral, sem fundação do apelo em qualquer das hipóteses do art. 262 do mesmo Código. Havendo
recurso parcial, não tem cabimento o recurso contra a diplomação, conforme reiterada jurisprudência do TSE. A
diplomação não tramita em julgado enquanto não forem decididos, em última instância, todos os recursos
parciais (precedentes: acórdãos nos 0006649, 0007291, 0007684 e 0008715). Recurso ordinário não conhecido (TSE,
RCED no 369AM, DJ 17.06.1987, p. 12.125).
Recurso extraordinário. Repercussão geral. Reeleição. Prefeito. Interpretação do art. 14, § 5º, da Constituição. [...]
II. Mudança da jurisprudência em matéria eleitoral. Segurança jurídica. Anterioridade eleitoral. Necessidade de ajuste
dos efeitos da decisão. Mudanças radicais na interpretação da Constituição devem ser acompanhadas da devida e
cuidadosa reflexão sobre suas consequências, tendo em vista o postulado da segurança jurídica. Não só a Corte
Constitucional, mas também o tribunal que exerce o papel de órgão de cúpula da Justiça Eleitoral devem adotar
tais cautelas por ocasião das chamadas viragens jurisprudenciais na interpretação dos preceitos constitucionais
que dizem respeito aos direitos políticos e ao processo eleitoral. Não se pode deixar de considerar o peculiar
caráter normativo dos atos judiciais emanados do Tribunal Superior Eleitoral, que regem todo o processo
eleitoral. Mudanças na jurisprudência eleitoral, portanto, têm efeitos normativos diretos sobre os pleitos
eleitorais, com sérias repercussões sobre os direitos fundamentais dos cidadãos (eleitores e candidatos) e partidos
políticos. No âmbito eleitoral, a segurança jurídica assume a sua face de princípio da confiança para proteger a
estabilização das expectativas de todos aqueles que de alguma forma participam dos prélios eleitorais. A
importância fundamental do princípio da segurança jurídica para o regular transcurso dos processos eleitorais
está plasmada no princípio da anterioridade eleitoral positivado no art. 16 da Constituição. O Supremo Tribunal
Federal fixou a interpretação desse artigo 16, entendendo-o como uma garantia constitucional (1) do devido
processo legal eleitoral, (2) da igualdade de chances e (3) das minorias (RE no 633.703). Em razão do caráter
especialmente peculiar dos atos judiciais emanados do Tribunal Superior Eleitoral, os quais regem
normativamente todo o processo eleitoral, é razoável concluir que a Constituição também alberga uma norma,
ainda que implícita, que traduz o postulado da segurança jurídica como princípio da anterioridade ou anualidade
em relação à alteração da jurisprudência do TSE. Assim, as decisões do Tribunal Superior Eleitoral que, no curso
do pleito eleitoral (ou logo após o seu encerramento), impliquem mudança de jurisprudência (e dessa forma
repercutam sobre a segurança jurídica) não têm aplicabilidade imediata ao caso concreto e somente terão eficácia
sobre outros casos no pleito eleitoral posterior. III. Repercussão geral. Reconhecida a repercussão geral das
questões constitucionais atinentes à [...] (2) retroatividade ou aplicabilidade imediata no curso do período eleitoral
da decisão do Tribunal Superior Eleitoral que implica mudança de sua jurisprudência, de modo a permitir aos
tribunais a adoção dos procedimentos relacionados ao exercício de retratação ou declaração de inadmissibilidade
dos recursos repetitivos, sempre que as decisões recorridas contrariarem ou se pautarem pela orientação ora
firmada. IV. Efeitos do provimento do recurso extraordinário. Recurso extraordinário provido para: (1) resolver o
caso concreto no sentido de que a decisão do TSE no Respe no 41.980-06, apesar de ter entendido corretamente que
é inelegível para o cargo de prefeito o cidadão que exerceu por dois mandatos consecutivos cargo de mesma
natureza em município diverso, não pode incidir sobre o diploma regularmente concedido ao recorrente, vencedor
das eleições de 2008 para Prefeito do Município de Valença-RJ; (2) deixar assentados, sob o regime da repercussão
geral, os seguintes entendimentos: [...] (2.2) as decisões do Tribunal Superior Eleitoral que, no curso do pleito
eleitoral ou logo após o seu encerramento, impliquem mudança de jurisprudência, não têm aplicabilidade imediata
ao caso concreto e somente terão eficácia sobre outros casos no pleito eleitoral posterior [...] (STF, RE nº 637485/
RJ, Pleno, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe 21.05.2013).
Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão: I – as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado
de constitucionalidade; II – os enunciados de súmula vinculante; III – os acórdãos em incidente de assunção de
competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial
repetitivos; IV – os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior
Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional; V – a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais
estiverem vinculados [...].
Ademais, o art. 489, § 1º, VI, desse mesmo Código estabelece que não se
considera fundamentada qualquer decisão judicial (seja ela interlocutória, sentença
ou acórdão) que “deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou
precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em
julgamento ou a superação do entendimento [...].” A falta de fundamentação enseja a
nulidade da decisão.
Havendo alteração de jurisprudência dominante, o § 3º do aludido art. 927
permite a “modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança
jurídica.”
1. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que compete ao TRE o julgamento de mandado de segurança
contra atos de seus membros (Precedentes: AgR-MS no 4.139/PR, Rel. Min. Marcelo Ribeiro, DJE 17.03.2009; AgR-
MS no 3.370/BA, Rel. Min. Eros Grau, DJ 24.06.2008). [...]” (TSE, AgRMS no 4279/RJ, DJe 14.04.2010, p. 40).
Recurso especial. Decisão de natureza administrativa do TRE/RS. Não cabe ao Tribunal Superior Eleitoral apreciar
recurso especial contra decisão de natureza estritamente administrativa dos Tribunais Regionais. Recurso não
conhecido. Decisão: Não conhecido o especial. Decisão unânime (TSE, REspe no 11405/RS, DJ 16.08.1996, p. 28.133).
Recurso especial. Matéria decidida administrativamente pela Corte Regional. Não cabimento do apelo em análise.
Não conhecimento. 1. Tendo a Corte Regional decidido a matéria administrativamente, é incabível a utilização de
recurso especial eleitoral como forma de jurisdicionalizar o debate. 2. Não cabe ao TSE rever, em sede de recurso
especial, os atos cometidos pelos TREs no exercício de sua autonomia administrativa. 3. Recurso não conhecido.
Encaminhamento de peças ao Tribunal de Contas da União. Decisão: O tribunal, por unanimidade, não conheceu
do recurso, com o encaminhamento de peças ao Tribunal de Contas da União, na forma do voto do relator (TSE,
REspe no 25390/PI, DJ 19.03.2007, p. 176).
Durante muito tempo só se admitiu que a questão de constitucionalidade de uma lei viesse a ser examinada por um
juiz como exceção, isto é, como alegação de defesa. Exatamente isto ocorreu nos Estados Unidos, como se infere do
caso Marbury versus Madison.
Ou seja: exigida a satisfação de obrigação imposta por meio de lei suspeita de inconstitucionalidade, o devedor
dessa obrigação, ao se defender em juízo, alega a inexistência da obrigação, por não ser válida a lei que a
fundamenta. Tal exceção é apreciada como preliminar, ou incidente da ação, pelo juiz que, após resolvê-la, julga o
pedido (aplicando a lei se a entender constitucional ou aplicando a Constituição se considerar inconstitucional a
lei). Essa modalidade de controle é chamada de incidental, pois, embora o reconhecimento da constitucionalidade
ou inconstitucionalidade da lei decorra da decisão judicial, esta não tem por objeto senão a existência ou não de
uma obrigação. Tal sutileza preserva a suscetibilidade do legislador e não fere, nem na aparência, a separação de
poderes, como ocorreria se o juiz julgasse a lei.
No julgamento de questão constitucional, vinculada a decisão do Tribunal Superior Eleitoral, não estão impedidos
os ministros do Supremo Tribunal Federal que ali tenham funcionado no mesmo processo, ou no processo
originário.
RISTF/Art. 277 Os ministros declarar-se-ão impedidos ou suspeitos nos casos previstos em lei. Parágrafo único.
Não estão impedidos os ministros que, no Tribunal Superior Eleitoral, tenham funcionado no mesmo processo ou
no processo originário, os quais devem ser excluídos, se possível, da distribuição.
1 Extrai-se da Exposição de Motivos do CPC de 2015 que, entre os objetivos que orientaram os trabalhos da
comissão que o elaborou, constam a diminuição de formalidades, a melhoria da transparência dos processos
judiciais, o incremento da celeridade, a simplificação e a redução da “complexidade de subsistemas, como, por
exemplo, o recursal”, e também a conferência de “maior grau de organicidade ao sistema, dando-lhe, assim,
mais coesão”.
2 Os recursos eleitorais criminais são expostos no capítulo final desta obra.
3 No sentido do texto, veja-se o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 5o da Res. TSE no 23.367/2011, bem como os §§ 1o e
2o do art. 5o da Res. nº 23.462/2015.
4 O Promotor Eleitoral é designado pelo Procurador Regional Eleitoral após indicação do Procurador-Geral de
Justiça (que é o Chefe do Ministério Público Estadual). Por sua vez, o Procurador Regional Eleitoral é
designado pelo Procurador-Geral Eleitoral (que é o Procurador-Geral da República, Chefe do Ministério
Público da União e do Ministério Público Federal). Sobre isso, consultem-se: CF, arts. 127 e 128, Código
Eleitoral, art. 27; LC nº 75/1993, arts. 72 a 80; Lei nº 8.625/1993, arts. 10, 32, 50, 70 e 73; Resolução CNMP nº
30/2008.
5 Pelo caput do art. 9o da Res. TSE no 21.711/2004, com redação alterada pelo art 3º da Res. TSE nº 23.336/2011, o
recebimento de petições por fac-símile dar-se-á de 8 h às 19 h. Para fins de atendimento do prazo processual,
será considerado o horário do início da transmissão. O relatório expedido pelo aparelho comprova a
transmissão “exclusivamente quanto a endereçamento telefônico, número de páginas e eficácia do resultado”.
6 No julgamento do AgR-REspe no 113975/AL (PSS 11-11-2010), foi obstada pela Corte Superior a
admissibilidade do agravo regimental interposto por meio de fac-símile porque “as assinaturas dos
subscritores nas razões e nas procurações juntadas estão ilegíveis [...].
7 De modo semelhante, dispõe o art. 995, caput, do CPC: “Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da
decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso [...].”
8 Essa regra se aplica ao recurso ordinário por força do art. 1.027, § 2º, do CPC, que reza: “Art. 1.027 [...]. § 2º
Aplica-se ao recurso ordinário o disposto nos arts. 1.013, § 3º, e 1.029, § 5º.”
9 Esclareça-se que, ao menos no que concerne ao agravo regimental, a interpretação exposta no texto não é
pacífica. Há julgados do TSE afirmando a incidência do prazo previsto no § 8o do art. 96 da LE: AgRp no
1350/DF – DJ 11.04.2007, p. 199; AgRp no 884/DF, DJ 12.09.2006, p. 149.
10 Vale ressaltar que o rito previsto nos arts. 2o a 16 da LC no 64/1990 (relativo à ação de impugnação de registro
de candidatura) é considerado ordinário na seara eleitoral por ser o mais dilatado e maiores oportunidades
oferecer às partes.
11 O art. 236, § 2º, do revogado CPC de 1973 assegurava ao Ministério Público o direito de ser intimado
pessoalmente. Segundo aquele dispositivo: “A intimação do Ministério Público, em qualquer caso, será feita
pessoalmente.” No entanto, essa prerrogativa não foi repetida no vigente CPC de 2015. Ao contrário, neste
Código o o art. 270 dispõe que “As intimações realizam-se, sempre que possível, por meio eletrônico, na forma
da lei.” Entretanto, o Ministério Público segue com direito a intimação pessoal por força dos citados art. 18, II,
h, da LC nº 75/1993 e art. 41, IV, da Lei nº 8.625/1993. Por serem especiais, esses dispositivos não poderiam ser
revogados pelo CPC/2015, dada a natureza de norma geral desse Código. Por outro lado, a regra do art. 18, II,
h, é veiculada em Lei Complementar, que não poderia ser alterada por lei ordinária, como é o CPC/2015.
12 Não é possível que o Ministério Público Eleitoral seja réu em processo jurisdicional eleitoral, embora possa
figurar como recorrido no recurso interposto pelo sujeito passivo sucumbente na demanda por ele ajuizada.
13 A situação exposta no texto não se limita apenas aos processos de registro de candidatura, mas a todos os
processos relativos ao pleito em curso, tal como o de propaganda eleitoral. Isso porque o rito previsto nos
arts. 2o a 16 da LC 64/1990 é considerado ordinário, aplicando-se subsidiariamente aos demais procedimentos
eleitorais.
14 No sentido do texto, vide: TSE, Res. no 23.367/2011, art. 14, § 3o; Res. no 23.373/2011, art. 59, § 4o, art. 63, § 4o.
15 As hipóteses indicadas nos números iv e v ocorrem durante o período do processo eleitoral compreendido
entre as datas previstas para o pedido de registro de candidatura e a proclamação dos eleitos, em processos de
registro de candidatura, direito de resposta e as ações previstas na Lei no 9.504/1997, exceto aquelas que devem
observar o rito do art. 22 da LC no 64/1990.
16 Em regra, as hipóteses arroladas nas letras a, b e c ocorrem durante o período do processo eleitoral
compreendido entre a data do registro de candidatura e a proclamação dos eleitos, em processos de registro de
candidatura, direito de resposta e as ações previstas na Lei no 9.504/1997, exceto aquelas que devem observar o
rito do art. 22 da LC no 64/1990.
17 No sentido do texto, confira-se: STJ Súmula 216: “A tempestividade de recurso interposto no Superior Tribunal
de Justiça é aferida pelo registro no protocolo da secretaria e não pela data da entrega na agência do correio”;
“[...] 3. Segundo a jurisprudência do TSE, a tempestividade da interposição do recurso é aferida pela data do
protocolo em cartório, e não do envio da petição pelo correio. Precedentes. 4. Considerando que, no caso dos
autos, o acórdão recorrido foi publicado em 03.02.2011, afigura-se intempestivo o recurso especial interposto
somente em 08.02.2011 [...]” (TSE, AgR-REspe nº 100004916/RS, DJe, t. 175, 12.09.2012, p. 56/57). Vide ainda:
TSE, AgR-AI nº 11954/SC, DJe 14.10.2010, p. 21; TSE, EREspe nº 22818/MG, PSS 23.09.2004.
18 Assim se tem pronunciado a jurisprudência: “[...] IV – Os prazos relativos a registro de candidatura são
peremptórios e contínuos e não se suspendem, no período eleitoral, aos sábados, domingos e feriados, nos
termos dos artigos 66 da Resolução TSE no 23.221/2010 e 16 da Lei Complementar no 64/90. V – Agravo
regimental desprovido. Decisão: O tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo regimental, nos termos do
voto do Relator” (TSE, AgR-REspe no 396338/SP, PSS 23.11.2010).
19 No sentido do texto, estabelece o § 6º do art. 1.003 do novo CPC, in verbis: “O recorrente comprovará a
ocorrência de feriado local no ato de interposição do recurso.”
20 A prevenção também se verifica quanto à distribuição de determinados pleitos. Por exemplo: no período
compreendido entre a publicação da decisão de admissão do recurso e sua efetiva distribuição, pode o
interessado pleitear a concessão de efeito suspensivo aos recursos ordinário, especial e extraordinário; nesse
caso, fica “o relator designado para seu exame prevento para julgá-lo” (CPC/2015, arts. 1.027, § 2º, e 1.029, § 5º,
I).
21 Há regimentos internos que não atribuem expressamente ao órgão colegiado do tribunal a aludida
competência recursal. À guisa exemplo, vide os arts. 13, II, e 14, do RI do TRE-MG (Res. TRE-MG nº 873/2011).
Por outro lado, o art. 13, I, d, dessa norma prevê a competência originária do tribunal mineiro para processar e
julgar “os pedidos de mandado de segurança contra atos, decisões e despachos do Presidente
[...]”. Significaria isso que atos administrativos do presidente como os previstos nesse regimento no art. 15,
inciso XXVI (“autorizar a realização de licitações para compras, obras e serviços; aprová-las, revogá-las ou
anulá-las, podendo dispensá-las nos casos previstos em lei;”) e inciso XXXIX (“aplicar a pena disciplinar de
demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade a servidores integrantes do quadro permanente do
Tribunal [...]”) só poderiam ser submetidos ao órgão colegiado do tribunal via writ of mandamus? Então,
seriam eles irrecorríveis na esfera administrativa? É verdade que a existência de recurso com vistas a impugnar
uma decisão específica não constitui direito fundamental escrito na Constituição Federal. Todavia, não se pode
desprezar a regra inscrita no art. 264 do Código Eleitoral, negando à parte recurso expressamente previsto em
lei, pois isso afronta o devido processo legal.
22 Conquanto se possa estranhar a competência do tribunal que se afirma coator para conhecer e julgar mandado
de segurança impetrado contra o seu próprio ato, não se pode olvidar a frequência com que se altera a
composição do órgão colegiado; demais, amiúde há mudança de orientação na jurisprudência, emane ela do
tribunal que afirma coator ou de tribunais superiores. Outrossim, ainda que a decisão administrativa seja
reiterada, abre-se a via do recurso ordinário para o TSE (CF, art. 121, § 4º, V) ou para o STF (CF, art. 121, § 3º,
in fine), conforme o caso.
23 Contra a decisão do tribunal – já agora na esfera jurisdicional – é dado à parte manejar os recursos dispostos
na legislação processual e assim levar a questão à apreciação dos tribunais superiores.
24 Vale registrar que a norma legal se aperfeiçoa com a sanção presidencial, mas deve ainda ser promulgada e
publicada. A esse respeito, tive oportunidade de assinalar: “O processo legislativo é delineado nos arts. 61 a 67
da Constituição Federal. Em regra, inicia-se com a apresentação de projeto de lei a uma das Casas do
Congresso Nacional – Câmara de Deputados ou Senado. Após as discussões pertinentes e aprovação em uma
delas, é encaminhado à outra para revisão, podendo ser aprovado, emendado ou rejeitado. Se rejeitado, o
projeto será arquivado. Se emendado, devolvido à Casa de origem para que sejam analisadas as alterações. Se
aprovado, segue para apreciação do Chefe do Poder Executivo. Este, após analisar o até então projeto de lei,
pode apor sua sanção, transformando-o em norma legal, e em seguida promulgá-lo e publicá-lo. A
promulgação é ato de natureza administrativa, pelo qual a lei é autenticada, atestando também sua existência e
integração no ordenamento jurídico. Após a promulgação, a lei deve ser enviada para publicação no órgão
oficial, isto é, no Diário Oficial da União. A publicação tem o fito de tornar pública a existência da norma. Sem
ela, não há como exigir seu cumprimento, porquanto não se pode cumprir o que se desconhece, o que se ignora,
enfim, o que não se tornou público” (Gomes, 2012b, p. 42).
25 A afirmação dos eminentes constitucionalistas foi feita em relação ao art. 482 do CPC/1973, cujos §§ 1º, 2º e 3º
foram incluídos pela Lei nº 9.868/1999. Ocorre que o teor do art. 950 do CPC/2015 é quase igual ao daquele art.
482.
26 O art. 75 do RITRE/SP dispõe: “A arguição de inconstitucionalidade incidental de lei ou ato normativo do
Poder Público, concernente a matéria eleitoral, poderá ser formulada por qualquer das partes, pelo Procurador
Regional Eleitoral, pelo relator e pelos demais membros do tribunal. Parágrafo único. A arguição será
processada nos próprios autos e suspenderá o andamento do feito até seu julgamento.”
27 O art. 119 do RITRE/PE dispõe: “Quando, no julgamento de qualquer processo, for suscitada preliminar de
inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo, concernentes à matéria eleitoral, o Tribunal, por proposta de
qualquer de seus membros ou a requerimento do procurador regional eleitoral ou das partes, depois de
concluído o relatório, suspenderá o julgamento para decidir a matéria na sessão seguinte, ouvido o
representante do Ministério Público Eleitoral.”
28 Cf. Gomes (2012, p. 110).
29 Eis o teor do art. 28, caput, do CE: “Os tribunais regionais deliberam por maioria de votos, em sessão pública,
com a presença da maioria de seus membros.”
30 Eis o teor do aludido dispositivo: “Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no
processo: [...] II – de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão.”
3
RECURSO ELEITORAL
3.2 INTERPOSIÇÃO
O recurso eleitoral é interposto por escrito, em “petição devidamente
fundamentada, dirigida ao juiz eleitoral” (CE, art. 266, caput). Ademais, à luz do art.
1.010 do CPC/2015, aplicável subsidiariamente, a petição deve conter: “I – os nomes
e a qualificação das partes; II – a exposição do fato e do direito; III – as razões do
pedido de reforma ou de decretação de nulidade; IV – o pedido de nova decisão.”
Como a norma apenas alude a “petição devidamente fundamentada”, em
princípio o recurso deve ser apresentado em peça única, na qual já venham
estampadas as razões. Não há óbice, porém, a que sejam apresentadas duas peças,
uma delas dedicada à exposição das razões de fato e de direito, i. e., à
fundamentação; ainda porque essa prática é já consagrada na experiência forense
brasileira, não acarretando qualquer prejuízo às partes. Assim, enquanto a petição
recursal deve ser endereçada ao juízo eleitoral de 1o grau, as razões com ela
apresentadas dirigem-se ao tribunal regional.
A necessidade de fundamentação decorre do princípio da dialeticidade,
ensejando não só o adequado exercício da defesa como também o exato
conhecimento da questão pelo órgão ad quem.
Quanto à identificação das partes (CPC/2015, art. 1.010, I), basta que se
indiquem seus nomes, porque a qualificação delas já consta na petição inicial. A rigor,
a qualificação só seria necessária no recurso interposto por terceiro interessado, nos
termos do art. 996, parágrafo único, do novo CPC.
No tocante ao pedido de “nova decisão” (CPC/2015, art. 1.010, IV), este encerra
a pretensão ou o mérito recursal. Trata-se do provimento jurisdicional que a parte
pleiteia ao juízo ad quem. Conforme salientado, esse provimento pode ser de reforma
ou invalidação da decisão impugnada. No caso de reforma, a decisão impugnada será
substituída pelo acórdão, enquanto no caso de invalidação a decisão impugnada será
cassada para que outra seja prolatada.
Reitere-se que, por não haver preclusão de decisão interlocutória (salvo as
hipóteses arroladas no art. 1.015 do CPC/2015, que são impugnáveis por agravo de
instrumento), deve o recorrente, sendo o caso, impugná-la nas razões do recurso
eleitoral. Se não o fizer, aí sim haverá preclusão, ficando impedido de impugná-la
ulteriormente.
A petição recursal pode ser “acompanhada, se o entender o recorrente, de novos
documentos” (CE, art. 266, in fine).
A teor da Súmula 3 do TSE, contudo, em processo de registro de candidatura só é
permitida a juntada de documentos com o recurso eleitoral se o candidato não tiver
sido intimado para essa providência na fase de diligências a que se refere o art. 11, §
3o, da Lei no 9.504/1997. Nesse sentido: TSE, AgR-REspe no 249709/SP, PSS
14.10.2010. A não abertura do prazo de 72 horas para suprimento da omissão,
conforme preconizado naquele dispositivo legal, possibilita a juntada de documentos
até mesmo em sede de embargos de declaração (TSE, AgR-REspe no 31.213/RJ, PSS
04.12.2008).
Nos termos do art. 267, caput, do CE, recebida a petição de interposição
juntamente com as respectivas razões, deverá o juiz eleitoral mandar “intimar o
recorrido para ciência do recurso, abrindo-se-lhe vista dos autos a fim de, em prazo
igual ao estabelecido para a sua interposição, oferecer razões, acompanhadas ou não
de novos documentos”. Se às contrarrazões forem juntados novos documentos, ao
recorrente será renovada vista dos autos por 48 horas para se manifestar sobre eles
(art. 267, § 5o). Sob pena de preclusão, nas contrarrazões deverá o recorrido
impugnar eventual decisão interlocutória que lhe tenha sido desfavorável.
Na sequência, determina o § 6o do art. 267 do CE: “o juiz eleitoral fará, dentro de
48 horas, subir os autos ao Tribunal Regional”.
Findos os prazos a que se referem os parágrafos anteriores, o juiz eleitoral fará, dentro de 48 horas, subir os autos
ao Tribunal Regional com a sua resposta e os documentos em que se fundar, sujeito à multa de 10% do salário-
mínimo regional por dia de retardamento, salvo se entender de reformar a sua decisão.
No processo de registro de candidatura, quando a sentença for entregue em cartório antes de três dias contados da
conclusão ao juiz, o prazo para o recurso ordinário, salvo intimação pessoal anterior, só se conta do termo final
daquele tríduo.
É vedado à parte inovar no recurso eleitoral. De sorte que, perante o tribunal, não
pode haver arguição de fato novo. Excepcionalmente, porém, admite-se que questões
de fato, não propostas no juízo inferior, sejam “suscitadas na apelação, se a parte
provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior” (CPC/2015, art. 1.014). Para
que isso ocorra, é preciso demonstrar que a ocorrência de força maior impediu a
arguição no devido momento processual.
Consoante acentua Freitas Câmara (2012, p. 94), a vedação de inovar nas
questões de fato perante o juízo ad quem “não significa, porém, impedimento a que
se produza prova em grau de apelação. É que não existe preclusão em matéria
probatória nas instâncias ordinárias, devendo-se, então, admitir a produção de prova
nesta fase do processo”. A esse respeito, vale assinalar que o CPC de 2015 confere
poderes ao relator para “dirigir e ordenar o processo no tribunal, inclusive em relação
à produção de prova [...]” (CPC/2015, art. 932, I).
Daí a parte final do art. 266 do CE permitir que a petição recursal seja
“acompanhada, se o entender o recorrente, de novos documentos”. Por “novos
documentos” devem-se compreender aqueles: (i) indisponíveis ou inexistentes na
ocasião do ajuizamento da demanda ou da apresentação da defesa, e, portanto, não
poderiam ter sido apresentados naqueles momentos processuais; (ii) os que se
tornaram conhecidos posteriormente à prática daqueles atos processuais (CPC/2015,
art. 435, parágrafo único); (iii) os pertinentes a fato novo, ou seja, fato ocorrido
depois daqueles atos processuais; (iv) os usados para contrapor documento cuja
juntada aos autos foi deferida.
Coerente com essa medida e com o princípio constitucional do contraditório, a
parte final do art. 267, caput, do CE admite que as contrarrazões recursais sejam
“acompanhadas ou não de novos documentos”. E se às contrarrazões forem anexados
novos documentos, à parte recorrente será renovada vista dos autos por 48 horas para
se manifestar sobre eles (CE, art. 267, § 5o).
V – depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso se a decisão recorrida for
contrária a: a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de
recursos repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência;
[...]
Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de cinco dias ao
recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível.
As hipóteses previstas no inciso III desse artigo (não conhecimento do recurso)
são de natureza eminentemente processual. O juízo negativo de admissibilidade
impede que o mérito recursal seja apreciado pelo órgão colegiado.
Por outro lado, as hipóteses descritas nos incisos IV e V dizem respeito ao mérito
recursal, caso em que é o próprio relator quem o decide monocraticamente.
No que concerne ao citado inciso IV, vale transcrever pertinente lição de
Wambier et al. (2015, p. 1.443):
O relator pode, ainda, negar provimento a recurso em que se pleiteie algo contrário a Súmula do STF, do STJ ou do
próprio tribunal. Deve-se, aqui, observar que se deve ter cautela para aplicar este dispositivo. O STF tem 736
Súmulas (Existem ainda as ditas Súmulas Vinculantes, que são em número de 37); o STJ tem 519 Súmulas [nota].
Há súmulas do STF que se contradizem, há súmulas do STJ e do STF que não se harmonizam, há súmulas
superadas, enfim, o ideal é que as súmulas que sirvam de base às decisões dos relatores com fulcro no art. 930, III,
sejam mais recentemente editadas, que já o foram tendo como pano de fundo esta nova visão do peso e da função
da jurisprudência, e a imprescindibilidade de se minimizar o caos, gerando-se uniformidade e estabilidade do
direito [...]. Enfim, pode o relator decidir, sozinho, dando provimento à apelação, exatamente nas mesmas
hipóteses do art. 932, IV, entendidas às avessas: quando a decisão de que se recorreu for contrária a súmula do STF
ou do STJ ou do próprio tribunal. Devem-se, é claro, fazer as mesmas ressalvas dos parágrafos anteriores.
No revogado CPC de 1973 a matéria em apreço era veiculada no art. 557.9 Por
força desse dispositivo, os regimentos internos dos tribunais eleitorais passaram a
prever expressamente a possibilidade de o relator decidir monocraticamente os
recursos que lhe fossem distribuídos. Assim, por exemplo, os regimentos internos dos
seguintes tribunais: TRE/MG (Res. no 873/2011), art. 69, XXV e XXVII; TRE/DF, art.
41, XXI e XXII; TRE/SP, art. 54; TRE/RJ, (Res. no 561/2003) art. 65, VII e VIII;
TRE/RO (Res. no 36/2009), art. 33, XXVIII; TRE/PR, arts. 30, I, e 31. Obviamente,
com a entrada em vigor do CPC de 2015, os regimentos internos dos tribunais
eleitorais terão de ser adaptados para contemplar as hipóteses previstas no citado art.
932.
Cumpre, ainda, salientar que “fato superveniente à decisão recorrida” e “questão
apreciável de ofício ainda não examinada”, que devam ser considerados no
julgamento do recurso, podem também ser apreciados pelo relator. Nesse caso, dispõe
o caput do art. 933 do novo CPC que o relator deverá determinar a intimação das
“partes para que se manifestem no prazo de cinco dias”. Nos termos do § 1º desse
mesmo dispositivo: “Se a constatação ocorrer durante a sessão de julgamento, esse
será imediatamente suspenso a fim de que as partes se manifestem especificamente.”
Por outro lado, dispõe o § 2º: “Se a constatação se der em vista dos autos, deverá o
juiz que a solicitou encaminhá-los ao relator, que tomará as providências previstas no
caput e, em seguida, solicitará a inclusão do feito em pauta para prosseguimento do
julgamento, com submissão integral da nova questão aos julgadores.”
Conforme se exporá adiante, o relator tem a faculdade de se retratar de sua
decisão. Retratando-se ou não, sua decisão poderá ser impugnada por agravo interno,
que deve ser endereçado ao órgão colegiado do Tribunal Regional. O agravo em tela
deve ser interposto no prazo de três dias ou 24 horas, conforme o caso (CPC/2015,
art. 1.021; CE, art. 258; LE, art. 58, § 5o, art. 96, § 8o).
Não sendo o caso de decisão monocrática, conhecido ou admitido o recurso,
deverá o relator elaborar o seu voto.
Em seguida, deve o relator encaminhar os autos para revisão – quando essa for
prevista. Vale observar que, no recurso eleitoral, não prevê o Código Eleitoral a figura
do juiz revisor.10 Entretanto, diante da relevância de determinadas matérias, diversos
tribunais regionais estabelecem hipóteses de revisão em seus regimentos internos. O
fundamento dessa medida encontra-se na autonomia constitucional de que gozam
(CF, art. 96, I, a), bem como no disposto no art. 30, I, do Código Eleitoral (que lhes
confere expressamente competência privativa para “elaborar o seu regimento
interno”). Foi isso o que fizeram, por exemplo, os TREs do Espírito Santo (RITRE/ES,
Res. 205/2003, art. 35, § 1o),11 de São Paulo (RITRE/SP, art. 5512) e do Pará
(RITRE/PA, art. 82).13 Há tribunais, como o de Minas Gerais, que só preveem revisão
em matéria criminal.14 Por outro lado, existem tribunais, como o do Amazonas, que
não contemplam qualquer hipótese de revisão em seus regimentos internos.
Na sequência, devem os autos ser encaminhados à secretaria para inclusão na
pauta de julgamento do órgão colegiado do tribunal (CE, art. 271, caput).
Pelo art. 12 do CPC/2015, os tribunais devem obedecer, preferencialmente, à
ordem cronológica de conclusão dos autos para julgamento.15 Ademais, a “lista de
processos aptos a julgamento deverá estar permanentemente à disposição para
consulta pública em cartório e na rede mundial de computadores” (art. 12, § 1º).
A propósito, do § 2o do art. 271 do CE pode-se extrair uma regra geral segundo a
qual as pautas devem ser “organizadas com um número de processos que possam ser
realmente julgados, obedecendo-se rigorosamente a ordem da devolução dos mesmos
à secretaria pelo relator, ou revisor [...], ressalvadas as preferências determinadas pelo
regimento do tribunal”.
Na sessão de julgamento, o relator fará o relatório. Em seguida, “cada uma das
partes poderá, no prazo improrrogável de dez minutos, sustentar oralmente as suas
conclusões” (CE, art. 272, caput).16
Atuando no feito como custos legis, o Procurador Regional Eleitoral terá o mesmo
tempo de sustentação oral deferido às partes, devendo manifestar-se depois delas.
Observe-se que, mesmo nos recursos interpostos por órgão do Ministério Público
Eleitoral de 1o grau, funcionará o PRE como fiscal da ordem jurídica – o que não o
impede de recorrer do acórdão, nos termos dos arts. 179, II, e 996, caput, ambos do
novo CPC.
Diferentemente, tendo a ação sido ajuizada pela própria PRE – o que ocorre nas
hipóteses de competência originária do Tribunal Regional –, sua posição no processo é
a de parte-autora. Terá, portanto, os mesmos direitos, prerrogativas e deveres
conferidos a qualquer parte. Em tal caso, na sessão de julgamento no tribunal, fará o
PRE sustentação oral em primeiro lugar.
O Tribunal Regional delibera por maioria de votos, em sessão pública (CE, art. 28,
caput). Todavia, em certas hipóteses, a deliberação deve ser feita pelo voto da maioria
absoluta de seus membros, tal como ocorre na declaração de inconstitucionalidade de
lei ou de ato do Poder Público – nos termos do art. 97 da Constituição Federal.
Quanto ao quorum presencial, o § 4º do art. 28 do CE (acrescido pela Lei nº
13.165/2015) estabelece que somente poderão ser tomadas com a presença de todos
os seus membros, as “decisões dos tribunais regionais sobre quaisquer ações que
importem cassação de registro, anulação geral de eleições ou perda de diplomas”.
