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Fotossíntese Félix H. D.

González - UFRGS 1

FOTOSSÍNTESE
Félix H. D. González
Professor de Bioquímica Clínica
Faculdade de Veterinária
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
felixgon@ufrgs.br

Introdução. é utilizado de novo pelos organismos


autótrofos, fechando o ciclo. Calcula-se que a
Considera-se como o descobridor da
quantidade de energia livre capturada na
fotossíntese ao físico holandês Jan
fotossíntese durante um ano é de 1017 kJ, o
Ingenhousz quem em 1779, baseado nos
que corresponde a 10 vezes a energia gasta
experimentos de Priestley (o descobridor do
em combustíveis fosseis (petróleo, carvão,
oxigênio), encontrou que as plantas
gás natural) pela humanidade no mesmo
produziam oxigênio na presença de luz solar.
período.
Senebier, em 1782, adicionou que além da
luz do sol, o dióxido de carbono era
A clorofila.
necessário para que a fotossíntese pudesse
realizar-se. Em 1817 Pelletier e Caveton isolaram o
A fotossíntese é um processo químico pigmento verde das folhas das plantas e o
realizado pelas plantas, as algas e certos chamaram clorofila (do grego, folha verde).
microorganismos, mediante o qual a energia Em 1872, Sachs demonstrou que o produto
solar é capturada e convertida em energia imediato da fotossíntese era a glicose. Em
química na forma de ATP e compostos 1906, Willstätter purificou a clorofila e
orgânicos reduzidos. Este processo, que descobriu que estava composta por duas
pode-se considerar oposto ao processo da partes, as quais tinham diferentes
respiração (realizada nos animais), é a fonte características de absorção da luz: as chamou
primária de energia de todos os seres vivos. A clorofila a e clorofila b, sendo a primeira a
energia produzida no processo da respiração mais comum. Também encontrou que a
nos animais está em forma de energia molécula de clorofila continha Mg2+ e que
química e calórica, enquanto que a energia estava composta de anéis pirrólicos. Fischer,
utilizada na fotossíntese é energia solar. A na década de 1930, esclareceu que a estrutura
energia química, que faz possível a vida na da clorofila estava composta por quatro anéis
Terra, é originada a partir da energia solar, pirrólicos muito similares ao anel heme da
fato que foi postulado pela primeira vez pelo hemoglobina, com uma cauda de um grupo
físico alemão Von Mayer em 1845. Em fitol .
outras palavras, a vida na Terra só é possível A fotossíntese pode ser realizada nas plantas
devido à fotossíntese. devido à capacidade que têm as clorofilas (e
Os seres autótrofos e os heterótrofos estão em outros pigmentos) de absorver a energia
equilíbrio na biosfera: os seres autótrofos solar. As clorofilas são os pigmentos que
captam a luz solar para formar ATP e mais absorvem luz nas plantas, havendo
NADPH, moléculas que usam para produzir outros compostos que também absorvem luz
compostos orgânicos a partir de CO2 e H2O e e que, em geral, são chamados de pigmentos
liberando O2 na atmosfera; os seres cromóforos entre os quais estão, além das
heterótrofos, por sua vez, consomem os clorofilas, o β-caroteno, a ficoeritrina, a
compostos orgânicos produzidos pelos seres ficocianina, etc. A clorofila b diferencia-se da
autótrofos, para obter energia mediante a clorofila a em que tem como grupo funcional
oxidação desses compostos utilizando o O2 de substituição na cadeia lateral 3 um grupo
atmosférico e liberando CO2 ao meio. O CO2
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aldeído (-CHO) ao invés de um grupo metila partir de cloroplastos isolados. A fotossíntese


(-CH3). não somente produz carboidratos como fonte
A clorofila se encontra nos cloroplastos, de energia para os animais, mas também é a
organelas das células das folhas similares às via por meio da qual o carbono entra de novo
mitocôndrias no sentido que têm dupla na biosfera, e é a principal fonte de oxigênio
membrana e possuem seu próprio DNA, da atmosfera.
