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ee cadernos de teatro TEATRO NA ESCOLA — Maria Ant QUANTO CUSTA © FERRO? — B. Brecht NAO CONSULTES MEDICO — Machado de Assis ieta A. Cunha ORIGENS DO TEATRO NO BRASIL — Max Fleiuss TABLADO 25 ANOS DOS JORNAIS CADERNOS DE TEATRO N.72 janeiro-fevereiro-margo-1977 Publicagio 4'0 TABLADO patrocinada pela FUNARTE, DAC e Servigo Nacional de Teatro (MEC) Redacio e Pesquisa @}0 TABLADO Diretor-responsével — JoRo Séxcio Maxruio NuNES Diretor-executivo — MARIA CLARA MACHADO Diretor-tesoureiro — Eovy RezeNve NUNES Redatores — BERNARDO JNBLONSKt Guipa Vianna Secretaria — Siwvin Fucs Redagio: © TABLADO Ay. Linen de Paula Machado, 795 - ZC 20 Rio de Janeiro - 20,000 - Brasil 0s testos publicados nos CADERNOS DE. TEATRO 1 poderdo ser representedos mediante autorizanto te Sociedade Braslire de Autores Teatrals (SBAT) ‘Av, Almirante Barroso, 97 Bo de Janeiro F. GARCIA LORCA: CONVERSA SOBRE TEATRO Em 31 de janeiro de 1935 0s atores dos varios teatros de Madrid solicitaram de Margarita Xirgu, a criadora genial de Yerma, que num espetéculo extraor- dindrio interpretasse especialmente para eles 0 poema ramético de Lorea, Foi durante esse espeticulo, reali- ‘zado no Teatro Espinhol, que Lorca proferiu as palavras seguintes. Queridos amigos: Fiz, hé tempos, a promessa firme de recusar toda a espécie de homenagens, festas ou ban- quetes que se fizessem A minha modesta ‘pessoa; em pri- iro lugar, pot entender que cada uma dessas cerimo- is equivale 3 colocacdo de uma pedra sobre © nosso ‘Gmulo literdrio, e, em segundo lugar, porque notei que do hé coisa mais desoladora que o discurso frio pronun- ciado em nossa honra, nem momento mais triste que o do aplauso, organizado, ainda que inteiramente de boa 16, Além disso — ¢ isto & segredo — ereio que ban- quetes e pergaminhos trazem mau agouro para 0 homem que os recebe; mau agouro proveniente da atitude des- cansada dos amigos que, a0 homenageé-lo pensam: “Com este jé estamos quits”. ‘Um banguete 6 uma reuniio de profisionais que comem junto de nés © onde se encontram, as pessoas que na vida menos gostam de nés Para os pottas © dramaturgos, eu organizaria, em vez de homenagens, torneios © desafios nos quais fosse~ ‘mos galharda e injumtivamente emprazados: “Aposto que nao é capaz de fazer isto!”, “Aposto que ndo & capaz de exprimir numa personagem a angistia do mar!” “Aposto que no te atreves a contar 0 desespero dos soldados inimigos da guerra!” exigéncia e luta com um fundo de amor severo, temperam a alma do artista, que se efemina e diminui com as solugées féceis. Os teatros esto cheios de enganadoras sereias coroadas de rosas de estufa, © 0 piblico sente-se satisfeto © aplaude quan do v8 coragdes de serradura © escute diflogos & flor dos denies. Mas 0 poeta dramético no deve esqueccr, se quiser salvar-se do esquecimento, os campos de rosas ‘molhadas pelo_amanhecer, em que os lavradores sofrem, ¢ essa pomba ferida por um misterioso cacedor, que ag0- niza entre os juncos sem que ninguém ouga os seus ge- ‘midos. Fogindo das sereias, das solicitagdes e das vores fal- sas, mio aceitei qualquer homenagem por ocasifo da estréia de Yerma; mas experimentei a maior alegria da minha vida breve de autor quando soube que # familia teatral madrilena pediu & grande Margarita Xirgu, atriz de imaculada hist6ria artistica, luziro do teatro espanhol ¢ criadora admirdvel do papel, juntamente com a com- ppanhia que tio brilhantemente secunda, uma represen- {ago especial para a ver. Plo que isto significa de curiosidade e tengo para com um esforgo notivel de teatro, quero apresentar, agora que estamos reunidos, os melhores e mais sinceros agradecimentos a todos, Esta noite nio falo como autor nem como poeta, nem sequer como simples estudante do panorama riguissimo da vida do homem: falo como ardente apaixonado de um teatro de agio social. O tea- tro € um dos instrumentos mais expressivos e steis para a edificagdo de um pais; 6 o barémetro que marca a sua srandeza ou a sua decadéncia, Um teatro sensivel e bem orientado em todos os seus setores, da tragédia a0 vau- deville, pode em poucos anos modificar a sensibilidade do ovo; © um teatro desordenado, em que as patas subst- tuem as asas, pode abastardar e adormecer uma nagio intira © teatro & uma escola de légrimas ¢ de iso, uma livre tribuna onde os homens podem pér em evidéncia velhos ow equivocos principios de moral e explicar, com exemplos vivos, normas etemnas do coragéo € do senti- ‘mento do homem. ‘Um povo que no ajuda © nio fomenta 0 seu teatro, se no morreu ainda, esté moribundo; do mesmo modo ‘que 0 teatro que nao atende a pulsaglo social, & pulsagio historica, ao drama do seu povo e a genuina cor da sua paisagem € do seu espirto, através do riso ou das ligt mas, néo tem o direito de se chamar teatro, mas antes sala’ de jogo ou sitio para fazer essa coisa medonha que se chama ‘“matar o tempo”. Nio me refiro a ninguém em particular nem quero ferir ninguém; nfo falo da rea- lidade viva, mas do problema posto em tes. Todlos os dias ougo falar da crise do teatro, © penso sempre que 0 mal néo esti diante dos nossos olhos, mas sim no mais obscuro da sua esséncia; nio & um mal de flor atual, mas de raiz profunda, ou seja, 0 mal no esté nas obras mas sim na propria organizacdo. Enquanto os atores € 0s autores estiverem nas maos de empresas abso- Tutamente comerciais, eatregues a si proprias, e sem {qualquer fiscalizagio literéria ou estatal de nenhuma es- pécie, empresas carecentes de todo 0 ctitério © sem ga- rantia de nenhuma classe, os atores, os autores e todo 0 teatro cada dia mais se afundardo, sem salvago possive. © delicioso teatro ligeiro de revista, 0 vaudeville © ‘a comédia-bufa, géneros de que sou afeigoado especta- dor, poderiam defender-se e salvar-se ainda; mas 0 tea ‘ro em verso, 0 género hist6rico e a chamada zarzuela cada dia sofrerio mais reveses, porque sfo géneros muito cexigentes e que comportam as auténticas inovagbes, & no hé autoridade nem espirito de sacrificio para impo- -las a um piblico que precisa de ser dominado com ele- vagio e em muitas ocasibes contraditado e atacado. Eo teatro que deve impor-se 20 pblico, e no o pablico 20 teatro, Para isso, autores e atores terdo de reves mesmo & custa de sangue, de uma grande autoridade, porque o piblico de teatro é como as criangas nas esco- las: adora 0 professor grave austero que exige © faz justia, € espeta agulhas cruéis nas cadeiras em que se sentam os professores timidos € complacentes, que ensinam nem deixam ensinar. piiblico pode ser ensinado — repare-se que falo ‘em piblico, e no em povo —; pode ser ensinado, por- que eu vi Debussy ¢ Ravel serem vaiados hd anos, tempos depois assisti as clamorosas ovagbes que um pi- blico popular dirigia as obras que antes repudiara, Estes autores foram impostos por um alto crtério de autori~ dade superior ao do piblico comum; © mesmo sucedeu fa Wedekind na Alemanha e a Pirandello na Italia, ¢ a tantos outros. Hé necessidade de assim proceder para bem do tea- tro e para gloria e dignificagao dos seus intérpretes. Hé {que manter atitudes dignas, com a certeza de que serio recompensadas com juros. O contrério é tremer de medo nos bastidores e matar a fantasia, a imaginagio © a graca do teatro, que & sempre, uma arte, e sempre hd de ser uma arte excelsa, embora tenha havido uma época em que se chamava arte a tudo © que apenas servia para re- baixar a atmosfera e destruir a poesia. ‘Arte acima de tudo Arte nobilissima; © v6s, quer dos atores, artistas acima de tudo. Artistas dos pés a ccabega, pois que foi por amor ¢ por vocagio que haveis ascendi mundo ficticio e doloroso das tabuas do paleo. Artistas por ocupagio © preocupacio, No teatro mais modesto como no mais elevado deve sempre escre- ver-se a palavra “Arte” na sala e nos camarins, porque sendo teremos de escrever a palavra “Comércio” ou ou- tra ainda pior que no me atrevo sequer a dizer. E hie- rarquia, disciplina e sactificicio e amor, Nao quero dar-vos uma ligio, porque me encontro em condigies de recebé-las. O entusiasmo © a certeza ferro, senhor Svendson. SvENDsON — Com 0 maior prazer, Madame Tschek, uma barra de ferro usta uma coroa. Y. Catgapo — (Mexendo em sua bolsa) Ah, eu sei que ainda tenho ‘SVENDSON — Suas mios esto tre- mendo Madame Tschek. V. Carano — Esté aqui. (Encon- tra a moeda de wma coroa) Vindo para ef, fui sbordada por um homem gue me ofereceu ajuda € protesio. Isso acabou de me assustar. SvENDSON — E por que? V, Cargan0 — 0 senor sabe, entre todas as pessoas que conhego, eu nfo tenbo nenhum inimigo. Este hhomem € 0 Ginico que eu no conhe- 0. Bele quer ir a minha casa para me proteger, disse le. B inguietante, Ilo? Diga: 0 senhor no se sente smeagado? ‘SvENDSON — Fu? Nio, Todo mun- do € obrigado a estar bem comigo, Porque nesses tempos de inseguran- ¢2, todo mundo precisa do meu ferro, 2 ‘senhora compreende, Mesmo se todos se metem a brigar entre si, elas serio obrigados a me deixar em paz, porque eles precisam do meu fer, V. Catganos — Sim, 0 senbor esta sempre seguro de so liver, Até logo, senhor Svendson. Ela sai. ‘SvENDSON — (Pera fora) At logo, Madame ‘Tschek, eu enviarei sua barra. Ele se levanta ¢ ao som de uma ‘misica enervante se pée novamente 4 fazer gindstica sueca. Entra 0 clien- te. Ele esconde alguma coisa sob 0 (Cuienre — Quanto custa o ferro? SvENDSON — Uma coroa a barra, (Curnte — Nunca abaixa, Me dé 10 de sempre, SvENDsoN — Quatro barras, como de habito? CuENTE — Nio, oito. SVENDSON — Entio, sio ito coroas. Cuente — (Lentamente) Eu queria te fazer uma proposta, tendo cm vista 0 fato de que apesar de tudo, 16s. somos um pouco parents. SVENDSON — Nio que eu saiba, Curnte — Mesmo que voc8 nfo saiba, isso no tem nada. Eu quero te propor recorrer de agora em diante 2 um outro procedimento, um proce- dimento de troca: mercadoria por mercadoria, Estou certo que voce fuma charutos. Pois, eis aqui chan tos. (Tira do casaco uma caixa de charutos) Eu posso the deixar por um bom prego, bastante barato, ja que eles nfo me custaram nada, Eu os herdei de um parente, E eu nio fumo. 'SVENDSON come, Voeé ni los", Curnre — Custam dex ORE a pega. O que da dez coroas a caixa de cem. Mas, eu deixo... a voce. entre primos. .. por oito coroas, quer dizer pelo prego do ferro. De acordo? SVENDSON — Eu conhecia bem 0 vendedor de tabaco. Como cle morreu? CuENTe — Pacificamente, meu caro, pacificamente, Na paz e na tranquilidade, Era um homem de paz. Ele imediatamente me chamou. E este que esta acima de todos nés 0 cha- ‘mou para perto dele, Foi tudo muito rapido. Ele 36 teve tempo de dizer ainda: meu irmio, nfo deixe secar 0 tabaco. E entregou sua alma, Eu colo- ‘quel em seu timulo o bouquet que ele tina colocado em sua porta para me ddesejar as boas vindas. (Enxuga uma ligrima. O gesto faz deslizar_um revélver da manga da camisa. Ele 0 repde precipitadamente no lugar). Mas, enfim ele esté livre de um mun do bem sujo. Um mundo onde cada um desconfia de todos. Um mundo de agressdes, um mundo cujas ruas no slo seguras, Eu mesmo, nesses iti: Voce nfio fuma, no fuma ¢ sio “austril- ‘mos tempos carrego sempre comigo ‘uma arma. Descarregada, s6 para fazer medo. E entio, os charutos? SveNDson — Eu nfio devo me permitir fumar charutos. Se eu pu- desse comprar alguma coisa, seria antes, um par de sapatos. Curnte — Eu nfo tenho sapatos. Tenho charutos. E eu preciso do ferro. SVENDSON — Por que voc precisa de tanto ferro? Cuente — Ora, sempre se precisa de ferro. (Seu estdmago faz novamente um barulho cavernoso) SvENDSoN — Voc@ feria melhor se comprasse comida, Curente — Isso vied, Isso vird. B preciso que eu vi. Vejo que o tempo est chuvoso e eu estou vestido com uum terno de 1 de minha invengio, que no suporta a chuva, Talvez eu pudesse Ihe oferecer em troca do fer- ro um corte desse excelente tecido? ‘SvENDsoN — Bem, eu accito seus Austrillos. Meus negécios no vio tio bem quanto eu desejaria, Ele pega a caixa, Curnte — (Carregando as oito barras, com wm riso sarcéstico) Até logo, senhor Svendson, Svepson — (Ao telefone, fuman- do deliciosamente um austrillo) & vocé Dansen? O que vocé conta dos SGltimos acontecimentos? ... Sim, foi também o que eu disse. Eu nfo disse nada... Ah Ah Ah, voce também ndo se fez notar? Eu também nfo me fiz notar... ah sim, ¢ voc continua 7 a Ihe vender a mercadoria? Sim, eu também continuo a Ihe vender... Voeé também nio esté inquieto? Nao, eu também nio estou inquieto. Escurece, 3 0 ccalendiério da toja marca fevereiro de 1939. Svendson esté sentado e tuna