Fora dessas hipóteses, incide a parte final do art. 28, caput, do CE, que exige apenas
que as deliberações contem “com a presença da maioria” dos membros do tribunal.17
Havendo ausência, impedimento ou suspeição e não existindo quorum para
votação, o juiz será substituído por outro da mesma categoria, designado na forma
legal (CE, art. 28, § 5º). Inexiste a figura de membro ad hoc de Tribunal Eleitoral.
Assim, não sendo possível convocar substituto ou inexistindo este (ex.: por falta de
designação da autoridade competente), poderá o julgamento, excepcionalmente, ser
levado a efeito com o quorum incompleto. Esse entendimento já foi sufragado na
jurisprudência: TSE, REspe no 16684/ SP, PSS 26.09.2000; TSE, Acórdão no
612/2004.
Enquanto não for proclamado o resultado do julgamento pelo presidente do
colegiado, poderá o voto ser alterado, exceto o “já proferido por juiz afastado ou
substituído” (CPC/2015, art. 941, § 1º).
Concluído o julgamento, o presidente anunciará o resultado; “o relator, se
vitorioso, ou o relator designado para redigir o acórdão, apresentará a redação deste,
o mais tardar, dentro em cinco dias” (CE, art. 273, caput). Note-se que não há dois
relatores no recurso, mas apenas um. Se este ficar vencido, o membro do colegiado
autor do primeiro voto vencedor será designado para redigir o acórdão – trata-se,
portanto, do redator do aresto.
Sob pena de nulidade, há mister que o acórdão aprecie todos os fundamentos
arguidos pelas partes. Nesse sentido, dispõe o art. 489, § 1º, IV, do CPC/2015 que
não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, inclusive acórdão, que
“não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador”.18
Finalmente, não sendo o caso de publicação na própria sessão de julgamento,
segue o acórdão para publicação no veículo oficial, no caso o Diário da Justiça
Eletrônico.
1 Eis o teor desse dispositivo: “Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre: I – tutelas provisórias; II – mérito do processo; III – rejeição da alegação de convenção de
arbitragem; IV – incidente de desconsideração da personalidade jurídica; V – rejeição do pedido de gratuidade
da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação; VI – exibição ou posse de documento ou coisa; VII –
exclusão de litisconsorte; VIII – rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio; IX – admissão ou
inadmissão de intervenção de terceiros; X – concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos
embargos à execução; XI – redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º; XII – (Vetado); XIII –
outros casos expressamente referidos em lei. Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra
decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no
processo de execução e no processo de inventário.”
2 Diante disso, há autores que entendem que a supressão do “agravo retido” no processo civil não trouxe
mudança significativa em termos de resposta jurisdicional. Sobre isso, assinalam Wambier et al (2015, p. 1.439)
que para a parte nada mudou substancialmente, pois “[...] a ‘resposta’ do Judiciário ao seu agravo retido já
vem, à luz do CPC/1973, depois, se há reiteração, quando e se fosse julgada a apelação. Isso não mudou: a
‘resposta’ do Judiciário (decisão sobre a impugnação, que consta do bojo da apelação) só vem se e quando a
apelação for julgada. Menos esforço da parte e do Judiciário, para obtenção de resultado equivalente.”
3 Dispõe o § 7o do art. 267: “Se o juiz reformar a decisão recorrida, poderá o recorrido, dentro de três dias,
requerer suba o recurso como se por ele interposto.”
4 Eis o teor do aludido dispositivo: “Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro
grau, conterá: I – os nomes e a qualificação das partes; II – a exposição do fato e do direito; III – as razões do
pedido de reforma ou de decretação de nulidade; IV – o pedido de nova decisão. § 1º O apelado será intimado
para apresentar contrarrazões no prazo de quinze dias. § 2º Se o apelado interpuser apelação adesiva, o juiz
intimará o apelante para apresentar contrarrazões. § 3º Após as formalidades previstas nos §§ 1o e 2o, os autos
serão remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de admissibilidade.”
5 Dispõe o art. 5º, LXIX, da CF: “Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não
amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.”
6 Reza o art. 5º, II, da Lei nº 12.016/2009: “Art. 5º Não se concederá mandado de segurança quando se tratar: [...] II
– de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo [...].”
7 Nos termos da Súmula 267 do STF: “Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou
correição.”
8 Nas hipóteses do art. 485 do CPC, há extinção do processo sem solução do mérito da causa. Reza aquele
dispositivo: “Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: I – indeferir a petição inicial; II – o processo ficar
parado durante mais de um ano por negligência das partes; III – por não promover os atos e as diligências que
lhe incumbir, o autor abandonar a causa por mais de trinta dias; IV – verificar a ausência de pressupostos de
constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; V – reconhecer a existência de perempção, de
litispendência ou de coisa julgada; VI – verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual; VII –
acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua
competência; VIII – homologar a desistência da ação; IX – em caso de morte da parte, a ação for considerada
intransmissível por disposição legal; e X – nos demais casos prescritos neste Código.”
9 Dispunha esse artigo: “Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível,
improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo
tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. § 1º-A. Se a decisão recorrida estiver em
manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de
Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento ao recurso [...].”
10 De modo expresso, a revisão só é prevista na hipótese de recurso contra expedição de diploma (RCED), nos
termos do art. 271, § 1o, do CE. Mas, na verdade, o RCED não tem natureza de recurso, mas de ação originária
(vide Gomes, 2012, p. 597 e ss.). Diante disso, pode-se concluir que, em matéria estritamente recursal, o Código
Eleitoral não contempla o instituto da revisão.
11 RITRE/ES, art. 35, §1o: “O julgamento dos feitos independerá de revisão, salvo em se tratando de processos
criminais de competência originária do tribunal, recursos criminais e contra a expedição de diploma e
processos de perda de mandato, em que, após o estudo referido no caput, o relator fará os autos conclusos ao
revisor.”
12 RITRE/SP, art. 55: “Sujeitam-se à revisão os seguintes feitos: I – recursos contra a expedição de diploma; II –
ação de impugnação de mandato eletivo e seus recursos; III – relativos a infrações apenadas com reclusão; IV –
revisão criminal.”
13 RITRE/PA, art. 82: “Haverá revisão nos seguintes feitos: I – recursos contra expedição de diploma; II – ação
penal originária e revisão criminal; III – recursos em sentenças proferidas em feitos criminais, relativos a
infrações apenadas com reclusão; Parágrafo único. Não haverá revisão nos embargos interpostos nesses feitos.
Parágrafo único. Não haverá revisão nos embargos e incidentes interpostos nesses feitos, bem como na
deliberação do tribunal sobre recebimento de denúncia no julgamento das ações penais originárias.”
14
É o que se extrai do art. 73 do RITRE/MG (Res. no 873/2011): “Haverá revisor exclusivamente nos seguintes
processos: I – ações penais originárias, relativas a infrações punidas com reclusão; II – recursos criminais,
relativos a infrações punidas com reclusão; III – revisão criminal.”
15 São excluídos dessa exigência: “[...] IV – as decisões proferidas com base nos arts. 485 e 932; V – o julgamento
de embargos de declaração; VI – o julgamento de agravo interno; VII – as preferências legais e as metas
estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça; VIII – os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que
tenham competência penal; IX – a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão
fundamentada” (CPC, art. 12, § 2º).
16 Assentou-se o entendimento de que é incabível sustentação oral em julgamento de agravo interno e regimental.
A esse respeito, vejam-se os seguintes julgados do TSE: EAAg no 2170/BA, DJ, v. 1, 23.09.2005, p. 126; AgR-
REspe no 30649/TO, PSS 2-12-2008; AgR-REspe no 35642/PR, DJe 24.08.2011, p. 20; AgR-REspe no 36432/ RJ, DJe
18.05.2010, p. 30. Se no Tribunal Superior Eleitoral essa vedação decorre de aplicação analógica do art. 131, § 2o,
do Regimento Interno do STF, nos Tribunais Regionais ela é expressa nos respectivos regimentos internos, tal
como se vê no art. 58, § 3o, do RITRE/RS, no art. 100, § 13, do RITRE/MG, no art. 65, § 10, do RITRE/ SP, no art.
36, § 2o, do RITRE/ES (Res. no 205/2003). No projeto do CPC de 2015 aprovado no Congresso Nacional, a
possibilidade de sustentação oral em agravo foi contemplada no inciso VII do art. 937, porém esse inciso foi
vetado pela Presidenta da República.
17 Eis o teor dos dispositivos citados: “Art. 28 Os tribunais regionais deliberam por maioria de votos, em sessão
pública, com a presença da maioria de seus membros [...]. § 4º As decisões dos tribunais regionais sobre
quaisquer ações que importem cassação de registro, anulação geral de eleições ou perda de diplomas somente
poderão ser tomadas com a presença de todos os seus membros.”
18 Em sentido diverso, havia se pacificado o entendimento de que: “[..] Na realidade, o órgão julgador não é
obrigado a se manifestar sobre todos os pontos alegados pelas partes, mas somente sobre aqueles que entender
necessários para o julgamento do feito, de acordo com seu livre convencimento fundamentado (CPC/1973, art.
131), utilizando-se dos fatos, provas, jurisprudência, aspectos pertinentes ao tema e da legislação que entender
aplicável ao caso (nesse sentido: STJ, AgRg no Ag nº 638.361/PB, Rel. Min. José Delgado, 1a Turma, v.u., j.
03.03.2005, DJ 19.12.2005; STJ, AgRg no REsp nº 705.187/SC, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª Turma, v.u., j. 15.09.2005, DJ
26.09.2005) [...].” (STJ- REsp nº 1056849/RS, Rel. Min. Massami Uyeda, dec. mon., publ. 18.08.2008). No mesmo
sentido: “‘o órgão judicial, para expressar sua convicção, não está obrigado a aduzir comentários a respeito de
todos os argumentos levantados pelas partes, quando decidir a causa com fundamentos capazes de sustentar
sua conclusão. Precedentes’ (AgRg no AREsp 101.686/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, 5ª Turma, DJe 02.12.2013)”
(STJ, AgRg no AREsp nº 610.953/SP, 6ª T., DJe 29.04.2015).
4
O art. 96, § 4º, da Lei nº 9.504/1997 prevê um recurso nos seguintes termos:
Art. 96. Salvo disposições específicas em contrário desta Lei, as reclamações ou representações relativas ao seu
descumprimento podem ser feitas por qualquer partido político, coligação ou candidato, e devem dirigir-se:
I – aos juízes eleitorais, nas eleições municipais;
II – aos Tribunais Regionais Eleitorais, nas eleições federais, estaduais e distritais;
III – ao Tribunal Superior Eleitoral, na eleição presidencial.
§ 1o As reclamações e representações devem relatar fatos, indicando provas, indícios e circunstâncias.
§ 2o Nas eleições municipais, quando a circunscrição abranger mais de uma zona eleitoral, o Tribunal Regional
designará um juiz para apreciar as reclamações ou representações.
§ 3o Os tribunais eleitorais designarão três juízes auxiliares para a apreciação das reclamações ou representações
que lhes forem dirigidas.
§ 4o Os recursos contra as decisões dos juízes auxiliares serão julgados pelo Plenário do Tribunal [...].
Está claro no § 3º dessa norma que os tribunais eleitorais devem designar três
juízes auxiliares para o conhecimento e julgamento das reclamações ou
representações que lhes forem dirigidas, cujo objeto seja o descumprimento da
própria Lei nº 9.504/1997.1
São recorríveis as decisões dos juízes auxiliares que extinguirem o processo (i.e.,
sua fase cognitiva), com ou sem julgamento do mérito da causa. Nos termos do
assinalado § 4º, o recurso deve ser dirigido ao órgão pleno do tribunal.
Estabelece o caput do art. 121 da Constituição Federal que “a organização e
competência dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais” serão
reguladas por Lei Complementar. Considerando que a Lei no 9.504/1997 é ordinária,
poderia ela dispor sobre competência e criar a figura dos “juízes auxiliares”? Não
haveria nisso inconstitucionalidade?
A esse respeito, cumpre ponderar que a norma complementar exigida pelo artigo
121 da Lei Maior ainda não foi positivada. Não é razoável que os complexos
mecanismos de atuação da jurisdição eleitoral – necessários para a efetivação de
direitos humanos (políticos) fundamentais – permaneçam inertes, à espera de norma
que não chega. Outrossim, entre os anseios da sociedade contemporânea estão
justamente a celeridade e a efetividade da prestação jurisdicional, sendo intolerável a
demora do processo, o que é especialmente verdadeiro na seara eleitoral.
Para afirmar-se a constitucionalidade do citado artigo 96, é inteiramente cabível a
invocação do “sentido” da regra inscrita no artigo 24, §§ 3o e 4o, da mesma
Constituição Federal, pelo que, mutatis mutandis, inexistindo lei (geral)
complementar, é dado à ordinária regular amplamente a matéria, até que aquela
norma seja promulgada, paralisando-se, a partir de então, a eficácia desta no que lhe
contrariar. Destarte, diante da inexistência de lei complementar, fica o legislador
ordinário livre para exercer plenamente sua competência legiferante, de maneira a
atender as necessidades e as peculiaridades reclamadas pela vida social, mormente no
que tange à efetividade da prestação jurisdicional.
Impõe-se, pois, a interpretação da norma em apreço à luz da integridade do
sistema e da totalidade da Constituição e, pois, dos princípios lá inscritos. Mesmo
porque o artigo 96 da Lei no 9.504/1997 apenas cumpre a relevante função de
ordenar o sistema sob o aspecto processual, nenhum prejuízo concreto carreando às
partes ou aos atores do processo eleitoral, pois a competência permanece afeta ao
tribunal eleitoral. Nesse rumo, bem assinalou Ramayana (2006, p. 368) ao lembrar
que, quando os §§ 3o e 4o do artigo 96 da LE trataram do julgamento das
reclamações pelos juízes auxiliares, com a previsão de recurso para o pleno dos
tribunais eleitorais, que decidem por maioria de votos de seus membros, “apenas
ampliaram as garantias da ampla defesa e do contraditório, e tornaram célere a
prestação jurisdicional, sem afetar a competência específica destes tribunais”. Diante
disso, na perspectiva material, não se divisa inconstitucionalidade alguma.
Entende-se que os juízes auxiliares devem ser escolhidos entre os integrantes
substitutos do próprio tribunal.
Nesse contexto, enquanto nas eleições federais e estaduais são designados três
juízes auxiliares dos tribunais regionais eleitorais, na presidencial são designados três
ministros-auxiliares do Tribunal Superior Eleitoral.
Os juízes e ministros auxiliares exercem a jurisdição estatal. Embora limitada em
razão da matéria, a competência que detêm é de natureza absoluta, estendendo-se a
todas as demandas fulcradas na Lei no 9.504/1997.2
Observe-se, porém, que somente julgam monocraticamente as ações em que não
há pedido de cassação de registro ou de diploma, como ocorre no caso de
representação por propaganda eleitoral ilícita ou irregular.
Se houver pedido de cassação de registro ou de diploma (como acontece nas ações
atinentes a captação ou gasto ilícito de recursos de campanha, captação ilícita de
sufrágio e conduta vedada), a competência para julgar a lide será do órgão pleno do
tribunal. Aqui, porém, os juízes auxiliares conduzem e presidem toda a instrução
processual e, no final, apresentam relatório ao colegiado, tomam assento na sessão e
votam como relatores da matéria.
Na verdade, detêm os juízes auxiliares a mesma jurisdição e competência afetas
aos tribunais a que se encontram vinculados. Tanto que, se não forem designados, a
demanda deve ser distribuída a um dos membros do colegiado, e não à primeira
instância da Justiça Eleitoral. Logo, conquanto monocráticas, as decisões desses juízes
são decisões do tribunal.
Na sequência, serão destacadas algumas peculiaridades do recurso do art. 96, §
4º, da LE.
Natureza – tal qual o recurso eleitoral, o recurso do art. 96, § 4º, da LE tem
natureza de ordinário, assemelhando-se, portanto, à apelação no processo civil
comum. Isso porque visa a tutelar situações jurídicas materiais e não propriamente o
ordenamento legal. Assim, ele enseja ao órgão colegiado do tribunal a ampla revisão
da decisão do juiz auxiliar, no que concerne tanto aos aspectos fáticos quanto aos
jurídicos.
Denominação – não foi consagrado um nomen juris próprio para o recurso em
exame. Por isso, enquanto alguns o denominam de recurso inominado, outros o
chamam de agravo ou agravo interno.
Não parece apropriado designar um recurso de “inominado” (sem nome), pois,
para além de ser demasiado vaga, essa denominação nada esclarece sobre o recurso.
Por outro lado, nomear o recurso em apreço de “agravo interno” pode gerar
confusões, já que esse é nome reservado ao recurso previsto no art. 1.021 do
CPC/2015. No entanto, essa denominação poderia ser justificada pelas semelhanças
existentes esses dois recursos. Afinal, nos dois casos, trata-se de impugnação de
decisão monocrática proferida pelo relator do processo.
Ante a falta de nome oficial próprio, parece adequado nominá-lo simplesmente
“recurso do art. 96, § 4º, da Lei nº 9.504/1997” – sem espaço, portanto, para
confusões com outros instrumentos impugnativos.
Objeto – pelo presente recurso pode a parte impugnar as decisões dos juízes
auxiliares extintivas do processo (i.e., de sua fase cognitiva), com ou sem julgamento
do mérito da causa, que tenha por objeto o descumprimento da própria Lei nº
9.504/1997.
Não são recorríveis, de imediato, as decisões interlocutórias.
Fungibilidade – devido à incerteza terminológica, admite-se na jurisprudência a
incidência do princípio da fungibilidade quando o recurso em exame é aviado com
outro nome, notadamente o de agravo – tanto o interno quanto o regimental.
Confira-se:
1. Por força do princípio da fungibilidade dos recursos, próprio da instrumentalidade do processo, conhece-se de
agravo regimental, interposto com fundamento no art. 36, § 8º, do Regimento Interno do Tribunal Superior
Eleitoral (RITSE), como se recurso inominado fosse – este o recurso correto a ser interposto em face das decisões
proferidas pelos juízes auxiliares da propaganda eleitoral, ex vi do disposto no art. 96, § 8º, da Lei nº 9.504/1997 –,
desde que observado o prazo de interposição de 24 horas. Precedente (TSE, R-Rp nº 23825/DF, DJe, t. 161,
29.08.2014, p. 117-118).
1. O recurso cabível contra as decisões proferidas pelos juízes auxiliares da propaganda é o inominado (art. 96, § 8º,
da Lei nº 9.504/1997). Presentes os requisitos de admissibilidade, é aplicável o princípio da fungibilidade para
receber o agravo regimental como recurso inominado. Precedentes [...] (TSE, AgR-Rp nº 14392/DF, DJe, t. 161,
29.08.2014, p. 116).
Interposição – o recurso do art. 96, § 4º, da LE deve ser interposto por escrito, em
petição devidamente fundamentada, dirigida ao juiz auxiliar prolator da respectiva
decisão. À luz do art. 1.010 do CPC/2015, aplicável subsidiariamente, a petição deve
conter: “I – os nomes e a qualificação das partes; II – a exposição do fato e do direito;
III – as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade; IV – o pedido de
nova decisão.”
Pode o recurso ser apresentado em peça única, na qual já venham estampadas as
razões, ou em duas peças, sendo a primeira delas dedicada à exposição das razões de
fato e de direito, i. e., à fundamentação. Essa última prática é já consagrada na
experiência forense brasileira, não acarretando qualquer prejuízo nem às partes nem à
prestação jurisdicional. Assim, enquanto a petição recursal deve ser endereçada ao
juiz auxiliar, as razões que a acompanham dirigem-se ao órgão colegiado do tribunal.
Juízo de admissibilidade – o juízo de admissibilidade deve ser feito pelo órgão
colegiado, e não monocraticamente pelo juiz auxiliar recorrido.
Todavia, caso o juiz auxiliar realize juízo de admissibilidade, não conhecendo o
recurso interposto, contra a decisão de inadmissão pode-se cogitar o cabimento do
agravo interno previsto no art. 1.021 do CPC/2015.
Nesse caso, o agravo deve ser dirigido ao próprio juiz auxiliar, que poderá se
retratar da decisão de inadmissão do recurso. Não havendo retratação, deve
determinar a intimação do agravado para se manifestar, e também a do Ministério
Público (se este funcionar como fiscal da ordem jurídica), encaminhando, em
seguida, o agravo para julgamento pelo órgão colegiado. Neste, o juiz auxiliar
funcionará como relator do agravo.
Prazo – nos termos do § 8º do art. 96 da LE, o recurso “deverá ser apresentado no
prazo de 24 horas da publicação da decisão em cartório [ou secretaria do tribunal]”.
As contrarrazões devem ser oferecidas “em igual prazo”, a contar da notificação
da parte recorrida.
Efeitos – segue-se aqui a regra geral do art. 257, caput, do Código Eleitoral,
segundo a qual os recursos “não terão efeito suspensivo”.
Além disso, o recurso em apreço é dotado de efeito devolutivo amplo. Nesse
ponto, assemelha-se ao recurso eleitoral e à apelação comum. O efeito devolutivo
aqui comparece em suas duas dimensões, a saber: horizontal ou de extensão, e
vertical ou em profundidade.
Assim, mutatis mutandis, incide o princípio tantum devolutum quantum
appellatum e, subsidiariamente, o disposto no art. 1.013 do CPC/2015, de sorte que:
i) o recurso devolverá ao colegiado do tribunal o conhecimento da matéria
impugnada (CPC/2015, art. 1.013, caput);
ii) poderá o órgão colegiado conhecer e julgar “todas as questões suscitadas e
discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde
que relativas ao capítulo impugnado” (CPC/2015, art. 1.013, § 1º);
iii) se o pedido ou a defesa contiver mais de um fundamento e o juiz auxiliar
acolher apenas um deles, o recurso “devolverá ao tribunal o
conhecimento dos demais” (CPC/2015, art. 1.013, § 2o);
iv) se “o processo estiver em condições de imediato julgamento, o órgão
colegiado do tribunal deve decidir desde logo o mérito quando: I –
reformar sentença fundada no art. 485; II – decretar a nulidade da
sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa
de pedir; III – constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese
em que poderá julgá-lo; IV – decretar a nulidade de sentença por falta de
fundamentação”. Em todas essas hipóteses, a causa deve encontrar-se
madura para julgamento, ou seja, independer de produção de prova ou a
prova já se encontrar integralmente acostada aos autos. Deveras, a
presente solução só é viável se realmente for desnecessária a produção de
prova, caso contrário violar-se-ia o devido processo legal. Não se
vislumbra na previsão enfocada inconstitucionalidade por violação ao
princípio do duplo grau de jurisdição, pois este, consoante salientado
anteriormente, além de não ter sido previsto expressamente na
Constituição Federal, pode ser excepcionado em determinadas situações
(CPC/2015, art. 1.013, § 3º);
v) se reformar sentença que reconheça decadência ou prescrição, poderá,
sendo isso possível, julgar “o mérito, examinando as demais questões, sem
determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau” (CPC/2015,
art. 1.013, § 4º).
1 Não se devem confundir os juízes auxiliares aqui tratados com juízes atuantes em Comissão de Fiscalização de
Propaganda Eleitoral (CFPE). Nas eleições federais e estaduais (e mesmo em eleições municipais, em grandes
cidades), tal comissão é instituída pelos tribunais regionais com vistas à fiscalização da propaganda eleitoral
no âmbito administrativo, limitando-se, portanto, ao exercício do poder de polícia da Justiça Eleitoral.
Normalmente, a comissão é composta por três juízes de direito (não necessariamente exercentes de função
eleitoral, conforme entendeu o TSE na Res. nº 21088/2002, DJ, v. 1, 31.05.2002, p. 105). Esses juízes não exercem
poder jurisdicional nem têm assento na corte regional. Diferentemente dos juízes auxiliares, os membros da
CFPE não detêm competência para conhecer e julgar ações envolvendo a violação da Lei Eleitoral e,
consequentemente, impor multa aos transgressores. Atuam exclusivamente no âmbito do poder de polícia,
podendo, e. g., determinar a retirada ou a regularização de determinada publicidade que estiver em
descompasso com a legislação. Conforme forem as circunstâncias fáticas, o descumprimento de suas decisões
ou determinações pode caracterizar delito de desobediência eleitoral (CE, art. 347). Por outro lado, por serem
administrativas, suas decisões podem ser questionadas via mandado de segurança perante o tribunal regional.
2 Isso não significa que os procedimentos a serem seguidos sejam idênticos. Na verdade, as representações
(rectius: ações) relativas ao descumprimento da Lei nº 9.504/1997 devem observar o rito traçado em seu artigo
96. Esse procedimento só não será seguido se a própria Lei Eleitoral cuidar de afastá-lo. Assim, por exemplo,
não é ele aplicado nas hipóteses de captação ou gasto ilícito de recurso de campanha (LE, art. 30-A, § 1º),
captação ilícita de sufrágio (LE, art. 41-A), conduta vedada (LE, art. 73, § 12), que seguem o rito estabelecido no
artigo 22 da Lei de Inelegibilidades (LC nº 64/1990).
3 Eis o teor desses dispositivos: “Art. 119. O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete
membros, escolhidos: I – mediante eleição, pelo voto secreto: a) três juízes dentre os Ministros do Supremo
Tribunal Federal; b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça; II – por nomeação do
Presidente da República, dois juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral,
indicados pelo Supremo Tribunal Federal. [...]”; “Art. 120. [...] § 1º Os Tribunais Regionais Eleitorais compor-
se-ão: I – mediante eleição, pelo voto secreto: a) de dois juízes dentre os desembargadores do Tribunal de
Justiça; b) de dois juízes, dentre juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal de Justiça; II – de um juiz do
Tribunal Regional Federal com sede na capital do estado ou no Distrito Federal, ou, não havendo, de juiz
federal, escolhido, em qualquer caso, pelo Tribunal Regional Federal respectivo; III – por nomeação, pelo
Presidente da República, de dois juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral,
indicados pelo Tribunal de Justiça [...].”
5
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para:
I – esclarecer obscuridade ou eliminar contradição;
II – suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento;
III – corrigir erro material [...].
A contradição se confunde com a incoerência interna da decisão, com a coexistência de elementos racionalmente
inconciliáveis.
A contradição interna deve constar da decisão: deve estar em um dos seus elementos ou entre os elementos. Ou
ainda, e esta é uma exceção, resultar de se colocar lado a lado acórdão e ementa e se verificar que são desarmônicos.
A contradição que pode haver entre a decisão e elementos do processo não dá ensejo a embargos de declaração.
Por fim, o erro material é aquele facilmente perceptível, que pode ser notado ictu
oculi, à primeira visa e sem maiores dificuldades. Por exemplo: erro quanto ao nome
das partes na decisão, troca de letras ou números em termo ou frase.2
Saliente-se que não se tratará de erro material se sua percepção não for fácil, ou,
melhor dizendo, se sua percepção depender do emprego de difícil ou laborioso
raciocínio. Nesse caso, a correção do erro deve ser feita pela impugnação da decisão
por outra via recursal que não os embargos de declaração.
Quando fundamentados em obscuridade ou contradição, normalmente os
embargos declaratórios têm propósitos meramente explicativos – visam esclarecer o
sentido da decisão, ou, pelo menos, o sentido que deve ser considerado relevante
para fins de execução de seu comando.
Já quando forem fundados em omissão e erro material, têm eles objetivo
integrativo, isto é, visam integrar, completar ou suprir a decisão, acrescendo algo que
lhe falta, sobre o que ela se omitiu, ou corrigir-lhe erro.
[...] inconcebível que fiquem sem remédio a obscuridade, a contradição e a omissão existente no pronunciamento,
não raro comprometendo até a possibilidade prática de cumpri-lo. Não tem a mínima relevância que se trate de
decisão de grau inferior ou superior, proferida em processo de cognição (de procedimento comum ou especial), de
execução ou cautelar. Tampouco importa que a decisão seja definitiva ou não, final ou interlocutória. Ainda
quando o texto legal, expressis verbis, a qualifique de “irrecorrível”, há de entender-se que o faz com a ressalva
implícita concernente aos embargos de declaração.
5.3 PROCEDIMENTO
Podem os embargos declaratórios ser interpostos por qualquer das partes, tanto
pela vencedora quanto pela sucumbente no julgamento. À primeira vista, a vencedora
parece não ter interesse recursal; mas essa conclusão não é exata. Em verdade, a todos
interessa que a decisão seja íntegra, precisa e inconfundível, devendo o seu prolator
empenhar-se para que ela ostente tais predicados. Suponha-se, por exemplo, que o
tribunal não tenha apreciado ponto ou questão relevante para a sustentação da tese
vitoriosa. Nessa hipótese, se a parte derrotada aviar recurso especial, o ponto omitido
no julgamento não poderá ser apreciado pelo Tribunal Superior porque sobre ele o
tribunal a quo não se terá pronunciado. Tal problema somente poderia ser evitado
com a interposição dos embargos declaratórios pela parte vitoriosa, extraindo daí o
seu interesse recursal em argui-la na instância ad quem.
Nas razões recursais deve ser indicado com clareza o vício vislumbrado na decisão
impugnada, isto é, o “erro, obscuridade, contradição ou omissão” (novo CPC, art.
1.023, caput) nela vislumbrado.
Sendo os embargos interpostos contra decisão de juiz de 1º grau (sentença ou
decisão interlocutória), deverá ser julgado “em cinco dias” (CE, art. 275, § 3º).7 Tal
prazo deve ser contado a partir da conclusão dos autos ao juiz, após, portanto (se for o
caso), a manifestação do embargado.
Nos tribunais, podem os embargos ser aviados contra decisão monocrática do
relator. Nesse caso – reza o § 2º do art. 1.024 do CPC/2015 –, “o órgão prolator da
decisão embargada decidi-los-á monocraticamente”. Não é o caso, portanto, de
submetê-los à apreciação do órgão colegiado.
Em vez de receber o recurso como embargos de declaração, poderá o relator
conhecê-lo “como agravo interno se entender ser este o recurso cabível” (CPC/2015,
art. 1.024, § 3º). Aqui, pressupõe-se a existência de erro na interposição: cabível era o
agravo interno, mas a parte interpôs embargos de declaração. O conhecimento
daquele recurso por este é possível em razão da fungibilidade recursal. No caso,
dever-se-á intimar previamente o recorrente para complementar as razões recursais,
de modo a ajustá-las aos requisitos do agravo interno, notadamente no que concerne
à necessidade de se impugnar “especificadamente os fundamentos da decisão
agravada” (CPC/2015, art. 1.021, § 1º).
Ainda nos tribunais – fora do âmbito de decisões monocráticas –, cum-prirá ao
relator apresentar os embargos em mesa para julgamento “na sessão subsequente,
proferindo voto” (CE, art. 275, § 4º, I). Mas, é de se perguntar: sessão subsequente a
quê? Ao protocolo da interposição? À conclusão dos autos ao relator? E se, mercê do
potencial efeito infringente dos embargos, tiver o embargado de ser intimado para se
manifestar em contraditório – a sessão subsequente será a primeira realizada após a
conclusão dos autos com as contrarrazões? De qualquer sorte, caso não haja
julgamento na sessão subsequente, “será o recurso incluído em pauta”. No
julgamento, se o relator ficar vencido, outro membro do colegiado será designado
para lavrar o acórdão (CE, art. 275, § 4º, II e III).
Sustentação oral – no tribunal, é incabível sustentação oral no julgamento de
embargos declaratórios (CPC/2015, art. 937; RISTF, art. 131, § 2o; RITSE, art. 23,
caput, parte final). Esse entendimento prevalece ainda que o recurso se funde em
omissão.
[...] 2. A jurisprudência deste Tribunal Superior pacificou-se no sentido de que o prazo para a oposição de
embargos de declaração contra acórdão atinente a julgamento de recurso eleitoral em sede de representação da Lei
no 9.504/1997 é de 24 horas, donde a posterior intempestividade do recurso especial. [...] (TSE, ED-AI no 187028/PR,
DJe, t. 44, 06.03.2012, p. 20).
1. Esta Corte sedimentou orientação de que é de 24 horas o prazo para oposição de embargos de declaração ao
acórdão de tribunal regional eleitoral proferido em sede de representação eleitoral fundada na Lei no 9.504/1997,
não fazendo distinção em relação à eleição municipal ou federal. 2. O preceito inscrito no artigo 275, § 1o, do
Código Eleitoral, que estipula prazo de três dias para oposição dos embargos, deve dar lugar à regra específica
prevista no artigo 96, § 8o, da Lei no 9.504/1997, relativamente à matéria por ela disciplinada. 3. Considerando a
orientação prevalente nesta corte acerca da aplicação do prazo de 24 horas para oposição dos declaratórios em
representação com fundamento na Lei no 9.504/1997, fica superada a divergência jurisprudencial. 4. Agravo
regimental a que se nega provimento” (TSE, AgR-REspe no 35605/RS, DJe 10.08.2010, p. 36).
Vale reiterar que, sendo os embargos declaratórios interpostos fora do prazo legal,
essa intempestividade afetará os recursos posteriormente aviados, que padecerão de
intempestividade reflexa. Nesse diapasão: “1. Sofre de intempestividade reflexa o
recurso especial interposto após a decisão do tribunal regional que não conheceu de
embargos de declaração intempestivos [...]” (TSE, AgR-REspe nº 24855/GO, DJe t. 51,
15.03.2013, p. 45). Em igual sentido, vide: TSE, AgR-REspe nº 170621/CE, DJe t. 122,
01.07.2013, p. 42; TSE, AgR-REspe nº 428728/SP, PSS 14.10.2010.
5.4 EFEITOS
Os embargos declaratórios são conhecidos e julgados pelo próprio órgão prolator
da decisão impugnada. Inexiste, aqui, transferência de matéria de um para outro
órgão jurisdicional, sendo toda ela devolvida ao mesmo órgão prolator da decisão
embargada.
No âmbito da restrita devolutividade do recurso em apreço, ao órgão judicial
prolator da decisão embargada é dado conhecer ex officio matéria de ordem pública.
Poderá, por exemplo, pronunciar ex officio nulidade absoluta (CPC/2015, art. 278,
parágrafo único, parte inicial), bem como conhecer “da matéria constante dos incisos
IV, V, VI e IX, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não ocorrer o
trânsito em julgado” (CPC/2015, art. 485, § 3º).8 Logo, ainda que não arguida nos
embargos declaratórios, poderá o juiz apreciar e decidir tais matérias
independentemente de arguição das partes.
Os embargos de declaração não possuem efeito suspensivo (CPC/2015, art. 1.026,
caput). Não impedem, portanto, a imediata geração de efeitos concretos pela decisão
embargada. Note-se que, se a decisão embargada puder ser impugnada por recurso
dotado de efeito suspensivo, sua eficácia ficará paralisada (ou sua ineficácia será
prolongada) por força da possibilidade de vir a ser impugnada por esse recurso.