embora sejam muito maiores. A membrana
externa dos cloroplastos é permeável a íons e Tabela 1. Espectro da radiação
a pequenas moléculas. A parte eletromagnética.
correspondente à matriz contém o estroma, Tipo de radiação Comprimento de
espaço fluido que contém as enzimas das onda
reações obscuras da fotossíntese, nas quais o Raios gama 0,01-0,1 nm
CO2 é reduzido a glicose. Fazendo parte da Raios X < 30 nm
membrana interna dos cloroplastos existem Ultravioleta < 400 nm
muitas estruturas membranais planas e Luz visível 400-700 nm
discoidais chamadas tilacóides, empilhados Violeta 415 nm
como moedas e que formam unidades Azul 465 nm
chamadas grana. Os grana estão interligados Vinho 500 nm
por extensões de tilacóides chamadas Verde 535 nm
lamelas. Embebidas nas membranas Amarelo 580 nm
tilacóides estão os pigmentos fotossintéticos e
Laranja 615 nm
as enzimas requeridas para as reações de luz
Vermelho 680 nm
da fotossíntese.
Infravermelho 700-1000 nm
A energia solar provem da fusão de átomos
Micro-ondas <1m
de H por efeito das enormes temperatura e
pressão presentes no sol para formar átomos Ondas de rádio > 1000 m
de He:
A reação geral do processo da fotossíntese, na
qual é aproveitada a energia solar, revela um
4H → He + energia (26,7x106 eV)
processo de óxido-redução em que a H2O
doa elétrons (como H) para reduzir o CO2 e
A energia de uma radiação eletromagnética
convertê-lo em carboidrato (CH2O)n:
(Tabela 1) expressada como quanta (e) é igual
à freqüência (ν) multiplicado pela constante
nCO2 + nH2O ⎯ ⎯
⎯→ (CH2O)n + nO2
LUZ
de Plank (h= 6.626x10-34 J/s), isto é, e= hν.
Por exemplo, a energia da luz vermelha (a luz
de menor freqüência na faixa visível do O oxigênio livre produzido provem da água e
espectro eletromagnético) é de 1.65 eV não do CO2, o que significa que a água é o
(eletron-volts) e a da luz violeta (a de maior agente redutor no processo, como foi predito
freqüência) é 3.3 eV. desde 1930 por Van Niel e comprovado
A clorofila absorve fortemente a luz vermelha depois mediante a utilização de CO2 e H2O
e a violeta refletindo comprimentos de onda marcados com o isótopo 18O2. Entretanto, a
intermediárias cuja mistura dá a cor verde, H2O não reduz diretamente o CO2. A energia
característica das folhas das plantas. A solar produz a oxidação (saída de elétrons)
fotossíntese se realiza a partir das porções fotoquímica da H2O devido à existência de
visível e infravermelha próxima do espectro excelentes doadores e receptores de elétrons,
eletromagnético, fato que tem uma clara onde o receptor final deles é o NADP+, o
conotação evolutiva, pois é justamente essa a qual é reduzido a NADPH e o O2 é liberado.
faixa do espectro que chega à Terra desde o A fotossíntese agrupa dois processos: (1) as
sol com maior intensidade. Arnon, em 1954, reações lumínicas, que ocorrem quando a
foi o primeiro em poder realizar fotossíntese a planta está iluminada, e (2) as reações
obscuras ou reações de fixação do CO2 (ciclo
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de Calvin) que ocorrem tanto em ambiente de (centros de reação), ela é transferida por
luz quanto de escuridão. No processo transferência de elétrons. Na transferência de
lumínico os pigmentos fotossintéticos ressonância, a energia absorvida por uma
absorvem a energia solar, a qual é utilizada molécula é transferida com a mesma
para fosforilar ADP e produzir ATP (no intensidade à molécula adjacente e desta à
processo conhecido como fotofosforilação seguinte e assim por diante até chegar no
descoberto pelo grupo de Arnon) bem como centro de reação onde se realiza a
para produzir NADPH. Tanto o NADPH transferência de elétrons, na qual a energia
quanto o ATP produzidos nas reações absorvida que vem sendo transferida por
lumínicas são utilizados para a síntese ressonância, é transferida agora mediante a
redutiva dos carboidratos nas chamadas transferência do elétron excitado às moléculas
reações obscuras. A formação de O2, que do centro de reação. Assim, no centro de
ocorre somente com a luz, e a redução do reação, a molécula I (que leva o elétron) fica
CO2, que não requer de luz, são processos como cátion ao perder um elétron e a
diferentes e separados embora ambos molécula II (receptora do elétron) fica como
ocorrem nos cloroplastos. ânion ao ganhá-lo, iniciando uma cadeia de
óxido-redução.
