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Volume 5, Number 5 (October 2012) p.

702-736 • ISSN 1983-4195

Mechanical behavior analysis of small-scale modeling of


ceramic block masonry structures – Geometries effect

Análise do comportamento mecânico das alvenarias


estruturais de blocos cerâmicos utilizando modelos
físicos reduzidos – Efeito da geometria

E. RIZZATTI a
edu_rizzatti@yahoo.com.br

H. R. ROMAN b
humberto@ecv.ufsc

G. MOHAMAD c
gihad.civil@gmail.com

E.Y. NAKANISHI d
elizabete_nakanishi@hotmail.com
Abstract
This paper presents the experimental results of a research program with ceramic block masonry under compression. Four different block geom-
etries were investigated. Two of them had circular hollows with different net area. The third one had two rectangular hollow and the last block was
with rectangular hollows and a double central webs. The prisms and walls were built with two mortar type 1:1:6 (I) and 1:0,5:4 (II) (proportions by
volume of cement: lime: sand). One:three small scale blocks were used to test block, prisms and walls on compression. It was possible to conclude
that the block with double central webs gave better results of compressive strength showing to be more efficient. The mortar didn´t influenced the
compressive strength of prisms and walls.

Keywords: ceramic blocks, structural masonry, geometry of the block.

Resumo
Neste trabalho são apresentados os resultados experimentais sob compressão centrada de alvenaria estrutural de blocos cerâmicos. Foram es-
tudadas quatro diferentes geometrias de blocos designados por A, B, C e D, sendo o primeiro e segundo (A e B) com septos arredondados com
diferentes áreas líquidas, o terceiro bloco (C) com furos verticais no formato retangular e o último (D) com um duplo septo central. O programa
experimental abrangeu os estudos de blocos, prismas e paredes. Os prismas e as paredes foram construídas com dois traços de argamassa
1:1:6 (tipo I) e 1:0,5:4 (tipo II) (proporções em volume de cimento:cal:areia). Para tanto, foram realizadas análises da resistência à compressão
do bloco, prismas e paredes, construídas com essas geometrias em escala reduzida na proporção de 1:3 das dimensões reais. Com base na
análise dos resultados experimentais, pode-se concluir que o bloco tipo D, que possui duplo septo central, é o bloco mais eficiente para o uso em
alvenaria estrutural entre os blocos analisados. As paredes construídas com os blocos do tipo D apresentaram uma melhor capacidade de ab-
sorver esforços verticais, devido à coincidência dos septos entre as fiadas subseqüentes, provocadas pela existência de um duplo septo central.
Além disso, não se verificou influência significativa da resistência da argamassa na resistência de prismas e paredes.

Palavras-chave: bloco cerâmico, alvenaria estrutural, geometria dos blocos.

a
Departamento de Estruturas e Construção Civil, Universidade Federal de Santa Maria, e-mail: edu_rizzatti@yahoo.com.br, Avenida Roraima,
Prédio 07, Centro de Tecnologia, Santa Maria, RS.
b
Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, e-mail: humberto@ecv.ufsc, Rua João Pio Duarte da Silva, 205,
Bairro Córrego Grande, CEP.: 88040-970, Florianópolis, SC.
c
Curso Engenharia Civil, Universidade Federal do Pampa, UNIPAMPA, e-mail: gihad.civil@gmail.com, Av. Tiarajú, 810 – Bairro Ibirapuitã
CEP.: 97546-550, Alegrete, RS.
d
Curso Engenharia Civil, Universidade Federal do Pampa, UNIPAMPA, e-mail: elizabete_nakanishi@hotmail.com, Av. Tiarajú, 810 – Bairro Ibirapuitã
CEP.: 97546-550, Alegrete, RS.

Received: 31 May 2011 • Accepted: 27 Jun 2012 • Available Online: 02 Oct 2012

© 2012 IBRACON
Mechanical behavior analysis of small-scale modeling of ceramic block masonry structures –
Geometries effect

