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Bioética Aplicada A Pesquisa e Inovação Farmacêutica PDF
Bioética Aplicada A Pesquisa e Inovação Farmacêutica PDF
RESUMO
A bioética privilegia o altruísmo em detrimento dos deveres que o homem tem para consigo
mesmo, os desafios maiores esperam a nova disciplina na esfera da ética aplicada de viés
descritivo. Essa lida com valores sociais, o uso cotidiano de princípios do bem-viver,
interessa-se pelos hábitos do agir moralmente correto em relação ao semelhante e busca
assegurar critérios mínimos de razoabilidade nos dia-a-dias éticos das pessoas. Representa
uma resposta do Homem ao apelo que lhe está inerente de ser cocriador do Mundo. Conhecer,
investigar, interrogar-se sobre a origem das coisas e de si próprio faz parte do exercício da
liberdade que integra a essência da humanidade.
Palavras-Chaves: Bioética, Moral e Cultura
INTRODUÇÃO
O que se convenciona chamar de “bioética” possui moldura conceitual de longa tradição no
pensamento ocidental. Enquanto disciplina, a bioética faz parte de uma tradição acadêmica de
linguajares, argumentos, termos e conceitos organizados em ética geral e ética aplicada.
A bioética privilegia o altruísmo em detrimento dos deveres que o homem tem para consigo
mesmo. Lida assim, com evidências fatuais que têm por objeto um próximo existente e/ou
próximos ausentes.
A disciplina trata de temas específicos como nascer/não nascer (aborto), morrer/não morrer
(eutanásia), saúde/doença (ética biomédica), bem-estar/mal-estar (ética biopsicológicas) e se
ocupa de novos campos de atuação do conhecimento, como clonagem (ética genética),
irresponsabilidade perante os pósteros (ética de gerações), depredação da natureza extra-
humana circundante e agressões ao equilíbrio sistêmico das espécies (ecoética), e assim por
diante.
Dentre as diversas práticas da bioética destacam-se atividades terapêuticas em sentido amplo.
Todo e qualquer exercício das relações profissionais de médicos, enfermeiros, dentistas,
psicólogos, nutricionistas, farmacêuticos, biólogos, fisioterapeutas e demais técnicos
especializados em saúde e doença, bem como os usuários das novas técnicas biomédicas e
farmacológicas tornam-se destinatários do discurso bioético e ficam, também na condição de
pacientes, devendo respostas à bioética.
Correspondência:
SAAD, E., R. Maria Cândida, 1818, Sala 126, cep 02071-013, São Paulo, SP, Brasil.
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Histórico
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Podemos dizer assim, que a Bioética é um estudo recente. Surgiu nos Estados Unidos na
década de 70 devido a vários fatores histórico-culturais.
Traçar a história da Bioética não é algo tão simples, alguns autores preferem dizer que ela
surgiu proveniente de um fenômeno impulsionado por uma revolução social e biotecnológica.
Mais precisamente, podemos dizer que surgiu em 1970, num artigo escrito por um
oncologista americano Van Rensselear Potter, com o título “The Science of Survival” e, no
ano seguinte, em 1971, um livro “Bioethics: Bridge to the Future”, consolidou esta nova
temática pregando a necessidade de se estabelecer uma ponte entre o saber científico e o saber
humanístico.
A Bioética tem por objetivo associar a biologia à ética, por meio de uma prática
interdisciplinar, onde esperam os médicos, homens de ciência, advogados, juristas, religiosos,
atuem em comum para estabelecer um conjunto de normas aceitável para todos.
Desde então muitas definições vem surgindo a respeito dessa nova ciência, dentre as quais
citamos como as mais importantes:
Segundo Van Rensselaer Potter em 1971: "Eu proponho o termo Bioética como forma de
enfatizar os dois componentes mais importantes para se atingir uma nova sabedoria, que é tão
desesperadamente necessária: conhecimento biológico e valores humanos.”
Decorrido alguns anos (1988) ele redefine Bioética como sendo a “combinação da biologia
com conhecimentos humanísticos diversos, constituindo uma ciência que estabelece um
sistema de prioridades médicas e ambientais para a sobrevivência aceitável”.