Por outro lado, se a decisão embargada for impugnável por recurso não dotado de
efeito suspensivo, produzirá efeitos concretos desde logo, a partir de sua publicação,
havendo ou não interposição de embargos declaratórios. Nesse cenário, o § 1º do art.
1.026 do novo CPC permite que o respectivo juiz ou relator atribua efeito suspensivo
aos embargos. Isso só poderá ocorrer se for “demonstrada a probabilidade de
provimento do recurso ou, sendo relevante a fundamentação, se houver risco de dano
grave ou de difícil reparação”.
Por outro lado, na dicção do § 5º do art. 275 do CE, “os embargos de declaração
interrompem o prazo para a interposição de recurso”.9 Portanto, está claro, agora, que
os embargos interrompem – e não suspendem – o prazo para interposição de
recurso.10
Em Direito, os termos suspender e interromper não são sinônimos nem induzem
a produção dos mesmos efeitos. Na suspensão, encerrada esta, o prazo volta a correr
pelo tempo restante; desconta-se, portanto, o tempo já vencido antes do surgimento
da causa suspensiva. Já na interrupção, o prazo volta a correr por inteiro.
Observa Freitas Câmara (2012, p. 124) que “o efeito interruptivo é um efeito da
interposição do recurso, produzindo-se ainda que, depois, se verifique que os
embargos de declaração eram inadmissíveis”. Entretanto, não haverá interrupção do
prazo para interposição de outro recurso se os embargos forem aviados
intempestivamente ou fora do prazo. Nesse caso, o trânsito em julgado da decisão
ocorrerá com o escoamento do prazo para interposição do recurso (principal) cabível
contra a decisão, e não com a publicação da decisão que julgar intempestivos os
embargos.
Cumpre também destacar os efeitos infringentes ou modificativos que o recurso em
exame pode ensejar. Há muito se admite que os embargos declaratórios têm caráter
infringente. Em tal caso, sua interposição acarreta a reabertura da atividade judicial
propriamente decisória. Nesse sentido: STF, RE no 175034 ED-EDv-AgR-ED/DF,
Pleno, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe 228 de 1o.12.2011; STF, HC no 92484
ED/AM, 2a T., Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe 119 de 19.06.2012; STJ, REsp no
1000106/MG, 1a T., Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJe 11.11.2009; STJ, EDcl no
AgRg no Ag no 1024523/ SP, 1a Turma, Rel. Min. Luiz Fux, DJe 05.08.2009. No
âmbito do Tribunal Superior Eleitoral, por todos, veja-se o seguinte aresto:
1. Conforme diretriz jurisprudencial dos tribunais superiores, a atribuição de efeitos infringentes aos embargos
declaratórios é possível em situações excepcionais, em que, reconhecida a existência de alguma das hipóteses de
cabimento do recurso, a alteração da decisão surja como consequência necessária. 2. Uma vez constatada, no
entender da própria corte regional, a existência de omissões no acórdão primevo, que evidenciaram a contradição
entre a fundamentação adotada e o dispositivo proferido, a modificação do julgado, que acarretou a
improcedência da representação, era medida que se impunha como consequência do reconhecimento dos vícios
apontados. 3. Agravo regimental desprovido (TSE, AgR-REspe no 958106674/CE, DJe, t. 236, 15.12.2011, p. 54).
[...] Decisão: O Tribunal, por maioria, vencido o Ministro Marco Aurélio, recebeu os embargos de declaração como
agravo regimental e a este, por unanimidade, deu provimento para afastar a intempestividade do recurso
interposto antes da publicação do acórdão. [...] Plenário, 05.03.2015 (STF, AI nº 703269/MG (eletrônico), Pleno, Rel.
Min. Joaquim Barbosa, DJe 17.03.2015).
Embargos de declaração. Recurso interposto antes da publicação do acórdão. Conhecimento. Instrumentalismo
processual. Preclusão que não pode prejudicar a parte que contribui para a celeridade do processo. Boa-fé exigida
do Estado-Juiz. Doutrina. Recente jurisprudência do plenário. Mérito. Alegação de omissão e contradição.
Inexistência. Recurso conhecido e rejeitado. 1. A doutrina moderna ressalta o advento da fase instrumentalista do
Direito processual, ante a necessidade de interpretar os seus institutos sempre do modo mais favorável ao acesso à
justiça (art. 5º, XXXV, CRFB) e à efetividade dos direitos materiais [...]. 3. As preclusões se destinam a permitir o
regular e célere desenvolvimento do feito, por isso que não é possível penalizar a parte que age de boa-fé e contribui
para o progresso da marcha processual com o não conhecimento do recurso, arriscando conferir o direito à parte
que não faz jus em razão de um purismo formal injustificado. 4. O formalismo desmesurado ignora a boa-fé
processual que se exige de todos os sujeitos do processo, inclusive, e com maior razão, do Estado-Juiz, bem como
se afasta da visão neoconstitucionalista do Direito, cuja teoria proscreve o legicentrismo e o formalismo
interpretativo na análise do sistema jurídico, desenvolvendo mecanismos para a efetividade dos princípios
constitucionais que abarcam os valores mais caros à nossa sociedade [...]. 7. O recurso merece conhecimento, na
medida em que a parte, diligente, opôs os embargos de declaração mesmo antes da publicação do acórdão,
contribuindo para a celeridade processual. Decisão: A Turma rejeitou os embargos de declaração, nos termos do
voto do relator. Unânime. Presidência do Senhor Min. Dias Toffoli. 1ª Turma, 24.04.2012 (STF, HC nº 101132
ED/MA, 1ª T., Rel. Min. Luiz Fux, DJe 99, 22.05.2012).
Por sua vez, em sintonia com o Excelso Pretório, entendeu o TSE, ao julgar o
REspe nº 104683/GO (em 10.03.2015), ser tempestiva a interposição de recurso antes
da publicação de acórdão, sendo desnecessária sua posterior ratificação. Antes disso,
esse sodalício já vinha admitindo o conhecimento do recurso em determinados casos,
consoante se constata nos seguintes casos: (i) quando os embargos forem rejeitados, a
decisão neles proferida não alterar o acórdão recorrido ou forem declarados
protelatórios: “[...] 2. Reputa-se, porém, tempestivo o recurso para o TSE interposto
simultaneamente aos embargos de declaração, quando a decisão desses – reputados
protelatórios – nada acrescentou ao acórdão recorrido [...]” (TSE, RO no 516/GO, DJ,
v. 1, 15.03.2002, p. 183); (ii) quando não houver coincidência entre os recorrentes:
“[...] 3. Não há a necessidade de ratificação do recurso especial interposto
simultaneamente com embargos de declaração quando o apelo é apresentado por
parte distinta daquela que opôs os declaratórios. Preliminar de intempestividade
afastada por unanimidade [...]” (TSE, REspe no 36038/ AL, DJe 15.09.2011, p. 28-
29).
Na legislação processual, o problema vertente ficou superado com a entrada em
vigor do CPC de 2015, que dispõe:
Art. 1.024 [...] § 5º Se os embargos de declaração forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do julgamento
anterior, o recurso interposto pela outra parte antes da publicação do julgamento dos embargos de declaração
será processado e julgado independentemente de ratificação.
1. O conhecimento do recurso especial interposto antes do julgamento dos embargos de declaração, especialmente
quando esses são acolhidos com efeitos modificados, fica condicionado à ratificação do recorrente, a ser realizada no
prazo recursal contado da publicação do acórdão dos declaratórios [...] (TSE, REspe nº 48726/CE, PSS 11.12.2012).
1 Dando notícia do debate assinalado e afirmando a natureza recursal dos embargos de declaração: Amaral
Santos (1989, p. 148-149), Freitas Câmara (2012, p. 121), Marinoni e Arenhart (2007, p. 544), Baptista da Silva
(1996, p. 381) e Barbosa Moreira (2012, nº 297, p. 544).
2 Para tais casos o art. 494, I, do CPC de 2015 fala em “inexatidões materiais”. Consoante esse dispositivo,
mesmo depois de publicada a sentença, pode o juiz alterá-la “para corrigir-lhe, de ofício ou a requerimento da
parte, inexatidões materiais ou erros de cálculo”.
3 No entanto, malgrado a redação do revogado art. 275 do CE, havia consenso quanto à possibilidade de se
manejarem embargos de declaração contra sentença. Veja-se nesse sentido: (a) “1. Embargos de declaração são
cabíveis quando houver, na sentença ou no acórdão, omissão, contradição ou obscuridade em ponto sobre o
qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal (artigo 275 do Código Eleitoral) [...]” (TSE, EEEAAG nº 8442/MG,
DJe 22.06.2010, p. 43). (b) “1. A lei processual e o regimento interno da Corte somente admitem a oposição de
embargos de declaração contra sentença e acórdão. Logo, não pode a jurisprudência travestir-se de lei para
permitir hipótese de cabimento de recurso não previsto no ordenamento jurídico, sob pena de ofensa ao
princípio da legalidade [...]” (TSE, AAg nº 918/BA, DJ 14.08.1998, p. 54). (c) “[...] Considero, de acordo com a
doutrina dominante, que os embargos declaratórios devem ter-se como cabíveis em relação a todas as decisões
judiciais. Não se pode aceitar deva subsistir decisão obscura, omissa ou contraditória, como resultaria da
admissão de que para isso não haja remédio na lei processual. [...] Parece-me, aliás, que o fato de ser admissível
o recurso reforça a conclusão de que também o seja o pedido de declaração. Com efeito, não se pode exigir que
alguém haja de recorrer de decisão insuscetível de ser entendida. Ou em relação a fundamento não examinado
[...]” (TSE, AREspe nº 14557/BA, DJ 16.05.1997, p. 20.042; excerto do voto do relator designado).
4 Não é demais lembrar que os pronunciamentos judiciais consistem em sentença, decisão interlocutória,
despacho e acórdão (CPC/2015, arts. 203 e 204).
5 No sentido do texto: “[...] I. A jurisprudência desta Corte Superior entende que cabe à parte interessada
interpor o agravo previsto no art. 557, § 1º, do Código de Processo Civil [1973], contra a decisão monocrática
do relator que aprecia a apelação e embargos declaratórios [...]. Agravo regimental improvido” (STJ, AgRg no
Ag nº 1353726/PE, 3ª T., DJe 28.02.2011). Em idêntico sentido, vide também: STJ, EDcl no Ag nº 1332421/RS, 2ª
T., DJe 10.12.2010; STJ, AgRg no Ag nº 1238543/SP, 5ª T., DJe 31.05.2012.
6 Deixa, portanto, de ter sentido a aplicação do princípio da fungibilidade recursal para que os embargos
pudessem ser conhecidos como agravo. Nesse diapasão, os seguintes julgados: “[...] 8. No sistema recursal
brasileiro vigora o cânone da unicidade ou unirrecorribilidade recursal. Desta forma, manejados dois recursos
pela mesma parte contra uma única decisão, a preclusão consumativa impede o exame do que tenha sido
protocolizado por último. Precedentes. 9. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental a que se
nega provimento e não conhecimento do segundo recurso (agravo regimental). Acórdão: A turma, por
unanimidade, recebeu os embargos de declaração como agravo regimental e negou-lhe provimento, e não
conheceu do segundo recurso [...]” (STJ, Edcl no Ag nº 1318082/SP, 4ª T., DJe 16.04.2012). “[...] 1. Em virtude do
princípio da unirrecorribilidade, também conhecido como da singularidade ou da unicidade do recurso, não se
admite a interposição simultânea de agravo regimental e de embargos de declaração pela mesma parte e em
face do mesmo decisório, caso em que se imporá o reconhecimento da preclusão consumativa em relação ao
recurso posteriormente interposto. 2. Embargos não conhecidos” (STJ, EDcl no CC no 92044/RJ, 2a Seção, DJe
06.04.2009).
7 Nos termos do § 3º do art. 275 do CE: “O juiz julgará os embargos em cinco dias.”
8 Eis o teor dos citados incisos: “Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: [...] IV – verificar a ausência de
pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; V – reconhecer a existência de
perempção, de litispendência ou de coisa julgada; VI – verificar ausência de legitimidade ou de interesse
processual; [...] IX – em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal
[...].”
9 Embora o revogado § 4º do art. 275 do CE usasse o termo suspender, há muito havia se firmado na
jurisprudência eleitoral a interpretação segundo a qual os embargos declaratórios interrompiam o prazo para
interposição de outros recursos, sendo, pois, aplicável o caput do art. 538 do CPC/1973. Nesse sentido: TSE,
AgR-AI nº 369422/ RJ, DJe 05.04.2011, p. 46.
10 Não se devem confundir os fenômenos de suspensão e interrupção do prazo para interposição de recurso, com
a suspensão dos efeitos concretos da decisão embargada.
11 Malgrado a legislação eleitoral não contivesse disposição específica prevendo multa para os embargos julgados
manifestamente protelatórios, tal sanção era aplicável nessa seara por incidência analógica do CPC. Confira-se:
“[...] 3. A reiteração de embargos de declaração manifestamente incabíveis sujeita o embargante à condenação
em multa, nos termos do art. 538, parágrafo único, do Código de Processo Civil [1973]. Precedentes. 4.
Embargos de declaração rejeitados” (TSE, ED-ED-ED-AgR-AI nº 11809/MT, DJe 14.12.2010, p. 63).
12 Regras semelhantes são previstas nos §§ 2º e 3º do art. 1.026 do CPC, porém, aqui, a multa corresponde a um
percentual do valor da causa. Confira-se: “Art. 1.026. [...]. § 2º Quando manifestamente protelatórios os
embargos de declaração, o juiz ou o tribunal, em decisão fundamentada, condenará o embargante a pagar ao
embargado multa não excedente a 2% sobre o valor atualizado da causa. § 3º Na reiteração de embargos de
declaração manifestamente protelatórios, a multa será elevada a até 10% sobre o valor atualizado da causa, e a
interposição de qualquer recurso ficará condicionada ao depósito prévio do valor da multa, à exceção da
Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que a recolherão ao final.”
13 Vale registrar que o revogado § 4º do art. 275 do CE estabelecia que a interrupção do prazo recursal não
ocorreria se os embargos fossem “manifestamente protelatórios e assim declarados na decisão que os rejeitar”.
Com base nessa regra, a jurisprudência era uníssona ao proclamar: “Não têm eficácia suspensiva ou
interruptiva os embargos de declaração considerados manifestamente protelatórios, a teor do art. 275, § 4º, CE
[...]” (TSE, AgAI nº 5271, Diamantino/MT, DJ, v. 1, 17.12.2004, p. 317). Entretanto, essa regra não foi reiterada
na nova redação do art. 275 do CE, de maneira que agora o reconhecimento de que os embargos são
manifestamente protelatórios pode apenas gerar a imposição de multa.
14 Eis o teor desse dispositivo: “Art. 38. O Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos (fundo
partidário) é constituído por: I – multas e penalidades pecuniárias aplicadas nos termos do Código Eleitoral e
leis conexas [...].”
15 Em consonância com o texto, vide: “Recurso extraordinário. Interposição antes da publicação do acórdão que
julgou agravo regimental. Inexistência de ratificação do recurso extraordinário. Recurso prepóstero. Agravo
regimental improvido. Salvo posterior ratificação, é extemporâneo o recurso extraordinário interposto antes
da publicação do acórdão recorrido, ainda que o julgamento destes não tenha implicado modificação
substancial do teor do julgamento original” (STF, AI 796118 AgR/MS, Pleno, Rel. Min. Cezar Peluso, DJe nº 151,
08.08.2011). “É inadmissível o recurso especial interposto antes da publicação do acórdão dos embargos de
declaração, sem posterior ratificação” (STJ, Súmula 418). “A interposição simultânea de embargos de
declaração e de recurso especial é incompossível, porque este supõe o exaurimento da instância ordinária e
aqueles visam completá-la. Agravo de instrumento a que se nega provimento” (TSE, Ag nº 7493/BA, DJ
17.09.2007, p. 132).
6
AGRAVOS
6.1 GENERALIDADES
Ensina Barbosa Moreira (2012, nº 265, p. 483) que o recurso de agravo surgiu no
antigo Direito português. Por não se conformarem com as restrições impostas à
faculdade de apelar contra decisões interlocutórias que às vezes causavam irreparáveis
prejuízos, insistiam as partes em pleitear a imediata correção do agravo ao rei,
requerendo “cartas de justiça”, cuja eficácia era subordinada à cláusula de serem
verdadeiras as alegações do requerente. A fim de evitar inúteis perdas de tempo,
“determinou D. Duarte que as petições lhe subissem já acompanhadas da resposta do
juiz que proferira a decisão impugnada: eis a origem do juízo de retratação. Assim se
configuraram as chamadas ‘cartas testemunháveis’ ou ‘instrumentos de agravo’”.
Em sua evolução histórica, sofreu o agravo vários percalços, ora sendo acolhido no
ordenamento legal português (ex.: Ordenações Manuelinas), ora sendo abolido.
Com a Proclamação da Independência do Brasil, em 1822, o governo fez editar
uma lei, datada de 20 de outubro de 1823, determinando que vigorassem no Império
brasileiro as Ordenações Filipinas, as leis e os decretos promulgados pelos reis de
Portugal até 25 de abril de 1821.
Assim, a presença do agravo no Direito brasileiro se explica pela herança
histórico-cultural do sistema jurídico português. Surgiu, portanto, do ramo de planta
aqui enxertado pelo colonizador lusitano.
O recurso em exame foi contemplado nos Códigos Processuais de 1939 e 1973,
tendo sido mantido no de 2015.
O CPC de 2015 contempla diferentes espécies de agravo, a saber: agravo de
instrumento, agravo interno, agravo regimental e agravo em recurso especial ou
extraordinário (agravo nos próprios autos).
O agravo retiro (previsto no art. 522 do CPC de 1973) foi extinto. Conquanto o
agravo de instrumento tenha permanecido no novo sistema processual, foi
completamente alterado.
Art. 29. As decisões interlocutórias proferidas no curso da representação não são recorríveis de imediato, não
precluem e deverão ser novamente analisadas pelo juiz eleitoral por ocasião do julgamento, caso assim o
requeiram as partes ou Ministério Público em suas alegações finais [...] (Res. TSE nº 23.462/2015).
[...] A jurisprudência atual desta Corte alinha-se ao entendimento de que as decisões interlocutórias ou sem caráter
definitivo são irrecorríveis, ficando os eventuais inconformismos surgidos para posterior manifestação em recurso
contra decisão final do processo [...] (TSE, AgR-AI nº 182927/ PI, DJe 05.06.2013).
[...] 3. As decisões interlocutórias tomadas em sede de investigação judicial eleitoral, sob o rito do art. 22 da LC no
64/1990, são irrecorríveis isoladamente, devendo sua apreciação ser feita quando da interposição do recurso
próprio, haja vista que a matéria nela decidida não se sujeita à preclusão imediata. Celeridade processual visando à
efetiva prestação jurisdicional. 4. Recurso especial não provido (TSE, REspe no 25999/SP, DJ 20.10.2006, p. 207).
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
I – tutelas provisórias;
II – mérito do processo;4
Esse art. 932 situa-se no Capítulo II do Título I do Livro III do CPC, que trata da
ordem do processo no tribunal e dos processos de competência originária. Está claro
nesse dispositivo que os poderes atribuídos ao relator não se limitam ao procedimento
recursal (incisos III, IV e V), estendendo-se também à prática de atos processuais em
processo de competência originária (incisos I, II, VI e VIII).
Diante disso, pode-se afirmar que o agravo interno é cabível: (i) no âmbito da
competência recursal do tribunal, contra decisão do relator de não conhecer, negar ou
dar provimento ao recurso interposto contra a decisão do órgão a quo; (ii) no âmbito
da competência originária, contra decisão interlocutória do relator em processo de
competência originária do tribunal – ex.: Aije por abuso de poder de competência do
corregedor eleitoral, ação eleitoral por captação ilícita de sufrágio de competência de
tribunal eleitoral.10
Já se ressaltou alhures que os embargos de declaração podem ser manejados
“contra qualquer decisão judicial” (CE, art. 275, c/c o CPC/2015, art. 1.022, caput),
inclusive, portanto, contra decisão monocrática do relator.11 De sorte que, interpostos
os embargos, haverá interrupção do prazo para aviamento do agravo interno.
Quanto à natureza, o recurso em exame é ordinário. Isso porque visa a tutelar
situações jurídicas materiais e não propriamente a higidez do sistema jurídico. Assim,
ele enseja ao órgão colegiado do tribunal a ampla revisão da decisão do relator, no
que concerne aos aspectos tanto fáticos quanto jurídicos.
Nas razões do agravo interno, há mister de que todos os fundamentos da decisão
singular impugnada sejam especificamente tratados, sob pena de este tornar-se
insubsistente.
Antes da remessa dos autos para apreciação e julgamento do recurso pelo órgão
colegiado competente, é dado ao relator retratar-se de sua decisão (CPC/2015, art.
1.012, § 2º).
Havendo retratação, poderá surgir para a parte sucumbente interesse recursal,
embora tal interesse inexistisse anteriormente. Isso autoriza a parte sucumbente a
apresentar agravo interno ao órgão colegiado. Este outro agravo tem por objeto a
reforma ou anulação da decisão singular de retratação. Embora a interposição desse
segundo agravo não tenha sido explicitada na lei processual, é consequência
inexorável do devido processo legal, encontrando específico fundamento legal no
mesmo § 2º do art. 1.021 do CPC de 2015.
À vista desse segundo agravo, poderia o relator novamente se retratar? Em outros
termos, para o órgão judicial, pode haver retratação da retratação? Em verdade, essa
possibilidade não é vedada. E seria até compreensível na hipótese de haver mudança
de relator ou alteração da jurisprudência do tribunal.
Não havendo retratação, o relator pedirá a inclusão do agravo interno na pauta da
sessão, levando-o para julgamento pelo colegiado, onde proferirá voto.
Se declarar que o agravo é “manifestamente inadmissível ou improcedente em
votação unânime, o órgão colegiado, em decisão fundamentada, condenará o
agravante a pagar ao agravado multa fixada entre 1% e 5% do valor atualizado da
causa” (CPC/2015, art. 1.021, § 4º). Como as ações eleitorais são de valor inestimável,
ou seja, não têm valor pecuniário, sendo sempre gratuito o acesso à Justiça Eleitoral
(CF, art. 5º, LXXVII, in fine), a multa prevista naquele dispositivo deve ser fixada por
arbitramento do órgão colegiado competente para julgar o agravo.12
Ressalte-se que essa multa tem natureza de pressuposto processual extrínseco, pois
seu não pagamento impede a interposição de outros recursos (CPC/2015, art. 1.021, §
5º).
No tocante ao destinatário da multa, o citado § 4º do art. 1.021 do CPC de 2015 é
claro ao prescrever que o órgão colegiado “condenará o agravante a pagar ao
agravado”. De maneira que, no processo civil comum, o montante da sanção
pecuniária destina-se integralmente ao agravado. Idêntica solução encontra-se no § 6º
do art. 275 do CE (com a redação dada pelo art. 1.067 do CPC/2015), que veicula
situação semelhante no âmbito dos embargos de declaração. Esse último dispositivo
estabelece que “o juiz ou o tribunal, em decisão fundamentada, condenará o
embargante a pagar ao embargado multa [...]”. Diante disso, por analogia, pode-se
afirmar que também a multa prevista no vertente § 4º, art. 1.021 do CPC de 2015
destina-se ao agravado.13 E se a multa destina-se ao agravado, sua execução deve por
ele ser promovida.
Art. 1.070. É de quinze dias o prazo para a interposição de qualquer agravo, previsto em lei ou em regimento interno
de tribunal, contra decisão de relator ou outra decisão unipessoal proferida em tribunal.
Art. 317. Ressalvadas as exceções previstas neste regimento, caberá agravo regimental, no prazo de cinco dias de
decisão do presidente do tribunal, de presidente de turma ou do relator, que causar prejuízo ao direito da parte §
1º A petição conterá, sob pena de rejeição liminar, as razões do pedido de reforma da decisão agravada.
§ 2º O agravo regimental será protocolado e, sem qualquer outra formalidade, submetido ao prolator do
despacho, que poderá reconsiderar o seu ato ou submeter o agravo ao julgamento do plenário ou da turma, a
quem caiba a competência, computando-se também o seu voto.
§ 3º Provido o agravo, o plenário ou a turma determinará o que for de direito.
§ 4º O agravo regimental não terá efeito suspensivo.
À luz do sistema processual implantado pelo CPC de 2015, é lícito afirmar ter sido
esse dispositivo regimental derrogado pelo art. 1.021, c/c o art. 932, no que se refere à
decisão proferida pelo relator de recurso ou processo em tribunal. Como visto, tal
decisão é, agora, impugnável por agravo interno.
Permanece viável, entretanto, a interposição do agravo regimental em apreço
quando tiver por objeto decisão singular do presidente do Excelso Pretório ou de
presidente de turma daquele sodalício “que causar prejuízo ao direito da parte”,
desde que não atuem no processo como relatores.
Note-se, porém, que o prazo para interposição desse agravo não é mais o de
“cinco dias” (como consta do caput do art. 317 do RISTF), mas sim o de “quinze dias”
– como expressa o citado art. 1.070 do CPC/2015. Nesse particular, o art. 317 do
RISTF também foi derrogado pelo art. 1.070 do CPC/2015.
6.5 AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL OU EXTRAORDINÁRIO –
AGRAVO NOS PRÓPRIOS AUTOS
O art. 1.042 do CPC/2015 prevê um agravo cujo principal objetivo é ensejar que a
decisão de inadmissão de recurso excepcional (recursos extraordinário e especial) seja
revista pelo tribunal ad quem. Desse modo, esse recurso viabiliza a reapreciação do
ato e dos fundamentos que levaram à não admissão na instância recorrida do recurso
endereçado aos tribunais superiores.
Por sua vez, o art. 544 do CPC/1973 (com a redação da Lei nº 12.322/2010)
previa recurso semelhante, nomeando-o, porém, agravo nos próprios autos. Essa
denominação se deve ao fato de o recurso subir à instância ad quem nos próprios
autos em que interpostos, ou seja, nos autos principais do processo. Portanto, não
havia a formação de instrumento para o agravo.
Eis o confronto entre as referidas disposições legais:
Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do Art. 544. Não admitido o recurso
tribunal recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou recurso especial, salvo extraordinário ou o recurso especial,
quando fundada na aplicação de entendimento firmado em regi-me de ca-berá agravo nos próprios autos,
repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos [...]. no prazo de dez dias [...].
Processo administrativo. Lei nº 12.322/2010. Alteração do art. 544 do CPC. Interposição de agravo nos próprios
autos do processo principal. [...] 1. Considerando os benefícios trazidos pela Lei nº 12.322/2010 ao agravo, bem
como a ausência de incompatibilidade entre o procedimento trazido pela recente modificação legislativa e a
natureza dos feitos eleitorais, cuja apreciação demanda rápida resposta do Poder Judiciário, é de se aplicar, no
âmbito da Justiça Eleitoral, a nova redação conferida ao art. 544 do CPC, apenas no que concerne à interposição do
agravo de decisão obstativa de recurso especial nos próprios autos do processo principal, mantendo-se, todavia, o
prazo recursal de três dias previsto no Código Eleitoral. 2. A regra para interposição do agravo de instrumento, na
sistemática prevista pelo Código Eleitoral, não configura norma especial criada pelo legislador em atenção às
peculiaridades do interesse tutelado pela Justiça Eleitoral, não incidindo, portanto, o princípio de que a regra geral
posterior não derroga a especial anterior [...] (TSE, PA nº 144683/DF, j. 20.10.2011, DJe, t. 93, 18.05.2012, p. 379-380).
Agravo regimental. Agravo de instrumento. Alteração. Lei nº 12.322/2010. Aplicabilidade. Justiça eleitoral.
Processamento nos próprios autos. Provimento. 1. É aplicável, na Justiça eleitoral, a alteração promovida pela Lei
nº 12.322/2010 ao art. 544 do Código de Processo Civil, não sendo cabível a negativa de seguimento ao agravo por
falta de peças (PA nº 1446-83/DF). 2. Segundo a nova disciplina, as razões do agravo devem ser juntadas aos autos
do processo originário, o qual deverá ser remetido a este tribunal superior para julgamento. 3. Agravo regimental
provido (TSE, AgR-AI nº 166817/PA, DJe, t. 162, 26.08.2013, p. 13).
Art. 37 [...] § 4º Não admitido o recurso especial, caberá agravo nos próprios autos para o Tribunal Superior
Eleitoral, no prazo de três dias, contados da publicação em secretaria ou em mural eletrônico (Res. TSE nº
23.462/2015).
E mais: TSE, AgR-AI nº 145511/BA, DJe, t. 37, 24.02.2012, p. 40; TSE, AgR-AI nº 839248/SP, DJe, t. 235, 14.12.2011, p.
29.
Com a integral revogação do CPC/1973 (e, portanto, também de seu art. 544) não
é possível afirmar o revigoramento da regra dos arts. 279, caput, e 282, caput, do CE,
pois isso implicaria a repristinação daqueles dispositivos, o que é vedado pelo art. 2º, §
3º, da Lei de Introdução das Normas do Direito Brasileiro (LINDB).16
Logo, o agravo previsto no art. 1.042 do CPC/2015 também incide no processo
jurisdicional eleitoral.
O agravo em exame tem natureza de recurso ordinário, porquanto sua finalidade
é tutelar situações jurídicas materiais e não propriamente a harmonia e correção do
sistema jurídico.
Nos domínios do processo comum, o prazo para interposição de agravo é de
quinze dias (CPC/2015, art. 1.003, § 5º, e art. 1.070). Todavia, na seara eleitoral, o
prazo é menor, correspondendo ao previsto para o recurso inadmitido, ou seja, três
dias ou 24 horas, conforme o caso.
No tocante às formalidades para interposição, o agravo é aviado mediante petição,
que deve conter: “I – a exposição do fato e do direito; II – as razões do pedido de
reforma da decisão [...]” (CE, art. 279, § 1º). Ademais, deve ser dirigida à presidência
do tribunal eleitoral recorrido e independe do pagamento de custas e despesas
postais.
Nas razões, é preciso que que todos os fundamentos da decisão singular
impugnada sejam especificamente tratados, sob pena de o agravo tornar-se
insubsistente.
O agravado deverá ser intimado para oferecer resposta no mesmo prazo previsto
para o aviamento do recurso.
Escoado o prazo para apresentação de contrarrazões, prevê o § 4º do art. 1.042 do
CPC/2015 juízo de retratação da decisão de inadmissão do recurso excepcional.
Não havendo retratação por parte do presidente do tribunal recorrido, o agravo
será remetido ao tribunal superior ad quem, onde será processado na forma
regimental.
O recurso em exame é de curso obrigatório. De maneira que, formalizada a
interposição, o “presidente do tribunal não poderá negar seguimento ao agravo, ainda
que interposto fora do prazo legal” (CE, art. 279, § 5º).
Nos termos do § 5º do aludido art. 1.042, poderá o agravo “ser julgado, conforme
o caso, conjuntamente com o recurso especial ou extraordinário”. Por julgamento
conjunto, aqui, deve-se compreender que os dois recursos serão julgados no mesmo
ato ou na mesma sessão. Logicamente, o julgamento do agravo tem precedência, pois
antes de apreciar o mérito do recurso excepcional é preciso que o tribunal ad quem
decida acerca de sua admissibilidade, questão esta objeto do agravo.
Havendo julgamento “conjunto”, aquele mesmo § 5º assegura às partes a
possibilidade de fazerem “sustentação oral” perante o órgão colegiado.
Vale ressaltar que, no âmbito do tribunal superior ou do Supremo Tribunal,
incide o há pouco transcrito art. 932 do CPC/2015, que define os poderes do
relator.17 Atendidos os pressupostos estabelecidos nesse dispositivo legal, poderá o
relator, em decisão singular, não conhecer ou negar seguimento ao agravo nos
próprios autos, negar-lhe ou dar-lhe provimento.18
O § 6º do art. 279 do Código Eleitoral prevê a aplicação de multa ao agravante
caso o agravo seja interposto “fora do prazo legal”. Eis o teor desse dispositivo: “Art.
279 [...]. § 6º Se o agravo de instrumento não for conhecido, porque interposto fora
do prazo legal, o tribunal superior imporá ao recorrente multa correspondente a valor
do maior salário-mínimo vigente no país, multa essa que será inscrita e cobrada na
forma prevista no art. 367.” Por óbvio, nesses dispositivos, o termo “agravo de
instrumento” deve ser compreendido como “agravo nos próprios autos”.
Diferentemente, o art. 1.042 do CPC/2015 não prevê qualquer sanção em tal
situação, ou seja, no caso de o agravo ter sido “interposto fora do prazo legal”.
Tampouco contém regra semelhante à do CPC de 1973, que previa a aplicação de
multa ao agravante caso o tribunal reconhecesse como “manifestamente inadmissível
ou infundado o agravo” (CPC/1973, art. 545, in fine, c/c o art. 557, § 2º).
Dadas a natureza e especificidade do processo jurisdicional eleitoral, no entanto, é
razoável o entendimento que afirma a eficácia da regra do citado § 6º do art. 279 do
CE, e, pois, a possibilidade de aplicar a sanção pecuniária nele prevista para a hipótese
de intempestividade do agravo. É, porém, inaplicável a cláusula que estipula o
montante da multa no “valor do maior salário-mínimo vigente no país”. Porque o
valor do salário mínimo é nacionalmente unificado, “sendo vedada sua vinculação
para qualquer fim” (CF, art. 7º, IV). Assim, o montante da multa deverá ser fixado
por arbitramento do órgão judicial, atendendo ao princípio da proporcionalidade.
O dinheiro decorrente da multa em apreço destina-se ao fundo partidário, em
razão de expressa determinação contida no inciso I do art. 38 da Lei no 9.096/1995.19
Se porventura não houver adimplemento espontâneo, a dívida deve ser “inscrita e
cobrada na forma prevista no art. 367 [do CE]” (CE, art. 279, § 6o, in fine). Destarte,
inadimplido o débito decorrente da multa, deve ele ser inscrito na dívida ativa e
cobrado mediante o procedimento executivo fiscal previsto na Lei no 6.830/1980,
atuações essas que ficam a cargo da Procuradoria da Fazenda Nacional (PFN).
1 O oposto ocorria no regime do CPC de 1973, pois aí as decisões interlocutórias prejudiciais aos bens ou
interesses da parte tinham de ser impugnadas mediante agravo retido ou de instrumento, conforme o caso, sob
pena de operar-se a preclusão. A preclusão impedia que a parte pudesse rediscutir o ponto ou a questão em
momento posterior do processo.