wm charuto, Entram um senhor wna senhora, Homes — Caro Senhor Svendson, Madame Gall ¢ eu desejariamos ter ‘uma pequena conversa com o senhor, seo senhor puder dispor de seu tempo. SvENDSON — Senhor Britt, esteja convencide que eu estou constante- mente a disposigio do meu maior cliente 0 senor e a senhora sentam-s. Homem — Trata-se da assustadora agressio de que foi vitima Madame Tschek. SvENDSON — Uma agressiio a pes- soa de Madame Tschek? HomeM — Na noite passada, nos- sa vizinha, Madame Tschek, foi cada por um homem armado até os dentes, esse tipo que todos nés conhe- ‘cemos. Fle Ihe roubou tudo e a assas- sinou, Svenoson — Como? Madame ‘Techek assssinada? Como & poss ve? Honea — Sim, como? Nos sta mos jgualmente transtomados ¢ no 18 Ghegamos a compreender, Madame Gall era particularmente ligada vitima, Ontem & noite, nés escutamos gritos de socorro vindos da casa de Madame Tschek. Madame Gall veio minha casa ends conversamos durante horas sobre 0 que era conve niente fazer. Depois, fomos a case da infeliz ¢ a encontramos numa violet ta discusso com esse tipo. Ele exigia no sei o que dela, que ele dizia per- tencer a um parente dele, e n6s acon- selhamos a Madame Tschek ceder a esta busca, visto que ele prometeu a deixar em paz, Ela concordou e ele, por sua vez, prometeu. Mas, parece gue ele voltou mais tarde, durante a noite, e que simplesmente assassinou a infeliz Mutner — Naturalmente, n6s jamais terfamos saido, se nio tivesse- ‘mos confianga em sua promessa, Home — Trata-se agora de reu- rir todos os vizinhos numa associa gio que cuidaré para que aconteci- mentos parecides nfo acontegam novamente, E nés viemos perguntar- -Ihe se 0 senhor nio esté disposto a entrar na Associago para a manu- tengo da ordem, ¢ fazer figurar seu nome entre os nomes dos contribuin- tes, Ele the entrega uma lista, SvENDsox — (Pega a lista hesitan- do. Inquieto) Sim, mas eu no passo de um proprietétio de uma loja de quinquitharias. Eu no saberia me ‘misturar ao afrontamento das grandes firmas. Entrando para uma Associa- ‘glo desse tipo, eu faria soment tar elguns dos meus clientes. Muier — Ab, 0 senhor quer a qualquer prego vender seu ferro, pou- co importa a quem? SvENDSON — No 6 bem isso! Como pode a senhora dizer coisas desse tipo! Eu tenho uma consciéncia, como a de vocts, me parece. Somen- te, eu nfo tenho um temperamento belicoso, Nao se trata absolutamente de meu comércio, Relaxemos um pou co € vamos conversar tranquilamente (Para o homem) O senhor fuma? Homem — (Othando os charutos) Austrillos! ‘Muiier — Os senhores seriam amdveis em nfo fumar. SvENDsoN — (Irritado, esconde a caixa e 0 charuto) Desculpe-me. Hoste — senhor falava de sua consciéncia, senhor Svendson. SvENDsoN — Verdade? Ah, sim, naturalmente, Eu posso Ihe dizer que eu sinto pela violéncia, qualquer que seja, uma profunda aversio. Desde os ‘ltimos acontecimentos, eu no fecho mais os olhos durante’a noite. Com efeito, se eu fumo tanto atualmente, 6 pelo nervoso, Madame. Mutiter — O senhor, ento, no seria fundamentalmente hostl & idéia dde uma associago contra a violencia? SVENDSON — Hostil ou nifo, eu sou levado por motivos de matureza exclusivamente idealista, Homem — Nés niio duvidamos nem um instante de seu ponto de vista idealista, NOs estamos certos de que se 0 senhor vende seu ferro a esse tipo estranho, nfio é em absoluto por simpatia pela sua atividade! SvENDSON — Certamente: eu a condeno. HoMeM — E 0 senhor nio se sen- te também parente dele, como ele pretende? ‘Svexpsox — 0 iitimo do mundo, Homem — O senhor vende por- ‘que é pago © hi muito que lhe pagam, SveNpson — Exatamente, Howem — E 0 senhor pensa que esse tipo niio teria mais necessidade de seu ferro no momento em que 0 senhor fizesse parte de nossa Asso- ciacao pacifica, que garantiré sua se guranca e a dos outros? SVENDsoN — Fle precisa do meu ferro, naturalmente. E realmente, eu iio sei o que ele faz com o ferro Mutuer — (Gentilmente) Metra- Thadoras! SVENDSON — (Fingindo nto ter escutado nada) Nao, eu néo sei, mas de qualquer modo, ele me compraria © ferro. $6 que, como eu the dizia, isto podera irrité-to, o senhor com” preende, e eu sou de uma natureza pacifica e nfo se pode contrarid-la. E. para dizer tudo ads senhores, eu espe- ro justamente sua visita, e preferirin que ele no os encontrasse em minha Toja. B preciso dizer que ele possui luma enorme intuicio © que ele se magoa com uma facilidade inacre- Gitivel, Fagamme entio 0 favor Entra o cliente com um embrulho debaixo dos braces: Cutente — Quanto custa 0 ferro? SvENDSON — Uma coroa a barra, (Cuente — Oh, mas temos vi siio seus amigos Svendson? Svenpson — B... Sim... Nao, De uma certa mancira, Um encontro de negécis. Homem — Nos félavamos do assassinato de Madame Tschek, pra- ticado pelo senhor. (Cuente — Por mim? Home — Sim, (CureNTE — Mentira! Provocagio! Caliniat HomeM — Como? O senhor nega © assassinato de Madame Tschek? Cute — E como! Madame ‘Tschek que me foi recomendada por parentes préximos, me pediu para assegurar sua protegiio, Sob insistén- cia de nossos parentes eu consenti, € fontem me encarreguei de sua prote- io. Esta foi a éltima grande alegria de sua existéncia. Pouco depois, ela expirou_pacificamente entre meus bracos. De velhice, Eis a verdade, ¢ deste acontecimento os senhores, fazem, voces € 0§ outros, um assas- sinato! Pois, foram vocés mesmo que me confisram Madame Tschek! Vocés 2 abandonaram & sua sorte, como abandonam todos as seus ami gos. Meu caro Svendson, isso deve Ha fozé-lo refletis! Mutiter — Entdo o senhor s ccuidar de Madame Tschek? Curente — E por que eu Ihe faria mal? (Seu estémago ronca) Homem — E 0 senhor nega que ameaca todos os que passam por sua ports? CuENTe — Nego completamente! Eu vim comprar dezesseis barras de ferro, senhor Svendson. Mas, vejo gue reina aqui uma atmosfera que ime é hostil. Eu compreendo perfeita- mente que seria em vio esperar que senhor vendesse ferro a alguém que 0 faz sentirse ameagado. Consequen- temente, eu The pergunto, e pese bem. sua resposta: o senhor se sente amea- sgado por mim? ‘SVENDSON — Eu? Porque o senhor ‘me pergunta isso? Quantas barras 0 senhor quer? Ah, dezesseis? Se eu me sinto ameagado pelo senhor? Néo, eu nfo acredito que possam pensar isso de mim, O senhor entende o que que- ro dizer? CuIENTE, Homem e mulher — Sim! SveNDsox — (Embrulhando as barras de ferro) Bem, eu respondo: Niio, eu no me sinto ameagado. © homem € a mulher saem indig- nados. Curent — (Enquanto Svendson embrulha as barras para ele com a lista dos contribuintes) Bravo. Isto & ‘a0 menos coragem. N6s somos mesmo parentes, Svendson. Mesmo que voce ‘nfo queira aceitar. Mas, b4 tantas coisas que no queremos aceitar. Ab, ji que nds amamos tio fortemente a paz, poderfamos concluir um peque- no ‘pacto, nos termos de que vocé poderia usar as barras de ferro, etc... contra todos menos eu, € eu contra todos menos voce. SvENDsoN — (A gargania aperta- da) Eu ndo poderei aceitar. Meu ‘maior cliente CuENTE — Mas, eu preciso de mais ferro, Svendson. Estio tecendo desenhos negros contra mim, Querem ‘me atacar. Todos querem me atacar. Porque eles no suportam o espeté- culo da minha prosperidade. (Seu ‘estémago ronca de novo) E me ‘acusam de ter esfaqueado essa mu- Ther. Mentira! Mentiral Mentiral E ‘vor’ sabe 0 que eu encontrei depois ‘na casa dela? Uma barra de ferro! Ela me esperava na esquinal Voc 19 faa bem em ficar de fora dessas que relas repugnantes. Voce € ferriro, nfo um politico. Voeé vende seu fer- 0 a quem te paga. E eu compro de voc’ porgue voce me agrads, © por- que eu vejo que vocé. vive de seu Gomércio, Porque vor’ nio esté con tea mim, porque vocé nio. deixon ‘meus inimigos virarem sua cabeca, eis porque eu compro seu ferro. E por {qual outra razio eu 0 compratia? Nio € preciso fazer de mim um ini- migo. Outro dia voe’ queria sapatos. ‘Veja, eu touxe sapatos. (Ele desem- brulfa caixas de sapatos amarelos) ‘0 que voe’ precisa, Svendson. Eu posso lhe eeder por tm prego vanta- oso. Sabe quanto eles me custaram? ‘SvENDson — (Fracamente) Quan- to? Cuexte — Nada, E vocé enten- de, € voed que esta se aproveitando, Svendson, Sim, ns vamos nos tomar (0s melhores amigos do mundo, sobre- {udo, logo que nds estivermos com- pletamente de acordo sobre © prego do ferro, Mas, ito vird. Isto vita. ‘Agora, ajudesme com as barras, Stendson. Svendson ajuda-o a carregar as bar- ras. O cliente pega seis em cada braco 0 resto nas costas. Ele sai andando esadamente. SVENDSON — Até logo. Curnte — (Voliando-se ligeira- ‘mente da porta esorrindo) Até breve. 4 © Calendério da loja marca 192% Svendson passeia fumando um aus- 20 trillo e tem nos pés os sapatos de ‘madame Tschek. De repente soa um barulho de canhbes. Exiremamente inguieto, Svendson tenta telejonar, ‘mas no consegue. A linha esta ‘ocupada, Liga o rédio. Confusdo de ‘emissdes. Ele olha pela janela. Vé-se claroes de um incendio. SvENDson — A Guerra! (Corre para a tabuleta que indica o prego do ferro, apaga a cifra de irés e coloca rapidamente 0 prego quatro. Entra o cliente, 0 casaco deformado por toda sorte de coisas. Esté livido, Svendson escuta os barulhios) — Sabe da onde CueNTE — Vem do meu estéma- 0. Sabe, eu vou procurar 0 que ‘Somer, Mas, para isso, eu preciso de mais ferro. (Ele joga seu cascco para tris, des- cobrindo wma mini-metralhadora, € ‘encurrala Svendson). SVENDSON — Socorro! Socorro! (Cuienrs — Quanto custa o ferro? SveNpson — (Desmoronando) Nada, FIM NAO CONSULTES MEDICO Peca em 1 ato de MACHADO DE ASSIS. PERSONAGENS D. Leockoia, D. Cartora D. ADELAIDE CAVALCANTE Magauitkes: Um gabinete em casa de Magalhaes, na Tijuca. CENA I Macatiaes, D. ADELAIDE (Magathaes 12 um livro, D. Adelaide joiheta wm livro de gravuras) “MAGALHAES — Esta gente nio terd vvindo? D. ADELAIDE — Parece que nio, 44 sairam ha um bom pedago; feliz~ ‘mente o dia esta fresco, Titia estava tio contente ao almogo! E ontem? Vocé viu que risadas que ela dava, a jantar, ouvindo o Dr. Cavalcante? E 0 Cavalcante sério, Meu Deus, que hhomem triste! que cara de defunto! ‘Macatsties — Coitado do Caval- cante! Mas que quererd ela comigo? Falou-me em um obséquio. D, ADELAIDE — Sei o que 6. Macatsats — Que &? D. ADELAIDE — Por ora 6 sezro- do, Titia quer que levemos Carlota conosco. Macatsties — Para a Grécie? D, Aprtatpe — Sim, para a Gré- cia, Macauuizs — Talvez ela pense que a Grécia ¢ em Paris. Eu aceitei 2 legagdo de Atenas porque nio me dava bem na Guatemala ¢ nio hi otra vaga na América, Nem € s6 por isso; voce tem vontade de ir acabar lua de mel na Europa... Mas entio Carlota vai ficar conosco? D, Apetaine — E s6 algum tem- po. Carlota gostava muito de um tal Rodrigues, capitio de engenharia, {que casou com uma viva espanhola Sofreu muito, e ainda agora anda meio triste; ttia diz que hd de curé-la, Macatuthes — (rindo) & a mania dela, D. AELaipe — (rindo) $6 cura ‘moléstias morais. Macatnies — A verdade 6 que ‘nos curou; mas, por muito que the ppaguemos em gratidio, fala-nos sem- pre da nossa antiga moléstia. “Como vos meus doentezinhos? Nio é verdade que estio curadas?” D. AvELApE — Pois falemos-the 1nés da cura, para Ihe dar gosto, Ago- ra quer curar a filha, Macatnizs — Do mesmo modo? D. ADELAIDE — Por ora nfio. Quer mandé-la & Grécia para que cla es quoga © capitio de engenhari, Macatnizs — Mas, em qualquer parte se esquece um capitio de enge- nharia D. ADELAIDE — Titia pensa que a vista das ruinas e dos costumes dife- rentes cura mais depressa, Carlota est com dezoito para dezenove anos; titia nfio a quer casar antes dos vin- fe. Desconfio que ja traz um noivo em mente, um mogo que nao ¢ feio, mas tem 0 olhar espantado, Macatuies — & um desarranjo para nés; mas, enfim, pode ser que The achemos 1 na Grécia slgum des- cendente de Alcibiades (1) que a preserve do olhar espantado. D. ADELAIDE — Ougo passos. Ha de ser tia Macauities — Justamente! Conti- rnuemos a estudar a Grécia (Sentam-se outra vez, Magathaes endo, D. Adelaide fotheando 0 livro de vistas) CENA II (Os mesmo e D. Leockoin D. Leocbia (para a porta, desce pé ante pé, e mete a cabeca entre os dois) — Como vio os meus doente- zinhos? Nio é verdade que estio curados? Macatuass — (@ parte) — & isto todos os dias. D, Leockoia — Agora estudam a Grécia; fazem muito bem. O pais do casamento & que voc8s no preci ram estudar. D. ApELaie — A senhora foi a nossa geografia, foi quem nos deu as primeitas ligdes. D. Leociota — Nio diga ligées, ‘emédios. Eu sou doutora, eu sou ‘médica. Este (indicando Magalhdes), quando voltou de Guatemala, tinha ‘um ar esquisito; perguntei-Ihe se que- ria ser deputado, disse-me que nio; observeisIhe o nariz, e vi que era um triste nariz solitério, .. Macatiies — Ji me disse isto D. Leociows — (voltando-se para le € continuando) — Esta (desig- nando Adelaide) andava hipocond:is- 2. O médico da casa receitava pilu- Tas, edpsulas, uma porgio de tolces que ela nio'tomava porque eu niio deixava; © médico devia ser eu. D, Apetaine — Foi uma felcida- de, Que 6 que se ganha em engolir pilus? D. Leockoia — Apanham-se moléstias, D. Apstame — Uma tarde, fitan- do eu 0s olhos de Magalhies. D, Leochoia — Perdio, 0 nariz. D. ADELAIDE — V4 16, A senhora disse-me que ele tinha o nariz boni- to, mas muito solitirio. Nao entendi; dois dias depois, perguntou-se se que ia casar. eu ndo sei que disse, ¢ aca~ bei casando. D. Leoco1s — Nio 6 verdade que esto curados? Macatsiies — Peefeitamente D. Leockora — A propésito, como itd o Dr. Cavalcante? Que esquisitéo! Disse-me ontem que a cousa mais ale- gre do mundo era um eemitéri, Per- guntet-he se gostava aqui da Tijuca, respondeu-me que sim, e que o Rio de Janeiro era uma grande cidade.