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Depois do Bode... Deu Maritaca na Praça...

José Carlos Ramires


Colaborador
Jc_ramires@hotmail.com
15/02/2013

No dia 10 de março de 2010 tivemos a


felicidade de darmos de frente a um bode, daqueles
machos, um cachaço, muito bonito e metido à
besta, sentado num banco da praça, mais
precisamente na Praça Ataliba Leonel de nossa
cidade.

Naqueles idos não tão distantes, esta praça estava


que só um furdunço, não como mexerico ou
intriga, mas um furdunço mesmo de bagunça,
bagunça na reforma da praça e da pândega
pendenga que disso resultara.

A praça em reforma estava, e assim como que chamando a atenção um


Bode, este se aconchega a um banco da praça, deitado e descansando naquela
tarde dormente de março, mas o bode que deu foi um bode de brincadeira e
metaforismos na interpretação de tal ocorrência inusitada. A alegria foi o que
valeu... E, em dezembro de 2012, a nossa praça foi reinaugurada, tornando-se
assim, uma das mais belas deste nosso rincão oestepaulistense.

Qual não foi nossa surpresa, depois de quase três anos, quando distraído
em meus afazeres empresariais, sou chamado pelos colaboradores: “– Olha Zé!
O Corpo de Bombeiros está aqui na praça. Aqui em frente. Parece que há algum
bicho na árvore. E os bombeiros estão tentando resgatar.”
Saio imediatamente de meu escritório,
pego minha câmera fotográfica e me
dirijo à praça. Vejo aglomeração de
pessoas, jovens, adultos e crianças, todos
com a atenção e olhos voltados ao alto de
uma árvore, uma árvore até que bem
alta, com uma escada de mão telescópica
de grande alcance, já posicionada pelos
bombeiros, e com um soldado nela
subindo, com todo o seu equipamento de
segurança.
Olho em volta, olho para cima, tiro algumas fotos do povo expectador. Procuro
por um animal, uma jaguatirica, um filhote de onça, um macaco ou o que seja,
sendo de um porte tal que ensejou a chamada de socorro ao destacamento local
do Corpo de Bombeiros da cidade, e nada encontro, nada vejo. Pergunto às
pessoas, me dirigindo a um em especial: “– O que eles estão tentando resgatar?
Onde está o animal? – Não é um animal. É uma ave. Uma maritaca.” Responde
o amigo.
– Uma maritaca? “Sim, responde mais uma vez o amigo: – Uma
maritaca.”

Mas como pode uma Maritaca ser resgatada? Ela voa. Ela sabe voar. Não
precisa ser salva. Salva de quem? Só se for dos homens, com seus
desmatamentos...
E eu na minha ânsia de registrar este fato pitoresco, continuo com meus
cliques com as fotos e nos claques, nas tomadas da câmara de filmagem. E aí
percebo o que realmente estava ocorrendo. A coitada da maritaquinha estava
amarrada com uma tira longa de tecido ou de plástico, por sua pata direita, e
com a tira presa ao pequeno galho, bem ao alto, quase na copa daquela árvore.
E a pequenina maritaca se debatendo, e com o bater de suas asas,
tentando escapar das amarras que a prendia ao galho. Ora tentava alçar voo.
Ora descansando no galho, e ora de ponta-cabeça, quando empoleirada não
conseguia ficar, e assim tentando se descansar. Uma luta desproporcional, mas
persistente. Pois que ela não desistia, assim como muitos brasileiros, que em
dificuldades das mais diversas, nunca desistem e não esmorecem.

E a ajuda não vinha do céu, vinha da terra, do chão, com a escada


posicionada e o bombeiro com seu cuidado especial, tentando com muita
paciência lançar uma corda ao galho para assim quebrá-lo, trazendo-se ambos,
galho e maritaca, mais para perto de si e deste modo resgata-la com segurança e
muito cuidado.

Com muita paciência e dedicação, a maritaca torna


enfim às mãos cuidadosas de um daqueles homens
e, todos, num círculo bem fechado, tentando-se
desatar os nós daquele emaranhado caótico de tiras
retorcidas.
Uma tesoura é solicitada e eu a providencio. E os
cliques e claques continuam em sua ânsia pelo
alcance dos melhores ângulos de visão e de
filmagem daquela inusitada e inesperada
ocorrência de salvamento de uma pequena
Maritaca.

Enfim, ela é desvencilhada de suas amarras. Uma pequena avaliação é


feita. Não houve fratura e a patinha perfeita. Somente um pouco machucada,
pelos movimentos de esfrega-esfrega nas tentativas de escape. Mas nada
preocupante.

A pequena maritaca foi levada ao veterinário, medicada no necessário,


patinha limpa e segundo se soube, enfim solta numa árvore, para descanso e
observação, quando em alguns instantes, alça vôo, num alegre bater de asas, das
asas da liberdade, de sua liberdade, e nós, aqui embaixo, simples mortais de pés
atados ao chão, só poderíamos dizer, voa maritaca, voa...
Parabéns aos Soldados da Paz: Corrêa, Euclides, Anderson, Sanches e Tolentino.
E os homens cá
embaixo, todos
felizes e exultantes
ficaram, pelo dever
cumprido... Uma
ave foi resgatada...
Uma pequena
Maritaca foi salva...
Voa passarinho,
voa... E abra as asas
sobre nós...

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