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UNIVERISDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

GOVERNOS ABERTO E ELETRÔNICO: UMA FUSÃO ENTRE GESTÃO


PÚBLICA E GESTÃO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO?

Discente: Leonardo Medeiros Martins.


Disciplina: Teoria das Organizações.
Docente: Maria Arlete Duarte de Araújo, Dra.

RESUMO

A partir do desenvolvimento de novas tecnologias de informação e comunicação (TICs),


em especial da internet, a sociedade passou a interagir por meios mais eficientes perante
as variáveis tempo e distância. Esta condição favoreceu para que o estado ofertasse seus
serviços de modo mais eficiente. Para tanto, os conceitos governo aberto e governo
eletrônico são expoentes da literatura para descrever esse favorecimento. Contudo, há
uma mescla de conceitos entre os campos da gestão pública e da gestão de tecnologia de
informação, fato que evidencia a necessidade e objetivo deste artigo de investigar as
premissas e elementos centrais dos conceitos para analisar se governos aberto e
eletrônico são paradigmaticamente oriundos da gestão pública, da gestão de tecnologia
da informação ou de uma fusão de ambas. Nesse sentido, evidenciou-se que o conceito
de governo aberto evidentemente compartilha conceitos da gestão pública e de
tecnologia da informação, sendo que a proporção entre os conceitos depende do tipo de
análise. Como resultado, para uma análise lato senso existe uma fusão entre os campos
de gestão pública e gestão de tecnologia da informação na construção do conceito de
governo aberto.

Palavras-chave: governo aberto; governo eletrônico; gestão pública; gestão de


tecnologia de informação.
1. INTRODUÇÃO

O surgimento de tecnologias mais avançadas possibilita o aprimoramento das relações


sociais em novos modos. Levando em conta as tecnologias de informação, a partir do
surgimento da rede de internet, hábitos relativos a práticas em ambiente virtual
passaram a deter maior influência no comportamento das pessoas (BURKEMAN,
2009)1, o que por conseguinte detém maior influência na sociedade. Tomando a função
do estado a de regulador da dinâmica social, o advento de novas tecnologias de
informação e comunicação (TICs), favorecerem a capacitação dos governos em tornar
seus serviços mais eficientes, ofertando-os de novas formas.
Quando Weber desenvolveu a Teoria da Burocracia, a tecnologia da época fazia
necessário o emprego de vários indivíduos para controlar os processos administrativos,
fato que talvez tenha culminado na burocracia do senso comum ou, tecnicamente, a
disfunção da burocracia. Porém, a partir do uso de softwares e de interações online entre
o governo e os cidadãos usuários, tornou-se possível praticar os princípios dessa teoria,
tais quais controle e impessoalidade, por exemplo, de modo a não prejudicar o
funcionamento da máquina pública por excesso de custos ou atraso na execução dos
serviços.
A partir dessa condição de ofertar serviços públicos com maior eficiência,
pesquisadores, gestores públicos e entidades sociais debruçaram-se sob os conceitos de
governo aberto e governo eletrônico, ao modo de sínteses de novas práticas
governamentais, com o intuito de melhorar a qualidade da sociedade.
Quanto ao âmbito dos pesquisadores, o desenvolvimento de teorias, métodos e
instrumentos para pesquisar tais práticas governamentais configura-se como meio de
aperfeiçoar a própria gestão dos governos e, com isso, agregar a prestação de serviços à
sociedade. Tal desenvolvimento requer o arcabouço de conhecimentos de outras
ciências para trazer embasamento e contextualização ao processo de pesquisa. Em
virtude disso, as temáticas dos governos abertos e eletrônico são objetos relevantes de
estudo, pois, compartilham conteúdos tanto da gestão pública, quanto da gestão da
tecnologia de informação.