Fotossistemas dos cloroplastos: Nos fotossistemas consegue-se maximizar a
reações lumínicas. captação de energia solar por parte dos
pigmentos mediante os dois tipos de
Os pigmentos presentes nas membranas
transferência de energia (de ressonância e
tilacóides dos cloroplastos podem converter a
eletrônica), captação que seria muito reduzida
energia da luz solar em energia química,
se fosse realizada somente pelos centros de
devido a que suas moléculas podem ser
reação: muitos pigmentos nos tilacóides
excitadas com os fótons (quantos de luz). A
captam a energia solar (pigmentos antena) e a
energia de 1 "mol" de fótons, isto é, de 1
transferem para suas moléculas vizinhas por
einstein (6x1023 fótons) é de 170 a 300 kJ,
ressonância, até que chega nos tilacóides de
dependendo do comprimento de onda da luz.
reação, onde está a clorofila, a qual realiza a
Quando ocorre absorção de luz, os elétrons
transferência de elétrons.
das moléculas dos pigmentos passam para um
Na fotossíntese existem dois fotossistemas
estado excitado (os elétrons passam para um
que funcionam de forma independente e
orbital mais externo), ficando em situação
complementar: um absorve a luz com
instável; ao voltar para seu estado basal
comprimentos de onda de 700 nm ou mais
(estável) emitem parte da energia absorvida
(fotossistema I) e outro absorve
(processo conhecido como fluorescência), a
comprimentos de onda de 680 nm ou menos
qual pode ser utilizada para realizar um
(fotossistema II). Ambos fotossistemas são
trabalho químico. A excitação das moléculas
necessários para que a fotossíntese possa
por um fóton e sua fluorescência são
funcionar eficientemente. Em ambos
processos muito rápidos: 10-15 e 10-12
fotossistemas, o primeiro evento é a
segundos, respectivamente.
transferência de elétrons excitados pela luz
Os pigmentos das membranas tilacóides estão
desde os centros de reação (chamados P680 e
organizados em uma série de elementos
P700 para os fotossistemas II e I,
chamados fotossistemas (por exemplo, nos
respectivamente) para uma cadeia de
cloroplastos do espinafre cada fotossistema
transporte de elétrons. Os centros de reação
consta de 200 moléculas de clorofila e de 50
são um complexo de moléculas de clorofilas
de carotenóides). Nos fotossistemas presentes
unidas a proteínas (chamadas CAB) e de
nos cloroplastos, a energia fotônica que atua
quinonas, moléculas que podem ser oxidadas
sobre as moléculas dos pigmentos é
ou reduzidas aceitando ou doando elétrons. A
transferida inicialmente entre moléculas
fonte de elétrons é a água e o receptor final
adjacentes por transferência de ressonância e
deles é o NADP+, o qual resulta reduzido a
depois, quando a energia chega na clorofila
NADPH.
