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Literaturas Africanas de Língua Portuguesa AULA 5

Francisca Zuleide Duarte de Souza

INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PARAÍBA

Narrativas de São Tomé,


Cabo Verde e Guiné-Bissau

1 OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM

„„ Conhecer a especificidade das narrativas


santomense, cabo-verdiana e guineense;
„„ Analisar as dicções diferenciadas das três narrativas,
considerando o contexto específico de cada país;
„„ Detectar elementos de uma identidade única
em cada um dos países apresentados.
Narrativas de São Tomé, Cabo Verde e Guiné-Bissau

2 COMEÇANDO A HISTÓRIA

Você vem acompanhando, caro aluno, a trajetória das Literaturas aficanas de


Língua Portuguesa ao longo de nossas aulas, cujos temas se distribuem sequencial
e didaticamente, visando a uma melhor compreensão dos conteúdos expostos.
Na última aula, você foi apresentado ao cinema africano e pode constatar a
ligação entre este e a literatura, a partir dos textos do autor moçambicano Mia
Couto, cujos romances O último voo do flamingo e Terra sonâmbula receberam
uma leitura fílmica de grande aceitação. Nos outros países africanos de Língua
Portuguesa, já existe uma atividade fílmica relevante, como em Guiné-Bissau,
com o cineasta Flora Gomes; em Cabo Verde, com Leão Lopes, entre outros.
Você já estudou, também, sobre a ficção moçambicana e, nesta aula, conhecerá
a ficção produzida em três países igualmente importantes: São Tomé e Príncipe,
Guiné-Bissau e Cabo Verde.

3 TECENDO CONHECIMENTO

Estimado estudante, a necessidade de narrar fatos, mitos e lendas está no


nascedouro das literaturas africanas e remonta à tradição oral. De acordo com o
escritor moçambicano Lourenço do Rosário: “As narrativas de tradição oral são o
reservatório dos valores culturais de uma comunidade com raízes e personalidade
regionais, muitas vezes perdidas na (sic) amálgama da sociedade” (1989, p. 47).

Fonte de transmissão do conhecimento e dos valores comunitários, a narrativa


oral na África é manancial de registros da tradição, em que o pesquisador,
seja historiador, antropólogo, sociólogo, ficcionista ou professor, encontra
as raízes e explicações da ancestralidade afirmada, face ao constante ataque
dos “modernosos” que tentam desqualificar a narrativa oral, reduzindo-a a
mero compêndio de regras e ensinamentos ou simplesmente a relatos para
entretenimento em noites de lua cheia.

Sabe-se que essa atividade, praticada por mais velhos e por griôs (contador
de histórias, poeta, responsável pela transmissão oral da cultura), é de grande
relevância para a manutenção de uma identidade coletiva, na qual o grupo se
afirma, no afã de não perder suas raízes. Logo, a narração da África ágrafa (sem
escrita) se fez com narrativas orais e desenhos em cavernas, nos quais se pode
ler a cultura milenar que sustenta, nos homens, crenças e práticas locais que
sobrevivem, apesar da invasão ocidental e das tentativas de apagamento.

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Salientamos, caro aluno, que o continente africano, rico em histórias e tradições


que precisamos conhecer, com suas dezenas de países, dependendo do país
e de suas filiações tribais, apresenta formas diferenciadas de narrar. São sóias,
mornas, coladeiras, passadas, missossos e finaçóns, entre outras, que compõem
o rico acervo da cultura africana.

Sóias, mornas, coladeiras, passadas, missosos e finaçóns são formas


tradicionais da poesia e da narrativa oral. Moenas e coladeiras são
composições típicas de Cabo Verde – veja-se “Cesária Évora” nas mornas; a
coladeira é dança sensual do arquipélago; missossos são contos tradicionais,
coletados por Hély Châtelain em Angola; passadas e sóias são narrativas
de caráter tradicional e finaçóns são textos populares.

Para uma compreensão mais didática, vamos começar com a narrativa cabo-
verdiana, a seguir com a santomense e, por último, com a narrativa bissau-guineense.