Em nosso país, uma das figuras mais ilustres nesta área, o Dr. José Roberto Goldim, define
Bioética como: “É uma reflexão compartilhada, complexa e interdisciplinar sobre a
adequação das ações que envolvem a vida e o viver”.
Nesse contexto, no Brasil, a Vigilância Sanitária surge inicialmente como um conjunto de
ações que visava ao controle dos riscos relacionados à circulação de mercadorias e à força de
trabalho. Atualmente, Vigilância Sanitária é entendida como um conjunto de ações capaz de
eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários
decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de
interesse da saúde.
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A defesa e a proteção da saúde surgem no aparato legal brasileiro por meio das constituições
federais de 1937, 1946, 1967, culminando com a de 1988. Referem-se à competência do
Estado de legislar sobre a saúde, ganhando ênfase com a criação do Ministério da Saúde
(1950) e a necessidade de um espaço institucional que acompanhasse o desenvolvimento
industrial e tecnológico.
Os Princípios da Bioética
Com o surgimento da Bioética, na década de 70, era necessário estabelecer uma metodologia
para analisar os casos concretos e os problemas éticos que emergiam da prática da assistência
à saúde. Em 1979, os norte-americanos Tom L. Beauchamp e James F. Childress
publicam um livro chamado “Principles of Biomedical Ethics”, onde expõem uma teoria,
fundamentada em quatro princípios básicos - a.) não maleficência; b.) beneficência; c.)
respeito à autonomia e d.) justiça - que, a partir de então, tornar-se-ia fundamental para o
desenvolvimento da Bioética e ditaria uma forma peculiar de definir e manejar os valores
envolvidos nas relações dos profissionais de saúde e seus pacientes.
Estes quatro princípios, que não possuem um caráter absoluto, nem têm prioridade um sobre o
outro, servem como regras gerais para orientar a tomada de decisão frente aos problemas
éticos e para ordenar os argumentos nas discussões de casos.
Desde seu aparecimento, o Principialismo gerou críticas. O problema reside no caráter
relativo dos princípios, fazendo com que surjam conflitos entre eles porque, na prática, nem
sempre se pode respeitá-los igualmente. Por outro lado, tem a vantagem de ser operacional,
constituindo-se em parte necessária, apesar de nem sempre suficiente, para a tomada de
decisão. Os princípios facilitam e ordenam a análise dos casos concretos e, a partir de então,
se pode necessitar de outros valores para aprofundar a análise ética. Na Bioética
contemporânea, é consenso que o Principialismo apresenta um conjunto de postulados básicos
que não podem ser ignorados mesmo que não tenham, reconhecidamente, um caráter
incondicional de princípios.
O princípio da maleficência
De acordo com este princípio, o profissional de saúde tem o dever de, intencionalmente, não
causar mal e/ou danos a seu paciente. Considerado por muitos como o princípio fundamental
da tradição hipocrática da ética médica, tem suas raízes em uma máxima que preconiza: “cria
o hábito de duas coisas: socorrer (ajudar) ou, ao menos, não causar danos”. Este preceito,
mais conhecido em sua versão para o latim (primum non nocere), é utilizado freqüentemente
como uma exigência moral da profissão médica. Trata-se, portanto, de um mínimo ético, um
dever profissional, que, se não cumprido, coloca o profissional de saúde numa situação de má-
prática ou prática negligente da medicina ou das demais profissões da área biomédica.
