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• Incentivo a pesquisas participativas para o • A intensificação e ampliação de campanhas como

desenvolvimento de sistemas de produção diversificados “Sementes Patrimônio da Humanidade”, liderada pela Via
que utilizam sementes crioulas; Campesina e a “Campanha Por Um Brasil Livre de
Transgênicos”;
• Criação de “redes de biovigilância” para monitorar e
denunciar a contaminação por transgênicos; • A presença dos movimentos sociais e de organizações
da sociedade civil em espaços de incidência política
• Disseminação das redes de bancos comunitários de como o Consea (Conselho Nacional de Segurança
sementes e promoção de festas e feiras de intercâmbio Alimentar), o Condraf (Conselho de Desenvolvimento
de sementes crioulas; Rural e Agricultura Familiar), a CTNBio (Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança) e o Conselho
• A capilarização social do debate sobre as implicações da Assessor Externo da Embrapa.
legislação de sementes e mudas para a agricultura
familiar;

Bibliografia Consultada
REIS, Maria Rita. Considerações sobre o Impacto da Propriedade Intelectual sobre Sementes na Agricultura Camponesa. In
O Jogo da Privatização da Biodiversidade
Encruzilhadas da Modernidade MATHIAS, F., e NOVION, H., As encruzilhadas da modernidade: Debates sobre biodiversidade,
Tecnociência e Cultura, Instituto Socioambiental, 2006. Introdução A partir do final da década de 90, o Brasil iniciou o
SANTILLI, Juliana. Conhecimentos Tradicionais Associados à Biodiversidade. Elementos para a Construção de um Regime sui No Brasil e na América Latina os últimos dez anos foram processo de adaptação da legislação interna aos principais
generis de proteção. Disponível em www.anppas.org.br. Acessado em 12.04.2007. marcados pela criação e modificação de leis que acordos internacionais sobre o assunto, com a edição da
regulamentam a utilização da Biodiversidade. Lei de Proteção aos Cultivares (1997), da Lei de Patentes
SANTOS, Boaventura de Souza. Semear Outras Soluções (org). Os Caminhos da Biodiversidade e dos Conhecimentos Rivais. Rio (1996), da Lei de Sementes (2003) e da Lei de
de Janeiro, Civillização Brasileira, 2005. Atividades como plantar, colher e utilizar plantas e animais Biossegurança (2005).
para criar produtos e prover a subsistência passaram a ser
SHIVA, Vandana. “Biopirataria: a pilhagem da natureza e do conhecimento”; tradução de Laura Cardellini Barbosa de Oliveira.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. reguladas por lei. Crescem a cada dia, relatos de Apesar disso, em 2007 uma nova ofensiva sobre a
pequenos agricultores que têm suas atividades Agrobiodiversidade tomou corpo, principalmente através
Monoculturas da mente: perspectivas da biodiversidade e da biotecnologia. São Paulo, Gaia, 2003. prejudicadas por novas regulamentações, que modificam de projetos de leis que buscaram restringir ainda mais a
completamente as práticas culturais e locais relacionadas à livre utilização da Biodiversidade e os direitos dos
Vilarreal, Jorge. Un mundo patentado? La privatización de la vida y del conocimiento. 1 ed. Córdoba: Fundación Via Libre, 2005.
agricultura e pecuária de subsistência ou para abastecer agricultores, aprofundando os impactos já ocasionados
mercados locais. pela legislação que entrou em vigor na última década.

O pano de fundo da regulamentação da utilização da As modificações propostas nos projetos de lei e em


biodiversidade é um processo de transformação dos algumas políticas de estado impactam diretamente a
recursos naturais em mercadoria, em um bem apropriável soberania alimentar e milhares de experiências em
e negociável. O resultado buscado neste processo é a Agroecologia em todo o Brasil.
aplicação de mecanismos de propriedade intelectual sobre
a Biodiversidade e a crescente monopolização dos Este informativo é uma contribuição, para que as
recursos genéticos. estratégias de resistência das comunidades e movimentos
sociais possam seguir encontrando caminhos para afirmar
As modificações na legislação nacional foram realizadas a os Direitos dos Agricultores e Agricultoras à livre utilização
partir de uma série de acordos e tratados internacionais da agrobiodiversidade, como estratégia fundamental para
construídos para garantir a homogeneidade da legislação e garantir a Soberania Alimentar.
a atuação de grandes empresas transnacionais.

O Controle da Biodiversidade e as Estratégias


de dominação das Grandes Empresas
Criando cercas para controlar a biodiversidade
Nos últimos anos, assistimos uma intensa concentração e transformação da semente e dos recursos genéticos
transnacionalização do mercado de sementes. Empresas destinados à alimentação e agricultura em mercadoria, em
que passaram a década de 70 e 80 investindo no mais um “insumo” da cadeia de produção de alimentos.
desenvolvimento de agroquímicos voltaram-se para o
desenvolvimento de sementes. E as empresas investiram pesado: atualmente, Monsanto,
Esta é uma publicação da Terra de Direitos . Rua Des. Ermelino de Leão, 15 - conj. 72 - 80410-230 Dupont e Syngenta, controlam 39% do mercado mundial
Curitiba . PR . Fone: 55 41 3232 4660 . Coordenação: Maria Rita Reis . Elaboração e Revisão: Claudia Schimit, Este processo desenvolveu-se no contexto da de sementes, movimentando 9 bilhões de dólares.
Paula Almeida, Gabriel Fernades, Maria Rita Reis, Glaucia De Bona e Sara Gorsdorf . Projeto Gráfico: Midia Arte
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A Monsanto, que na década de 80 não estava presente no
setor de sementes, é hoje a maior empresa de sementes
É justamente a possibilidade de lucros ainda maiores neste
setor que leva as empresas que monopolizam as sementes
A Monopolização da Biodiversidade como uma
do mundo, dominando 20% do mercado global.

As Empresas de Sementes mais importantes no mundo:


a pressionar por modificações na legislação: a restrição do
uso próprio de sementes e da autonomia dos agricultores Estratégia Global - Acordos e Tratados Internacionais
sobre os recursos genéticos pode significar uma fatia
Empresa Valor das Vendas em 2006 importante do mercado para as transnacionais que Como vimos, nesta área, os principais Acordos
dominam o Agronegócio de sementes. “A confiança na continuidade do avanço do Internacionais são:
Monsanto (EUA) +
$ 4.476
Delta & Pine Land Mas, as transnacionais do processo regulatório e no respeito à propriedade • O Acordo sobre Direitos de Propriedade Intelectual da
Dupont (EUA) $ 2.781 setor de sementes não são intelectual no Brasil têm motivado a Monsanto a Organização Mundial do Comércio (OMC) (ratificado em
as únicas empresas que “a semente, então, 1994)
Syngenta (Suíça) $ 1.743 apresenta ao capital um incrementar os investimentos no País.” (Afonso Alba,
buscam se apropriar da Presidente da Monsanto, em 11.08.2007, na ocasião da compra da Agroeste,
empecilho biológico • A União para Proteção das Obtenções Vegetais (UPOV)
Groupe Limagrain Biodiversidade. empresa nacional que detinha 10% do mercado nacional de milho. Com a
$ 1.035 da Organização Mundial para a Propriedade Intelectual
simples: dadas as aquisição, estima-se que a Monsanto detenha atualmente 40% deste mercado.) (OMPI) (O Brasil aderiu em 1998)
Land O`Lakes (EUA) $ 756 Há grande interesse da condições apropriadas,
Indústria Farmacêutica, por No Brasil, a legislação que impõe a aplicação de
Fonte: Grupo ETC ela se reproduz e se • A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB)
exemplo, na coleta de mecanismos de propriedade intelectual sobre a (ratificada em 1994)
multiplica. O moderno Agrobiodiversidade é recente e o seu surgimento teve
extratos de plantas
Para as Transnacionais, o Brasil joga um papel importante medicinais, a fim de
cultivo de plantas tem como motor uma série de legislações internacionais, • O Tratado sobre Recursos Fitogenéticos para a
neste cenário: já é o quarto maior mercado doméstico de pesquisar os seus sido, em primeiro lugar, criadas no auge do neoliberalismo. Alimentação e a Agricultura (ratificado em 2004)
sementes, movimentando cerca de 1,8 bilhão de dólares, compostos e desenvolver uma tentativa de remover
A seguir, veremos o conteúdo e o impacto de cada um
perdendo apenas para o dos Estados Unidos da América novas drogas. esse empecilho biológico
destes acordos.
(7,1) da China (4,0) e o da França (1,9). e as novas biotecnologias
Os conhecimentos e
O objetivo das empresas é conquistar um número cada vez práticas de povos
são as ferramentas mais
recentes para
A Organização Mundial do Comércio e o
maior de consumidores, dominando o mercado ocupado indígenas e populações
por outros concorrentes e fazendo com que os agricultores
que produzem a sua própria semente sejam obrigados a, a
tradicionais podem ser
usados como “portas de
transformar em mera
matéria-prima o que é,
Acordo sobre Direitos de Propriedade Intelectual
cada safra, comprar as variedades que elas oferecem. acesso” à Biodiversidade, simultaneamente, meio A Organização Mundial do Comércio (OMC) foi formada essencialmente biológicos (naturais) para produção de
facilitando a identificação de produção e produto.” em 1994, após uma série de rodadas de negociação. Seu animais e de plantas.
Para isso, são utilizadas diferentes estratégias: criação e de plantas com objetivo foi estabelecer uma regulamentação uniforme para
alteração das leis (estratégias legais); desenvolvimento de Vandana Shiva
propriedades medicinais. o mercado internacional. No entanto, no caso de utilizar a exceção prevista pelo
tecnologias de manipulação dos seres vivos (estratégias TRIPS para não permitir as patentes sobre plantas, os
tecnológicas), campanhas junto à opinião pública Estima-se que 25% dos medicamentos hoje disponíveis no Um dos acordos-pilares da Organização Mundial do países ficaram obrigados a estabelecer algum sistema de
(estratégias de propaganda), formação de redes de mercado farmacêutico foram desenvolvidos, direta ou Comércio é o Acordo sobre Direitos de Propriedade propriedade intelectual “eficaz”.
interesse (estratégias políticas). indiretamente, a partir de plantas medicinais. Isso explica, Intelectual Relacionados ao Comércio ou TRIPS (sigla
por exemplo, as pressões feitas pelas transnacionais e em inglês), que Portanto, apesar da permissão para excluir do regime de
Mesmo com toda a pressão e o investimento feito pelas pelos grandes laboratórios no sentido de restringir e patentes as plantas, ficou estabelecida a obrigatoriedade
estabeleceu a
transnacionais na implementação dessas estratégias é desqualificar o uso popular das plantas medicinais, de reconhecimento de direitos de propriedade intelectual
obrigatoriedade do
grande a porcentagem de agricultores que no Brasil ainda implantando mecanismos de propriedade intelectual e A distribuição das patenteamento de através de um outro sistema a ser definido pelos países.
utilizam sementes para uso próprio e produzem a partir de registro de patentes e inibindo a valorização do uso patentes é extremamente “quaisquer invenções,
sementes crioulas, demonstrando a grande importância A adesão e regulamentação do TRIPS é obrigatória para
popular das plantas medicinais e dos remédios caseiros desigual: Europa, Estados sejam produtos ou
desta prática na subsistência da agricultura. os países membros da OMC. Portanto, para 151 países do
por programas de políticas públicas. Unidos da América e processos, em todos os
mundo o reconhecimento de sistemas de propriedade
Japão são donos de 85% campos da tecnologia
intelectual sobre plantas é obrigatório e deveria ser
O reforço à privatização dos recursos da Biodiversidade
das patentes do mundo. (...) sendo que os direitos
também vem da Indústria de Cosméticos em sua corrida regulamentado até o ano 2000. Para outras invenções, que
Taxa de Utilização de Semente Própria na Os outros países detêm de patentes devem ser
por patentear não apenas os produtos gerados pela não estão dentre as exceções, a adoção de patentes como
Agricultura - Safra 05/06* exercidos sem
Biodiversidade, como os óleos vegetais, por exemplo, mas juntos apenas 15%. No forma de exercício de propriedade intelectual é obrigatória.
discriminação, seja do
também processos de produção há muito tempo Brasil do total de
Cultura Utilização de Semente Própria
local da invenção, seja
conhecidos pelos povos e comunidades locais. patentes registradas no do campo da tecnologia
Arroz 68%
país, 95% são de e se os produtos são
1
empresas estrangeiras. importados ou
Feijão 89% Os dados publicados pela ABRASEM sobre o percentual de utilização de
sementes próprias são uma estimativa, calculada da seguinte forma: (1) as produzidos localmente.”
informações publicadas pela Conab referentes à área plantada de feijão, milho,
Milho 22%
soja e outros produtos, numa determinada safra, são utilizadas no cálculo da As únicas exceções permitidas pelo TRIPS foram : a)
demanda total de sementes (área plantada x estimativa da quantidade de
Soja 49% métodos de diagnóstico, de tratamento e de cirurgia,
sementes utilizada para cultivar 1 ha. de uma determinada cultura); (2) os dados
referentes à quantidade de sementes vendidas no mercado naquele ano animal ou humana; b) animais que não sejam
Algodão 60% representam a demanda efetiva de sementes; (3) a quantidade de sementes microorganismos; c) plantas que não sejam
“informais” utilizadas pelos agricultores é estimada subtraindo-se, da demanda
1
total, a quantidade de sementes efetivamente adquirida no mercado.
microorganismos, mas quanto às variedades de plantas
*organizada com base em dados da ABRASEM
deve haver um sistema de proteção eficaz e d) processos
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A Organização Mundial de Propriedade Intelectual Acesso aos Recursos Genéticos na CDB atualmente
(OMPI) e a União para a Proteção das No âmbito da CDB em 2000, foi criado um grupo de da utilização desse conhecimento, inovações e práticas.
trabalho para estabelecer um regime internacional sobre
Variedades Vegetais (UPOV) Acesso e Repartição dos Benefícios. Art.15 - Acesso a Recursos Genéticos