3.1 Narrativa em Cabo Verde

O arquipélago do Cabo Verde, na costa ocidental da África, ao contrário de


Angola, possui apenas 4.033 km² e é formado por dez ilhas e cinco ilhéus. Praia é
sua capital. Durante os anos duros da colonização, Cabo Verde funcionou como
entreposto de escravos e lá viveram, encerrados na prisão do Tarrafal, grandes
escritores e líderes africanos.

A ficção cabo-verdiana inicia-se com o romance O escravo (1856), de José Evaristo


de Almeida, vazado em estilo romântico. Narrativa sobre a escravidão, com
personagens majoritariamente cabo-verdianos, o que prova a existência do
regime escravocrata naquelas ilhas. O romance expõe a situação opressiva do
escravo e advoga sua redenção.

A narrativa de Cabo Verde é pródiga em bons autores, dentre os quais se destacam


Baltasar Lopes (considerado, pela crítica especializada, o “pai” do romance cabo-
verdiano, sobre o qual aprofundaremos adiante), Arménio Vieira (galardoado com
o prêmio Camões), Manoel Lopes, Manoel Ferreira, Teixeira de Souza, Germano
Almeida, Luís Romano e Gabriel Mariano, entre tantos outros.

A dicção feminina é excelentemente representada em Cabo Verde com autoras de


incontornável qualidade literária, como Orlanda Amírilis, Margarida Mascarenhas,
Dina Salústio e Vera Duarte, que dividem a atividade literária entre poesia e prosa.

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Narrativas de São Tomé, Cabo Verde e Guiné-Bissau

Profundamente marcado por condições climáticas nem sempre favoráveis,


considerando as enchentes, as secas e a lestada ou harmatão (vento leste vindo
do deserto, quente, que atravessa o oceano e varre as ilhas de forma inclemente),
o cabo-verdiano vive o drama da evasão e o do exílio, sem deixar de cultivar o
desejo de regresso, ferida que não se cicatriza. Podemos dizer que o tema
primordial da Literatura cabo-verdiana, de um modo geral, passa pela necessidade
de evasão e é secundado pelo apelo da volta.

Em 1949, Baltasar Lopes, escritor cabo-verdiano,


também conhecido como Nhô Baltas ou, ainda,
Oswaldo Alcântara (pseudônimo utilizado na
sua produção poética), publicou Chiquinho,
livro incontornável na literatura do arquipélago.
Considerado, pela crítica especializada, como um
bildungsroman (romance de formação), Chiquinho,
de uma certa forma, retrata a vida do cabo-verdiano,
seus desejos, dificuldades e angústias. Leitor dos
regionalistas brasileiros, Baltasar Lopes emprestou
ao seu romance o matiz regionalista de produzir
Figura 1 ficção. Em torno do personagem que dá nome ao
livro, a estrutura de Chiquinho, narrado em primeira
pessoa, discorre sobre a infância no Caleijão, os anos de formação com o pai
emigrante na América e a vida adulta como professor, que teima em permanecer
em sua terra, mas enfrenta as adversidades que o levam a migrar também – uma
representação bem clara dos conflitos enfrentados por seus patrícios.

Manuel Ferreira é outro importante autor da Literatura cabo-verdiana. Seu livro


Hora di Bai (1962) apresenta a cena da partida do homem insular que, premido
pelas circunstâncias, resolve partir, dividindo, com os parceiros de viagens, o
sofrimento e o pranto pela família e pela terra deixada para trás.

Outro Manuel deu vida ao romance Os flagelados do Vento leste (1960). Trata-se
de Manuel Lopes, ficcionista, poeta e ensaísta. Como revela o título, o romance
fala dos efeitos da lestada e da luta pela sobrevivência de uma família que teima
em resistir à intempérie. Outro conhecido livro de Manuel Lopes é Galo cantou
na Baía (1959), no qual denuncia problemas como o contrabando e descreve a
composição da morna, forma poética tipicamente cabo-verdiana.