O princípio da beneficência
A beneficência tem sido associada à excelência profissional desde os tempos da medicina
grega, e está expressa no Juramento de Hipócrates: “Usarei o tratamento para ajudar os
doentes, de acordo com minha habilidade e julgamento e nunca o utilizarei para prejudicá-
los” Beneficência quer dizer fazer o bem. De uma maneira prática, isto significa que temos a
obrigação moral de agir para o benefício do outro. Este conceito, quando é utilizado na área
de cuidados com a saúde, que engloba todas as profissões das ciências biomédicas, significa
fazer o que é melhor para o paciente, não só do ponto de vista técnico-assistencial, mas
também do ponto de vista ético. É usar todos os conhecimentos e habilidades profissionais a
serviço do paciente, considerando, na tomada de decisão, a minimização dos riscos e a
maximização dos benefícios do procedimento a realizar
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O artigo menciona a questão da religião com relação a alguns procedimentos médicos como
transfusão sanguínea e doação de órgãos. O dever do médico é salvar o paciente, mas muitas
vezes este paciente pertence a uma determinada religião que não permite tais práticas. Surge
neste contexto a Bioética: O que é correto, salvar o paciente ou respeitar sua cultura religiosa?
Os profissionais de saúde devem ter esclarecimentos religiosos em relação a determinadas
práticas médicas e quando se encontrar em uma situação como esta, antes de qualquer atitude,
conversar com o paciente ou com a família caso este não esteja consciente, sobre a
importância de tal prática (transfusão sanguínea ou de órgãos) esclarecendo o risco de vida do
paciente.
Caso o paciente ou a família persistirem nas questões religiosas, a ética seria respeitar a
opinião dos mesmos repassando à órgãos superiores a responsabilidade das atitudes impostas.
Este artigo relata que costumes religiosos como possessão espiritual e mediunidade estão
relacionados com doenças psiquiátricas e que estudos confirmam que muitos pacientes
desenvolveram patologias psiquiátricas após participação de religiões que possuem tais
costumes.
Ao longo do tempo concluiu-se ser a possessão e mediunidade fenômenos normais,
compreendidos mediante a identificação de padrões culturais dos participantes e dos
condicionamentos que as normas grupais impõem.
O que é particularmente importante nesse artigo é destacar a visão medicalizante e estreita da
psiquiatria em relação a fenômenos como a possessão, a demonopatia, os transes mediúnicos
e os estados-de-santo. O psiquiatra deveria ser mais humilde e menos onipotente, esforçando-
se para identificar as pessoas que realmente se beneficiam de tais intervenções religiosas.
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É evidente a falta de ética para a realização deste artigo, pois podemos ter nossas opiniões
próprias em relação à determinadas práticas religiosas, mas não podemos expor de tal forma e
sim respeitar as opiniões e crenças alheias.
A auto-hemoterapia não é uma prática reconhecida pela ANVISA, por não haver estudos
clínicos que comprovem sua verdadeira eficácia e sua prática necessita de profissionais e
locais adequados. A bioética favorece uma prática quando ela se enquadra nos “Quatro Pês”
que envolve questões de prevenção, proteção, precaução e prudência.
Dentro da Bioética de intervenção, os “Quatro Pês” são referenciais teóricos e práticos
referidos frente a novas tecnologias de serviços e produtos para a saúde, bem como os
procedimentos por eles utilizados. O tema da prevenção é usado em questões que envolvam
possíveis danos e iatrogenias de tecnologias existentes; a precaução é evocada em situações
em que se desconhecem os riscos envolvidos; a prudência é lembrada com relação aos
cuidados necessários frente aos avanços tecnológicos; enquanto o referencial da proteção
objetiva trabalhar o tema da vulnerabilidade, da proteção indispensável aos mais frágeis, aos
necessitados. O conceito de risco é importante na compreensão dos “Quatro Pês”. Risco é a
chance ou possibilidade de ocorrência de uma conseqüência prejudicial ou ruim em virtude de
uma ação ou omissão. Faz-se necessário explicitar, também, o conceito de vulnerabilidade,
diferenciando-o do conceito de risco. Vulnerabilidade seria um conjunto de aspectos que
ultrapassam o individual, abrangendo aspectos coletivos e contextuais que levam à
suscetibilidade a doenças ou agravos, além de aspectos relacionados à disponibilidade ou à
carência de recursos destinados à proteção.
