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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Orientador: Prof. Dr. Fernando Guilherme Tenório
Rio de Janeiro
2008
2
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
RESUMO
Com a crise da automação rígida (década de 60), têm sido paulatinamente flexibilizados os
modelos de gestão outrora de cunho fordista; porém, as fábricas de software, ao surgirem nos
anos 90, fabricando produtos tecnologicamente os mais avançados e adotando controles
eminentemente fordistas, parecem estar seguindo na contramão do ciclo de evolução das
organizações.
ABSTRACT
Due to the crisis over rigid automation that occurred around 1960, management models
essentially fordist, have gradually become more flexible. The software factories, however,
that emerged in the nineties manufacturing the most advanced technological products,
adopted eminently fordist controls and seem to be going contrary to the evolutionary cycle
that organizations tend to follow.
The alternation between rigid and flexible management models of these software factories,
observed under continuum fordism (0) ______ (1) post-fordism, as well as the limitations of
the metaphor that emerges given the nature of the software they manufacture, constitutes the
object of the study.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
1 Introdução--------------------------------------------------------------------------- 11
2 Fundamentação Teórica---------------------------------------------------------- 19
2.1 Metáfora ----------------------------------------------------------------------------- 19
2.2 Taylorismo -------------------------------------------------------------------------- 21
2.3 Fordismo ---------------------------------------------------------------------------- 23
2.4 Pós-Fordismo ----------------------------------------------------------------------- 28
2.5 Fábricas de Software -------------------------------------------------------------- 30
2.5.1 Conceituação ----------------------------------------------------------------------- 30
2.5.2 Processos de Desenvolvimento de Software ---------------------------------- 37
2.6 Gestão do Conhecimento -------------------------------------------------------- 42
3 Metodolgia ------------------------------------------------------------------------ 46
3.1 Tipo de Pesquisa ------------------------------------------------------------------ 46
3.2 Universo da Amostra ------------------------------------------------------------- 47
3.2.1 Fábrica A --------------------------------------------------------------------------- 48
3.2.1.1 Origens da Fábrica A ------------------------------------------------------------- 48
3.2.1.2 Estrutura da Fábrica A ----------------------------------------------------------- 52
3.2.2 Fábrica B --------------------------------------------------------------------------- 53
3.2.2.1 Origens da Fábrica B ------------------------------------------------------------- 54
3.2.2.2 Estrutura da Fábrica B ----------------------------------------------------------- 54
3.3 Seleção dos Sujeitos -------------------------------------------------------------- 58
3.4 Coleta de Dados ------------------------------------------------------------------- 59
3.5 Tratamento dos Dados ------------------------------------------------------------ 60
3.6 Limitações do Método ------------------------------------------------------------ 61
Bibliogafia ------------------------------------------------------------------------------------ 92
11
1 – Introdução
Segundo Fernström et alli (apud Medeiros et alli: p. 2), a fábrica clássica, onde as
pessoas atuam como máquinas na realização de tarefas pré-determinadas, não é um modelo
nem desejável nem correto para fabricação de software. No contexto de software, a analogia
com a fábrica pode ser aplicada apenas aos objetivos da produção baseada no estilo industrial,
12
Tinha-se a impressão de que os serviços que lhes eram encomendados, tanto pela
complexidade como pela extensão, sempre extrapolavam o prazo requerido, dada a
permanente tensão fruto do empirismo e da inexistência, na época, de métodos de apoio ao
raciocínio nem de otimização de tarefas. Essa era a realidade observada nos centros de
processamento de dados (CPD), sítio na época desse serviço. A esses profissionais eram
exigidas boas idéias a cada momento, o que lhes conferia o bônus do reconhecimento, mas
também o ônus do desgaste físico e emocional.
____________________________
1
Sistema (software) corresponde a um conjunto de programas
2
Analistas de Sistemas projetam lógica e fisicamente o software, e especificam cada programa (regras de
negócio a serem implementadas, modelos de telas, relatórios, dados de entrada e de saída)
3
Programadores modelam o fluxo lógico de cada programa, criam algoritmos e implementam a solução,
codificando o programa na linguagem de programação pré-determinada pela arquitetura do software
13
Indo aos extremos, aquela criatividade que anteriormente chegou a ser “endeusada”,
passou a ser “mal-vista”, pois produzia aqueles sistemas e programas que muitas vezes só o
desenvolvedor era capaz de dar manutenção.
Um grande avanço ocorreu em meados dos anos 60: a abordagem top-down enunciada
pelo professores italianos Boehm e Jacopini, Dijkstra dos Países Baixos, e Wirth da Suíça.
Porém, foi já nos anos 70 que a teoria de programação top-down ou estruturada, método dos
refinamentos sucessivos ou “método em cascata”, influenciou na prática o trabalho dos
programadores, fruto dos estudos de Mills, Baker, Yourdon, Constantine, Jackson e Orr. Os
programas se tornaram mais claros, escritos mais rapidamente e mais fáceis de modificar. O
processo inicialmente empírico de modelagem de sistemas também evoluiu bastante, a partir
do advento das metodologias de Análise Estruturada (abordagem funcional) e Análise
Essencial (abordagem orientada a eventos).
A evolução da Informática a partir dos anos 60 pode ser representada pelo quadro a
seguir, cujas siglas se encontram descritas na Lista de Abreviaturas e Termos:
Esse mercado cresceu e continua crescendo muito, à medida que software vem sendo
incorporado a quase todos os produtos e atividades da sociedade moderna. Além da evolução
do grau de formalismo das técnicas de execução, conforme viemos relatando, o crescimento
desse mercado tornou necessário também que a gestão do processo de desenvolvimento de
software viabilizasse produção em larga escala, com qualidade e a menor custo.
O CMM define níveis de maturidade (capacidade) para organizações que têm por
objetivo produzir software, que variam de 1 a 5 da seguinte forma:
• Nível 1: processo inicial
• Nível 2: processo gerenciado
• Nível 3: processo definido
• Nível 4: processo gerenciado quantitativamente
• Nível 5: processo em fase de melhoria contínua
De acordo com Lai apud Zahran (1998) apud Fernandes (2004), o desenvolvimento de
software tem progredido através das seguintes ondas:
• Primeira Onda: ciclo de vida representado pelo modelo cascata e métodos
estruturados;
• Segunda Onda: movimento de maturidade do processo de software (CMM),
motivado pelas altas taxas de insucesso em projetos de software desenvolvidos na
primeira onda;
• Terceira Onda: industrialização do software viabilizada pela evolução da
tecnologia de orientação para objetos.
projetos, o layout funcional faz fluir o conhecimento do negócio mais facilmente, conferindo
maior velocidade à produção.
