Você está na página 1de 7
7 - BACIA DO TACUTU joshita! e Flavio J. Feij6? Jaime F. ras, Eliseu M.! A Bacia sedimentar mesoz6ica do Tacutu, também conhecida na Guiana como North Savannas Rift Valley, desenvolveu-se como um rift intracontinental na parte central do Craton do Escudo das Guianas, na fronteira entre Estado brasileiro de Roraima e o Distrito guianense de Rupununi. Apresenta-se alongada na direcdo nordeste, com cerca de 300 km de comprimento e 30 a 50 km de largura. O. pacote sedimentar e vulcnico nela preservado ultrapassa localmente os 7 000 m de espessura. O conhecimento acerca da geologia da Bacia do Tacutu advém de mapeamentos de superficie ‘aeromagnetometria, 3 000 km de segdes sismicas (dois tergos na porgao brasileira) e quatro pocos exploratérios, sendo dois no Brasil, A coluna estratigrafica aqui adotada deriva de diversos trabalhos publicados entre 1956 e 1984, acrescentando-se a expresso em subsuperficie das unidades definidas em superficie (fig. 7.1), Grupo Rewa - redne as formagées juro-creticeas Apoteri, Manari, Pirara, Tacutu e Tucano, ampliando-se por afinidade estratigrafica o conceito original de Berrangé e Dearley (1975), que definiram este grupo com apenas as formagdes Apoteri e Tacutu. Formagao Apoteri - definkia por McConnell et a. (1969), foi detalhadamente estudada por Berrangé e Deartey (1976). Esta unidade ¢ composta por basalto toleiitico cinza-escuro a esverdeado, muito fino a afanitico, amigdaloidal e com tratura onchoidal. As amigdalas, amplamente distribuidas no basato, localmente podem perfazer até 10% da rocha (Berrangé ¢ Dearey, 1975), sdo esféricas e elipsoidais, com didmetro entre 1.¢ 10 mm, estando preenchidas principalmente por clorta e calcita. © basalto ocorre em derrames sucessivos, s vezes com camadas sedimentares intercaladas. No poco 1-TU-1-RR podem ser contados 18 pulsos magméticos nos 385m de basalto perfurados. Os afloramentos do Basalto Apoteri mostram um nitida sistema poligonal de juntas verticais Algumas feigdes almofadadas sugerem que pelo menos al- guns dos derrames ocorreram subaquosamente (Berrangé Deariey, 1975). Quatorze resultados geocronolégicos K-Ar, sendo sete na Guiana, apontam idades entre 178 @ 114 M.a para estas rochas igneas (Schobbenhaus et al. 1984). Assim, elas seriam aproximadamente sincronas aos derrames Serra Geral, da Bacia do Parand, ¢ um pouco mais jovens que os { Divisto de’interpretagdo (DINTER), Distito de Ex ploragdo do Norte (OEXNOF diabasios Penatecaua, das bacias do Solimées e Amazonas. Em subsuperticie, 0 perfittipo da Formagao Apoter éo intervalo 2 044-2 428 mdo pogo 1-TU-1-RR (Tacutu), Perfurado em 1981 pela PETROBRAS (fig. 7.2). A denomina- 40 da unidade provém da localidade guianense, situada a 180 km da fronteira brasileira, Formagao Manari- nome utlizado informalmente por Crawford et al. (1984) para designar sitito castanho-escuro, estratificado, bem compactado e distinto dos sititos vermelios da Formagao Tacutu, Esta unidade aflora no Rio Tacutu, préximo a Bonfim- (RR), e em subsuperficie contém igualmente folhelho e siltito cinza-escuro. A Formacao Manari assenta discordantemente sobre os desrames basditicos da Formagao Apoteri, e distribui- se de forma uniforme por quase toda a extenséo do graben, Os dados sismicos indicam que sua espessura pode chegar 40s 300 m. Interpreta-se para este pacote uma origem lacustre. As datagbes bioestratigraticas disponiveis (Van der Hammen Burger, 1966) conferem-the uma idade neojurassica, ‘© perfi-tipo selecionado para a Formagao Manari € 0 intervalo 1 907-2 044 m do pogo 1-TU-1-RR (fig. 7.3). Formasao Pirara -constituida por rochas clastico-evaporiticas, ‘nfo aflora na bacia e foi dentificada pela primeira vez no poco 1-TU-1-RR, ¢ denominada informatmente por Crawford ef al. (1984). A Formagdo Pirara ocorre discordantemente