2 Esclareça-se que os arts. 279 e 282 foram derrogados pelo art. 544 do CPC/1973 (com a redação da Lei no
12.322/2010), que previa agravo nos próprios autos do processo principal. Na jurisprudência, pacífico era esse
entendimento: TSE, PA nº 144683/ DF, j. 20.10.2011, DJe, t. 93, 18.05.2012, p. 379-380; TSE, AgR-AI nº
145511/BA, DJe, t. 37, 24.02.2012, p. 40; TSE, AgR-AI nº 839248/SP, DJe, t. 235, 14.12.2011, p. 29.
3 Eis o texto da regra legal: “Art. 1.009. Da sentença cabe apelação. § 1º As questões resolvidas na fase de
conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela
preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final,
ou nas contrarrazões [...].”
4 Decisão interlocutória que trate do “mérito do processo” é aquela que não extingue a fase de cognição do
procedimento comum; na linguagem tradicional: não extingue o processo.
5 “Art. 1.009. Da sentença cabe apelação. [...]. § 3º O disposto no caput deste artigo aplica-se mesmo quando as
questões mencionadas no art. 1.015 integrarem capítulo da sentença.”
6 Diante disso, há autores que entendem que a supressão do “agravo retido” não trouxe mudança significativa
em termos de resposta jurisdicional. Sobre isso, assinalam Wambier et al. (2015, p. 1.439): “Aliás, para a parte,
nada muda substancialmente: a ‘resposta’ do Judiciário ao seu agravo retido já vem, à luz do CPC/1973, depois,
se há reiteração, quando e se fosse julgada a apelação. Isso não mudou: a ‘resposta’ do Judiciário (decisão sobre
a impugnação, que consta do bojo da apelação) só vem se e quando a apelação for julgada. Menos esforço da
parte e do Judiciário, para obtenção de resultado equivalente.”
7 O caput do art. 1.018 do CPC usa o termo “poderá”, dando a entender que a juntada desses documentos aos
autos do processo se trata de faculdade do agravante. Mas o § 3º daquele mesmo artigo deixa claro tratar-se de
ônus, pois estabelece que a não juntada “importa inadmissibilidade do agravo de instrumento”.
8 Observe-se que a decisão interlocutória já gera efeitos desde sua publicação, efeitos esses suspensos por força
da decisão do relator.
9 Devido à natureza pública dos bens e direitos discutidos no Direito eleitoral, o Ministério Público tem sempre
de se manifestar; sua intervenção é sempre obrigatória.
10 Na segunda situação (ii), vale indagar se, contra o respectivo acórdão do tribunal regional, seria possível
interpor recurso especial ao tse, com fundamento na violação de expressa disposição de lei ou da Constituição
(CF, art. 121, § 4º, I; CE, art. 276, I, a). Conquanto emanada do órgão pleno do tribunal regional, não perde essa
decisão o caráter de interlocutória; como, em princípio, não há preclusão imediata de decisão interlocutória,
poderá ela ser revista se a parte o requerer no recurso (ou nas contrarrazões) manejado contra a decisão final,
extintiva do processo com ou sem julgamento do mérito. Assim, por não se tratar de decisão definitiva, por não
haver esgotamento das vias ordinárias, afigura-se incabível o recurso especial. Em sede de decisão
interlocutória, só se poderia cogitar o cabimento de recurso especial nas hipóteses arroladas no art. 1.015 do
CPC, pois aqui, contra a decisão interlocutória, deve a parte interpor agravo de instrumento, sob pena de
preclusão. De qualquer sorte, cumpre ponderar não ser impossível que decisão interlocutória fira direito da
parte, podendo acarretar-lhe lesão grave ou de difícil reparação. Em tal caso, o art. 5º, II, da Lei do Mandado de
Segurança – interpretado a contrario sensu – assegura o cabimento do writ contra decisão judicial (não importa
de que natureza), sempre que não houver recurso específico com efeito suspensivo previsto nas leis processuais.
Destarte, apenas se houver grave ferimento a direito líquido e certo, fato que deverá ser demonstrado de plano,
admite-se a interposição de mandado de segurança.
11 Sob o CPC de 1973 os embargos de declaração não eram admitidos contra decisão monocrática de relator.
Entendia-se que o recurso adequado era o agravo interno para o órgão colegiado do tribunal, e neste todas as
questões deveriam ser suscitadas. Caso fossem interpostos embargos declaratórios, diante dos princípios da
fungibilidade recursal, economia processual e instrumentalidade das formas, poderiam os embargos ser
recebidos como agravo interno. Nesse diapasão: TSE, AMS nº 3754/ RS, DJ 16.06.2008, p. 27; STJ, EDcl no Ag nº
1332421/RS, 2º T., DJe 10.12.2010; STJ, AgRg no Ag nº 1353726/PE, 3ª T., DJe 28.02.2011; STJ, AgRg no Ag nº
1238543/SP, 5ª T., DJe 31.05.2012.
12 Ao regular os embargos de declaração, o § 6º do art. 275 do CE (com a redação dada pelo art. 1.067 do
CPC/2015), em situação semelhante, estabelece sanção para o embargante quando “manifestamente
protelatórios os embargos de declaração”; nesse caso, “o juiz ou o tribunal, em decisão fundamentada,
condenará o embargante a pagar ao embargado multa não excedente a dois salários-mínimos.” Não é o caso de
se empregar essa regra como parâmetro para a fixação da multa na hipótese do art. 1.021, § 4º, pois em
princípio soa inconstitucional utilizar o salário-mínimo como base para o cálculo da multa. Isso porque o art.
7º, IV, da Constituição Federal proíbe “sua vinculação para qualquer fim”.
13 Assim, a multa em exame não mais se destina ao fundo partidário, nos termos do art. 38, I, da Lei nº 9.096/1995
(Lei dos Partidos Políticos – Lopp), que reza: “Art. 38. O Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos
Políticos (fundo partidário) é constituído por: I – multas e penalidades pecuniárias aplicadas nos termos do
Código Eleitoral e leis conexas [...].”
14 Com regulamentação semelhante, o agravo regimental é também previsto nos arts. 258 e 259 do Regimento
Interno do Superior Tribunal de Justiça.
15 Eis o teor dos referidos dispositivos: “Art. 279. Denegado o recurso especial, o recorrente poderá interpor,
dentro em três dias, agravo de instrumento. § 1º O agravo de instrumento será interposto por petição que
conterá: I – a exposição do fato e do direito; II – as razões do pedido de reforma da decisão; III – a indicação
das peças do processo que devem ser trasladadas. § 2º Serão obrigatoriamente trasladadas a decisão recorrida
e a certidão da intimação. § 3º Deferida a formação do agravo, será intimado o recorrido para, no prazo de três
dias, apresentar as suas razões e indicar as peças dos autos que serão também trasladadas. § 4º Concluída a
formação do instrumento, o presidente do tribunal determinará a remessa dos autos ao tribunal superior,
podendo, ainda, ordenar a extração e a juntada de peças não indicadas pelas partes. § 5º O presidente do
tribunal não poderá negar seguimento ao agravo, ainda que interposto fora do prazo legal. § 6º Se o agravo de
instrumento não for conhecido, porque interposto fora do prazo legal, o tribunal superior imporá ao
recorrente multa correspondente a valor do maior salário-mínimo vigente no país, multa essa que será inscrita
e cobrada na forma prevista no art. 367. § 7º Se o tribunal regional dispuser de aparelhamento próprio, o
instrumento deverá ser formado com fotocópias ou processos semelhantes, pagas as despesas, pelo preço do
custo, pelas partes, em relação às peças que indicarem.” “Art. 282. Denegado recurso [previsto no art. 281], o
recorrente poderá interpor, dentro de três dias, agravo de instrumento, observado o disposto no art. 279 e seus
parágrafos, aplicada a multa a que se refere o § 6º pelo Supremo Tribunal Federal.”
16 Eis o teor dessa regra: “Art. 2º [...] § 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei
revogadora perdido a vigência.”
17 Sobre isso, havia disposição específica no CPC/1973, confira-se: “Art. 544 [...]. § 4º No Supremo Tribunal
Federal e no Superior Tribunal de Justiça, o julgamento do agravo obedecerá ao disposto no respectivo
regimento interno, podendo o relator:I – não conhecer do agravo manifestamente inadmissível ou que não
tenha atacado especificamente os fundamentos da decisão agravada; II – conhecer do agravo para: a) negar-lhe
provimento, se correta a decisão que não admitiu o recurso; b) negar seguimento ao recurso manifestamente
inadmissível, prejudicado ou em confronto com súmula ou jurisprudência dominante no tribunal; c) dar
provimento ao recurso, se o acórdão recorrido estiver em confronto com súmula ou jurisprudência dominante
no tribunal.”
18 Em qualquer uma dessas três hipóteses, é recorrível a decisão do relator. O recurso cabível é o agravo interno
(CPC/2015, art. 1.021). Conforme visto, este deve ser dirigido ao órgão competente para julgar o recurso
especial ou o extraordinário, no caso, o colegiado a que o relator encontra-se integrado. Aqui também incide a
possibilidade de o relator se retratar de sua decisão. Não havendo juízo de retratação, ele deverá levar o agravo
interno “a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em pauta” (CPC/2015, art. 1.021, § 2º), quando,
então, proferirá voto.
19 Eis o teor do art. 38, I, da Lei nº 9.096/1995: “O Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos
(fundo partidário) é constituído por: I – multas e penalidades pecuniárias aplicadas nos termos do Código
Eleitoral e leis conexas [...].”
7
Por ter sido expressamente especificado pela Constituição Federal, esse rol é
numerus clausus. Não se admite, pois, o acréscimo de novas hipóteses de cabimento
por via de interpretação, ainda que se entenda implícita no texto constitucional a
hipótese que se pretenda considerar.
Conquanto as hipóteses de cabimento do enfocado recurso ordinário tenham sido
expressamente explicitadas, sua fundamentação é livre, cabendo à parte indicá-la em
suas razões.
Decisão em única instância – as quatro primeiras hipóteses de cabimento
arroladas (a saber: inelegibilidade, expedição de diplomas, anulação de diplomas e
decretação de perda de mandato) inserem-se na competênciaoriginária dos tribunais
regionais eleitorais. Isso porque todas elas se referem a eleições federais e estaduais,
eleições essas que estão sob a jurisdição daqueles tribunais. Aqui, portanto, a decisão
do tribunal regional de que se recorre é tomada em única instância.
Decisão em única ou última instância? – já quanto às quatro últimas hipóteses de
cabimento assinaladas (a saber: denegação de habeas corpus, de mandado de
segurança, de habeas data e de mandado de injunção), pode haver dúvida quanto a
decisão do tribunal regional inserir-se em sua competênciarecursal ou originária. Isso
porque o citado inciso V, § 4º, art. 121 da Constituição Federal não distingue essas
duas situações. E essa distinção é feita no art. 105, II, a e b, da Constituição, que
dispõe sobre o recurso ordinário comum.1 À vista disso, podem-se divisar duas
possibilidades interpretativas.
A primeira interpretação argumenta que, como o inciso V, § 4º, art. 121 da CF
não faz distinção, nas quatro últimas hipóteses assinaladas a decisão do tribunal
regional eleitoral pode ser tomada tanto em única instância quanto em última
instância. Consequentemente, o recurso ordinário eleitoral será cabível: i) no caso de
competência originária, sendo a ação ajuizada diretamente no tribunal, o pedido for
por este denegado; ii) no caso de competência recursal, sendo a ação é ajuizada na
primeira instância, o tribunal julga o recurso interposto contra a sentença, denegando
o pedido. Nesse último caso, duas situações podem ocorrer: ii.a) o juiz eleitoral de 1º
grau julga procedente o pedido, e o tribunal reforma a sentença, denegando-o; ii.b) o
juiz de 1º grau julga improcedente o pedido, e o tribunal confirma a sentença,
mantendo a denegação. Lembre-se que o julgamento proferido pelo tribunal substitui
a decisão recorrida (CPC/2015, art. 1.008). Por isso, quando o tribunal reforma ou
confirma a sentença a quo, o que passa a existir é a decisão do tribunal.
A segunda interpretação argumenta que, no ponto, o inciso V, § 4º, art. 121 da
CF é incompleto, devendo ser colmatado pela aplicação analógica do art. 105, II, da
CF, que trata do recurso ordinário comum. No último dispositivo constitucional, a
alínea a trata de habeas corpus “decididos em única ou última instância”, enquanto a
alínea b cuida de “mandados de segurança decididos em única instância”, decisões
essas emanadas dos tribunais da justiça comum, a saber: TJs e TRFs. Nesse contexto –
relativamente ao recurso ordinário eleitoral –, tem-se que, à exceção da denegação de
habeas corpus, as demais matérias arroladas devem inserir-se na competência
originária dos tribunais regionais eleitorais. Seria, pois, preciso que tivessem sido por
eles decididas “em única instância”, e não, frise-se, em sede de julgamento de recurso
interposto contra sentença de 1º grau.2
Por essa segunda interpretação – no tocante a mandado de segurança –, não seria
cabível recurso ordinário para o TSE na hipótese de o tribunal regional negar
provimento a recurso interposto contra sentença de juiz eleitoral de 1º grau que
igualmente negou a ordem pleiteada no mandamus. Nesse caso, cabível seria o
recurso especial, se atendidos seus pressupostos.
De outro lado – no tocante ao habeas corpus –, o recurso ordinário seria cabível
contra decisão denegatória proferida “em única ou última instância”. Assim, por
exemplo, seria cabível recurso ordinário para o TSE na hipótese de o Tribunal
Regional negar provimento a recurso interposto contra sentença de juiz eleitoral de 1º
grau que igualmente negou a ordem postulada em habeas corpus.
No contexto do recurso ordinário eleitoral, a segunda interpretação é mais
adequada. Uma visão sistemática do ordenamento jurídico mostra que somente na
hipótese de habeas corpus é justificado tratamento diferenciado, isso sobretudo em
razão da fundamentalidade que reveste a liberdade de ir e vir.
Decisão denegatória – o cabimento de recurso ordinário eleitoral pressupõe a
existência de decisão denegatória emanada de tribunal regional eleitoral, ou seja:
denegação de habeas corpus, de mandado de segurança, de habeas data e de
mandado de injunção.
Cumpre, então, indagar: qual o recurso cabível se houver não denegação, mas sim
concessão da ordem ou do pedido? Nesse caso, havendo concessão da ordem
pleiteada ou do pedido formulado, a decisão respectiva não é irrecorrível, pois contra
ela pode-se interpor recurso especial eleitoral, desde que presentes os seus
pressupostos.
Por outro lado, por decisão denegatória deve-se compreender a final prolatada
pelo órgão colegiado. É que, para impugnar a decisão singular do relator do processo,
cabível é o agravo interno (CPC/2015, art. 1.021, c/c o art. 932, III, IV e V), que deve
ser dirigido ao órgão colegiado.
Ademais, a decisão denegatória compreende não só a que resolve o mérito da
causa (CPC/2015, art. 487), como também a que extingue o processo sem resolver-lhe
o mérito (CPC/2015, art. 485).
Fungibilidade – não há dúvida sobre o cabimento do recurso ordinário eleitoral
nas seguintes situações:
Por isso, em todas essas situações não se afigura viável a aplicação do princípio da
fungibilidade recursal caso seja interposto recurso especial eleitoral, de maneira a
admitir como recurso ordinário o especial indevidamente protocolado. O erro da
parte, em tal caso, afigura-se grosseiro.
O mesmo, porém, não se pode dizer se, no âmbito da competência recursal do
TRE, houver denegação de mandado de segurança, de habeas data e de mandado de
injunção. Porque aqui, como visto há pouco, pode haver dúvida acerca do recurso
cabível, ou seja, se ordinário eleitoral ou especial eleitoral. Por isso, nessa situação,
afigura-se viável a aplicação do princípio da fungibilidade recursal, de modo a admitir
o recurso que se entender cabível em lugar do que foi protocolado.
Prazo – a segunda figura do § 1º do art. 276 do Código Eleitoral contém regra
específica de prazo para interposição de recurso ordinário. O lapso aí fixado é de três
dias, coincidindo, pois, com a norma geral inscrita no art. 258 do mesmo diploma
legal.
A par disso, estabelece o § 8º do art. 96 da Lei nº 9.504/1997 que o prazo recursal
será de 24 horas quando o fato em exame for regido por essa norma e não houver
regra específica prevendo lapso diverso. Comparando as hipóteses de cabimento do
recurso ordinário com as disposições da Lei nº 9.504/1997, resulta que tal recurso só
seria cabível nas seguintes situações: arrecadação ou gasto ilícito de recurso em
campanha eleitoral (LE, art. 30-A), captação ilícita de sufrágio (LE, art. 41-A),
conduta vedada (LE, art. 73). Isso porque essas são as únicas situações previstas
naquele diploma legal abrangidas pelas quatro primeiras hipóteses de cabimento há
pouco arroladas (note-se que a primeira dessas hipóteses – inelegibilidade – deve ser
considerada em conjunto com a alínea j do inciso I do art. 1o da LC no 64/1990).
Ocorre que a própria LE já cuidou de estipular prazo recursal de três dias para tais
situações, consoante se vê nos §§ 3o, 4o e 13 dos arts. 30-A, 41-A e 73,
respectivamente.
Diante disso, pode-se inferir que o prazo para aviamento do recurso ordinário é
sempre de três dias.
A contagem deve observar o disposto no art. 224 do CPC/2015, sendo feita a
partir da publicação do acórdão.
Interposição – cumpre à parte interpor o recurso por petição dirigida ao presidente
do TRE, que deve ser acompanhada das respectivas razões. As razões podem ser
lançadas na própria petição recursal ou virem em peça separada, como é tradição de
nossa cultura forense. Por analogia, pode-se aplicar o disposto no art. 1.010 do novo
CPC, de modo que essa peça deve conter: “I – os nomes e a qualificação das partes; II
– a exposição do fato e do direito; III – as razões do pedido de reforma ou de
decretação de nulidade; IV – o pedido de nova decisão.” Quanto ao inciso I, basta
que sejam indigitados os nomes das partes, porque suas qualificações já constarão na
petição inicial.
Efeitos – o recurso ordinário poderá ou não apresentar efeito suspensivo,
conforme o conteúdo do acórdão por ele impugnado.
Em princípio, não terá efeito suspensivo em razão da regra geral inscrita no caput
do art. 257 do CE, segundo a qual “os recursos eleitorais não terão efeito
suspensivo”.3
Excepcionalmente, porém, o RO possuirá efeito suspensivo nas hipóteses previstas
no § 2º, art. 257 do CE (acrescido pela Lei nº 13.165/2015), que estabelece:
Art. 257. [...]. § 2º O recurso ordinário interposto contra decisão proferida por juiz eleitoral ou por tribunal
regional eleitoral que resulte em cassação de registro, afastamento do titular ou perda de mandato eletivo será
recebido pelo tribunal competente com efeito suspensivo.
Além disso: as questões de fato, não propostas no tribunal a quo, poderão ser
suscitadas no RO se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior
(CPC/2015, art. 1.014).
E mais: questões de ordem pública também podem ser conhecidas de ofício pelo
tribunal superior, o que se dá no âmbito do denominado efeito translativo do recurso.
Trâmite no Tribunal Regional Eleitoral – segundo dispõe o art. 277 do CE:
“Interposto recurso ordinário contra decisão do tribunal regional, o presidente
poderá, na própria petição, mandar abrir vista ao recorrido para que, no mesmo
prazo, ofereça as suas razões.” Juntadas as contrarrazões, “serão os autos remetidos ao
tribunal superior”.
Vê-se, assim, que no tribunal recorrido não há juízo de admissibilidade do
recurso ordinário. A admissibilidade só é examinada pelo tribunal ad quem.
Trâmite no Tribunal Superior Eleitoral – o trâmite do recurso ordinário no TSE é
regulado pelo art. 280 do CE. Portanto, é idêntico ao do recurso especial eleitoral,
cujo procedimento se exporá adiante.
1 Eis o teor desse dispositivo: “Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: [...] II – julgar, em recurso
ordinário: a) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos tribunais regionais federais ou
pelos tribunais dos estados, do Distrito Federal e territórios, quando a decisão for denegatória; b) os
mandados de segurança decididos em única instância pelos tribunais regionais federais ou pelos tribunais dos
estados, do Distrito Federal e territórios, quando denegatória a decisão [...].”
2 Por essa segunda interpretação – no tocante a mandado de segurança –, não seria cabível recurso ordinário
para o TSE na hipótese de o tribunal regional negar provimento a recurso interposto contra sentença de juiz
eleitoral de 1º grau que igualmente negou a ordem pleiteada no mandamus. Nesse caso, cabível seria o recurso
especial, se atendidos seus pressupostos. De outro lado – no tocante ao habeas corpus –, mercê sobretudo da
fundamentalidade da liberdade de ir e vir, o recurso ordinário seria cabível contra decisão denegatória
proferida “em única ou última instância”. Assim, por exemplo, seria cabível recurso ordinário para o TSE na
hipótese de o tribunal regional negar provimento a recurso interposto contra sentença de juiz eleitoral de 1º
grau que igualmente negou a ordem postulada em habeas corpus.
3 A negativa de efeito suspensivo também se dá no recurso ordinário comum. Tanto assim é que o § 2º do art.
1.027 do CPC/2015 determina que se lhe aplique o disposto em seu art. 1.029, § 5º. Esse último dispositivo
dispõe sobre a formulação de “pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a recurso
especial”. Sob o regime do CPC/1973, entendia-se que a interposição de recurso ordinário constitucional para o
STJ e STF produzia efeito suspensivo. Nesse sentido, vide Freitas Câmara (2012, p. 128).
4 Não se deve confundir a decisão proferida por TRE de “cassação de registro” com a decisão de “denegação de
pedido de registro de candidatura”. Nos dois casos, o recurso cabível é o ordinário. Todavia, só na primeira
situação (cassação de registro) o RO terá efeito suspensivo. Na segunda (denegação de registro), não se pode
falar em efeito suspensivo do RO simplesmente porque não há o que suspender; aqui, a só interposição do
recurso jamais teria o condão de ensejar o deferimento do pedido de registro de candidatura.
5 O art. 281, § 1º, do CE, determinava que o Presidente do TSE proferisse “despacho fundamentado, admitindo
ou não o recurso”. Assim, ao contrário do que ocorria no recurso ordinário interposto contra acórdão do TRE
e dirigido ao TSE, havia, na hipótese em apreço, expressa previsão legal de realização de juízo de
admissibilidade recursal pelo presidente do TSE. Ocorre que a realização desse juízo de admissibilidade não
mais faz sentido na nova sistemática processual. De ver-se que no recurso ordinário comum, o juízo de
admissibilidade também não é exigido, consoante se vê do § 3º do art. 1.028 do CPC/2015, in verbis: “Findo o
prazo referido no § 2º, os autos serão remetidos ao respectivo tribunal superior, independentemente de juízo de
admissibilidade.”
8
RECURSO ESPECIAL
[...] Não cabe recurso de decisão interlocutória proferida em processo de investigação judicial. Na falta de recurso
próprio, admite-se o uso do mandado de segurança. Agravo a que se nega provimento (TSE, AREspe nº 25.281/SP,
DJ 28.10.2005, p. 136).
[...] 1. Cabe mandado de segurança contra decisão interlocutória proferida em investigação judicial eleitoral, por
não existir recurso hábil para evitar eventual dano por ela causado. 2. Denega-se o mandado de segurança quando
não demonstrada a violação de direito líquido e certo. 3. Recurso improvido (TSE, RMS no 176/RJ, DJ 07.06.2002).
1. É incabível a interposição de recurso especial eleitoral contra decisão monocrática proferida por juiz membro de
tribunal regional eleitoral, haja vista a ausência de esgotamento das vias recursais na instância de origem. Súmula
281/STF e precedentes desta Corte. 2. Agravo regimental não provido. Decisão: O tribunal, por unanimidade,
desproveu o agravo regimental, nos termos do voto do relator (TSE, AgR-AI nº 242346/PA, DJ, t. 84, 06.05.2015, p.
141-142).
1. Nos termos do art. 276 do Código Eleitoral, o recurso especial deve desafiar decisão terminativa dos tribunais
regionais eleitorais. 2. Não cabe recurso especial de decisão monocrática de relator em processo de registro de
candidatura no âmbito de TRE. Incidência da Súmula nº 281/STF. Precedentes. 3. É indispensável o esgotamento
das instâncias ordinárias a fim de que seja possível a interposição de recurso dirigido a tribunal superior. 4.
Agravo regimental desprovido. Decisão: O tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo regimental, nos termos
do voto do relator (TSE, AgR-REspe nº 7194/MA, PSS 08.11.2012).
[...] 2. Verifico, em exame perfunctório, que o recurso especial não ultrapassa o juízo prévio de admissibilidade,
uma vez que foi interposto contra decisão monocrática. 3. Não assiste razão ao agravante quando afirma que
houve o exaurimento das vias recursais ordinárias com a oposição de embargos de declaração no e. tribunal de
origem, pois a decisão que rejeitou tais embargos foi também singular. 4. Conforme estabelece a Constituição
Federal, o recurso especial é cabível apenas contra decisões de tribunais de “única ou última instância”. Está,
portanto, condicionado ao esgotamento das vias recursais na instância de origem. Dessa forma, é inadequada a
interposição de recurso especial contra decisão monocrática do relator, passível de impugnação mediante agravo
regimental no próprio tribunal regional. Precedentes. 5. Agravo regimental desprovido. Decisão: O tribunal, por
unanimidade, desproveu o agravo regimental, nos termos do voto do relator (TSE, AgR-AC nº 2784/BA, DJe
07.10.2008, p. 12).
1. Incabível recurso especial centrado exclusivamente em violação a norma constitucional. De igual modo,
inadmissível a utilização da via especial para combater decisão singular contra a qual era cabível recurso ordinário
no tribunal de origem. 2. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao qual se nega provimento
(STJ, EDcl no Ag nº 1314441/SP, 4ª T., Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, DJe 22.06.2015).
Em igual sentido no STJ: AgRg no AREsp nº 569380/PE, 3ª T., Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 19.06.2015;
EDcl no Ag nº 1314441/SP, AgRg no AREsp nº 647073/SP, 1ª T., Rel. Min. Regina Helena Costa, DJe 01.07.2015.
8.1.3 Prequestionamento
Para que se abra a via recursal excepcional e, portanto, do recurso especial é
imprescindível que a questão jurídica sobre a qual houve o inconformismo da parte
tenha sido objeto de pronunciamento do tribunal a quo.
Ocorre que – no acórdão recorrido –, a questão jurídica objeto do inconformismo
pode encontrar-se de modo expresso ou implícito. Expresso, quando tiver sido
exprimida de forma literal. Implícito, quando, sem ter sido pronunciada literalmente,
foi inequivocamente tratada.
Ademais, admite-se que a questão jurídica se apresente fictamente no acórdão
recorrido. Isso poderá ocorrer se o acórdão for omisso e, interpostos embargos de
declaração, estes forem rejeitados pelo órgão colegiado do tribunal, que afirma
inexistir omissão. Em tal caso, “consideram-se incluídos no acórdão os elementos que
o embargante suscitou, para fins de prequestionamento” (CPC/2015, art. 1.025; STF,
Súmula 356).
O prequestionamento não resulta da circunstância de a matéria haver sido arguida pela parte recorrente. A
configuração do instituto pressupõe debate e decisão prévios pelo colegiado, ou seja, emissão de entendimento
sobre o tema. O procedimento tem como escopo o cotejo indispensável a que se diga do enquadramento do
recurso especial no permissivo constitucional. Se o tribunal de origem não adotou entendimento explícito a
respeito do fato jurígeno veiculado nas razões recursais, inviabilizada fica a conclusão sobre a violência ao preceito
evocado pelo recorrente (TSE, AgR-REspe no 30416/RJ, DJe, t. 58, 25.03.2011, p. 46).
Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins de prequestionamento,
ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados caso o tribunal superior considere
existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade.
Assim, caso o tribunal ad quem considere realmente existente o vício arguido nos
embargos de declaração (ou seja, o erro, a omissão, a contradição ou a obscuridade) –
apesar de o tribunal a quo não os ter vislumbrado –, para fins de prequestionamento,
os elementos suscitados nos embargos consideram-se incluídos no acórdão. Presume-
se, portanto, que estejam presentes no acórdão.
Segundo consta da Exposição de Motivos do CPC/2015, “se os embargos de
declaração são interpostos com o objetivo de prequestionar a matéria objeto do
recurso principal, e não são admitidos, considera-se o prequestionamento como
havido, salvo, é claro, se se tratar de recurso que pretenda a inclusão, no acórdão, da
descrição dos fatos.”
Já era essa a compreensão do Supremo Tribunal Federal acerca dessa matéria.
Para o Supremo, a só interposição de embargos declaratórios é bastante para que a
questão jurídica seja havida por prequestionada, ainda que o vício arguido persista, i.
e., ainda que o tribunal a quo rejeite os embargos. Essa conclusão pode ser extraída a
contrario sensu da Súmula 356, que dispõe: “O ponto omisso da decisão, sobre o qual
não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso
extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento.” Interpretando sua
própria súmula, asseverou o Excelso Pretório:
I. RE: prequestionamento: Súmula 356. O que, a teor da Súmula 356, se reputa carente de prequestionamento é o
ponto que, indevidamente omitido pelo acórdão, não foi objeto de embargos de declaração; mas, opostos esses, se,
não obstante, se recusa o tribunal a suprir a omissão por entendê-la inexistente, nada mais se pode exigir da parte,
permitindo-se--lhe, de logo, interpor recurso extraordinário sobre a matéria dos embargos de declaração e não
sobre a recusa, no julgamento deles, de manifestação sobre ela [...] (STF, RE 334279/PA, 1a Turma, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, DJ 20.08.2004, p. 50).
Dúvida não há acerca do viés pragmático dessa solução, certamente mais afinada
com a economia processual e a celeridade da prestação jurisdicional. Na linguagem da
Exposição de Motivos do CPC/2015, contribui para a simplificação do processo e
melhoria de seu rendimento.
Não se pode, entretanto, deixar de remarcar que ela implica supressão de
instância. Porque a mera veiculação da questão nos embargos de declaração não
supre a ausência de manifestação do órgão jurisdicional, não supre a exigência
constitucional de haver decisão do órgão tribunal.10
[..] 2. A atuação jurisdicional do TSE, na via do recurso especial, está restrita ao exame dos fatos que foram
considerados pelas cortes regionais eleitorais, portanto não é possível alterar o quadro fático a partir de fato
superveniente informado depois de interposto o recurso especial. 3. A alegação de que a matéria poderia ser
considerada de ordem pública não possibilita seu exame em recurso de natureza extraordinária, por lhe faltar o
necessário prequestionamento. Agravo regimental a que se nega provimento (TSE, AgRg-REspe nº 14458/MT, DJe
20.05.2013, p. 39-40).
[...] 3. Mesmo as matérias de ordem pública devem ser prequestionadas para que possam ser conhecidas na
instância especial [...] (TSE, ED-AgR-
-REspe no 4198006/RJ, DJe, t. 231, 02.12.2010, p. 64-65).
[...] 2. Segundo a firme jurisprudência do STJ, na instância extraordinária, as questões de ordem pública apenas
podem ser conhecidas caso atendido o requisito do prequestionamento. Aplica-se, no caso, o óbice da Súmula
168/STJ. 3. Agravo regimental não provido (STJ, AgRg nos EREsp nº 999342/SP, Corte Especial, Rel. Min. Castro
Meira, DJe 1º.02.2012.
[...] 3. O conhecimento de matéria de ordem pública, em sede de recurso especial, está vinculado ao preenchimento
dos pressupostos processuais necessários ao conhecimento do referido recurso, os quais não se encontram
presentes na hipótese dos autos. Precedentes. 4. Agravo regimental improvido (STJ, AgRg no Ag nº 964320/MG, 5ª
T., Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe 12.05.2008).
Tal posição, no entanto, pode não prevalecer sob o CPC de 2015. Isso em razão
do disposto nos arts. 485, § 3º, e 1.034 do novo Código Processual. Eis o teor desses
dispositivos:
Art. 485. [...]. § 3º O juiz conhecerá de ofício da matéria constante dos incisos IV, V, VI e IX, em qualquer tempo e
grau de jurisdição, enquanto não ocorrer o trânsito em julgado.
Art. 1.034. Admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, o Supremo Tribunal Federal ou o Superior
Tribunal de Justiça julgará o processo, aplicando o direito.
Parágrafo único. Admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial por um fundamento, devolve-se ao
tribunal superior o conhecimento dos demais fundamentos para a solução do capítulo impugnado.
Significativas foram as alterações, no que tange aos recursos para o STJ e para o STF. O novo Código contém regra
expressa, que leva ao aproveitamento do processo de forma plena, devendo ser decididas todas as razões que
podem levar ao provimento ou ao improvimento do recurso.
[...] 1. Contra acórdão de tribunal regional eleitoral somente cabe recurso para o Tribunal Superior Eleitoral,
mesmo que nele se discuta matéria constitucional. 2. É o que se extrai do disposto no art. 121, caput, e seu § 4º, inc.
I, da Constituição Federal de 1988, e nos artigos 22, inc. II, e 276, I e II, do Código Eleitoral (Lei n. 4.737, de
15.07.1965). 3. No âmbito da Justiça eleitoral, somente os acórdãos do Tribunal Superior Eleitoral é que podem ser
impugnados, perante o STF, em recurso extraordinário (arts. 121, § 3º, e 102, lII, a, b e c, da CF). 4. RE inadmitido.
Precedentes. 5. Agravo improvido (STF, AgRg no Ag no 164.491/MG, 1a T., Rel. Min. Sydney Sanches, DJ 22.03.1996).
[...] É firme a orientação desta corte no sentido de que a interposição de recurso extraordinário contra acórdão de
tribunal regional eleitoral constitui erro grosseiro, inviabilizando a aplicação do princípio da fungibilidade
recursal. Hipótese em que demonstrado o equívoco do agravante em querer dar a recurso extraordinário
interposto de decisão do TRE o mesmo tratamento que é conferido aos extraordinários manejados contra
acórdãos de tribunais estaduais e regionais federais, quando envolvida questão constitucional. Agravo interno a
que se nega provimento. Decisão: O tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo regimental, nos termos do
voto do relator (TSE, AgR-AI no 286893/SP, DJe, t. 183, 23.09.2011, p. 22).
Daí dispor o art. 121, § 4o, I, da Lei Maior ser cabível o recurso especial eleitoral
diante de decisão de tribunal regional proferida “contra disposição expressa desta
Constituição”. Malgrado a matéria impugnada tenha natureza constitucional, o certo
é que o recurso previsto é o especial eleitoral.