Esse estudo, ao identificar pontos conflitantes desse cenário que estejam prejudicando
a produtividade, pretende colaborar com os gestores da indústria de TI, especialmente com
aquelas que, além de desenvolver, também prestam serviço de manutenção evolutiva de
sistemas.
2 – Fundamentação Teórica:
2.1 – Metáfora
Para Souza (2003), além de ser uma espécie de jogo lingüístico, a metáfora é um modo
de raciocinar típico do gênero humano, uma maneira muito corriqueira de conceituar o
mundo. Através das metáforas, o homem manifesta sua visão sobre as coisas do mundo e
revela as relações entre elas, da maneira como são processadas em sua mente. Ainda segundo
Souza (2004. p. 6):
A visão de Aristóteles sobre a metáfora como uma espécie de ornamento da
linguagem vem perdurando por muitos séculos, e nem se pode dizer que não
haja resquícios desse pensamento, ainda hoje, nos estudos lingüísticos – prova
disso são os conceitos para essa forma de sentido figurado veiculados nos
manuais didáticos e em algumas gramáticas, fora a própria visão que se tem
sobre esse recurso no âmbito dos estudos literários. No entanto, considerada
como um procedimento que vai além do nível do enunciado e atinge as
20
Metáforas são utilizadas para gerar uma imagem que permita estudar um objeto; essa
imagem (parcial e unilateral) pode fornecer a base para uma pesquisa científica fundada nas
tentativas de descobrir até que ponto as características da metáfora podem ser encontradas no
objeto da investigação, (Morgan, 2005, p. 63):
A metáfora é, então, baseada numa realidade parcial; ela requer das pessoas
que utilizem uma abstração um tanto unilateral em que determinadas
características sejam enfatizadas e outras, suprimidas, em uma comparação
seletiva.
Quanto mais a imagem que a metáfora pretende criar sugere o objeto, ao invés de
identificá-lo, maior seu sentido. Se a imagem criada pela metáfora aproxima-se demais da
“realidade”, ela se torna uma identificação extra, deixando de ser uma comparação, ou seja,
deixando de ser metáfora.
Para Souza (2003), ainda que tais estudos não sejam definitivos, apontam para a idéia
de que o elemento “contexto” é um fator imprescindível numa análise lingüística, dado que
interfere decisivamente na produção do sentido da palavra. Ou seja, a determinação
fronteiriça do sentido literal e do figurado na linguagem não pode ser resolvida como uma
simples questão binária, sendo mais adequado, nesse caso, inserir a categoria “sentido” numa
escala gradativa.
2.2 – Taylorismo
Ele defendia que todo o raciocínio deveria ser retirado do chão de fábrica e centrado
em departamentos de planejamento e controle da produção, dotados de técnicos capacitados
em plantas e estudo de tempos e movimentos. Sendo partidário da necessidade de permanente
luta patronal contra o ócio operário, acreditava que os homens têm uma tendência inata e
instintiva a fazer as coisas com calma; segundo essa percepção, salvo honrosas exceções,
todos os homens cedem à tendência natural de trabalhar num ritmo lento e cômodo.
Seus estudos evidenciaram a drástica separação entre projeto e execução (um dos
princípios fundamentais da administração científica), entregando tudo o que faz parte do
projeto e da organização a especialistas no assunto, enquanto aos operários só sendo exigido
que executem o trabalho atendo-se rigorosamente às prescrições técnicas recebidas.
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Para Durand (1978), o taylorismo, com ênfase na eficiência, propõe para determinação
do “one best way”, ou seja do como melhor executar uma tarefa:
• Definição precisa dos movimentos elementares, das ferramentas e materiais
necessários para execução de cada tarefa;
• Mensuração (por cronometragem, por exemplo) do tempo de execução de cada um
desses movimentos;
• A partir da análise crítica de cada movimento, busca da simplificação e economia
de gestos, considerando a seqüência e o conjunto de movimentos de cada tarefa.
2.3 – Fordismo
Para Tenório (2000), a empresa implementa suas ações a partir da percepção de que a
mão-de-obra, como fator de produção, participa do sistema-empresa como um insumo –
matéria-prima. A partir do taylorismo-fordismo, paradigma técnico-econômico iniciado na
década de 30, filho predileto da “razão instrumental”, a divisão do trabalho tem sido
implementada por meio de vários instrumentos gerenciadores de suas ações: estrutura
decisória através da disposição hierárquica, definição de atribuições a partir de plano de
cargos e salários, programas de treinamento padronizados conforme modismo vigente,
definição de tarefas através de manualização, etc. Tais mecanismos, apresentados aos
empregados como isentos de interesse e científicos, são utilizados para demarcar o
comportamento do empregado, dificultando a manifestação dos elementos estruturais do seu
mundo da vida.
Entre 1892 e 1896, Henry Ford havia construído um automóvel peça por peça. Em 16
de Junho de 1903, com mais 11 sócios e um capital inicial de US$ 28 mil, fundou a Ford
Motor Co., com aproximadamente 125 empregados, colocando à venda quatro meses depois
o primeiro carro. Cada modelo projetado era identificado, na seqüência, por uma letra do
alfabeto, e em 1908 nasceu o modelo T conhecido no Brasil como Ford Bigode (TENÓRIO,
2000).
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Foram três princípios básicos elaborados por Ford que viabilizaram essa rápida
evolução:
• Intensificação: redução do tempo de produção (emprego imediato de
equipamentos e matéria-prima);
• Economicidade: redução do estoque de matéria-prima;
• Produtividade: aumento da capacidade de produção (especialização e linha de
montagem).
Segundo relato de Gounet (1999), Henry Ford, dez anos depois de ter formado sua
empresa, elaborou um novo método de produção superando o método artesanal destinado a
fabricar um veículo, modelo T, por um preço razoavelmente baixo de forma que fosse
comprado em massa. Esse veículo sem complicações excessivas, e inicialmente projetado
para romper o isolamento de sitiantes nas áreas agrícolas americanas, deveria ser acessível ao
bolso dos consumidores.