1
Disponível em: <https://www.theguardian.com/technology/2009/oct/23/internet-40-history-arpanet>.
Acesso em: 11 jul. 2019.
Por isso, o presente artigo busca investigar o quanto esses conceitos estão relacionados a
cada tipo das gestões mencionadas, do ponto de vista da estruturação teórica ou
paradigmática. Adotou-se a denominação de fusão à condição em que a quantidade de
premissas e/ou elementos centrais dos constructos dos governos abertos e eletrônico são
equivalentes ou praticamente iguais. Em contraponto, caso não haja a situação de fusão
das gestões pública e de tecnologia de informação na explicação dos conceitos
governamentais citados, entender-se-á, no âmbito deste artigo, que ocorre tão somente
uma complementação de um campo ao outro. Isto é, o campo da gestão pública é que
define majoritariamente os constructos de governo aberto e eletrônico, sendo embasado
pelos conteúdos da gestão da tecnologia da informação, ou o contrário, em que a gestão
da tecnologia da informação é que detém a maioria da explicação teórica e a gestão
pública apenas agrega informações.
Assim, pretende-se trazer como resultado de investigação uma resposta a três hipóteses
de pesquisas esperadas, as quais são: (1) há fusão entre gestão pública e gestão da
tecnologia da informação na estruturação teórica de governo aberto e governo
eletrônico; (2) não há fusão entre gestão pública e gestão da tecnologia da informação,
sendo observado que é a gestão pública que explica a maior parte da estruturação teórica
de governo aberto e governo eletrônico; ou (3) não há fusão entre gestão pública e
gestão da tecnologia da informação, sendo observado que é a gestão de tecnologia da
informação que explica a maior parte da estruturação teórica de governo aberto e
governo eletrônico.
Portanto, esse artigo será metodologicamente estruturado do seguinte modo:
primeiramente serão dissertados os conceitos de governo aberto e governo eletrônico,
ressaltando seus significados, similitudes e diferenças, a título de compreensão de
conteúdo para o(a) leitor(a); em seguida, serão expostos conteúdos acerca da gestão
pública e da gestão da tecnologia de informação para exemplificar a que cada campo
refere-se; por fim será feita a argumentação, com base nos conteúdos apresentados
sobre governos abertos e eletrônico e gestões pública e de tecnologia de informação,
para averiguar qual hipótese pode ser atendida.

2. GOVERNO ABERTO

Desde o desenvolvimento das civilizações, as populações em situação desigual buscam


seus direitos como cidadãos para vivenciar a função que todo estado deve promover: o
bem-estar social. Tal colocação, traz explicação plausível para a razão da ocorrência de
movimentações sociais e campanhas em prol da melhoria da gestão do estado. No
tocante ao governo aberto, este conceito busca a assunção de práticas ou posturas
governamentais que integrem a população à coisa pública, por meio do asseguramento
dos direitos e respaldo das ações governamentais. Assim, muito embora a sociedade
possa exigir e pressionar um governo, a ação do governo aberto parte da esfera da
administração pública.
No ano de 2011, líderes governamentais e representantes da sociedade civil criaram
uma parceira em prol da difusão e promoção dos ideais do governo aberto, dando
origem à open government partnership (OGP), ou parceira do governo aberto em
português (OGP, 2019)2. O Brasil, enquanto um dos integrantes da parceria desde o ano
de sua criação e cuja responsabilidade de implementação das práticas do governo aberto
cabe à Controladoria Geral da União (CGU), firmou essas prática a partir de setembro
de 2011, por meio do decreto s/n do dia 15 da mesma data que instituiu o Plano
Nacional de Dados Abertos e o Comitê Interministerial Governo Aberto (CIGA) (CGU,
2019a)3.
Desse modo, a CGU segue os princípios do conceito de governo aberto estabelecidos
pela OGP, os quais são (1) a transparência, (2) prestação de contas e responsabilização
(accountability), (3) participação cidadã e (4) tecnologia e inovação (CGU, 2019b)4. Até
de forma estatutária, os países integrantes da OGP são comprometidos com esses
princípios conforme a Declaração do Governo Aberto. Nesta declaração ressalta-se o
reconhecimento de que “as pessoas ao redor do mundo [...] estão reivindicando maior
participação cívica nos assuntos públicos” (OGP, 2011). Em virtude disso, a OGP
(2011), em nome de seus parceiros, incorpora o governo aberto como a aceitação da
responsabilidade de “promover a transparência, lutar contra a corrupção, dar poder aos
cidadãos e dominar o poder das novas tecnologias para tornar o governo mais efetivo e
responsável”.
De forma mais clara, Calderón e Lorenzo (2010) definem o governo aberto enquanto
aquele que engaja uma conversação constante com os cidadãos com o fim de ouvir o
que eles dizem e solicitam. Logo, o governo aberto toma decisões baseadas nas
necessidades e preferências dos cidadãos, o que facilita a colaboração destes com os