Em 2006, durante a COP 8, fixou-se o ano de 2010 como 1. Em reconhecimento dos direitos soberanos dos Estados sobre
Para atender à exigência imposta pela Organização restrições de uso decorrentes dos direitos de propriedade prazo-limite para o término das negociações. Também foi seus recursos naturais, a autoridade para determinar o acesso a
Mundial do Comércio e assim, estabelecer “algum sistema intelectual foram aumentando progressivamente. oficializado um pré-projeto de resolução como documento recursos genéticos pertence aos governos nacionais e está sujeita
de propriedade intelectual aplicado às plantas”, o Brasil de referência para as negociações. à legislação nacional. (...)
aderiu em 1999 a um Acordo Internacional denominado O Brasil é signatário da versão de 1978 da UPOV. 2. Cada Parte Contratante deve procurar criar condições para
“União para a Proteção das Variedades Vegetais Aspectos da Convenção sobre Diversidade Biológica permitir o acesso a recursos genéticos para utilização
De acordo com esta versão do acordo, o país obriga-se a relacionados aos Recursos Genéticos. ambientalmente saudável por outras Partes Contratantes e não
(UPOV)”. Este acordo estabelece mecanismos de
proteger os direitos dos melhoristas de sementes através impor restrições contrárias aos objetivos desta Convenção. (...)
propriedade intelectual às obtenções vegetais dentro de
da concessão de exclusividade para a produção com fins Art. 1. Os objetivos desta Convenção, a serem cumpridos de 5. O acesso aos recursos genéticos deve estar sujeito ao
um sistema distinto do sistema de patentes.
comerciais, oferecimento à venda e comercialização pelo acordo com as disposições pertinentes, são a conservação da consentimento prévio fundamentado da Parte Contratante
A UPOV é vinculada à Organização Mundial de período de 15 anos para culturas e 18 anos para perenes. diversidade biológica, a utilização sustentável de seus provedora desses recursos, a menos que de outra forma
Propriedade Intelectual (OMPI), agência das Nações O direito de proteção recai somente sobre as estruturas componentes e a repartição justa e eqüitativa dos benefícios determinado por essa Parte.
Unidas com objetivo de estabelecer marcos de reprodutivas da planta. A UPOV 78 resguarda o direito de derivados da utilização dos recursos genéticos, mediante, inclusive,
propriedade intelectual. A UPOV tem sido utilizada para uso próprio das sementes e o direito de utilizar a planta o acesso adequado aos recursos genéticos e a transferência
que os países adequem-se à OMC, pois define uma forma melhorada como fonte de variação ou melhoramento. adequada de tecnologias pertinentes, levando em conta todos os
de propriedade intelectual sobre os vegetais, diferenciada direitos sobre tais recursos e tecnologias, e mediante financiamento
A versão da UPOV de 1991 é muito mais restritiva: os adequado.
do patenteamento.
direitos de propriedade intelectual são extensíveis aos
No entanto, esta convenção passou por três revisões: produtos da colheita, permite-se que sejam aplicados tanto Art. 8 (j) Em conformidade com sua legislação nacional, cabe às
mecanismos de propriedade intelectual através de
1972, 1978 e 1991, sendo que todas as revisões
objetivaram aproximar a proteção dada às sementes dos patentes, como através de “direitos dos melhoristas” e
partes da Convenção, respeitar, preservar e manter o
conhecimento, inovações e práticas das comunidades locais e Foto
direitos conferidos pelo patenteamento, ou seja, as proíbe-se que o agricultor reserve e guarde sementes para populações indígenas com estilos de vida tradicionais relevantes à
uso próprio. conservação e à utilização sustentável da diversidade biológica e
incentivar sua mais ampla aplicação com a aprovação e a
A Convenção sobre Diversidade Biológica participação dos detentores desse conhecimento, inovações e
práticas, e encorajar a repartição eqüitativa dos benefícios oriundos
A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), foi os recursos genéticos.
assinada durante a ECO 92, no Rio de Janeiro e entrou em
vigor no Brasil em 1994. Além da valoração do recurso genético em si, a CDB
também reconheceu a importância do “conhecimento
O Tratado sobre Recursos Fitogenéticos
A CDB estabelece como objetivos a conservação da
diversidade biológica, a utilização sustentável de seus
tradicional associado à Biodiversidade”, ou seja, o
conhecimento das comunidades quanto à forma de
para Alimentação e Agricultura - FAO
componentes e a repartição justa e eqüitativa dos utilização do recurso genético. A questão dos recursos genéticos na FAO
benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos.
O reconhecimento da soberania dos estados sobre os
A FAO Organização das Nações Unidas para a constituem um patrimônio da humanidade e que, por isso,
A pressão dos países do Hemisfério Sul fez com que essa recursos genéticos e o estabelecimento de uma norma de
Alimentação e a Agricultura foi fundada em 1945 e é a sua disponibilidade não deve ser restrita.”
fosse a primeira legislação internacional a afirmar a “repartição de benefícios” foram considerados uma vitória
organização da ONU com competência para negociar
soberania dos estados sobre seus recursos genéticos, dos países do Sul, na qual o Brasil desempenhou
acordos e definir políticas na área de alimentação e Em 1989, o Compromisso foi modificado com a inclusão
reconhecendo o valor econômico da Biodiversidade e suas importante papel. Os Estados Unidos da América não
agricultura, com objetivo de acabar com a fome. de três anexos.
aplicações no campo da Biotecnologia. Até então, vigorava ratificaram a CDB até hoje, entre outros motivos, por
a concepção jurídica de que os recursos genéticos eram defenderem o “acesso livre” aos recursos genéticos. O primeiro acordo da FAO sobre os recursos genéticos O primeiro anexo, adotado em 1989, reconhece os direitos
patrimônio da humanidade. Na prática, funcionava um data de 1983. Trata-se do Compromisso Internacional dos “inovadores formais” estipulados na UPOV, (versão de
regime extremamente predatório de acesso e utilização No entanto, o único ganho obtido pelos países do sul foi o 1978), reconhecendo o “Direito dos Melhoristas” como
sobre Recursos Fitogenéticos, que reconheceu o livre
desses recursos. estabelecimento de uma negociação sobre a criação de óbice legítimo à livre circulação de recursos fitogenéticos.
acesso tanto para o germoplasma básico ou bruto, como
um mecanismo internacional para regulamentar a
para as variedades melhoradas.
Este novo enfoque levou ao estabelecimento de normas mercantilização dos “recursos genéticos.” Em contrapartida, a FAO reconheceu também o direito dos
para o acesso aos recursos genéticos e à imposição de A esta época, vigorava a concepção jurídica de que os agricultores reproduzirem e armazenarem suas sementes,
um mecanismo de repartição de benefícios pelo qual os O “acesso aos recursos genéticos” da maneira como está enunciando que este é um “direito resultante das
recursos genéticos eram “patrimônio da humanidade”, ou
benefícios obtidos através do desenvolvimento de produtos regulamentado na CDB significa apenas uma etapa de um contribuições passadas, presentes e futuras dos
seja o acesso e a utilização dos recursos genéticos era
que utilizem a Biodiversidade ou os conhecimentos processo que levará ao patenteamento de um produto agricultores para a conservação, o desenvolvimento e a
livre. O texto inicial do Compromisso afirmava que “o
tradicionais associados à Biodiversidade devem ser obtido através da utilização da Biodiversidade. guarda de recursos genéticos vegetais, particularmente
presente compromisso está baseado no princípio
repartidos entre o detentor da tecnologia e quem forneceu universalmente aceito de que os recursos fitogenéticos aqueles nos centros de origem/diversidade. Estes direitos

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são outorgados pela Comunidade Internacional, como recursos genéticos, estipulando que os direitos dos genéticos e deixa aos governos nacionais a • O direito de participar de maneira eqüitativa da repartição
depositário para as gerações presentes e futuras de agricultores devem ser implementados através de um responsabilidade de implementar os direitos dos de benefícios decorrentes da utilização dos recursos
agricultores, com o propósito de garantir amplos benefícios fundo internacional para os recursos genéticos das agricultores, enumerando explicitamente as seguintes fitogenéticos para alimentação e agricultura; e
aos agricultores e apoiar a continuidade de suas plantas, idéia desenvolvida também no âmbito da medidas como componentes dos direitos dos agricultores:
• A proteção do conhecimento tradicional associado aos
contribuições.” Convenção Sobre Diversidade Biológica. recursos fitogenéticos para a alimentação e a agricultura.
• O direito de participar na tomada de decisões referentes
O Anexo III do Compromisso foi adotado em 1991 e à conservação e utilização sustentável dos recursos
reconhece os direitos soberanos dos países sobre os fitogenéticos para a alimentação e a agricultura;