No entanto, nos anos 60, o fordismo entrou em crise pela sua inflexibilidade em aderir
a novos parâmetros que não exclusivamente técnicos, porém sócio-econômicos, com
conseqüência direta na relação capital trabalho (Tenório, 2000). Os sinais da crise, segundo
Harvey (1994), foram:
• Insatisfação dos trabalhadores quanto às condições e conteúdo do trabalho;
• Crises sociais causadas pela desigualdade salarial (grandes Organizações x
pequenas, homens x mulheres, etc);
• Incapacidade do Estado de distribuir os benefícios do Fordismo;
• Queda da qualidade dos produtos e serviços oferecidos.
2.4 – Pós-Fordismo
Nas décadas de 1960-1970, sendo que especificamente no Brasil mais a partir dos anos
90, profundas alterações no cenário sócio-econômico (mercados mais volúveis e
imprevisíveis) têm provocado mudanças nos modelos de gestão das organizações, que de
modo geral foram construídos seguindo os preceitos do fordismo.
2.5.1 – Conceituação
Ao contrario, de modo geral vamos nos deparar com um salão silencioso, subdividido
por divisórias que delimitam o espaço de pequenos grupos de empregados (no máximo
quatro), onde na mesa de cada um deles existe um computador no qual estão trabalhando.
Também não é possível distinguir uma das outras as diversas equipes que atuam na fabricação
31
E a esteira, por sua vez, é a própria rede de comunicação de dados sendo utilizada para
transferência dos artefatos4 produzidos por cada empregado, seja de uma competência para
outra, seja dentre os diversos ambientes também virtuais que coexistem numa fábrica de
software.
____________________________
4
Artefato é um produto criado ou modificado durante um processo. Tal produto é resultado de uma atividade, e
pode ser utilizado posteriormente como matéria-prima para a mesma ou para outra atividade a fim de gerar
novos produtos (Rocha, 2005).
33
O percurso dessa esteira pode variar de fabrica para fabrica, seja na subdivisão de
responsabilidades e atribuições por mais estações, seja na nomenclatura. Basicamente são
encontradas as estações representadas na figura abaixo, que ilustra inclusive o modelo de uma
das fábricas estudadas (Fábrica B):
Em cada uma das estações dessa esteira são produzidos artefatos, que desempenham o
papel de “pacotes” circulando virtualmente. Até o momento da programação, quando é enfim
produzido o software propriamente dito (representado na figura pelo “pacote” já embrulhado
como se fosse para um presente), os artefatos produzidos apenas registram concepções, por
34
exemplo, de: atores do mundo real que vão interagir com o software, regras de negócio a
serem observadas em cada uma das funcionalidades que vão ser disponibilizadas para os
usuários, modelos lógico e físico dos dados armazenados nas bases, descrição de algoritmos,
configuração de ambiente de produção (onde vai ser executado o software). Finda a fase de
testes, o software já pronto é submetido ao processo de geração de cópias, repetido tantas
vezes quanto necessário for e infinitamente mais simples do aquele de construção.
As fábricas de software, para Fernandes (2004, p. 117), podem ser definidas como:
Processo estruturado, controlado e melhorado de forma contínua,
considerando abordagens de engenharia industrial, orientado para o
atendimento a múltiplas demandas de natureza e escopo distintas, visando à
geração de produtos de software, conforme os requerimentos documentados
dos usuários e/ou clientes, da forma mais produtiva econômica possível.
A fábrica de projetos físicos atua num âmbito mais amplo do processo de produção,
englobando além das atividades inerentes à fábrica de programas, uma fase anterior de projeto
detalhado e fases posteriores de testes de integração e de aceitação. O conhecimento do
negócio do cliente nessas fábricas não é tão requerido, dado que tal fábrica já recebe como
entrada um projeto lógico (projeto conceitual e especificação lógica).
(o que exclui a fábrica de projetos ampliada), podemos observar a clara separação entre
projeto e execução, identificando a seguinte fronteira:
Projeto Execução
Fábrica de Programas
À luz do modelo fordista, cumpridos tais requisitos e com a alta especialização dos
profissionais alocados, a produtividade de cada estação da esteira de produção estaria
garantida, bem como garantida estaria também a qualidade do artefato produzido para a etapa
seguinte.
Cabe observar que essas questões surgem com intensidade diretamente proporcional
ao escopo da fábrica de software. Isto é, fábricas de programas estão menos sujeitas a elas,
enquanto nas fábricas de projeto de software tal risco é alto. Sob outro aspecto, a fábrica de
programas requer controle rigoroso de tarefas e recursos, visando obter flexibilidade de
entrega e de volume, sendo a gestão de produtividade crucial nesse caso.
Assim sendo, o processo padrão estabelecido deve ser tomado como referencial no
necessário planejamento e definição das estratégias de cada fábrica e deve ser genérico o
suficiente para atender na maioria dos casos. A existência desse padrão também proporciona
economia de tempo e esforço a cada necessidade de customização do processo de
desenvolvimento dadas as particularidades de cada Projeto.
fica a dever àquela de outros produtos manufaturados. Contribui para isso o fato de, durante
as fases que antecedem à codificação dos programas (produto concreto), os artefatos gerados
serem representações de idéias, donde com grande cunho subjetivo, cujo nível de detalhe
varia conforme a profundidade da análise realizada.
Para Zahran (1998), o processo é o elo entre pessoas, equipes, tecnologia, estruturas
organizacionais e a gestão em um todo coerente que focaliza os objetivos e as metas de um
negócio. Portanto:
• O processo e a forma de apoiá-lo devem nortear a definição dos papéis
organizacionais e suas responsabilidades, das práticas gerenciais, das habilidades
requeridas e da seleção e instalação da tecnologia;
• A organização deve especificar as funções a desempenhar e monitorar as
atividades do processo;
• A gerência deve prover a direção estratégica e gerenciar o desempenho do
processo;
• Os técnicos devem ter habilidades para desempenhar com competência as
atividades do processo, e a tecnologia automatizá-las e apóia-las.
executá-las. Um agente está relacionado com as atividades de um processo e pode ser uma
pessoa ou uma ferramenta automatizada. Diferentes agentes terão percepções diferentes
acerca do que acontece durante o processo de software. Por sua vez, cada artefato resulta de
uma atividade. (Rocha, 2005).
Segundo Fernandes (2004), numa fábrica de software deve haver mecanismos para a
criação de conhecimento (explícito), armazenamento, referenciamento e disseminação,
conforme privilégios de acesso. A gestão desse conhecimento, um fator de impulso da
produtividade, ele entende por:
Gestão das habilidades dos colaboradores da fábrica e dos parceiros, gestão da
documentação e informações relativas à técnica de gestão de projetos, técnicas
de engenharia de software, documentação dos processos da fábrica,
documentação de sistemas da qualidade, componentes reutilizáveis,
informações bibliográficas, metodologias, e outras informações disseminadas
pela web, por exemplo.