É a própria Constituição que impõe que a decisão recorrida infrinja “disposição
expressa” de seu texto. Assim, se as ofensas arguidas forem implícitas ou subjacentes
ao texto constitucional, bem como se ocorrerem de modo indireto, oblíquo ou reflexo,
não é autorizada a abertura da via especial. Nesse sentido: STF, AI-AgR nº
648688/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe 11.04.2008; STF, ARE nº 676182/MS,
Rel. Min. Luiz Fux, DJe 27.06.2012.
Observe-se porém que, a par da ofensa indireta ou reflexa à Constituição, se
também houver ofensa à lei, caberá o recurso especial sob o fundamento de ofensa à
lei, conforme se verá na sequência.
Conquanto o presente recurso se funde em questão constitucional, não é preciso
que nas razões, em preliminar, se faça a demonstração da “repercussão geral das
questões constitucionais discutidas no caso”. Isso porque tal requisito é pertinente ao
recurso extraordinário, nos termos do § 3o do art. 102 da Lei Maior.
Aresto do Supremo Tribunal Federal versando matéria eleitoral pode ser invocado
como paradigma para demonstração de divergência? Essa questão foi respondida
positivamente pela corte superior ao julgar o AREspe no 9606/ SP (DJ 03.09.1993, p.
17.808). No voto de desempate, argumentou o então Presidente, Ministro Sepúlveda
Pertence, que na verdade o STF possui jurisdição eleitoral, representando a última
instância da Justiça eleitoral. Tanto assim que é dotado de “competência ordinária em
matéria eleitoral”, o que é demonstrado pela previsão de recurso ordinário em habeas
corpus e em mandado de segurança, impetrados no STF contra decisões originárias da
Corte Superior Eleitoral. Aduziu, ainda:
E, mesmo quando conhece recurso extraordinário, aí restrito à matéria constitucional, diz a palavra definitiva
sobre legislação eleitoral sobre Direito eleitoral, lato sensu, que, ainda quando veiculado pela Constituição, se
compreende, a meu ver, na menção do Código à lei eleitoral.
Assim, no tocante à demonstração do dissídio jurisprudencial, pode ela ser feita: (i)
por certidão expedida pelo tribunal de origem do aresto cotejado; (ii) por cópia
autenticada do acórdão; (iii) pela citação do repositório de jurisprudência, oficial ou
credenciado, inclusive em mídia eletrônica, em que tiver sido publicada a decisão
divergente; (iv) pela reprodução de julgado disponível na rede mundial de
computadores (Internet), com indicação da respectiva fonte.
Quanto aos trechos ou circunstâncias configuradoras da divergência, está claro na
última parte da transcrita regra legal a necessidade de proceder a efetivo confronto dos
julgados recorrido e paradigma, não bastando a mera transcrição de ementas ou a só
reprodução de esparsos trechos de votos. É preciso, “em qualquer caso, mencionar as
circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados”. Nesse
sentido, é firme a jurisprudência: “[...] 2. A simples transcrição de ementa de
julgados, sem que seja evidenciada a divergência mediante cotejo analítico e
demonstração da similitude fática, não configura a divergência jurisprudencial [...]”
(TSE, REspe no 114/SC, DJe, t. 106, 06.06.2012, p. 32-33).
8.2 PRAZO
O art. 276, § 1o, primeira figura, do Código Eleitoral prevê regra específica de
prazo para interposição de recurso especial. O prazo aí fixado é de três dias,
coincidindo com a norma geral inscrita no art. 258 do mesmo código. Esse mesmo
lapso temporal consta do art. 35, § 1o, do RITSE.
Conforme já ressaltado, o § 8o do art. 96 da Lei no 9.504/1997 prevê o prazo
recursal de 24 horas sempre que a demanda for regida por essa norma e ela própria
não contiver regra específica excepcionando tal lapso temporal. Diante dessa premissa
legal, correta se afiguraria a conclusão de que, nas hipóteses previstas na referida lei,
também o prazo para interposição de recurso especial é de 24 horas, salvo previsão
diversa nela mesma contida.
Não foi essa, entretanto, a conclusão firmada na jurisprudência. Pacificou-se a
interpretação segundo a qual o “prazo para interposição de recurso especial eleitoral
nas representações regidas pela Lei no 9.504/1997 é de três dias [...]” (TSE, AgR-
REspe no 32743/RN, DJe, t. 120, 27.06.2011, p. 23).
Tal interpretação é respaldada pelas resoluções do Tribunal Superior que
regulamentam eleições. À guisa de exemplo, citem-se: art. 37 da Res. nº 23.462/2015;
art. 35, caput, da Res. no 23.367/2011; art. 34, caput, da Res. no 23.193/2009; art. 21,
caput, da Res. no 22.624/2007.
Como exceção a essa regra geral tem-se apenas a hipótese de recurso especial
interposto em demanda envolvendo direito de resposta. Nesse caso, o prazo recursal é
de 24 horas, conforme prescreve expressamente o § 5o do art. 58 da Lei no
9.504/1997, in verbis:
Da decisão sobre o exercício do direito de resposta cabe recurso às instâncias superiores, em 24 horas da data de
sua publicação em cartório ou sessão, assegurado ao recorrido oferecer contrarrazões em igual prazo, a contar da
sua notificação.
Direito de resposta. Recurso especial. Intempestividade. Por se tratar de direito de resposta, nos termos do § 5o do
art. 58 da Lei no 9.504/1997, o recurso especial deve ser interposto no prazo de 24 horas, ainda que o acórdão
recorrido tenha por objeto pretensão executória. Agravo regimental não provido (TSE, AgR-REspe no 362996/RJ,
DJe, t. 237, 16.12.2011, p. 58).
8.3 EFEITOS
Dada sua natureza excepcional, o recurso especial não é dotado de efeito
suspensivo (CPC/2015, art. 995).
Excepcionalmente, para obter efeito suspensivo, há mister que o recorrente o
pleiteie ao órgão judicial competente. Sobre isso, dispõe o § 5º do art. 1.029 do
CPC/2015 que o pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso excepcional
poderá ser formulado por requerimento dirigido:
Recurso especial. Revisão da prova × enquadramento jurídico. No julgamento do recurso especial, de nítida
natureza extraordinária, não cabe o reexame dos elementos probatórios decorrentes da instrução processual, com
o que não se confunde a busca do enquadramento jurídico dos fatos constantes do acórdão impugnado [...] (TSE,
REspe no 25247/PE, DJ, v. 1, 16.09.2005, p. 171).
Art. 278. Interposto recur-so especial Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o
contra decisão do tribunal regional, a recorrido será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de quinze dias,
pe-tição será juntada nas 48 horas findo o qual os autos serão conclusos ao presidente ou ao vice-presi-dente do
seguintes e os autos conclusos ao tribunal recorrido, que deverá:
presidente dentro de 24 horas. I – negar seguimento:
§ 1o O presidente, dentro em 48 horas a) a recurso extraordinário que discuta questão consti-tucional à qual o
do recebi-mento dos autos conclu-sos, Supremo Tribunal Federal não tenha reconhecido a existência de repercussão
proferirá despacho fundamentado, geral ou a recurso extraordinário interposto contra acórdão que esteja em
admitindo ou não o recurso. conformidade com entendimento do Supre-mo Tribunal Federal exarado no
regime de repercussão geral;
§ 2o Admitido o recurso, será aberta b) a recurso extraordinário ou a recurso especial inter-posto contra acórdão
vista dos autos ao recorrido para que, no que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal
mesmo prazo, apresente as suas razões. ou do Su-perior Tribunal de Justiça, respectivamente, exarado no
regime de julgamento de recursos repetitivos;
§ 3o Em seguida serão os autos conclusos II – encaminhar o processo ao órgão julgador para rea-lização do juízo de
ao presi-dente, que mandará reme-tê- retratação, se o acórdão recorrido divergir do entendimento do Supremo
los ao tribunal superior. Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça exarado, conforme o caso,
nos regimes de repercussão geral ou de recursos repetitivos;
III – sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo
ainda não decidida pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de
Justiça, conforme se trate de matéria constitucional ou infra-constitucional;
IV – selecionar o recurso como representativo de con-trovérsia constitucional
ou infraconstitucional, nos ter-mos do § 6º do art. 1.036;
V – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, re-meter o feito ao
Supremo Tribunal Federal ou ao Supe-rior Tribunal de Justiça, desde que:
a) o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de repercussão geral
ou de julgamento de recursos re-petitivos;
b) o recurso tenha sido selecionado como representati-vo da controvérsia; ou
c) o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retra-tação.
§ 1º Da decisão de inadmissibilidade proferida com fun-damento no inciso V
caberá agravo ao tribunal superior, nos termos do art. 1.042.
§ 2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e III caberá agravo
interno, nos termos do art. 1.021.
A só leitura dos dois preceitos evidencia relevantes diferenças entre eles. Neste
passo, importa destacar que, enquanto pelo art. 278 do CE só é aberta vista ao
recorrido para apresentação de contrarrazões depois da admissão do recurso por ato
do presidente do tribunal, pelo art. 1.030, caput, do CPC/2015 a vista lhe é aberta
pelo próprio servidor da secretaria do tribunal (CPC/2015, art. 203, § 4o) tão logo a
petição recursal seja protocolada e acostada aos autos – portanto, antes do ato de
admissão do recurso. Ademais, o art. 1.030 especifica diversas providências que
poderão ser adotadas após a apresentação de contrarrazões. Existem, pois, diferenças
de percurso dos recursos especial comum e eleitoral em seus ulteriores
desdobramentos, diferenças essas que podem refletir no exercício do direito de
defesa.
Em regra, o recurso especial eleitoral submete-se a um primeiro juízo de
admissibilidade no tribunal eleitoral recorrido e, depois, a um segundo no tribunal
superior. Excepcionalmente, porém, não há juízo de admissibilidade no tribunal
recorrido em processo atinente a registro de candidatura. Tal exceção é prevista no
art. 12, parágrafo único, da LC no 64/1990, que impera: “Apresentadas as
contrarrazões, serão os autos imediatamente remetidos ao Tribunal Superior
Eleitoral.” Logo, cuidando-se de registro de candidatura, o juízo de admissibilidade
do recurso especial é realizado exclusivamente pelo tribunal ad quem. A exceção se
funda na urgência que há no julgamento dos pedidos de registro de candidatura e
respectivas impugnações.
A admissão ou não do REspe deve se dar por “despacho fundamentado” (CE, art.
278, § 1o) em até 48 horas após a conclusão dos autos ao presidente do tribunal
recorrido. A fundamentação do despacho pode ser sucinta.
Ao examinar a admissibilidade, é fundamental que se averigue se as hipóteses de
cabimento estão presentes. Por vezes, tal análise implica adentrar ao próprio mérito
do recurso especial. Mas isso não significa que o tribunal regional invada a
competência do TSE, pois tal verificação é própria e inerente ao exame de
admissibilidade. Assim, inexiste usurpação de competência quando, ao realizar juízo
de admissibilidade, o tribunal a quo adentra ao mérito recursal e excede o exame dos
requisitos extrínsecos de admissibilidade do recurso especial.
Recurso de natureza extraordinária. Juízo primeiro de admissibilidade. Alcance do crivo. Tratando-se de recurso
de natureza extraordinária, interposto a partir de alegada vulneração a lei, é indispensável o exame de fundo. A um
só tempo encerra ele pressuposto específico de recorribilidade e mérito do próprio conflito a ser dirimido uma vez
processado o recurso [...]. O cotejo indispensável a que se diga enquadrado o recurso especial em um dos
permissivos próprios faz-se a partir das premissas fáticas do acórdão proferido, sendo defeso proceder-se a exame
da prova para substituí-las. Decisão: O tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo, nos termos do voto do
relator (TSE, AI no 5646/SP, DJ 28.10.2005, p. 137).
[...] a nova redação do art. 36, §§ 6o e 7o, do RITSE está em consonância com a do art. 557 do Código de Processo
Civil [de 1973; vide art. 932 do CPC de 2015]. Além disso, tem entendido [a Corte Superior Eleitoral] que a
aplicação desses dispositivos regimentais prestigia os princípios da economia e celeridade processuais que
norteiam o Direito eleitoral [...].
O art. 36, § 7o, do Regimento Interno desta corte autoriza o relator a apreciar o mérito do recurso e dar-lhe
provimento, se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou jurisprudência dominante do
Supremo Tribunal Federal ou de tribunal superior, mesmo que essa decisão singular implique anulação de eleição
ou perda de diploma. A parte irresignada com a decisão poderá interpor agravo regimental, este sim – e é o que
estamos fazendo – deverá ser realizado em conformidade com o disposto no art. 19, parágrafo único, do Código
Eleitoral, vale dizer, com a composição plena da corte (TSE, AgREspe no 19561/MA, DJ, v. 1, 10.05.2002, p. 184,
excerto do voto da relatora).
Em igual sentido, vide TSE, AAg no 5282/SP, DJ, v. 1, 03.06.2005, p. 141).
Conforme assinalado alhures, o relator pode se retratar de sua decisão. Essa
previsão também consta do § 9o do art. 36 do RITSE.
Havendo ou não retratação, a decisão singular do relator poderá ser impugnada
por agravo interno, que deve ser endereçado ao órgão colegiado do tribunal superior.
O agravo em tela deve ser interposto no prazo de três dias (CPC/2015, art. 1.021;
RITSE, art. 36, § 8o).23
Inexiste a figura do revisor no recurso especial. A esse respeito, o art. 18 do RITSE
estabelece que “os processos serão vistos pelo relator, sem revisão, podendo qualquer
dos juízes, na sessão do julgamento, pedir vista dos au-tos”. Essa assertiva é
corroborada pelo art. 24 do mesmo Regimento, o qual estabelece a ordem em que os
votos devem ser tomados após o debate entre os julgadores; assim, encerrada a
discussão, “o presidente tomará os votos, em primeiro lugar do relator e, a seguir, dos
demais membros do tribunal, na ordem da precedência regimental, a partir do
relator, votando em último lugar em todas as matérias”. Como se vê, esse dispositivo
não faz alusão ao revisor, cujo voto, em tese, deve ser proferido logo após o do relator.
Em tal quadro, se o relator der seguimento ao recurso, serão os autos
encaminhados à secretaria para inclusão na pauta de julgamento do tribunal.
Conforme estabelece o art. 12 do CPC/2015, os tribunais devem obedecer
preferencialmente à ordem cronológica de conclusão dos autos para julgamento.24
Ademais, a “lista de processos aptos a julgamento deverá estar permanentemente à
disposição para consulta pública em cartório e na rede mundial de computadores” (§
1º).
Na sessão de julgamento, o relator deverá ler seu relatório. Em seguida, “cada
uma das partes poderá, no prazo improrrogável de dez minutos, sustentar oralmente
as suas conclusões” (CE, art. 272, caput; RITSE, art. 23, caput, primeira parte, art. 36,
§ 5o).25
Atuando no feito como custos legis, o Procurador-Geral Eleitoral terá o mesmo
tempo de sustentação oral deferido às partes, devendo manifestar-se depois delas.
Observe-se que mesmo nos recursos interpostos por órgão do Ministério Público
Eleitoral de 2o grau (isto é, Procuradoria Regional Eleitoral), funcionará o PGE como
fiscal da lei – o que não o impede de recorrer do acórdão, nos termos dos arts. 177,
179 e 996, todos do novo CPC.
Diferentemente, tendo a demanda sido ajuizada pelo próprio PGE – o que ocorre
nas hipóteses de competência originária do tribunal superior –, sua posição no
processo é a de parte-autora. Terá, portanto, os mesmos direitos, prerrogativas e
deveres da parte. Em tal caso, na sessão de julgamento no tribunal, fará o PGE
sustentação oral em primeiro lugar.
O Tribunal Superior delibera por maioria de votos, em sessão pública, com a
presença da maioria de seus membros (CE, art. 19, caput). Todavia, em certas
hipóteses, a deliberação deve contar com a presença de todos os ministros. É o que
dispõe o parágrafo único do art. 19 do CE:
As decisões do tribunal superior, assim na interpretação do Código Eleitoral em face da Constituição e cassação de
registro de partidos políticos, como sobre quaisquer recursos que importem anulação geral de eleições ou perda de
diplomas, só poderão ser tomadas com a presença de todos os seus membros. Se ocorrer impedimento de algum
juiz, será convocado o substituto ou o respectivo suplente.
1. As decisões do Tribunal Superior Eleitoral que versem matéria constitucional só poderão ser tomadas com a
presença de todos os seus membros (CE, art. 19, parágrafo único). 2. No caso, examinada a violação ao art. 14, § 4o,
da CF, impõe-se reconhecer a nulidade do julgamento por não ter sido observada a exigência da composição plena
do colegiado para apreciar o tema. 3. Embargos declaratórios providos a fim de declarar a insubsistência do
acórdão embargado. Decisão: O tribunal, por unanimidade, acolheu os embargos de declaração, com efeitos
modificativos, para anular o acórdão, nos termos do voto do relator (TSE, ED-REspe no 30465/BA, PSS
11.10.2008).
i) o acórdão divergente é mantido, caso em que o recurso especial será remetido ao tribunal superior para que este
o aprecie (CPC/2015, art. 1.041, caput). Nesse caso, poderá o relator, em decisão monocrática, negar ou dar
provimento ao recurso especial, nos termos do art. 932, IV, b, e V, b, do CPC/2015;28
ii) há retratação e alteração do acórdão recorrido, caso em que, determina o § 1º do art. 1.041 do CPC/2015, sejam
resolvidas “as demais questões ainda não decididas cujo enfrentamento se tornou necessário em decorrência da
alteração”;
iii) se o recurso especial versar sobre outras questões, diversas daquelas já assentadas no acórdão paradigma, serão
os autos enviados ao presidente do tribunal para que este, caso o admita, determine sua remessa “ao tribunal
superior para julgamento das demais questões” (CPC/2015, art. 1.041, § 2º).
1 Ante determinadas circunstâncias, os citados dispositivos autorizam o relator a não conhecer de recurso,
negar-lhe ou dar-lhe provimento.
2 Sobre as funções da Justiça eleitoral, vide o meu Direito eleitoral. 11. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas,
2015, p. 69 e ss.
3 É pacífico o entendimento de que as decisões de caráter estritamente administrativo dos TREs não são
impugnáveis por recurso especial. Nesse sentido: “Recurso especial. Decisão de natureza administrativa do
TRE/RS. Não cabe ao Tribunal Superior Eleitoral apreciar recurso especial contra decisão de natureza
estritamente administrativa dos tribunais regionais. Recurso não conhecido. Decisão: Não conhecido o
especial. Decisão unânime” (TSE, REspe nº 11405/RS, DJ 16.08.1996, p. 28133). Exemplos de decisões desse
gênero: (i) concessão de auxílio-alimentação, auxílio-creche, auxílio-transporte a servidor municipal ou
estadual requisitado pela Justiça eleitoral (TSE, REspe nº 25390/PI, DJ 19.03.2007, p. 176); (ii) alteração de
função de confiança (TSE, REspe nº 25836/PB, DJ 19.03.2007, p. 178); (iii) contrato e licitação para aquisição de
produtos ou serviços; (iv) conflitos decorrentes da realização de concurso público; (v) aplicação de sanção
disciplinar a servidores; (vi) procedimento de tomada de contas especial, exceto quanto a contas prestadas por
partido político (TSE, AgR-AI nº 13030/RJ, DJe, t. 180, 25.09.2014, p. 35).
4 São exemplos de decisões de natureza administrativo-eleitoral emanadas de TRE: (i) prestação de contas de
campanha eleitoral; (ii) pedido de registro de candidatura; (iii) decisão em procedimento de tomada de contas
especial realizada pela Justiça eleitoral quanto a contas partidárias (TSE, AgR-AI nº 13030/RJ, DJe, t. 180,
25.09.2014, p. 35).
5 Os atos ou pronunciamentos decisórios dos órgãos judiciais estão enumerados nos arts. 203 e 204 do
CPC/2015, sendo eles: sentença, decisão interlocutória, despacho e acórdão. Sentença “é o pronunciamento por
meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487 [do CPC/2015], põe fim à fase cognitiva do
procedimento comum, bem como extingue a execução” (CPC/2015, art. 203, § 1º) Decisão interlocutória “é todo
pronunciamento judicial de natureza decisória que não se enquadre no § 1º”, ou seja, que não seja sentença
(CPC/2015, art. 203, § 2º). Despacho são “todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no processo, de
ofício ou a requerimento da parte” (CPC/2015, art. 203, § 3º). Por fim, acórdão “é o julgamento colegiado
proferido pelos tribunais” (art. 204). No tocante ao despacho, tradicionalmente entende-se que ele não possui
carga decisória. Contra ele, “não cabe recurso” (CPC/2015, art. 1.001). No entanto, no vigente CPC/2015,
autores como Wambier et al. (2015, p. 371) sustentam que o despacho que não seja de mero expediente, ou seja,
de mera movimentação processual (que, inclusive, é praticado por serventuário da Justiça) pode possuir
“conteúdo discretamente decisório”.
6 O termo demanda é aqui compreendido como o exercício ou a concretização do direito abstrato de ação, o que
se dá com o protocolo da petição inicial em que se postula um provimento judicial. São elementos que
individualizam a demanda: partes, causa de pedir e pedido. Não se deve, pois, confundir, no texto, “causa” com
“causa de pedir”, pois essa última é um dos elementos caracterizadores (e não sinônimo) da demanda.
7 Há vários dispositivos no CPC/2015 em que o vocábulo causa é empregado como sinônimo de demanda, por
exemplo: art. 12, IX (“a causa que exija urgência no julgamento [...]”), art. 24, parágrafo único (“A pendência de
causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença judicial estrangeira quando
exigida para produzir efeitos no Brasil”), art. 42 (“As causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos
limites de sua competência, ressalvado às partes o direito de instituir juízo arbitral, na forma da lei”), art. 51
(“É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autora a União”) etc.
8 No CPC/1973, o recurso especial contra decisão interlocutória ficava retido nos autos por força do § 3º do art.
542 daquele Código, que dispunha: “O recurso extraordinário, ou o recurso especial, quando interpostos
contra decisão interlocutória em processo de conhecimento, cautelar, ou embargos à execução ficará retido nos
autos e somente será processado se o reiterar a parte, no prazo para a interposição do recurso contra a decisão
final, ou para as contrarrazões.” Esse dispositivo era aplicável ao processo jurisdicional eleitoral: TSE, MC nº
1311/SP, DJ 21.06.2004; Ag. nº 4588/SP, DJ 15.10.2004. A não impugnação de decisão interlocutória implicava
sua preclusão, por isso a parte tinha de interpor o recurso especial, sob pena de não poder rediscuti-la em
outra oportunidade.
9 Não era essa a interpretação dos tribunais superiores, que seguia o entendimento consolidado na Súmula 320
do STJ, in verbis: “A questão federal somente ventilada no voto vencido não atende ao requisito do
prequestionamento.”
10 O citado art. 1.025 do CPC/2015 desautoriza o entendimento do Superior Tribunal de Justiça a respeito do
problema exposto, entendimento esse expresso na Súmula 211 daquele sodalício, que reza: “Inadmissível
recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada
pelo Tribunal a quo.” À luz dessa súmula, não é suficiente a só interposição de embargos declaratórios, sendo
condição sine qua non do recurso especial a real e efetiva apreciação da matéria pelo tribunal recorrido. O
prequestionamento exsurge do julgamento do órgão jurisdicional colegiado, e não da só interposição de
embargos declaratórios ou das razões expostas nessa peça processual. Em outros termos, o debate da questão
deve ficar evidenciado no acórdão do tribunal e não na argumentação presente nas razões dos embargos; a
questão, enfim, deve ser decidida pelo órgão jurisdicional colegiado. Nessa linha de pensamento, se, mesmo
depois de provocado por meio de embargos declaratórios, o tribunal perseverar em não apreciar a questão
cuja omissão se questiona, poderá a parte ingressar com recurso especial com fulcro no inciso I (in fine), § 4º,
do art. 121 da Constituição Federal, arguindo a infringência do art. 275 do Código Eleitoral. Note-se que o
objeto desse REspe circunscreve-se tão só a discutir a violação do art. 275 do CE; de modo que o TSE apreciaria
apenas se o tribunal a quo infringiu ou não esse dispositivo legal ao julgar os embargos de declaração, ou seja,
se apreciou ou não o alegado vício. O provimento do pedido formulado nesse REspe implica a anulação do
acórdão regional que concluiu pela inexistência da alegada omissão e, por consequência, rejeitou os embargos.
Uma vez anulado o acórdão prolatado nos embargos declaratórios, os autos devem ser devolvidos à instância
regional para que o julgamento seja retomado, apreciando-se a questão cuja omissão foi antes alegada. Só após
essa apreciação é que se poderá afirmar a existência de prequestionamento. Findo o novo julgamento dos
embargos de declaração e publicado o respectivo acórdão, reinicia-se a contagem do prazo para interposição
de recurso especial, desta feita contra o acórdão principal (integrado pelo acórdão dos embargos). Até essa
altura, tal prazo permaneceu interrompido por força do § 5º do art. 275 do CE.
11 Eis o teor do § 3º, art. 267, CPC/1973: “O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição,
enquanto não proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e Vl; todavia, o réu que a não
alegar, na primeira oportunidade em que lhe caiba falar nos autos, responderá pelas custas de retardamento.”
12 Reza o art. 1.031 do CPC/2015: “Na hipótese de interposição conjunta de recurso extraordinário e recurso
especial, os autos serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça. § 1º Concluído o julgamento do recurso
especial, os autos serão remetidos ao Supremo Tribunal Federal para apreciação do recurso extraordinário, se
este não estiver prejudicado. § 2º Se o relator do recurso especial considerar prejudicial o recurso
extraordinário, em decisão irrecorrível, sobrestará o julgamento e remeterá os autos ao Supremo Tribunal
Federal. § 3º Na hipótese do § 2º, se o relator do recurso extraordinário, em decisão irrecorrível, rejeitar a
prejudicialidade, devolverá os autos ao Superior Tribunal de Justiça para o julgamento do recurso especial.”
13 Frise-se que o texto alude ao voto vencido constante do acórdão invocado como paradigma. Vale lembrar que
o art. 941, § 3º, do CPC/2015 determina que o voto vencido seja “declarado e considerado parte integrante do
acórdão para todos os fins legais, inclusive de pré-questionamento”. Mas o voto vencido a que esse dispositivo
se refere é o constante do acórdão impugnado pela parte – consoante salientado, poderá ele ser considerado
para fins de prequestionamento da questão jurídica.
14 A redação desse dispositivo legal é quase igual a do art. 541, parágrafo único, do CPC/1973 (conforme Lei no
11.341/2006), sendo, ainda, semelhante ao disposto na Súmula 291 do STF. Eis o teor dessa súmula: “No
recurso extraordinário pela letra d do art. 101, III, da Constituição, a prova do dissídio jurisprudencial far-se-á
por certidão ou mediante indicação no Diário da Justiça ou de repertório de jurisprudência autorizado, com a
transcrição do trecho que configure a divergência, mencionadas as circunstâncias que identifiquem ou
assemelhem os casos confrontados.” Observe-se que esse enunciado foi aprovado na sessão plenária do
Supremo ocorrida em 13.12.1963, de maneira que o art. 101, III, d, aí aludido refere-se à Constituição de 1946.
15 Eis o teor desse dispositivo: “Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz,
computar-se-ão somente os dias úteis. Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se somente aos prazos
processuais.”
16 Eis o teor dessa regra: “Art. 1.037. Selecionados os recursos, o relator, no tribunal superior, constatando a
presença do pressuposto do caput do art. 1.036, proferirá decisão de afetação, na qual: [...]; II – determinará a
suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a
questão e tramitem no território nacional; [...].”
17 Salvo se se tratar de registro de candidatura, porque aí o primeiro juízo de admissibilidade é feito diretamente
pelo tribunal superior.
18 Registre-se o disposto no art. 14 do RITSE: “Os processos e as petições serão registrados no mesmo dia do
recebimento, na seção própria, distribuídos por classes (art. 15), mediante sorteio, por meio do sistema de
computação de dados e conclusos, dentro em 24 horas, por intermédio do secretário judiciário, ao presidente
do tribunal.”
19 Será, entretanto, de dois dias o prazo para a PGE se manifestar em processos de registro de candidatura (LC no
64/1990, art. 10, c/c o art. 14).
20 RITSE, art. 36, § 6o: “O relator negará seguimento a pedido ou recurso intempestivo, manifestamente
inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do
tribunal, do Supremo Tribunal Federal ou de tribunal superior.”
21 RITSE, art. 36, § 7o: “Poderá o relator dar provimento ao recurso, se a decisão recorrida estiver em manifesto
confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal ou de tribunal
superior.”
22 Sobre isso, reza o art. 19 do CE: “O tribunal superior delibera por maioria de votos, em sessão pública, com a
presença da maioria de seus membros. Parágrafo único. As decisões do tribunal superior, assim na
interpretação do Código Eleitoral em face da Constituição e cassação de registro de partidos políticos, como
sobre quaisquer recursos que importem anulação geral de eleições ou perda de diplomas, só poderão ser
tomadas com a presença de todos os seus membros. Se ocorrer impedimento de algum juiz, será convocado o
substituto ou o respectivo suplente.” Nesse mesmo sentido é o art. 6o do RITSE.
23 Mas esse prazo será de 24 horas na hipótese de a lide versar sobre direito de resposta (LE, art. 58, § 5o).
Conforme ressaltado, há julgados do TSE afirmando a incidência do art. 96, § 8o, da Lei no 9.504/1997 – que
prevê prazo recursal de 24 horas, exceto se essa própria norma legal prescrever lapso diverso. Nesse sentido,
vide: TSE, AgRp no 1350/DF, DJ 11.04.2007, p. 199; AgRp no 884/DF, DJ 12.09.2006, p. 149.
24 São excluídos dessa exigência: “[...] IV – as decisões proferidas com base nos arts. 485 e 932; V – o julgamento
de embargos de declaração; VI – o julgamento de agravo interno; VII – as preferências legais e as metas
estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça; VIII – os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que
tenham competência penal; IX – a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão
fundamentada” (CPC/2015, art. 12, § 2º).
25 Conforme salientado anteriormente, é incabível a produção de sustentação oral em julgamento de agravo
interno. A esse respeito, vide: CPC/2015, art. 937; TSE: EAAg no 2170/BA, DJ, v. 1, 23.09.2005, p. 126; AgR-REspe
no 30649/TO, PSS 02.12.2008; AgR-REspe no 35642/PR, DJe 24.08.2011, p. 20; AgR-REspe no 36432/RJ, DJe
18.05.2010, p. 30.
26 Mencionem-se ainda os seguintes institutos: incidente de resolução de demandas repetitivas (CPC/2015, arts.
976 a 987), súmula vinculante (CF, art. 103-A), súmula impeditiva de recursos (CPC/2015, art. 932, IV, a).
Todos eles visam a agilizar o julgamento de inúmeras demandas – semelhantes ou idênticas – que abarrotam o
Poder Judiciário, tornando a prestação jurisdicional mais célere, útil e confiável.
27 Esse tema foi introduzido no CPC/1973 pela Lei nº 11.672/2008, sendo disciplinado no art. 543-C daquele
Código.
28 Eis o teor desse dispositivo: “Art. 932. Incumbe ao relator: [...]; IV – negar provimento a recurso que for
contrário a: [...]; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
julgamento de recursos repetitivos; V – depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento
ao recurso se a decisão recorrida for contrária a: [...]; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou
pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos [...].”
9
RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Como anota Jorge Miranda, constitucionalidade e inconstitucionalidade designam conceitos de relação, isto é, “a
relação que se estabelece entre uma coisa – a Constituição – e outra coisa – um comportamento – que lhe está ou
não conforme, que com ela é ou não compatível, que cabe ou não no seu sentido”. Não se cuida, porém, de uma
relação lógica ou intelectiva, adverte o mestre português, mas de uma relação de caráter normativo e valorativo.
Em verdade, é essa relação de índole normativa que qualifica a inconstitucionalidade, pois somente assim logra-se
afirmar a obrigatoriedade do texto constitucional e a ineficácia de todo e qualquer ato normativo contraveniente.
“Não estão em causa – diz Jorge Miranda – simplesmente a adequação de uma realidade a outra realidade, de um
quid a outro quid, ou a descorrespondência entre este e aquele ato, mas o cumprimento ou não de certa norma
jurídica.”
Agravo regimental. Necessidade de apreciação dos fatos e das provas da causa. Ofensa reflexa à Constituição. 1. O
recurso extraordinário não é cabível nos casos em que se impõe o reexame do quadro fático-probatório para
apreciar a apontada ofensa à Constituição Federal. Incidência da Súmula STF 279. 2. Inviável o recurso
extraordinário quando a alegada ofensa à Constituição Federal, se existente, ocorrer de forma reflexa, a depender
da prévia análise da legislação infraconstitucional. 3. Agravo regimental improvido (STF, AI no 681668 AgR/SP, 2a
Turma, Rel. Min. Ellen Gracie, DJe 86 de 14.05.2010).
[...] Os pronunciamentos jurisdicionais do Tribunal Superior Eleitoral, que se esgotem na esfera do ordenamento
positivo, infraconstitucional, qualificam-se como manifestações revestidas de definitividade, insuscetíveis, em
consequência, de revisão pelo Supremo Tribunal Federal na via recursal extraordinária, cuja instauração
pressupõe, sempre, a ocorrência de conflito direto, imediato e frontal com o texto da Constituição [...] (STF, RE no
160432/SP, 1a Turma, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 06.05.1994, p. 10.494).
[...] 1. Contra acórdão de tribunal regional eleitoral somente cabe recurso para o Tribunal Superior Eleitoral,
mesmo que nele se discuta matéria constitucional. 2. É o que se extrai do disposto no art. 121, caput, e seu § 4º, inc.
I, da Constituição Federal de 1988, e nos artigos 22, inc. II, e 276, I e II, do Código Eleitoral (Lei n. 4.737, de
15.07.1965). 3. No âmbito da Justiça eleitoral, somente os acórdãos do Tribunal Superior Eleitoral é que podem ser
impugnados, perante o STF, em recurso extraordinário (arts. 121, § 3º, e 102, III, a, b e c, da CF). 4. RE inadmitido.
Precedentes. 5. Agravo improvido (STF, AgRg no Ag no 164.491/MG, 1a Turma, Rel. Min. Sydney Sanches, DJ
22.03.1996).
[...] É firme a orientação desta corte no sentido de que a interposição de recurso extraordinário contra acórdão de
tribunal regional eleitoral constitui erro grosseiro, inviabilizando a aplicação do princípio da fungibilidade
recursal. Hipótese em que demonstrado o equívoco do agravante em querer dar a recurso extraordinário
interposto de decisão do TRE o mesmo tratamento que é conferido aos extraordinários manejados contra
acórdãos de tribunais estaduais e regionais federais, quando envolvida questão constitucional. Agravo interno a
que se nega provimento. Decisão.
O tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo regimental, nos termos do voto do relator (TSE, AgR-AI no
286893/SP, DJe, t. 183, 23.09.2011, p. 22).
Recurso especial. Agravo de instrumento. Agravo regimental. Recurso extraordinário. Interposição. TRE.
Inadmissibilidade. Precedentes do TSE e do STF. Agravo regimental a que se nega provimento. É incabível a
interposição de recurso extraordinário a acórdão dos tribunais regionais eleitorais (arts. 121, § 3o, e 102, III, a, b e
c, da Constituição Federal) (TSE, AgRgAg no 7.688/RS, DJ 04.08.2008).
9.5.1 Prequestionamento
O instituto do prequestionamento já foi exposto neste texto por ocasião do recurso
especial. Em essência, trata-se da necessidade de haver debate prévio e efetiva
manifestação do tribunal recorrido acerca da questão jurídico-constitucional suscitada
no recurso extraordinário.
Tal requisito é expresso de maneira insofismável no texto constitucional, pois o §
3o do art. 121 da CF só admite a interposição de recurso extraordinário contra
“decisões” do TSE. De igual modo, reza o inciso III do art. 102 da mesma
Constituição que o recurso extraordinário “comum” só é interponível diante de
“causas decididas”, em única ou última instância, por órgãos judiciais.
Essa ideia é contida na Súmula 282 do Supremo Tribunal Federal, que reza: “É
inadmissível recurso extraordinário, quando não ventilada na decisão recorrida a
questão federal suscitada.” Observe-se, porém, que pelo teor da súmula basta que a
questão suscitada seja “ventilada na decisão recorrida”, ou seja, que a questão se
apresente no acórdão recorrido. Não é esse efetivamente o sentido das citadas regras
constitucionais, que exigem que a questão constitucional seja decidida e não apenas
“ventilada” na decisão impugnada.
Destarte, no recurso extraordinário as razões devem exibir pontos ou questões
sobre os quais o tribunal superior tenha decidido. Caso contrário, haverá supressão de
instância, sendo incabível o especial por falta de manifestação expressa do tribunal
recorrido acerca da questão suscitada.
Conforme salientado alhures, em boa técnica, o prequestionamento não se limita
à mera arguição do recorrente, devendo a matéria ser realmente apreciada no julgado
impugnado.
Se o tribunal superior se omitir em relação à questão jurídica arguida, impõe-se a
interposição de embargos de declaração a fim de que a falta alegada seja sanada.
A finalidade dos embargos declaratórios é sempre aclarar ou integrar o acórdão
ante a existência de obscuridade, contradição, omissão ou erro material. Na hipótese
de omissão, sua interposição pressupõe que a questão tenha sido suscitada em
momento anterior ou que tenha surgido nos debates quando do julgamento do
tribunal superior; nesse último caso, a omissão da questão no texto do acórdão pode
ser demonstrada pelas notas taquigráficas ou pela degravação dos debates havidos na
sessão de julgamento. Afinal, só se pode falar em omissão de algo que já tenha sido
levado ao debate travado no processo.
Interpostos os embargos, se forem rejeitados sem que a matéria tenha sido
efetivamente apreciada, determina o art. 1.025 do CPC/2015 que se considerem
“incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins de
prequestionamento”.
Esse dispositivo se harmoniza com o entendimento há muito firmado no Supremo
Tribunal Federal segundo o qual a só interposição de embargos declaratórios é
bastante para que a questão constitucional suscitada seja havida por prequestionada,
ainda que a omissão arguida persista, i. e., ainda que o tribunal a quo não decida a
questão cuja omissão se afirma. Essa conclusão é extraída por interpretação contrario
sensu da Súmula 356, que dispõe: “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não
foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário,
por faltar o requisito do prequestionamento.” Interpretando sua própria súmula,
asseverou o Pretório Excelso:
I. RE: prequestionamento: Súmula 356. O que, a teor da Súmula 356, se reputa carente de prequestionamento é o
ponto que, indevidamente omitido pelo acórdão, não foi objeto de embargos de declaração; mas opostos esses, se
não obstante se recusa o tribunal a suprir a omissão por entendê-la inexistente, nada mais se pode exigir da parte,
permitindo-se--lhe de logo interpor recurso extraordinário sobre a matéria dos embargos de declaração e não
sobre a recusa, no julgamento deles, de manifestação sobre ela [...] (STF, RE 334279/PA, 1a Turma, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, DJ 20.08.2004, p. 50).
A tal respeito, assinala Freitas Câmara (2012, p. 137) que, conquanto não prime
pelo rigor técnico (porque não exige que a questão constitucional objeto do recurso
extraordinário seja expressamente decidida para que haja prequestionamento), essa
solução apresenta inegável caráter prático, porque evita idas e vindas desnecessárias
do processo. Deveras, não pode haver dúvida do viés pragmático da interpretação do
Supremo, certamente mais afinada com a premente necessidade de celeridade na
prestação jurisdicional. Entretanto, não se pode deixar de remarcar que ela implica
supressão de instância, já que, por se tratar de prequestionamento ficto, o tribunal
recorrido não se terá pronunciado realmente acerca da questão.
061 Constitucional. Eleitoral. Inelegibilidade. Ex-cônjuge de prefeito reeleito. Art. 14, § 7º, 568596RG/MG sim
da Constituição. Existência de reper-cussão geral. Questão relevante do ponto de
vista político, social e jurídico (DJe 78, 02.05.2008).
124 Constitucional. Direito eleitoral. Prestação de contas. Cabimento de recurso especial 591470RG/MG sim
eleitoral. Art. 121, § 4o, da Constituição da República. Repercussão geral reconhecida.
1. Tem repercussão geral a questão cons-titucional relativa à delimitação da com-
petência que a Constituição da República outorgou ao Tribunal Superior Eleitoral para
examinar recurso especial eleitoral (art. 121, § 4o, da Constituição da Repúbli-ca),
mormente no que diz respeito à dúvida de seu cabimento nas prestações de contas
de campanhas eleitorais. 2. Relevância jurídica e transcendência de interesses
caracterizados (DJe 206, 31.10.2008).
172 Recurso extraordinário. Eleitoral. Mem-bro do Ministério Público. Recandidatura. 597994/PA sim
Direito adquirido. Direito atual. Ausência de regra de transição. Preceitos constitu-
cionais. Arts. 14, § 5º, e 128, § 5º, II, e, da Constituição do Brasil. Ausência de contra-
dição. Situação peculiar a configurar exce-ção. Exceção capturada pelo ordenamento
jurídico. Interpretação da Constituição no seu todo [...] (DJe 162, 28.08.2009).
387 Lei Complementar 135/2010, denominada Lei da Ficha Limpa. Inaplicabilidade às 633703/MG sim
eleições gerais 2010. Princípio da ante-rioridade eleitoral (art. 16 da Constituição da
República). I. O princípio da anteriori-dade eleitoral como garantia do devido processo
legal eleitoral [...]. II. O princípio da anterioridade eleitoral como garantia
constitucional da igualdade de chances [...]. III. O princípio da anterioridade eleitoral
como garantia constitucional das minorias e o papel da jurisdição constitucional na
democracia [...]. IV. Recurso extraordinário conhecido e provido. Recurso extraordi-
nário conhecido para: a) reconhecer a re-percussão geral da questão constitucional
atinente à aplicabilidade da LC 135/2010 às eleições de 2010, em face do princípio da
anterioridade eleitoral (art. 16 da Cons-tituição), de modo a permitir aos tribunais e
turmas recursais do país a adoção dos procedimentos relacionados ao exercício de
retratação ou declaração de inadmissi-bilidade dos recursos repetitivos, sempre que
as decisões recorridas contrariarem ou se pautarem pela orientação ora firmada; b)
dar provimento ao recurso, fixando a não aplicabilidade da Lei Complementar no
135/2010 às eleições gerais de 2010 (DJe 219, 18.11.2011).
534 Recurso representativo da controvérsia. Prazo para ajuizamento de representações ARE sim
fundadas em doações para campanhas eleitorais acima do limite legal. Aplicação do 664575RG/
prazo de decadência de 180 dias com fundamento no art. 32 da Lei 9.504/1997. AM
Necessidade de preservar a licitude do pro-cesso eleitoral por meio da fiscalização
efe-tiva das contas de campanha. Repercussão geral reconhecida (DJe 118,
18.06.2012).
564 Recurso extraordinário. Repercussão geral. Reeleição. Prefeito. Interpretação do art. RE 637485/RJ sim
14, § 5º, da Constituição. Mudança da juris-prudência em matéria eleitoral.
Segurança jurídica. I. Reeleição. Municípios. Interpre-tação do art. 14, § 5º, da
Constituição. Prefeito. Proibição de terceira eleição em cargo da mesma natureza,
ainda que em município diverso. [...] Decisão: O tribunal, por unanimidade,
reconheceu a repercus-são geral das questões constitucionais. Em seguida, o tribunal,
por maioria e nos termos do voto do relator, deu provimento ao recurso e julgou
inaplicável a alteração da jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral quanto à
interpretação do § 5o do artigo 14 da Constituição Federal nas eleições de 2008 [...]
(DJe 95, 21.05.2013).
586 Repercussão geral. Servidor público. Grati-ficação. Escrivães eleitorais. Lei 8.868/1994. AI não
Lei 9.421/1996 e Resolução 19.784/1997 do TSE. Exigência de lei em sentido formal 855810RG/RS
para fixar o valor das gratificações men-sais pagas a chefes de cartório e escrivães
eleitorais. Matéria infraconstitucional. Pre-cedentes da corte. Inexistência de reper-
cussão geral (DJe 80, 30.04.2013).
678 Apresenta repercussão geral o recurso extraordinário em que se questionam o 758461RG/PB sim
sentido e o alcance da restrição ao direito de elegibilidade de que trata o art. 14, §§
5º e 7º, da Constituição Federal e a Súmula Vinculante 18, notadamente em casos
em que a dissolução da sociedade conjugal de-corre não de ato de vontade, mas da
morte de um dos cônjuges (DJe 226, 18.11.2013).
680 Recurso extraordinário. Eleitoral. Legitimi-dade do Ministério Público para recorrer de ARE sim
decisão que defere registro de candidatura, ainda que não haja apresentado 728188RG/
impugna-ção ao pedido inicial. Repercussão geral. Existência. Decisão: O tribunal, por RJ
maioria, reputou constitucional a questão [...]. O tri-bunal, por maioria, reconheceu a
existência de repercussão geral da questão constitu-cional suscitada [...] (DJe 206,
17.10.2013).
731 I – A controvérsia sobre a necessidade de serem aprovadas as contas de campanha ARE não
para a obtenção da certidão de quitação eleitoral é matéria infraconstitucional. II – O 728181/RJ
tema carece de repercussão geral, con-forme decidiram os ministros desta corte ao
analisar o RE 728.181-RG/DF, Rel. Min. Marco Aurélio. III – Agravo regimental a que
se nega provimento (DJe 111, 10.06.2014).
9.6 INTERPOSIÇÃO
O recurso deve ser interposto por petição dirigida ao Presidente do TSE (CE, art.
281, § 1o), a qual deve ser acompanhada das razões respectivas. Podem as razões ser
lançadas na própria petição recursal ou em peça apartada, como é da tradição da
cultura forense brasileira. Nos termos do art. 1.029 do CPC/2015, essa peça deve
conter: “I – a exposição do fato e do direito; Il – a demonstração do cabimento do
recurso interposto; III – as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão
recorrida”. Outrossim, deve indicar o juízo ad quem, bem como exibir os nomes das
partes (que já estarão qualificadas nos autos) e a “indicação do dispositivo” que
autorize a interposição do recurso (RISTF, art. 321, caput).
Nas razões é preciso que se fundamente o cabimento do RE e se exponham os
motivos de sua admissibilidade. Conforme ressaltado em preliminar, há mister de que
o recorrente demonstre a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no
caso.
É de três dias o prazo para a interposição de recurso extraordinário contra decisão do Tribunal Superior Eleitoral,
contado, quando for o caso, a partir da publicação do acórdão, na própria sessão de julgamento, nos termos do
art. 12 da Lei 6.055/1974, que não foi revogado pela Lei 8.950/1994.7
9.8 EFEITOS
Diante de sua natureza excepcional, o recurso extraordinário não é dotado de
efeito suspensivo (CPC/2015, art. 995; RISTF, art. 321, § 4o).
Excepcionalmente, para obter efeito suspensivo, há mister que o recorrente o
pleiteie junto ao órgão judicial competente. Sobre isso, dispõe o § 5º do art. 1.029 do
CPC/2015 que o pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso excepcional
poderá ser formulado por requerimento dirigido:
Extrai-se, pois, que o pedido de suspensão pode ser pleiteado junto ao tribunal
recorrido em duas situações: i) se for formulado no período compreendido entre a
interposição do recurso e a publicação da respectiva decisão de admissão;8 ii) no
regime de recurso repetitivo relativamente aos processos que se encontram suspensos
por força do art. 1.037, II, do CPC/2015.9 Fora desses casos, deve ser dirigido ao
tribunal ad quem, notadamente ao relator, se o recurso já tiver sido distribuído.
De sorte que deve o RE ser recebido no efeito devolutivo, que, em diferentes
medidas, é comum a todos os recursos. Frise-se, porém, que no RE não há
transferência de matérias fática e probatória. Há mister de que fatos e provas sejam
assentados nas instâncias ordinárias (isto é, na 1a e 2a instâncias), sendo vedado seu
revolvimento na seara extraordinária. A rediscussão de tais matérias é vetada ainda
que por via indireta, oblíqua ou reflexa. Nesse sentido, impera a Súmula 279 do STF:
“Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.”10
Note-se, porém, que é permitido o reenquadramento jurídico de fatos
considerados provados nas instâncias ordinárias.
Nas hipóteses de controle difuso, a decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal é por este comunicada ao
Senado Federal. Cabe, então, a esta Câmara suspender a execução do ato, o que significa suspender-lhe a eficácia.
Note-se que essa suspensão não é posta ao critério do Senado, mas lhe é imposta como obrigatória. Quer dizer, o
Senado, à vista da decisão do Supremo Tribunal Federal, tem de efetuar a suspensão da execução do ato
inconstitucional. Do contrário, o Senado teria o poder de convalidar ato inconstitucional, mantendo-o eficaz, o
que repugna ao nosso sistema jurídico.
Parece legítimo entender que a fórmula relativa à suspensão de execução da Lei pelo Senado Federal há de ter
simples efeito de publicidade. Dessa forma, se o Supremo Tribunal Federal, em sede de controle incidental, chegar à
conclusão, de modo definitivo, de que a lei é inconstitucional, essa decisão terá efeitos gerais, fazendo-se a
comunicação ao Senado Federal para que publique a decisão no Diário do Congresso. Tal como assente, não é
(mais) a decisão do Senado que confere eficácia geral ao julgamento do Supremo. A própria decisão da Corte
contém essa força normativa. Parece evidente ser essa a orientação implícita nas diversas decisões judiciais e
legislativas acima referidas. Assim, o Senado não terá a faculdade de publicar ou não a decisão, uma vez que não
cuida de decisão substantiva, mas de simples dever de publicação, tal como reconhecido a outros órgãos políticos
em alguns sistemas constitucionais (Constituição austríaca, art. 140, 5, publicação a cargo do Chanceler Federal, e
a Lei Orgânica da Corte Constitucional alemã, art. 31, 2, publicação a cargo do Ministro da Justiça). A não
publicação não terá o condão de impedir que a decisão do Supremo assuma a sua real eficácia.
Essa solução resolve de forma superior uma das mais tormentosas questões da nossa jurisdição constitucional.
Superam-se, assim, também as incongruências, cada vez maiores, entre a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal e a orientação dominante na legislação processual, de um lado, e, de outro, a visão doutrinária ortodoxa e
– permita-nos dizer – ultrapassada do disposto no art. 52, X, da Constituição de 1988.
Ressalte-se que a eclosão da súmula vinculante reforça a ideia de superação do art. 52, X, da CF, na medida em que
permite aferir a inconstitucionalidade de determinada orientação pelo próprio tribunal sem qualquer interferência
do Senado Federal.
1 Essas ações foram expostas e amplamente discutidas por Tavares (2012, p. 312-360) e Mendes e Gonet Branco
(2012, p. 1.167, 1.221-1.356).
2 Consoante observa Tavares (2012, p. 362), faz-se depender do particular o desencadeamento de um controle da
legitimidade constitucional das leis em geral, para a tutela dos direitos constitucionais, especialmente os
humanos fundamentais. Em verdade, há “uma subjetivação no sistema ou, se se quiser, uma humanização,
considerando--se mesmo que o Direito está posto não para atender aos problemas abstratamente colocados.
O Direito está a serviço do indivíduo, do Homem, e o controle concreto é aquele que mais bem representa essa
ideia”.
3 Pode-se vislumbrar nesse fenômeno uma forma de novação. No Direito das obrigações, a novação constitui
uma forma de extinção da obrigação sem pagamento, na qual se apresentam duas forças: uma extintiva e outra
geradora. Extingue-se uma dívida e no mesmo ato outra, nova, é constituída. Diz-se, então, que a dívida antiga
foi novada. Transportando-se a lógica desse instituto para a presente situação, tem-se que todas as normas do
ordenamento anterior são extintas, renascendo, porém, com idêntico teor, as que estiverem em consonância
com a nova Constituição. A esse respeito, ressalta o jusfilósofo Kelsen (2000, p. 172) que “a nova ordem recebe,
i. e., adota normas da velha ordem; isso quer dizer que a nova ordem dá validade (coloca em vigor) às normas
que possuem o mesmo conteúdo que normas da velha ordem [...]”. A validade das normas recepcionadas passa
a fundar-se na nova Constituição, já que a antiga encontra-se extinta.
4 O art. 102, § 1o, da Constituição foi regulamentado pela Lei no 9.882/1999. Dispõe o art. 1o, parágrafo único, I,
dessa norma: “Art. 1o A arguição prevista no § 1o do art. 102 da Constituição Federal será proposta perante o
Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato
do Poder Público. Parágrafo único. Caberá também arguição de descumprimento de preceito fundamental: I –
quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual
ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição [...].”
5 Dispõe o art. 1.031 do CPC/2015: “Na hipótese de interposição conjunta de recurso extraordinário e recurso
especial, os autos serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça. § 1º Concluído o julgamento do recurso
especial, os autos serão remetidos ao Supremo Tribunal Federal para apreciação do recurso extraordinário, se
este não estiver prejudicado. § 2º Se o relator do recurso especial considerar prejudicial o recurso
extraordinário, em decisão irrecorrível, sobrestará o julgamento e remeterá os autos ao Supremo Tribunal
Federal. § 3º Na hipótese do § 2º, se o relator do recurso extraordinário, em decisão irrecorrível, rejeitar a
prejudicialidade, devolverá os autos ao Superior Tribunal de Justiça para o julgamento do recurso especial.”
6 Eis o teor desse dispositivo: “Art. 1.035 [...]. § 7º Da decisão que indeferir o requerimento referido no § 6º ou que
aplicar entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos caberá
agravo interno.”
7 A Lei no 6.055, de 17.06.1974, entre outras coisas, estabelece regras para as eleições de governador e vice-
governador realizadas naquele ano. Já a Lei no 8.950, de 13.12.1994, altera dispositivos do CPC de 1973 relativos
a recursos.
8 No ponto, vale destacar o teor da Súmula 634 do STF, que reza: “Não compete ao Supremo Tribunal Federal
conceder medida cautelar para dar efeito suspensivo a recurso extraordinário que ainda não foi objeto de juízo
de admissibilidade na origem.” Por outro lado, reza a Súmula 635 daquele mesmo tribunal: “Cabe ao
presidente do tribunal de origem decidir o pedido de medida cautelar em recurso extraordinário ainda
pendente do seu juízo de admissibilidade.”
9 Eis o teor dessa regra: “Art. 1.037. Selecionados os recursos, o relator, no tribunal superior, constatando a
presença do pressuposto do caput do art. 1.036, proferirá decisão de afetação, na qual: [...]; II – determinará a
suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a
questão e tramitem no território nacional [...].”
10 Em idêntico sentido é a Súmula 7 do STJ, in verbis: “A pretensão de simples reexame de prova não enseja
recurso especial.”
11 A leitura a contrario sensu desse dispositivo permite inferir não ser necessário que a declaração de
constitucionalidade de uma norma se dê pelos órgãos pleno ou especial do tribunal, podendo ser levada a efeito
por órgão fracionário. Essa conclusão tem por si o fato de não ser infirmada a presunção de
constitucionalidade que reveste as normas em vigor.
12 Eis o teor dos referidos artigos do RISTF: “Art. 143. O plenário, que se reúne com a presença mínima de seis
ministros, é dirigido pelo presidente do tribunal. Parágrafo único. O quorum para votação de matéria
constitucional e para a eleição do presidente e do vice-presidente, dos membros do Conselho Nacional da
Magistratura e do Tribunal Superior Eleitoral é de oito ministros.”
“Art. 173. Efetuado o julgamento, com o quorum do art. 143, parágrafo único, proclamar-se-á a
inconstitucionalidade ou a constitucionalidade do preceito ou do ato impugnados, se num ou noutro sentido
se tiverem manifestado seis ministros. Parágrafo único. Se não for alcançada a maioria necessária à declaração
de inconstitucionalidade, estando licenciados ou ausentes ministros em número que possa influir no
julgamento, este será suspenso a fim de aguardar-se o comparecimento dos ministros ausentes, até que se
atinja o quorum.”
10
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA
IV – (revogado);
1 Dispõe o § 3o do art. 96 da Lei no 9.504/1997: “Os tribunais eleitorais designarão três juízes auxiliares para a
apreciação das reclamações ou representações que lhes forem dirigidas.” Conforme salientei alhures (vide
Gomes, 2012, p. 401 e ss.), tais juízes são designados nas eleições estaduais (governador e vice-governador,
deputado estadual) e federais (senador e deputado federal) e têm competência para apreciar todas as
reclamações e representações fundadas na Lei no 9.504/1997 dirigidas ao tribunal. Mas ainda nessa hipótese
não há formação de turmas nos tribunais eleitorais, porque os auxiliares decidem as lides monocraticamente.
Contra as decisões singulares por eles proferidas, o recurso cabível é o previsto no art. 96, § 4º, da LE para o
órgão pleno. Portanto, não se apresenta o pressuposto essencial de cabimento dos embargos de divergência
consistente na divergência entre turmas do mesmo tribunal. De sorte que as divergências de interpretação
porventura existentes entre os juízes auxiliares já serão resolvidas pelo Colegiado.
2 A restrição aludida no texto também é expressa na Súmula 286 do STF, que reza: “Não se conhece do recurso
extraordinário fundado em divergência jurisprudencial, quando a orientação do plenário do Supremo
Tribunal Federal já se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida.”
3 A decisão que não admitir os embargos é recorrível mediante agravo, que deve ser interposto perante o órgão
competente para julgar os embargos de divergência (RISTF, art. 335, § 2o).
4 O RISTF consultado foi atualizado até janeiro de 2015, sendo seu texto consolidado até a Emenda Regimental
nº 49 e a Resolução nº 514/2013. Logo, o citado art. 76 do RISTF é anterior ao § 3º do art. 1.043 do CPC/2015
(que permite que o acórdão paradigma emane da própria turma cuja decisão é embargada). Nesse caso, é de
indagar: a quem os embargos de divergência devem ser distribuídos? Considerando--se que a dissensão se
estabelece no âmbito do mesmo órgão julgador, parece lógico que os embargos sejam distribuídos também
para ele, pois é dele o acórdão que se embarga, excluindo-se da distribuição o relator e o revisor.
5 Vale registrar, entretanto, que os embargos de divergência interpostos contra acórdão do STJ interrompem o
prazo para interposição de recurso extraordinário. É nesse sentido o § 1º do art. 1.044 do CPC/2015, que reza:
“A interposição de embargos de divergência no Superior Tribunal de Justiça interrompe o prazo para
interposição de recurso extraordinário por qualquer das partes.”
11
Inconstitucionalidade do art. 54 da Lei no 2.550, instituindo no Tribunal Superior Eleitoral o recurso de embargos
infringentes e de nulidade, em face do princípio geral da irrecorribilidade das decisões daquele tribunal,
estabelecido no art. 120 da Constituição de 1946.
Letra, sistema, histórico e finalidade do citado princípio constitucional, que abrange os recursos quer para outro,
quer para o próprio tribunal, excluindo os embargos de declaração, impropriamente denominados recurso, pois
não podem alterar decisão anterior.
Irrecorribilidade d’uma decisão significa sua definitividade, sua imodificabilidade.
Decisão: Não conheceu do embargo. Maioria (TSE, EREspe no 703/SP, Ac. no 2.224, de 31.08.1956. Redator do
acórdão Min. Haroldo Teixeira Valladão, BEL v. 69, t. 1, p. 519).
Em seu voto vencedor, depois de recordar que o art. 120 da Constituição de 1946
“usou a expressão ‘irrecorríveis as decisões do T.S.E.’ sem qualquer restrição”,
argumentou o culto Ministro Haroldo Valladão que, se admitidos, os embargos
infringentes atentariam “não somente contra a simplicidade e a presteza do processo
eleitoral, senão também, e com sério gravame para a tranquilidade pública, em
matéria que tanto apaixona, contra a estabilidade das decisões da última instância da
Justiça eleitoral”.
Conquanto não tenha sido unânime esse julgamento (ficou vencido o então
Ministro Cunha Vasconcellos Filho, a quem originalmente tocara a relatoria do feito),
o entendimento que nele prevaleceu foi reiteradamente observado, conforme
evidenciam os seguintes julgados do TSE: AREspe no 2065/RJ, Ac. de 12.12.1963,
BEL, v. 151, p. 249; RCED no 191/RJ, Ac. de 17.03.1964, BEL, v. 153, t. 1, p. 315. E
assim perdurou mesmo após a instituição do vigente Código Eleitoral, em 1965, e do
Código de Processo Civil em 1973. Chegou-se a repudiar o manejo indevido de
embargos de declaração com vistas a alcançar o mesmo objetivo dos infringentes,
dada a ausência de “assento legal” para este (TSE, EREspe no 4586/SP, Ac. de
27.10.1976, BEL, v. 306, t. 1, p. 62).
É interessante observar que o referido art. 120 da Constituição de 1946 foi quase
literalmente reproduzido no art. 281 do vigente Código Eleitoral.4 Há também grande
semelhança com o texto do § 3o do art. 121 da Constituição de 1988.5 Nesses dois
últimos dispositivos foi reiterada a expressão “são irrecorríveis as decisões do Tribunal
Superior Eleitoral”, a qual constou do art. 120 da CF de 1946 e fundamentou o
alijamento dos embargos infringentes do sistema recursal eleitoral, conforme exposto
no aresto há pouco citado.
Em substituição aos embargos infringentes, o CPC de 2015 estabeleceu uma nova
técnica de julgamento, a ver:
Art. 942. Quando o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá prosseguimento em sessão a ser
designada com a presença de outros julgadores, que serão convocados nos termos previamente definidos no
regimento interno, em número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial, assegurado
às partes e a eventuais terceiros o direito de sustentar oralmente suas razões perante os novos julgadores.
§ 1º Sendo possível, o prosseguimento do julgamento dar-se-á na mesma sessão, colhendo-se os votos de outros
julgadores que porventura componham o órgão colegiado.
§ 2º Os julgadores que já tiverem votado poderão rever seus votos por ocasião do prosseguimento do julgamento.
§ 3º A técnica de julgamento prevista neste artigo aplica-se, igualmente, ao julgamento não unânime proferido em:
I – ação rescisória, quando o resultado for a rescisão da sentença, devendo, nesse caso, seu prosseguimento ocorrer
em órgão de maior composição previsto no regimento interno;
II – agravo de instrumento, quando houver reforma da decisão que julgar parcialmente o mérito.
§ 4º Não se aplica o disposto neste artigo ao julgamento:
I – do incidente de assunção de competência e ao de resolução de demandas repetitivas;
II – da remessa necessária;
III – não unânime proferido, nos tribunais, pelo plenário ou pela corte especial.
1 Numa perspectiva histórico-comparada, tem-se que o recurso de embargos infringentes é peculiar ao Direito
brasileiro. Mas ainda aqui sempre houve viva controvérsia acerca da conveniência de mantê-lo no sistema
processual. Dessa discussão dá notícia Greco Filho (2012, p. 388), segundo o qual a “doutrina não tem sido
favorável à manutenção dos embargos infringentes”. A Freitas Câmara (2012, p. 114-115) não parece
“adequado que o mero fato de ter havido voto divergente em um julgamento colegiado deva ser capaz de
permitir a interposição de recurso contra a decisão proferida”. Já Barbosa Moreira (2012, nº 282, p. 516 e ss.),
embora se pronuncie a favor de sua conservação com restrições, assinala que a preservação dessa figura
processual foi de certo modo surpreendente, já que ela tinha sido abandonada pelo Anteprojeto de Código de
Processo Civil apresentado por Buzaid; tanto assim que na Exposição de Motivos do Anteprojeto afirmava-se
que a existência de um voto vencido não basta por si só para justificar a criação do recurso em exame.
2 Não se confunda o repúdio ao cabimento do recurso denominado “embargos infringentes” no processo
eleitoral com a aceitação de efeitos infringentes (modificativos) na decisão prolatada em embargos de
declaração. Em verdade, esses dois recursos são inconfundíveis. Conforme salientado alhures, quando se fala
em efeitos infringentes dos embargos de declaração quer-se ressaltar a modificação por ele promovida no julgado
em relação ao qual é aviado.
3 Eis o teor do art. 120 da Constituição de 1946: “São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior Eleitoral,
salvo as que declararem a invalidade de lei ou ato contrários a esta Constituição e as denegatórias de habeas
corpus ou mandado de segurança, das quais caberá recurso para o Supremo Tribunal Federal.”
4 Reza o art. 281 do CE: “São irrecorríveis as decisões do tribunal superior, salvo as que declararem a invalidade
de lei ou ato contrário à Constituição Federal e as denegatórias de habeas corpus ou mandado de segurança, das
quais caberá recurso ordinário para o Supremo Tribunal Federal, interposto no prazo de três dias.”
5
O § 3o do art. 121 da CF de 1988 dispõe: “São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior Eleitoral, salvo as
que contrariarem esta Constituição e as denegatórias de habeas corpus ou mandado de segurança.”
6 Dispõe o art. 333 do RISTF (atualizado até janeiro de 2015, com texto consolidado até a Emenda Regimental nº
49 e a Resolução nº 514/2013): “Cabem embargos infringentes à decisão não unânime do plenário ou da turma:
I – que julgar procedente a ação penal; II – que julgar improcedente a revisão criminal; III – que julgar a ação
rescisória; IV – que julgar a representação de inconstitucionalidade; V – que, em recurso criminal ordinário,
for desfavorável ao acusado. Parágrafo único. O cabimento dos embargos, em decisão do plenário, depende da
existência, no mínimo, de quatro votos divergentes, salvo nos casos de julgamento criminal em sessão secreta.”
7 As hipóteses de cabimento de ação rescisória são previstas no art. 966 do CPC/2015, que reza: “A decisão de
mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: I – se verificar que foi proferida por força de
prevaricação, concussão ou corrupção do juiz; II – for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente
incompetente; III – resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de
simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei; IV – ofender a coisa julgada; V – violar
manifestamente norma jurídica; VI – for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo
criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória; VII – obtiver o autor, posteriormente ao
trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe
assegurar pronunciamento favorável; VIII – for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos.”
8 É o que dispõe a parte final do § 1º do art. 2º da LINDB (D-L nº 4.657/1942): “Art. 2º [...]. § 1º A lei posterior
revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule
inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.”
12
12.1 INTRODUÇÃO
Os meios impugnativos no processo jurisdicional eleitoral não se restringem aos
recursos eleitorais anteriormente expostos. No presente capítulo são apresentados
outros instrumentos processuais de inegável relevância nessa seara.
Assim é que serão abordados os seguintes temas: garantias ou remédios
constitucionais (mandado de segurança, mandado de injunção, habeas data e ação
popular), tutela provisória de urgência de natureza cautelar, recurso contra expedição
do diploma (RCED), reclamação e ação rescisória eleitoral.
Art. 5º [...]; LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por
habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou
agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;
LXX – o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação no
Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo
menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados.
Processual civil. Recurso ordinário em mandado de segurança. [...] Defesa de direito coletivo. Descabimento de
mandado de segurança individual. Ilegitimidade ativa. [...] 3. O impetrante, candidato do concurso público de
Remoção Notarial e Registral lançado pelo Edital 3/2003 do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul,
insurgiu-se quanto ao critério adotado pela comissão do concurso para a delegação das serventias mistas, isto é,
nas quais as atividades notarial e registral são cumuladas. Solicitou que, na audiência pública de escolha, fossem
esses cartórios oferecidos apenas para concorrentes inscritos e atuantes nas duas áreas. A pretensão ultrapassa a
esfera individual, pois atinge a situação de outras pessoas. Ainda que não propositalmente, coloca-se em benefício
de candidatos na mesma situação, os quais não são litisconsortes ativos na presente ação. 4. Teria o interessado,
mediante o mandado de segurança individual, a possibilidade de pleitear o afastamento da suposta ilegalidade
cometida pela autoridade tida como coatora se indicasse a qual serventia faria jus, tomada em conta sua posição
no certame. O pedido de utilização de determinado regramento em audiência de eleição de serventias, com
repercussão benéfica sobre a situação dos outros concorrentes em condição idêntica, traduz hipótese de mandado
de segurança coletivo, para o qual o jurisdicionado não tem legitimidade ativa. 5. Hipótese de denegação da ordem
com fulcro no art. 267, VI, do CPC [de 1973], c/c o art. 6º, § 5º, da Lei n. 12.016/2009. 6. Agravo regimental a que se
nega provimento (STJ, AgRg no AgRg no RMS nº 37778/RS, 2ª T., Rel. Min. Og Fernandes, DJe 20.11.2014).
É de três dias o prazo para interposição de todos esses recursos (CE, art. 258).
Em princípio, os recursos no mandado de segurança não têm efeito suspensivo, de
modo que a execução da decisão que conceder a ordem é imediata, ocorrendo nos
mesmos autos do processo em que foi produzida. Mas enquanto não houver trânsito
em julgado, a execução tem caráter provisório. Note-se, porém, que não poderá haver
execução provisória “nos casos em que for vedada a concessão da medida liminar”
(Lei nº 12.016/2009, art. 14, § 3º).
