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Izadora Dias de Souza

Campus POA

Por que a exibição Queermuseu trouxe tanta polêmica?


A exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira foi inaugurada dia 14 de
agosto em Porto alegre, contando com cerca de 270 obras, incluindo de pintores mundialmente
conhecidos como Portinari e Alfredo Volpi. A exposição tratava de questionamentos sobre
diversidade, gênero, sexualidade e trouxe grande polêmica acerca do tema. Porém, tiveram suas
obras fechadas um mês antes do termino oficial, movimentos conservadores e liberais acusaram a
exposição de imoral e argumentando que as obras faziam apologia à pedofilia e zoofilia, além do
mais, foram organizados boicotes ao banco Santander por ser o grande patrocinador das obras que,
por fim, fechou a exposição e se retratou publicamente.

A amostra já vinha no formato semelhante à de exposições estrangeiras como a Queer British


Art(Londres, Inglaterra) e Hide/Seek: Difference and Desire in American Portraiture (Washington,
Estado Unidos). Mas no mês de setembro, o brasileiro descobriu o nu, o gênero e a sexualidade.
Uma grande descontextualização e uma falta de cuidado da curadoria em ter posto algum aviso
sobre o conteúdo de algumas obras, a internet entrou em histeria, uma grande polemica assolou a
exposição. Mas a questão é: a arte tem a função de gerar polêmica e sensações - sejam elas boas ou
ruins. Obras como as pinturas da capela sistina, símbolo do cristianismo, existe nudez. Um dos
quadros mais escandalosos, a origem do mundo, pintado por Courbet, ao retratar uma genitália
feminina até hoje gera polêmica. Cenas eróticas sexuais entre a personagem Leda e Zeus
transformado em cisne ou entre Zeus e Europa, Zeus também transformado em touro, foram
pintadas por Leonardo da Vinci, Michelangelo, entre vários outros pintores. Manet, quando pinta
Olympia, uma mulher nua e real, também foi rechaçado e retirado do museu. Savonarola, padre
Dominicano na Florença renascentista, queimava nus em fogueiras, divindades pagãs e toda a
cultura humanista do renascimento italiano que fosse considerada perversa. Grandes exposições,
grandes quadros foram queimados, criticados e acusados. Precisamos pensar o real motivo e as
forças de poder atuantes tanto pelas pessoas que boicotaram quanto aos movimentos. e do por que
as pessoas têm tanto medo do corpo, principalmente o feminino. Será que o MBL (Movimento Brasil
Livre), principal grupo responsável pelo boicote, querem fechar a exposição por realmente estarem
preocupados com supostas apologias feitas na amostra (que foram derrubadas pelo promotor da
infância e da juventude, Julio Almeida, afirmando: não há apologia a pedofilia nas obras) ou porque
querem se autopromover, como os detentores da moral e dos bons costumes.

Em suma, é necessário perceber as forças e os jogos de poder impostos no fechamento na amostra,


não esquecendo de salientar que foi um erro da curadoria não ter posto nenhum aviso acerca do
material proposto pela exposição. Além disso, algumas das obras que escandalizaram tinham mais
de 40 anos e dentre aproximadamente 270, menos de 10 causaram real polemica. Ademais, a arte
tem o poder de trazer o debate à tona, principalmente termos tabus como esse. Como também,
parece hipocrisia pensar que em um país aonde existem cerca de 2.000 pontos de exploração
infantil, segundo a Policia Federal Rodoviária, o que incomode e cause tanto alvoroço seja uma
imagem.

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