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AULA 1 – Propriedades da madeira

NBR 7190 - Projeto de estruturas de madeira


1) Estrutura e crescimento das madeiras
Crescem pela adição das camadas externas, sob a casca. A seção transversal do tronco revela as seguintes
camadas:

a) Casca: proteção externa da árvore


b) Alburno ou Branco: camada formada por células vivas que conduzem a seiva.
c) Cerne ou Durâmen: constituído das células mortas do alburno, de coloração mais escura, tem função
de sustentação do tronco;
d) Medula: tecido em torno do qual se verifica o primeiro crescimento da madeira.

A madeira estrutural deve ser tirada do cerne, pois é a parte que apresenta maior resistência mecânica.

2) Vantagens e desvantagens
*Vantagens
- Excelente relação resistência/peso
- Facilidade no manuseio
- Boa disponibilidade
- Preço acessível
- Bom isolante térmico

*Desvantagens
- sujeita a degradação biológica
- sujeita à combustão
- defeitos por ser um material natural
3) Propriedades físicas
- Anisotropia: propriedades físicas e mecânicas são diferentes conforme a direção. Na prática é relevante
saber as propriedades nas direções paralelas e perpendiculares às fibras.
- Umidade: sua variação pode alterar características da madeira, causando retração ou inchamento. Na
prática minora-se a resistência de acordo com o tipo de madeira e a umidade do ambiente. A umidade
padrão é de 12%.
- Deterioração: vulnerabilidade a ataques biológicos (cupins, fungos, etc) e do fogo.

4) Sistemas estruturais em madeira


- Treliças de cobertura

- Estruturas aporticadas

- Pontes em madeira
5) Classificação das madeiras
- Madeiras duras (hardwoods): da classe angiosperma, denominadas dicotiledôneas (dois cotilédones).
Exemplos: ipê, peroba, eucalipto, carvalho, etc.
- Madeiras macias (softwoods): da classe gimnosperma, denominadas coníferas. Exemplos: pinheiros,
sequoias, araucárias, etc.

6) Dimensões mínimas seções transversais


- peças principais: A > 50 cm² e b > 5 cm
- peças secundárias: A > 18 cm² e b > 2,5 cm

7) Resistência da madeira
7.1) Nomenclatura

𝑓𝑐0,𝑘 : resistência característica à compressão paralela às fibras

𝑓𝑐90,𝑘 : resistência característica à compressão normal às fibras

𝑓𝑡0,𝑘 : resistência característica à tração paralela às fibras

𝑓𝑡90,𝑘 : resistência característica à tração normal às fibras (p/ proj. estrutural 𝑓𝑡90,𝑘 = 0)

𝑓𝑣0,𝑘 : resistência característica ao cisalhamento paralelo às fibras

𝜌𝑏𝑎𝑠 : densidade básica (masssa seca / volume saturado)


𝜌𝑎𝑝𝑎𝑟 : densidade aparente a 12% de umidade

𝐸𝑐0,𝑚 : módulo de elasticidade médio na compressão

𝐸𝑐0,𝑒𝑓 : módulo de elasticidade efetivo

7.2) Relações entre as resistências


As resistências da madeira podem ser obtidas através de ensaios ou de correlações a partir da resistência
à compressão paralela às fibras (𝑓𝑐0,𝑘 ).

Compressão normal: 𝑓𝑐90,𝑘 = 0,25 ∗ 𝑓𝑐0,𝑘

Tração paralela: 𝑓𝑡0,𝑘 = 𝑓𝑐0,𝑘 /0,77

Cisalhamento p/ coníferas: 𝑓𝑣0,𝑘 = 0,15 ∗ 𝑓𝑐0,𝑘

Cisalhamento p/ dicotiledôneas: 𝑓𝑣0,𝑘 = 0,12 ∗ 𝑓𝑐0,𝑘


Módulo de elasticidade efetivo: 𝐸𝑐0,𝑒𝑓 = 𝑘𝑚𝑜𝑑 ∗ 𝐸𝑐0,𝑚
7.3) Classes de resistência
Como existem diversos tipos de madeira, na prática o projetista define uma classe de madeira em projeto
e o construtor deve escolher uma madeira que atenda as características.