1. Introdução de furos, em escala reduzida, auxiliando no desenvolvimento deste


importante componente para o setor industrial ceramista.
No Brasil, a indústria de cerâmica vermelha é uma das responsá-
veis pela geração de empregos. Por exemplo, no Estado de Santa 2. Utilização de modelos físicos
Catarina, existem 742 olarias, com uma produção de cerca de 100 reduzidos em alvenaria estrutural
milhões de unidades por mês e responsáveis por 11.000 empregos
diretos e 30.000 indiretos, constituindo-se como um setor importan- Um dos grandes desafios da engenharia em geral é estudar mo-
te do ponto de vista sócio-econômico, [1]. Esse setor tem, apro- delos confiáveis que representem o comportamento das estrutu-
ximadamente, o mesmo perfil em praticamente todos os estados, ras na escala real, reduzindo os custos e as dificuldades que a
demonstrando um potencial de produção, mas ainda com pequena escala real proporciona. Qualquer modelagem física das estrutu-
capacidade tecnológica e de investimentos na geração de novos ras exige que sejam respeitadas as condições de similaridades,
produtos. Essas indústrias produzem diferentes produtos como te- para que o modelo reproduza, verdadeiramente, o comportamento
lhas, tavelas, tijolos maciços, bloco de vedação e estruturais. Quan- quanto a previsão da tensão de ruptura, modo de falha e rigidez.
do se tratam de alvenarias para a compartimentação dos espaços Para isso, os modelos devem reproduzir as mesmas condições de
nas construções, o principal produto são os blocos de vedação, carregamento, geometria e propriedades dos materiais [2].
cujos furos são dispostos horizontalmente e possuem formato circu- Um dos primeiros autores a retratar historicamente o uso de mo-
lar ou retangular. Esses blocos de vedação possuem características delos físicos na alvenaria estrutural foi ABBOUD et al. [2], onde o
mecânicas mínimas (resistência à compressão) definidas por nor- mesmo cita que VOGT [3] realizou estudos exploratório em mo-
malização nacional. Para os blocos estruturais existem uma gama delos em alvenaria de tijolos maciços na escala 1:4 e 1:10, sem
de diferentes tipologias de blocos, com formatos e espessuras de conseguir obter dados consistentes do comportamento do mate-
paredes que serão posteriormente discutidos a sua eficiência na rial. Esse autor cita que na década de 60, pesquisas foram reali-
zadas na Universidade de Melbourne, com um sucesso limitado
distribuição nas tensões quando parte da parede.
em função das dificuldades encontradas na fabricação dos tijolos
O aumento da importância do emprego do sistema construtivo em
e execução das paredes. O autor menciona que posteriormente
alvenaria estrutural de blocos cerâmicos no mercado brasileiro da
MOHR [4] obteve sucesso na execução das paredes utilizando
construção habitacional, vem sendo um fator de destaque para o
unidades fabricadas comercialmente e técnicas de prefabricação
desenvolvimento de projetos de pesquisa que foquem no desen-
na escala de 1:6.
volvimento de produtos e na capacidade de eficiência, quando sub-
Os estudos realizados por ABBOUD et al. [2] em unidades de blo-
metidos a carregamentos externos além do peso-próprio. Portan-
co de concreto demonstraram que existe confiança e viabilidade
to, esse trabalho vai ao encontro de uma necessidade técnica de
no uso de modelos reduzidos para a previsão do complexo com-
avaliar quantitativamente, por meio de experimentos, a influência
portamento da alvenaria estrutural, a partir dos ensaios em escala
da geometria do bloco cerâmico no desempenho mecânico das pa-
reduzida dos materiais e componentes. O autor obteve excelente
redes estruturais à compressão em escala reduzida. Assim, o de-
correlação entre os resultados do modelo quando comparados
senvolvimento deste trabalho de pesquisa tem por objetivo analisar
com o protótipo, entretanto o desvio-padrão foi menor nos protó-
o comportamento de blocos cerâmicos com diferentes geometrias
tipos. Resultado este, proporcionado pelo efeito da diminuição do
volume das tensões.
No Brasil, CAMACHO [5] foi o pioneiro no estudo do comporta-
�i��ra � � �elação m�d�lo de mento das alvenarias de blocos à compressão. O autor afirmou
deformação/resistência à compressão que apesar da alvenaria ser a mais antiga e clássica forma de
para diferentes escalas (CAMACHO [5]) construção utilizada pelo homem, a aplicação da técnica de mo-
delagem física para o estudo do comportamento estrutural é bas-
tante recente. CAMACHO [5] cita, em seu trabalho de tese, os
estudos realizados nas Universidades de Bath e Karlsruhe na Ale-
manha, onde se investigou o comportamento de modelos reduzi-
dos de paredes de alvenaria com tijolos cerâmicos nas escalas de
1:2 e 1:4. Segundo o autor, esses estudos permitiram examinar
as correlações de resistências e deformações, com isso verificar
quais os parâmetros que poderiam se mostrar afetados pelo fator
de escala. Pode-se concluir dos estudos que a alvenaria de tijolos
maciços pode ser representada em escala reduzida, em relação
ao modo de ruptura e as resistências últimas, quando empregados
materiais semelhantes entre os modelos e protótipos. No entanto,
para a relação entre o módulo de elasticidade pela resistência à
compressão, esse valor diminuiu conforme se reduziu a escala,
como demonstrado na Figura 01.
CAMACHO [5] realizou estudos experimentais com blocos cerâ-
micos vazados na escala real 1:1 e na escala reduzida 1:3 e 1:5.
O autor ensaiou à compressão prismas de dois, três e quatro blo-
cos e pequenas paredes. Os resultados de resistência dos blocos,

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�i��ra � � �ensão e deformação de blocos cerâmicos (CAMACHO [5])

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prismas (dois, três e quatro blocos), pequenas paredes e o diagra- mecanicamente os componentes e elementos estruturais. Os blo-
ma tensão/deformação dos blocos são apresentados nas Figuras cos cerâmicos estruturais possuíam dois furos retangulares com
02 e 03, respectivamente. O autor concluiu, a partir dos seus re- espessura de paredes longitudinais e transversais iguais e propor-
sultados, que: de uma forma geral, as resistências à compressão ção entre a área líquida pela área bruta de 55%. As dimensões reais
axial entre os modelos e protótipos foram semelhantes entre si, médias das unidades foram de 9,82 cm x 6,59 cm x 4,65 cm (com-
porém, para os prismas e paredinhas, os modelos apresentaram primento x altura x largura). A Tabela 01 apresenta os ensaios
valores um pouco superiores à escala real, numa relação de apro- experimentais e a correspondente resistência. Pelas imagens do
ximadamente 1,5 para os prismas e 1,3 para as paredinhas; as modo de ruptura dos prismas e pequenas paredes apresentadas
deformações de ruptura medidas nos modelos, também apresen- por NETO [6] na Figura 04, verificou-se a ocorrência de esmaga-
taram a mesma ordem de grandeza entre si, porém foram consi- mentos da junta de argamassa de assentamento, combinada com
deravelmente superiores aos valores medidos no protótipo, numa fissuras por lascamento no contato com a argamassa e fissuras
relação aproximada de 2,4 para os prismas e 4,5 para as paredi- verticais por tração provocadas pela aplicação da tensão de com-
nhas; a relação de eficiência (resistência do prisma/resistência do pressão. Combinando os resultados de resistências dos prismas e
bloco) é afetada pelo fator de escala, com um valor aproximado pequenas paredes pelos blocos se obtém os fatores de eficiência
de 0,4; 0,5 e 0,6 para as escalas 1:1, 1:3 e 1:5, respectivamente; dos ensaios experimentais de NETO [6], cujos valores foram fp / fb
apesar da diferença de valores nos resultados de resistência, os = 0,55 MPa e fpequenas paredes / fb = 0,38 MPa.
modos de ruptura, apresentados pelo protótipo e modelos físicos,
foram semelhantes. Com as considerações acima, o autor con- 3. Fatores que influenciam na resistência
cluiu que é possível a utilização de forma direta de modelos físicos das alvenarias
reduzidos para o estudo da alvenaria de blocos cerãmicos.
NETO [6] estudou o comportamento teórico e experimental de O principal elemento resistente das paredes de alvenaria estru-
painéis de alvenaria estrutural com abertura, utilizando modelos tural é o bloco sendo, basicamente, o determinante para a sua
físicos reduzidos na escala 1:3. Para tanto, o autor caracterizou resistência. No Brasil existem diferentes pesquisas sobre o com-

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������ � � ��d� de ������� d�s ���s��s e �e��e��s ���edes de NETO [6]

 
   
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�igura 6 � �esist�ncia � com�ressão característica da alvenaria de blocos, construída com blocos


vazados com relação h/t (altura do bloco/largura do bloco) de 0,6 (a) e entre �,0 e �,0 (b) � B����6�� ��0�

A B

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Geometries effect

3.1 Influência da resistência do bloco na alvenaria


�igura � � Ti�o de �locos estudados
Os blocos cerâmicos são componentes da alvenaria estrutural que
com as dimensões em milímetros
possuem furos prismáticos ou circulares perpendiculares a face
testados no Building Technology que os contêm, sendo os mesmos produzidos para serem assen-
�a�oratory � ������� e �������THY [11] tados com o furo na vertical. Os blocos cerâmicos classificam-se
em: bloco cerâmico estrutural de paredes vazadas (a); bloco cerâ-
mico estrutural com paredes maciças (b); bloco cerâmico estrutu-
ral com paredes maciças (paredes internas vazadas) (c); e bloco
cerâmico estrutural perfurado (d), como mostra a Figura 05, [9].
A resistência à compressão dos blocos é a principal determinante
da resistência da alvenaria. Como exemplo, se pode utilizar como
referência para essa análise a norma britânica BSI-5628-1 [10],
pois as normas nacionais vigentes não apresentam relações entre
as resistências da alvenaria, bloco e argamassa, citando apenas
que a mesma deva ser determinada com os ensaios experimen-
tais de prismas com três blocos. A BSI-5628-1 [10] apresenta al-
guns gráficos de referência, onde se podem observar as curvas de
crescimento da resistência da parede com a resistência do bloco,
para os diferentes traços de argamassa, conforme a proporção
em volume de cimento, cal e areia (cimento:cal:areia), designados
por: i (1:0,25:3), ii (1:0,5:4,5), iii (1:1:6) e iv (1:2:9). Observa-se, na
Figura 06, que o fator de eficiência tende a diminuir com o aumen-
to da resistência do bloco, sendo esse fator maior para os tijolos
do que para os blocos. A BSI-5628-1 [10] trata apenas das dimen-
sões do bloco (altura e largura), sem considerar a geometria, a
disposição dos furos e o formato dos mesmos. Para as paredes
com as relações altura (h) pela largura (l) entre 0,6 e 2,0, o valor
portamento mecânico da alvenaria cerâmica [7 e 8]. Nesses es-
da resistência à compressão característica deve ser obtida pela
tudos, os blocos possuem diferentes geometrias ou formatos e,
interpolação entre os valores da Figura 06.
na maioria das vezes, os resultados não podem ser comparados
entre si, em termos de eficiência mecânica devido à diferentes as-
3.2 Influência da geometria da unidade na alvenaria
pectos como a natureza heterogênea da mistura, grau de moagem
da cerâmica, disposição dos furos e temperatura de queima. Além
A quantidade de furos, formas e disposições podem acarretar, du-
disso, no Brasil, existem muito poucas experiências com a utiliza-
rante a aplicação de carregamentos, concentrações de tensões no
ção de modelos reduzidos, como uma forma de interpretação dos
bloco que levam a alvenaria a reduzir o seu potencial resisten-
fenômenos físicos e mecânicos. Portanto, são necessários avan-
te, conforme trabalho realizado por GANESAN e RAMAMURTHY
ços com o desenvolvimento de pesquisas para subsidiar decisões
[11]. Os autores afirmaram que é necessário compreender o efei-
técnicas e de novos produtos cerâmicos para a construção civil.
to da geometria dos blocos, a fim de aumentar a eficiência das

��g�ra � � �arac�er�s��cas �e �e�ormab�l��a�e e��re o bloco e argamassa

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paredes estruturais e, por isso, realizaram estudos analíticos por são foram maiores em blocos convencionais de dois furos do que
meio do método de elementos finitos sobre o comportamento da nos estruturalmente eficientes (com septo intermediário com o
alvenaria de blocos de concreto, considerando a influência das dobro da espessura da parede lateral mais a espessura da jun-
diferentes geometrias, arranjos e propriedades das argamassas. ta de argamassa). Como conclusão dos estudos de GANESAN e
GANESAN e RAMAMURTHY [11] propuseram a utilização de blo- RAMAMURTHY [11] sobre o comportamento mecânico das alve-
cos com três tipos de geometrias, sendo que um deles com um narias, pode-se destacar que a geometria do bloco influenciou nas
duplo septo central, ou seja, a espessura da parede transversal tensões que se desenvolveram, tanto na sua distribuição, quanto
interna era igual ao dobro da lateral mais a espessura da junta, na sua magnitude. Também, que a argamassa não influenciou di-
conseguindo-se assim o alinhamento dos furos e tornando o con- retamente no comportamento da alvenaria de blocos e o uso de
junto mais eficiente. Foram modelados prismas de três (3) fiadas prismas com juntas a prumo superestima a resistência da alve-
com juntas a prumo e amarrada, com três geometrias de blocos naria. Outra importante conclusão foi de que o fator de eficiência
de concreto, sendo estes: blocos com três furos; dois furos com variou com o formato geométrico do bloco de concreto e do tipo
dimensões padrões e dois furos em que a espessura do septo de assentamento. Os autores verificaram que, para algumas geo-
intermediário é igual a duas vezes a espessura da parede mais 10 metrias de blocos e tipos de assentamento de argamassa, apare-
mm (estruturalmente mais eficiente pela sobreposição dos sep- cem concentrações de tensões que reduzem a resistência à com-
tos nas fiadas). Na alvenaria foram empregadas quatro tipos de pressão da alvenaria. A Figura 07 mostra os tipos de blocos de
argamassas de forma a atender a proporção entre o módulo de concreto estudados, as resistências dos mesmos e das paredes,
elasticidade do bloco (Eb) em relação à argamassa (Ea) de 1; 1,5; juntamente com os fatores de eficiência. Os blocos do tipo A foram
2,0 e 2,8, sendo constante o Eb. Com a constância na proporção assentados com argamassas apenas nas faces (longitudinal) e os
de rigidez entre Eb/Ea, se verificou a influência da argamassa e demais foram argamassados nas faces e septos (transversal).
do modo de ruptura na alvenaria. No modelo foi empregado um
comportamento elástico-linear heterogêneo, utilizando elementos 3.3 Influência da resistência da argamassa
sólidos de oito (8) nós para a determinação das tensões nas faces na alvenaria
e nos septos dos blocos. Os autores salientaram que não houve
mudanças nas proporções entre as áreas líquidas e brutas dos blo- O desenvolvimento de unidades (blocos) de maiores capacidades à
cos estudados. compressão exige, da junta de argamassa, um aumento de resistência
Os resultados obtidos pelos pesquisadores indicaram que os blo- proporcional, devido ao mecanismo de ruptura da alvenaria estar in-
cos de três furos na vertical produziram níveis e distribuições de timamente ligada à interação entre os componentes, como mostra a
tensões superiores aos de dois furos, sendo que na região próxi- Figura 08. Vários estudos foram realizados no Brasil para verificar a
ma ao centro do prisma as tensões permaneceram constantes. influência da argamassa, onde se destacam os realizados por GO-
Com relação aos septos, a diferença de comportamento entre os MES [7]. O autor concluiu que a resistência da argamassa deve se
três tipos de blocos analisados foi mais evidente, quando estes situar entre 0,7 a 1,0 vezes a resistência do bloco medida na área
são assentados com a junta amarrada. As tensões de compres- bruta e, cita que ao utilizar as argamassas de resistências à com-

