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CONCEITOS TEÓRICOS E EXERCÍCIOS PROPOSTOS DE ELETROMAGNETISMO

Capítulo IV: ENERGIA E POTENCIAL 21

Capítulo IV

ENERGIA E POTENCIAL
4.1 – ENERGIA (TRABALHO) PARA MOVER UMA CARGA PONTUAL EM UM
CAMPO ELÉTRICO

Observando a figura, e adotando a L como um vetor unitário na direção de dL , tem-se:


( ) ( )
dW = Faplicada . dL = − FE L . dL = − FE . a L a L . dL = − FE . a L dL = − FE . dL

Substituindo FE = QE , chega-se a:
dW = −QE .dL

Integrando, obtém-se o trabalho (energia) necessário para mover uma carga Q desde o início (ponto
B) até o final (ponto A) de uma trajetória, sob a ação do campo elétrico E , dado por:
Final ( A )
W = −Q ∫ E .d L
Início ( B)

onde ∫ E.dL = 0 , pois o trabalho do campo eletrostático


depende apenas das posições inicial e final da trajetória.

Nota: Na eletrostática, o campo elétrico é conservativo.

4.2 – DEFINIÇÃO DE DIFERENÇA DE POTENCIAL (VAB) E POTENCIAL (V)

A diferença de potencial VAB entre 2 pontos A e B é definida como sendo o trabalho necessário
para movimentar uma carga pontual unitária positiva desde B (tomado como referência) até A.

VAB =
W
⇒ VAB = −∫BAE.dL (FÓRMULA GERAL)
Q

Como o campo elétrico E é conservativo (na eletrostática), tem-se, para 3


pontos A, B e C:
VAB = VAC – VBC

Os potenciais “absolutos” VA e VB são obtidos adotando-se uma mesma


referência zero de potencial. Se, por exemplo, VC = 0, pode-se escrever VAB = VA – VB

4.3 – O POTENCIAL DE UMA CARGA PONTUAL

Supondo-se a carga na origem, tem-se, aplicando a fórmula geral:


A rA Q
VAB = − ∫ E.dL = − ∫ a .dr a r
B rB 4πε r 2 r
0

Q  1 1
VAB =  −  = VA − VB
4πε0  rA rB 
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Q
Se B → ∞ ⇒ VB → 0 ⇒ VA = (potencial absoluto)
4πε0 rA

Escrevendo de forma genérica, o potencial absoluto devido a uma carga


pontual Q fora da origem é:

Q
V=
4πε0 R

sendo R a distância da carga pontual Q ao ponto desejado.

4.4 – O POTENCIAL DE UM SISTEMA DE CARGAS DISTRIBUÍDAS

Para uma carga distribuída, com referência zero no infinito:

dQ
V=∫ 4πε0R

onde: dQ = ρL dL= ρsds = ρvdv, dependendo da configuração


de cargas,
R = R = r − r ′ = distância (escalar) de dQ ao ponto
fixo P onde se quer obter V

4.4.1 – VAB de uma reta ∞ com ρL constante

Partindo de VAB = −∫B E.dL , obtemos:


A

ρ A ρL
VAB = − ∫ a .dρ aρ
ρB 2πε ρ ρ
0

ρL ρ
VAB = ln B
2πε0 ρA

4.4.2 – VAB de um plano ∞ com ρs constante

Partindo de VAB = −∫B E.dL , obtemos:


A

z A ρs
VAB = − ∫ a z .dz a z
z B 2ε
0

ρs
VAB = ( zB − zA )
2ε 0
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4.5 – GRADIENTE DO POTENCIAL ( ∇ V )

O gradiente de uma função escalar (ex. V) é


definido matematicamente por:

dV
∇V = aN (resultado = vetor)
dN

onde dV, dN e a N são mostrados na figura.




dV dV 
∇V = aN = a N = Ga N = G
dN dL cos θ
 
Daí, GdL cos θ = dV ⇒ G • dL = dV
onde:

G = G x a x + G ya y + G za z = G a N
  

dL = dx a x + dy a y + dz a z = dL a L
∂V ∂V ∂V
dV = dx + dy + dz
∂x ∂y ∂z
sendo:

dL = vetor comprimento diferencial medido numa direção qualquer,
dN = dLcosθ = menor distância entre as 2 superfícies equipotenciais V1 e V2.