Stewart (1998) conceitua conhecimento explícito como aquele que você sabe que tem,
e tácito como aquele que você não sabe que tem.
fluxo de conhecimento que as perpassa. Isso nos leva a refletir sobre as conseqüências de não
subdividir o trabalho apenas em duas fases, projeto e execução, tendência taylorista.
3 – Metodologia
Essa pesquisa pode ser classificada segundo a taxonomia de tipos proposta por
Vergara (2005), da seguinte forma:
3.2.1 Fábrica A
(sistemas) que atendem a gestores distintos no ambiente desse cliente. Cada um desses
gestores atua num ramo diferente do negócio, porém os sistemas têm de modo geral alguma
interligação.
Com a perspectiva de perda desse antigo cliente, e daí evidente necessidade de sua
substituição em médio prazo por outros clientes, que provavelmente serão ligados a outros
ramos de negócio, foi decidida a reestruturação do departamento visando a criação de uma
fábrica de software, migrando assim radicalmente, de produto para processo, o foco da
estrutura. Tal mudança foi também estimulada pela possibilidade do departamento passar a
atrair outras demandas da organização, que estavam sendo direcionadas a fábricas de software
indianas.
Vale comentar que, segundo os entrevistados, tal ruptura de paradigma foi uma
experiência traumática tanto para os empregados como para o corpo gerencial, uma vez que
ao mesmo tempo foram mudadas chefias, composição de equipes, atribuições e processos de
trabalho, enquanto as solicitações de serviço continuavam a chegar sem tréguas, no mesmo
ritmo de antes. Ressaltaram, porém, nessas entrevistas que nesse momento de tantas
dificuldades, o espírito de corpo de um grupo trabalhando junto há tantos anos como aquele,
fez com que fossem envidados todos os esforços para não permitir que o cliente fosse afetado
de forma significativa.
Competência 1
Produtos: X, Y, W e Z
Competência 2
Estrutura Inicial da Fábrica A
Produtos: X, Y, W e Z
Competência 3
Produtos: X, Y, W e Z
Ano I
Competência 4
Produtos: X, Y, W e Z
Competência 5
Produtos: X, Y, W e Z
Competência 6
Produtos: X, Y, W e Z
competência para outra, não apenas apoiando a questão do conhecimento mas também
atuando na priorização da execução dos serviços.
Assim sendo, a Fábrica A adentrou o ano de 2007 com as seguintes novas orientações:
• Superpor à estrutura vigente, matricialmente, uma gerência por produto
perpassando todas as competências;
• Investir fortemente na atualização e complementação da documentação de todos os
sistemas já prontos, de modo a agilizar a execução das solicitações de manutenção,
não apenas registrando como também democratizando o acesso a esse
conhecimento;
• Redução da quantidade de competências.
Com isso, na época do nosso estudo, a estrutura vigente na Fábrica A era a seguinte:
X Y W Z
Competência 1
Produtos: X, Y, W e Z
Competência 2
Estrutura Fábrica A
Produtos: X, Y, W e Z
Ano II
Competência 3
Produtos: X, Y, W e Z
Competência 4
Produtos: X, Y, W e Z
Competência 5
Produtos: X, Y, W e Z
O tipo dessa fábrica, pela classificação de FERNANDES (2004) traduz-se num híbrido
entre Fábrica de Projeto de Software e Fábrica de Projetos Físicos, dado que o primeiro
processo de desenvolvimento a seu cargo é a Especificação Lógica. Está subdividida nas
seguintes competências, que atuam em seqüência:
• Requisitos e Escopo (RE)
• Projeto Lógico e Físico (PLF)
• Implementação (IM)
• Testes (TE)
• Disponibilização (DI)
Desde a sua criação, foi previsto na Fábrica A que as competências Projeto Lógico e
Físico, e Implementação estariam subdivididas cada uma delas em células dedicadas às
plataformas de desenvolvimento alta e baixa, e que todas as competências atenderiam a todos
os produtos.
3.2.2 Fábrica B
Mesmo contando com a contratação de novos empregados para fazer frente ao novo
serviço, estava instalada a necessidade de repartir os empregados que detinham tal
conhecimento entre os serviços de manutenção e desenvolvimento, para continuar garantindo
prazo e qualidade. Isso porque até que o novo sistema esteja pronto e em produção, a
organização está contratada para continuar mantendo os sistemas atuais.
Para fazer frente à manutenção dos sistemas atuais, foram reservadas duas equipes
multifuncionais, cada uma delas dedicada a um conjunto de produtos definido com base na
identificação das duas linhas principais do conhecimento do negócio. No caso desse
departamento, o fato da documentação desses sistemas estar atualizada e completa, contribuiu
bastante para que, sem prejuízo do andamento dos serviços, fossem complementadas as
equipes com novas contratações.
55
Então, a solução adotada foi estruturar uma linha de produção única, dedicada ao
desenvolvimento em paralelo dos diversos produtos encomendados, distribuindo os
empregados que detinham o conhecimento do negócio pelas várias estações dessa “esteira”,
surgindo nesse momento a Fábrica B, com 36 empregados, 16 dos quais recém contratados.
Cabe acrescentar que essa solução veio ao encontro de uma diretriz da organização.
Visando aumentar a produtividade e baixar os custos, ela pretende que esse novo modelo,
devidamente validado, posteriormente se estenda ao serviço de manutenção, e em seguida aos
demais Projetos contratados por esse mesmo cliente, atualmente a cargo de outras equipes
(multifuncionais) também sediadas no Rio de Janeiro.
Na figura abaixo está representado, para cada Fábrica, o âmbito de atuação previsto
para cada competência conforme as fases do processo:
A figura abaixo descreve as atribuições previstas para cada competência, sendo qu,
pelo relatado, essa versão que está sendo apresentada foi fruto de um período de 2 meses de
sucessivos ajustes, de modo a precisamente definir o raio de ação de cada competência:
A preocupação constante nesse período era evitar que uma competência, para executar
seu trabalho, dependesse de um conhecimento que efetivamente não estivesse registrado nos
artefatos que recebeu ou que não lhe tivesse sido transmitido explicitamente durante a
passagem de serviço pela outra competência.
Para prevenir falhas de documentação, esse processo instituiu que a equipe de testes,
por amostragem, revisaria os artefatos gerados durante o processo de desenvolvimento,
verificando completeza e coerência com os demais artefatos.