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Durante a transferência dos elétrons, os dos H2 da água, com a ajuda do complexo de


prótons (H+) dos átomos de H (nas etapas lise da água. Os elétrons da água são
somente se transferem elétrons dos átomos de transferidos por uma proteína com 4 átomos
H, ficando livres os H+), são enviados para o de manganês (MnC) que forma parte do
interior dos tilacóides, através de suas complexo. Esta proteína pode captar duas
membranas, produzindo um gradiente de moléculas de água e transferir 4 elétrons a um
energia. Este gradiente eletroquímico gera intermediário, que é um resíduo de tirosina
energia suficiente para fosforilar ADP e (denominado Z) o qual, por sua vez, os
produzir ATP, de forma similar à fosforilação entrega ao centro P680 reduzindo-o e pode
oxidativa que ocorre na mitocôndria. Os também enviar os 4 prótons restantes para os
produtos finais das reações lumínicas são tilacóides:
então ATP e NADPH.
A reação começa no fotossistema II, onde os 4P680+ + 4Z → 4P680 + 4Z+
elétrons do centro de reação P680 são
excitados (P680*) com a captação de fótons O resíduo de tirosina oxidado (Z+) é reduzido
(até aí a energia é transferida por de novo, oxidando a proteína no núcleo de
ressonância). No centro de reação, a energia é manganês:
transferida por elétrons: os elétrons são
transferidos ao primeiro receptor, a feofitina 4Z+ + Mn0 → 4Z + Mn4+
(Ph), uma molécula similar à clorofila (mas
com o núcleo de Mg2+ substituído por É aqui onde o complexo de lise da água
prótons), dando-lhe carga negativa (Ph-) e divide a molécula de H2O, tirando 4 elétrons
convertendo o P680* (estado excitado) a de 2 moléculas de H2O para reduzir de novo
P680+ (protonado, isto é, perdendo um à proteína com Mn e liberando 4H+ (prótons
elétron: o elétron que foi transferido). Depois, que vão às membranas tilacóides para fazer
os elétrons são transferidos a plastoquinonas gradiente) e O2 (o qual se libera difundindo-
(QA e QB) associadas com proteínas. A se fora do cloroplasto):
última plastoquinona recebe os elétrons junto
com os prótons, isto é, recebe átomos de H Mn4+ + 2H2O → Mn0 + 4H+ + O2
(ficando QBH2). Esta plastoquinona, depois
que fica reduzida, se libera de sua proteína de A reação de lise da água no fotossistema II
união e se difunde para fora do centro de pode ser resumida assim:
reação.
Até aqui a reação iniciada pela energia solar 2H2O ⎯ ⎯→ 4H+ + 4e- + O2
LUZ

até a plastoquinona é:
Esta reação é conhecida como a reação de
4P680 + 4H+ + 2QB + luz (4 fótons) → Hill (por Robert Hill, quem em 1937 estudou
4P680+ + 2 QBH2 as reações de luz da fotossíntese). Como os
elétrons têm um receptor (por exemplo o
A plastoquinona reduzida (QBH2) pode composto A) a reação de Hill costuma ser
transferir os H2 para um citocromo bf, escrita assim:
proteína ferro-sulfurada de membrana, que
transfere somente os elétrons para uma 2H2O + 2A → 2AH2 + O2
proteína cúprica, a plastocianina, e envia os
prótons (H+) para os tilacóides. A No fotossistema I completa-se a transferência
plastocianina transferirá depois os elétrons de elétrons para o receptor final: o NADP+.
para o centro de reação do fotossistema I O fotossistema I é excitado pelos fótons
(para reduzir o P700). através dos pigmentos antena, os quais, da
mesma forma que no fotossistema II,
O centro de reação P680 volta a seu estado transferem a energia por ressonância até o
reduzido devido aos elétrons provenientes
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centro de reação (P700). O centro P700 de novo o centro P700. Este fluxo de elétrons
excitado (P700*) doa seus elétrons ao é chamado de cíclico, processo no qual não se
primeiro receptor: Ao, um pigmento similar à produz NADPH. Entretanto, o citocromo bf
clorofila e que funciona analogamente à bombeia os prótons para o interior dos
feofitina do fotossistema II, formando Ao- e tilacóides garantindo a síntese de ATP,
P700+. O centro de reação P700+ pode logo processo conhecido como fotofosforilação
tornar a reduzir-se ao adquirir um elétron da cíclica. Este fluxo cíclico de elétrons parece
plastocianina, proteína que contém os funcionar para manter a relação
elétrons transferidos pelo fotossistema II. O ATP/NADPH adequada para as reações
pigmento Ao transfere os elétrons para uma obscuras da síntese redutiva.
molécula de filoquinona (A1), a qual os
transfere por sua vez para uma série de 3 Reações obscuras da fotossíntese
proteínas ferro-sulfuradas (FX, FB e FA). (ciclo de Calvin).