2
Disponível em: <https://www.opengovpartnership.org/about/>. Acesso em: 11 jul. 2019.
3
Disponível em: <http://www.governoaberto.cgu.gov.br/no-brasil/historico>. Acesso em: 11 jul. 2019.
4
Disponivel em: http://www.governoaberto.cgu.gov.br/a-ogp/o-que-e-governo-aberto>. Acesso em: 11
jul. 2019.
funcionários públicos (que também são cidadãos) no desenvolvimento da comunicação
e prestação de serviços (CALDERÓN & LORENZO, 2010); Portanto, um governo
aberto faz essas ações toma tais decisões de modo aberto e transparente.
O detalhe é que tais princípios, ainda na visão de Calderón e Lorenzo (2010), não são
novos, mas subjacente a maioria das constituições e leis nacionais. O diferencial para o
conceito de governo aberto é que o avanço tecnológico, principalmente da web 2.0,
propiciou a extensão da internet como rede global, algo que não só produziu uma
mudança de paradigma na forma de relacionamento dos cidadãos, como possibilitou pôr
em prática, de forma massiva, a interação técnica com a população (CALDERÓN &
LORENZO, 2010).
Em outra linha, Reis (2018) analisa a condição paradigmática do governo aberto, a
partir da qual chega à análise de duas polarizações dentro desse conceito. A primeira
trata sobre a inclusão de dados abertos como um dos princípios do governo aberto.
Nessa questão, com base nos estudos do autor, é evidenciado que o governo aberto
historicamente esteve ligado ao accountability, enquanto os dados abertos expressavam
o uso da tecnologia para promover estratégias de ampliação da transparência pública
(REIS, 2018). Esse tipo de questionamento pode ser melhor compreendido com a
explanação dos conceitos de governo eletrônico, na seção seguinte.
Já a segunda polaridade de Reis (2018) é relativa às diferenciações para o conceito de
governo aberto, isto é, algumas instituições e pesquisadores utilizam diferentes preceitos
(mas não completamente todos) para conceituar o governo aberto. No caso, o autor
diferencia os conceitos da open governmente partnership – iniciativa empregada na
gestão de Barack Obama – à open government initiative (OGP), em que a OGI
apresenta três princípios (colaboração, transparência e a participação), enquanto a OGP
possui quatro, já mencionados.
Não conflitando com esse postulado, pois entende-se que Reis (2018) apenas buscou
identificar fontes para a definição de governo aberto que estão divergindo em certos
aspectos, este artigo acata aos princípios postulados pela OGP por ser uma entidade
mais plural (com 79 países membros)5 e mais recente, a título de definição de critério de
pesquisa.

5
Disponível em: <https://www.opengovpartnership.org/our-members/>. Acesso em: 11 jul. 2019.
3. GOVERNO ELETRÔNICO

O conceito de governo eletrônico, também referido como e-government, condiz ao uso


que o governo faz das tecnologias de informação e comunicação (TIC) em suas tarefas
públicas: os processos de trabalhos internos, provisão de serviços externos e interação
com os stakeholders, principalmente os cidadãos (BOUWMAN et al. 2005).
Em função das transformações do estado, da gestão pública e das demandas sociais,
Mezzaroba e Bier (2015) pontuaram que os governos vêm procurando a modernização
da administração pública e, em resposta a essa procura, estão sendo introduzidas
modificações operacionais com uso intensivo de tecnologias de informação e
comunicação, nos governos.
Já Yanqing (2011) define o e-government enquanto um caminho para os governos
usarem as TICs mais inovadoras, particularmente as aplicações de internet baseada em
web, para fornecer acesso mais conveniente a serviços e informações governamentais,
tanto para cidadãos, quanto negócios. Ainda, a prática do governo eletrônico é para
aumentar a qualidade dos serviços e fornecer melhores oportunidades para participar em
instituições e processos democráticos (YANQING, 2011).
Com base nessas citações, pode-se compreender o governo eletrônico ao modo de
utilização de tecnologias da informação e comunicação por parte do governo, de modo
inovador e com o intuito de melhorar a prestação de serviços aos cidadãos, porquanto
houver demandas sociais exigindo maior esforço do estado para coordenar a dinâmica
social.
Em outra linha de análise, Bouwman et al. (2005) também trazem as diferenças entre o
uso de tecnologias de informação e comunicação em empresas (e-business) e em
organizações governamentais (e-government). Mesmo havendo aspectos semelhantes a
toda organização, como estrutura e hierarquia, por exemplo, a diferença entre as
empresas e as organizações governamentais é que existe o interesse privado, focado na
lucratividade, que é regulada pelo mercado; em contraponto ao interesse na
coletividade, com foco para o bem-estar, sendo regulado pela política, respectivamente.
Segundo os autores, isto faz com que certas inovações para atender aos cidadãos não
aconteçam de forma direta, pois dependem de legislações e regulações (BOUWMAN et
al. 2005).
4. GESTÃO PÚBLICA