Fábrica A Fábrica B
Competências Total
Qtd % Qtd %
Escopo e Requisitos 12 20.3% 0 0.0% 12
Projeto Lógico 0 0.0% 7 21.2% 7
Projeto Físico 0 0.0% 5 15.2% 5
Implementação 23 39.0% 7 21.2% 30
Testes 14 23.7% 8 24.2% 22
Banco de Dados 1 1.7% 0 0.0% 1
Dados e Componentes 0 0.0% 6 18.2% 6
Projeto Lógico e Físico 7 11.9% 0 0.0% 7
Disponibilização 2 3.4% 0 0.0% 2
Totais 59 33 92
2, onde o respondente tinha que tomar por base a competência assinalada na primeira questão,
pois foi verificado que a redação não estava clara. Nenhum dos questionários respondidos foi
invalidado, sendo que as perguntas que ficaram sem resposta foram contabilizadas em
separado.
Por serem por sua vez fábricas do mesmo tipo, fábricas de projeto de software, e que
portanto englobam a fase de concepção de projetos lógicos, ficou bastante evidente nesse
estudo a faceta da flexibilidade incorporada ao sistema produtivo. Isto porque, não apenas
essa fase inicial do processo de desenvolvimento de software é a que exige maior criatividade,
como também as mudanças de regra e de escopo que acontecem no ambiente do cliente
eclodem dentro do ambiente da fábrica, acentuando a característica de mão-dupla da esteira
de produção. Os dados da pesquisa, ao demonstrar que na competência implementação são
mais fortes os traços repetitividade das tarefas e a especialização do empregado, nos permitem
inferir novamente que se objeto de estudo fossem fábricas de programas, as características de
flexibilidade seriam menos acentuadas.
A segunda fábrica estava em operação há apenas cinco meses, período esse em que
seus processos ainda estavam sofrendo otimização, isto é, não estavam completamente
estáveis, o que pode ter produzido um viés nos resultados observados.
Em ambas as fábricas foi possível observar que, com o uso das novas ferramentas de
desenvolvimento de software, explicitamente chamadas de “ferramentas de alta-
produtividade”, o processo está sendo automatizando de tal forma, com base no conceito de
encapsulamento de funcionalidades, que a atividade de programação, por exemplo, se
restringe, em muitos casos, a um esforço de montagem de componentes prontos; isto é, já
estão previamente definidos que componentes devem ser utilizados, em que seqüência e
circunstância, ficando com isso o programador dispensado de conhecer a inteligência
embutida nesses componentes. Só que com isso, o programador tem cada vez menos
oportunidades de criar, e cada vez fica mais distante do conhecimento do negócio do cliente, o
que reduz seu valor agregado ao seu grau de especialização nas ferramentas utilizadas naquela
fase do processo. Em contrapartida, programadores podem ser substituídos com ônus de prazo
menor.
A criação desses componentes, por sua vez, também pode ser semi-automática, a partir
de padrões pré-estabelecidos, com auxílio da mesma ferramenta. Em princípio, sem entrar no
mérito da complexidade de gerenciamento de uma biblioteca de componentes, quanto mais
componentes especializados estiverem disponíveis no ambiente de desenvolvimento daquele
produto, maior a velocidade da esteira em seus estágios finais.
Também está implantada nas duas fábricas, bem como nos clientes, uma ferramenta
própria da organização, o sistema SIARQ – Sistema Integrado de Administração dos
Registros da Qualidade, que tem por finalidade registrar, acompanhar e gerenciar cada
solicitação de serviço desde sua emissão até o aceite final, gerando automaticamente
indicadores de qualidade (cumprimento de produtividade, cumprimento de prazo e satisfação
do cliente), que permitem buscar a contínua melhoria dos serviços prestados. Integrado ao
SIARQ está implantado o Sistema Gênesis, outra ferramenta desenvolvida pela organização,
que permite distribuir e alocar recursos, acompanhar execução de tarefas e alocação de
esforço, monitorar a tramitação das ocorrências registradas nos testes até sua solução,
passando pelas medições, em ponto de função, do porte de cada uma das versões de sistema
antes e depois das manutenções.
Esse painel permite ainda estimar prazos com base nos históricos de horas por ponto
de caso de uso, considerando a realidade dessa fábrica.
____________________________
5
Iteração é um subconjunto das funcionalidades que compõem o software, também denominadas Casos de Uso.
64
Na Fábrica A, controle análogo é realizado, só que por tarefa, através do Gênesis, que
por sua permite o perfeito rastreamento de todo o processo de execução.
Nas entrevistas ficou claro que esses controles consomem significativo tempo dos
executantes. Mas como esse tempo não está ainda precisamente quantificado, os prazos
concedidos ainda não são sistematicamente ajustados a essa necessidade.
A subdivisão nas competências definida na Fábrica B não apenas foi guiada pela
preocupação de restringir ao interior de cada competência o tráfego de conhecimentos, mas
também para criar espaços onde pudessem ser alocados os novos contratados, possibilitando
assim que pudessem render apesar da falta do conhecimento prévio do negócio.
Exemplificando, as competências Projeto Físico e Implementação, da forma que o processo
66
foi concebido, prescindem desse conhecimento, donde as alterações nessas equipes são mais
simples de efetuar.
A questão 2.2 indaga sobre esse conhecimento que não chegou a ser registrado (tabela
3). Na Fábrica B, 27,3% estão convictos de que esse conhecimento chega a ser transmitido
para a próxima competência, e o risco percebido de perda mais evidente está na competência
de Testes. Na Fábrica A, esse risco se apresenta principalmente nas competências
Implementação e Testes.
A questão 2.3 (tabela 4) versa sobre o impacto causado pelas lacunas de conhecimento
no ritmo de trabalho dos empregados, uma vez que lhes obriga a interromper a execução do
serviço para garimpar tal conhecimento. Acusam prejuízo 28,8% na Fábrica A, e 3% na
Fábrica B. Novamente, as competências mais afetadas são aquelas que lidam com as bases de
68
dados em ambas as fábricas, onde tais lacunas são efetivamente críticas, pela própria natureza
do serviço ali realizado.