7.4) Valores médios, característicos e de cálculo da resistência


Valores médios (fm): obtidos em ensaio
Valores característicos (fk):
Tração ou compressão: 𝑓𝑘 = 0,7 ∗ 𝑓𝑚
Cisalhamento: 𝑓𝑘 = 0,54 ∗ 𝑓𝑚
Valores de cálculo (fd):
𝑓𝑘
𝑓𝑑 = 𝑘𝑚𝑜𝑑
𝛾𝑤
Onde:
𝛾𝑤 : coeficiente de minoração
𝑘𝑚𝑜𝑑 : coeficiente de modificação

a) Coeficiente de ponderação 𝛾𝑤
ELU:
ELS:

𝛾𝑤 = 1,0

b) Coeficiente de modificação (𝑘𝑚𝑜𝑑 )


𝑘𝑚𝑜𝑑 = 𝑘𝑚𝑜𝑑,1 ∗ 𝑘𝑚𝑜𝑑,2 ∗ 𝑘𝑚𝑜𝑑,3

𝑘𝑚𝑜𝑑,1: duração do carregamento

𝑘𝑚𝑜𝑑,2: efeito da umidade

𝑘𝑚𝑜𝑑,3: categoria da madeira. Classificação visual e mecânica de defeitos

Exemplo 1: Para uma conífera de classe C30, que sofre um carregamento permanente e está inserida em
um ambiente com 70% de umidade, determine:
a) 𝑓𝑐0,𝑘
b) 𝑓𝑐90,𝑘

c) 𝑓𝑡0,𝑘

d) 𝑓𝑡90,𝑘

e) 𝑓𝑣0,𝑘

f) 𝜌𝑏𝑎𝑠
g) 𝜌𝑎𝑝𝑎𝑟

h) 𝐸𝑐0,𝑚

i) 𝑘𝑚𝑜𝑑
j) 𝑓𝑐0,𝑑

k) 𝑓𝑡0,𝑑

l) 𝑓𝑣0,𝑑

m) 𝐸𝑐0,𝑒𝑓

Resolução
a) 𝑓𝑐0,𝑘 = 30 𝑀𝑃𝑎 = 3 𝑘𝑁/𝑐𝑚2

b) 𝑓𝑐90,𝑘 = 0,25 ∗ 𝑓𝑐0,𝑘 = 0,25 ∗ 30 = 7,5 𝑀𝑃𝑎 = 0,75 𝑘𝑁/𝑐𝑚²

c) 𝑓𝑡0,𝑘 = 𝑓𝑐0,𝑘 /0,77 = 30/0,77 = 38,96 𝑀𝑃𝑎 = 3,9 𝑘𝑁/𝑐𝑚²

d) 𝑓𝑡90,𝑘 = 0

e) 𝑓𝑣0,𝑘 = 6 𝑀𝑃𝑎 = 0,6 𝑘𝑁/𝑐𝑚² - pela tabela da classe C30

𝑓𝑣0,𝑘 = 0,15 ∗ 𝑓𝑐0,𝑘 = 0,15 ∗ 30 = 4,5 𝑀𝑃𝑎 = 0,45 𝑘𝑁/𝑐𝑚² - relação com 𝑓𝑐0,𝑘

Pode-se utilizar qualquer um dos valores

f) 𝜌𝑏𝑎𝑠 = 500 𝑘𝑔/𝑚³


g) 𝜌𝑎𝑝𝑎𝑟 = 600 𝑘𝑔/𝑚³

h) 𝐸𝑐0,𝑚 = 14500 𝑀𝑃𝑎 = 1450 𝑘𝑁/𝑐𝑚²

i) 𝑘𝑚𝑜𝑑 = 𝑘𝑚𝑜𝑑,1 ∗ 𝑘𝑚𝑜𝑑,2 ∗ 𝑘𝑚𝑜𝑑,3

𝑘𝑚𝑜𝑑,1 = 0,60 – carga permanente

𝑘𝑚𝑜𝑑,2 = 1,00 – Uamb = 70% (Classe 2)