Assim, obtemos a expressão do gradiente em coordenadas cartesianas:


  ∂V  ∂V  ∂V 
G = ∇V = ax + ay + az
∂x ∂y ∂z

Propriedades do gradiente de uma função escalar V:

a) ∇ V é normal a V
b) ∇ V aponta no sentido do crescimento de V

Logo ∇ V é um vetor que dá a máxima variação no espaço de uma quantidade escalar (módulo do
vetor) e a direção em que este máximo ocorre (sentido do vetor).

Se V = função potencial elétrico, então:

E = −∇V ( E está apontado no sentido decrescente de V).

Exemplo: Utilizando gradiente, determinar a expressão de E para uma carga pontual na origem.

Q
Solução: O potencial de uma carga pontual na origem (no vácuo) é: V =
4πε 0 r
Tomando o gradiente de V, em coordenadas esféricas, sabendo-se que V = f(r):
∂V  Q  −1    Q 
E ar

e fazendo E = −∇V ⇒ E = − a = − a
 2 r ⇒ =
4πε0r 2
r
∂r 4πε0  r 
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4.6 – O DIPOLO ELÉTRICO

É um sistema com 2 cargas pontuais iguais e simétricas (figura c) bem próximas tal que d < < r,
sendo d a distância (separação) entre as cargas e r a distância do centro do dipolo a um ponto P
desejado.

Cálculo do potencial no ponto P devido ao dipolo na origem:


+Q −Q
VP = +
4πε 0 r1 4πε0 r2
Q 1 1
VP =  − 
4πε 0  r1 r2 
Q  r2 − r1 
VP =  
4πε 0  r1r2 

Sendo d << r, fazemos r2 − r1 ≅ d cosθ e r1r2 ≅ r 2 . Daí,


Qd cos θ
Vp =
4πε0 r 2

Campo elétrico no ponto P devido ao dipolo elétrico na origem:

Qd
E= ( 2 cos θar + sen θaθ ) (obtido de E = − ∇ V )
4πε0 r 3

Definindo momento de dipolo elétrico como p = Qd , onde d é o vetor cuja magnitude é a


distância entre as cargas do dipolo e cuja direção (e sentido) é de –Q para +Q:

p . ar
Vp =
4πε0 r 2

Notas:
a) Com o aumento da distância, o potencial e o campo elétrico
caem mais rápidos para o dipolo elétrico do que para a carga
pontual.
b) Para o dipolo elétrico fora da origem, o potencial é dado por:
p . aR
Vp =
4πε0 R 2

onde:
a R = versor orientado do centro do dipolo ao ponto desejado;
R = distância do centro do dipolo ao ponto desejado.
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4.7 – ENERGIA NO CAMPO ELETROSTÁTICO

4.7.1 – Energia (trabalho) para uma distribuição discreta de cargas

WE = trabalho total para trazer 3 cargas Q1, Q2, Q3 do ∞ e fixá-las nos pontos 1, 2, 3, nesta ordem:

WE =W1 + W2 + W3
WE = 0 + Q2 V2,1 + Q3 V3,1 + Q3 V3,2 (i)

Nota: V2,1 = potencial no ponto 2 devido à carga Q1 no ponto 1 (V2,1 ≠ V21)

Se as 3 cargas forem fixadas na ordem inversa, isto é, fixando Q3, Q2, Q1, nos pontos 3, 2, 1, temos:
W E = W3 ’ + W 2 ’ + W1 ’
WE = 0 + Q2 V2,3 + Q1 V1,2 + Q1 V1,3 (ii)

(i) + (ii): 2WE = Q1 V1 + Q2 V2 + Q3 V3


1
WE = (Q 1 V1 + Q 2 V2 + Q 3 V3 )
2

1 N
Para N cargas: WE = ∑ Q i Vi
2 i =1
[J]

4.7.2 – Energia (trabalho) para uma distribuição contínua de carga

Para uma região com distribuição contínua de carga, substituímos Qi da fórmula acima pela carga
diferencial dQ = ρvdv e a somatória se transforma numa integral em todo o volume de cargas.
1
WE = ∫ ρ v Vdv [J]
2 vol

Pode-se demonstrar que o trabalho pode ser também expresso em função de D e/ou E como:

1 1 2 1 D2
WE = ∫ D • E dv
2 vol
ou WE = ∫ ε0E dv
2 vol
ou WE = ∫ ε0 dv
2 vol

Nota: A densidade de energia do campo elétrico no vácuo pode ser obtida pelas expressões:
dWE 1 1 2 1 D2
= D • E = ε0 E = [J/m3]
dv 2 2 2 ε0
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Ex. 1 Calcular a energia WE armazenada num pedaço de cabo coaxial de comprimento L e


condutores interno e externo de raios a e b, respectivamente, supondo que a densidade
superficial de carga uniforme no condutor interno é igual a ρs.