Finalmente, os elétrons são transferidos para
Nas reações obscuras da fotossíntese,
a ferredoxina, reduzindo-a. A ferredoxina
também chamadas de ciclo de Calvin, o CO2
reduzida transfere parte dos seus elétrons para
atmosférico é fixado pela planta para produzir
o NADP+, mediante a enzima
carboidratos (glicose e amido). São chamadas
ferredoxina:NADP+-oxidorredutase, a qual
obscuras porque nelas não intervém a energia
protagoniza a primeira reação enzimática do
solar, embora ocorram também durante o dia.
processo, para formar NADPH. Outra parte
As rotas metabólicas destes processos foram
dos elétrons são transferidos pela ferredoxina
esclarecidas pelo bioquímico norte-americano
para outros processos redutivos.
Melvin Calvin durante a década de 1950. O
A reação global do fotossistema I pode ser
ciclo de Calvin é realizado nos cloroplastos e
resumida assim:
pode ser estudado como se estivesse
integrado por duas partes: na primeira ocorre
4e- + 2H+ + 2NADP+ → 2NADPH
a fixação do CO2 pelo composto ribulose-
1,5-difosfato (RuDP), mediante ação da
A somatória das reações globais dos
enzima Rubisco; esta etapa culmina com a
fotossistemas I e II, eliminando os
formação de glicose; na segunda parte, ocorre
intermediários, pode ser resumida em:
a regeneração da RuDP.
2H2O + 2NADP+ ⎯ ⎯→ 2H+ + O2 +
LUZ
1) Fixação do CO2 e síntese de glicose.
2NADPH A fixação do CO2 é realizada pela enzima
Rubisco (ribulose 1,5-difosfato
O gradiente de H+ produzido no lume dos carboxilase/oxigenase), a enzima mais
tilacóides devido ao fotossistema II, gera uma importante e mais abundante na natureza,
variação de energia livre no processo de pois ela é a responsável da produção de toda
forma tal que permite a fosforilação de 2 a biomassa na Terra a partir de CO2. Calcula-
moléculas de ADP para produzir 2 ATP, se que existem 40 milhões de toneladas da
reação que é catalisada pelo complexo enzima Rubisco na biosfera (quantidade
enzimático CF1CFo ATPase, similar ao equivalente a quase 10 kg/pessoa). Tem um
complexo F1Fo da mitocôndria que realiza a peso molecular de 550.000 e uma estrutura
fosforilação oxidativa. bastante complexa: 8 subunidades grandes de
Quando os níveis de NADP+ são baixos e os 56.000 daltons cada uma e 8 subunidades
de NADPH altos, os elétrons provenientes do pequenas de 14.000 daltons cada uma;
centro P700 são transferidos desde a localiza-se no estroma dos cloroplastos. A
ferredoxina para o complexo citocromo bf enzima Rubisco carboxila, introduzindo um
(proteínas integrais das membranas CO2, e reduz à molécula de ribulose-1,5-
tilacóides) e deste para a plastocianina difosfato (RuDP); também cliva a molécula
(proteína solúvel) para que esta possa reduzir resultante (uma hexose) para dar duas
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moléculas de 3-fosfo-glicerato. A reação moléculas de frutose-6-fosfato. A forma


global catalisada pela enzima Rubisco pode como estas moléculas se combinam para dar
ser escrita assim: 6 moléculas de ribulose-1,5-difosfato
compreende a ação de várias transcetolases e
RuDP + CO2 + H2O → 2[3-fosfoglicerato] + transaldolases, de forma similar aos arranjos e
2H+ combinações que ocorrem na via das
pentoses-fosfato. O produto final é ribulose-
Esta reação é irreversível devido à alta 5-fosfato, composto que é fosforilado pela
energia liberada no processo (ΔGo'= -51.9 ribulose-5-fosfato quinase a expensas do
kJ/mol). Depois, cada molécula de 3- ATP, para dar RuDP. Assim, para completar
fosfoglicerato é fosforilada no C-1 a expensas as 6 moléculas de RuDP são gastas 6
de ATP pela enzima fosfoglicerato quinase moléculas de ATP adicionais às 12
para produzir 1,3-difosfoglicerato (1,3-DPG), necessárias na fase de fixação e síntese de
o qual é logo reduzido para formar glicose.