* B a segunda vez que a vejo, disse ele; feu sou do Norte. E uma grande cida- de, José Bonitécio & um grande ho- mem, a Rua do Ouvidor um poema, o chafariz da Carioca um belo chafa: Tiz, 0 Corcovado, o gigante de pedra, Gonsalves Dias, os Timbiras, o Mara- 2 nhdo...” Embrulhava tudo a. tal onto que me fez rir. Ele € doido? Macatsiies — Nao, D, Leocio1a — A principio, cuidei aque era, Mas o melhor foi quando se serviu 0 peru. Pergunteilhe que tal achava 0 peru. Ficou pilido, deixou fair 0 garfo, fechou os olhos © ao me respondeu, Eu ia chamar a aten- fo de yoo!s, quando le abrin, os ‘olhos ¢ disse’ com vor surda: “D. Leocédia, eu no conhego 0 Peru...” Bu, espantada, pergunte: *Pois no esti comendo?...” “Nao falo desta pobre ave; faio-the da repiiblica”. Macauitits — Pois conhece a re- pablica D. Lrockoa — Entio mentiu MacaLities — Nio, porque nunca foi I. D. Leocioia — (a D. Adelaide) — Mau! seu marido parece que tam- ‘bém esti virando o juz. (a Maga- Indes) Conhece entio 0 Peru, como voeés estio conhecendo a Grécia pelos livros. Macauiies — Também nao D. Leocioia — Pelos homens? Macatities — Nio, senhora, D. Leocipia — Entio pelas mu- heres? Maoatsiies — Nem pelas muthe- res. D. Lrocots — Por uma mulher? Macauitirs — Por uma mocinha, filha do ministro do Peru em Guate- mala, J4 contei a historia a Adelaide. (D. ‘Adelaide senta-se fotheando 0 livro de gravuras) D. Lxocioin —_(senta-se) — 22 Ougamos a hist6ria, E curta? Cavalcante estava em comissio do nosso governo ¢ freqientava 0 corpo diplomético, onde era muito bem vis- to. Realmente, no se podia achar criatura mais dada, mais expansiva, mais estimével. Um dia comecou = fgostar da peruana, A peruana era bela ¢ alta, com uns olhos admiréveis. Cavalcante, dentro de pouco, estava doudo por ela, nfo pensava em mais nada, nao falava de outra pessoa, Quendo a via ficava estético. Se ela gostava dele, nfo sei; € certo que 0 animava ¢ ja se falava em casamen- to, Puro engano! Dolores voltou para © Peru, onde casou com um primo, segundo me escreveu 0 pai D. Leocbia — Ele ficou descon- soledo, naturalmente, Quis matar-se; pude impedir esse ato de desespero, eo desespero desfez-se com légrimas. Caiu doeate, uma febre {que quase o levou. Pediu dispensa da io, €, como eu tinha obtido seis meses de licenga, voltamos jun~ tos. Nao imagina 0 abatimento em que ficou, a tristeza profunda; che- ‘gou a ter as idéias baralhadas. Ainda agora, diz alguns disparates, mas emenda-se logo e ri de si mesmo. D, Leockora — Quer que the diga? J ontem suspeitei que era negdcio de amores; achei-the um riso amar= go... Teri bom coragio? Macatnies — Coragiio de ouro. D. Leochpia — Espirito elevado? Macauities — Sim, senhora, D. Leockoia — Espirito elevado, coragio de ouro, saudades... Est entendido, Macausties — Entendido 0 que? D, Leockbia — Vou curar 0 seu amigo Cavalcante, De que € que vocés se espantam? D. Abetatbe — De nada, Macatuies — De nada, mas... D, Leochoia — Mas qué? Macauities — Parece-me. D, Leocéora — Néo parece nada; vooés so uns ingratos. Pois se con- fessam que eu curei o nariz de um & a hipocondria do outro, como € que poem em divida que eu possa curar a maluquice do Cavalcante? Vou curé-lo, Ele viré hoje? D. ADELAIDE — Nao vem todos os dias, as vezes passa-se uma semana. Macauitizs — Mora perto daguis vou escrever-Ihe que venha e, quando ccheger, dir-Ihe-ei que a senhora é 0 maior 'médico do século; cura 0 moral... Mas, minha tia, devo avi- sé-la de uma cousa; no Ihe fale em ceasaimento, D. Leockoa — Oh! nfo! Macauities — Fica furioso quan- do Ihe falam em casamento; responde {que s6 se ha de casar com a morte. A senhora exponha-Ihe: D, Leocip — Ora, meu sobs ‘nho, v4 ensinar 0 padre-nosso 20 vie girio, Eu sei que ele precisa, mas guero estudar primeiro o doente © a doenga. Ja volto. Macatsties — Nao the diga que eu & que Ihe contei o caso da pe- ruana... D. Leocipra — Pois se eu mesma adivinhei que ele sofria do corsgio. (Sai; entra Carlota.) CENA III Macatses, D. ADELAIDE, D. Cartora, D. Apstate — Bravo! esti m: corada agoral D. Cartora — Foi o passeio. D, ADELAIDE — De que é que vor ‘gosta mais, da Tijuca ou da cidade? D. Cartota — Bu por mim, fica- vva metida agui na Tijuea. MAGALHAES — Nao cereio. Sem bailes? sem teatro lirico? D. Cartora — Os bailes cansam, € ni temos agora teatro litic. Macauities — Mas, em suma, agui ‘ou na cidade, 0 que € preciso € que vvoeé ria; esse ar tristonho faz-lhe a cara feia D. CarLora — Mas eu rio, Ainda agora nfo pude deixar de rir vendo © Dr, Cavalcante, Macatsties — Por qué? D. CaRLorA — Ele passava a0 longe, a cavalo, tio distrafdo que le- vava a cabega caida entre as orelhas do animal; ri da posigio, mas lem- brei-me que podia cair ¢ ferir-se, estremeci toda. ‘MaGALHaes — Mas nio caiu? D, Canora — Nivo. D. ADELaipe — Titia viu também? D. Cantota — Mamie ia-me fa- lando da Grécia, do céu da Grécia, ddos monumentos da Grécia, do rei da Grécia; toda ela Grécia, fala como se tivesse estado na Gres D. ADELAIDE — Voc8 quer ir co- nose para la? D. Cantota — Mamie nio ha de querer. D. Avetape — Talvez queira (Mostrando-the as gravuras do livro) Othe que bonitas vistas! Isto so rui- nas. Aqui esté uma cena de costu- ‘mes. Olhe esta rapariga com um pote. Macauies — (a janelay — Cavalcante af vem. D, Cartota — Nao quero vé-lo, D, ADELAIDE — Por qué? D. Cartora — Agora que passou ‘© medo, posso rir-me lembrando a fi- gura que ele fazi D. AbELAIDE — Eu também vou, (Saem as duas; Cavalcante aparece & porta, Magalhdes deixa a janela.) CENA IV Cavatcanre, Macatitits Magauities — Entra. Como pas- saste a noite? CavaLcantE — Bem, Dei um belo pasieio; fui até a0 Vaticano e vio Papa. (Magalhdes otha espantado) Nio te assustes, no estou doudo. Eis 0 que foi: 0 meu cavalo ia para uum lado e o meu espirito para outro. Eu pensava em fazer-me frade; entio todas as minhas idéias vestiram-se de bburel, e entrei a ver sobrepelizes € tochas; enfim, cheguei a Roma, apre- sentei-me a porta do Vaticano ¢ pedi para ver o papa, No momento em que Sua Santidade apareceu, pros- ternei-me, depois estremeci; desper- teie vi que o meu corpo seguira atrés, do sonho, e que eu ia quase caindo. Macatwies — Foi entio que a nossa prima Carlota deu contigo 20 Tonge. Cavatcanre — Também eu a vi, € de vexado piquei o cavalo. Mncausizs — Mas, entio ainda no perdeste essa idéia de ser frade? CAVALCANTE — Nilo. Macatuies — Que paixio roma- nesca! Cavancante — Nio, Magalhies; reconhego agora que vale © mundo com as suas perfidias e tempestades, Quero achar um abrigo contra elas; esse abrigo € 0 claustro, No saicei nunca da minha cela ¢ buscarei ¢s- 4quecer diante do altar. . Macaties — Otha que vais calr do cavalo! CAVALCANTE — Nao te rias, mew amigo! Macatwies — Nio; quero 6 seordar-te. Realmente, esti ficando ‘maluco. Nao penses mais em seme- Thante moga. Hé no mundo mithares © milhares de mocas iguais a bela Dolores, Cavatcante — Milhares ¢ milha- res? Mais uma raziio para que eu me esconda em um convento, Mas é engano; ha s6 uma e basta Macacnies — Bem; nio ha remé- dio sendo entregar-te & minha tia, CavatcaNTe — A tua tia? Macatities — Minha tia eré que tu deves padecer alguma doenga mo- ral, — e adivinhou, — e fala de curar-te, No sei se’ sabes que ela vive na persuasio de que cura todas as enfermidades morais, CavatcaNte — Oh! eu sou um incuravell Macatnies — Por isso mesmo deves sujeitarste aos seus remédios. Se te no curar, dar-te-4 alguma dis- ttagdo, e € 0 que eu quero. (Abre a ‘charuteira que esté vazia) Olha, es- pera aqui, 1é algum livro; eu vou bus- car charutos. (Sal Cavalcante pega num livro € senta-se.) CENA V CavatcantE, D. Cantona, ‘aparecendo ao fundo D. Cartora — Primo... (Vendo Cavalcante) Ab! perdiol CCAVALCANTE — (erguendo-se) — Perdao de qué? D. CarLoTa — Cuidei que meu primo estava aqui; vim buscar um livro de gravuras de prima Adelaide; std aqui CAVALCANTE — A senhora viueme passar a cavalo, hé uma hora, numa posigio incSmoda e inexplicavel. D. Cartora — Perdio, mas. . Cavatcante — Quero dizer-he que eu levava na cabega uma idéia séria, um negécio grave. D. Cantora — Creio. Cavaucante — Deus queira que ‘nunca possa entender o que era! Bas- ta crer. Foi a distracio que me dew ‘aquela postura inexplicavel. Na minha familia. quase todos io ‘distdados. Um dos meus tios morreu na Guerra do Paraguai por causa de uma distra- ‘glo; era capitfo de engenharia D, Cantora (pertubada) — Oh! io me fale! Cavatcante — Por qué? Nao pode té-lo conhecido, D. Cartota — Nao, senhor; des- cailpe-me, sou um pouco tonta. Vou levar o livro & minha prima, Cavarcante — Peco-the perdio, mas. D. Cartora — Passe bem. (Vai até & porta.) CAVALCANTE — Mas, eu desejava saber... D. Cartora — Nao, nflo, perdoe- 24° -me. (Sai) CENA VI Cavarcante — (86) — Néo compreendo; nio sei se a ofendi. Fa- Iei no tio Joo Pedro, que morrew no Paraguai, antes dela nascer.... CENA VIL Cavateante, D. Leockoia D. Leocoia (ao fundo, @ parte) Esti pensando. (Desce) Bom dia, Dr. Cavalcante! Cavatcante — Como passou, ‘minha senhora? Leockpa — Bem, obrigada. Entfo meu sobrinho deixou-o aqui sé? Cavatcante — Foi buscar charu- tos, ja volta. D. Leockia — Os senhores sio muito amigos. CavaLcanTe — Somos como dous inmios, D. Leockota — Magalhies é um eorago de ouro € o senhor parece- “me outro, Acho-lhe s6 um defeito, doutor... Desculpe-me esta fran- gueza de velha; acho que 0 senhor fala tracado. CAVALCANTE. — algumas tolices, no? D, Leochoia — Tolices, & muito; uumas palavras sem sentido, Cavatcante — Sem sentido, ingensatas, vem a dar no mesmo. D, Leockpia — (Pegando-the nas ‘mdoz) — Olhe bem para mim. (Pau sa) Suspire, (Cavalcante suspira) O senhor esté doente; no negue que est doente, — moralmente, entenda- se; no neguel (Soltathe as maos.) jsse-The ontem Cavancante — Negar seria men- tir, Sim, minha senhora, confesso que tive um grandissimo desgosto. D. Leockoia — Jogo de pra- a? 2) CavaLcante — Nio, senhora, D. Leockoia — Ambigbes politi- ‘cas malogradas? Cavatcante — Nao conhego po- Iitiea. D. Leocioa — Algum livro mal recebido pela imprensa? CaVALCANTE — $6 escrevo cartas particulares, D. Leockota — Nio ating, Disa francamente; eu sou médio de ener- midedes morais e posso curé-lo. Ao médico diz-se tudo. Ande, fale, con- te-me tudo, tudo, tudo. Nao se trata de amores?.... Cavateante — (Suspirando) — ‘Trata-se justamente de amores. D, Leoco1a — Paixtio grande? CCavatcante — Oh! imensal D. Leockoia — Niio quero saber ‘0 nome da pessoa, nio é preciso, Na- turalmente, bonita? CAVALCANTE — Como um anjo! D, Leocipis — O coragio tam- ‘bém era de anjo? Cavatcane — Pode ser, mas de anjo mau. D. Leockoia — Uma ingrata. . CaVALcaNTE — Uma perversal D, Leocéo1a — Diabélica.. Cavatcante — Sem entranhas! D. Leocho1 — V8 que estou adi vinhando, Console-se; uma criatura esses nfio acha casamento. CAVALANTE — Ji achou! D, Leockoia — 36? Cavatcante — Casou, minha se- nora: teve a crueldade de casar com uum primo. D, Leocoia — Os primos quase ‘que nfo nascem para outra cousa. Diga-me, nfo procurou esquecer 0 ‘mal nas folias prOprias de rapezes? CavatcanTe — Oh! nol Meu ‘inico prazer é pensar nel. D. Leockoian — Desgragadol Assim nunca hii de sarar. Cavatcante — Vou tratar de es- quecé-la D. Lroc&o1s — De que modo? Cavatcante — De um modo ve- Iho, alguns dizem que ja obsoleto & arcaico. Penso em fazer-me frede. Ha de haver em algum recanto do mun- do um claustro em que no penetre sol nem lua. D. Leockoia — Que ilusio! Lé mesmo acharé a sua namorada. Ha de vé-la nas paredes da cela, no teto, ‘no cho, nas folhas do brevisrio. O siléncio far-se-4 boca da moga, a soli- “dio sera 0 seu corpo. Cavatcante — Entiio estou per- dido. Onde acharei paz © esqueci- ‘mento? D. Leockpa — Pode ser frade sem ficar no convento, No seu caso © remédio naturalmente indicado é ir pregar. .. na China, por exemplo. ‘Vé pregar aos infifis na China. Pa- redes de convento sio mais perigo- sas que olhtos de chineses. Ande, vi pregar na China, No fim de dez anos esti curado, Volte, meta-se no con vento e no achard Ii 0 diabo. CavatcanTe — Esti certa que na China... D, Leockoia — Certisima. CavaLcaNTE — O seu remédio 6 muito amargo! Por que € que me rio manda antes para o Egito? Tam- bbém & pais de if D. Leocioia — Nido serve; € a terra daquela rainha... Como se chama? CavatcaNTe, — Cleépatra? Mor- reu hi séculos! D, Leoco1 — Meu marido dis- se que era uma desmiolada, Cavatcante — Seu marido era, talvee, um erudite. Minha senhora, rio se aprende amor nos livros ¥ thos, mas nos olhos bonitos; por isso, estou ozrto de que ele adorava a V. Exe, D. Lrockowa — Ah! ah! Jao doente ‘comeca a adular 0 médico, Nio, senhor, hi de ir & China. Lé ha mais livros velhos que olhos bo- nitos. Ou no tem. confianga em mim? Cavarcante — Oh! tenho, tenho. Mas a0 doente permitdo fazer uma careta antes de engolir a pilula. Obe- ‘ego; vou para a China. Dez anos, si0? D. Leockors — (levanta-se) — Dez ou quinze, se quiser; mas antes dos quinze esti curado, Cavatcante — Vou. D. Leochota — Muito bem. A sua doenga é tal que s6 com remé- dios fortes. V6; dex. anos passam de- pressa. Cavatcaste — Obrigado, minha senhora. D. Lrocipia — Até lopo. Cavatcawte — Nao, minha se- hora, vou js D. Leocko1a — 34 para a China! Cavatcants — Vou arranjar_as malas, ¢ amonbi embarco para a Eu- ropa; vou a Roma, depois sigo ime- diatamente para a China, Até daqui 1 dez anos. (Estende-the a mio). D, Leockora — Fique ainda uns dias. CCAVALCANTE — Nao posso. D. Leockota — Gosto de ver es- sa pressa; mas, enfim, pode esperar ainda uma semana, CAVALCANTE — Nio, nfo devo esperar. Quero ir as pilulas quanto antes; & preciso obedecer religiosa- ‘mente a0 médico. D. Leochoia — Como eu gosto de ver um doente assim! O senhor tem f€ no médico, O pior & que da- quia pouco, talvez, no se lembre dele. CavaLcaNTe — Oh! no! Hei de embrar-me sempre, sempre! D. Leocéoa — No fim de dous anos escreva-me; informe-me sobre © seu estado e talvez eu 0 faga vole tar. Mas, no minta, olhe Mi; se jf tiver esquecido a namorada, consen- tirei que volte CAVALCANTE — Obrigado. Vou ter com seu sobrinho € depois vou arranjar as malas. D. Leocipa — Entio nfo volta mais a esta casa? Cavatcanre — Virei daqui a pou- co, uma visita de dez minutos, © de- pois desgo, vou tomar passagem no paquete de amanhi, D. Leocipia — Jante, 20 menos, conosco. Cavatcante — Tanto na cidade. D, Leoctbia — Bem, adeus; guar- demos 0 nosso segredo. Adeus, Dr. Cavalcante. Creia-me: 0 senhor me- rece estar doente. Hi pessoas que adoecem sem merecimento nenhum; a0 contrdrio, nfo merecer outra cou sa mais que uma sadde de ferro, O senhor nasceu para adoecer; que obedigncia a0 médico que focilida- de em engolir todas as nossas pilu- last Adcust Cavatcante — Adeus, D. Leos dia, (Sai pelo fundo.) CENA VII D. Leockons, D. ADELAIDE D. Leockpm — Com dous anos de China esti curado. (Vendo en- trar Adelaide) O Dr. Cavalcante saiu agora mesmo. Quviste 0 meu exame médico? D. ADELAIDE — Nao. Que Ihe pa- D. Leockoia — Cura-se D. ADELAIDE — De que modo? D, Leockpi, — Nao posso dizer; 6 segredo profissional. D. Avetaipe — Em quantas se- manas fica bom? D, Leockoia — Em dez anos. D. ApELAIDE — Misericérdia! Dez anos! D, Leockoin — Talvez dous; é mogo, e robusto, a natureza ajudaré a Medicina, conquanto esteja muito atacado. Ai vem teu marido, CENA IX Os mesmos, MacALIies Macaunies (a Leocddia) — Ca valeante disse-me que vai embora; feu vim correndo saber 0 que & que 26 the receitou, D. Leoc&oiy — Receitet-the um remédio enérgico, mas que ha de salvé-lo, Nao so consolagdes de ca cearacé (3). Coitado! Sofre muito, es- {i gravemente doente; mas, descan- sem, meus filhos, juro-lhes, a f€ do ‘meu grau, que hei de curé-lo. D. Leockow — Tudo & que me obedega, ¢ este obedece. Ob! aque Te cré em mim. E voces, meus filhos? Como vio os meus doentezinhos? Nao 6 verdade que estio curados? (Sai pelo fundo.) CENA X Macatuies, D, ADELAIDE Macatuies — Tinha vontade de saber o que € que ela Ihe receitou, D. ApELAIDE — Nio falemos dis- Macatatizs — Sabes o que foi? D. ApeLaie — Nao; mas titia disse-me que a cura se fard em dea anos. (Espanto de Magalhaes) Sem, dez anos; talvez dous, mas a cura certa 6 em dez anos. Macausties — (Atortoado). Dez D. Apetaibe — Ou dows Macatnizs — Ou dous? D. ApELaipe — Ou dez, Macatssies — Dez anos! Mas é impossivel! Quis brinear conti Ninguém leva dez anos a sarar; ou sara antes ou morte, D. AbELAIDE — Talvez ela pense ‘que a melhor cura é a morte. Macatisies — Talvez, Dez anos! D, Aprtatpe — Ou dous; nio es- quegas. Macatsties — Sim, ou dous; dous ‘anos & muito, mas, hi casos... Vou ter com ele D. ADELAIDE — Se titia quis en- ‘ganar a gente, no & bom que os es- tranhos ‘saibam, Vamos falar com cla; talvez que, pedindo muito, ela diga a verdade, Nio leves essa cara assustada; 6 preciso falarthe natu ralmente, com indiferenca. Macatitizs — Pois vamos. D. Abetatbe — Pensando bem, € melhor que eu va s6; entre muthe- Macauuties — Nao; ela continua ra a zombar de ti; vamos juntos, es- tou sobre brasas. D. ADELAIDE — Vamos. Macatuies — Dez anost D. ADELAIDE — Ou dous, (Saem pelo fundo.) CENA XI D. Cantora (enirando pela direi- ta) — Ninguém! Afinal foram-se! Esta casa anda hoje cheia de misté- ros. Ha um quarto de hora quis vir ‘gui, e prima Adelaide disse-me que nndo, que se tratavam aqui negécios ‘aves, Pouco depois levantouse © ‘salu; mas antes disso contou-me que mamée é que quer que eu vé para a Grécia, A verdade & que todos me falam de Atenas, de ruinas, de dan- gas gregas, da Acrépole... Creio que & Acrépole que se diz. (Pega no livro que Magalhdes estivera tendo, senta-se, abre e 1) “Entre 0s prom vérbios gregos, hi um muito ‘Nio consultes’ médico: consulta al guém que tenha estado doente,’ Consultar alguém que tenha estado oente! Nao sei que possa ser. (Con- tinua a ler em voz baixa.) CENA XII D. Cantora, CavALcanTE Cavateante (ao fundo) — D. Leoeidia! (Entra e fala de longe a Carlota, que esté de costas) Quando eu ia a sair, lembrei-me. D. Cartota — Quem é? (Levan- ta-se) ah! Dovtor CavaLcaNTE — Desculpe-me, nha falar 2 senhora sua mie para Ihe pedir um favor. D, Cartora — Vou chamé-ta, CavatcaNte — Nao se incomode; falar-Ihe-ei logo. Saber por acaso se f@ senhora sua mie conhece algum cardeal em Roma? D, Cartora — Nio sei, nfo, se- shor. Cavatcante — Queria pedir-the uma carta de apresentagio; voltarei mais tarde. (Corteja, sai e para) Ab! aproveito a ocasido para The pergun- tar ainda uma vez em que é que a fendi? D. Cartora — O seahor nunca me ofendeu, CaVALcANTE — Certamente que ‘no; mas ainda hi pouco, falando- Ihe de um tio meu, que motreu no Paraguai, tio Joao Pedro, capitio de cengenha D. Catora (atalhando) — Por que & que 0 senhor quer ser apresen- tado a um cardeal? CaVALcANTE — Bem respondido! Confesso que fui indiscreto com a ‘minha pergunta, J4 hi de saber que eu tenho distragdes repentinas, © quando nfo caio’no ridiculo, como hoje de manhi, caio na indiscrigio. ‘io segredos mais graves que os seus. E feliz, € bonita, pode contar com © futuro, enquanto que eu... Mas feu nfo quero aborrecé-a. O'imeu ca- so hd de andar em romances. (Indi- ceando o livro que ela tem na mio) Talvez nesse. D. Cantota — Nao & romance. (Délie 0 sro) CAvALCANTE — Ni? (Lé o titu- 10) Como? Ené estudando a Gré- D. CaRtora — Estou, CavateasTe — Vai para 16? D. Cartora — Vou, com prima Adelaide. Cavatcaste — Viagem de re- cercio, ou vai tratar-se? D. CaRtora — Deixe-me ir cha- ‘mar mami, Cavatcayte — Perdoe-me ainda uma vez; fui indisereto, retiro-me. (Dé alquns passos para sir). D. Cartora — Doutor! (Caval- ‘cante para) Nao se zangue comigo; sou um pouco tonta, 0 senhor & bom... CaVALCANTE — (descendo) Nao iga que sou bom; os infelizes so apenas infelizes. A’ bondade é toda sua. Hé poucos dias que nos conhe- cemios ¢ jf nos zangamos, por minha causa, Nio proteste; a causa 6 a mi- nha moléstia D. Cartota — O senhor esté doente? CavatcaNTe — Mortalmente, D. Cantora — Nio diga isso! CavAtcANTE — Ou gravemente, se prefere. D. Cantora — Ainda 6 muito, EB ‘que moléstia CavALCANTE — Quanto 20 nome, nfo hi acordo: loucura, espitito r0- ‘manesco ¢ muitos outros. Alguns di- zem que 6 amor. Olhe, esti outra vez aborrecida comigo! D. Cartota — Oh! nio, nio, (Procurando rir) B 0 contritio; es- tou até muito alegre, Diz-me entio aque esta doente louco. CAVALCANTE — Louco de amor, € 0 que alguns dizem. Os autores divergem. Eu. prefico amor, por ser mais bonito, mas a moléstia, qual- quer que seja a causa, 6 cruel ¢ ter rivel. No pode compreender este imbroglio (4); pega a Deus que a conserve nessa boa e feliz ignorin- cia, Por que € que me esta olhando ‘ssim? Quer talvez saber... D. Cartora — Nio, néo quero saber nada, Cavatcante — Nio 6 crime ser D. Cartora — Seja ou nfo lou- cura, nfo quero ouvir histrias como 2 sua, CAVALCANTE — J sabe qual & D. Cartora — Nis. CAVALCANTE. — Ni tenho dlcei- to de interrogé-las mas hd jé dex. mi nnutos que estamos neste gabinete falando de cousas bem esquisitas pa- a duas pessoas que apenas se co- nhecem, D. Cartota (estendendo-the a mio) — Até logo. CAVALCANTE — A. sua mio esti fria, Nao se vé ainda embora; hio de achié-la agitada, Sossegue um pou- co, sente-se. (Carlota senia-se) Ex retiro-me. D. CaRtora — Passe bem. CavaLcanTe — Até logo. D. Cartota — Volta logo? Cavancante — Nio, nfo volto ‘mais; queria engané-la. D. Cantora — Enganar-me por que? Cavatcante — Porque jé fui en- ganado uma vez, Ouga-me: sio duas palavras. Eu gostava muito de uma oga que tinha a sua beleza, ¢ ela easou com outro, Eis a minha mo- esti D. Cartota (erguendo-se) — Como assim? CavaLcanTe — B verdade; casou com outro. D. Cantota — (indignaday — Que agio vill CavacanTe — Néo acha? D. Cartora — E ela gostava do senhor? CavaLcaNTE — Aparentemente; mas, depois vi que eu nfo era mais que’ um passatempo. D. CarLota — (animando-se aos poucos) — Um passatempo! Fazia- cIhe juramentos, dizia-the que 0 se- thor era a sua tinica ambigio, 0 seu verdadeio Deus, parecia orgulhosa fem contemplé-lo’ por horas infinitas, dizia-the tudo, tudo, umas cousas {que pareciam ¢air do eéu, e suspira- CAVALCANTE — Sim, suspirava, D. Cantora — (muito animada) — Um dia abandonou-o, sem uma 86 palavra de saudade nem de con- solagio, fugiu ¢ foi casar com uma vidva éspanhola! Cavatcante — (espantado) Uma viva espanhola D. CaRLoTA — Ah! tem muita 28 razio om estar doente! CAVALCANTE — Mas que vitiva espanhola é essa de que me fala? D. CaRLoTA (caindo em si) — Eu falei-the de uma viva espanhola? Cavatcante — Falou. D. Cantota — Foi engano Adeus, Sr. Doutor. Cavatcante — Espere um instan- te, Creio que me compreendeu. Fa- Tou com tal paixto que os médicos no tém. Ob! como eu execro os mé= dicos! principalmente os que me man- dam para a China, D. CarLota — O senhor vai para a China? Cavatcante — Vou; mas nio ddiga nada! Foi sua me que me deu essa receita, D. Cantora — A Tonge! CAVALCANTE — creio até que esti fora do mundo. D, Cantora — Tio longe por aut CCaVALCANTE — Boa palavra essa. ‘Sim, por que ir & China, se a gente nde sarar na Grécia? Dizem que a iécia & muito eficaz para estas fe- ridas; ha quem afirme que nfio hi melhor para as que sio feitas pelos capities de engenharia. Quanto tem- po vai Id passar? D. CarLota — Nio sei. Um ano, talvez. Catvacante — Cré que eu possa sarar num ano? D, Cartora — & possivel CavaLcaNTE — Talvez sejam pre- cisos dous, — dous ou tres, D. Canora — Ou tres, Cavancante — Quatro, cinco. . D, Cartora — Cinco, seis. 6 muito Cavatcante — Depende menos do pais que da doenga. D Cartota — Ou do doente, Cavavcante — Ou do doente. 