Quanto aos limites subjetivos da coisa julgada material, há que se distinguir entre
o mandado de segurança individual e o coletivo, pois cada qual deles apresenta
regime próprio.
No individual, segue-se a regra comum, de modo que faz coisa julgada material a
decisão que extingue o processo com apreciação e julgamento do mérito, concedendo
ou denegando a ordem. Cumpre, porém, salientar que no writ a coisa julgada não se
forma em relação à autoridade coatora, mas sim em relação à entidade ou pessoa
jurídica a que ela se encontra vinculada.
Já no mandado de segurança coletivo, dispõe o art. 22 da Lei nº 12.016/2009 que
“a sentença fará coisa julgada limitadamente aos membros do grupo ou categoria
substituídos pelo impetrante”. Como não houve distinção entre a decisão de
procedência ou improcedência do pedido, a coisa julgada abrange as duas situações se
houver apreciação e julgamento do mérito. Assim, a coisa julgada se forma não só em
relação às partes no processo como também a todas as demais pessoas que foram
substituídas pelo impetrante (isto é, todos que, embora não sejam parte no processo,
integram o grupo, classe ou entidade). Isso significa que, havendo resolução do
mérito da demanda: i) se a ordem for concedida, todos os integrantes do grupo, classe
ou entidade se beneficiarão da decisão, ainda que não tenham integrado a relação
processual; ii) se a ordem for denegada, todos serão prejudicados, de modo que não
poderá haver impetração de mandamus individual contra a mesma parte, com o
mesmo pedido e causa de pedir. Caso isso aconteça, o processo deverá ser extinto sem
resolução do mérito com fulcro no art. 485, V (última figura), do CPC/2015.
O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as ações
individuais. Todavia, caso algum integrante do grupo o tenha impetrado
individualmente para discutir a mesma questão, os efeitos da coisa julgada não o
beneficiarão se ele “não requerer a desistência de seu mandado de segurança no
prazo de trinta dias a contar da ciência comprovada da impetração da segurança
coletiva” (Lei nº 12.016/2009, art. 22, § 1º).
Se o processo for extinto sem apreciação do mérito (CPC/2015, arts. 354 e 485), a
decisão respectiva não faz coisa julgada material. De maneira que o pedido poderá
“ser renovado dentro do prazo decadencial” (Lei nº 12.016/2009, art. 6º, § 6º)
previsto para o ajuizamento do mandado de segurança.
Havendo improcedência da demanda sem apreciação do mérito (ex.: insuficiência
de prova), não se perfaz a coisa julgada material. Nesse caso, é dado ao interessado,
em ação própria, pleitear “os seus direitos e os respectivos efeitos patrimoniais” (Lei nº
12.016/2009, art. 19). A propósito, reza a Súmula 304 do STF: “Decisão denegatória
de mandado de segurança, não fazendo coisa julgada contra o impetrante, não
impede o uso da ação própria.”
No Direito eleitoral, vige a regra de gratuidade das ações, pois tem-se em vista a
prática de “atos necessários ao exercício da cidadania” (CF, art. 5º, LXXVII). Daí ser
indevida a condenação em custas judiciais e honorários advocatícios. A proibição de
condenação em honorários de advogado também consta do art. 25 da Lei nº
12.016/2009, da Súmula 512 do STF e da Súmula 105 do STJ.
Relativamente à execução, o caráter mandamental da decisão permite que seu
comando seja concretizado nos autos do próprio processo em que foi proferida. Não
há, pois, um processo autônomo de execução.
A esse respeito, o art. 26 da Lei nº 12.016/2009 encerra uma importante regra:
Art. 26. Constitui crime de desobediência, nos termos do art. 330 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940,
o não cumprimento das decisões proferidas em mandado de segurança, sem prejuízo das sanções administrativas e
da aplicação da Lei no 1.079, de 10 de abril de 1950, quando cabíveis.
Assim, o descumprimento de decisão proferida em mandado de segurança – seja
de natureza liminar ou definitiva – enseja três âmbitos de responsabilidade, a saber: i)
criminal, constituindo a conduta do agente crime de desobediência;16 ii)
administrativa; e iii) política.17
Sob pena de decadência, deve o writ ser impetrado no prazo 120 dias, “contados
da ciência, pelo interessado, do ato impugnado” (Lei nº 12.016/2009, art. 23). O ato,
aqui, tem natureza comissiva. Tal marco é justificado pelo fato de ser com a ciência do
interessado que o ato se torna apto a lesionar seu direito. Ressalte-se que o fluxo do
prazo não é interrompido por “pedido de reconsideração na via administrativa” (STF,
Súmula 430). Por outro lado, a Súmula 632 do Pretório Excelso considerou ser
“constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração de mandado de
segurança”.
No que concerne ao ato omissivo, por não ter ele prazo certo para ser executado, é
inaplicável o aludido marco decadencial. Nesse sentido, o Pretório Excelso já assentou
que, enquanto houver “omissão continuada da Administração Pública, não corre o
prazo de decadência para a impetração do mandado de segurança, sendo certo,
porém, que essa omissão cessa no momento em que há situação jurídica de que
decorre inequivocamente a recusa, por parte da Administração Pública, do
pretendido direito, fluindo a partir daí o prazo de 120 dias para a impetração da
segurança contra essa recusa [...]” (STF, RMS nº 23987/DF, 1ª T., Rel. Min. Moreira
Alves, DJ 02.05.2003, p. 40). Por outro lado, havendo prazo legal para a prática do
ato pelo Poder Público, esgotado esse lapso, “começa a correr o prazo de 120 dias,
para impetrar mandado de segurança” (STF, MS nº 23126/DF, Pleno, Rel. Min. Ilmar
Galvão, DJ 08.09.2000, p. 6). E mais: em se tratando de relação jurídica de caráter
continuado, “o prazo para impetrar mandado de segurança renova--se a cada omissão
da Administração Pública” (STF, MS nº 26733 AgR/DF, Pleno, Rel. Min. Eros Grau,
DJe 152, 30.11.2007).
Como não poderia deixar de ser, o writ of mandamus é sobremodo importante
para a proteção de direitos nos âmbitos de atuação da Justiça eleitoral. Deveras, é ele
muito utilizado não só na seara administrativa como também na jurisdicional. Sobre
essa variedade de uso, vejam-se, à guisa de exemplos, os seguintes arestos:
Recurso em mandado de segurança. Eleições 2012. Vice-prefeito. Registro indeferido. Inelegibilidade. Execução.
Trânsito em julgado. Desnecessidade. Princípio da segurança jurídica. Alegação. Processo de registro. Súmula
267/STF. Desprovimento. [...] 3. Consoante a Súmula 267/STF, não cabe mandado de segurança contra ato judicial
do qual caiba recurso. Na espécie, a alegada violação do princípio da segurança jurídica – decorrente do fato de a
candidatura do recorrente ter sido indeferida a partir de mudança de jurisprudência acerca da inelegibilidade do
art. 1º, I, g, da LC 64/90 – deve ser discutida no respectivo processo de registro. 4. Recurso em mandado de
segurança desprovido (TSE, RMS nº 50452/RJ, DJe, t. 50, 14.03.2014, p. 59-60).
Recurso em mandado de segurança. Servidor. Demissão. Direito líquido e certo. O cabimento do mandado de
segurança pressupõe a existência de direito líquido e certo que seja incontroverso e possa ser facilmente percebido
a partir de prova pré-constituída, não sendo cabível, nesta via estreita, a análise aprofundada das provas
produzidas em processo administrativo e em ação penal para verificação das circunstâncias e fatos que ensejaram
a demissão do funcionário. Recurso em mandado de segurança a que se nega provimento (TSE, RMS nº 97621/MG,
DJe, t. 224, 25.11.2013, p. 50-51).
Mandado de segurança. Recurso ordinário. Decisão de relator. Tribunal regional eleitoral. Não cabimento. Não
cabe recurso ordinário dirigido ao Tribunal Superior Eleitoral em face de decisão de relator na corte de origem que
indefere liminarmente mandado de segurança, pois contra tal decisão caberia agravo, na forma do art. 10, § 1º, da
Lei nº 12.016/2009. Precedentes: AgR-AI nº 8.446, rel. Min. Arnaldo Versiani, DJe 06.03.2009; RMS nº 406, rel. Min.
José Delgado, DJe 1º.08.2006; RMS nº 323, rel. Min. Peçanha Martins, DJe 04.02.2005. Agravo regimental a que se
nega provimento (TSE, AgR-RMS nº 90365/PR, DJe, t. 203, 22.10.2013).
Eleições 2008. Mandado de segurança. Ação de impugnação de mandato eletivo. Procedência. Determinação de
cumprimento após o decurso de prazo para oposição de embargos de declaração. Ausência de teratologia.
Segurança denegada. Decisão: O tribunal, por unanimidade, denegou a ordem, nos termos do voto da relatora
(TSE, MS nº 174004/PB, DJe, t. 37, 24.02.2012, p. 43).
Recurso em mandado de segurança. Administrativo. Concurso público. Analista judiciário – área judiciária.
Impugnação a edital de concurso de remoção. Inobservância do prazo legal de 120 dias. Decadência. Recurso ao
qual se nega provimento. Decisão: O tribunal, por unanimidade, desproveu o recurso, nos termos do voto da
relatora (TSE, RMS nº 547/CE, DJe, t. 52, 16.03.2012, p. 23-24).
[...] I – Mandado de segurança: decisão de TRE sobre critério a ser adotado na apuração eleitoral. 1. Admissível o
mandado de segurança impetrado pelo candidato a governador que obteve a segunda votação no primeiro turno
da eleição contra decisão do TRE que, resolvendo questão de ordem suscitada pela comissão apuradora, determina
se considerem nulos votos dados a outro candidato, o que resultará alcançar o primeiro colocado a maioria
absoluta dos votos válidos e, consequentemente, a não realização do segundo turno [...] (TSE, MS nº 3100/MA, DJ,
v. 1, 07.02.2003, p. 139).
[...] 1. Cabe mandado de segurança contra decisão interlocutória proferida em investigação judicial eleitoral, por
não existir recurso hábil para evitar eventual dano por ela causado. 2. Denega-se o mandado de segurança quando
não demonstrada a violação de direito líquido e certo. 3. Recurso improvido (TSE, RMS nº 176/RJ, DJ 07.06.2002).
Mandado de segurança. Decisão que obstou o restabelecimento de direitos políticos do impetrante. Medida
cautelar de suspensão do exercício da função pública não enseja a suspensão dos direitos políticos. Concessão da
ordem para que sejam restabelecidos os direitos políticos, com determinação. Decisão: Concederam a segurança.
V.u. (TRE-SP, MS nº 399164, DJESP-TRESP, 24.09.2014).
Processual civil. Agravo regimental contra decisão liminar proferida em mandado de segurança contra decisão da
juíza coordenadora da fiscalização da propaganda eleitoral. Impetrante que é pré-candidato à chefia do Poder
Executivo estadual. Impossibilidade de realização de propaganda eleitoral antes do período estabelecido na lei.
Distribuição nos eventos chamados de “Caravana da Paz” de bíblias, calendários e livros, bem como de uma
“carteirinha” do “Clube das Donas de Casa”, todos com a foto do pré-candidato. Pré-candidato que não é pastor
religioso, realizando eventos de cunho religioso. Evento que é, na realidade, promoção política e pessoal do pré-
candidato, caracterizando propaganda eleitoral antecipada, o que é vedado pela lei eleitoral. Provimento do
recurso (TRE-RJ, AgR-MS nº 17739, DJERJ-TRE-RJ, t. 106, 23.05.2014, p. 26-31).
Recurso em mandado de segurança. Pedido de registro de candidatura. Dados não recebidos pelo módulo externo
do Sistema de Candidaturas (CANDex). Inconsistência das informações. Partido não coligado. Indeferimento da
inicial. Art. 10 da Lei nº 12.016/2009. Inexistência dos requisitos necessários ao recebimento do mandamus. Inicial
sem clara indicação da autoridade coatora. Recepção de dados do partido no sistema CANDex. Pedido de
intimação de representantes de coligações partidárias como autoridades coatoras. Autoridades que, em tese, não
poderiam corrigir o ato questionado. Ausência de óbice efetivo ao pedido de registro da candidatura, no prazo
legal. A pretensão do impetrante – registro individual de candidatura – deveria ter sido veiculada por meio de
requerimento do próprio candidato perante a Justiça eleitoral, no prazo máximo de 48 horas seguintes à
publicação da lista dos candidatos pela Justiça eleitoral (art. 11, § 4º, da Lei nº 9.504/1997). Inadequação da via
eleita. Recurso a que se nega provimento. Decisão: O tribunal, à unanimidade, negou provimento ao recurso, nos
termos do voto do relator (TRE-MG, RMS nº 81389, DJEMG-TREMG 03.09.2012).
Mandado de segurança. Candidato eleito. Diploma eleitoral. Não expedição. Solenidade essencial. Não
observância. Nulidade da posse. Configuração. 1. A interposição concomitante de mandado de segurança, calcado
em suposto vício no ato de posse do candidato, pretendendo apenas a decretação de sua nulidade, e de recurso
contra expedição de diploma, que visa a cassação do correspondente mandato eletivo, não configura
litispendência, porquanto não configurados os requisitos do art. 301 do CPC [de 1973]. Preliminar de
litispendência rejeitada. [...] 6. Segurança parcialmente concedida, apenas para declarar nula a posse do candidato
[...] e ordenar a expedição de ofício ao Juízo Eleitoral da 15ª Zona de Icó/CE, para que adote as medidas necessárias
à imediata regularização da situação do candidato em relevo, com a expedição, o mais célere possível, do respectivo
diploma eleitoral, a fim de que seja dado integral cumprimento ao provimento liminar emanado do Tribunal
Superior Eleitoral (TRE-CE, MS nº 128, DJe, t. 174, 20.09.2011, p. 7-8).
Mandado de segurança. Perda dos direitos políticos. Cancelamento de inscrição eleitoral. Decadência. Art. 54 da
Lei 9.784/1999. A recusa de cumprimento de obrigação a todos imposta ou prestação alternativa acarreta a perda
dos direitos políticos, nos termos do art. 15, inc. IV, da Constituição Federal. O prazo decadencial para a
Administração Pública cancelar a inscrição eleitoral, em decorrência da perda de direitos políticos, em razão do
não cumprimento de obrigação é de cinco anos, ex vi do disposto no art. 54 da Lei 9.784/1999. Decisão: À
unanimidade de votos, a corte concedeu a segurança para confirmar a liminar deferida às fls. 24 e 32 e declarar a
decadência do direito da Administração Pública em cancelar a inscrição eleitoral do impetrante (TRE-PR, MS nº 77,
DJ 14.02.2003).
Mandado de segurança. Rejeitada preliminar de extinção da segurança sem julgamento do mérito. A substituição
de juízes eleitorais pelo sistema de rodízio não implica lesão aos princípios da inamovibilidade e da vitaliciedade.
Segurança denegada. Decisão unânime (TRE-PE, MS nº 246, DJ, t. 142, 27.07.2000, p. 42).
As normas constitucionais que podem ser invocadas como causa do cabimento do mandado de injunção devem
reunir dois predicados básicos: i) disporem sobre direitos, liberdades ou prerrogativas; ii) terem eficácia material
não plena, ou seja, serem dependentes de detalhamento de seu conteúdo para fins de incidência, o que no caso
deveria ser feito, ante a recusa parlamentar ou administrativa, pelo Poder Judiciário.
Art. 8º Reconhecido o estado de mora legislativa, será deferida a injunção para o fim de:
I – determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição da norma regulamentadora;
II – estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, liberdades ou prerrogativas reclamados ou, se
for o caso, as condições em que poderá o interessado promover ação própria visando a exercê-los, caso não seja
suprida a mora legislativa no prazo determinado.
Parágrafo único. Será dispensada a determinação a que se refere o inciso I do caput quando comprovado que o
impetrado deixou de atender ao prazo estabelecido para a edição da norma em anterior mandado de injunção.
Pelo art. 9º do Projeto, a decisão judicial “terá eficácia subjetiva limitada às partes
e produzirá efeitos até o advento da norma regulamentadora”. Mas a ela se poderá
ser conferida eficácia ultra partes ou erga omnes sempre que se entender que isso seja
inerente ou indispensável ao exercício do direito, liberdade ou prerrogativa objeto da
impetração.
O projeto também regulamenta o mandado de injunção coletivo. Esse visa a
proteger os direitos, liberdades e prerrogativas “pertencentes, indistintamente, a uma
coletividade indeterminada de pessoas ou determinada por grupo, classe ou
categoria” (art. 12, parágrafo único). Tem legitimidade para promovê-lo: o Ministério
Público, partido político com representação no Congresso Nacional, organização
sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento
há, pelo menos, um ano.
É indevida a condenação em custas judiciais e honorários advocatícios. É que no
Eleitoral vige a regra de gratuidade das ações, pois tem-se em vista a prática de “atos
necessários ao exercício da cidadania” (CF, art. 5º, LXXVII).
A Justiça eleitoral já teve oportunidade de julgar mandados de injunção perante
ela impetrados. Vejam-se alguns arestos:
Mandado de injunção. Voto. Eleitor em trânsito. Regulamentação. Norma. Atribuição. Tribunal Superior
Eleitoral. Improcedência. 1. Hipótese em que não há falar em omissão desta corte quanto à regulamentação de
disposição constitucional, a fim de que pudesse ser efetivada a possibilidade do voto em trânsito. Mandado de
injunção julgado improcedente. Decisão: O tribunal, por unanimidade, julgou improcedente o pedido no mandado
de injunção, na forma do voto do relator (TSE, MI nº 4/RO, DJ, v. 1, 04.10.2006, p. 157).
Mandado de injunção. Regulamentação do Cap. V, III, II da Carta Magna. Partidos políticos. Inexistência de
restrições ao exercício dos direitos constitucionais inerentes a organização partidária decorrente da ausência de
norma regulamentadora (CF, art. 5º, LXXI). A LOPP não se encontra revogada pela CF/1988 (prec.: Res-TSE n.
15.271, de 23.05.1989). Indeferimento da inicial por falta de representação legal. Decisão: o tribunal, por votação
unânime, em questão de ordem, indeferiu liminarmente a petição inicial (TSE, MI nº 9/SP, DJ 01.11.1990, p. 12.369).
1. Mandado de injunção. Cabimento. CF, art. 5º, inciso LXXI. A impetração de mandado de injunção pressupõe
falta de norma regulamentadora que torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das
prerrogativas inerentes a nacionalidade, a soberania e a cidadania, o que inocorre na espécie em exame. 2. Câmara
de vereadores. Fixação de membros. Eleição de 15.11.1988. Competência dos TREs. Face o disposto no § 4º do art.
5º do ADCT, c/c o disposto no art. 29, IV, da Constituição Federal de 1988, a fixação do número de vagas a
preencher nas câmaras municipais na eleição de 1988 coube aos respectivos tribunais regionais, não tendo efeito
retroativo decisão de Assembleia Constituinte Estadual, que dispôs de forma diversa. Recurso ordinário
desprovido. Decisão: negou-se provimento ao recurso ordinário. Unânime (TSE, RMI nº 11/ GO, DJ 04.05.1990, p.
1).
Vale ressaltar que o art. 5º, XXXIII, da Lei Maior reconhece o direito de todos “a
receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular [...]”, informações
essas que devem ser prestadas no prazo legal, sob pena de responsabilidade,
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado.
Consoante ensina Tavares (2013, p. 698), o habeas data constitui
[...] a ação constitucional pela qual todo interessado pode exigir o conhecimento do conteúdo de registro de dados,
relativamente a sua pessoa, mas que se encontrem em repartições públicas ou particulares acessíveis ao público em
geral. Permite-se, ainda, por meio da ação, pedido para retificar dados constantes dos referidos registros e,
inclusive, sua retirada imediata, quando se tratar de informações obtidas com violação de direitos fundamentais
ou cuja exposição viole direitos fundamentais (como privacidade, intimidade, imagem etc.).
1. A simples condenação em ação popular não gera inelegibilidade por vida pregressa, por não ser autoaplicável o §
9º, art. 14 da Constituição Federal, com a redação da Emenda Constitucional de Revisão nº 4/1994, nos termos da
Súmula TSE nº 13. 2. O objeto da ação popular é a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao
patrimônio público, bem como a condenação do responsável pelo ato ao pagamento de perdas e danos (arts. 1º e
11 da Lei nº 4.717/1965). Dessa maneira, não se inclui entre as finalidades da ação popular a cominação de sanção
de suspensão de direitos políticos por ato de improbidade administrativa. Por conseguinte, condenação a
ressarcimento do Erário em ação popular não conduz, por si só, à inelegibilidade. 3. A ação popular e a ação por
improbidade administrativa são institutos diversos. 4. A sanção de suspensão dos direitos políticos, por meio de
ação de improbidade administrativa, não possui natureza penal e depende de aplicação expressa e motivada por
parte do juízo competente, estando condicionada a sua efetividade ao trânsito em julgado da sentença
condenatória, consoante expressa previsão legal do art. 20 da Lei nº 8.429/1992. 5. Para estar caracterizada a
inelegibilidade do art. 1º, inciso I, alínea h, é imprescindível a finalidade eleitoral. 6. A ação popular não é
pressuposto da inelegibilidade descrita no art. 1º, inciso I, alínea g, da LC nº 64/1990. 7. Negado provimento ao
recurso. Decisão: O tribunal, por unanimidade, negou provimento ao recurso, nos termos do voto do relator (TSE,
REspe nº 23347/PR, PSS 22.09.2004).
1. O requerente, enquanto prefeito [...] foi condenado por decisão proferida por órgão judicial colegiado em ação
popular. Todavia referida condenação não atrai a inelegibilidade do art. 1º, inciso I, alínea h, da Lei das
Inelegibilidades, vez que ausente a finalidade eleitoral. 2. Para configurar a inelegibilidade da letra h do item I do
art. 1º da Lei Complementar nº 64/1990, o abuso deve vincular-se a finalidades eleitorais. Precedentes: TSE. 3.
Impugnação rejeitada. Indeferimento. Decisão: Deferiram o registro. V.u. (TRE-SP, REG nº 90670/SP, PSS
01.09.2014).
Registro de candidatura. Eleições 2010. Impugnação. Condenações confirmadas por órgão de segunda instância em
ação civil pública e ação popular. Em sede de ação civil pública ou ação popular, a inelegibilidade não decorre da
condenação por ressarcimento ao Erário. É necessário que a sanção de suspensão de direitos políticos seja
expressamente aplicada, de acordo com a redação do art. 1º, I, l, da Lei Complementar nº 64/1990. Cumpridos os
requisitos estabelecidos na Lei nº 9.504, de 30.09.1997 (Lei das Eleições), e na Resolução nº 23.221/2010/TSE. Ação
de impugnação ao registro de candidatura improcedente. Registro deferido. Decisão: O tribunal julgou
improcedente a ação de impugnação ao registro de candidatura, e deferiu o pedido de registro de candidatura, nos
termos dos votos que integram a decisão (TRE-MG, RCAND nº 363571/MG, PSS 02.08.2010).
Agravo regimental. Ação cautelar. Decisão liminar. Atribuição de efeito suspensivo a recurso especial.
Excepcionalidade demonstrada. A atribuição de efeito suspensivo ao recurso especial – apelo que, nos termos do
art. 257 do Código Eleitoral, é desprovido de tal efeito – é medida excepcional, apenas admissível quando
demonstrados o perigo de dano irreparável ou de difícil reparação e a plausibilidade jurídica das razões recursais
[...] (TSE, AgR-AC nº 194443/SP, DJe, t. 68, 10.04.2015, p. 32).
[...] 3. A ausência de demonstração da viabilidade do recurso inviabiliza a concessão de efeito suspensivo em sede
cautelar [...] (TSE, AgR-AC nº 428581/MG, DJe 14.03.2011, p. 13-14).
1. O deferimento de pedido liminar em ação cautelar para atribuir efeito suspensivo a recurso não dotado desse
efeito exige a presença conjugada do fumus boni juris, consubstanciado na plausibilidade do direito invocado, e do
periculum in mora, o qual se traduz na ineficácia da decisão se concedida somente no julgamento definitivo da ação
[...] (TSE, AgR-AC nº 91072/MG, DJe 05.08.2010, p. 81).
O fumus boni iuris, que enseja a concessão de liminar em medida cautelar para dar efeito suspensivo a recurso
especial, diz com a viabilidade deste [...] (TSE, AMC nº 1688/RJ, DJ, v. 1, 16.09.2005, p. 170).
Ressalte-se que pela via da tutela cautelar não se pode desfazer o registro já
deferido do candidato representado, tampouco constituir inelegibilidade.
Por fim, cumpre lembrar que, no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral, o
processo atinente a tutela cautelar requerida em caráter antecedente tramita
eletronicamente, pelo sistema PJe, conforme regulamentação constante da Resolução
TSE nº 23.417/2014 e Portaria TSE nº 396/2015.
1. De logo, tanto a proclamação dos resultados da eleição quanto a diplomação dos eleitos são atos de
administração eleitoral, e não de jurisdição.
2. Por isso mesmo, tenho observado que o chamado “recurso contra expedição de diplomação” (Código Eleitoral,
art. 262), antes de ser um recurso, é, na verdade, uma ação constitutiva negativa do ato administrativo da
diplomação (TSE, MS nº 3100/MA, Rel. Min. José Paulo Sepúlveda Pertence, DJ, v. 1, 07.02.2003, p. 139 – trecho do
voto).
12.5 RECLAMAÇÃO
No processo jurisdicional eleitoral brasileiro há diversas espécies de ações, dentre
as quais destacam-se as seguintes: i) ação de investigação judicial eleitoral por abuso
de poder (AIJE) (LC nº 64/1990, arts. 19 e 22); ii) ação por captação ou gasto ilícito
de recursos para fins eleitorais (Lei nº 9.504/1997, art. 30-A); iii) ação por captação
ilícita de sufrágio (Lei nº 9.504/1997, art. 41-A); iv) ação por conduta vedada (Lei nº
9.504/1997, art. 73 e ss.); v) ação de impugnação de mandato eletivo (AIME) (CF,
art. 14, §§ 10 e 11).
O termo representação é comumente empregado no Direito processual eleitoral
como sinônimo de ação para identificar as ações eleitorais previstas na Lei nº
9.504/1997 (LE) e separá-las da AIJE (prevista no art. 22 da LC 64/1990).
Também é frequente o uso do vocábulo reclamação.
A reclamação do Direito eleitoral não tem, entretanto, natureza de ação, mas de
medida administrativa. Trata-se de notícia de ato supostamente irregular praticado
por alguma entidade, agente ou órgão da Justiça eleitoral, na qual se pede à
autoridade eleitoral a adoção de providência. Ostenta ela caráter correcional, não
sendo vocacionada à provocação da jurisdição eleitoral. À guisa de exemplo, cite-se o
disposto nos arts. 22, I, f, e 29, I, f, ambos do Código Eleitoral, que preveem a
competência respectivamente do TSE e dos TREs para conhecer “reclamações relativas
a obrigações impostas por lei aos partidos políticos, quanto à sua contabilidade e à
apuração da origem dos seus recursos”. Cite-se também o § 1º, art. 4º da Res. TSE nº
22.624/2007, segundo o qual a reclamação tem “como objeto ato de servidor da
Justiça eleitoral”.
O termo reclamação também remete ao instituto previsto nos arts. 102, I, l, e 105,
I, f, da Constituição Federal, que preveem respectivamente a competência originária
do STF e do STJ para processar e julgar “a reclamação para a preservação de sua
competência e garantia da autoridade de suas decisões”. Sobre isso, dispõe o art. 988
do CPC/2015:
Art. 988. Caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público para: I – preservar a competência do
tribunal; II – garantir a autoridade das decisões do tribunal; III – garantir a observância de enunciado de súmula
vinculante e de decisão do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade; IV –
garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente de resolução de demandas repetitivas ou
de incidente de assunção de competência.
I – se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz; II – for proferida por
juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente; III – resultar de dolo ou coação da parte vencedora em
detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei; IV – ofender
a coisa julgada; V – violar manifestamente norma jurídica; VI – for fundada em prova cuja falsidade tenha sido
apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória; VII – obtiver o autor,
posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz,
por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável; VIII – for fundada em erro de fato verificável do exame dos
autos. § 1º Há erro de fato quando a decisão rescindenda admitir fato inexistente ou quando considerar inexistente
fato efetivamente ocorrido, sendo indispensável, em ambos os casos, que o fato não represente ponto
controvertido sobre o qual o juiz deveria ter se pronunciado. § 2º Nas hipóteses previstas nos incisos do caput, será
rescindível a decisão transitada em julgado que, embora não seja de mérito, impeça: I – nova propositura da
demanda; ou II – admissibilidade do recurso correspondente. § 3º A ação rescisória pode ter por objeto apenas um
capítulo da decisão. § 4º Os atos de disposição de direitos, praticados pelas partes ou por outros participantes do
processo e homologados pelo juízo, bem como os atos homologatórios praticados no curso da execução, estão
sujeitos à anulação, nos termos da lei. § 5º Cabe ação rescisória, com fundamento no inciso V do caput deste artigo,
contra decisão baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos repetitivos que não
tenha considerado a existência de distinção entre a questão discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu
fundamento. § 6º Quando a ação rescisória fundar-se na hipótese do § 5º deste artigo, caberá ao autor, sob pena de
inépcia, demonstrar fundamentadamente tratar-se de situação particularizada por hipótese fática distinta ou de
questão jurídica não examinada, a impor outra solução jurídica.
Note-se que o § 4º desse dispositivo prevê hipóteses em que a ação cabível será
anulatória, e não rescisória.
A ação rescisória eleitoral segue procedimento especial.
O prazo para ajuizamento é de 120 dias, contado do trânsito em julgado da
decisão que se pretende desfazer. Dada a expressa previsão contida no art. 22, I, j, do
CE, não se aplica aqui o lapso de dois anos previsto no art. 975 do CPC/2015.
Detém legitimidade ad causam ativa quem foi parte no processo que deu origem
à decisão rescindenda. Além disso, o art. 967 do CPC/2015 ainda confere
legitimidade ao terceiro juridicamente interessado e também ao Ministério Público,
este apenas nas seguintes hipóteses: “(a) se não foi ouvido no processo, em que lhe
era obrigatória a intervenção; (b) quando a decisão rescindenda é o efeito de
simulação ou de colusão das partes, a fim de fraudar a lei; c) em outros casos em que
se imponha sua atuação”.
A citada alínea j, I, do art. 22 do CE atribuiu competência rescisória tão somente
ao TSE, de sorte que, diante da expressa previsão legal e da incidência do princípio da
especialidade, os tribunais regionais eleitorais não detêm competência para processar
e julgar a ação em tela, nem mesmo perante seus próprios julgados.
No âmbito do tribunal superior, o processo tramitará sob a responsabilidade do
relator que for sorteado. Esse, em decisão singular, poderá in initio litis indeferir a
petição inicial nas hipóteses previstas no art. 330 do CPC/2015, bem como julgar
improcedente o pedido nas hipóteses do art. 332 do mesmo Código (CPC/2015, art.
968, §§ 3º e 4º). A petição inicial também será rejeitada no caso de ajuizamento
intempestivo da ação rescisória (TSE, AgR-AR no 185440/PB, DJe 05.10.2012).
A demanda deve ter por objeto a rescisão de decisão do próprio Tribunal Superior
Eleitoral, proferida no âmbito de sua competência originária ou recursal. Destarte,
esse sodalício não detém competência para rescindir julgado de tribunal regional,
tampouco de juiz eleitoral de 1o grau.
A decisão rescindenda pode ter natureza colegiada (acórdão), ou monocrática
(singular, do relator do recurso), contanto que essa última tenha apreciado o mérito
da causa (TSE, AR no 64621/BA, DJe 22.08.2011, p. 15).
Quanto à matéria impugnável, a enfocada alínea j estabelece expressamente que a
decisão cujo desfazimento se pleiteia deve versar sobre inelegibilidade. Assim, há
mister que se tenha declarado ou constituído inelegibilidade. De sorte que o julgado
rescindendo deve proceder de: (i) AIJE fundada no ar. 22, XIV, da LC no 64/1990;
(ii) processo de registro de candidatura; (iii) ação impugnatória de registro de
candidatura (AIRC); ou (iv) recurso contra expedição de diploma (RCED) fundado
no art. 262 do CE.
[...] 1. No âmbito da Justiça eleitoral, a ação rescisória só é cabível para desconstituir acórdãos do TSE que
contenham declaração de inelegibilidade (art. 22, I, j, do Código Eleitoral). Precedentes. 2. Agravo regimental
desprovido. Decisão: O tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo regimental, nos termos do voto do relator
(TSE, AgR-AR no 179722/PE, DJe 24.09.2012, p. 25).
Ação rescisória. Cabimento. 1. A ação rescisória somente é cabível no âmbito da Justiça eleitoral contra decisão do
Tribunal Superior Eleitoral e que verse sobre inelegibilidade. 2. Não cabe ação rescisória para desconstituir decisão
condenatória, em sede de representação do art. 41-A da Lei no 9.504/1997, já que nela não há, no âmbito da própria
ação, declaração de inelegibilidade. Agravo regimental a que se nega provimento. Decisão: O tribunal, por
unanimidade, desproveu o agravo regimental, nos termos do voto do relator (TSE, AgR-AR no 41557/PA, DJe, t.
201, 17.10.2012, p. 15).
[...] 2. Não é possível, por meio da via excepcional da ação rescisória, a simples pretensão de rediscussão da causa
de indeferimento do registro de candidatura [...] (TSE, AgR-AR no 185440/PB, DJe 05.10.2012).
Por fim, vale ressaltar que a impugnação da decisão final na ação rescisória pode
ser ultimada pelos seguintes recursos: (i) decisão singular: agravo interno; (ii) decisão
colegiada: embargos declaratórios e recurso extraordinário.
1 A esse respeito, vide Paulo Bonavides (2010, p. 560-593) e Ferreira Filho (2010, p. 83 e ss.). O primeiro põe ainda
em destaque a existência de duas outras gerações de direitos fundamentais, a saber: a quarta, representada pelo
“direito à democracia, o direito à informação e o direito ao pluralismo”, e a quinta geração, esta simbolizada
pelo direito à paz.
2 O sentido do termo garantia não é unívoco. Sobre outros sentidos que ele assume, vide Ferreira Filho (2010, p.
93-94).
3 As definições de direito coletivo em sentido estrito e individual homogêneo são idênticas às do art. 81,
parágrafo único, II e III, da Lei nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor – CDC).