gliceraldeído-3-fosfato pela enzima A reação global do ciclo de Calvin, sem
gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase tendo o incluir os intermediários, pode ser escrita
NADPH como agente redutor. O assim:
gliceraldeído-3-fosfato pode então entrar na
via glicolítica para gerar glicose nova. 6CO2 + 18ATP + 12NADPH + 12H2O →
Até este ponto, por cada molécula de CO2 C6H12O6 + 18ADP + 18Pi + 12NADP+ +
fixada são gastas 2 moléculas de ATP e 2 de 6H+
NADPH para produzir as duas moléculas de
gliceraldeído-3-fosfato e portanto uma Incluindo as reações lumínicas e as obscuras
molécula de glicose. Para fixar 6 moléculas pode-se escrever a reação global da
de CO2 a fim de ter a síntese neta de uma fotossíntese assim:
molécula de glicose, são necessárias portanto
6CO2 + 6H2O ⎯ ⎯⎯⎯→ C6H12O6 +
LUZ SOLAR
12 moléculas de ATP, 12 de NADPH,
produzindo-se 12 moléculas de gliceraldeído- 6O2
3-fosfato. Destas 12 moléculas, 2 vão formar
uma glicose e as restantes 10 voltam para Sabendo que a variação de energia livre desta
regenerar 6 moléculas de RuDP. reação é de 2840 kJ/mol, pode se calcular o
A biossíntese de glicose a partir de grau de eficiência de captação de energia do
gliceraldeído-3-fosfato segue a mesma rota da processo, considerando os seguintes fatos: (1)
gluconeogênese, isto é, pode sofrer são captados 2 fótons (1 por cada
isomerização para diidroxiacetona-fosfato por fotossistema) para causar o fluxo de um
uma triose-isomerase e as 2 moléculas se elétron desde H2O até NADPH; (2) para
unem para formar frutose-1,6-difosfato, gerar uma molécula de O2 é necessária a
mediante a enzima difosfofructose aldolase. transferência de 4 elétrons (duas moléculas de
A frutose-difosfato defosforila-se para dar H2O); (3) são produzidos 6O2; (4) portanto,
frutose-6-fosfato, a qual se isomeriza para o total de fótons necessários no processo são:
glicose-6-fosfato, para render finalmente 2 fótons/elétron x 4 elétrons/O2 x 6O2= 48
glicose-1-fosfato, molécula precursora do fótons; (5) a energia de 1 "mol" de fótons (1
amido. einstein) no intervalo de luz absorvida no
processo de fotossíntese (λ= 400 a 700 nm)
2) Regeneração da ribulose-difosfato está entre 170 a 300 kJ. Então, para 48 fótons
(RuDP) a energia absorvida é de 8160 a 14400 kJ, a
As 10 moléculas de gliceraldeído-3-fosfato qual é gasta para sintetizar 1 mol de glicose, o
entram nesta fase distribuídas assim: 4 que significa uma eficiência de conservação
moléculas de gliceraldeído-3-fosfato, 2 da energia de 2840/8160= 38.8% a
moléculas de diidroxiacetona-fosfato e 2
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2840/14400= 19.7%, dependendo do indiretamente enviado para as células da


comprimento de onda de luz absorvida. bainha, vizinhas das mesófilas, de forma a
manter níveis sempre altos de CO2 evitando a
Plantas C4 fotorrespiração e, no caso dela acontecer, o
CO2 liberado é coletado nas células
Algumas plantas chamadas C4 (cana de
mesófilas.