34 ‘a passagem do mar pode ser que me faga bem. A minha moléstia casou com um primo. A sua (perdoe esta ‘outra indiscricdo; & a iitima), a sua ‘casou com a vitiva espanhola. As es- ppanholas, mormente vitvas, so de~ testiveis.. Mas, diga-me uma coisa; se uma pessoa esti curada, que & que vai fazer & Grécia? D. CaRtota — Convalescer, natu- ralmente. O senhor, como ainda es- 14 doente, vai para’a China, CavatcantE — Tem razio, En- tretanto, comego a ter medo de mor- rer... Pensou alguma vez na morte? D, Cantora — Pensa-se nela, mas 1 vem um dia em que a gente aceita a vida, seja como for, CavaLcaNTE — Vejo que sabe muita cousa, D, CaRLOTA — Nio sei nada; sou ‘uma tagarela, que © senhor obrigou ‘a dar por paus € por pedras; mas, como é a tiltima vez que nos vemos, ‘nfo importa. Agora, passe bem. Cavatcante — Adeus, D. Care Total D. Cartora — Adeus, Doutor! Cavatcante — Adeus, (Dé um asso para a porta do fundo). Tal- ver eu vi a Atenas; nfo fuja se me vir vestido de frade... D. CarLota — (indo a ele) — De frade? O senhor vai ser frade? Cavatcante — Frade, Sua mie aprova-me, contanto que eu vi a China. Parece-The que devo obede- cer a esta yocagio, ainda depois de perdida? D. Cartora — B ditic a uma vocagio perdida. Cavatcante — Talvez nem a ti- vesse, ¢ ninguém se deu 20 trabalho de me dissuadir. Foi aqui, a seu ta- do, que comecei a mudar. ‘A sua vou sai de um coragio que padeceu tam- bém, © sabe falar a quem padece, Olhe, julgue-me doudo, se quiser, ‘mas €u vou pedir-Ihe um favor: con: eeua-me que a ame, (Carlota, per- turbada, volta 0 rosto). Nao ihe pe- G0 que me ame, mas que se deixe amar; é um modo de ser grato. Se fosse'uma santa, no pod smpeait que Ihe acendesse uma vela. D. Cantora — Nao faiemos mais histo, © separemo-nos, CALVACANTE — A sua vor treme; othe para mim. D. Cantora — Adeus; Ai vem ‘mamie, obedecer CENA XL Os mesmos, D, Leocioia D. Leocapia — Que ¢ isto, Dow- tor? Entio © senhor quer s6 um ano ‘de China? Vieramn pedir-me que re- ‘duzisse a sua auséncia, CavaLvaNte — D, Carlota Ihe di- 1 0 que eu desejo, D. CarLora — O Doutor veio sa- ber se mamie conhece algum cardeal em Roma, CavatcaNre — A. principio era ‘um cardeal; agora basta um vigério. D, Leockoia — Um vigitio? Pa- ra qué Cavatcanre — Nio posso dizer D. Leocbia — (a Carlota) Dei xa-nos 36s, Carlota; 0 Doutor quer fazer-me uma confidéncia, Cavatcante — Nifo, nfo, 20 con twétio. . Carlota pode ficar .O que ‘eu quero dizer é que um vigétio bas- ta para casar. D, Leockoia — Casar a quem? CAVALCANTE — Nilo & jé, falta- me ainda a noiva, . D, Leochoia — Mas quem é que me esta falando? CAVaLcaNTE — Sou eu, D, Leo- cfdia. D. Leociota — O senhor! 0 se- ‘noc! 0 senhor! Cavaucanre — Eu mesmo. Pedi susenga a alguém. D. Leocabia — Para casar? CENA XIV Os mesmos, MAGALHAES, D. ADELAIDE “MAGALHAES — Consentiu, titia? , Leocéo1a — Em reduzir a Chi- ha a umn ano’ Mas ele agora quer a vida inteira, MaGaLuAEs — Esta doudo? 1D, Leocapia — Sim, a vida intei- ta, mas & para casas. (D. Caclota tala barxo a D. Adelaide) Vove en- tende, Magalhies? Cavancante — Eu, que devia en- tender, no entendo. D. ADELAIDE (que ouviu D. Car- loa) — Entendo eu, O Dr. Caval- ccante contou as suas tristezas a Car- Jota, ¢ Carlota, meio curada do seu proprio mal, expés sem querer 0 que tinha sentido, Entenderam-se © ca- sam-se, D. Leocioia — (a Carlota) De- veras? (D. Carlota baixa os olhos) Bem; como é para saide dos dous, concedo; sio mais duas curas! Maoausties — Perdio; estas fize- ram-se pela receita de um provérbio rego que esti aqui neste livro. (Abre o livro) “Nao consultes mé- ico; consulte alguém que tenha es tado doente”. (1) Alabiades, — General stenense, helo do quilidades, mas. extrenaments fmbicios e!sem moral. (2) Jogo de praca ~ Refere-se& espe- culaedo comercial através os lances nt botss de valores, (3) De caomsed — Sem valor, de ppouea most, (4) Imbréghio — Confusso, 29 30 (© NOVO TABLADO — PROJETO DE SERGIO MORAIS O JUBILEU PRODIGIOSO ‘A PERSISTENCIA DO TABLADO EM MANTER. ‘ATIVA A CHAMA ACESA HA 25 ANOS NO PA- ‘TRONATO DA GAVEA RESISTE AS CONSTANTES MODIFICACOES POR QUE PASSA O TEATRO BRASILEIRO. 0 GRUPO FUNDADO POR MARIA CLARA MACHADO (QUE ATE HOJE SE MANTEM A FRENTE DO TABLADO) COMEMORA UM ‘QUARTO DO SECULO DE ATIVIDADES ININTER- RUPTAS, FIXANDO NO TEATRO NACIONAL UM PADRAO DE QUALIDADE E DE ACAO CULTU- RAL IMPECAVEIS © tbum que 0 Tablado acaba de publicar para documentar ¢ comemorar os seus gloriosos 25 anos de existincia 6, para quem participou da trajetdria do geupo ‘ou a companhou de perto, um volume cheio de emo- ‘elo; mas também, para quem quer que se interesse pelos destinos do teatro no Brasil, ume publicagio que merece uma certa andlise e reflexio. ‘Comegando, por ordem alfabética, com Acir B. de Castro ¢ terminando com Zé Rodrix, &relagio dos ato- res, diretores, cenégrafos, composites, cenotécnicos ¢ outros auxiliares que trabalharam no Tablado nestes 25 ‘anos abrange o impressionante total de 586 nomes. Mais dde meio milhar de pessoas receberam, no paleo do tronato da Gévea, # sua fundamental aprendizagem nio $6 de criagho artstica, mas também de coavivencia co- munitéria © de espirito de equipe. Muitos deles estio hoje profissionalmente engajados em teatro ou ativida- des afins; alguns, famosos e consagrados, outros em po- sig6es mais modestas, mas ainda assim ganhando o seu ststento gragas aos conhecimentos adquiridos no Tabla- do. Muitos outros, tabladianos mais recentes, ainda se reparam para tentar conguistar 0 seu lugar na selva de lum mereado de trabalho sempre ingrato. Ha ainda os ‘que, depois de uma ou algumas experigncias no grupo de Maria Clara Machado, ‘deram por encerrada sua efémera trajetria teatral, © concentram-se em outras atividades; mas mesmo estes guardam da sua passagem pela casa uma contribuigio importante para a sua for- ago geral como seres humanos. Hii o pequeno grupo dos fundadores que assinaram a primeira ata da ofpani zagho, a 28 de outubro de 1951, ¢ que até hoje perma- necem fis e dedicados a0 Tablado: Maria Clara Ma- chado, Eddy Rezende Nunes, Edelvira Fernandes, Joi0 Sérgio Marinho Nunes. E ha, finalmente, os que se foram para sempre ao longo do caminho: Andréa Guimaraes, ‘Anibal Machado, Ariel Miranda, Dirceu Nery, Emilio de Matos, Isi Bicalho, Jean Callado, Joel de Carvalho, Léa Duvivier, Martim Goncalves, Napoleio Moniz Frei- re, Sérgio Belmonte, Willy Lewin. ‘Nenhum outro sgrupamento teatral carioca ou lista, nem mesmo 0 poderoso TBC, fot capaz, nas tt mas décadss, de completar 25 anos de atvidades inin- terruptas, ede. partir alegremente para um segundo quarto de século de trabalho, Quais serio os segredoy que conferem ao Tablado esta vitalidade tio excepcional dentro das condigbes brasileiras? ‘Um deles 6 certamente a privilegiada infra-estrutu- ra do grupo, que dispBe de um teatro e de varias salas para uso permanente, mediante uma remuneragSo.pratic amente simbélica em comparagSo com o aluguel dos tea- tros comerciais. Acrescenta-se a esta vantagem o trabalho sratuito do elenco, com algumas raras excegbes 20 longo dos 25 anos. Em’ compensagio, 6 preciso lembrar que todos as ouiras despesas de producio slo pagis em igualdade de condigdes com as'do teatro profissional, € uitas vezes a prego mais caro, em decorréncia da Tidade de acabamento que constitu hé muito, uma mares registrada do Tablado. Por outro lado, | volume da arrecaagio & Timitado pelo tamanho do teatro, pela sua Tocalizagio, pelo seu relativo desconforto, elas des- Vantagens que © grupo, por ser amador, Teva em relax io a0 recebimento de verbas oficiis Outro segredo essencial 6 a personalidade © a ca- pacidade de lideranga de Maria Clara Machado, ¢ a sua total dedicacio 20 Tablado, que fez com que ela abrisse mio de uma promissora carreira de atrz, abandonasse um cargo pablico como professora de teatro ¢ recusasse, nos sitimos anos, varios postos e missBes de confianga que The foram oferecidos na administracio cultural. Ela Possui exatamente a combinagdo certa entre os elementos de presenga carismética e os de uma individualidade sub- missa a_um ideal coletivo, que Ihe permite manter sem- pre unidas e ativas as sucessivas geragbes de tabladianos Que passam pelo seu grupo, um processo de constante re- 31 novagio. E a garantia de seriedade e qualidade artstica que marca o seu trabalho, nfo obstante as inevitiveis variagGes de nivel entre os seus espeticulos mais 2 me- rnos bem sucedidos, abre-Ihe, por parte dos scus colabo- radores, um merecido crédito de confianga, que reforca, sua posigio de lideranga, ‘Muito importante foi, também, a dose de humil- dade com que Maria Clara soube temperar a nogio de vaidade inerente a qualquer trabalho teatral. Isto ficou particularmente patente por volta de 1960, quando 0 grupo teve de enfrentar a grande opcdo da sua hist6cia, Depois de ter sido, durante alguns anos, a cogueluche featral da cidade, langando alguns dos espetdculos mis, importantes da imprensa, o Tablado foi entio leva, pela ripida evolugio das companhias profissionais que aliciavam os seus melhores elementos, a escolher entre (© caminho da profissionalizagdo, que talvez Ihe permi- tisse manter-se por mais algum tempo em grande evi déncia, e a fidelidade a0 amadorismo, que o condenaria 2 uma constante renovagio dos seus quadros e, conse- ‘quentemente, a um trabalho mais anénimo, com énfase essencial no’teatro infantil e no trabalho de educagio ¢ formagio. Maria Clara teve a coragem de optar pela se- gunda solusfo, 0 que na época foi considerado por mui- tos como uma abdicagio e uma diminuicdo de status artistico. Hoje € facil perceber que se tivesse decidido competir com as companhias profissionais, 0 Tablado \ificilmente teria chegado a0 seu 25.° aniversério, en- quanto dentro do amadorismo ele soube conquistar uma PosicZo inteiramente sui generis, através de um trabalho relativamente silencioso, mas de extrema utilidade para © teatro brasileiro. F claro que este trabalho abrange 1iio 6 08 espeticulos mostrados a0 pdblico, mas também a publicacdo, ha vinte anos e 70 nimeros, dos importan- tissimos cadernos de teatros, a realizagio de cursos para professores © para atores, a manutencio de uma escol ha de arte denominada Centro Integrado de Artes Tablado, e a contribuigao para a criagIo de outros gru- pos de teatro, que se formam no Tablado € ganham, 20s oucos, vida ‘auténoma. Finalmente, hi de se mencionar a eficiente organi- zagio do grupo, que sob este aspecto poderia servir de ‘modelo — infelizmente inatingivel — a praticamente to- das as empresas de teatro profissional. Dificilmente, a0 longo dos 25 anos, algum espetéculo do Tablado deixou de estrear rigorosamente na data programada — um sau- 32 davel sinal de profissionalismo no bom sentido que os nossos profisionais sio incapezes de assimilar. O grupe ossui, por outro lado, um arquivo documentando toda a sua’histéria, que constitui um potencial material de pesquisa de inestimével valor. E, de um modo gecal, quem j teve algum relacionamento de trabalho com 6 Teblado sabe que as coisas ali funcionam de verdade, embora sem quaisquer desnecessirias complicagies bu- rocréticas, mas muito pelo contrécio dentro de um espi- rito de alegre informalismo que pode, equivocadamente, ser confundido com improvisagio. E por estas e outras que o Tablado tem bons 0 vos para encarar com otimismo o seu préximo quarto de séeulo de vide, que comesaré, salvo erro, com a sua produgio n.