�igura � � �esultados de resistência do bloco, argamassa, graute e prismas grauteados


e não-grauteados (MENDES [8])

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pressão próximas ao do bloco, a alvenaria passará a ter uma ruptu- Como conclusão dos estudos de MENDES [8], pode-se observar
ra excessivamente frágil, não acompanhando eventuais movimentos que os prismas não-grauteados romperam por esmagamento da
da estrutura porventura das cargas de serviço. MENDES [8], tam- junta de argamassa, gerando concentrações de tensões nos blocos
bém realizou estudos em prismas de blocos cerâmicos vazados de e o fendilhamento nas superfícies do contato entre o bloco e a ar-
parede maciça com dimensão de 140 mm de largura por 290 mm gamassa. Os tipos de rupturas dos prismas não-grauteados foram
de comprimento e 190 mm de altura (tipologia da Figura 05-b), cuja bruscos, ou seja, sem aviso para os prismas com argamassa mais
relação entre a área líquida pela bruta foi de 0,52. Foram execu- resistente (A1) e, por esfacelamento das paredes laterais do bloco
tados prismas grauteados e não-grauteados assentados com dois para argamassas de resistência mais baixa (A3). Nos prismas grau-
traços de argamassas de diferentes resistências à compressão. teados houve uma separação de todas as paredes que contornam

Ta�ela � � Tolerâncias dimensionais relacionadas à média das dimensões efetivas

Tolerâncias dimensionais Tolerâncias dimensionais


DIMENSÃO relacionadas às medições relacionadas à média
individuais (mm) (mm)

Largura (L) ±5 ±3
Altura (H) ±5 ±3
Comprimento (C) ±5 ±3
Desvio em relação ao esquadro (D) 3
Planeza das faces ou Flecha (F) 3

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sistência entre os prismas não-grauteados e grauteados. Os modos


de ruptura dos prismas grauteados e não-grauteados podem ser
Ta�ela � � Composi��o �u�mica �a argila visualizados na Figura 10, assim como a geometria do bloco e a
separação das paredes longitudinais e transversais dos elementos
grauteados. Considerando as recomendações de referência da BSI-
Compostos Percentual em massa 5628-1 [10] na Figura 06 e os resultados experimentais de GOMES
[7] e MENDES [8], se pode concluir que, para a resistência de blo-
SiO2 61,46% cos entre 2,5 à 10 MPa, a resistência da argamassa não influenciou
significativamente na resistência da parede. No entanto, para os
Al2O3 19,73%
blocos com resistência superiores a 10 MPa, o aumento de resis-
Fe2O3 7,00% tência da argamassa influenciou a resistência da alvenaria.
CaO 0,05%
4. Metodologia experimental
Na2O 0,18%
K2O 2,13% A seguir são apresentadas as metodologias experimentais para a
preparação das unidades cerâmicas e caracterização mecânica
MnO 0,08% dos materiais e componentes da alvenaria produzidos em escala
TiO2 0,91% reduzida na proporção 1:3.

MgO 0,97% 4.1 A argila para a produção das unidades


P2O5 0,22% cerâmicas em laboratório
Perda ao fogo 7,27%
Um dos primeiros desafios do trabalho foi estudar a composição
da argila apropriada para a fabricação dos blocos, onde a mesma
o furo do bloco cerâmico provocada pelas deformações laterais de deveria possuir plasticidade quando misturado com água, de ma-
expansão do graute, gerando concentrações de tensões no encontro neira que possa ser moldado, ter resistência à tração suficiente
entre as paredes longitudinais e transversais do bloco. A Figura 09 para manter o formato e, ainda, ser capaz de fundir as partículas
apresenta os resultados individuais do bloco (B1), argamassas (A1 quando a altas temperaturas. A plasticidade, a água de moldagem
e A3), grautes (G1, G2 e G3) e as diferentes combinações de re- e o comportamento na secagem e queima dependem da granu-

�i�ura 11 � �ormato �eom�trico dos blocos cer�micos em escala reduzida 1:3 e prismas de três blocos

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Geometries effect

�igura �� � �ur�a granulom�tri�a da areia �i�ura �� � �ela��es entre áreas


adotada no programa experimental em relação líquidas dos diferentes tipos de Blocos
à abertura de peneira em milímetros

dro e planeza) de acordo com as recomendações mínimas norma-


tivas, conforme a Tabela 02 da NBR 15270-2 [9].
LINDNER [12] ajudou a desenvolver a mistura cerâmica para
o estudo apresentado neste trabalho. Para a fabricação das
lometria e dos diversos minerais presentes. Em função de se tra- unidades foram utilizados dois tipos de argilas, as quais passa-
balhar com modelos físicos em escala reduzida, as argilas foram ram por um processo de mistura, moagem e homogeneização.
compostas por partículas coloidais com diâmetro inferior a 0,005 As duas argilas, após dosadas e misturadas no alimentador,
mm, onde no produto final, ou seja, os blocos cerâmicos, deverão foram ao destorroador onde foram desagregados e em segui-
apresentar as propriedades físicas (aspectos, dimensões, esqua- da levados ao misturador horizontal. Neste último processo foi

�igura �� � �rismas, paredes, aparato para o auxílio na execução, prumo e nível


das paredes e primeira e segunda fiada da alvenaria em escala reduzida

Ta�ela � � Massa unit�ria dos materiais em�regados nas argamassas

Material Cimento Portland CP II F-32 Cal hidratada CH III Areia Natural


3
Massa unitária (kg/dm ) 1,12 0,64 1,33

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as dimensões reais (largura x altura x comprimento) 14 x 19 x 29