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3.2 A prosa em São Tomé e Príncipe

Insular, São Tomé e Príncipe possui uma superfície de 1.000 km² e serviu, como
Cabo Verde, de entreposto de escravos para o regime colonizador.

A crítica santomense Inocência Mata tem a palavra abalizada para falar da ficção
em São Tomé e Príncipe. Apresentamos, aqui, suas ponderações:
Paralelamente a uma prática literária, a poesia, marcadamente
vinculada a uma ideologia nacionalista e com um
postulado social, portanto anticolonial, existia uma escrita,
predominantemente de ficção narrativa, praticada quase
exclusivamente por escritores metropolitanos radicados
em São Tomé.

Mas as primeiras produções narrativas com uma


referencialidade são-tomense datam sobretudo dos
anos 30 (embora desde a década anterior se assinalem
esporadicamente crónicas sobre São Tomé e Príncipe), de
que se destacam os livros de contos Fortunas d’África (1933),
de Mauel Récio e Domingos S. de Freitas, Novela Africana
(1933), de Julião Quintinha, Maiá Poçon, (1937), de Viana de
Almeida ou o conto “Ossobó”, de Ruy Cinatti, publicado em
1936 na revista O mundo Português nº 30, vol. III, para só citar
os exemplos mais significativos. (MATA, 1998, p. 67).

A efetiva e incontornável presença de homens não naturais das ilhas tornou essas
primeiras produções literárias um produto que se pode rotular de Literatura
colonial. Acresce, ainda, referirmo-nos aos escritores Fernando Reis (A Lezíria
e o Equador, Roça, Baú de Folhas, Maiá, entre outros) e Luís Cajão (A estufa), e
principalmente Sum Marky (No Altar da Lei e Vila Flogá ), importante expressão
da prosa santomense no período colonial.

Mais recentemente surgem Albertino Bragança com Rosa do Riboque e outros


contos (1985), Aíto Bonfim com O sucídio Cultural (1993) e Olinda Beja, poeta,
romancista e contista santomense, autora de 15 dias de Regresso, A pedra de
Vila Nova e Histórias da Gravana. Há mais títulos dos autores mencionados, cuja
leitura sugerimos no espaço dedicado ao aprofundamento dos conhecimentos.

De São Tomé e Príncipe, ainda há os autores: Sum Marky e Olinda Beja, sem nos
esquecermos de mencionar Aíto Bonfim. Sum Marky, ou José Ferreira Marques,
é um escritor relativamente pouco estudado pela crítica santomense mais
conservadora. Segundo Inocência Mata:
Sum Marky é um escritor pouco conhecido cuja “reconciliação”
com sua comunidade leitora/interpretativa (Stanley Fish),
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Narrativas de São Tomé, Cabo Verde e Guiné-Bissau

santomense, é recente, também devido à ausência, na sua


escrita, de um discurso nacionalista (e isso apesar de se tratar
de um escritor marcadamente neo-realista, que escreve sobre
as condições sociais em situação colonial). O que acontece
é que, escrevendo em situação colonial, Sum Marky não
faz uma escrita de agressiva verberação anticolonial (talvez
condicionado a sua condição étnico-cultural) embora – e é
de elementar justiça que se realce – critique e denuncie os
excessos e as injustiças. (MATA, 1998, p. 147).

Essa presumível “omissão” ou silenciamento não embaça o brilhantismo de


textos como Ilha de Flogá (1966), em que é criada a engenhosa história de um
engenheiro, Carlos da Silva, contratado para supervisionar um campo de aviação
na Ilha dos Papagaios (Ilha do Príncipe). Tendo vivido anos atrás na ilha, Carlos
descobre um filho, fruto de um relacionamento do passado, que vive o conflito
da rejeição da própria cor da pele. O livro fala da luta em prol e a favor do
progresso. O amor à terra, por um lado, e a sedução do novo, por outro, tendo
o avião como grande símbolo do progresso.