Fábrica A Fábrica B
2.4 Origem da formação requerida Competências Subtot Competências Subtot Total
ER PLF IM TE BD DI Qtd % PL PF IM TE DC Qtd %
1 - Curso superior 2 0 3 8 0 0 13 22.0 0 0 1 0 1 2 6.1 15
2 - Repasse equipe 2 3 6 3 1 1 16 27.1 2 3 2 4 1 12 36.4 28
3 - Trein. custeio próprio 1 0 3 2 0 0 6 10.2 2 0 0 1 1 4 12.1 10
4 - Trein pago empresa atual 3 2 2 0 0 0 7 11.9 0 0 0 1 0 1 3.0 8
5 - Trein pago ex-empresa 1 1 1 0 0 1 4 6.8 0 0 0 0 0 0 0.0 4
6 - Auto-instrução 3 1 4 1 0 0 9 15.3 2 2 3 1 2 10 30.3 19
Em Branco 0 0 4 0 0 0 4 6.8 1 0 1 1 1 4 12.1 8
Totais 12 7 23 14 1 2 59 7 5 7 8 6 33 92
Fábrica A Fábrica B
2.7 Possibilidade de atuar noutra Competências Subtot Competências Subtot Total
competência?
ER PLF IM TE BD DI Qtd % PL PF IM TE DC Qtd %
1 - Sim 2 4 10 8 1 1 26 44.1 4 3 3 0 1 11 33.3 37
2 - Não 3 1 6 2 0 0 12 20.3 1 0 1 1 1 4 12.1 16
3 - Não sei 7 2 7 4 0 1 21 35.6 2 2 3 7 3 17 51.5 38
Em Branco 0 0 0 0 0 0 0 0.0 0 0 0 0 1 1 3.0 1
Totais 12 7 23 14 1 2 59 7 5 7 8 6 33 92
Fábrica A Fábrica B
3.1 Impacto da padronização de Competências Subtot Competências Subtot
Total
processos
ER PLF IM TE BD DI Qtd % PL PF IM TE DC Qtd %
1 - Positivo 10 4 12 13 1 0 40 67.8 7 5 6 4 4 26 78.8 66
2 - Negativo 0 3 4 0 0 1 8 13.6 0 0 1 4 0 5 15.2 13
3 - Não Impacta 2 0 2 0 0 1 5 8.5 0 0 0 0 1 1 3.0 6
4 - Não tem opiniao formada 0 0 5 1 0 0 6 10.2 0 0 0 0 0 0 0.0 6
Em Branco 0 0 0 0 0 0 0 0.0 0 0 0 0 1 1 3.0 1
Totais 12 7 23 14 1 2 59 7 5 7 8 6 33 92
Já com relação ao impacto causado na carreira pela divisão das equipes por
competência, enquanto na Fábrica B ninguém afirma ser negativo e 75,6% afirmam ser
positivo, na Fábrica A a visão é menos otimista: 27,1% afirmam ser negativo e apenas 50,8%
consideram tal impacto positivo (tabela 11, a seguir).
71
Fábrica A Fábrica B
3.2 Impacto da divisao por Competências Subtot Competências Subtot
Total
competências
ER PLF IM TE BD DI Qtd % PL PF IM TE DC Qtd %
1 - Positivo 7 2 7 13 1 0 30 50.8 6 4 6 5 4 25 75.8 55
2 - Negativo 2 4 10 0 0 0 16 27.1 0 0 0 0 0 0 0.0 16
3 - Não Impacta 3 1 4 1 0 2 11 18.6 1 0 0 1 1 3 9.1 14
4 - Não tem opiniao formada 0 0 2 0 0 0 2 3.4 0 1 1 1 0 3 9.1 5
Em Branco 0 0 0 0 0 0 0 0.0 0 0 0 0 2 2 6.1 2
Totais 12 7 23 14 1 2 59 7 5 7 7 7 33 92
Quanto à realização profissional, o resultado também diverge nas duas fábricas, tendo sido
obtido na Fábrica B um resultado mais positivo (tabela 12).
Em ambas as fábricas, é significativo o percentual daqueles que não estão convictos de que
seu trabalho individual possa ter visibilidade (tabela 13):
Conforme mostram as tabelas 14, 15 e 17 abaixo, dada a faixa etária mais alta do
público da Fábrica A, há mais tempo seus empregados estão formados, e muitos (28,8%)
formados noutra área que não TI.
Fábrica A Fábrica B
Competências Subtot Competências Subtot
Escolaridade Total
ER PLF IM TE BD DI Qtd % PL PF IM TE DC Qtd %
1 - Curso superior não iniciado 0 0 0 0 0 0 0 0.0 0 0 0 1 0 1 3.0 1
2 - Curso superior interrompido 1 0 1 1 0 1 4 6.8 0 1 1 1 1 4 12.1 8
3 - Cursando superior (área TI) 0 0 5 4 0 0 9 15.3 1 0 3 2 2 8 24.2 17
4 - Cursando superior (outra área) 0 0 0 2 0 1 3 5.1 0 0 0 2 0 2 6.1 5
5 - Superior concluído (área TI) 11 2 9 2 1 0 25 42.4 5 4 3 2 3 17 51.5 42
6 - Superior concluído (outra área) 0 5 8 4 0 0 17 28.8 1 0 0 0 0 1 3.0 18
Em Branco 0 0 0 1 0 0 1 1.7 0 0 0 0 0 0 0.0 1
Totais 12 7 23 14 1 2 59 7 5 7 8 6 33 92
Fábrica A Fábrica B
Competências Subtot Competências Subtot
Sexo Total
ER PLF IM TE BD DI Qtd % PL PF IM TE DC Qtd %
Feminino 7 2 6 6 0 0 21 35.6 3 1 0 6 1 11 33.3 32
Masculino 5 5 17 8 1 2 38 64.4 4 4 7 2 5 22 66.7 60
Totais 12 7 23 14 1 2 59 7 5 7 8 6 33 92
Tabela 20: Resultado Tabulação Tempo de Experiência em Fábrica de Software (fonte: própria)
75
5 – Conclusões e Recomendações
que recebeu como insumo e, mais ainda, com mais eficácia ele vai executar a sua
parte;
• Para a execução da sua tarefa, além das especificações que foram geradas na etapa
anterior, é necessário que o executante recorra a um “banco de conhecimentos”
dinâmico, compartilhado e atualizado por todos os “operários da esteira”;
• As tarefas de uma fábrica de software embora repetitivas, também embutem
processos eminentemente criativos, sendo que muitas delas exigem inclusive
discussões para determinação da solução a ser adotada em cada caso específico;
• Os controles adotados exigem a disponibilidade de uma parafernália de sistemas
informatizados de apoio à produção, bem como exigem a colaboração do próprio
executante.