O Tratado sobre Recursos Fitogenéticos


Condições Jurídicas para o Estabelecimento
para Alimentação e Agricultura
dos Monopólios: a Legislação Nacional
Em 2001, após sete anos de negociação, a Conferência da também a repartição justa e eqüitativa dos benefícios”.
FAO aprova o Tratado Internacional sobre Recursos A regulamentação dos acordos e tratados internacionais • A aplicabilidade de mecanismos de propriedade
Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura. O acesso será facilitado para atividades que envolvam sobre a Biodiversidade ocorreu no Brasil a partir do final da intelectual sobre as plantas e o controle das atividades
pesquisa, melhoramento e conservação do recurso década de 90. de produção de sementes e mudas;
O tratado é coerente com a Convenção sobre fitogenético. A repartição de benefícios será realizada
A legislação nacional nesta área compreende as • A soberania nacional sobre os recursos genéticos e um
Diversidade Biológica e seus objetivos formais são a através do “intercâmbio de informações, acesso e
seguintes leis: mecanismo de repartição de benefícios;
conservação e a utilização sustentável dos recursos transferência de tecnologia, criação de capacidade e
genéticos para a alimentação e a agricultura e a repartição distribuição dos benefícios derivados da comercialização.
• Lei de Patentes: 9.279/1997 • A regulamentação da introdução dos transgênicos na
justa e eqüitativa dos benefícios decorrentes de sua Dentre os cultivos que estão incluídos nos sistema agricultura.
• Lei de Proteção aos Cultivares: 9.456/1997
utilização. multilateral estão: arroz, feijão, milho, mandioca e trigo.”
• Lei de Sementes e Mudas: 10.711/2003
Apesar da maior parte das leis ter sido aprovada nos
Assim, o tratado reconhece a soberania dos estados sobre De acordo com o tratado, a pessoa física ou jurídica que • Medida Provisória sobre Acesso aos Recursos Genéticos
últimos 10 anos, para cada uma delas há propostas de
os recursos fitogenéticos presentes em seu território e que acessar o recurso genético de acordo com o Sistema e Repartição de Benefícios: 2.186- 16/2001
novas legislações tramitando na Câmara dos Deputados.
cada governo nacional tem o direito de permitir ou não o Multilateral de Acesso, não poderá, através de • Lei de Biossegurança: 11.105/2005
Como será explicado abaixo, as propostas de modificação
acesso a estes recursos. mecanismos de propriedade intelectual, impedir o acesso da legislação buscam aprofundar e consolidar a aplicação
ao recurso genético tal como foi acessado. Isso significa, O conjunto desta legislação, consolidou e operacionalizou
de mecanismos de propriedade intelectual sobre a
O tratado cria um Sistema Multilateral de Acesso aos todavia, que mecanismos de propriedade intelectual os principais conceitos desenvolvidos no âmbito
agrobiodiversidade.
Recursos Fitogenéticos, que engloba 69 plantas e tem o poderão ser aplicados no caso da modificação do material internacional:
objetivo de “facilitar o acesso aos recursos fitogenéticos e acessado.
Lei de Proteção de Cultivares - Lei 9.456/1997
Direitos do Agricultor no Tratado sobre A Lei de Proteção de Cultivares possibilitou o • Usar ou vender, como alimento ou matéria-prima, o
estabelecimento dos direitos de propriedade sobre produto obtido de seu plantio;
Recursos Fitogenéticos sementes e mudas, regulamentando o art. 27 do TRIPS no
Brasil e permitindo que o país se tornasse parte da UPOV.
• Utilizar o cultivo como fonte de variação no
melhoramento ou para fins de pesquisa científica.
Isso porque, um dos impactos da aplicação de direitos de (ver acima).
propriedade intelectual e, portanto, de mecanismos de No caso de pequenos agricultores, a lei permite, inclusive,
A partir desta lei, a empresa ou pessoa que obtém uma
restrição da utilização dos recursos genéticos rompe com a multiplicação de sementes protegidas para doação ou
variedade “distinta, homogênea e estável”, tem o direito
a cultura milenar que é responsável pela diversidade troca para outros pequenos agricultores, no âmbito de
de exclusividade na reprodução e comercialização deste
agrícola que conhecemos hoje: a prática de utilizar programas de financiamento.
material genético. Este direito recai sobre as estruturas
livremente e seguir adaptando os recursos genéticos às
reprodutivas das plantas (sementes e mudas) e dura 15
necessidades sociais e ambientais dos agricultores. Modificações na Lei à Vista
anos. No caso das árvores frutíferas, das árvores florestais
A restrição à livre utilização dos recursos genéticos e das árvores ornamentais, o prazo de duração é de até 18
Há um projeto de lei tramitando na Câmara dos Deputados
ocasiona não apenas conseqüências sociais e à soberania anos.
que modifica a lei de proteção aos cultivares. O projeto de
alimentar, mas também à própria conservação dos lei (PL-2325/2007) foi apresentado pela deputada Rose de
Antes da vigência da lei, as sementes desenvolvidas
recursos genéticos: a adaptabilidade das sementes e das Freitas do PMDB/ES.
podiam ser livremente reproduzidas e comercializadas por
plantas ao meio ambiente depende da atividade dos
empresas e pessoas físicas. Apesar de ter permitido a
agricultores. Este projeto de lei restringe ainda mais a livre utilização dos
A aplicação dos mecanismos de propriedade intelectual apropriação privada das sementes, a Lei de Proteção de
recursos genéticos para a agricultura, estabelecendo que
sobre os recursos fitogenéticos para alimentação e O Tratado reconhece a enorme contribuição que deram e Cultivares reconheceu os “direitos do agricultor”, ao
os direitos do obtentor ou melhorista se ampliam até o
agricultura foi acompanhada na FAO e também na UPOV seguem dando as comunidades locais e indígenas e os estabelecer que, não fere o direito de propriedade aquele
produto da colheita, abrindo a porta para a cobrança de
de uma discussão sobre o respeito aos direitos dos agricultores de todas as regiões do planeta em particular que:
royalties sobre a produção.
agricultores à livre utilização da Agrobiodiversidade. dos centros de origem e diversidade das plantas cultivadas
• Reproduzir e utilizar sementes para uso próprio;
à conservação e ao desenvolvimento dos recursos Se aprovado, este projeto de lei garantirá às empresas que
detêm os direitos de propriedade intelectual sobre a
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semente o direito de controlar também o produto da crime de violação dos direitos do melhorista.” As principais dificuldades encontradas por estas • Falta de acesso a sementes básicas: como as
colheita e a ter o direito de cobrar uma indenização pela empresas são as seguintes: empresas de sementes de pequeno porte dificilmente
utilização do produto sem autorização. Essa possibilidade representa uma grande ameaça aos conseguem preencher os requisitos para serem
direitos dos agricultores. Caso seja aprovado, os • Aumento da Burocracia: as exigências burocráticas mantenedoras, têm que comprar sementes básicas de
De acordo com o projeto de lei: “o que vender, oferecer à detentores de direitos de propriedade intelectual sobre para a manutenção da produção de sementes são empresas. No entanto, muitas vezes, as empresas
enormes. recusam-se a vender as sementes básicas a quem tem
venda, reproduzir, importar, exportar, bem como embalar sementes e mudas poderão impor restrições ainda maiores
interesse em produzir sementes.
ou armazenar para esses fins, ou ceder a qualquer título, ao seu livre uso, causando diminuição da autonomia sobre
material de propagação ou produto da colheita de cultivar o uso das sementes e usufruto das colheitas, aumento do
protegida sem autorização do titular, fica obrigado a
indenizá-lo, em valores a serem determinados em
preço dos produtos alimentícios e comprometimento da
soberania alimentar das populações urbanas e rurais.
Acesso aos Recursos Genéticos e ao Conhecimento
regulamento, além de ter o material apreendido, assim
como pagará multa equivalente a vinte por cento do valor
Tradicional Associado. Repartição de Benefícios?
comercial do material apreendido, incorrendo, ainda, em Legislação sobre acesso a recursos genéticos no Brasil
Quando o Brasil assinou a Convenção sobre
Lei de Sementes e Mudas - Lei 10.711/2003 Diversidade Biológica (CDB), comprometeu-se a
regulamentar o acesso aos recursos genéticos e criar um
mecanismo de repartição de benefícios advindos do
Em 2003, o Brasil públicas, as atividades de comercialização, distribuição e desenvolvimento de produtos obtidos através do acesso
aprovou uma nova troca de sementes crioulas são permitidas, independente ao conhecimento tradicional associado à Biodiversidade.
legislação sobre de registros.
sementes e mudas. Desde 2001, uma Medida Provisória (nº 2186-16)
A criação de uma Aspectos da Legislação relacionados às regulamenta este tema no Brasil. A partir de 2001, quando
Sementes Crioulas: uma empresa ou
nova legislação tinha
como objetivo pesquisador utiliza o
Definição: variedade desenvolvida, adaptada ou
regulamentar a "Quando se pede às conhecimento de uma
produzida por agricultores familiares, assentados da
produção de comunidades que comunidade para
reforma agrária ou indígenas, com características