4 No caso de impetração por partido político, o objeto do writ deve relacionar-se com sua específica atuação
política ou com a defesa dos interesses de seus filiados. Confira-se precedente do STF: “[...] 2. O partido político
não está, pois, autorizado a valer-se do mandado de segurança coletivo para, substituindo todos os cidadãos
na defesa de interesses individuais, impugnar majoração de tributo. 3. Recurso extraordinário conhecido e
provido” (STF, RE nº 196184/AM, 1ª T., Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 18.02.2005, p. 6).
5 STF, Súmula 629: “A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos
associados independe da autorização destes.” STF, Súmula 630: “A entidade de classe tem legitimação para o
mandado de segurança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva
categoria.”
6 Dispõe a Súmula 267 do STF: “Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou
correição.” Entretanto, o rigor dessa súmula há muito foi mitigado pelo próprio STF, admitindo-se o writ “se
no ato judicial houvesse teratologia, ilegalidade ou abuso flagrante” (STF, MS nº 31831 AgR/PA, Pleno, Rel.
Min. Dias Toffoli, DJe 234, 28.11.2013). De qualquer forma, como obtemperam Meirelles et al. (2009, p. 41 e 43):
“Inadmissível é o mandado de segurança como substitutivo do recurso próprio, pois por ele não se reforma a
decisão impugnada, mas apenas se obtém a sustação de seus efeitos lesivos ao direito líquido e certo do
impetrante, até a revisão do julgado no recurso cabível. [...] No entanto, é importante ressaltar que a mera
existência de recurso processual cabível não afasta o mandado de segurança se tal recurso é insuficiente para
coibir a ilegalidade do Judiciário e impedir a lesão ao direito evidente do impetrante [...].”
7 Dispõe a Súmula 268 do STF: “Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em
julgado.”
8 No Direito brasileiro havia se consolidado o entendimento de que não cabe mandado de segurança contra ato
de partido político ou de seus dirigentes – já que não se trata de autoridade. No entanto, esse entendimento não
mais subsiste, pois a Lei nº 12.016/2009, que conferiu nova disciplina à ação mandamental, equiparou às
autoridades os “representantes ou órgãos de partidos políticos” (LMS, art. 1º, § 1º).
9 O impetrado é sempre a autoridade coatora, e não – afirmam Meirelles et al. (2009, p. 62-63) – “a pessoa
jurídica ou o órgão a que pertence e ao qual seu ato é imputado em razão do ofício. A entidade interessada deve
ingressar no mandado dentro do prazo para as informações, como litisconsorte do impetrado (art. 7º, inc. II,
da Lei nº 12.016/90).” Por outro lado, reza a Súmula 510 do STF: “Praticado o ato por autoridade, no exercício
de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial.”
10 Eis o teor desse dispositivo: “CE, art. 22. Compete ao Tribunal Superior: I – Processar e julgar originariamente:
[...] e) o [...] mandado de segurança, em matéria eleitoral, relativos a atos do Presidente da República, dos
ministros de Estado e dos tribunais regionais; ou, ainda, o habeas corpus, quando houver perigo de se
consumar a violência antes que o juiz competente possa prover sobre a impetração.”
11 No processo eleitoral, as causas não têm valor e são sempre gratuitas. Isso por serem compreendidas como
“atos necessários ao exercício da cidadania” (CF, art. 5º, LXXVII).
12 As provas no mandado de segurança são sempre documentais e devem acompanhar a petição inicial.
13 A audiência prevista nesse inciso VII não tem cabimento no mandado de segurança.
14 Saliente-se, porém, que, nos termos do § 2º do art. 7º da LMS, “Não será concedida medida liminar que tenha
por objeto a compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a
reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou
pagamento de qualquer natureza”.
15 Nos termos do § 2º do art. 14 da LMS: “Estende-se à autoridade coatora o direito de recorrer.”
16 Por se tratar de desobediência de decisão da Justiça eleitoral, o crime de desobediência aqui é o previsto no art.
347 do Código Eleitoral e não o tipificado no art. 330 do Código Penal. Aquele dispositivo estabelece: “Art. 347.
Recusar alguém cumprimento ou obediência a diligências, ordens ou instruções da Justiça eleitoral ou opor
embaraços à sua execução: Pena – detenção de três meses a um ano e pagamento de dez a vinte dias-multa.”
17 O art. 85, VII, da Constituição Federal prevê como crime de responsabilidade os atos do Presidente da
República que atentem – entre outras coisas – contra a Constituição Federal e, especialmente, contra “o
cumprimento das leis e das decisões judiciais”. Essa matéria é regulada pela Lei nº 1.079/1950, cujo art. 12
estabelece: “Art. 12. São crimes contra o cumprimento das decisões judiciárias: 1 – impedir, por qualquer meio,
o efeito dos atos, mandados ou decisões do Poder Judiciário; 2 – recusar o cumprimento das decisões do Poder
Judiciário no que depender do exercício das funções do Poder Executivo; 3 – deixar de atender a requisição de
intervenção federal do Supremo Tribunal Federal ou do Tribunal Superior Eleitoral; 4 – impedir ou frustrar
pagamento determinado por sentença judiciária.” Outrossim, o art. 74 dessa lei estende o crime em apreço aos
governadores dos estados e seus respectivos secretários, in verbis: “Art. 74. Constituem crimes de
responsabilidade dos governadores dos estados ou dos seus secretários, quando por eles praticados, os atos
definidos como crimes nesta lei.”
18 O art. 1.072, IV, do CPC/2015 revogou apenas “os arts. 13 a 18, 26 a 29 e 38 da Lei nº 8.038, de 28 de maio de
1990.”
19 Vide STF, MI nº 107/DF, Pleno, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 02.08.1991, p. 9.916.
20 As ações cautelares nominais foram extintas pelo CPC de 2015. Extrai-se da Exposição de Motivos desse
Código: “Extinguiram-se também as ações cautelares nominadas. Adotou-se a regra no sentido de que basta à
parte a demonstração do fumus boni juris e do perigo de ineficácia da prestação jurisdicional para que a
providência pleiteada deva ser deferida. Disciplina-se também a tutela sumária, que visa a proteger o direito
evidente, independentemente de periculum in mora. O novo CPC agora deixa clara a possibilidade de concessão
de tutela de urgência e de tutela de evidência. Considerou-se conveniente esclarecer de forma expressa que a
resposta do Poder Judiciário deve ser rápida não só em situações em que a urgência decorre do risco de eficácia
do processo e do eventual perecimento do próprio direito. Também em hipóteses em que as alegações da parte
se revelam de juridicidade ostensiva deve a tutela ser antecipadamente (total ou parcialmente) concedida,
independentemente de periculum in mora, por não haver razão relevante para a espera, até porque, via de regra,
a demora do processo gera agravamento do dano.”
21 Direito eleitoral: 11. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Atlas, 2015, p. 671 e ss.
13
13.1 INTRODUÇÃO
O presente texto tem o propósito de apresentar um breve delineamento das
impugnações criminais, evidenciando as interfaces existentes com o processo penal
eleitoral. Não se tem aqui o propósito de analisar minuciosamente, em profundidade,
todo o instrumental processual criminal, tampouco se pretendem esgotar as inúmeras
e fecundas discussões a respeito dos institutos que serão expostos; mesmo porque isso
já é feito com propriedade pela doutrina especializada em processo penal.
A bem ver, poucas são as regras do Direito eleitoral especificamente voltadas para
o processo e julgamento de crimes eleitorais. Daí se aplicarem subsidiariamente o
Código de Processo Penal e os institutos processuais penais comuns. Nesse sentido,
estabelece o Código Eleitoral:
Art. 364. No processo e julgamento dos crimes eleitorais e dos comuns que lhes forem conexos, assim como nos
recursos e na execução, que lhes digam respeito, aplicar-se-á, como lei subsidiária ou supletiva, o Código de
Processo Penal.1
CF, art. 5º [...] LXVIII – conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer
violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.
CPP, art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou
coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar.
A petição inicial da ação de habeas corpus deve conter elementos mínimos que
permitam o conhecimento adequado dos fatos. Nesse sentido, estabelece o § 1º do
art. 654 do CPP que nela deve ser indicados: “a) o nome da pessoa que sofre ou está
ameaçada de sofrer violência ou coação [paciente] e o de quem exercer a violência,
coação ou ameaça [impetrado]; b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em
caso de simples ameaça de coação, as razões em que funda o seu temor; c) a
assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou não puder
escrever, e a designação das respectivas residências”. Além disso, outras informações
poderão constar dessa peça, tais como: o juízo ou tribunal a que é dirigida, a
qualificação do impetrante, os fundamentos jurídicos da impetração, as provas
(documentais) com que o impetrante pretende demonstrar a verdade dos fatos
alegados. É claro, porém, que não se pode ser muito rigoroso quanto a aspectos
formais da petição inicial, sobretudo quando elaborada por pessoa não versada na
ciência jurídica.
Poderá a petição inicial ser indeferida já no limiar do processo em situações como
as seguintes: i) o habeas corpus não é o remédio adequado – exs.: i.a) há recurso
próprio para impugnar a decisão judicial; i.b) o direito fundamental violado não é o
de ir e vir; ii) a petição inicial é inepta, carecendo de requisito essencial – ex.: a
indicação do constrangimento ou da ameaça; iii) não há interesse processual
(condição da ação) – ex.: já cessou a violência ou coação ilegal, CPP, art. 659; iv) o
órgão a que é endereçado o writ é absolutamente incompetente; v) não há prova pré-
constituída evidenciando de plano o constrangimento ou a ameaça.
A propósito do subitem i.a), discute-se o cabimento de habeas corpus como
sucedâneo do recurso legalmente previsto para a impugnação da decisão judicial. Na
doutrina tem-se defendido tal possibilidade. Nesse diapasão, acentua Nucci (2011, p.
960) que “a existência de recurso legal para impugnar a decisão considerada abusiva
não impede a utilização do habeas corpus, tendo em vista que este é, seguramente,
meio mais ágil para fazer cessar qualquer constrição à liberdade de ir e vir.” Ressalta o
autor, porém, o não cabimento do writ “quando envolver exame aprofundado das
provas”.
A jurisprudência dos tribunais superiores, no entanto, tem repudiado a utilização
do habeas corpus como sucedâneo do recurso adequado, que seria cabível no caso
para combater a decisão desfavorável. Em vez de se recorrer da decisão denegatória
da ordem,4 impetra-se novo writ no tribunal ad quem ao argumento de que a
tramitação da nova impetração é mais célere que a do recurso cabível, o que protege
de forma mais eficaz a liberdade do paciente. Por todos, confira-se o seguinte aresto
do Superior Tribunal de Justiça:
I – A Primeira Turma do col. Pretório Excelso firmou orientação no sentido de não admitir a impetração de habeas
corpus substitutivo ante a previsão legal de cabimento de recurso ordinário (v.g.: HC 109.956/PR, Rel. Min. Marco
Aurélio, DJe 11.09.2012; RHC 121.399/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe 1º.08.2014; e RHC 117.268/SP, Rel. Min. Rosa
Weber, DJe 13.05.2014). As turmas que integram a 3ª Seção desta Corte alinharam-se a esta dicção, e, desse modo,
também passaram a repudiar a utilização desmedida do writ substitutivo em detrimento do recurso adequado
(v.g.: HC 284.176/ RJ, 5ª Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe 02.09.2014; HC 297.931/MG, 5ª Turma, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, DJe 28.08.2014; HC 293.528/ SP, 6ª Turma, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe 04.09.2014; e HC
253.802/MG, 6ª Turma, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJe 04.06.2014). II – Portanto, não se admite mais,
perfilhando esse entendimento, a utilização de habeas corpus substitutivo quando cabível o recurso próprio,
situação que implica o não conhecimento da impetração. Contudo, no caso de se verificar configurada flagrante
ilegalidade apta a gerar constrangimento ilegal, recomenda a jurisprudência a concessão da ordem de ofício [...].
Habeas corpus não conhecido (STJ, HC nº 325116/MG, 5ª T., Rel. Min. Félix Fischer, DJe 03.08.2015).
Sendo a petição inicial recebida, afigura-se viável no writ of habeas corpus a tutela
provisória de urgência, inclusive o pedido de liminar. O pedido de liminar pode ser
apreciado pelo juiz ou relator (no tribunal) e eventualmente deferido para determinar
a imediata cessação do constrangimento. A propósito, dispõe o § 2º do art. 660 do
CPP: “Se os documentos que instruírem a petição evidenciarem a ilegalidade da
coação, o juiz ou o tribunal ordenará que cesse imediatamente o constrangimento.”
Qualquer que seja a decisão liminar do relator, é pacífico o entendimento de que
contra ela não cabe recurso de agravo. Confira-se: “[...] 3. A jurisprudência desta
corte é pacífica no sentido de que não cabe agravo regimental contra a decisão do
relator que, em habeas corpus, defere ou indefere a liminar, de forma motivada. 4.
Reconsideração recebida como agravo regimental, ao qual não se conhece (STJ, RCD
no HC nº 326515/SC, 6ª T., Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe 17.08.2015). Em igual
sentido: STJ, AgRg no RHC nº 55100/ PE, 5ª T., Rel. Min. Jorge Mussi, DJe
17.03.2015.
E mais: sendo o pedido de liminar indeferido monocraticamente pelo relator, em
princípio não é cabível nova impetração de habeas corpus no tribunal superior ad
quem. Isso porque haveria supressão de instância, já que o writ anterior não foi
julgado em caráter definitivo. A esse respeito reza a Súmula 691 do STF: “Não
compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impetrado contra
decisão do relator que, em habeas corpus requerido a tribunal superior, indefere a
liminar.”
O rigor dessa súmula, entretanto, tem sido flexibilizado, pois excepcionalmente
admite-se nova impetração na instância superior contra decisão de relator que nega
liminar. Nesse sentido:
I – Apesar de não se admitir, em princípio, a impetração de habeas corpus contra decisão que denega pedido liminar
em sede de writ impetrado na origem, sob pena de se configurar indevida supressão de instância (Súmula 691/STF),
uma vez evidenciada teratologia ou deficiência de fundamentação na decisão impugnada, é possível a mitigação do
mencionado óbice (precedentes) [...] (STJ, HC nº 316367/SP, 5ª T., Rel. Min. Félix Fischer, DJe 03.08.2015).
Penal e processual. Habeas corpus contra decisão que indefere liminar. Súmula 691 do STF. Superação. Receptação.
Pena. Regime inicial mais brando. Fixação. Possibilidade. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça,
acompanhando a orientação da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal, firmou-se no sentido de que o habeas
corpus não pode ser utilizado como substituto de recurso próprio, sob pena de desvirtuar a finalidade dessa
garantia constitucional, exceto quando a ilegalidade apontada for flagrante, hipótese em que se concede a ordem de
ofício. 2. “Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do
relator que, em habeas corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar” (Súmula 691 do STF), a não ser em
hipóteses excepcionais, quando demonstrada patente ilegalidade. Precedentes do STF [...]. 5. Habeas corpus não
conhecido. Ordem concedida de ofício (STJ, HC nº 309543/SP, 5ª T., Rel. Min. Gurgel de Faria, DJe 04.05.2015).
É de três dias o prazo para interposição de todos esses recursos (CE, art. 258).
Os recursos em habeas corpus não têm efeito suspensivo.
Destarte, é imediata a execução da decisão que conceder a ordem. Em razão de
sua natureza mandamental, a execução é efetivada nos autos do mesmo processo em
que foi produzida.
No plano fático, a concessão da ordem pode ensejar, entre outros, os seguintes
efeitos: i) em writ liberatório, o paciente que se encontrar preso deverá ser posto em
liberdade, salvo se por outro motivo dever ser mantido na prisão (CPP, art. 660, § 1º);
ii) sendo o writ preventivo, expedir-se-á salvo-conduto em prol do paciente (CPP, art.
660, § 4º); iii) se o fundamento da impetração for “nulidade do processo, este será
renovado” (CPP, art. 652); iv) se for trancado inquérito policial ou ação penal, a
tramitação deles ficará prejudicada.
Faz coisa julgada material a decisão que concede a ordem e, pois, extingue o
processo com apreciação e julgamento do mérito.
Se, entretanto, a ordem for denegada, admite-se a renovação do habeas corpus se
houver novo fundamento. O que não se aceita é a mera reiteração da ação anterior,
reproduzindo-se na nova os mesmos elementos (partes, causa de pedir e pedido) da
anterior. Confira-se:
[...] 2. A decisão denegatória de habeas corpus não impede nova impetração, desde que não se trate de mera
reiteração da anterior [...] (STJ, HC nº 97004/CE, 6ª T., Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe 25.06.2015).
1. O habeas corpus, justamente por tutelar a garantia constitucional de ir e vir, não faz coisa julgada material, desde
que a posterior impetração não seja mera reiteração do writ anterior. 2. No caso sub examinem, esta segunda
impetração veio guarnecida de uma nova gama de documentos, os quais não foram apresentados no primeiro
habeas corpus, de modo que não se cogita ofensa à coisa julgada [...] (STJ, HC nº 157829/SP, 1ª Seção, Rel. Min.
Benedito Gonçalves, DJe 14.09.2010).
13.2.2 Mandado de segurança em matéria criminal
O mandado de segurança foi exposto no Capítulo 12 desta obra, no item atinente
às garantias constitucionais.
Na seara penal, não há alteração no procedimento dessa ação. Aplica-se o mesmo
rito, inclusive quanto à concessão de medida liminar e aos recursos.
Cumpre, pois, neste momento apenas ressaltar seu cabimento em matéria criminal
(e, portanto, também na seara eleitoral penal) para proteger direito líquido e certo
contra ato ilícito ou abusivo praticado por autoridade estatal.
Dispõe o art. 5º, II, da Lei nº 12.016/2009 que não se concederá mandado de
segurança quando se tratar “de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito
suspensivo”. O efeito suspensivo conferido ao recurso afasta a possibilidade de a
decisão produzir efeitos concretos e, portanto, lesar direito líquido e certo de uma
pessoa.
A contrario sensu, extrai-se desse dispositivo legal que o writ terá cabimento se a
decisão não tiver efeito suspensivo. Nessa hipótese, o fato de a decisão ser apta a lesar
direito líquido e certo torna viável o mandamus.
Estabelece, porém, a Súmula 267 do STF: “Não cabe mandado de segurança
contra ato judicial passível de recurso ou correição.” Pelo teor dessa súmula, o
mandado de segurança não seria cabível mesmo na hipótese de a decisão ser
impugnável por recurso sem efeito suspensivo, o que a tornaria capaz de lesionar
direito líquido e certo da parte no processo.
Por isso, o rigor dessa súmula há muito foi mitigado pelo próprio Supremo
Tribunal, admitindo-se o writ “se no ato judicial houvesse teratologia, ilegalidade ou
abuso flagrante” (STF, MS nº 31831 AgR/PA, Pleno, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe 234,
28.11.2013).
A propósito, optemperam Meirelles et al. (2013, p. 41 e 43):
Inadmissível é o mandado de segurança como substitutivo do recurso próprio, pois por ele não se reforma a
decisão impugnada, mas apenas se obtém a sustação de seus efeitos lesivos ao direito líquido e certo do impetrante,
até a revisão do julgado no recurso cabível [...]. No entanto, é importante ressaltar que a mera existência de recurso
processual cabível não afasta o mandado de segurança se tal recurso é insuficiente para coibir a ilegalidade do
Judiciário e impedir a lesão ao direito evidente do impetrante [...].
No âmbito criminal, o mandamus é cabível sempre que, por ilegalidade ou abuso
de poder, houver violação de situações jurídicas, faculdades ou direitos subjetivos das
pessoas envolvidas com relações (processuais ou extraprocessuais) penais. Se a questão
envolver ameaça – efetiva ou potencial – à liberdade individual, o remédio cabível
será o habeas corpus. Mas se em jogo estiver direito outro que não a liberdade
individual, o remédio cabível é o mandado de segurança.
Vale registrar que o Ministério Público tem legitimidade ativa para impetrar
mandado de segurança (LC nº 75/1993, art. 6º, VI; Lei nº 8.625/1993, art. 32, I).
Nesse caso, reza a Súmula 701 do STF: “No mandado de segurança impetrado pelo
Ministério Público contra decisão proferida em processo penal, é obrigatória a citação
do réu como litisconsorte passivo.”
Entre inúmeros outros casos, o mandado de segurança é cabível em matéria
criminal para: i) questionar multa por abandono injustificado da causa (CPP, art.
265); ii) impugnar decisão que indefere habilitação de assistente de acusação (CPP,
art. 268); iii) impugnar decisão que indefere pedido de restituição de bem
apreendido; iv) permitir o acesso de advogado constituído aos autos do inquérito
policial ou do processo; v) impugnar apreensão de objetos sem relação com o crime
em questão.
1. Nova sentença proferida em razão de nulidade declarada de ofício pelo tribunal – isto é, sem ter sido suscitada
nem pela defesa nem pela acusação em seus recursos – não pode piorar a situação do réu. 2. Recurso ordinário em
habeas corpus provido (STJ, RHC nº 39304/RJ, 6ª T., Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, DJe 01.10.2014).
1. O entendimento desta corte é no sentido de que, “nos casos em que há a anulação da decisão recorrida por
intermédio de recurso exclusivo da defesa ou por meio de impetração de habeas corpus, o órgão julgador que vier a
proferir uma nova decisão ficará vinculado aos limites do que decidido no julgado impugnado, não podendo
agravar a situação do acusado, sob pena de operar-se a vedada reformatio in pejus indireta” (HC nº 263.085/SP, Rel.
Min. Jorge Mussi, DJe 26.02.2014). 2. Habeas corpus concedido, de ofício, para anular o julgamento da Apelação
Criminal nº 993.08.005200-0, determinando-se a realização de novo julgamento, com a observância aos limites do
artigo 617 do CPP (STJ, HC nº193717/SP, 5ª T., Rel. Min. Moura Ribeiro, DJe 19.05.2014).
1. A aplicação das normas do Código de Processo Penal aos processos penais eleitorais é meramente supletiva e
subsidiária, nos termos do art. 364 do Código Eleitoral, ou seja, somente nas situações em que não houver norma
específica, ressalvadas as inovações introduzidas pela Lei 11.719/2008 que sejam mais favoráveis ao denunciado. 2.
O disposto no art. 600, § 4º, do CPP não é aplicável aos processos por crimes eleitorais, porquanto a forma pela
qual devem ser apresentados os recursos contra decisão de juízo singular possui disciplina específica nos arts. 266,
268 e 362 do Código Eleitoral. 3. Não se configura violação aos princípios da ampla defesa, do duplo grau de
jurisdição, da razoabilidade e da proporcionalidade em virtude da negativa de recebimento das razões recursais
diretamente no tribunal regional eleitoral, visto que esse procedimento é vedado nos processos criminais
eleitorais. 4. Agravo regimental não provido. Decisão: O tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo
regimental, nos termos do voto do relator (TSE, AgR-REspe nº 2352/SP, DJe, t. 222, 25.11.2014, p. 149-150).
Os incisos omitidos nesse rol, a saber: XI, XII, XVII, XIX, XX, XXI, XXII e XXIII,
referem-se à execução penal. As hipóteses neles previstas não mais são recorríveis
mediante recurso em sentido estrito, mas sim pelo agravo em execução previsto no
art. 197 da Lei nº 7.210/1984 (LEP).
Há controvérsia acerca de ser esse rol legal fechado (numerus clausus) ou aberto
(numerus apertus), ou seja, se o RSE pode ou não ser interposto em hipóteses não
previstas expressamente. Na jurisprudência, há três entendimentos. A primeira
posição sustenta tratar-se de rol fechado: “[...] 2. O artigo 581 do Código de Processo
Penal apresenta rol taxativo, não comportando interpretação analógica de modo a
permitir a utilização de recurso em sentido estrito quando a lei não o prevê para dada
situação concreta [...]” (STJ, RMS nº 46036/PE, 5ª T., Rel. Min. Gurgel de Faria, DJe
15.12.2014). A segunda, diferentemente, afirma tratar-se de rol aberto, “porque não
se revela razoável sua estagnação, notadamente diante de constantes mudanças na
legislação processual” (STJ, REsp nº 504789/GO, 6ª T., Rel. Min. Paulo Galloti, DJ
17.09.2007, p. 363). Por sua vez, a terceira posição é já uma evolução da primeira;
assevera que o rol legal é exaustivo, mas admite “a interpretação extensiva”, não,
porém, a interpretação analógica (STJ, REsp nº 1078175/RO, 6ª T., Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, DJe 26.04.2013).
O RSE é interposto perante o juiz eleitoral, que poderá se retratar de sua decisão.
Mas é julgado pelo tribunal regional eleitoral, que é competente para julgá-lo.
O prazo para recorrer é de três dias, conforme prescreve o art. 258 do CE.
A interposição se faz por petição escrita ou por termo nos autos. O mais comum é
que se perfaça pela primeira forma.
Uma vez interposto o RSE, o recorrente deve ser intimado para oferecer as razões
(CPP, art. 588, c/c o art. 798, § 5º, a), tendo, para tanto, o prazo de dois dias. Mas
nada obsta que, sendo a interposição feita por petição, esta já venha acompanhada
das respectivas razões; tal providência contribui para a celeridade processual.
Na sequência, o recorrido terá vista dos autos por igual lapso (dois dias) para
apresentar suas contrarrazões.
Não há no RSE a faculdade de arrazoar o recurso na instância ad quem.
Quanto aos efeitos, apresentam-se os seguintes: i) devolutivo; ii) suspensivo –
apenas nos casos do art. 584 do CPP;9 iii) regressivo – nos termos do art. 589 do CPP,
poderá o juiz se retratar de sua decisão.
O processamento do recurso em exame pode se dar por duas formas. Pela
primeira, o recurso subirá ao tribunal nos próprios autos. Nos termos do art. 583 do
CPP, subirão nos próprios autos os recursos: “I – quando interpostos de oficio;10 II –
nos casos do art. 581, I, III, IV, VI, VIII e X; III – quando o recurso não prejudicar o
andamento do processo.”
Pela segunda forma, o RSE sobe ao tribunal mediante traslado das principais peças
dos autos. Isso ocorrerá nos demais casos não arrolados no citado art. 583 do CPP,
inclusive na hipótese de pronúncia (art. 581, IV) de corréus em que apenas um ou
alguns deles recorre da respectiva sentença.11
Do traslado constarão as peças obrigatórias, a saber: “a decisão recorrida, a
certidão de sua intimação, se por outra forma não for possível verificar-se a
oportunidade do recurso, e o termo de interposição” (CPP, art. 587, parágrafo único);
e também as peças indicadas pela parte.
Vencido o prazo para a apresentação da resposta do recorrido, os autos são
conclusos ao juiz. Este – reza o art. 589 do CPP –, “dentro de dois dias, reformará ou
sustentará o seu despacho, mandando instruir o recurso com os traslados que lhe
parecerem necessários.”
Se o juiz se retratar da decisão, a parte contrária, por simples petição, poderá
recorrer da nova decisão, se dela couber recurso. Nesse caso, é vedado ao juiz exercer
novo juízo de retratação e modificar a última decisão.
Em seguida, os autos ou o traslado devem ser remetidos ao tribunal ad quem para
julgamento.
13.3.7 Agravos
A alteração promovida pela Lei nº 12.322, de 9 de setembro de 2010, também se aplica aos recursos extraordinários
e agravos que versem sobre matéria penal e processual penal.
Com isso, ficou afastado nos domínios do processo penal o cabimento do agravo
de instrumento previsto no art. 28 da Lei nº 8.038/1990.14
De igual modo, também se afastou o cabimento do agravo de instrumento
previsto nos arts. 279 e 282 do Código Eleitoral para a mesma hipótese de
impugnação de decisão que inadmite recurso excepcional.
O agravo em exame já foi objeto de exposição no Capítulo 6, item 6.5, desta obra,
para onde se remete o leitor.
Art. 609. [...] Parágrafo único. Quando não for unânime a decisão de segunda instância, desfavorável ao réu,
admitem-se embargos infringentes e de nulidade, que poderão ser opostos dentro de dez dias a contar da
publicação de acórdão, na forma do art. 613. Se o desacordo for parcial, os embargos serão restritos à matéria
objeto de divergência.
Embargos infringentes e de nulidade. Matéria Penal. Cabimento. Recurso especial. Provimento (TSE. REspe nº 1-
12.2010/MG e REspe nº 2-94.2010/ MG, decisões monocráticas, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe 03.09.2013).
Embargos infringentes e de nulidade. Justiça eleitoral. Admissibilidade. Art. 609, parágrafo único, Código de
Processo Penal. Aplicação subsidiária. Art. 364 do Código Eleitoral. Recurso. Exclusividade. Defesa. 1. Os
embargos infringentes e de nulidade constituem recurso criminal dirigido ao próprio tribunal que proferiu a
decisão, têm nítido caráter ofensivo e de retratação e buscam a reforma do julgado embargado pelo voto vencido
favorável ao acusado. 2. Ainda que as cortes regionais eleitorais sejam órgãos que não se fracionam em turmas,
câmaras ou seções, não há exceção prevista no art. 609 do CPP, no sentido de não serem cabíveis os embargos
infringentes e de nulidade contra decisão do pleno do próprio tribunal. 3. Conquanto no Código Eleitoral haja a
previsão de um sistema processual especial para apuração dos crimes eleitorais, que prestigia a celeridade no
processo e julgamento desses delitos, essa mesma celeridade não pode ser invocada para negar ao réu o direito de
interpor um recurso exclusivo, que a lei lhe assegura, previsto apenas para situações em que haja divergência na
corte regional. Agravo de instrumento provido. Recurso especial conhecido e provido a fim de determinar que o
tribunal a quo examine, como entender de direito, os embargos infringentes e de nulidade interpostos pelos
recorrentes (TSE, AI nº 4590/SP, DJ 13.08.2004, p. 401).
1 Similarmente, na esfera processual eleitoral não penal, dispõe o art. 15 do CPC/2015: “Na ausência de normas
que regulem processos eleitorais [...], as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e
subsidiariamente.”
2 Eis o teor desse dispositivo: “Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: [...]; III – faltar justa causa
para o exercício da ação penal.”
3 Cumpre salientar que o art. 105, I, c, da Constituição Federal expressamente ressalva “a competência da Justiça
Eleitoral”, e, portanto, também a do TSE.
4 Contra a decisão de juiz eleitoral que conceder ou negar a ordem de habeas corpus, é cabível recurso em sentido
estrito (CPP, art. 581, X) para o tribunal respectivo. Contra a decisão de TRE que denegar a ordem, cabível é o
recurso ordinário previsto no art. 121, § 4º, V, da Constituição Federal, o qual deve ser endereçado ao TSE. Já
contra a decisão do TSE que denegar a ordem pleiteada, cabível é o recurso ordinário previsto no § 3º do
aludido art. 121 da Constituição, devendo ser endereçado ao Supremo Tribunal Federal.
5 Nos termos da Súmula 423 do STF: “Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso ex officio,
que se considera interposto ex lege.”
6 Há acerbas críticas doutrinárias contra o “recurso de ofício”. Afirma-se ser ele incompatível com o processo
penal no Estado Democrático de Direito, pois neste imperam o devido processo legal, o contraditório, a
independência do Poder Judiciário e do Ministério Público. Ademais, enseja indevida interferência do juiz em
seara de iniciativa exclusiva do órgão acusatório. No caso em exame, menos ainda se o compreende diante do
art. 581, X, do CPP, que prevê o cabimento de recurso em sentido estrito contra a decisão “que conceder ou
negar a ordem de habeas corpus”. Ora, se já é previsto um recurso para impugnação da decisão, não há razão
para impor seu reexame obrigatório. Segundo Pacelli de Oliveira (2012, p. 856), é inaceitável a vigência de tal
recurso “dentro de um contexto normativo garantista, e em cujo interior se reserva ao Ministério Público a
titularidade da ação penal pública. No sistema do Código de Processo Penal de 1941, a medida era
compreensível, já que até mesmo a iniciativa de instauração de ação penal era reservada ao juiz. Então, se ele
podia propor ação penal (em alguns casos, como já vimos), o que dizer do tal recurso de ofício? [...]”
7 Portanto, não se aplica aqui a sistemática do processo penal comum (CPP, arts. 593 e 600), no qual a parte: i)
pode apelar mediante termo; ii) após apresentar o apelo, tem o prazo de oito dias para arrazoá-lo. E mais: a
apresentação intempestiva das razões não impedem seu conhecimento.
8 No âmbito do processo penal comum, a faculdade de arrazoar apelação no tribunal ad quem não se aplica ao
órgão do Ministério Público, mas tão somente à defesa.
9 Reza esse dispositivo: “Art. 584. Os recursos terão efeito suspensivo nos casos de perda da fiança, de concessão
de livramento condicional e dos ns. XV, XVII e XXIV do art. 581. § 1º Ao recurso interposto de sentença de
impronúncia ou no caso do no VIII do art. 581, aplicar-se-á o disposto nos arts. 596 e 598. § 2º O recurso da
pronúncia suspenderá tão somente o julgamento. § 3º O recurso do despacho que julgar quebrada a fiança
suspenderá unicamente o efeito de perda da metade do seu valor.”
10 O recurso de ofício (ou reexame necessário ou obrigatório) é previsto no art. 574 do CPP.
11 Nesse caso, obviamente, haverá desmembramento do processo. De sorte que é mesmo necessária a formação de
instrumento.
12 É pacífico o entendimento de que esse “outro” recurso é o recurso em sentido estrito e o agravo em execução.
13 Nos termos do art. 646 do CPP: “A carta testemunhável não terá efeito suspensivo”.
14 Eis o teor desse dispositivo: “Art. 28. Denegado o recurso extraordinário ou o recurso especial, caberá agravo
de instrumento, no prazo de cinco dias, para o Supremo Tribunal Federal ou para o Superior Tribunal de
Justiça, conforme o caso.”
15 E não de dez dias, consoante prevê o parágrafo único do art. 609 do CPP.
16 Se o recurso sequer for conhecido no tribunal superior, a competência para a revisão criminal será do tribunal
de segundo grau que proferiu o acórdão que se pretende rescindir. A esse respeito, assevera Pacelli de Oliveira
(2012, p. 931) que os tribunais superiores “somente serão competentes para o julgamento da revisão quando
tiverem, concretamente, apreciado o mérito da decisão condenatória. Aí, como a decisão assim proferida
substituiria aquela recorrida, estaria afirmada a sua competência para a revisão das condenações por eles
proferidas (art. 624, I, CPP)”.
17 A exclusão da indenização na hipótese da alínea b do transcrito § 2º tem merecido críticas. Nesse sentido,
afirma Pacelli de Oliveira (2012, p. 933) que tal restrição não se sustenta, pois, o erro, “apto e suficiente a
justificar a indenização, teria sido praticado pelo Estado, por meio do Poder Judiciário.”
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