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González - UFRGS 1
FOTOSSÍNTESE
Félix H. D. González
Professor de Bioquímica Clínica
Faculdade de Veterinária
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
felixgon@ufrgs.br
de Calvin) que ocorrem tanto em ambiente de (centros de reação), ela é transferida por
luz quanto de escuridão. No processo transferência de elétrons. Na transferência de
lumínico os pigmentos fotossintéticos ressonância, a energia absorvida por uma
absorvem a energia solar, a qual é utilizada molécula é transferida com a mesma
para fosforilar ADP e produzir ATP (no intensidade à molécula adjacente e desta à
processo conhecido como fotofosforilação seguinte e assim por diante até chegar no
descoberto pelo grupo de Arnon) bem como centro de reação onde se realiza a
para produzir NADPH. Tanto o NADPH transferência de elétrons, na qual a energia
quanto o ATP produzidos nas reações absorvida que vem sendo transferida por
lumínicas são utilizados para a síntese ressonância, é transferida agora mediante a
redutiva dos carboidratos nas chamadas transferência do elétron excitado às moléculas
reações obscuras. A formação de O2, que do centro de reação. Assim, no centro de
ocorre somente com a luz, e a redução do reação, a molécula I (que leva o elétron) fica
CO2, que não requer de luz, são processos como cátion ao perder um elétron e a
diferentes e separados embora ambos molécula II (receptora do elétron) fica como
ocorrem nos cloroplastos. ânion ao ganhá-lo, iniciando uma cadeia de
óxido-redução.
Fotossistemas dos cloroplastos: Nos fotossistemas consegue-se maximizar a
reações lumínicas. captação de energia solar por parte dos
pigmentos mediante os dois tipos de
Os pigmentos presentes nas membranas
transferência de energia (de ressonância e
tilacóides dos cloroplastos podem converter a
eletrônica), captação que seria muito reduzida
energia da luz solar em energia química,
se fosse realizada somente pelos centros de
devido a que suas moléculas podem ser
reação: muitos pigmentos nos tilacóides
excitadas com os fótons (quantos de luz). A
captam a energia solar (pigmentos antena) e a
energia de 1 "mol" de fótons, isto é, de 1
transferem para suas moléculas vizinhas por
einstein (6x1023 fótons) é de 170 a 300 kJ,
ressonância, até que chega nos tilacóides de
dependendo do comprimento de onda da luz.
reação, onde está a clorofila, a qual realiza a
Quando ocorre absorção de luz, os elétrons
transferência de elétrons.
das moléculas dos pigmentos passam para um
Na fotossíntese existem dois fotossistemas
estado excitado (os elétrons passam para um
que funcionam de forma independente e
orbital mais externo), ficando em situação
complementar: um absorve a luz com
instável; ao voltar para seu estado basal
comprimentos de onda de 700 nm ou mais
(estável) emitem parte da energia absorvida
(fotossistema I) e outro absorve
(processo conhecido como fluorescência), a
comprimentos de onda de 680 nm ou menos
qual pode ser utilizada para realizar um
(fotossistema II). Ambos fotossistemas são
trabalho químico. A excitação das moléculas
necessários para que a fotossíntese possa
por um fóton e sua fluorescência são
funcionar eficientemente. Em ambos
processos muito rápidos: 10-15 e 10-12
fotossistemas, o primeiro evento é a
segundos, respectivamente.
transferência de elétrons excitados pela luz
Os pigmentos das membranas tilacóides estão
desde os centros de reação (chamados P680 e
organizados em uma série de elementos
P700 para os fotossistemas II e I,
chamados fotossistemas (por exemplo, nos
respectivamente) para uma cadeia de
cloroplastos do espinafre cada fotossistema
transporte de elétrons. Os centros de reação
consta de 200 moléculas de clorofila e de 50
são um complexo de moléculas de clorofilas
de carotenóides). Nos fotossistemas presentes
unidas a proteínas (chamadas CAB) e de
nos cloroplastos, a energia fotônica que atua
quinonas, moléculas que podem ser oxidadas
sobre as moléculas dos pigmentos é
ou reduzidas aceitando ou doando elétrons. A
transferida inicialmente entre moléculas
fonte de elétrons é a água e o receptor final
adjacentes por transferência de ressonância e
deles é o NADP+, o qual resulta reduzido a
depois, quando a energia chega na clorofila
NADPH.