sementes no Brasil, vendam seu desenvolver um produto,
fenotípicas bem determinadas e reconhecidas pelas
estabelecendo seja um remédio, um
respectivas comunidades e que, a critério do Mapa, conhecimento às
critérios para produção e certificação da produção. cosmético ou qualquer
considerados também os descritores socioculturais e corporações, está se
outro, precisa cumprir a
A revisão da legislação (já havia no país uma lei de
ambientais, não se caracterizem como substancialmente pedindo que vendam seu legislação sobre o “acesso que realmente protegesse o patrimônio genético brasileiro.
semelhantes às cultivares comerciais. direito inato de continuar aos recursos genéticos”. Um mês depois, publicava-se a MP 2186-16,
sementes, de 1965), foi uma reivindicação do agronegócio.
a praticar suas tradições interrompendo o diálogo entre a sociedade e o Congresso
A partir da lei de sementes, consolidou-se um marco Inscrição no Registro Nacional de Sementes: ficam sobre o assunto e ainda criando um marco legal
normativo que privilegia as grandes empresas do setor e isentos da inscrição no RENASEM (Registro Nacional de
no futuro e suprir suas O contexto de edição da
Medida Provisória que inadequado.
um modelo de produção de sementes: o modelo de Sementes e Mudas) os agricultores familiares, os necessidades com
produção associado à Revolução Verde e à uma conhecimentos e regulamenta o assunto no
assentados da reforma agrária e os indígenas que Aspectos da Legislação no Brasil
agricultura baseada na monocultura, na mecanização, na Brasil é revelador do
multipliquem sementes ou mudas para distribuição, troca recursos próprios.”
alta dependência de insumos químicos e na propriedade cenário dentro da qual a
ou comercialização entre si. Não é obrigatória a inscrição Vandana Shiva De acordo com a Medida Provisória, o acesso ao
intelectual. legislação sobre acesso
no Registro Nacional de Cultivares de cultivar local, patrimônio genético brasileiro só será feito com autorização
aos recursos genéticos está inserida:
tradicional ou crioula, utilizada por agricultores familiares, da União (Governo Federal). O “acesso” é entendido como
Por outro lado, a Lei de Sementes e Mudas possibilitou o
assentados da reforma agrária ou indígenas. A criação de uma legislação nesta área no Brasil já estava a obtenção de amostra do patrimônio genético para fins de
reconhecimento das sementes crioulas, também
conhecidas como sementes tradicionais ou sementes da em discussão no Congresso Nacional, mas, em julho de pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico ou
Políticas Públicas: é vedado o estabelecimento de
paixão, o que viabilizou sua inclusão em políticas públicas 2001, a transnacional do setor farmacêutico Novartis havia bioprospecção.
restrições à inclusão de sementes e mudas de cultivar
desenvolvidas pelo governo e ainda legalizou a atividade firmado um contrato com a BioAmazônia, uma fundação
local, tradicional ou crioula, em programas de As comunidades que criaram, desenvolveram e detêm o
de produção destas sementes. pública, sediada em Manaus. O contrato previa que a
financiamento ou em programas públicos de distribuição conhecimento tradicional associado ao patrimônio genético
BioAmazônia coletaria e enviaria para a Novartis, na Suíça,
ou troca de sementes, desenvolvidos junto a agricultores têm o direito de impedir terceiros de utilizar, realizar testes,
O reconhecimento da semente crioula pela legislação é 10 mil microorganismos diferentes, repassando à
familiares. pesquisar ou explorar este conhecimento e também de
uma vitória dos agricultores e agricultoras. Pela análise da multinacional o direito sobre toda a geração de produtos
lei, é muito claro que as normas aplicáveis às sementes produzidos a partir deles, além da permissão de impedir a divulgação, transmissão de dados ou
registradas não se aplicam às sementes crioulas: elas não
Sementes Registradas informações sobre esses conhecimentos. O conhecimento
transferência e uso dos materiais genéticos por ela
precisam ser inscritas no Registro Nacional de Cultivares e selecionados. A Novartis investiria US$ 4 milhões em tradicional associado é o conhecimento da comunidade
Se avanços foram realizados em relação às sementes
os pequenos agricultores que as multipliquem, inclusive pesquisas por três anos e a BioAmazônia teria direito a sobre os usos daquele recurso genético, para fins de
crioulas, a produção de sementes registradas encontra
para comercialização, não precisam ser cadastrados no apenas 1% (um por cento) em royalties por produtos que alimentação, finalidades associadas ao tratamento de
dificuldades crescentes, pois, além das dificuldades
Registro Nacional de Sementes e Mudas. viessem a ser criados. enfermidades, cosméticas, etc.
impostas pela legislação, o governo não dispõe de uma
política que permita às pequenas empresas de semente, No caso de a comunidade permitir o “acesso” a este
Assim, além de ser possível a inclusão em políticas O caso virou um escândalo nacional e, dentre as críticas
vinculadas à agricultura familiar e camponesa, manterem conhecimento deve ser indicada a origem do
sofridas pelo governo estava a ausência de uma legislação
suas atividades de produção de sementes.
08 09
conhecimento em todas as publicações, utilizações, Outra novidade é a definição de Agrobiodiversidade. Pelo subsistirem as características que permitiram a tais transfere-se para este órgão que não tem qualquer
explorações e divulgações, além de ter o direito de receber Projeto de Lei, Agrobiodiversidade é o conjunto dos conhecimentos serem identificados como de agricultores participação da sociedade - a competência relacionada à
benefícios pela exploração econômica. Neste caso, a componentes da Biodiversidade relevantes para a tradicionais, dentro dos contextos culturais em que foram Agrobiodiversidade.
repartição de benefícios poderá ser feita através da divisão alimentação ou a agricultura e que constituem os gerados.
• Os direitos dos agricultores se restringem ao direito de
de lucros, pagamento de royalties, acesso e transferência Agroecossistemas e também a variedade de animais, “repartir benefícios”. O projeto de lei não menciona o
de tecnologias ou da capacitação de recursos humanos. plantas e microorganismos, nos níveis genéticos, A proposta do Governo Brasileiro direito dos agricultores à livre utilização da
domesticados ou cultivados, e espécies da silvicultura e representa mais uma ameaça à livre Agrobiodiversidade, e, inclusive, das sementes e mudas
A “repartição de benefícios” deve ser objeto de um aqüicultura que sejam parte integral de sistemas a sobre as quais recaem direitos de propriedade
contrato, aprovado pelo Conselho de Gestão dos utilização da Agrobiodiversidade. intelectual, prática atualmente garantida pela legislação.
agrícolas.
Recursos Genéticos - CGEN, órgão responsável por
emitir as autorizações de acesso. Também se define “Agrobiodiversidade Nativa” como parte • A função do “Agrobio” órgão vinculado ao Ministério da
Agricultura não é bem detalhada na lei. Na prática,
da Agrobiodiversidade cujo centro de origem,
Modificação da Lei à Vista: Governo diversificação ou de domesticação compreenda área
formula Proposta de Nova Legislação geográfica localizada no território nacional.
Acontecendo no campo
sobre Acesso aos Recursos Genéticos. Assim, o projeto de lei separa os conceitos de
“Biodiversidade” e de “Agrobiodiversidade”, criando uma
Basf tenta cobrar royalties sobre a produção de arroz
No final de 2007, o governo federal colocou em consulta divisão totalmente artificial. Safra de 2006/2007, no Rio Grande do Sul
pública uma proposta de modificação na legislação sobre A razão disso é a criação de normas diferentes para o
acesso aos recursos genéticos. A principal modificação da acesso à Agrobiodiversidade ou ao conhecimento
Em novembro de 2006, a BASF divulgou um comunicado dos investimentos em pesquisas voltadas à cadeia
nova proposta de lei é justamente o tratamento dado à tradicional a ela associado.
anunciando que cobraria royalties sobre o uso “indevido” produtiva do arroz.
agrobiodiversidade.
Estas normas são mais flexíveis do que as normas para o da tecnologia contida na variedade de arroz clearfield.
O projeto propõe a criação de um órgão específico - o acesso a outros recursos genéticos: basta cadastrar a Utilização de Semente para Uso Próprio
De acordo com o documento da BASF, “o valor da
Agrobio - vinculado ao Ministério da Agricultura e com atividade no Cadastro Nacional da Agrobiodiversidade em Desacordo com Legislação é Principal
indenização pelo uso não autorizado em caso de
competência para: acompanhar as atividades relativas à e informar a forma de repartição de benefícios.
Agrobiodiversidade e à proteção dos direitos dos
declaração espontânea do agricultor, será equivalente a 4% Causa de Multa a Agricultores no Paraná.
No caso de acesso a outros recursos genéticos, o órgão
do preço do arroz na ocasião da venda do grão. No caso
agricultores; propor, monitorar e avaliar a execução de executivo do Conselho de Gestão dos Recursos O uso próprio de sementes é permitido pela legislação
da não declaração e posterior detecção, a indenização