Sum Marky conheceu a prisão e foi perseguido pela Pide (Polícia Política
Portuguesa) ao narrar, no romance No Altar da Lei, o sangrento massacre ocorrido
em São Tomé em 3 de fevereiro de 1953, conhecido como “O massacre de Batepá”,
quando o governador português Carlos Souza Gorgulho ordenou a morte de
cerca de mil trabalhadores que pretendiam obrigar a fazer trabalho escravo. O
dia 3 de fevereiro é feriado nas Ilhas para marcar essa tragédia.

Olinda Beja, poeta e ficcionista santomense, ganhadora do prêmio literário


Francisco José Tenreiro, divide suas atividades entre a escrita e o magistério.
Seus textos ficcionais, como Estórias da Gravana (contos), A
pedra de Vila Nova (ficção) e 15 dias de Regresso (romance),
retratam o país com suas tradições, mitos e lendas que
se contam da maneira apaixonada de quem, apesar da
distância, vive de forma leve, leve, como nas ilhas. Os 15
dias representam a volta de Xininha à sua terra natal,
reencontrando a família de sangue e as surpresas de uma
vida negada pelo exílio ainda em tenra idade. Vivendo no
estrangeiro, a pena de Olinda Beja está a serviço da cultura
Figura 2 santomense, como forma de manter presente a sua ilha.

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3.3 Guiné-Bissau e sua narrativa

Guiné-Bissau, assim como São Tomé e Príncipe, conheceu a narrativa colonial


por meio do cabo-verdiano radicado na Guiné, Fausto Duarte, que publicou em
1933 a primeira novela guineense, intitulada Auá-novela negra. A essa novela
seguiram O negro sem alma (1935), Rumo ao degredo (1936), Foram estes os ventos
e A Revolta, ambos de 1945. Acresce, ainda, lembrarmos a escritora Fernanda de
Castro com a narrativa infanto-juvenil Mariazinha em África, publicada em 1925.

Para falar com muita propriedade sobre a narrativa em Guiné-Bissau, trazemos o


texto de Moema Parente Augel, no seu livro O desafio do Escombro (2007, p. 292):
O discurso literário contemporâneo na Guiné-Bissau põe a
descoberto os conflitos e os desencantos que estorvam uma
auto-identificação positiva face à nação, parecendo já distante
o tempo em que predominava o orgulho pela resistência
por tantos anos exercida e pela vitória contra o colonialismo.
O estado e espírito atual, de desânimo e de errância, atravessa
as simbologias, impregna as metáforas que povoam as obras
literárias contemporâneas, e os autores procuram uma nova
linguagem, uma forma outra de expressão para traduzir não
só a desilusão da utopia como a garra teimosa de uma busca
de alternativas. Muitos dos textos da década de noventa e
do começo do novo milênio se querem desestabilizadores
da ordem simbólica imposta pelo discurso autoritário.

Nas considerações acima, compreendemos que, embora mais tardiamente


cultivada, a narrativa bissau-guineense encampa a temática da autoafirmação
identitária ao lado da desarticulação da lógica colonialista, tão perniciosa para
a narração das nações independentes. Dentre esses autores que levantam a
bandeira da narrativa guineense, encontram-se Odete Semedo, Abdulai Silá,
Filinto de Barros, Domingas Samy e Filomena Embaló, para nos atermos aos
narradores mais conhecidos.

Em Guiné-Bissau, encontramos Filinto de Barros e Abdulai


Sila como autores representativos da ficção bissau-guineense
atual. Lembramos, também, a escritora Filomena Embaló,
com seu importante romance Tiara.

Filinto de Barros, autor de um romance que se pode


considerar histórico, Kikia Matcho (1997), faz “uma releitura
do processo de formação social e política de Guiné-Bissau,
estabelecendo uma imbricação entre o factual, a memória
e a ficção” (AUGEL, 2007, p. 293). Figura 3
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Narrativas de São Tomé, Cabo Verde e Guiné-Bissau

Abdulai Sila escreveu uma trilogia composta pelos livros: A eterna Paixão (1994),
A última tragédia (1995) e Mistida (1997). Engenheiro eletrotécnico com formação
na Alemanha, fundou em Bissau o Instituto de Estudos e Pesquisas (INEP), órgão
reconhecido internacionalmente pelo desenvolvimento de pesquisas na área
das ciências políticas, econômicas e sociais. A eterna paixão traz à cena um afro-
americano que migra para a África em busca de suas raízes. Na África, Daniel
Baldwin, o protagonista, se decepciona com a esposa, a africana Ruth, que se
deixa corromper pelos valores do capitalismo. Decepcionado, Daniel abandona
o lugar onde vivia e funda uma comunidade chamada Woyowyan, lugar utópico,
no qual o ideal de justiça do personagem e do autor, talvez, se realize.

