Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PARAÍBA
1 OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM
2 COMEÇANDO A HISTÓRIA
3 TECENDO CONHECIMENTO
Sabe-se que essa atividade, praticada por mais velhos e por griôs (contador
de histórias, poeta, responsável pela transmissão oral da cultura), é de grande
relevância para a manutenção de uma identidade coletiva, na qual o grupo se
afirma, no afã de não perder suas raízes. Logo, a narração da África ágrafa (sem
escrita) se fez com narrativas orais e desenhos em cavernas, nos quais se pode
ler a cultura milenar que sustenta, nos homens, crenças e práticas locais que
sobrevivem, apesar da invasão ocidental e das tentativas de apagamento.
72
AULA 5
Para uma compreensão mais didática, vamos começar com a narrativa cabo-
verdiana, a seguir com a santomense e, por último, com a narrativa bissau-guineense.
73
Narrativas de São Tomé, Cabo Verde e Guiné-Bissau
Outro Manuel deu vida ao romance Os flagelados do Vento leste (1960). Trata-se
de Manuel Lopes, ficcionista, poeta e ensaísta. Como revela o título, o romance
fala dos efeitos da lestada e da luta pela sobrevivência de uma família que teima
em resistir à intempérie. Outro conhecido livro de Manuel Lopes é Galo cantou
na Baía (1959), no qual denuncia problemas como o contrabando e descreve a
composição da morna, forma poética tipicamente cabo-verdiana.
74
AULA 5
Insular, São Tomé e Príncipe possui uma superfície de 1.000 km² e serviu, como
Cabo Verde, de entreposto de escravos para o regime colonizador.
A crítica santomense Inocência Mata tem a palavra abalizada para falar da ficção
em São Tomé e Príncipe. Apresentamos, aqui, suas ponderações:
Paralelamente a uma prática literária, a poesia, marcadamente
vinculada a uma ideologia nacionalista e com um
postulado social, portanto anticolonial, existia uma escrita,
predominantemente de ficção narrativa, praticada quase
exclusivamente por escritores metropolitanos radicados
em São Tomé.
A efetiva e incontornável presença de homens não naturais das ilhas tornou essas
primeiras produções literárias um produto que se pode rotular de Literatura
colonial. Acresce, ainda, referirmo-nos aos escritores Fernando Reis (A Lezíria
e o Equador, Roça, Baú de Folhas, Maiá, entre outros) e Luís Cajão (A estufa), e
principalmente Sum Marky (No Altar da Lei e Vila Flogá ), importante expressão
da prosa santomense no período colonial.
De São Tomé e Príncipe, ainda há os autores: Sum Marky e Olinda Beja, sem nos
esquecermos de mencionar Aíto Bonfim. Sum Marky, ou José Ferreira Marques,
é um escritor relativamente pouco estudado pela crítica santomense mais
conservadora. Segundo Inocência Mata:
Sum Marky é um escritor pouco conhecido cuja “reconciliação”
com sua comunidade leitora/interpretativa (Stanley Fish),
75
Narrativas de São Tomé, Cabo Verde e Guiné-Bissau
Sum Marky conheceu a prisão e foi perseguido pela Pide (Polícia Política
Portuguesa) ao narrar, no romance No Altar da Lei, o sangrento massacre ocorrido
em São Tomé em 3 de fevereiro de 1953, conhecido como “O massacre de Batepá”,
quando o governador português Carlos Souza Gorgulho ordenou a morte de
cerca de mil trabalhadores que pretendiam obrigar a fazer trabalho escravo. O
dia 3 de fevereiro é feriado nas Ilhas para marcar essa tragédia.
76
AULA 5
Abdulai Sila escreveu uma trilogia composta pelos livros: A eterna Paixão (1994),
A última tragédia (1995) e Mistida (1997). Engenheiro eletrotécnico com formação
na Alemanha, fundou em Bissau o Instituto de Estudos e Pesquisas (INEP), órgão
reconhecido internacionalmente pelo desenvolvimento de pesquisas na área
das ciências políticas, econômicas e sociais. A eterna paixão traz à cena um afro-
americano que migra para a África em busca de suas raízes. Na África, Daniel
Baldwin, o protagonista, se decepciona com a esposa, a africana Ruth, que se
deixa corromper pelos valores do capitalismo. Decepcionado, Daniel abandona
o lugar onde vivia e funda uma comunidade chamada Woyowyan, lugar utópico,
no qual o ideal de justiça do personagem e do autor, talvez, se realize.
Exercitando
Nada seduz mais o ser humano do que a descoberta do novo. Estamos vivendo
um momento de apropriação de um conhecimento novo e instigante. Vamos
saber mais?
Caro estudante, você pode buscar ainda mais! Aprimore sua formação acadêmica
e pessoal pela consulta a sites confiáveis e pela discussão com professores e
colegas. Aproveite essa oportunidade! Discuta com amigos sobre a relevância dos
temas explorados pelos escritores estudados a partir dos sites sugeridos a seguir:
àà http://pos-graduacao.uepb.edu.br/ppgli/download/publicacaoonline/Literaturas/21.pdf
àà http://www.pallaseditora.com.br/autor/Abdulai_Sila/94/
àà http://www.kusimon.com/index.php/autores/autores-abdulai-sila
àà http://www.sudoestealentejano.com/literatura/paginas/germano_almeida.htm
àà http://lusofonia.com.sapo.pt/LiteraturaSantomense.htm
àà http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_africana/cabo_verde/manuel_lopes.html
àà http://vozsaotome.blogspot.com/2013/07/albertino-braganca-e-edjmilton-fernandes.html
àà http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Ferreira_(escritor
http://www.africaeafricanidades.com.br/documentos/Armenio_Vieira.pdf
5 TROCANDO EM MIÚDOS
Vimos, pelo exposto, que de situações adversas podem surgir saídas criativas e
que a literatura é excelente condutora de ideias, desmistificadora de crenças e
excelente veículo de preservação da memória e dos costumes. O desconforto
gerado pelo colonizador, a tentativa de apagamento de identidades, a imposição
de uma nova língua, inclusive, converteram-se em armas de combate. A utilização
79
Narrativas de São Tomé, Cabo Verde e Guiné-Bissau
6 AUTOAVALIANDO
80
AULA 5
REFERÊNCIAS
MATA, Inocência. Diálogo com as ilhas (sobre cultura e literatura de São Tomé
e Príncipe). Lisboa: Colibri, 1998.
81