cm, assentados com dois traços de argamassa. Portanto, o blocos
�igura �� � �rismas e paredes ensaiadas para
em escala reduzida tinha as seguintes dimensões (4,67 x 6,33 x
avaliar a influência da geometria na resistência à 9,67 cm). A Figura 11 mostra as diferentes geometrias elaboradas
compressão das alvenarias (dimensões em cm) para o estudo dos blocos, dimensões das unidades e uma ima-
gem em escala reduzida dos blocos e dos prismas de três fiadas
estudados nesta pesquisa. O objetivo do programa experimental
foi de investigar a influência da geometria do bloco cerâmico nas
alvenarias estruturais, quando submetidas a esforços de compres-
são em escala reduzida e verificar o potencial do uso desta para
representar o comportamento da alvenaria. Para isso, estudou-se
quatro diferentes tipos de geometrias de blocos, denominadas por
blocos tipo A, B, C e D.
A redução na escala geométrica foi aplicada à junta de arga-
massa de assentamento e preenchimento das juntas verticais
dos prismas e paredes. A fim de manter as propriedades nas
juntas iguais as da escala real, a curva granulométrica adota-
da, também, foi reduzida. Optou-se por usar uma areia que se
enquadrasse aos limites granulométricos da norma britânica,
porém com a menor granulometria possível, conforme mos-
tra a Figura 12. As argamassas de assentamento utilizadas
nos ensaios experimentais seguiram os traços recomendados
pela BSI-5628-1 [10], cuja proporção entre os volumes dos
materiais foram de 1:1:6 (Argamassa- I) e 1:0,5:4 (Argamassa-
II), proporções entre os volumes de cimento:cal:areia. Foram
empregadas as composições de argamassas de referência da
adicionado água para ajustar a umidade ideal para a extrusão. norma britânica, pois a mesma apresenta as características
A Tabela 03 apresenta a composição química da argila determi- mecânicas mínimas de cada traço para comparação dos en-
nada por meio de análise química por fluorescência de raios-X saios experimentais. O fator água/cimento foi ajustado para ter
realizada no Centro de Tecnologia em Cerâmica na cidade de uma consistência fixa de 270 mm ± 10 mm, medido na mesa
Criciúma/SC. de consistência. A argamassa de assentamento foi preparada
Nesse estudo foram fabricados blocos com diferentes geometrias em argamassadeira de eixo vertical. Para cada argamassa-
adotando-se um fator de redução na escala geométrica de 1:3. A da eram moldados seis corpos-de-prova cilíndricos de 5 cm
massa cerâmica foi conformada em uma extrusora onde, por meio de diâmetro por 10 cm de altura para, posteriormente, serem
de pressão, a massa foi empurrada por uma abertura modelada ensaiados à compressão aos 28 dias, de acordo com a NBR
com a geometria do bloco, denominada de boquilha. A extrusora 13279 [13]. Os corpos-de-prova foram curados ao ar livre, em
era dotada de uma câmara de vácuo para facilitar a desareação ambiente laboratorial durante 28 dias, para reproduzir as con-
da massa. dições de cura da argamassa dos prismas e paredes. A com-
posição granulométrica da areia das argamassas empregadas
4.2 Ensaios de caracterização mecânica nos ensaios experimentais seguiram o recomendado pela BS
dos blocos e argamassas 1200 [14]. O cimento Portland utilizado foi o CP II- F-32 e a
cal hidratada do tipo CH-III. Para a determinação das massas
Na avaliação da influência da geometria dos blocos no compor- unitárias do cimento e da cal adotaram-se os procedimentos
tamento mecânico das alvenarias foram realizados estudos ex- descritos pela norma NBR 7251 [15]. A Tabela 04 mostra os
perimentais de resistência à compressão da unidade, do prisma valores das massas unitárias dos materiais que compõem
e da parede em escala reduzida 1:3, tendo por base o bloco com a argamassa.

Ta�ela � � De�omi�a��es dos �locos, �ra�os de argamassas, prismas e paredes

Bloco
Tipo A (BA) Tipo B (BB) Tipo C (BC) Tipo D (BD)
Argamassa I PA1 PB1 PC1 PD1
Prisma
Argamassa II PA2 PB2 PC2 PD2
Argamassa I PPA1 PPB1 PPC1 PPD1
Parede
Argamassa II PPA2 PPB2 PPC2 PPD2

IBRACON Structures and Materials Journal • 2012 • vol. 5 • nº 5 729


Mechanical behavior analysis of small-scale modeling of ceramic block masonry structures –
Geometries effect

Ta�ela � � �alores dos ensaios de tração por compressão diametral

Resistência à tração por


Tipo de Bloco
compressão diametral (MPa)

Média 1,81
A s.d 0,23
c.v (%) 12,89
Média 1,57
B s.d 0,16
c.v (%) 10,05
Média 1,67
C s.d 0,11
c.v (%) 6,41
Média 1,80
D s.d 0,17
c.v (%) 9,30
- Onde: s.d é o desvio-padrão e c.v (%) é o coeficiente de variação em percentagem.

As geometrias dos blocos foram escolhidas, conforme as seguin-


tes características:
1 – Bloco do tipo A, modelo vazado, com dois furos no formato �i�ura �� � �esist�ncia � co��ressão
retangular e similar ao bloco de concreto; dos blocos na área líquida e bruta
2 – Blocos do tipo B e C, modelo vazado, com dois furos arredon-
dados. O bloco do tipo B mantém a mesma espessura de pa-
rede, acarretando uma maior área líquida. Para o bloco do tipo
C a área líquida é mantida igual ao bloco tipo A, ocasionando
uma menor espessura de parede;
3 – Bloco tipo D, modelo vazado, com dois furos retangulares es-
paçados pelo dobro da espessura da parede longitudinal, mais
a espessura da junta de argamassa. Isso acarreta em uma
coincidência nas juntas verticais de argamassa.
As relações entre as diferentes áreas líquidas dos blocos são
apresentadas na Figura 13, onde se observa que, para a re-
lação área líquida e bruta entre o bloco A e C (BA/BC), esse
valor vale 1,0, ou seja, ambos os blocos possuem a mesma
relação entre áreas de contato.
As paredes foram construídas com o auxílio de um aparato de exe-
cução, prumo de face e nível, para manter o alinhamento, a vertica-
lidade e o nivelamento das fiadas, observando o que recomenda a

Ta�e�a � � Res��tados de resistência à compressão das argamassas

RESISTÊNCIA MÉDIA DA RESISTÊNCIA MÉDIA DA


BLOCO
ARGAMASSA I (MPa) ARGAMASSA II (MPa)
A 3,08 5,21
B 3,17 5,53
farg farg
C 3,43 5,46
D 2,56 5,15

730 IBRACON Structures and Materials Journal • 2012 • vol. 5 • nº 5


E. RIZZATTI | H. R. ROMAN | G. MOHAMAD | E.Y. NAKANISHI

NBR 8949 [16]. Na Figura 14 é apresentada a primeira e segunda


fiadas das paredes e o aparato de execução. Para os diferentes tipos
de blocos foram construídos cinco prismas com e sem a presença �i��ra �� � �odo de r�pt�ra
da junta vertical e três paredes para cada traço de argamassa, como dos prismas de três blocos
mostra a Figura 15. A Tabela 05 apresenta as denominações espe-
cificadas para os diferentes ensaios de blocos, prismas e paredes. A
denominação PA1 indica um prisma construído com bloco do tipo A
e argamassa I e a denominação PPB2 indica uma parede construída
com bloco tipo B e argamassa II. Portanto, B = bloco; P = prisma; PP
= parede; Argamassa I- argamassa de traço (1:1:6); Argamassa II –
argamassa de traço 1:0,5:4.
Em função da difícil execução de ensaios de tração direta, optou-se
pela obtenção da resistência à tração do bloco cerâmico de forma
indireta pelo ensaio de tração por compressão diametral, conforme
indica a norma americana ASTM C1006-84 [17]. As barras de aço
cilíndricas previstas para o ensaio possuíam diâmetro 1/8 a 1/12
da altura da amostra e com comprimento maior que a largura do
mesmo. As mesmas foram posicionadas alinhadas no septo central
do bloco. A velocidade de carregamento aplicada foi de 0,33 MPa/
min. A resistência à tração foi determinada a partir da Equação 01.