sobre a Formagao Manari e interdigita-se lateralmente com os leques da borda sudeste, podendo chegar a 950 m de espessura. Esta unidade se caracteriza por halita hialina a acinzentada e acastanhada, e folhelho acinzentado e acastanhado, margoso, Piritoso, cam freqientes pseudomorfos de gipsita substituida or anidrita (Costa e Lima, 1981). A facies argilocarbonatica consiste de folhetho acinzentado e acastanhado, sikito argiloso acastanhado € calcissittito cinza-escuro, dolomitizado. Sua dade neojurdssica ¢ apenas inferida, face a precariedade das datagdes bioestratigraficas, Admite-se para este pacote um ambiente de deposigéo restrto, arido, tipo planicie de sabkha, ©u marinho, como é indicado pelo teor de bromo das halitas (R.S.Carvalho, informagao verbal. © perfittipo escolhido para a Formagao Pirara 0 intervalo 1 067-1 807 m do pogo 1-TU-1-RR (fig. 7.4). Formagao Tacutu - essa denominacao fol dada por Barron e Dujardin (1955) em relatorio ndo publicado (apud McConnell R), Rod. Artur Bernardes, $511, Icoraci, CEP 66826, Belém, PA, Brasil 2 Departamento de Exporagao (OEPEX), Av. Repabica de Chie, 05, CEP 20035, Rio de Janeiro, RV, Brash B. Geoci, PETROBRAS, Rio de Janelro, 8 (1): 83 - 89, 83 ef al. 1968) para designar as camadas vermethas afforantes nos leitos de varios rios na Guiana, A Formagao Tacutu assenta-se discordantemente sobre a Formagao Pirara e in- terdigita-se lateralmente com os leques conglomeraticos da borda sudeste. Os dados sismicos sugerem que ela distribui- se ao longo de todo 0 graben, mostrando espessamento em diregdo as grandes faihas de sudeste. As maiores espessuras podem atingir 2 700m, ‘AFormagao Tacutu compreende uma monétona segio de camadas vermethas, consistindo basicamente de sito castanho-escuro a vermelho, calcifero, argiloso, contendo pseudomorfos de gipsita substituidos por anidrita ou calcita, com laminagao piano-paralela inclinada ou estratificagso dlinoascendente. Subordinadamente, ocorrem arenito creme- dlaro muito fino e fino, calcarenito fino bioclastico creme- avermelhado e folhelho castanho-avermelhado, calcifero (Costa e Lima, 1981). O sitio deposicional admitido para estas fochas é lacustre. “A idade neojuréssica-eocretécea advém de estudos palinolégicos em amostras obtidas de pocos rasos, com até 100 m de profundidade (Van der Hammen e Burger, 1966), ‘Adotou-se ointervalo 6-1 067 m do pogo 4-TUA-RR como perfittipo para a Formagao Tacutu (fig. 7.5) Formagao Tucano - referia iniciatmente como Arenito Tucano (Carneiro et af. 1968; Brasil e Lima, 1980), passou a ser denominada informaimente de Formagao Tucano por Eiras e Kinoshita (1989), Esta restrita ao sinclinal homénimo, podendo atingit 2 200 m de espessura, formando uma profunda raiz para a Serra do Tucano. ‘A Formagdo Tucano € essencialmente arenosa. Cameiro et al. (1968) descreveram, na base da serra, arenito acastanhado, médio a grosso, seixoso, gractando acima para arenito roseo-esbranquigado, caulinico e fridvel, ambos com estratificacdo cruzada e raras intercalagdes de sitito arenoso, micdceo. Brasil e Lima (1980) descreveram, no Igarapé do Mel, arenito réseo a cinza-esbranquigado e amarelado, fino, caulinic, friavel, com estratiticagao cruzada de pequeno pore, sobreposto aos sititos vermeihos da Formacao Tacutu Esta unidade estratigrafica esta ausente dos dois pogos perfurados pela PETROBRAS. No se conhece determinagdes bioestratigraficas, e sua idade galica é deduzida de sua posicdo estratigratfica. Admite-se para este pacote uma deposi¢ao em sistema dettaico, Formagao Boa Vista - 0 conjunto vulcano-sedimentar mesoz6ico do Graben do Tacutu esta recoberto discordante- mente por uma vasta cobertura cenozsica, que caracteriza 0 relevo piano dentro do graben. No Brasli, essa unidade foi denominada de Formacao Boa Vista por Andrade Ramos (1956). As maiores