Fotossíntese Félix H. D. González - UFRGS 4
até a plastoquinona é:
Esta reação é conhecida como a reação de
4P680 + 4H+ + 2QB + luz (4 fótons) → Hill (por Robert Hill, quem em 1937 estudou
4P680+ + 2 QBH2 as reações de luz da fotossíntese). Como os
elétrons têm um receptor (por exemplo o
A plastoquinona reduzida (QBH2) pode composto A) a reação de Hill costuma ser
transferir os H2 para um citocromo bf, escrita assim:
proteína ferro-sulfurada de membrana, que
transfere somente os elétrons para uma 2H2O + 2A → 2AH2 + O2
proteína cúprica, a plastocianina, e envia os
prótons (H+) para os tilacóides. A No fotossistema I completa-se a transferência
plastocianina transferirá depois os elétrons de elétrons para o receptor final: o NADP+.
para o centro de reação do fotossistema I O fotossistema I é excitado pelos fótons
(para reduzir o P700). através dos pigmentos antena, os quais, da
mesma forma que no fotossistema II,
O centro de reação P680 volta a seu estado transferem a energia por ressonância até o
reduzido devido aos elétrons provenientes
Fotossíntese Félix H. D. González - UFRGS 5
centro de reação (P700). O centro P700 de novo o centro P700. Este fluxo de elétrons
excitado (P700*) doa seus elétrons ao é chamado de cíclico, processo no qual não se
primeiro receptor: Ao, um pigmento similar à produz NADPH. Entretanto, o citocromo bf
clorofila e que funciona analogamente à bombeia os prótons para o interior dos
feofitina do fotossistema II, formando Ao- e tilacóides garantindo a síntese de ATP,
P700+. O centro de reação P700+ pode logo processo conhecido como fotofosforilação
tornar a reduzir-se ao adquirir um elétron da cíclica. Este fluxo cíclico de elétrons parece
plastocianina, proteína que contém os funcionar para manter a relação
elétrons transferidos pelo fotossistema II. O ATP/NADPH adequada para as reações
pigmento Ao transfere os elétrons para uma obscuras da síntese redutiva.
molécula de filoquinona (A1), a qual os
transfere por sua vez para uma série de 3 Reações obscuras da fotossíntese
proteínas ferro-sulfuradas (FX, FB e FA). (ciclo de Calvin).
Finalmente, os elétrons são transferidos para
Nas reações obscuras da fotossíntese,
a ferredoxina, reduzindo-a. A ferredoxina
também chamadas de ciclo de Calvin, o CO2
reduzida transfere parte dos seus elétrons para
atmosférico é fixado pela planta para produzir
o NADP+, mediante a enzima
carboidratos (glicose e amido). São chamadas
ferredoxina:NADP+-oxidorredutase, a qual
obscuras porque nelas não intervém a energia
protagoniza a primeira reação enzimática do
solar, embora ocorram também durante o dia.
processo, para formar NADPH. Outra parte
As rotas metabólicas destes processos foram
dos elétrons são transferidos pela ferredoxina
esclarecidas pelo bioquímico norte-americano
para outros processos redutivos.
Melvin Calvin durante a década de 1950. O
A reação global do fotossistema I pode ser
ciclo de Calvin é realizado nos cloroplastos e
resumida assim:
pode ser estudado como se estivesse
integrado por duas partes: na primeira ocorre
4e- + 2H+ + 2NADP+ → 2NADPH
a fixação do CO2 pelo composto ribulose-
1,5-difosfato (RuDP), mediante ação da
A somatória das reações globais dos
enzima Rubisco; esta etapa culmina com a
fotossistemas I e II, eliminando os
formação de glicose; na segunda parte, ocorre
intermediários, pode ser resumida em:
a regeneração da RuDP.
2H2O + 2NADP+ ⎯ ⎯→ 2H+ + O2 +
LUZ
1) Fixação do CO2 e síntese de glicose.
2NADPH A fixação do CO2 é realizada pela enzima
Rubisco (ribulose 1,5-difosfato
O gradiente de H+ produzido no lume dos carboxilase/oxigenase), a enzima mais
tilacóides devido ao fotossistema II, gera uma importante e mais abundante na natureza,
variação de energia livre no processo de pois ela é a responsável da produção de toda
forma tal que permite a fosforilação de 2 a biomassa na Terra a partir de CO2. Calcula-
moléculas de ADP para produzir 2 ATP, se que existem 40 milhões de toneladas da
reação que é catalisada pelo complexo enzima Rubisco na biosfera (quantidade
enzimático CF1CFo ATPase, similar ao equivalente a quase 10 kg/pessoa). Tem um
complexo F1Fo da mitocôndria que realiza a peso molecular de 550.000 e uma estrutura
fosforilação oxidativa. bastante complexa: 8 subunidades grandes de
Quando os níveis de NADP+ são baixos e os 56.000 daltons cada uma e 8 subunidades
de NADPH altos, os elétrons provenientes do pequenas de 14.000 daltons cada uma;
centro P700 são transferidos desde a localiza-se no estroma dos cloroplastos. A
ferredoxina para o complexo citocromo bf enzima Rubisco carboxila, introduzindo um
(proteínas integrais das membranas CO2, e reduz à molécula de ribulose-1,5-
tilacóides) e deste para a plastocianina difosfato (RuDP); também cliva a molécula
(proteína solúvel) para que esta possa reduzir resultante (uma hexose) para dar duas
Fotossíntese Félix H. D. González - UFRGS 6
vale a pena pois de outra forma ocorreria NITSCKE, W., RUTHERFORD, A.W.
fotorrespiração. Photosynthetic reaction centres: variations on
a common structural theme? Trends
Biochem. Sci. v. 16, p. 241-245, 1991