Onde, ft = resistência à tração por compressão diametral (MPa);


2 .P P = carga aplicada (kN); L = comprimento (mm); H = altura da
ft =
 .L .H
(1) amostra. Os valores da resistência à tração por compressão dia-
metral são apresentados na Tabela 06, juntamente com o esque-
ma de ensaio.

Tabela � � Resultados de resistência à compressão de prismas

PRISMA PRISMA PRISMA


Bloco
ARGAMASSA I ARGAMASSA II ARGAMASSA I

Tipo de
Prisma

f Aliq. f Abruta fp/fb f Aliq. f Abruta fp/fb f Aliq. f Abruta fp/fb


fp 20,48 fp 24,50 fp 24,27
A s.d 2,10 10,56 0,36 s.d 4,30 12,64 0,43 s.d 1,29 12,52 0,43
c.v 10,30 c.v 17,57 c.v 5,32
fp 23,64 fp 26,59 fp 25,98
B s.d 2,05 13,61 0,42 s.d 2,83 15,31 0,47 s.d 1,03 14,96 0,46
c.v 8,67 c.v 10,65 c.v 3,96
fp 23,04 fp 26,03 fp 28,59
C s.d 3,98 11,18 0,37 s.d 0,96 12,64 0,41 s.d 4,30 13,88 0,45
c.v 17,30 c.v 7,61 c.v 15,00
fp 20,30 fp 22,99 fp 26,25
D s.d 1,42 11,67 0,35 s.d 1,74 13,22 0,39 s.d 3,34 14,88 0,45
c.v 7,00 c.v 7,56 c.v 12,70
Onde: fp é a resistência do prisma (MPa); fp/fb é o fator de eficiência entre a resistência do prisma em relação ao bloco; s.d é o
desvio-padrão (MPa); c.v é o coeficiente de variação (%); f Aliq. é a resistência na área líquida; f Abruta é a resistência na área bruta.

IBRACON Structures and Materials Journal • 2012 • vol. 5 • nº 5 731


Mechanical behavior analysis of small-scale modeling of ceramic block masonry structures –
Geometries effect

�igura �� � �omparati�o das resistências à compressão dos blocos, argamassas,


prismas e paredes na área líquida

Tabela � � Resultados de resistência à compressão das paredes estruturais

RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO


DE PAREDES COM ARGAMASSA I DE PAREDES COM ARGAMASSA II

BLOCO

f Aliq. f Abruta fpar./fb f Aliq. f Abruta fpar./fb


fpar. 9,62 fpar. 9,72
A s.d 0,69 4,76 0,17 s.d 1,36 4,80 0,17
c.v 7,2 c.v 13,94
fpar. 10,27 fpar. 10,32
B s.d 0,65 6,03 0,18 s.d 0,60 6,06 0,18
c.v 6,3 c.v 5,85
fpar. 8,72 fpar. 9,99
C s.d 1,70 4,41 0,14 s.d 2,67 5,05 0,16
c.v 19,50 c.v 26,34
fpar. 14,29 fpar. 15,48
D s.d 1,37 7,99 0,25 s.d 1,15 8,59 0,27
c.v 9,5 c.v 7,4
Onde: fpar é a resistência da parede (MPa); fpar/fb é o fator de eficiência entre a resistência da parede em relação ao bloco; s.d é o
desvio-padrão (MPa) e c.v é o coeficiente de variação (%); f Aliq. é a resistência na área líquida; f Abruta é a resistência na área bruta.

732 IBRACON Structures and Materials Journal • 2012 • vol. 5 • nº 5


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incremento de carga constante que proporcionasse uma veloci-


dade da ordem de 0,5 MPa/segundo. Os valores da resistência à
�ig�ra �� � �ator de e�i�i���ia dos prismas e
compressão dos diferentes tipos de blocos na área líquida e bruta
paredes para os dois traços de argamassa (I e II) são apresentados na Figura 16. A resistência à compressão na
área bruta fornece uma resistência normalizada para um padrão
de área constante sem o efeito da geometria dos furos.

4.3 Ensaios de caracterização mecânica


dos prismas e paredes

Foram moldados cinco prismas de três blocos sobrepostos para


cada traço de argamassa (I e II) e cinco prismas de três blocos,
cuja fiada intermediária era composta por dois meios blocos e uma
junta vertical. Para esse tipo de prisma foi empregado apenas o
traço de argamassa designado por I. Optou-se pelo emprego de
prismas de três blocos devido ao efeito do confinamento dos pra-
tos da prensa nos blocos das extremidades, assim o bloco inter-
mediário não sofre tensões de cisalhamento oriundos da interfa-
ce chapa de aplicação de carga e a amostra. Nos ensaios dos
prismas foram empregados argamassamento total, ou seja, todas
as paredes (longitudinais e transversais) dos blocos foram preen-
chidas com argamassas. Os prismas foram moldados sobre uma
Para a realização do ensaio de compressão foram separados, ale- mesa de granito nivelada e coberta com um plástico untado com
atoriamente, dezesseis (16) blocos de cada geometria, para se- óleo. A espessura da junta de argamassa permaneceu constante,
rem submetidos ao ensaio de compressão axial. Os blocos foram da ordem de 3 ± 0,1 mm de espessura. Durante a execução dos
testados observando os seguintes procedimentos: prismas, se verificou o nivelamento e o prumo dos mesmos. Os
– Os blocos foram capeados com pasta de cimento, sendo que prismas foram ensaiados nas idades de 28 dias. Anteriormente ao
para evitar fissuras por retração usou-se 30% de areia retida na ensaio de compressão dos prismas, aproximadamente 48 horas
peneira 0,15 mm; antes, estes eram capeados com pasta de cimento acrescida com
– Após o capeamento de ambas as faces, os corpos de prova 30% de areia passante na peneira 0,15 mm. Os ensaios dos pris-
foram imersos em água por 24 horas; mas e paredes foram realizados em uma prensa servo-controlada
– Antes da realização do ensaio, retirou-se o excesso de água da marca SHIMADZU série UH de capacidade de 200 toneladas,
com pano seco, efetuando-se a seguir as medições do bloco; com uma velocidade de carregamento de 0,05 ± 0,01 MPa/seg. A
Os ensaios de compressão foram realizados aplicando–se um Tabela 07 apresenta os resultados médios de resistência à com-