° $7. E que comegara, também, com o lan- gamento a venda de uma nova sétie de cadeiras cativas, (a primeira foi Tangada e esgotou-se ha 20 anos), com ccuja arrecadagio 0 grupo espera transformar a sua sala ‘num teatro bem equipado, moderno © confortével. YAN MICHALSKT JORNAL DO BRASIL, 18/1/77 TABLADO, ONTEM E HOJE Do Rio de Janeiro de 1951, que resta no Rio de Janeiro de 1977? (© Pio de Agucar sinda esta de pé, 0 Corcovado idem, mas a peisagem urbana levou patadas violentas. Em alguns pontos, desapareceu entre espigées, viadutos © Areas de estacionamento roubadas a vegetagio ¢ a0 lazer; e 0 que ficou est mais velado. Costumes, pes- soas, avenidas e coisas mudaram de fisionomia, Grand jornais calaram a boca para sempre. O humor ficow mais fcido. Mas desse ano tio remoto de $1 (no conto em unidade de tempo, falo em teor de vida), alguma coisa de bom permanceeu e mesmo floresceu e dev frulo, Uma sementinha invisivel, justamente plantada naguele ano cem casa de Ipanema que jé no existe — a 487, da Rua Visconde de Pirajé — sob as vistas do escritor Anibal M. Machado — hoje também desaparecido, mas agora, com justiga, bem mais lido do que entio — foi culti- vada ‘com amorosa teimosia ¢ tomou-se escola viva de teatro, quetida ¢ respeitada pelo que fez em 25 anos € continua fazendo. Esse Tablado! Quem podia imaginar que pegasse? Bolagdo de Maria Clara Machado de Martim Gongal- ves, seria talvez mais um projeto Tindo e inconsequente, muito embora a atmosfera intelectual da famosa. “casa de Anibal”, pouso dominical obrigat6rio de escritores € artistas, fosse altamente instigante. Quantos meses pode durar um grupo de amadores idealistas? Clara, fitha do dono da casa, mocinha artcire, mexia com testo de bo- necos, para se divertr,e eis que resolve mexer com tea- tro de gente de carne € 0850, tio mais dificil de manejar, Martim, jovem pernambucano, troca o diploma de mé- dico pelos rumos incertos da pintura e do teatro, Conse- suirio sair do mundo de faz-de-conta para o mundo real fem que as coisas se acotovelam, brigam entre si, pertur- ‘bam, surpreendem, esmagam? E logo um real 2m cujo centro € preciso manter a chama da fantasia, do impulso criativo — 0 sonho do teatro na crueza do cotidian? Pois deu certo, apesar das previsées. Ha sonhos que ganham corpo e sopro vital. Clara revelow-se autora ¢ iretora da mais alta qualidade estética: a imaginogio. Martim encontrou na fungio de diretor a sada existen- cial para sua inquetagio (hoje, ele também é uma sau- dade). E num quarto de século 0 Tablado, eriado pelos ois, formou stores, diretores, cendgrafos, figuinistas, compositores, téenicos em geral — e pibiico. Psbico infantil e publico adulto, misteriosameate conjumina pois € dificil estabelecer onde termina a linha infantil das pecas de Clara e onde comeca o espeticulo para ente grande. O certo é que todo mundo sai do teatriaho a Avenida Linew de Paula Machado, no Jardim Botd- nico, fascinado pelo que viu e ouviu. Da mais delicada falta’ de pretensio salu instrumento mais apurwo € constante: que jé se conseguiu moldar entre nds, para formagio de valores e&nicos estaveis, de uma cu'tura teatral enfim, tanto no plano da criagio como no da fruigio do prazer do teatro. Exatamente por ser modesto, por visar a fins limi tados, por agir sem esptito comercial, descobrindo vo- cagées e oferecendo-as depois ao profisionalsmo, mas Jmpondo-se uma disciplina de métodos de pesquisa ¢ pri- ticas de invencio, 0 Tablado se impds como esforgo vul- tural pioneiro. Tudo ali se improvisa, na aparéneia, © 08 recursos humanos sio constantemente renovados, mas a dindmica do processo obedece a uma filosofia imutivel 2 devogio ao teatro como fonte de vida, alegria e relle xo, para a qual devem ficar preparados, basicamente, 08 brasilerinhos de cinco a 15 anos. Ancorada no presente, visando a0 projeto imediato que exige adaptagies rep inas em face de problemas de toda ordem, téenicos, ma- teriais e financeitos, o Tablado esté executando trabalho para amanha e depois de amanhi. J4 formou uma gera- ¢4o. Pode formar outras. De sua equipe, nfo € féeil destacar nomes, pois to- dos se aplicam no’ mesmo empenho de fazer 0 mothor possivel © manifestam qualidades edmiravels, no esforgo a tarefa pelo gosto de tare, que & prémio em si. Grie po incessantemente renovado, mas que conta com ele- mentos figis de uma estupenda “velha guarda”, -empre jovem pela galhardia ¢ espiito de unidade. Dele se pode que acrescentou alguma coisa a0 Brasil, x0 plano spiritual e no plano conereto, pois aproximast do trivial de cada um de nds a emogio do fato e&nico. Nao esque- tendo que, gragas a Maria Clara Machado © ao seu pes soal, existe no. pais um novo conceito de teatro. para crinngas. Exla obra a0 mesmo tempo disereia ¢ icradiante nfo de brisa, Vive de dedicagées pessonis, da renda mo- 33 desta de seus espeticulos ¢ da boa vontade de uns tan- tos. Chega o momento de dizer que no basta. Vinte © nco anos depois de fundado 0 teatrinho sob os auspi- jos de benemérito Patronato da Gavea, suas instala- s6es precisam atender melhor ao piblico que 0 adora © ‘20 proprio grupo do Tablado, Maior espago e&rico, mais conforto para os espectadores, intérpretes e gente dos bastidores — eis a meta que’ se pretende alvancar. Se vvoeé tem um pouguinho de amor aos que tanto do de si para todos, d& sua contribuigdo para as obras progra- madas, O Tablado vai explicar de que maneira, Man ra que é também a melhor de festejar 0 seu 25.° ari sirio, Velinhas, sim; flores e canto, sim; mas algum di tnheiro também, para apoiar uma obra de coragio que é uma Tonga obra de arte. CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE TABLADO 25 ANOS © NOVO TABLADO Um teatro, em sua forma mais simples, & um espago ‘organizado, dentro do qual se desenrola uma representa- ‘glo dramética © se promove 0 encontro entre atores © espectadores. Esses espago se divide em duas partes comé plementares interdependentes: uma reservada ao jogo da ‘riagio teatral ¢ a outra destinada ao piblico. (© espago arquitetGnico criado, baseou-se na con- ccepeiio do teatro total, do espago totalmente livre, onde ‘2 efiagio no se limite a uma estrutura rigida da sala. 7 ELE ple Li tp [os] gene A relagio paleo platéia passa a ser questiondvel para ‘ada espeticulo. O esprco se veste para cada encenacio. ‘Os cendgrafos passam a incluir toda a sala na concepyio de seus cenérios. Com o funcionamento paralelo do espago como se- Ja de aula, essa necessidade do espago livre toruoa-se mais intensa, assim, a platéia passou a ser composta por médulos de diferentes alturas © comprimentos, removi- veis, © bastante leves, onde sio apoiadas as cadciras. Sio' esses médulos que possibilitam reformulagio do Ede ps Ren bY TARO! aeatue Pos ambiente, favorecendo um melhor desempenho na exis glo dos alunos quando em atividade, ‘O urdimento passa a abranger todo 0 espago, com a criagio de uma malha de estrutura metélica no teto, o2- de correm as instalagSes de um modo geral, e onde sio fixados 0s refletores © os elementos de cena, facilitando ccom isso as montagens ¢ reduzindo 0 custo’ das produ- bes. SERGIO S. MORAIS ARQUITETO 35 MINISTRO DA EDUCACAO VISITA “O TABLADO” No dia da comemoragio dos vinte e cinco anos de sua existéncia, o Teatro Tablado recebeu a visita do Ministro Ney Braga, Sabedor da existéncia de planos para reformulagio daquele teatro, S. Excia veio conite- cer os detalhes do projeto que Mauricio Sette ¢ Sério Morais idealizaram para a nova casa de espeticulos a set construida no mesmo local, a av. Lineu de Paula Machado, n.° 795. Durante a visita, 0 st. Ministro percorreu as depen. dtncias do Teatro, ingurin sobre. slgans aspectos do novo espago cénico e externou sua preocupagio de que (© Teatro Tablado nao deixasse de set 0 “teatro-escola” fem que se transformou ao longo dos seus vinte ¢ cinco ‘anos, e que Ihe tem valido 0 conceito de verdadeiro “ce Ieiro” de atores, diretores, cenégrafos, figurinistas, etc. para o teatro brasileiro, Prontificou-se ainda o ministro a contribuir através do Servigo Nacional de Teatro, com uma dotagio de Yerbas no valor de dois milhées de cruzeiros para a efe- tivagio das reformas planejadas, as quais deverio se iniciar em julho do corrente ano. Estiveram_presentes visita 0 st. Orlando Miranda, diretor do S.N.T.; 0 gravadora ¢ cendgrafa Anna Letycia; fo. Hugo Levy, uim dos grandes incentivadores do atual plano de reformas; st. Jodo Sérgio Martinho Nunes, dire- Tor-presidente do Teatro Tablado, bem como a diretora- “tesoureira, Eddy Rezende Nunes e a diretora-artistica Maria Clara Machado. DOS JORNAIS PREMIO IBEU A Diretoria do Instituto Brasl- Estados Unidos tem todos os motivos para estar contente com a edigio de 1976 do seu Prémio IBEU de Teatro. Desde a criagio do prémio, que se prope a estimular a montagem de bons textos norte-ameritanos no Rio, nunca o campo de ‘escolha foi tio amplo como dessa vez: nada menos de ito produgies — Tudo Bem no Ano que Vem, Putz, ‘A Fanilia Que Mata Unida, Os Filhos de Kennedy, A Margem da Vida, O Doce Péssaro da Juventude e Gata em Telhado de Zinco Quente — estava concorrendo & premiagéo, mostrando assim 0 predominio que a dra- rmaturpia. americana assumiu no repertério estrangeito apresentado no Rio nesse ano do Bicentenério da Inde- pendéncia dos Estados Unidos. E pelo menos tés destas produgbes — A Mais Sélida Mansdo, Os Filhos de Ken- nedy¢ A Margem da Vida — disputaram a escolha com frandes chances de vitéria e praticamente em igualdade de condigées, colocando 0 jt, integrado por Flavio Ma- rinho, Roberto de Cleto, Macksen Luis e por este reda- tor, sob a presidéacia do Dr, Murilo Belchior, numa si- tuagio dif. Prevaleceu final peso do\ texto de O'Neill, a coragem empresarial de’ Fernando Torres, 0 inesquecivel desempenho de Fernanda Montenegro: A ‘Mais Salida Mansao foi considerada a mais sigifcativa rmontagem de texto norte-americano mostrada no Rio em 1976, fazendo jus, asim, ao Prémio IBEU de Tea- to, © produtor Fernando Torres receberd um cheque, € medatha para todos os que contibuiram para o nivel Misti do espetéculo: a tadutora Barbara Heliodora, © diretor ¢ ator Fernando Torres, 0 cendgrafo e figuti- nista Marcos Flaksman, 0 compositor John Neschling € 0s imérpretes Tara Amaral, Fernanda Montenegro, Zanoni Femite, Antonio Ganzarolli ¢ Carlos Gregéno. (Yan Michalski Jomal do Brasil = 31/1/77) SESC: DESCENTRALIZACAO E TEATRO PARA O POVO A descentralizagdo do teatro foi um tema sempre deBitido pelas pessoas interessadas em ampliar o aleance das criagbes eénicas. £ sabido que o teatro profissional de hoje — denominado ironicamente pelos mais jovers de teatro — 6 uma atividade de alcance limitado a uma elite. O prego de uma produgio teatral € cada vez mais elevado; 08 donos dos teatros reclamam dos altos presos dde manutengéo de uma sala e compensam aumentando os aluguéis; os empresirios reclamam dos altos presos dos aluguéisestipulados pelos proprietérios e compensam faumentando os pregos dos ingressos; 0 pblico reclama dos altos pregos dos ingressos © compensa nfo indo 80 teatro, Logo, 36 nio reclamam 05 que podem pagar 0s altos pregos. E, ai, definese a minoria que tem possibi- Tidade de acesso as salas de espetéculo. ‘Ao mesmo tempo em que se discute 0 fema, fala-se muito, também, de teatro popular. A empresa teatral, com seus. altos custos, impede que 0 povo estabelega contatos com 0 teatro. De que forma entio, fazer teatro para o povo? As tentativas nesse sentido tém se desen- Yolvido muito através de grupos de teatro nfo-empresa rials, grupos esses que, por no serem obrigados a aceitar as regras do jogo do mercado, passam a atuar sem fins Iuerativos, ean salas pequenas’¢ adaptadas onde, geral- mente, propdem debates com a plata, numa tentaiva de fazer com que o piiblico sinta uma ida 20 teatro como algo vivo, dinimico, produtivo, enriquecedor. Nesse sen- tido tem que ser lowada a atvagio da Alianga Francesa que j& colocou trés salas & disposigfo dos grupos nio- “empresarais. Entretanto, a prépria localizagio dessas salas Copacabana, Botafogo e Tijuca — determinava que ‘mesmo cobrando_pregos baixos, a platéia continuasse fazendo parte de uma elite. Quer mora em Engenho de Dentro ou Campinho ou em Nitro difiilmente se des- locaré até tais bairos, inclusive, 0 economizado no pre- 40 do ingresso seria gasto no prego das passagens, 37 38 Felizmente, tivemos, além de salas novas e mais baratas, uma tentativa de ating, também, uma popula ‘plo moradora em regides virgens. Bonde entra a parti- Eipagdo do SESC. Este Orgio colocou a disposigio da populagio carioca © seu teatro em Sio Joio de Mert, com a capacidade de 470 lugares. Sob a administracao de Alfredo Mallet Soares, 0 teatto foi entregue 20 grupo TAL (Teatro de Abertura Lidica) para a apresentacio de “Sacos ¢ Canudos” de Dedires Demrés. Com duas se- manas em cartaz e sendo mostrada apenas de Quinta a Domingo, a pega jé foi vista por mais de duas mil pe- importante que abertura do Teatro de So Tofio de Meriti — que vende ingressos a comer- ifrios e dependentes ao prego de 8 cruzeiros — & a filosofia que existe por tris de tudo iss Joo de Meriti néo significa uma maravilhosa iniciativa isolada Ela faz parte de um projeto maior que ofereceré ainda novas alternativas & populago que mora distante da Zo- na Sul, onde se concentram os teatros e as atividades colturais da cidade. O SESC, preocupado em oferecer oportunidades de lazer e cultura aos moradores de re- sides diversas do Rio de Janeiro, jf anunciou para breve 1 inauguragio de seu teatro em Niter6i, Logo em seguida serd inaugurado 0 teatro do SESC, da Tijuca. E depois, ‘no importante centro de subsrbio que é Madureira, sera aberto outro teatro, A seguir o SESC invadiré Engenho de Dentro. E 0 projeto serd concluido com um quinto local: um teatro em Teres6polis. Além de servir 3S po- pulagSes regionais, 0 SESC, vem também, abrir novas perspectivas de mercado para as companhias teatrais, que poderio di £ de suma importincia, todavia, que haja uma escolha acertada do