Exercitando

Agora é a sua vez! Observamos a diversidade de temas e abordagens na ficção


dos três países abordados. Não podemos, entretanto, parar por aqui. Há muitos
sites para aprofundamento dos temas e livros que podem ser encontrados para
sua informação. Pela leitura do material anterior e deste, você pode estabelecer
comparações entre as maneiras de narrar nos países africanos de Língua
Portuguesa. Os textos e os autores estão sempre em constante diálogo e isso
se compreende porque, tendo estes vivido sob um mesmo regime colonialista,
é natural que alguns aspectos dialoguem entre si.

Você já estudou a narrativa moçambicana e a angolana em aulas anteriores, não


foi? Pois bem, tente traçar um paralelo entre os modos de narrar desses países,
exercitando assim a observação detalhada e o espírito crítico.

4 APROFUNDANDO SEU CONHECIMENTO

Nada seduz mais o ser humano do que a descoberta do novo. Estamos vivendo
um momento de apropriação de um conhecimento novo e instigante. Vamos
saber mais?

Figura 4 Figura 5 Figura 6


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Apresentamos três importantes autores cabo-verdianos para maior aprofundamento


de leitura. São eles: Dina Salústio, autora do livro de contos Mornas eram as noites;
Germano Almeida, com O Testamento do Senhor Napumoceno da Silva; e Orlanda
Amarílis, com Cais-do-Sodré té Salamansa, que sinalizam para a riqueza dessa
literatura insular.

Dina Salústio é poeta e também publicou um romance intitulado A louca de


Serrano, de leitura também altamente recomendável. Germano Almeida teve
seu Testamento do Senhor Napumoceno da Silva levado ao cinema, com atuação
dos artistas brasileiros Nelson Xavier e Maria Ceiça. Trata da história de um
comerciante que conseguiu enriquecer com a venda de guarda-chuvas num
país onde grassa a seca. Orlanda Amarílis, cabo-verdiana radicada em Portugal,
publicou, além de literatura infantil, livros de conto da maior importâcia, como
Ilhéu dos Pássaros, A casa dos Mastros e Cais-do-Sodré. Um bom estudo sobre
Orlanda encontra-se na tese de doutorado da professora gaúcha Jane Tutikian,
disponível no banco de teses da UFRGS. Quanto a Tiara, da escritora naturalizada
guineense Filomena Embaló, está sendo disponibilizado no site da autora, por
ela própria: http://www.didinho.org/filomenaembalobiografia.htm.

Caro estudante, você pode buscar ainda mais! Aprimore sua formação acadêmica
e pessoal pela consulta a sites confiáveis e pela discussão com professores e
colegas. Aproveite essa oportunidade! Discuta com amigos sobre a relevância dos
temas explorados pelos escritores estudados a partir dos sites sugeridos a seguir:
àà http://pos-graduacao.uepb.edu.br/ppgli/download/publicacaoonline/Literaturas/21.pdf
àà http://www.pallaseditora.com.br/autor/Abdulai_Sila/94/
àà http://www.kusimon.com/index.php/autores/autores-abdulai-sila
àà http://www.sudoestealentejano.com/literatura/paginas/germano_almeida.htm
àà http://lusofonia.com.sapo.pt/LiteraturaSantomense.htm
àà http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_africana/cabo_verde/manuel_lopes.html
àà http://vozsaotome.blogspot.com/2013/07/albertino-braganca-e-edjmilton-fernandes.html
àà http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Ferreira_(escritor
http://www.africaeafricanidades.com.br/documentos/Armenio_Vieira.pdf