Supondo uma gaussiana cilíndrica no interior do dielétrico (vácuo) de raio a < ρ < b, e
aplicando a lei de Gauss ( ∫ D • d S = Q int ), obtemos:
S
ρ a
D 2πρL = ρ s 2πaL ⇒ D = s
ρ
Substituindo na equação de energia obtida acima:
1 D2
WE = ∫
1
dv = ∫
L 2π b
( ρs a / ρ )2 ρdρdφdz
2 vol ε0 2 z =0 ∫ ∫ ε0
φ=0 ρ=a

1 ρs2 a 2
WE = [lnρ]ba 2πL
2 ε0

Daí, obtemos finalmente:


πa 2 L ρs2 b
WE = ln
ε0 a

Ex. 2 Calcular a energia WE armazenada num capacitor de placas paralelas no vácuo, sendo V a
diferença de potencial entre as placas iguais de área S e separadas por uma distância d.
Supor o campo elétrico entre as placas uniforme desprezando os efeitos de bordas.

Da equação de energia obtida acima, e sabendo que V = E d, obtemos:


2
1 ε V 1 ε 0S 2
WE = ∫ ε0 E 2dv = 0   ∫ dv ⇒ WE = V
2 2d 2 d

Tomando a expressão da capacitância do capacitor de placas


paralelas ideal (cap. 5), teremos:
1 εS
WE = CV 2 onde C = 0
2 d

4.8 – EXERCÍCIOS PROPOSTOS

4.1) Três cargas pontuais idênticas de carga Q são colocadas, uma a uma, nos vértices de um
quadrado de lado a. Determinar a energia armazenada no sistema após todas as cargas serem
posicionadas.
Q2
Resposta: WE =
8πε o a
(
⋅ 4 + 2 [J]. )
4.2) Seja uma carga distribuída ao longo da porção |z| < 1 m do eixo z, com densidade linear de
carga ρL = kz [ηC/m]. Determinar:
a) O potencial em um ponto qualquer sobre o plano z = 0;
b) O potencial em um ponto do eixo z situado a uma altura h = 2 m do plano z = 0.
Respostas: a) VA = 0; b) VB = 1,775 [kV].
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4.3) Um quadrado de vértices A(0,0,0), B(0,1,0), C(1,1,0) e D(1,0,0), possui uma distribuição
linear uniforme de carga com densidade ρL = 10 [pC/m] ao longo do lado AB, uma carga
pontual Q1 = 1 [pC] no vértice C, uma carga pontual Q2 = -10 [pC] no vértice D. Determinar,
no centro P do quadrado:
a) O potencial elétrico devido a cada uma das três cargas;
b) O potencial elétrico total devido às três cargas.

Respostas: a) VP1 = 0,0127 [V], VP2 = – 0,127 [V], VL = 0,1584 [V]; b) VPT = 0,044 [V].

4.4) Um campo elétrico é dado em coordenadas cilíndricas por: E = 100 a ρ  V 



ρ2  m 
Conhecidos os pontos A(3,0,4), B(5,13,0) e C(15,6,8), expressos em coordenadas cartesianas,
determinar:
a) A diferença de potencial VAB;
b) O potencial VA se a referência zero de potencial está no ponto B;
c) O potencial VA se a referência zero de potencial está no ponto C;
d) O potencial VA se a referência zero de potencial está no infinito.

Respostas: a) VAB = 26,15 [V]; b) VA = 26,15 [V]; c) VA = 27,14 [V]; d) VA = 33,33 [V].

4.5) Uma superfície esférica no espaço livre, definida por r = 4 cm, contém uma densidade
superficial de carga de 20 [µC/m2]. Determinar o valor do raio rA,, em centímetros, se a região
compreendida entre as esferas de raios r = 6 cm e r = rA contém exatamente 1 mJ de energia.