• Pelas freqüentes alterações de regras e escopo determinadas por mudanças que vão
ocorrendo no ambiente do cliente em paralelo ao desenvolvimento do software,
não raras vezes o artefato precisa voltar a etapas anteriores da linha de montagem,
quebrando o ciclo previsto e interferindo na cadência dessa linha.
Dessa forma, tendo observado o funcionamento das duas fábricas e analisado os dados
obtidos, podemos estabelecer comparações e apontar os limites da metáfora esteira de
produção:
• Enquanto na esteira fordista a fronteira de cada etapa de produção é bem definida,
e se dispõe de especificações claras e precisas do procedimento a adotar e das
configurações da peça recebida e da peça repassada, numa fábrica de software a
subjetividade das especificações impacta o ritmo da esteira e a conformação da
peça repassada. Isso se deve à intangibilidade do produto durante a maior parte do
seu percurso na esteira, estando ele, como agravante, sujeito a mudanças e a
circunstâncias inesperadas durante sua fabricação.
• Se no modelo fordista, quem trafegava na esteira era apenas a peça em produção,
que ia sendo acrescida ou modificada segundo um processo pré-definido,
repetitivo, que não variava de peça para peça e era executado individualmente por
cada empregado, nessas fábricas de software as peças trafegam junto com
conhecimento e não guardam similaridade entre si. Isto é, embora o processo se
repita em termos de procedimentos, cada par (peça, conhecimento) que trafega é
distinto, o que já confere singularidade a cada tarefa executada.
78
• Para o empregado de uma fábrica fordista executar sua tarefa, além da requerida
habilidade, bastava ao operário conhecer bem as técnicas e ferramentas que lhe
cabiam utilizar, não lhe sendo exigido conhecer sobre o produto para o qual a peça
que estava sendo fabricada, muito menos conhecer sobre o contexto da utilização
daquele produto. Já nessas fábricas de software, todo o conhecimento sobre o
produto que surge em cada etapa da fabricação precisa ser identificado, registrado
e transmitido às etapas seguintes, e também necessita ser internalizado pelos
empregados.
• Nas fábricas fordistas, cada empregado precisava conhecer muito bem o seu papel
no processo, mas apenas o seu papel. Já no caso das fábricas de software, quanto
mais uma equipe conhecer das etapas posteriores, mais e melhor vai explicitar esse
conhecimento dado que terá a sensibilidade de discernir o que é relevante e útil.
Isso por ser alto o grau de subjetividade da descrição de cada processo, e a sua
perfeita execução depender bastante dos conhecimentos, habilidades, atitudes e
experiência do executor.
• No modelo fordista, além de seguir o procedimento pré-estabelecido, não cabia a
um empregado repassar qualquer conhecimento adquirido durante a execução da
sua tarefa para o próximo executante. Ao passo que nessas fábricas de software,
verificamos que o conhecimento gerado numa etapa é insumo para etapa seguinte,
donde trafegam por essas esteiras tanto a peça (artefato) como o conhecimento.
• Os controles da produção da esteira fordista eram objetivos e focados na execução
do processo: cronometragem do tempo de execução, métricas de produtividade
individuais (metas), e verificação da aderência a padrões de qualidade adotados. Já
nessas fábricas de software, onde em que pese tais controles sejam eminentemente
automáticos e virtuais, a posterior análise dos indicadores obtidos encerra a
subjetividade decorrente da intangibilidade do produto.
• A esteira da linha de montagem fordista corria em mão única, isto é, não estavam
previstos, via a mesma esteira, retornos da peça à etapa anterior para
complementação de algum processo inacabado ou defeituoso. Porém considerando
que um software deve ser aderente ao mundo real que sofre constantes mudanças,
a concepção desse produto está sujeita às mesmas mudanças, ainda em tempo de
desenvolvimento, daí a necessidade da mão dupla para retorno do artefato. Como
agravante, pela sua intangibilidade do produto, muitos defeitos produzidos em
79
Concluímos que tais fábricas, inicialmente concebidas para tirar o máximo proveito
das vantagens oferecidas pelo modelo fordista, produção em massa a baixo custo, na prática
precisam ser flexíveis pelo menos o suficiente para tolerar inconvenientes sem interromper
completamente a produção. Cabe lembrar que numa linha rígida de produção fordista bastava
o bloqueio de uma estação para parar toda a produção.
ANEXO I
1 - Marque com X as competências onde atuou nos últimos 12 meses, sublinhando aquela em que atuou
com maior freqüência:
Requisitos/Escopo
Projeto Lógico e Físico
Implementação
Testes
Disponibilização
2 - Responda às questões abaixo tomando como base seu trabalho na competência sublinhada acima:
2.1 - Durante o processo de desenvolvimento, em cada uma das competências surgem conhecimentos
relativos ao negócio do cliente e ao produto (software). Na sua avaliação, o quanto desse
conhecimento, que surge nessa competência que você mais atua, fica retido na memória dos técnicos,
isto é, não chega a ser documentado?
Tudo é formalizado nos mínimos detalhes, tanto os motivos de cada solução adotada como o
porquê de não terem sido adotadas as demais alternativas cogitadas.
As soluções adotadas são formalizadas nos mínimos detalhes.
Até 10% do conhecimento gerado nessa fase fica restrito à memória da equipe.
Até 30% do conhecimento gerado nessa fase fica restrito à memória da equipe.
Até 50% do conhecimento gerado nessa fase fica restrito à memória da equipe.
Mais de 50% do conhecimento gerado nessa fase fica restrito à memória da equipe.
2.2 - Esse cohecimento que de modo geral não fica documentado é explicitado, de forma ordenada, na
passagem de serviço para as outras competências?
Sempre
É previsto porém, na prática, nem sempre acontece
Às vezes
Nunca
2.3 - Na sua avaliação, o quanto do conhecimento necessário para execução de suas tarefas está disponível
na documentação/artefatos que sua equipe recebeu da fase anterior?
Atuo principalmente na competência Requisitos/Escopo, etapa inicial do processo.
Tudo está sempre disponível no material que recebemos.
Raramente preciso perguntar alguma coisa aos colegas responsáveis pela fase anterior
Frequentemente preciso esclarecer dúvidas com os colegas da fase anterior, mas isso não
prejudica meu ritmo de trabalho.
Meu ritmo de trabalho é impactado pelas interrupções para recuperar informações .
2.4 - Como você adquiriu a formação requerida (conhecimento das ferramentas e processos utilizados)
para atuar nessa competência? Marque apenas uma opção, aquela que mais contribuiu.
Durante o curso superior.
Por meio de repasse de conhecimentos pela equipe de trabalho.