políticas públicas relacionadas à Agrobiodiversidade e Genéticos deverá conceder uma licença. brasileira. No entanto, a mais importante reivindicação do
Na prática, significa criar um sistema flexível e “facilitado” será de 6%.”
acompanhar registros de comercialização de produtos Agronegócio sementeiro no Brasil é a restrição à utilização
comerciais oriundos de acesso ao recurso genético ou aos para o acesso relacionado às plantas e animais utilizados
A variedade: uma semente de arroz registrada no Registro de sementes para uso próprio.
seus derivados, provenientes da Agrobiodiversidade. para alimentação e agricultura.
Nacional de Cultivares pelo Instituto Rio Grandense
de Arroz (IRGA), autarquia pública mantida com dinheiro Como resultado desta pressão, o decreto que
Direito dos Agricultores no Anteprojeto de Lei. dos produtores. regulamentou a Lei de Sementes estabeleceu uma série de
exigências para os produtores que guardam sementes
Esta variedade contém o que a BASF denomina de para uso próprio:
Outra novidade da proposta de lei apresentada pelo obrigatoriedade do poder público em adotar medidas para
tecnologia clearfield que consiste, na introdução, na planta,
Governo Federal é a normatização dos direitos dos “promover estes direitos”. • Inscrição da prévia da área no Ministério da Agricultura,
da resistência ao agrotóxico Only produzido pela própria
agricultores. Pelo projeto de lei formulado pelo governo, os com o georeferenciamento;
As formas de “promoção” citadas na lei são: a proteção do BASF.
direitos dos agricultores
são “aqueles decorrentes conhecimento tradicional relevante à alimentação e à • Obrigatoriedade do beneficiamento da semente ser
Esta técnica é patenteada pela empresa desde 1992. A
"Colocar as contribuições de todo conhecimento, agricultura; o direito de participar de forma eqüitativa na realizado apenas dentro da propriedade.
BASF divulgou também que os agricultores deveriam
dos cientistas das inovação ou prática, repartição dos benefícios derivados da utilização dos
manter separadas a produção de arroz clearfield da Todas essas exigências são ilegais pois extrapolam em
grandes empresas acima individual ou coletiva, recursos genéticos provenientes da Agrobiodiversidade e o
produção de outras variedades, caso contrário, a muito o que a Lei de Sementes prevê. Apesar disso, o
associado às direito de participar na tomada de decisões sobre assuntos
das contribuições “cobrança” seria sobre toda a produção. Ministério da Agricultura tem fiscalizado e multado
propriedades e usos da relacionados à conservação e ao uso dos recursos genéticos
intelectuais dos da Agrobiodiversidade.
agricultores em todo o país.
diversidade biológica, A atitude da BASF é ilegal: primeiro, porque a legislação
agricultores ao longo de
que, em sistema de brasileira não permite a “dupla proteção” (aplicação de Esta pressão política tem feito o Ministério da Agricultura
10.000 anos- Os direitos dos agricultores também asseguram
mecanismos de propriedade intelectual: patentes e
agricultura tradicional, ao titular: aumentar a pressão pela fiscalização.
contribuições à contribua para a cultivares); depois, porque a BASF estaria cobrando sobre
conservação, à criação conservação ou o • Direitos morais sobre o conhecimento tradicional associado a produção, o que não é permitido pela Lei de Proteção No ano passado, a maior causa de autuação de
de variedades, à desenvolvimento de relevante à agricultura e à alimentação ou à variedade, raça de Cultivares. agricultores no Estado do Paraná pelo Ministério da
domesticação e variedade crioula relevante ou linhagem crioula desenvolvida, sendo inalienáveis, Agricultura foi o “armazenamento irregular de sementes
Para não ter que se submeter à transnacional, os para uso próprio”.
desenvolvimento dos à alimentação ou à impenhoráveis e irrenunciáveis, e assegurados por prazo
produtores gaúchos tiveram que recorrer ao Judiciário, que
recursos biológicos agricultura.” indeterminado;
por enquanto, reconheceu a ilegalidade da atitude da Ministério Público pede Suspensão de
animais e vegetais - é um BASF.
O projeto de lei não • Direitos patrimoniais sobre o conhecimento tradicional
ato de discriminação Patente do Sabonete de Murumuru.
esclarece o conteúdo associado relevante à agricultura e à alimentação ou à
social” destes direitos, mas variedade, raça ou linhagem crioula desenvolvida, sendo
Como resposta, a empresa anunciou que não renovará os
Vandana Shiva contratos de licenciamento da tecnologia no Brasil e o fim O Ministério Público Federal no Acre expediu
estabelece a impenhoráveis e irrenunciáveis, e assegurados enquanto recomendação ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade
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Industrial) para suspender o pedido de patente da fórmula Pelo acordo, os índios forneceriam as sementes e teriam uma diminuição da colheita de agricultores que não restrição de uso foi mantida.
do Sabonete de Murumuru. direito a 25% dos rendimentos obtidos pela empresa. Com utilizam as sementes modificadas, o que também poderia A COP 8, além de reafirmar a decisão V/5, ainda
isso, os Ashaninka preocuparam-se em formar e capacitar acontecer no caso de contaminação mecânica. recomendou aos países membros da Convenção:
O pedido de patente foi solicitado pelo empresário Fábio a comunidade para a exploração da Castanha de respeitar o conhecimento tradicional e os direitos dos
Fernandes Dias, mas segundo o Ministério Público, a Murumuru de forma sustentável, sem que o conhecimento • As características obtidas com as TGRU podem, não agricultores à preservação das sementes de uso
fórmula pertence à comunidade indígena Ashaninka do Rio somente afetar a espécie doméstica - com impactos tradicional e continuar a realização de novas
da fabricação do produto fosse tornado público. De acordo
Amônia no Acre. O empresário teria conhecido a potenciais no rendimento e na qualidade - mas também
com o Ministério Público, a empresa Tawaya funcionava pesquisas sobre os impactos ecológicos, sociais,
conferir propriedades não desejadas em parentes
elaboração do extrato de Murumuru quando desenvolvia inicialmente no Vale do Juruá, mas logo foi transferida para econômicos e culturais das tecnologias genéticas de
selvagens.
um projeto de pesquisa de levantamento de produtos Cruzeiro do Sul, distante da área, impedindo a comunidade restrição de uso, em especial sobre comunidades
florestais, em parceria com uma ONG. No final da de participar da fabricação. Os Ashaninka sustentam que o • As TGRU podem contaminar variedades locais, sendo indígenas e locais.
pesquisa, decidiu implantar uma empresa de empresário não tinha a autorização para patentear o possível um processo de substituição, reduzindo a
beneficiamento para produzir o extrato de Murumuru em diversidade agrícola e ocasionando a erosão genética. O Brasil apoiou a moratória, mas a posição dos
produto.
escala industrial. ministérios com competência sobre este assunto
Fonte: Folha do Amapá. Link: http://www.folhadoamapa.com.br/ • As TGRU podem precipitar a perda do conhecimento ficou dividida: o Ministério da Agricultura e o
local devido à dependência inerente a esta tecnologia. Ministério da Ciência e Tecnologia defenderam que a
Isto pode resultar em uma perda da estabilidade e
Controlando a vida pela tecnologia sustentabilidade destas comunidades assim como a
perda das práticas tradicionais de produção agrícola, o
utilização das tecnologias de restrição de uso
deveriam ser avaliadas “caso-a-caso”, enquando o
Tecnologias genéticas de restrição de uso que pode ameaçar a segurança alimentar local. ministério do Meio Ambiente defendeu a reiteração da
moratória.
• As TGRU podem contribuir para a concentração no
Apesar da legislação estar se tornando mais restritiva, herbicida caso algum outro produto fosse usado para mercado de sementes, diminuindo as possibilidades dos
estabelecendo cada vez mais normas de controle da ativar esta característica). pequenos agricultores e comunidades locais obterem
produção, favorecendo a formação de monopólios, a outra As V-GURTs (V vem do inglês - variety) produzem plantas sementes no mercado local.
estratégia das empresas consiste em desenvolver saídas que geram sementes estéreis, impedindo a produção de
sementes pelos próprios agricultores. Este tipo também é • O uso não intencional de variedades patenteadas pode
tecnológicas para restringir a livre utilização das sementes.
causar processos judiciais e acarretar responsabilidade
conhecido como “terminator”.
pelo pagamento de royalties por comunidades indígenas
Isso está sendo feito através do desenvolvimento das
ou locais.
Tecnologias Genéticas de Restrição de Uso Para as transnacionais como a Monsanto, a Syngenta e a
(conhecidas pela digla em inglês GURT). São tecnologias, Bayer (que já tem patentes registradas sobre estas • Diferente dos mecanismos de propriedade intelectual,
que através da utilização da engenharia genética, permitem tecnologias) trata-se de impor definitivamente - para além que vigoram por tempo determinado, as TGRU podem
a manipulação da expressão das características das da utilização de sementes transgênicas - o controle ser usadas, com o mesmo objetivo, por tempo
plantas. absoluto sobre a produção agrícola. indeterminado.