repertério ‘apresentado. preciso oferecer todos 05 géneros, desde que os espetéculos tenham algu- ma coisa a dizer. Pelo visto essa preocupagio parece ser desnecesséria pois, antes de comesar a inauguracio de seus teatro, o SESC vinha promovendo a ida de comer- iifios a espetéculos como “Otimo Carro”, “Santo In- quérito”, “Cangdo de Fogo" e “A Mais Solida Man- Sio", Aigm disso, promoveu debates ¢ avlas de teatro procurando aproximar cada vez mais 0 comerciério do fenémeno teatral. (Clovis Levi ~ © Globo = 14/2/77) ‘A MORTE DE PAULO PONTES No dia 27 de Dezembro de 1976 morreu Paulo Pon- tes, paraibano antes de tudo, teatr6logo, pensador, ana- lista'e, no entender de muitos, um homem que nunca deixou de refletir sobre a realidade nacional, de acreditar na possibilidade do teatro intervir na realidade de compreender 0 homem do povo. E foi para homenages- -lo que cerca de 30 artistas e amigos de Paulo Pontes realizaram um espetéculo no dia 7 de Fevereiro iiltimo, no Teatro Carlos Gomes, no Rio. ‘A noite apresentou um resumo de sua carreira, desde Parai-be-aba até Gota d'Agua, sua éitima pega encenada. Bibi Ferreira abriu o espeticulo: “esta no & uma noite de tristeza, mas serena ¢ alegre, por se tratar da home- ‘nagem a um homem que escrevia humor e coisas tio belas e amplas que jamais poderiam resultar numa noite triste”. Z Keti, Joo do Valle e Marilia Medalha apresenta- ram vitias canges do show Opinido, Carlos Vereza e Joo das Neves representaram 0 primeiro encontro de Paulo Pontes com Oduvaldo Viana Fitho, num hospital, ‘da Paraiba! “E aquele negécio de ter platéia com operitio, es- tudante, pequeno burgues, prostituta, rufio, aquela com- posigdo heterogénea que tinha nos espeticulos de Shx- Kkespeare, Conseguir um trogo assim hoje & que € 0 bacana, mas muito dificil. Inclusive porque eu me chamo Paulo Pontes ¢ nasci em Campina Grande e no William Shakespeare de Stratford-On-Avon”, Paulo Autran leu Juma carta que 0 poeta Ferreira Gullar escreveu P. Pontes logo apés sua morte, Teresa Rachel disse alguns ‘rechos de Liberdade Liberdade: “Eu nasti pra te can- tar ¢ te chamar, Liberdade”. Milton Morais interpretou ‘um monélogo de Um Edificio Chamado 200, seguido de ftalo Rossi em Brasileiro, Projissio: Esperanca. De- pois, Ziembinski voltou a protagonizar um momento da peoa Check-U; “O subdesenvolvimento um lengol curto, Se a pessoa cobre os pés, descobre a cabega; se co- bre a eabeca, os pés ficam de fora”. Grande Otelo e Paulo Autran viveram novamente San cho Panga e Dom Quixote em 0 Homem de La Mancha, produzida por Paulo Pontes. Jorge Déria apresentou ee a eo es Grande Famitia, escrita por PP durante algum tempo {para a televisio, mas que no dia nfo pode ser represen- fada, Mostrou-se também alguns trechos de pegas iné- ditas: Madalena Berro Solto (eserta para Dercy Gongal- ves) © Meu Filho, Mew Tesoro, Apresentaram-se ainda | Elizeth Cardoso, Edu da Gaita, Chico Buarque e Milton Nascimento (cantando juntos O Que Serd, Que Seré).. Femando Peixoto € 0 ciclo de debates do Teatro Casa '-Grande, no qual P. Pontes participou intensamente. E, finalmente, Bibi Ferreira em Gota d’Agua: | $6 que essa _ansiedade que voc diz nfo | coisa minha, nfo, € do infeliz do teu povo, cle sim, que vive aos trancos, pendurado na quina dos’ barrancos. Sew povo que é urgente, forga ‘eg, coragio 0s pulos, ele carrega um vleao amafrado pelo umbigo. Ele nfo tem tempo, nem amigo, nem futuro, que simples piada pode dar em risada ou punhalada. Com a mesma gacrafa de cachaga acaba em carnaval ou desgraga. E seu povo que vive de repente, porque no sabe ‘© que vem pela frente, Entio ele costura a fan- tasia e sai, fazendo f6 na loteria, se apinhando «© s¢ espoelando no estidio, bebendo no gargalo, pondo o radio sua propria tragédia, a todo vo: lume, morrendo por amor e por ciime, matando por tim mago de cigarros, se atirando debaixo do carro”. (Estraido do Jornal do Brasil, © Globo o Revista Veja — Fev/TT) 39 NOTICIAS DO SERVIGO NACIONAL DE TEATRO 267,587 INGRESSOS VENDIDOS NA CAMPANHA DAS KOMBIS DO SNT 159.369 ingressos foram vendidos no Rio, nas bi- Iheterias das kombis do SNT, que desde o dltimo dia 30 de novembro até 0 dia 31 de dezembro percorreram 54 Tocais diferentes, oferecendo ingressos a0 prego popular de CrS 15,00 (quinze cruzeiros) para adultos © CrS 5,00 (cinco cruzeiros) para espeticulos infantis va Campanha Teatro para Povo, patrocinada pelo Minis- tério de Educagio ¢ Cultura, através do Servigo Nacional de Teatro ¢ Fundagio Nacional de Arte —FUNARTE, com 0 apoio da Caixa Econdmica Federal sob os auspi- cios da Associago Carioca de Empresérios Teatras, Em Sio Paulo, as vendagens chegaram aos 102.782 ingressos para os 19 espetéculos adultos © 5.436 para (08 19 infantis, vendidos a Cr$15,00 (quinze cruzeiros) & CrS 7,00 (sete eruzeiros) respectivamente, desde 0 dia 29 de novembro até o dia 2 de janeiro, percorrendo 52 Dairros da periferia © subirbios. No Rio, 151.226 ingressos foram vendidos para os 28 espeticulos adultos ¢ 8.143 para os 27 espetéculos infantis. Segundo o presidente em exereicio da Associa gio Carioca de Empresirios Teatrais, José Renato, esses miimeros ao representam simplesmente a pref réncia do péblico, mas a relagao entre o nimero de tu gares que cada companhia colocou a disposigéo da Cam- panha, em fungo da lotagao do teatro € dos interesses de ceada empresa. Assim, os teatros, com mais de mil luga- res, como 0 Carlos Gomes, colocaram mais de 700 in- ‘gress0s por sessio, para serem vendidos nas kombis, en- {quanto que o Princesa Isabel ou 0 SENAC e Opinio, por exemplo, com lotagio pequena, apenas puderam dispor de cotas pequenas com cerca de 100 ingressos por sesso”. Foram os seguintes, os resultados em termos nu- ‘méricos, das vendagens ‘da Campanha Teatro para 0 40 Povo, no Rio GOTA D'AGUA 20.748; CINDERELA DO PE- TROLEO 15.737; A MULHER INTEGRAL 13.121; GATA EM TETO DE ZINCO QUENTE 12.695; 0 (© SANTO INQUERITO 8.758; A LONGA NOITE DE. CRISTAL 8.717; 0 ULTIMO CARRO 8.431; 0 REN- DEZ-VOUZ 6.993; VIVALDINO CRIADO DE DOIS PATROES 6,596; TUDO NO ESCURO 5.560; GRETA. GARBO ACABOU NO IRAJA 5.273; EQUUS 5.192; (OS FILHOS DE KENNEDY 5.145; FEIRA DO ADUL- TERIO 4.910; A MARGEM DA VIDA 4.473; DANA- GAO DAS FEMEAS 3.842; 0 QUARTETO 3.441; DOCE PASSARO DA JUVENTUDE 2.940; A GAR- CONIERE DO MEU MARIDO 2.041; MEXER E PO- DER 1.415; MAE CORAGEM 1.340; PEQUENAS HISTORIAS DE GARCIA LORCA 1.067; PREMIE- RE 1.013; ATE QUE O SEXO NOS SEPARE 919; SA~ COS E CANUDOS 688; MACABRO SHOW 98; OPE- RA 38; UMA PROPRIEDADE TRADICIONALMEN- TE FAMILIAR, que saiu do cartaz, permanecendo apenas uma semana na Campanha das Kombis com 36 ingressos. Em Sio Paulo, foram os seguintes os resultados das vvendagens para os 19 espetéculos em cartaz que parti- param da Campanha Teatro para 0 Povo: PONTO DE PARTIDA 15.129; A NOITE DOS CAMPEOES 14.779; ALEGRO DESBUM 9.630; MA~ HAGONY 9.555; SERIA COMICO SE NAO FOSSE SSERIO 9.508; A MORATORIA 7.529; BONIFACIO BILHOES 5.797; 0 HOSPEDE INESPERADO 4.297; ‘A FLOR DA PELE 4.201; TUDO BEM NO ANO (QUE VEM 3.982; OS HOMENS 3.345; TEMPO DE ESPERA 3.254; DOROTEIA VAI A GUERRA 2.526; CARLA, GIGI E MARGOT 2.419; A BOLSINHA. MAGICA DE MARLY EMBOABA' 2.112; VAMOS BRINCAR DE PAPAI E MAMAE ENQUANTO SEU FREUD NAO VEM 1.866; TISTU, 0 MENINO DO POLEGAR VERDE 1.508; DOIS OU TRES BURA- COS NO FUNDO DO MEU QUINTAL 719; ALZIRA POWER 626, Além do Rio ¢ Sio Paulo, a Campanha das Kombis também teve lugar em Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba ¢ Salvador. DEPOIMENTO DE DIAS GOMES eps no Servigo Nacional de Teatro © dramaturgo Dias Gomes entrevistado pela atriz e empreséria Tereza Rachel, o dramaturgo Aldomar Conrado, o ator e pro- fessor Roberto de Cleto ¢ o dietor José Renato, O de- poimento foi eoordenado por Sebastiio Uchoa Leite, contando ainda com a presenga de Ruth Mezeckl, do Setor de Comunicagdo Social do SNT, jornalistas, fot zrafos ¢ téenicos de TV. Alfredo de Freitas Dias Gomes nasceu em 1922, ‘em Salvador, Bahia, onde realizou 0s primeiros estudos, Comegou a escrever teatro ainda muito jovem, ganhan- do um prémio do SNT aos 15 anos de idade com a pega “Comédia dos Moralistas”. (© dramaturgo comecou por recordar que nasceu na Rua_do Bom Gosto (hoje Jodo das Botas) no bairro dda Canela. A mania de Teatro veio cedo: 20s nove anos fazia pecinhas em espeticulos de circa. Aos 15 jé estava consagrado com um prémio do SNT. Aos 18 esereveu ‘uma pega antinazista que ninguém quis levar, $6 foi montada em 1943, com 0 pals j4 definido a favor dos aliados. Na época, aproximou-se do ator Jaime Costa, rival de Procopio Ferreira. Depois de recusar um dra: ma de Dias Gomes, Jaime Costa sugeriu-the uma sétira de “Deus the pague”, o drama de Joracy Camargo que foi o grande sucesso de Procépio. Um més depois do ppedido estava pronta Pé de cabra, mas Jaime Costa, te~ mendo a censura, no quis montar. Pouco depois Dias Gomes procurou Procépio Ferreira com uma apresenta- ‘gio ¢ mostrou-Ihe um drama, Proc6pio achou boa a peca ‘mas pediu uma comédia, Com a permissio de Jaime Costa, a comédia encaminhada foi justamente “Pé de Cabra” que, paradoxalmente tinha sido escrita para sa- tirizar “Deus the Pague”. “Nunca pude contar essa his- ‘ria enquanto o Jaime e Joracy estavam vivos. Foi uma ‘confusio engracada, pois passei por continuador do J racy", explica 0 dramaturgo, acrescentando que Proc pio the deu um grande susto ao dizer: “sua pega sera fencenada dentro de 15 dias”. O resultado de tudo isso foi um contrato assinado com Procépio para Dias Go- mes ser autor exclusive da companhia, com a obrigagio de produzir 4 pegas por ano. Desse contrato, que hoje Dias Gomes acha extravagante, mas na época Ihe pare ‘eeu timo, resultaram as pegas: “Zeca Diabo”, “Jodo ‘Cambao” € “Doutor Ninguém”. Esta titima somente su iu a cena porque o protagonista, um negro foi substi- twido por um branco “Isso no ‘vem em demérito de Procépio” — explica o dramaturgo — “porque se trata- vva de um preconceito da época, com 0 qual eu procura- va romper", Na ocasiio, Procépio teria dito: “ha dois tabus no teatro que no se pode quebrar: negro s6 pode ser criado e padre tem de ser bom”. Observa o drama- turgo: “rompi com todos dois”. Dias Gomes acentua que j na sua primeira fase as preocupagSes socinis eram uma constante do seu teatro. ‘Acha porém que surgiu num momento nfo muito bom para o teatro brasileiro, quando mesmo as pecas que procuravam retratar a situagio brasileira incidiam dema- siado pitoresco, sem um aprofundamento da realidade. Faz. muitas eriticas & época, inclusive ao conccito de es petéculo, onde reinava a improvisacao. S6 alguns ten- tavam uma renovaedo. “Foi com Os Comediantes, com a vinda de Ziembinski, que surgiu um novo conceito de teatro no Brasil” Assim, achando que no tinha muitas chances no ambiente teairal da época, aceitou, em 1944, tum convite de Oduvaldo Vianna, 0 pai, para ir defini- tivamente para Sio Paulo, traballiar no rédio. Foram dez. anos de retiro teatral, nos quais dre maturgo adaptou para 0 rédio inimeras pegas e roman- ‘ees. “Li muito nessa época, teve isso de bom, li quase toda a literatura mundial”. Em 1954 Dias Gomes res- ssurgiu no teatro com a pega Amanhd serdé outro dia, pe Ia Companhia de Jaime Costa. “Foi um fracasso” — ‘comenta o dramaturgo — “pois nos ensaios ainda ocor- reu o suicidio de Getilio, um trauma nacional, ¢ Jaime Costa, getulisia exaltado, entrou em depressio. A pega ‘no conseguiu muito”. (© grande éxito veio em 1959 com “O Pagador de Promessas", filmada pouco depois por Anselmo Duarte. Depois Dias Gomes escreveu "A avasao”, “A Revolu- ‘go dos Beatos", “O Santo Inquérito”, "O Bergo do He~ 76i", “Dr. Getilio, sua vida, sua gloria”, esta ultima em colaboragio com © poeta Ferreira Gullar, que 0 drama- turgo rememora longamente, “E dificil saber quais os versos que sio meus € quais 0s dele, x6 que o Gul elocou os meus, pois nunca me julguei muito poeta’ ‘A nova fase do teatro de Dias Gomes, segundo ele, veio a a2 juntamente com uma enorme renovago da realidade bra- Sileira a partir da década de cinquenta. Mas o dramatur- go acha que a diferenga entre as suas duas “fases” & s0- bretudo de aperfeigoamento técnico. ‘A fase mais recente de atividade de Dias Gomes & 1 do seu trabalho na TV, & qual foi levado por diversas dificuldades, inclusive econmicas. O dramaturgo escla- rece, "Mas’ no tenho preconceito contra a telenovela. ‘Acho uma atitude burra 0 preconceito contra formas no- vvas. $6 que a telenovela esti engatinhando, ainda esta- ‘mos buscando a sua Iinguagem. Hi o perigo da estraifi- cago, de que 0s autores da TV se contentem com {6r- rmulas, ¢ af sim a telenovela vira uma coisa académica, ‘A telenovela sofre influéncias do dia-a-dia. Por exe plo, em O Bem Amado incorporei os fatos de Water- ‘Apés falar algum tempo de suas experigncias e if culdades na TV, 0 dramaturgo conta a sua viagem te ‘eente aos Estados Unidos e enumera alguns pafses onde fas suas pegas foram levadas: Franca, Polonia, URSS., Axgentina, Uruguai, Cuba, etc. O Pagador de Promessas 6 a sua pega mais montada no exterior. “S6 nos Estados Unidos ha seis montagens”. Dias Gomes encerra dizendo que 0 teatro esté em crise em todo 0 mundo (‘“Ndo consegui ver nada de no- yo em Nova York"). “Mas” — explica — “além dessa crise internacional, © nosso teatro sofre uma crise nati- vva, conjuntural. Acho, porém, que a dramaturgia brasi- leita esté sofrendo um processo de revisio. Estamos ‘buscando caminhos, saindo de uma noite escura, por isso acho vélida uma reavaliagio do que fizemos. Por isso, ‘essa volta de pegas minhas (refere-se a Santo Inguérito) ‘esté sendo para mim gratficante”. E conclui anunciando ‘a Missa para os Desafinados, a pega que esté escrevendo ‘no momento. SNT DIVULGA RESULTADO | CONCURSO NACIONAL, DE MONOGRAFIAS Diretor de Servigo Nacional de Teatro divulgou 0 resultado do 1 Concurso Nacional de Monografias insti- tuido pela Portaria n.