Relato Etnográfico – Barca do Primo (Moacir Santana)
Na manhã do dia 11 de março de 2020 nos propomos a acompanha a
rotina de ida e volta da barquinha que faz o trajeto levando pessoas de Petrolina-PE até Juazeiro-BA e vice-versa. Andamos pelo caminho de terra em meio a algumas árvores, vendedores ambulantes e pessoas que tinha o mesmo objetivo que o nosso, chegar até a barca.
A barca estava prestes a sair, o motor já estava ligado e o condutor
buzinou para que nos apressássemos, apertamos o passo e conseguimos embarcar. Logo após a rampa de acesso é possível ver a cabine onde ficam o condutor e o cobrador, no vidro da cabine uma folha sulfite mostra o preço da passagem que é de dois reais. Ao passar pela catraca vemos os diversos bancos, os banheiros ao fundo e o motor cercados por grades para a segurança dos passageiros.
A barca tem aspectos rústicos, o chão é de um metal enferrujado igual a
grade tem que um aspecto gasto. O teto é cheio de teias de aranha e contém duas caixas de sons que não da pra saber se funcionam ou não. O motor da barca é caótico, cheio de tralhas, baldes e sujeira, mas serve ao seu propósito.
Depois de observar os arredores nos acomodamos nas cadeiras, bem
no fundo para termos uma visão ampla do espaço. A barca tinha algumas pessoas, não estava cheia, mas também não estava totalmente vazia. Na frente dos bancos um homem com um violão estava fazendo uma apresentação, mas o som do motor se sobressaia e quando mais atrás o passageiro sentasse, mais difícil seria ouvir o que o homem cantava.
A barquinha seguiu seu curso e em cerca de cinco minutos já estava
chegando a Juazeiro, a embarcação chegou e atracou com um tranco que levou o corpo de algumas pessoas pra frente numa sensação de quase queda. Aos poucos os passageiros começaram a descer da barca e irem para os seus destinos.
É em Juazeiro que as demais barcas ficam e é aí que elas alternam
entre si, fazendo o trajeto uma por vez até que o processo se repita. Continuamos na barca do Primo e esperamos. Agora, com o motor desligado, o silêncio é tanto que dá pra ouvir as pessoas conversando na avenida da frente. Vez ou outra pássaros entram na barca para contemplar a paisagem, mas não ficam por muito tempo e logo vão embora.
Tanto o cobrador quando o condutor ficam na barca esperando o
momento a vez deles de voltarem para o rio e fazer o processo novamente. O processo de espera dura cerca de quarenta minutos, é impossível não ser tomado pelo tédio e a monotonia do espaço se torna evidente. O condutor e o cobrador sentam nos bancos, usam o celular e até cochilam. Depois da espera os passageiros voltam a entrar na barca, e o cantor de antes volta também, agora todos conseguem ouvir sua voz já que o motor ainda não foi ligado. É um cantor gospel anunciando seu novo CD, ele cantou algumas músicas até que o motor foi dado a partida e não se ouvia mais nada. Pouco antes disso, uma vendedora passou em frente a barquinha e deu pra ouvir o cobrador gritar, “Traz um café mim, eu tô desesperado.”, e se todos passassem o tempo de espera que ele passou na barca, entenderiam sobre o desespero a que ele se referia.
A barquinha volta para Petrolina, demorando o mesmo tempo no trajeto,
é inevitável não olhar para a beleza da ponte Presidente Dutra, que liga as duas cidades. E todos vão descendo e caminham em direção a rua. São diversos rostos que atravessam todo dia, rostos de todas as idades, cores e particularidades. As únicas caras iguais que se vê é a do cobrador e a do condutor, que ficam na barca o dia todo durante todo o dia.