A organização da comunidade humana em sociedade supõe o estabelecimento e


consenso de um conjunto de valores e normas que garantam a convivência social, da
qual podemos ampliar seu entendimento à condição dos estados modernos, que
desenvolveram um conjunto de elementos para o exercício da direção e coordenação
social através das atividades (já dentro dos conceitos da tripartição dos poderes de
Montesquieu) legislativas, executivas e judiciais (ROYO, 1999).
Costin (2010) trata o estado como um conjunto de regras, pessoas e organizações que se
separam da sociedade para organizá-la, pressupondo que o estado nem sempre existiu.
Para a autora, o estado adquire existência ao passo que o comando da comunidade é
garantido por aparelho ou instância especializada, funcionando de forma hierárquica ao
separar governantes de governados (COSTIN, 2010). Já o governo, diferencia-se de
estado por estar restringido ao comando direto e à sanção da obediência, com vista à
aplicação das leis nacionais vigentes. Ainda, usualmente trata-se de governo enquanto o
poder executivo, mesmo não sendo especificamente o correto, porém, entende-se esse
tratamento para enfatizar a tomada de decisão ou a forma de gestão interna (COSTIN,
2010).
Tão logo, Costin (2010) entende a administração pública, ou gestão pública, como a
estrutura formada por órgãos e pessoas que trabalham para o estado, cujo propósito é
operacionalizar as decisões estatais na forma de prestação de serviços públicos,
fiscalização, regulação e exercício de funções de soberania.
Isso conflui para que a gestão pública possa ser caracterizada pelo processo de
administrar as funções, e consequente operações, relegadas ao estado através do
governo. Na visão de Royo (1999), a gestão pública busca a satisfação de necessidades
coletivas, às vezes ambíguas e que mudam, atributo que introduz uma dificuldade
especial, a da complexidade na definição dos objetivos de atuação.

5. GESTÃO DE TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO

A tecnologia da informação (TI), enquanto ferramenta de apoio às práticas


organizacionais surgiu a partir da criação dos primeiros computadores comerciais, na
década de 1950. Por meio desse instrumento a TI foi se consolidando, através de
hardwares e softwares, como um elemento-chave para as organizações por conta do
processamento de dados e informações (VERAS, 2019).
Para contextualizar, Etkin (2000) traz alguns conceitos descritivos da estrutura
organizacional, dos quais – ao âmbito da tecnologia da informação – destacam-se que as
organizações: possuem uma rede de comunicações através das quais intercambiam
dados e informações sobre normas, atividades e resultados; e intercambiam recursos e
capacidades com seu meio ambiente. Para tanto, a TI torna mais eficiente o trânsito de
informações dentro da estrutura organizacional, seja entre seus departamentos, setores
ou unidades, além de qualificar a interação com o meio externo.
Nesse sentido, Veras (2019) conceitua a gestão da tecnologia da informação ao modo de
esforço para utilizar técnicas e ferramentas de gestão no setor de TI, com o intuito de
fazer com que a tecnologia da informação atenda às necessidades da organização (que
por sua vez remetem aos objetivos organizacionais) e de seus usuários quanto ao
aumento de produtividade, isto, isto é, a conquista de resultados.
Para Bouwman et al. (2005) a gestão da tecnologia de informação e comunicação nas
organizações deve ser planejada e executada com base nas fases de adoção,
implementação, uso e efeitos. A fase de adoção é caracterizada pela escolha, análise ou
seleção do tipo de tecnologia será implantada na organização, seja sistema ou
equipamento; após decidido o tipo da TIC, ocorre a fase de implementar ou pôr em
prática a tecnologia; em seguida, quando implementada, há a fase do uso, em que a
organização (e seus membros) deve se acostumar e utilizar a tecnologia da forma
correta; quando é prevalecido a utilização da TIC na organização, chega-se a fase dos
efeitos, na qual são mensurados os ganhos, se houver, com a tecnologia em questão
(BOUWMAN et al. 2005).