Resposta: rA = 6,54 [cm].

4.6) O campo potencial no vácuo é expresso por V = k/ρ.


a) Determinar a quantidade de carga na região cilíndrica a < ρ < b e 0 < z < 1.
b) Determinar a energia armazenada na região cilíndrica a < ρ < b e 0 < z < 1.

1 1 1  1 1 
Respostas: a) Q = 2πε o k ⋅  −  ; b) WE = πε o k 2 ⋅  − .
b a 2 2 2
a b 
4.7) Uma linha de cargas uniforme de 2 m de comprimento com carga total de 3 nC está situada
sobre o eixo z com o ponto central da linha localizado a +2 m da origem. Num ponto P sobre
o eixo x, distante +2 m da origem, pede-se:
a) Determinar o potencial elétrico devido a linha de cargas;
b) Determinar o potencial elétrico se a carga total for agora concentrada no ponto central da
linha;
c) Calcular e comentar sobre a diferença percentual entre os dois valores de potencial obtidos.
Respostas: a) VPL = 9,63 V;
b) VPQ = 9,55 V;
c) (VPQ – VPL)x100%/VPQ = -0,83 %
Uma carga concentrada produz um potencial menor do que esta mesma carga
distribuída, caso sejam iguais as distâncias dos centros destas cargas ao ponto
desejado.

4.8) Uma carga Q0 = +10 µC está colocada no centro de um quadrado de lado 1 m e vértices A, B,
C, D. Supondo o meio o vácuo, determinar o trabalho necessário para:
a) Mover a carga QA = +10 µC do infinito até fixá-la no vértice A do quadrado;
b) Mover também a carga QB = –20 µC do infinito até fixá-la no vértice B do quadrado;
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c) Finalmente mover também a carga QC = +30 µC do infinito até fixá-la no vértice C do


quadrado.
Respostas: a) WA = 1,271 J; b) WB = –4,340 J; c) WC = 0,327 J.

4.9) a) Determinar o potencial VP no ponto P(2, 0, 0) devido a uma carga total Q = 2 nC


distribuída uniformemente ao longo do eixo y, de y = 0 até y = 2 m.
b) Supondo que a mesma carga total Q = 2 nC seja agora concentrada num ponto, determinar
em que posição esta deverá ser colocada ao longo do eixo y para produzir o mesmo
potencial VP no ponto P(2, 0, 0) obtido no item (a).
Respostas: a) VP = 7,9324 V;
b) y = ± 1,072 m.

4.10) a) Determinar a fórmula para o cálculo da diferença de potencial entre 2 pontos quaisquer A
e B devido a uma carga pontual Q, no vácuo. (Supor a carga na origem.)
b) Determinar a fórmula para o cálculo da diferença de potencial entre 2 pontos quaisquer A
e B devido a uma carga distribuída uniformemente numa linha infinita com densidade ρL,
no vácuo.
c) Uma carga com densidade linear constante ρL está distribuída sobre todo o eixo z e uma
carga pontual Q está localizada no ponto (1, 0, 0). Sejam os pontos A(4, 0, 0), B(5, 0, 0)
e C(8, 0, 0). Se VAB = VBC = 1 volt, determinar os valores numérico de ρL e de Q. O
meio é o vácuo.

Q  1 1
Respostas: a) VAB =  −  ;
4πε o  rA rB 
ρ ρ
b) V AB = L ln B ;
2πε o ρ A
c) ρ L = −86,81 pC/m; Q = 1800,04 pC

( )
4.11) Sabendo-se que V = 2x 2 y + 20z − 4 ln x 2 + y 2 V, no vácuo, determine o valor das seguintes
grandezas no ponto P(6; -2,5; 3):
a) V; b) E ; c) D ; d) ρv.

Respostas: a) VP = −135 [V]; b) E P = 61,1a x − 72,5a y − 20a z [V/m];


c) DP = 541a x − 642a y − 177a z [pC/m2]; d) ρ v = 88,5 [pC/m3].

4.12) Um dipolo p1 = 20a z nC.m, localiza-se na origem, no vácuo, e um segundo dipolo


p2 = −50a z nC.m localiza-se em (0, 0, 10).
Determine V e E no ponto médio entre os dipolos.

Resposta: VM = 25,2 [V]; E M = −4,32a z [V/m].

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