Existem dois tipos de Tecnologias Genéticas de A permissão legal para utilizar as tecnologias de restrição Em março de 2006, sob forte pressão dos
Restrição de Uso: as T-GURT e as V-GURT. de uso acabaria com qualquer preocupação sobre a movimentos sociais, a “moratória de fato” da CDB
cobrança de royalties, que tem perturbado a Monsanto em sobre a utilização das tecnologias genéticas de
As T-GURTs (T vem do inglês trait - que significa toda a América do Sul. Além disso, surgiriam para estas
característica) servem para condicionar determinadas transnacionais possibilidades incríveis de maximizar lucros:
características das plantas a indutores químicos externos imagine condicionar a germinação da Soja RR à utilização Modificação da Lei à Vista. Pressão para liberar
(por exemplo, uma planta só geraria a resistência a um do Roundup.
Tecnologias de Restrição de Uso continua no Brasil.
Tecnologias de Restrição de Uso na Convenção A Lei de Biossegurança proíbe a utilização para qualquer
fim, o registro, o patenteamento e o licenciamento das
tecnologias genéticas de restrição de uso de variedade são
mecanismos moleculares induzidos em plantas
sobre Diversidade Biológica tecnologias genéticas de restrição de uso que envolvam a geneticamente modificadas para a produção de sementes
geração de estruturas reprodutivas estéreis ou a ativação estéreis sob condições específicas.”
Este tema surgiu na Convenção sobre Diversidade socioeconômicos e qualquer efeito prejudicial para a ou desativação de genes relacionados à fertilidade das
Biológica em 2000, quando a 5ª Conferência das Partes diversidade biológica, a segurança alimentar e a saúde.” plantas por indutores químicos externos. Pela redação do Projeto de Lei, ficariam autorizados o
recomendou, através da Decisão 5/V, que “devido à patenteamento, a pesquisa ou qualquer outra atividade
ausência, no presente, de dados confiáveis sobre as Em 2002, na COP 6, a decisão 5/V foi reafirmada, tendo as No entanto, tramita na Câmara dos Deputados um Projeto que não seja a comercialização de sementes que
tecnologias genéticas de restrição de uso genético, sem os partes decidido pela designação de um grupo de peritos de Lei (nº 268/2007) de autoria do deputado paranaense contenham tecnologias genéticas de restrição de uso.
quais se carece de uma base adequada para avaliar seus (“Ad hoc Technical Expert Group”), para avaliar os Eduardo Sciarra (DEM), que tem como objetivo modificar a
“Impactos Socioeconômicos da utilização das atual Lei de Biossegurança, flexibilizando a atual proibição A comercialização seria permitida apenas no caso de
possíveis riscos, as partes não devem aprovar produtos
Tecnologias Genéticas de Restrição de Uso em de utilização das tecnologias genéticas de restrição de plantas biorreatoras, definidas como as plantas
que incorporem estas tecnologias para experimentos de
Comunidades Tradicionais, Locais e nos Direitos do uso. O deputado propõe a modificação da atual redação geneticamente modificados para produzirem proteínas ou
campo até que existam dados científicos adequados que
Agricultor.” da lei para a seguinte: substâncias destinadas, principalmente, ao uso terapêutico
possam justificar estes experimentos, e para o uso
ou industrial.
comercial, até que tenham sido realizadas avaliações
Este relatório concluiu que: “Fica proibida a comercialização de sementes que
científicas de forma transparente e se tenham comprovado No PL, a questão das “plantas biorreatoras” tenta esconder
contenham tecnologias genéticas de restrição de uso de
as condições para seu uso seguro e beneficioso em Através da contaminação, as características das plantas o real objetivo do projeto: a permissão da utilização desta
variedade, salvo quando se tratar de sementes de plantas
relação com, entre outras coisas, seus efeitos ecológicos e modificadas podem ser transferidas a outras, ocasionando tecnologia para pesquisa em campo e a permissão de
biorreatoras; Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei,
patenteamento destas tecnologias no Brasil.
12 13
Tecnologias Genéticas de Restrição de Uso e Biossegurança: A questão das Árvores Transgênicas na Convenção
matando a sede com àgua do mar sobre Diversidade Biológica
A mais nova justificativa para a utilização das Tecnologias A utilização das Tecnologias Genéticas de Restrição de
As árvores transgênicas entraram na agenda da CDB na A partir desta decisão, a secretaria do grupo de trabalho
Genéticas de Restrição de Uso é sua utilização como Uso como medida de Biossegurança é mais uma falácia
última Conferência de Partes da CDB (COP 8). sobre diversidade biológica florestal recolheu informações
uma “medida de Biossegurança” para evitar a da indústria de biotecnologia.
O grupo de cientistas designados pela CDB para sobre os potenciais impactos ambientais,
contaminação de plantas convencionais ou agroecológicas Nesta Conferência adotou-se a decisão VIII/19 - B,
apresentar um estudo sobre os impactos das GURTs em socioeconômicos e culturais das árvores geneticamente
por variedades transgênicas. segundo a qual, “as partes da Convenção sobre
2005 apontou que “o mais óbvio inconveniente no desenho modificadas.
Diversidade Biológica deverão adotar um enfoque de
A União Européia está investindo 5,38 milhões de Euros no é que plantas GURTs produzem Pólen GM capaz de
precaução em relação à utilização das árvores Após compilar informações sobre os potenciais impactos
projeto Transconteiner, que tem como objetivo “desenvolver fertilizar cultivos próximos e plantas silvestres ou invasoras
geneticamente modificadas, em razão do grau de incerteza das árvores transgênicas, o secretariado da CDB concluiu
sistemas estáveis e eficientes de contenção para plantas aparentadas. Os transgenes contidos no Pólen GM e
científica relacionado à sua aplicação.” que: “até o momento, existe uma grande incerteza sobre a
geneticamente modificadas, para garantir a coexistência de (potencialmente) qualquer proteína expressada por esses
utilização das árvores geneticamente modificadas e não se
plantas transgênicas com outros tipos de cultivos”. genes estarão, assim, presentes na semente da No mesmo texto, as partes solicitaram ao Secretário dispõe dos dados científicos necessários para avaliar seus
polinização cruzada, independentemente se essa semente Executivo que compilasse a informação sobre impactos
O principal objetivo do projeto é desenvolver plantas possíveis impactos.”
se tornou estéril.” ambientais e socioeconômicos das árvores transgênicas,
geneticamente modificadas “que se auto-contenham” para
para que na 9ª Conferência de Partes tais informações
evitar o risco de fluxo gênico e a contaminação de Portanto, do ponto de vista técnico, o problema da
fossem novamente analisadas.
variedades orgânicas ou convencionais. contaminação não estaria resolvido, já que as
características indesejáveis das plantas (o
No site do Projeto, afirma-se que as tecnologias
desenvolvidas não implicarão em uma esterilidade
condicionamento da fertilidade) poderiam ser transmitidas
para cultivos não geneticamente modificados ou
Direitos dos Agricultores
permanente, uma vez que incluíriam mecanismos para
variedades silvestres.
reverter esta característica através de indutores químicos O objetivo deste informativo foi dar um panorama da como forma de enfrentamento ao Agronegócio que a
externos. A iniciativa da União Européia é só mais uma forma de regulamentação vigente e também das propostas de resistência é mais visível.
apresentar as Tecnologias de Restrição de Uso à modificação da legislação que regulamenta a utilização da
opinião pública de uma forma mais “suave”. Resta saber Agrobiodiversidade. O testemunho mais importante deste fato é o
se a União Européia vai ter coragem de defender este fortalecimento crescente das iniciativas em Agroecologia,
absurdo também na CDB e no Protocolo de Fica claro que as leis surgidas tiveram como eixo principal baseadas no uso livre e comum da Agrobiodiversidade e