6. RESULTADOS DE PESQUISA

À luz dos conceitos, identificou-se, primeiramente, que o governo eletrônico é um


elemento que compõe o governo aberto, sob pretexto de facilitar suas práticas de
transparência e interação com os cidadãos. Remetendo-se novamente à Calderón e
Lorenzo (2010), mas com alguns acréscimos, a noção de governo aberto não é nova,
porém, o uso das novas tecnologias de informação (sintetizadas pela internet) pelo
governo provê uma prática de e-government que viabiliza o governo aberto ao tornar os
processos da gestão mais eficientes.
Desse modo, reajustam-se as hipóteses de pesquisa para o conceito do governo aberto:
este é uma fusão das gestões pública e de tecnologia da informação? O conceito de
governo aberto, analisando sua estrutura, apresenta quatro fundamentos, sendo eles a
transparência, a prestação de contas e/ou accountability, a participação cidadã e a
tecnologia e inovação. Assim, através do teorema de “os conceitos relativos à gestão
pública mais os conceitos relativos à gestão de tecnologia da informação serem iguais
ou proporcionais para validar a primeira hipótese”, é possível argumentar que a hipótese
1 não pode ser alcançada, pois, a grosso modo, ¾ do corpo teórico do conceito de
governo aberto está calcado na gestão pública. Ou seja, há a validação da segunda
hipótese.
Entretanto, sob outro foco de análise, a própria OGP assume em sua declaração que
vivemos em um mundo cada vez mais interconectado, o que justifica o
comprometimento com os cidadãos para aperfeiçoar os serviços governamentais. Se
entendermos esse aperfeiçoamento enquanto a “busca de produtividade” mencionada na
seção sobre gestão de tecnologia da informação, torna-se interpretável que governo
aberto é algo realizável a partir de todo um conjunto de princípios e valores oriundos da
gestão pública somado a outro conjunto de processos, sistemas e ferramentas (que
embasam o governo eletrônico) oriundas da gestão da tecnologia de informação.
Portanto, neste outro foco, o governo aberto seria composto por 2 conjuntos teóricos,
cada qual representando proporcionalmente as gestões públicas e de tecnologia da
informação, o que validaria a primeira hipótese.
Ademais, para adequar ambas as análises, resolveu-se enquadra-las em perspectivas
stricto senso e lato senso. A primeira análise, a qual valida a hipótese 2 é considerada
enquanto stricto senso, pois analisa puramente a estrutura teórica do conceito de
governo aberto. Enquanto que a análise posterior, cujo resultado é a validação da
hipótese 1, é compreendida enquanto lato senso, pois analisa o contexto de emprego do
governo aberto.
Por fim, o governo aberto pode ser entendido enquanto uma fusão das gestões pública e
de tecnologia da informação a depender do olhar do leitor ou dos critérios de pesquisa
adotados. No caso lato senso, este artigo demonstrou haver tal fusão.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho oportunizou a compreensão da contribuição de campos distintos da
Administração para o conceito de governo aberto. Entretanto, não apenas para esse
conceito, mas, a metodologia empregada no artigo pode ser aplicada a outras áreas e
conceitos para facultar o entendimento mais claro de onde surgem os conceitos da
administração e se há algum campo de conhecimento predominante.
Não obstante, quanto ao estudo do governo aberto, seria mais desejável o
aprofundamento na temática por meio do estudo de outros trabalhos, para qualificar o
teor dissertativo das seções do artigo.
Além disso, esse artigo também poderia se beneficiar da estruturação de métodos mais
arrojados do ponto de vista epistemológico ou paradigmático, com vistas à sofisticação
da discussão de fusão de campos teóricos.
Todavia, tal benefício de método seria mais condizente à argumentação explicativa. O
artigo denotou-se a abordar o conceito de governos aberto e eletrônico de modo
exploratório, levantando a literatura mais concisa às definições dos conteúdos e
tomando a conclusão somente após breve comparação de certos princípios dos
conteúdos.
Por último, espera-se que este artigo possa contribuir para a qualificação da gestão
pública, a partir do norteamento quanto ao papel das tecnologias de informação e
comunicação na viabilização dos ideais democráticos da participação cidadã e
transparência do governo.

REFERÊNCIAS

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