espessuras so encontradas nos biocos rebaixados das grandes falhas das bordas. onde dados sismi- os indicam espessuras de até 120m. As itologias presentes nna Formagao Bea Vista sao arenito, lateito, argiito e niveis conglomeraticos. De Ros (1987) identificou dois tipos de siloretes entre as amostras analisadas, um do tipo perfil de alteragao e outro do tipo sin-sedimentar. Os dados petrograficos sugerem que as rochas originais submetidas & silcifcagao eram arenitos finos a médios. N&o ha dados de subsuperficie que permitam compor um perfi-tipo, nem informacGes bioestratigréficas capazes de datar esta unidade. Presumivelmente, ela depo- sitou-se no fim do Cenozéico, em conseqiiéncia da atuago de rios, Estratigratia de Sequéncias - os dados disponiveis so claramente insuficientes para 0 estabelecimento inequivoco de sequiéncias. Tentativamente, as discordancias observadas podem separar trés pacotes distintos: Sequéncia J10 - equivale aos basaltos juréssicos da Formago Apoteri e aos sititos lacustres da Formagao Manari, Estas rochas comporiam a fase pré-rift da bacia Seqiiéncia J20 - corresponde aos clasticos e evaporitos neojurassicos da Formago Pirara, marcando 0 inicio da fase rif, Seqiiéncias K10a K60 - retinem os clésticos alivio-deltaico- lacustres neocomianos e gélicos das formacées Tacutu Tucano, representando a implantagdo do rift Tacutu REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS: ANDRADE RAMOS, J.R. 1956. Reconhecimento geologico ‘no Tertitdrio do Rio Branco. Rio de Janeiro, Rel. Anual Dir Div. Geol. Min. NPM, p, 58-62, BERRANGE, J.P. & DEARLEY, R. 1975. The Apoteri voloanic formation - tholeittic flows in the North Savannas Graben of Guyana and Brazil. Geologische Rundschau, n. 64, p. 883-899, BRASIL, ILR., & LIMA, MP. 1980. investigagao estratigratfica na Bacia do Tacutu, Territério Federal de Roraima PETROBRAS. Belém. Rel, Intemo. CARNEIRO, R.G., ANDRADE, F.G., & SILVA, G.O.P. 1968. Reconhecimento geoligico no Territério Federal de Roraima; Graben do Tacutu. PETROBRAS, Belém, Relatério Interno. COSTA, M.G-F., & LIMA, M.P. 1981, Analise estratigrafica do 4-TU--RR. PETROBRAS, Rio de Janeiro. Relatério interno, CRAWFORD, F.D., SZELEWSKI, C.E., & ALVEY, G.D. 1984. Geology and exploration in the Takutu Graben of Guyana. Oil and Gas Journal, v. 82, n. 10, p. 122-129, DEROS, LF. 1987. Petrogratfia e implicagdes paleocimmaticas das jitologias aflorantes na Bacia do Tacutu, Roraima. PETROBRAS, Rio de Janeiro. Comunicagao técnica, EIRAS, JF., & KINOSHITA, E.M. 1989. Solugao de um pro- blema estratigrafico através da integracao regional: um exemplo da Bacia do Tacutu, Norte do Brasil. In: Seminario de Interpretagao Exploratéria, 1. Rio de Janeiro, PETROBRAS. Anais, p. 243-250. EIRAS, J.F., & KINOSHITA, EM, 1990, Geologia e perspec- tivas petroliferas da Bacia do Tacutu. In: Origem e evolucdo de bacias sedimentares. Rio de Janeiro, PETROBRAS. Anais, p. 197-220. McCONNELL, R.8., SMITH, D.M., & BERRANGE, J.P. 1969. ‘Geological and geophysical evidence for a rift valley in the Guyana Shield. Geol. Minb.v. 48, n, 2, p. 189-200. SCHOBBENHAUS, C., CAMPOS, D.A., DERZE, GR. & ‘ASMUS, H E. 1984, Geologia do Brasil. Brasilia, ONPM. 501.p. VAN DER HAMMEN, T. & BURGER, D. 1966, Pollen flora and ‘age of the Takutu Formation, Guyana. Leidse. Geol Meded. Leiden. n. 38, p. 173-180, 84 B, Geoci, PETROBRAS, Rio de Janeiro, (1) 83 - 89, jan mar. 1994 GEOCRONOLOGIA © CARTA ESTRAT GRAFICA DA BACIA DO TACUTU LITOESTARTIGRAFIA UNIDADES. FORUACAO LIToLesiA ‘SEQUENCIAS IDEPOSICIONAIS. TERCIARIO 7 EVOLUGAO ourescencia |umo| | tecronica wata [rcccourano| URASSICO B. Geoci. PETROBRAS, Rio de Janeiro, 8 (1): 83 - 89, jan/mar. 1994 Fig. 74> Caro epteotigrotica do Gavia do Teeuty. 8s 86 1-TU-1-RR ao ar ae N a° Go: use a FORMACAO, Fig. 7.2 - Perfil-tipo da 2044

Você também pode gostar