° 31 de 15 de julho de 1976, e regulamentado pelo Edital .° 7/76, © I Concurso Nacional de Monografias — ensaios sob:e qualquer tema ligado ao teatro brasilero, ou quais- quer de seus aspectos, de sua histéria, de sua’ dramatur- gia, do espetéculo, ou de assuntos ligados a teatro na educagio, dard ao primeiro colocado Cr$. 25.000,00, a0 segundo Cr$ 20,000,00 e 20 terceiro Cr$ 15.000,00. Sfo 0s seguintes, os premiados entre os 20 concor- rentes: 1.2 lugar — Valdemar de Oliveira de Recife, fun- dador, diretor € ator do Teatro de ‘Amadores de Pernambuco ¢ livre docente da Faculdade de Medicina de Pernambuco. Concorreu_com 0 pseudénimo de “Guabiru”. Titulo da ‘monografia: O | “CAPOEIRA” UM TEATRO DO PASSADO. 2.8 lugar — Maria de Lourdes Rabetti Gianella ¢ Tania Brandio Pereira das Neves, ambas do Rio, alunas da Escola de Teatro da FEFIERJ, concorreram com o pseudénimo ‘de “Pata Pataté..." Titulo da_monogr: “DA ANALISE DO TEXTO TEA- TRAL”, 3.° lugar — Maria Flora Sussekind, aluna do Cur- so de letras da PUC do Rio, concor- reu com o pseudénimo de “Ca ‘bra_Vadia". Titulo da_monografia: “NELSON RODRIGUES E O FUN- DO FALSO”, Prémio de Publicacdo: Milton Jo40 Bacarelli de Re- cife, Professor de Estética e Histéria do Teatro da UF-P., Coordenador de Licenciatura em Educagio Artistica de UEP, e pesquisador da Fundagio do Patrimdnio His- térico € Artistico de Pernambuco. Concorreu com 0 pscudénimo de “Brandonio”. Titulo da monografia: “IN- TRODUCAO AO TEATRO JESUITICO NO BRASIL”. Foram indicados ainda pela Comissio Julgadora seis textos que poderio ser solicitados aos autores para fazer parte do Servigo de Documentagio do SNT, pelo trabalho de pesquisa que envolvem que thes da valida- dde em termos de registro © meméria teatral ‘A centrega dos prémios sera realizada em ato pibl co em data a ser fixada pelo SNT. ‘A Comissio Julgadora foi composta por YAN MI- CHALSKI, critico teatral do Jornal do Brasil, pelo jor- nalista e eritico teatral ARMINDO BLANCO ¢ ALBER- TO GUZIK, professor da Escola de Teatro da USP ¢ critica teatral da Ultima Hora de Sio Paulo. Presidiu 0 juri, 0 Diretor do SNT, ORLANDO MIRANDA. 43 MOVIMENTO TEATRAL JAN/FEV/MARCO — 1977 ‘TEATRO ADOLFO BLOCH Doce Péssaro da Juventude, de Tennesse Williams. Diregio de Car- los Kroeber, com Ténia Carreiro, Nuno Leal Maia, Carlos Kroeber & ‘outros. Ingresso 70 eruzeiro. TEATRO BNH Equus, de Peter Shatfer. Ditegéo de Celso’ Nunes, com Rogério Frdes, Ricardo Blat, Monah Delacy, Betina Viany © outros. Ingresso 60 cru TEATRO DE BOLSO AUé que 0 sexo nos separe, de Barit- let e Grédy. Direcgo de Aurimar Rocha, com Anilza Leone, Agnes Fontoura, Aurimar Rocha ¢ outros. Ingresso 60 cruzeiros. ‘TEATRO CACILDA BECKER Tempo de Espera, rotiro e dite- eho de Aldo Leite, apresentado pelo grupo Mutirio de’ So Luis do Ma- Fanhfo, Ingresso 20 eruzzitos, Auto da Compadecida, de Aviano Suassuna. Diregdo de Fernando Tei- xeira, apresentado pelo Teatro da Universidade Federal da Paraiba, com a partcipagio do grupo folclé- rico da Paraiba, Ingresso 20 cruzei- ros. TEATRO CARLOS GOMES Gota d’Agua, de Chico Buarque Paulo Pontes. Diregio de Gianni Rat- to, com Bibi Ferreira, Francisco Mi- lani, Lafaiete Galvio ¢ outros. In- _esso 60 cruzeiros. TEATRO CASA GRANDE Vivaldino Criado de dois Patrdes, de Goldoni, “adaptagio de_Millor Fernandes. Diregdo de José Renato, Com Grande Otelo, Tala Nandi, Ari Fontoura ¢ outros. Ingresso 60’ eru- eiros, TEATRO DULCINA Danagto das Fémeas, de Leslie Stevens. Diregio de Derci Gongal- ves, com DG, Edson Guimaries, Li- dia Vani © outros. Ingresso 50 eru- TEATRO COPACABANA Gata en teto de zinco quente, de Tennesse Williams. Diregio de Paulo José, com Teresa Raquel, Paulo Gracindo, Antonio Fagundes, Jacqueline Laurence ¢ outros. In- igresso 60 cruzeiros. TEATRO GLAUCIO GIL Pequenas Histérias de Lorca, tex- tos de F. G. Lorca. Diresio de Ilo Krugl, com IK, Beto Coimbra, | Eduardo Machado, Silvia Adere, | Xuxa Lopes e outros. Ingresso 50 | eruzeiros Sacos e Canudos, de Dedires Dem- 16s. Dirego de José Carlos de Sou- sae Davi de Medeiros, Apresentado pelo grupo TAL, com Jane Thomé, vo Penha ¢ outros. Ingresso $0 crus zeitos. TEATRO GINASTICO Cinderela do Petréleo, de Jomo Bethencourt, Diregio do autor, com Norma Blum, Felipe Wagner, Milton, Carneiro, Berta Loran, Ari ‘Leite ¢ outros. Ingresso 60 cruzciros. Week-End, de Noel Coward. Di- regio de Alcides Melo, com Lia Fa rell, Ligia Rinelli, Guilherme Mar- tins e outros. Ingresso 20 cruzeitos. ‘TEATRO GLORIA A Longa Noite de Cristal, de Oduvaldo Viana Filho. Diregio de Gracindo Jénior, com Oswaldo Lou- reiro, Maria Claudia, Isabel Teresa, Pedro Paulo Rangel ¢ outros. Ingres- s0 60 cruzsiros. Exercicio, de Lewis John Carlino. Diregao de Klauss Viana, com Mari- lia Pera e Gracindo Jinior. Ingresso 70 cruzeiros, ‘TEATRO IPANEMA Quarteto, de Ant6nio Bivar. Dire- ‘gio de Ziembinski, com Ziembinski, Marlene, Louise Cardoso, Roberto lo ¢ outros. Ingresso 50 eruzciros. Eu Gosto de Mamie, de José Mar- cio Simo. Diregio de Clovis Bueno, com Elke Maravilha e Adriana de Figueiredo. Ingresso 60 cruzeiros. ‘TEATRO JOAO CAETANO. ‘Mahagonny, de Bertolt Brecht ¢ Kurt Weill. Diregio de Ademar Guerra, com Renato Borghi, Esther G6es, Cacilda Lanuza e outros. In- sresso 20 cruzeiros, A Longa Noite de Cristal, de Oduvaldo Viana Filho. Diregio de de Gracindo Jnior. “Ingresso 20 ceruzeiros. TEATRO MAISON DE FRANCE © Rendez-Vous, de Robert Tho- mas, Ditegio de Antonio Pedro, com Eva Tudor, Luis Armando Queiroz, Lauro Luis © outros. Ingresso 50 £...[, de Millor Fernandes. Di- rego de Paulo José, com Fernanda Montenegro, Fernando Torres, Re- nnata Sorrah, Jonas Bloch, Maria Helena Pader. Ingresso 70 cruzcitos TEATRO MESBLA A Mulher Integral, de Carlos Eduardo Novaes. Diregio de Walter Avancini, com Ioné Magalhdes, Ar- lete Sales, Regina Viana e outros Ingresso $0 cruzeiros. O Barbeiro de Niterdi, de Noel Rosa, adaptagio de Antonio Pedro ¢ Flavio Sdo Thiago, Direcio de An- tonio Pedro, com Jece Valadio, An- dré Villon Lafaiete Galvo e outros. Ingresso 60 eruzeiros, TEATRO NACIONAL DE COMEDIA Pelos Caminhos de Minas, roteiro diregdo de Joa Dangelo, apresenta- do pelo “O Grupo” de Belo Hori- zonte. Ingresso 40 cruzeiros. Se Chovesse. .. Vocés Estragavam Todos, de Clovis Levi e Tania Pa- ccheco. Diregiio de Wilson dos Santos, apresentado pelo Teatro Estudantil ‘de Vanguarda de Santo. Ingresso 30 ‘TEATRO OPINIAO © Gltimo Carro, de Joo das Ne- ves. Diregio do autor, com JN, Ivan Cindido, Iva Nino,’ Sebastiio Le- mos, Osvaldo Neiva e outros. In- _gresso 50 cruzei ‘TEATRO PRINCESA ISABEL Tudo no Escuro, de Peter Shaffer. Diregio de J6 Soares, com JS, Jai- me Barcelos, Henriqueta Brieba, Te- resa Austregésilo € outros. Ingresso 60 cruzeiros. TEATRO SENAC s Fithos de Kennedy, de Robert Patrick. Diregio de Sérgio com Vanda Lacerda, Suzana Vieira, Otavio Augsto, José Wilker ¢ Ma- ria Helena Pader, Ingresso 60 Entre Quatro Paredes, de Jean Paul Sartre. Diregio de Cecil Thie- é, com Otivio’ Augusto, Suzana Vieira, Wanda Lacerd,”Ingresso TEATRO SERRADOR Feira do Adultério, de Braulio Pe- droso, Ziraldo, Bethencourt, Paulo Pontes ¢ Armando Costa, Lauro Cé- sar Muniz € J6 Soares. Diregio de Mauro. Mendonga, com Felipe Ci roni, Carlos Eduardo Dolabella, Sue- Ii Franco e outros, Ingresso 50 cru- zits. TEATRO TERESA RAQUEL Santo Inquérito, de Dias Gomes. Dirego de Flévio Rangel, com Car- los Vereza, Dina Staft, Claudio Mar- 20, Rubens de Falco e outros. Ingres- s0 40 cruzeiros. OUTROS ESPETACULOS Em diversos locais estio sendo apresentados os seguintes espetd- culos: Out Door pelo Grupo de Teaico Aberto, Fora do Jogo de Antonio Domingos Franco, Coragem Antes que nos Fechem aqui Dentro de Mi- guel Oniga, O Dia de Séo Vatapé, pelo Grémio Dramético Recreativo Unidos da Ribalta, A Volta do Pro- metido de José Maria Rodrigues, Uma Vez Crdpula, Sempre Crapula de Tremar Brito ‘TEATRO INFANTIL Esto em cartaz as seguintes pecas: A Princesa do Mar Sem Fim, de Benjamim Santos, Beleléu Existe Mesmo, de Ramon Pallut Plim Plem Ploim, do Grupo Teatro Aberto. Azul ou Encarnado, de Marin At- ‘minda Aguiar, 0 Sapateiro do Rei, de Lauro Gomes. Bigorritho e a Princesinha de Ouro, de Paulo de Magalhies e Dilu ~ Melo. Cantando na Neve, de Alexandre Marques. Liicia Elétrica de Oliveira, de Clau- de Castro. Allice no Pais das Maravithas de Joie Pinheiro, Patinho Feio, de Aurimar Rocha, A Fabulosa Histéria de Melao City, de Marcos Caetano Ribas, 0 Planeta Azul, de Mério Bruni Flicts, Era Uma Vez Uma Cor, de Ziraldo e Aderbal Jinior. Pernalonga, um Coelho em apuros, ‘de Dino Romano ¢ Eliane Rocha, (0s Trés Porquinhos, de Jsir Pinheiro. Seu Sol, Dona Lua, de Marcos Si, (0s Cigarras e Os Formigas, de Maria Clara Machado. A Historia das Cebolas, de Rachel & Marcos Ribas, 0 Vendedor de Baldes, de Dilt Melo, © Mar Jé Foi Azul, Minha Fitha, de Elpidio Filho. Histéria da Moga Preguigosa, de Ma- ria de Lurdes Martini, Camaledo e As Batatas Mégicas, de Maria Clara Machado. Pathagadas, de Joao Siqueira Chapeuzinho Vermetho, de Roberto de Castro, Textos disposigao dos leitores na Secretaria d’(0 TABLADO Aman-Jean ‘Anénimo ‘Andnimo ‘Andnimo (sé. 15) ‘Andrade Oswald ‘Arrabal Fernando Barros Almeida Inés Boccioni, Settimelli, Marinetti Borges J. C. Cavalcanti Brandio’ Raul Brecht Bertolt Casona Alejandro Cervantes Cocteau Jean Checov Anton Franga Junior Ghelderode Gheon Henri Kokoschka Oskar Labiche Eugene Macedo J. Manuel Machado de Assis Machado M C Marinho Luiz Martins Pena Maeterlinck: ‘Monteiro de Araujo Carmosina Qorpo-Santo ‘Strindberg August ‘Synge JM Tardieu Jean Yeats ‘Wedekind Frank © Guarda dos Péssaros Mestre Pedro Pathelin O Pasteldo ¢ a Torta Todomunio 4 Moria. Guernica Piquenique no. Fron. Q Jogo da Independéncia Teatro Futurisia Em Figura de Gente 0 Dowdo e a Morte . A Excegao € a Regra ‘Aquele que diz Sim Aquele que diz Nao. Farsa do Mancebo ...... © Tribunal dos Divércios O Retdbulo das Maravilhas Edipo Rei... O subilew (Os Males do Fumo ‘Maldita Parenteta Us Cegos 4 Via Sacra ‘Assassino Esperanca das mulheres 4 Gramética - . © Novo Otelo Licdo de Bordnica Os Embruthos As Interferéncias Um Tango Argentino Os Viajantes A Derradeira Ceia As Desgragas de uma Cranga 0 Caixeiro da Taverna . © Inglés Maquinista A Inurusa f Bumba-Meu-Boi Chica da Silva Eu Sou a Vide Mateus & Mateusa A Mais Forte ae 4 Sombra do Desfiladeiro - Viajantes para o Mar Conversagdo Sinjonieta Um Gesio por Outro © Dnico Citime de Emer 4 Morte ¢ 0 Deménio . 47 25 ANOS O TABLADO O TABLADO 25 ANOS = aS @ 3) $ Adquira o élbum comemorativo dos 25 anos 0 TABLADO ahs Ae fh O TABLADO 25 ANOS 25 ANOS O TABLADO A venda na Secretaria d’O TABLADO: Autora: MARIA CLARA MACHADO CADERNOS DE TEATRO assinatura anual (4 n.%) 60,00 Cem Jogos Draméticos 15,00 Embarque de Noé (misica-gravasio). 50,00 ; ; Estas publicagSes poderto ser_pedidas & Secretaria Tribobo (gravagio-misica) ... 10,00 #0 TABLADO mediante pagamento com cheque © Patinko Feio (misica-gravasio) .. 50,00 _Yisado, em nome de Eddy’ Rezende Nunes —"O CARTAZES ... can 10,00 TABLADO, pagével n0 Rio de Janeiro,

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