5 TROCANDO EM MIÚDOS

Vimos, pelo exposto, que de situações adversas podem surgir saídas criativas e
que a literatura é excelente condutora de ideias, desmistificadora de crenças e
excelente veículo de preservação da memória e dos costumes. O desconforto
gerado pelo colonizador, a tentativa de apagamento de identidades, a imposição
de uma nova língua, inclusive, converteram-se em armas de combate. A utilização
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Narrativas de São Tomé, Cabo Verde e Guiné-Bissau

da língua do colonizador nas literaturas africanas é o retorno que remete ao


demônio Caliban, personagem do texto A Tempestade, de William Shakespeare.
Usar a língua imposta como veículo de difusão da cultura é a resposta mais
contundente que se pode esboçar, se considerarmos que são poucos os utentes
de línguas minoritárias e muitos ainda não são alfabetizados. Atingir o público
leitor, mesmo na língua do outro, é recurso indispensável e legítimo para difusão
e alargamento dos saberes sobre culturas invisibilizadas. A discussão sobre a
tradição em Guiné-Bissau, enfocando o preconceito e as lutas independentistas,
lê-se com clareza nos livros de Abdulai Sila, como no Kikia Matacho de Filinto de
Barros. A referência do exílio e seus efeitos na literaatura santomense, pode-se
analisar em 15 dias de Regresso. Nos contos de Orlanda Amarílis, encontra-se o
dilema do caboverdiano na diáspora e, em Germano Almeida, a prosa bem-
humorada e irônica, no desenho do rico painel da caboverdianidade. O Testamento
do Sr. Napumoceno da Silva é um exemplo de ironia e crítica, ao contar a história
de um país que vendeu milhares de guarda-chuvas, não obstante o flagelo da
seca. Acresce, ainda, analisar nesse livro o narrador que conduz a história a partir
do seu diário, encontrado postumamente. Sugerimos asssistir ao filme indicado
na aula de número 4, no qual se pode bem avaliar o conteúdo do texto nas suas
implicações sociais e literárias.

6 AUTOAVALIANDO

Depois da leitura desta aula, reflitamos mais detidamente sobre as formas de


inserção, por meio do texto escrito, nessas literaturas tão jovens. A dita sociedade
globalizada não admite mais isolamentos e invisibilizações perversas. Você
mesmo, caro aluno, é uma prova disso. A partir da discussão realizada nesta
aula, tente responder às questões abaixo:

1) Percebi a especificidade das narrativas santomense, caboverdiana e


guineense?
2) Consegui analisar as dicções diferenciadas dessas três narrativas,
considerando o contexto específico de cada país?
3) Reconheci elementos de uma identidade única em cada um dos países
apresentados?

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AULA 5

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Germano. Estórias contadas. Lisboa: Caminho, 1998.

AUGEL, Moema. O desafio do Escombro. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.

LOPES, Baltasar. Chiquinho. Lisboa: Edições Claridade, 1947.

LOPES, Oscar. A morna cabo-verdiana. In: Modo de ler crítica e interpretação

Literária. 12. ed. Porto: Inova, 1969.

MARGARIDO, Alfredo. Estudos Sobre Literaturas das Nações Africanas de


Língua Portuguesa. Lisboa: A regra do jogo, 1980.

MATA, Inocência. Diálogo com as ilhas (sobre cultura e literatura de São Tomé
e Príncipe). Lisboa: Colibri, 1998.

ROSÁRIO, Lourenço Joaquim da Costa. A narrativa africana de expressão


oral. Lisboa: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa; Luanda: Angolê, 1989.

SALINAS PORTUGAL, Francisco. De Próspero a Calibán: literaturas africanas de


língua portuguesa. Santiago de Compostela: Laiovento, 1999.

SILA, Abdulai. A última Tragédia. Rio de Janeiro: Pallas, 2006.

TUTIKIAN, Jane. Inquietos olhares. São Paulo: Arte e Ciência, 1999.

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