açúcar, milho, sorgo) sob as condições do
Nas plantas C4 o primeiro produto
trópico, isto é, alta luminosidade, alta
intermediário da fixação do CO2 é o
temperatura, baixos níveis de CO2 e altos
oxalacetato (OAA), composto de 4 carbonos,
níveis de O2, fixam o CO2 através do
em vez do 3-fosfoglicerato (composto de 3
fosfoenolpiruvato (PEP) para produzir
carbonos). O CO2 é fixado pelo
oxalacetato (OAA), composto de 4 carbonos.
fosfoenolpiruvato (PEP), e não RuDP, pela
A via de captação de CO2 pelas plantas C4
ação da enzima PEP-carboxilase:
foi proposta por Hatch e Slack em 1966.
A enzima que realiza esta reação, a PEP-
carboxilase, é mais eficiente do que a PEP + CO2 → OAA + Pi
Rubisco para fixar CO2. Mediante este
processo as plantas C4 evitam ou diminuem a O OAA é logo reduzido para malato a
fotorrespiração, evento que ocorre em todas expensas do NADPH pela enzima malato
as plantas quando os níveis de CO2 desidrogenase:
atmosféricos são baixos, e que consiste na
oxidação da RuDP, devido à ação oxigenase OAA + NADPH + H+ → L-malato +
da própria enzima Rubisco, consumindo O2 e NADP+
ATP e liberando, em vez de fixar, CO2. O
processo da fotorrespiração não tem utilidade O malato é transferido para as células da
conhecida. bainha, onde é decarboxilado e oxidado pela
A ação oxigenase da enzima Rubisco se deve enzima málica:
a que o O2 concorre com o CO2 pelo sítio
ativo da enzima e quando a concentração de L-malato + NADP+ → piruvato + CO2 +
CO2 é baixa, o O2 se condensa com a RuDP NADPH + H+
para formar uma molécula de 3-fosfoglicerato
mais uma molécula de fosfoglicolato (-OOC- O CO2 é então transferido para a RuDP pela
CH2-O-PO32-). A Km da Rubisco para o enzima Rubisco para seguir as reações iguais
CO2 é de 20 μM, enquanto que a mesma à fixação do CO2 pelas plantas C3. O
constante para o O2 é de 200 μM. A piruvato produzido é transferido de novo para
proporção de O2 no ar é de 20% e a de CO2 é as células mesófilas, onde é convertido em
de 0.04%, portanto facilmente as plantas PEP, para fixar mais CO2 em uma reação que
podem fazer fotorrespiração. O aumento da não existe nos animais (por razões
temperatura causa diminuição da afinidade da termodinâmicas) e que nas plantas é realizada
Rubisco pelo CO2, de forma que aumentaria graças a uma diquinase, enzima que fosforila
a fotorrespiração. No trópico as plantas C4 dois compostos simultaneamente, a piruvato-
conseguem contornar este problema. fosfato diquinase:
As folhas das plantas C4 têm uma disposição
celular diferente das plantas C3: além das piruvato + ATP + Pi → PEP + AMP + PPi
células mesófilas, próprias de todas as folhas
das plantas C3, as plantas C4 possuem grupos No processo se consumem 2 ATP (um para a
de células vizinhas e interligadas com elas, conversão de piruvato em PEP e outro para
chamadas células da bainha. O processo de converter o AMP, produzido na mesma
fixação do CO2 pelas plantas C4 é realizado reação, em ADP) mais um NADPH para a
nas células mesófilas (onde também se realiza redução do OAA, mas o investimento bem
nas plantas C3) mas nas plantas C4 o CO2 é
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vale a pena pois de outra forma ocorreria NITSCKE, W., RUTHERFORD, A.W.
fotorrespiração. Photosynthetic reaction centres: variations on
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