𝑘𝑚𝑜𝑑,3 = 0,80 – conífera sempre 0,8

𝑘𝑚𝑜𝑑 = 𝑘𝑚𝑜𝑑,1 ∗ 𝑘𝑚𝑜𝑑,2 ∗ 𝑘𝑚𝑜𝑑,3 = 0,60 ∗ 1,00 ∗ 0,80 = 0,48


𝑓𝑐0,𝑘 30
j) 𝑓𝑐0,𝑑 = 𝑘𝑚𝑜𝑑 = 0,48 ∗ 1,4 = 10,28 𝑀𝑃𝑎 = 1,03 𝑘𝑁/𝑐𝑚²
𝛾𝑤
𝑓𝑡0,𝑘 38,96
k) 𝑓𝑡0,𝑑 = 𝑘𝑚𝑜𝑑 = 0,48 ∗ = 10,39 𝑀𝑃𝑎 = 1,04 𝑘𝑁/𝑐𝑚²
𝛾𝑤 1,8

𝑓𝑣0,𝑘 6
l) 𝑓𝑣0,𝑑 = 𝑘𝑚𝑜𝑑 = 0,48 1,8 = 1,6 𝑀𝑃𝑎 = 0,16 𝑘𝑁/𝑐𝑚² - pela tabela da classe C30
𝛾𝑤

𝑓𝑣0,𝑘 4,5
𝑓𝑣0,𝑑 = 𝑘𝑚𝑜𝑑 = 0,48 1,8 = 1,2 𝑀𝑃𝑎 = 0,12 𝑘𝑁/𝑐𝑚² - relação com 𝑓𝑐0,𝑘
𝛾𝑤

m) 𝐸𝑐0,𝑒𝑓 = 𝑘𝑚𝑜𝑑 ∗ 𝐸𝑐0,𝑚 = 0,48 ∗ 14500 = 6960 𝑀𝑃𝑎 = 696 𝑘𝑁/𝑐𝑚²

Exemplo 2: Determine as seguintes resistências mecânicas de um ipê sem defeitos que sofre
carregamento de longa duração, inserido em um ambiente de umidade 60%:
a) 𝑓𝑐0,𝑚

b) 𝑓𝑣0,𝑚

c) 𝑓𝑐0,𝑘

d) 𝑓𝑣0,𝑘

e) 𝑘𝑚𝑜𝑑
f) 𝑓𝑐0,𝑑

g) 𝑓𝑣0,𝑑

h) 𝐸𝑐0,𝑒𝑓

Resolução
Dados das madeiras:
Livro: tabelas A.1.1 e A.1.2
NBR 7190: tabelas anexo E
a) 𝑓𝑐0,𝑚 = 76,0 𝑀𝑃𝑎 = 7,6 𝑘𝑁/𝑐𝑚²

b) 𝑓𝑣0,𝑚 = 13,1 𝑀𝑃𝑎 = 1,31 𝑘𝑁/𝑐𝑚²

c) 𝑓𝑐0,𝑘 = 0,7 ∗ 76 = 53,2 𝑀𝑃𝑎 = 5,32 𝑘𝑁/𝑐𝑚²

d) 𝑓𝑣0,𝑘 = 0,54 ∗ 13,1 = 7,07 𝑀𝑃𝑎 = 0,707 𝑘𝑁/𝑐𝑚²

e) 𝑘𝑚𝑜𝑑 = 𝑘𝑚𝑜𝑑,1 ∗ 𝑘𝑚𝑜𝑑,2 ∗ 𝑘𝑚𝑜𝑑,3 = 0,70

𝑘𝑚𝑜𝑑,1 = 0,70 𝑘𝑚𝑜𝑑,2 = 1,00 𝑘𝑚𝑜𝑑,3 = 1,00


𝑓𝑐0,𝑘 53,2
f) 𝑓𝑐0,𝑑 = 𝑘𝑚𝑜𝑑 = 0,70 = 26,6 𝑀𝑃𝑎 = 2,66 𝑘𝑁/𝑐𝑚²
𝛾𝑤 1,4

𝑓𝑣0,𝑘 7,07
g) 𝑓𝑣0,𝑑 = 𝑘𝑚𝑜𝑑 = 0,70 = 2,75 𝑀𝑃𝑎 = 0,275 𝑘𝑁/𝑐𝑚²
𝛾𝑤 1,8

h) 𝐸𝑐0,𝑒𝑓 = 𝑘𝑚𝑜𝑑 ∗ 𝐸𝑐0,𝑚 = 0,70 ∗ 18011 = 12607,7 𝑀𝑃𝑎 = 1260,77 𝑘𝑁/𝑐𝑚²

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