Mesmo sem reconhecimento pela ANVISA a auto-hemoterapia tem sido praticada
desenfreadamente pela população, o que necessitou do envolvimento da polícia federal para a
sua proibição. Neste caso envolve a importância da bioética, onde práticas sem segurança e
conhecimento não possam ser realizadas. Mas nada impede que pesquisadores estudem a
auto-hemoterapia, sendo que esta também não apresentou nenhum resultado negativo, desde
que com o consentimento da ANVISA, da ética e dos envolvidos.
O artigo descreve que vários estudos mostram que a propaganda consegue realmente alterar o
padrão de prescrição dos médicos.
Os médicos são visitados com regularidade por propagandistas, que oferecem brindes e
premiações em troca de prescrições médicas de determinada indústria.
Diversas propagandas falsas em relações as reações adversas e usos terapêuticos são
anunciadas, são envolvidos artistas famosos nas propagandas medicamentosas a fim de
interferir diretamente o consumidor, entre outras.
O papel regulador do Estado, com base na bioética de intervenção e visando a proteção da
sociedade, deve ser continuamente exercido com relação à propaganda de medicamentos.
Constata-se que, embora algumas mudanças legais tenham acontecido nos últimos anos,
continuam ocorrendo irregularidades, em desacordo com a legislação vigente, influenciando a
prescrição e o consumo de medicamentos e, principalmente, induzindo as pessoas à
automedicação.
Neste caso também deveria existir uma fiscalização mais rigorosa para impedir este
procedimento, como descrito na auto-hemoterapia.
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O artigo relata a possibilidade dos profissionais de enfermagem utilizarem como terapia o uso
de plantas medicinais e a luta destes profissionais para o uso desta prática.
Muitos estudos comprovam a eficácia das plantas medicinais, sendo assim qualquer
profissional da saúde poderia utilizá-las em suas indicações?
Não. A competência de prescrever é restrita ao médico, cabendo somente aos demais
profissionais da área de saúde, especializados em fitoterapia, dar o suporte a essa terapêutica.
Ético para este setor específico seria a habilidade no auxílio do acompanhamento deste
paciente que exige não só cuidados físicos, mas também fraternal e humano.
Para esses profissionais necessita de um despertar maior de sensibilidade humana para
compreender e acompanhar o paciente e seus familiares.
Nem todos se acham preparados para exercer tal função, desta forma, os profissionais da
saúde que desejam atuar nesta área deveriam se especializar em cuidados para o paciente
portador dessa doença tão debilitante.
Os familiares do paciente também deveriam ser orientados por profissionais especialistas em
Alzheimer.
CONCLUSÃO
A Bioética é uma nova abordagem de caráter pluridisciplinar que procura tomar decisões à luz
dos valores éticos para uma gestão responsável da pessoa Humana, da sua vida e da sua morte
no mundo em que os progressos técnicos permitem uma intervenção cada vez maior no
biológico. Simultaneamente estuda também os problemas que esse progresso suscita quer ao
nível micro-social quer ao nível da sociedade global e as repercussões que esse progresso tem
sobre a sociedade e seu sistema de valores.
É assim, uma troca de saberes que encarando a vida numa perspectiva ética questiona o
sentido do progresso quando confrontado com a dignidade da pessoa. Na realidade o
progresso dos conhecimentos científicos é um bem. Representa uma resposta do Homem ao
apelo que lhe está inerente de ser cocriador do Mundo. Conhecer, investigar, interrogar-se
sobre a origem das coisas e de si próprio faz parte do exercício da liberdade que integra a
essência da humanidade.
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REFERÊNCIAS
3- ALVIM, N.A.T. et al. O uso de plantas medicinais como recurso terapêutico: Das
influências da formação profissional às implicações éticas e legais de sua aplicabilidade como
extensão da prática de cuidar realizada pela enfermaria. Rev. Latino-am Enfermagem,
14(3), maio-junho, 2006
11- MACHADO, J.G.S. et al. Análise bioética da legislação brasileira aplicável ao uso de
animais não-humanos em experimentos científicos. Disponível em <
http://www.bioetica.catedraunesco.unb.br/htm/X%20-
%20htm/biblio/htm_mono/mono_04/02_animais_nao_humanos_pesquisa.pdf>. Acesso em
10 maio 2009.
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