����r� �� � �odo de r�p��r� d�s p�redes à compressão

IBRACON Structures and Materials Journal • 2012 • vol. 5 • nº 5 733


Mechanical behavior analysis of small-scale modeling of ceramic block masonry structures –
Geometries effect

blocos foram molhados para evitar que o mesmo retire a água da


argamassa e, por isso, não consiga hidratar o cimento. Os blocos
�i��ra �� � �etermi�a�ão do m�d�lo de
das extremidades superiores e inferiores das paredes foram cape-
elasticidade das paredes à compressão ados, previamente, com pasta de cimento e 30% de areia fina. As
paredes foram rompidas aos 28 dias, permanecendo em atmosfe-
ra laboratorial até a data dos ensaios. A Tabela 09 apresenta os
resultados de resistência das paredes à compressão com as dife-
rentes geometrias dos blocos e dois traços de argamassa, junta-
mente com os seus respectivos desvios-padrões e coeficiente de
variação, medidos na área líquida e bruta. A Figura 18 apresenta
os resultados individuais de resistência à compressão dos blocos,
argamassas, prismas e paredes.
Na Figura 19 são apresentados os valores dos fatores de eficiência
entre os prismas e as paredes em relação ao bloco, onde: fPA1/
fB = resistência do prisma com argamassa I dividido pela resis-
tência do Bloco; fPA2/fB = resistência do prisma com argamas-
sa II dividido pela resistência do Bloco; fPPA1/fB = resistência
da parede com argamassa I dividido pela resistência do Bloco;
fPPA2/fB = resistência da parede com argamassa II dividido
pela resistência do Bloco. Além disso, é apresentado o fator de
eficiência das paredes, sendo 1,00 quando a resistência da
parede equivale à do bloco cerâmico. Pelos resultados expe-
rimentais verificou-se que ocorreu uma diminuição significativa
no fator de eficiência dos prismas e paredes com os diferentes
blocos cerâmicos. Para as paredes, utilizando os blocos do tipo
A, B, C e D, os fatores de eficiência não dependeram do tipo de
argamassa (I e II). De acordo com os resultados experimentais,
a geometria do bloco D apresentou os melhores resultados de
eficiência, ficando próximo a 0,25. A melhora na distribuição
das tensões verticais do septo central devido à geometria do
bloco D, por conseqüência, da parede longitudinal ser o dobro
pressão das argamassas do Tipo I e II, obtidos dos ensaios de
da espessura da parede do bloco mais a espessura da junta
seis (6) corpos-de-prova.
de argamassa de assentamento, acarretou numa coincidência
Os resultados experimentais dos ensaios de compressão dos pris-
nas juntas verticais de argamassa e dos septos longitudinais e
mas de três fiadas, com e sem o meio bloco na fiada intermedi-
transversais do bloco, aumentando a eficiência à compressão
ária, para as argamassas do Tipo I e II são apresentados na Tabela
da alvenaria. Nos prismas não se pode observar diferença na
08, juntamente com o desvio padrão e o coeficiente de variação
resistência à compressão com e sem a presença do meio bloco
amostral. Os resultados de resistência à compressão dos prismas
na junta intermediária para as diferentes geometrias de blocos,
e blocos foram obtidos nas áreas líquidas e brutas para, em termos
ou seja, os prismas não conseguiram representar a influência
comparativos, avaliar as suas diferenças (ES 772-1 [18]). Pelos
da geometria do bloco. Provavelmente, isso ocorreu devido aos
resultados de resistência à compressão dos prismas construídos
prismas serem construídos pela sobreposição de blocos o que
com os blocos tipo A, B, C e D, não foram verificados diferenças
faz com que ocorra um alinhamento dos septos longitudinais e
significativas nas resistências destes à compressão. Essa pouca di-
transversais de blocos. Com isso, concluiu-se que o bloco de
ferença nos valores de resistência, talvez se deva a sobreposição
geometria D teve um melhor desempenho à compressão em
dos septos e das paredes longitudinais e transversais dos blocos,
relação aos demais. A Figura 20 mostra o modo de ruptura das
para os dois tipos de prismas testados. Além disso, é apresentado
paredes à compressão construídas com diferentes tipos de blo-
na Tabela 08 o fator de eficiência entre as resistências dos pris-
cos. Não observou mudança no modo de ruptura das paredes
mas pelo bloco (fp/fb), onde se verificou entre o prisma e o bloco
em função do tipo de bloco, onde a propagação de trinca foi
uma redução no nível de resistência de aproximadamente 55% a
basicamente vertical, cortando a junta de argamassa de assen-
65%. Já os modos de ruptura dos prismas foram semelhantes aos
tamento e o bloco. Também foi verificado, durante os ensaios
obtidos por MENDES [8], onde ocorreu uma ruptura por esmaga-
experimentais, o esmagamento de algumas juntas de argamas-
mento da junta de argamassa de assentamento e, posteriormente,
sa, onde aconteceram concentrações de tensões com o conse-
o fendilhamento no contato entre o bloco e a argamassa, como
qüente esmagamento do bloco. As deformações axiais foram
destacado pelos círculos da Figura 17. Nos ensaios de prismas
medidas usando extensômetros mecânicos denominados de
se verificaram que os efeitos da redução na escala produziram
“demec-gauge”, seguindo os procedimentos da NBR8522 [19],
modos de ruptura semelhantes aos obtidos experimentalmente na
como mostra a Figura 21. Os resultados experimentais medi-
escala 1:1.
dos são a média de três amostras para cada tipologia de bloco.
Foram moldadas três paredes e testadas para cada geometria de
Pode-se identificar, nos resultados experimentais a chamada
bloco e traço de argamassa. Anteriormente ao assentamento, os
“Constante de Ritter” (k) para a alvenaria em relação ao tipo