Treinamentos formais custeados com seus recursos.
Treinamentos formais custeados pela empresa em que está trabalhando.
Treinamentos formais custeados pela(s) empresa(s) anterior(es).
Aprendizado (auto-instrução).
83
2.7 - Existe a possibilidade de você, a curto ou médio prazo, atuar noutra(s) competência(s)?
Sim
Não
Não sei
2.8 – Atuando nessa competência, você tem a clara percepção do quanto seu trabalho contribui para o
produto final?
Sim, e percebo que contribui muito.
Sim, e percebo que contribui.
Sim, mas percebo que contribui pouco.
Sim, mas percebo que não contribui.
Não percebo se contribui.
3 - Agora pensando apenas em você perante o mercado, considerando a possibilidade de uma futura
recolocação, responda às seguintes perguntas:
3.1 - Como a padronização do processo de desenvolvimento de “software” impacta o seu desenvolvimento
profissional?
Positivamente
Negativamente
Não impacta
Não tenho opinião formada.
3.2 - Como a divisão das equipes por competências impacta o seu desenvolvimento profissional?
Positivamente
Negativamente
Não impacta
Não tenho opinião formada.
5 – Trabalhando no modelo de fábrica de software, você acha que seu trabalho individual tem visibilidade,
isto é você pode se destacar na sua equipe?
Sim
Provavelmente
Dificilmente
Não
Não tenho opinião formada.
Escolaridade Superior:
Curso superior não iniciado
Curso superior interrompido
Cursando nível superior (área de TI)
Cursando nível superior (outra área)
Curso superior concluído (área de TI), formado há ..... ano(s)
Curso superior concluído (outra área) , formado há ..... ano(s)
ANEXO II
1 - Marque com X as competências onde atuou nos últimos 12 meses, sublinhando aquela em que atuou
com maior freqüência:
F1 - Projeto Lógico (requisitos, casos de uso, prototipação de telas )
F2 - Projeto Físico (arquitetura do software – componentes, páginas e rotinas de comunicação com
as bases de dados; especificação de programas)
F3 - Implementação (programação)
Testes
Banco de Dados, Gerência de Configuração/Ambiente (modelagem lógica e física, dicionário de
dados)
2 - Responda às questões abaixo, tomando como base seu trabalho na competência sublinhada acima:
2.1 - Durante o processo de desenvolvimento, em cada uma das competências surge um conhecimento
relativo ao produto (software). Na sua avaliação, o quanto do conhecimento que surge nessa
competência fica retido na memória dos técnicos, isto é, não chega a ser documentado?
Tudo é formalizado nos mínimos detalhes, tanto os motivos de cada solução adotada como o
porquê de não terem sido adotadas as demais alternativas cogitadas.
As soluções adotadas são formalizadas nos mínimos detalhes.
Até 10% do conhecimento gerado nessa fase fica restrito à memória da equipe.
Até 30% do conhecimento gerado nessa fase fica restrito à memória da equipe.
Até 50% do conhecimento gerado nessa fase fica restrito à memória da equipe.
Mais de 50% do conhecimento gerado nessa fase fica restrito à memória da equipe.
2.2 - Essas informações que de modo geral não ficam documentadas, são repassadas de forma ordenada
durante a passagem de serviço para as outras competências?
Sempre
É previsto porém, na prática, nem sempre acontece
Às vezes
Nunca
2.3 - Na sua avaliação, o quanto do conhecimento necessário para de suas tarefas está disponível na
documentação/artefatos que sua equipe recebeu da fase anterior?
A pergunta não se aplica, porque atuo principalmente na competência Projeto Lógico, etapa
inicial do processo.
Tudo está sempre disponível.
Raramente preciso perguntar alguma coisa aos colegas responsáveis pela fase anterior
Frequentemente preciso esclarecer pequenas dúvidas com os colegas da fase anterior.
Meu ritmo de trabalho é impactado pelo volume de informações que não estão documentadas.
2.4 - Como você adquiriu a formação requerida (conhecimento das ferramentas e processos utilizados)
para atuar nela? Marque apenas uma opção, aquela que mais contribuiu.
Durante o curso superior.
Por meio de repasse de conhecimentos pela equipe de trabalho.
Treinamentos formais custeados com seus recursos.
Treinamentos formais custeados pela empresa em que está trabalhando.
Treinamentos formais custeados pela(s) empresa(s) anterior(es)
Aprendizado (auto-instrução)
87
2.7 - Existe a possibilidade de você, a curto ou médio prazo, atuar noutra(s) competência(s)?
Sim
Não
Não sei
2.8 – Atuando nessa competência, você tem a clara percepção do quanto seu trabalho contribui para o
produto final?
Sim, e percebo que contribui muito.
Sim, e percebo que contribui.
Sim, mas percebo que contribui pouco.
Sim, mas percebo que não contribui.
Não percebo se contribui.
3 - Agora pensando apenas em você perante o mercado, considerando a possibilidade de uma futura
recolocação, responda às seguintes perguntas:
3.1 - Como a padronização do processo de desenvolvimento de “software” impacta o seu desenvolvimento
profissional?
Positivamente
Negativamente
Não impacta.
Não tenho opinião formada.
3.2 - Como a divisão das equipes por competências impacta o seu desenvolvimento profissional?
Positivamente
Negativamente
Não impacta
Não tenho opinião formada.
4 – Você se sente realizado profissionalmente, trabalhando no modelo de fábrica de software?
Sim
Não
Parcialmente
Não tenho opinião formada.
88
5 – Trabalhando no modelo de fábrica de software, você acha que seu trabalho individual tem visibilidade,
isto é você pode se destacar na sua equipe?
Sim
Provavelmente
Dificilmente
Não
Não tenho opinião formada.
Escolaridade Superior:
Curso superior não iniciado
Curso superior interrompido
Cursando nível superior (área de TI)
Cursando nível superior (outra área)
Curso superior concluído (área de TI), formado há ..... ano(s)
Curso superior concluído (outra área) , formado há ..... ano(s)
ANEXO III
Fábrica:
1) Mapeando a Fábrica:
2) Conhecimento :
3) Gestão de Pessoal:
• Os serviços são distribuídos “em fila” ou existe algum mecanismo de controle que
permita, no momento da delegação de cada tarefa, verificar as habilidades de cada
técnico para direcionar a passagem do serviço?
5) Indicadores:
Bibliografia
PFLEEGER, S. L. Software Engineering: Theory and Practice. Upper Saddle River, New
Jersey: Prentice-Hall, 2001.