Árvores Transgênicas Biossegurança. a criação de mecanismos de apropriação da


Agrobiodiversidade, principalmente através da propriedade
da natureza e que são capazes de afirmar cotidianamente
que a própria manutenção da Agrobiodiversidade depende
intelectual. da atividade de milhões de agricultores em todo o mundo.
Sem fazer alarde, as empresas
de papel e celulose iniciaram lignina, também realizados no estado de São Paulo. A legislação é um dos componentes para a criação de um Em muitos países, diferentes formas de manifestação tem
experimentos com árvores ambiente político, jurídico e institucional favorável ao expressado a resistência contra a privatização da
Atualmente, existem 21 campos experimentais de eucalipto modelo de produção do Agronegócio e que entra em Biodiversidade e da própria vida. Um exemplo é a
transgênicas no Brasil.
transgênico no Brasil. conflito direto com as práticas historicamente campanha da Via Campesina, denominada “Sementes,
Os primeiros experimentos em desenvolvidas pelos camponeses, para quem a Patrimônio dos Povos a Serviço da Humanidade”.
As principais empresas envolvidas nos experimentos são
campo com árvores Biodiversidade de um modo geral constitui ao mesmo
Arbogen e International Paper. Os riscos envolvendo os Além destas iniciativas e experiências, podemos citar
transgênicas foram realizados tempo, um recurso material e econômico, mas também um
experimentos com eucalipto transgênico são gravíssimos e também como estratégias no campo da resistência:
com uma variedade de valor cultural.
impactantes:
Eucalipto patenteada pela
Por esta razão, o aprofundamento da aplicação dos • Articulações entre movimentos e organizações sociais
Monsanto e resistente ao • O pólen das árvores pode ser transportado pelo vento a para evitar que a legislação brasileira de sementes negue
herbicida glifosato: o eucalipto enormes distâncias; mecanismos de propriedade intelectual e controle da
aos agricultores o direito de produzir, trocar e
roundup ready. O campo Biodiversidade teve como resposta o surgimento e comercializar suas sementes;
experimental localizava-se no • Os experimentos duram mais tempo e a dispersão de organização de estratégias de resistência das
estado de São Paulo, em pólen é anual. comunidades e movimentos sociais em nível local, nacional • Criação de mecanismos para impedir a apropriação e o
Santa Cruz das Palmeiras. O e global. uso indevido das variedades crioulas por pesquisadores
Apesar disso, a CTNBio só criou normas para liberação e/ou empresas;
plantio ocorreu em novembro
planejada no meio ambiente de experimentos com árvores No campo institucional, das leis e regulamentações, esta
de 1999 e a colheita deu-se em
transgênicas em 2007. Mas as normas estabelecidas são resistência se expressou através do reconhecimento dos • Negociações para que os programas de crédito rural,
11/01/2002. A Universidade Federal de Viçosa também seguro agrícola, assistência técnica e os programas
insignificantes se comparadas com o impacto que estes direitos dos agricultores como forma de oposição à
realizou experimentos neste mesmo período. estaduais de sementes fomentem o uso livre e autônomo
experimentos podem causar. propriedade intelectual. O Tratado sobre os Recursos
das sementes crioulas sob um enfoque agroecológico,
Em 2004, a International Paper do Brasil Ltda. e a Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura garantindo os direitos dos agricultores;
As normas estabelecidas pela CTNBio prevêm um reconhece este direito e a legislação brasileira também
Companhia Suzano de Papel e Celulose obtiveram
isolamente de 1 quilômetro de plantio de eucalipto para a (por exemplo, no art. 10 da lei de proteção aos cultivares). • Formulação de um Programa Nacional de
autorização para experimentos em campo com eucalipto
produção de sementes ou quando houver risco de Agrobiodiversidade voltado para o incentivo às iniciativas
geneticamente modificado com os genes para redução de
cruzamento e de 3 quilômetros de apiários, desde que Mas, é principalmente no campo, na manutenção da locais de uso livre e autônomo da Biodiversidade,
instalados antes do experimento. agricultura camponesa e na construção da Agroecologia inclusive através da compra e distribuição de sementes
14 crioulas produzidas pelos agricultores; 15

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