734 IBRACON Structures and Materials Journal • 2012 • vol. 5 • nº 5


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geométrico dos blocos. A “Constante de Ritter” é dada pela re- n Pelos resultados entre o módulo de deformação pela resistên-
lação entre o módulo de elasticidade tangente inicial (Eparede) e cia à compressão (“constante de ritter”) observou-se que na
a resistência à compressão (fparede), conforme a Equação (02). escala reduzida os valores foram significativamente menores,
fator este proporcionado ao grau de adensamento da arga-
massa no momento do assentamento das unidades.
n O modo de ruptura dos prismas e paredes em escala reduzida
Ewall= k. F wall (2) foram semelhantes ao encontrado na literatura retratada neste
trabalho, ou seja, com isso pode-se afirmar que o estudo em
modelos reduzidos tem capacidade de reproduzir os ensaios
em escala real, sendo uma alternativa eficiente para viabili-
A Tabela 10 apresenta os resultados médios do módulo de elasti- zar os ensaios de tamanhos maiores. O modo de ruptura dos
cidade tangente inicial das paredes construídas com traço de ar- prismas e paredes foram por esmagamento da junta de arga-
gamassa I, obtido para um nível de tensão da ordem de 30% da massa de assentamento e, o posteriormente fendilhamento do
resistência à compressão. Pelos valores das medidas de tensão contato entre o bloco e a argamassa de assentamento.
e deformação inicial, se observou diferenças nas características
do módulo de elasticidade das paredes em função da geometria 6. Referências
do bloco, principalmente para os blocos do tipo B e C. Essa dife-
rença entre o bloco B e C foi de 1,8 vezes. Não se acredita que [01] BRDE. Banco regional de desenvolvimento do extremo
essa diferença seja devido ao formato geométrico do bloco e, sim, sul. Cerâmica vermelha: informe setorial. Florianópolis,
pelo nível de tensão lateral confinante desenvolvido na argamas- SC, Dezembro, 1994, 14 P.
sa, provocada pelos diferentes atritos entre a superfície do bloco [02] ABBOUD, B. E.; HAMID, A.A.; HARRIS, H.G.
e a junta de argamassa. Para este nível de tensão, a junta de ar- Small-Scale modeling of concrete block masonry
gamassa é a principal responsável pelas deformações na parede. structures. ACI Structural Journal, Detroit, v.87, n.2,
Calculou-se, também, a “Constante de Ritter”. Onde este valor foi p.145-155, mar/apr. 1990.
menor do que o especificado nas normas nacionais e internacio- [03] VOGT, H. Consideration and investigation on the
nais como NBR 15812-1 [20], cuja constante é de 600 e ES 6 basic principle of model tests in brickwork and
[21], onde o valor da constante recomendada é de 1000. Fato este masonry structures. Garston: Building Research
pode estar relacionado ao grau de adensamento da argamassa no Station, 1956. 30p.
momento do assentamento das unidades, conforme ABBOUD [2] [04] MOHR, G. A. Slender load bearing brickwork walls with
e CAMACHO [5]. returns. Parkville: University of Melbourne/Civil
Engineering Department, 1970. Thesis (MESc)-
5. Conclusões University of Melbourne, 1970.
[05] CAMACHO, J.S. Contribuição ao estudo de modelos
De acordo com os resultados pode-se concluir que: físicos reduzidos de alvenaria estrutural cerâmica.
n O bloco com duplo septo central foram os que apresentaram Tese de doutorado, Universidade de São Paulo, 1995.
melhor desempenho à compressão na parede em relação aos [06] NETO, J. A. do N. Estudo de painéis com abertura
demais. Essa conclusão é possível pela verificação do fator de constituídos por alvenaria estrutural de blocos. Tese
eficiência do conjunto (bloco e argamassa); de doutorado, Escola de Engenharia de São Carlos,
n Em função da sobreposição dos septos e das paredes longi- Universidade de São Paulo, 2003.
tudinais e transversais dos blocos, os ensaios de compres- [07] GOMES, N. S. A resistência das paredes de alvenaria.
são em prismas, com blocos justapostos e com a presença Dissertação de mestrado, Escola politécnica da
do meio bloco na fiada intermediária, não foram adequados universidade de São Paulo, 1974.
para verificar a influência da geometria na resistência. Para [08] MENDES, R. J. K. Resistência à compressão de
os casos analisados experimentalmente, o fator de eficiência alvenarias de blocos cerâmicos estruturais. Dissertação
variou de forma aleatória de 0,35 à 0,47, sem demonstrar um de mestrado. Programa de pós-graduação em
comportamento igual para os mesmos formatos de furos; engenharia civil da Universidade Federal de Santa
n Não houve diferença significativa na resistência da parede Catarina. Florianópolis, SC, 1998, 185 P.
provocada pelo aumento da resistência da argamassa, prova- [09] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
velmete a redução na escala diminui esta influência; TÉCNICAS. Blocos cerâmicos para alvenaria
n Pelos resultados de resistência e os correspondentes fatores estrutural – terminologia e requisitos. NBR 15270-2,
de eficiência, verificou-se que ocorreu uma diminuição signifi- Rio de Janeiro, 2005.
cativa no potencial resistente entre os prismas e as paredes; [10] BRITISH STANDARD INSTITUTE. Structural use
n Os prismas de três blocos com uma fiada intermediária com of unreinforced masonry. BSI 5628-1, London, 1992.
dois meios-blocos não produziu fatores de eficiência menores [11] GANESAN, T. P., RAMAMURTHY, K. Behavior
em relação aos prismas com três blocos inteiros; of concrete hollow-block masonry prisms under axial
n Os blocos com o formato geométrico D proporcionaram uma compression. Journal of Structural Engineering,
distribuição de tensões de tração mais uniforme em relação vol. 118, July, 1992.
aos demais formatos geométricos, devido a coincidência entre [12] LINDNER, G. Uso de modelo reduzido para pesquisa
os septos das paredes transversais do bloco; e desenvolvimento de blocos cerâmicos estruturais.

IBRACON Structures and Materials Journal • 2012 • vol. 5 • nº 5 735


Mechanical behavior analysis of small-scale modeling of ceramic block masonry structures –
Geometries effect

Dissertação de mestrado. Programa de pós-graduação


em engenharia civil da Universidade Federal de
Santa Catarina. Florianópolis, SC, 95 P, 2001.
[13] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. Argamassa - Determinação da resistência
à compressão – Método de ensaio. NBR 13279,
Rio de Janeiro, 1995.
[14] BRITISH STANDARD INSTITUTE. Specification
for buildings sand from natural sources. BSI 1200,
1976.
[15] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.
Agregado em estado solto - Determinação da massa
unitária. NBR 7251, Rio de Janeiro, 1982.
[16] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.
Paredes de alvenaria estrutural. Método de ensaio.
NBR 8949, Rio de Janeiro, 1985.
[17] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS.
Standard test methods of splitting tensile strength of
masonry units. ASTM C 1006-84, Philadelphia, 1984.
[18] EUROPEAN STANDARD. Methods of test for masonry
units – Part.1: Determination of compressive strength.
ES 772-1, 2000.
[19] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.
Concreto - determinação dos módulos estáticos de
elasticidade e de deformação e da curva tensão e
deformação. NBR 8522, Rio Janeiro, 2003.
[20] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.
Alvenaria estrutural – Blocos cerâmicos – Parte 1:
Projetos. NBR 15812-1, Rio Janeiro, 2010.
[21] EUROPEAN STANDARD. Design of masonry
structures – Part 1-1: Common rules for reinforced
and unreinforced masonry structures. ES-6, 2002.

736 IBRACON Structures and Materials Journal • 2012 • vol. 5 • nº 5

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