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BELO HORIZONTE - MG
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
BELO HORIZONTE - MG
2017
Dedicatória
Dedico este trabalho a todos os árbitros e assistentes mineiros que sempre acreditaram
e apoiaram meus estudos, e ao presidente da CEAF-MG, meu amigo e incentivador
Giulliano Bozzano, assim como aos membros da Comissão de Arbitragem mineira
Rogério Pereira e Gilson Ornelas.
Agradecimentos
À minha família (Murilo, Raissa, Bernardo, Murilinho e Davi) por estarem ao meu lado.
Ao meu pai, minha mãe e minha avó Turca, meus exemplos de vida, por terem me ensinado a
não desistir da luta.
Ao meu amigo Alberto Mesaque, que insistiu para que eu entrasse no processo.
Aos árbitros do Distrito Federal, Ceará, Maranhão, Pernambuco e Piauí que participaram da
pesquisa.
Aos psicólogos da arbitragem brasileira Marta Magalhães, Yghor Gomes, Tássia Ramos,
Bárbara Guimarães, Diana Carvalho e Joyce Sales, que avaliaram os árbitros em seus estados.
Aos alunos da UFMG que auxiliaram a avaliar e tabular os dados Pedro Couto, Alberto
Timóteo, João Aversa e Ricardo Venturelli.
À Vetor Editora, na pessoa do Sr. Cristiano Esteves, que gentilmente emprestou o material.
Aos membros suplentes da banca, Antônio Jaeger e Liza Fensterseifer, pela pronta disposição
em participar.
À querida professora Elizabeth Nascimento, esta meiguice de pessoa, que me acolheu com
respeito e fez possível a logística da pesquisa com suas sugestões.
À minha orientadora Marcela Mansur, tão jovem e tão capaz, que me fez descobrir, mesmo sem
saber, que posso ser uma profissional melhor.
À minha grande amiga Mariana Verdolin, meu braço direito, pois sem ela nada disso seria
possível.
“En este mundo traidor / nada es verdad ni mentira / todo es según el color / del
cristal con que se mira”
Ramón de Campoamor
Resumo
Sabe-se que traços de personalidade são preditores do uso de estratégias de coping e
desempenho exitoso no trabalho. No contexto esportivo, os estudos ainda são incipientes quanto
à predição do desempenho, e pouco se sabe sobre o padrão de associação entre personalidade e
coping em árbitros de futebol. Assim, pois, este estudo pretendeu verificar o padrão de
associação entre traços de personalidade e estratégias de coping para uma amostra de árbitros
brasileiros de futebol e sua relação com o desempenho esportivo. Ademais, pretendeu-se
comparar o perfil de traços de personalidade dos árbitros com a população geral. No total foram
avaliados 310 árbitros dos estados do Ceará, Distrito Federal, Maranhão, Minas Gerais,
Pernambuco e Piauí, sendo 278 do gênero masculino, 154 árbitros centrais e 150 árbitros
assistentes, com média de idade de 31,41 anos (DP=6,44) e tempo de arbitragem médio de 6,8
anos (DP=5,79). A análise dos traços de personalidade detectou altos e significativos escores
para Conscienciosidade e Extroversão e baixos valores com um grande tamanho de efeito em
Neuroticismo, resultado diferente da amostra geral brasileira e que se assemelha ao perfil
característico de personalidade de atletas de alto rendimento. Quanto às estratégias de coping,
a utilização das quatro estratégias na amostra mostrou-se equiparada, com pequena elevação
para os enfrentamentos focados no problema e no apoio social. A correlação entre as dimensões
de personalidade e as estratégias de coping se mostrou significativa para as cinco dimensões e
o coping Focado no Problema. Para a estratégia Focada na Emoção, somente o Neuroticismo
apresentou correlação positiva e significativa, e para o Apoio Social a Extroversão se associou
de maneira significativa e positiva. Quanto ao desempenho esportivo foi realizada uma análise
não paramétrica de comparação entre grupos (Kruskal-Wallis). Como resultados, foram
encontradas diferenças estatisticamente significativas para a interação entre as dimensões
Neuroticismo e Abertura, as variáveis idade e tempo de arbitragem. Nesse sentido, o presente
estudo apresentou resultados importantes na busca de uma caracterização de árbitros como
atletas de alto rendimento, e na procura por uma justificativa que corrobore com a “Hipótese de
Seleção”, que preconiza serem as habilidades psicológicas os fatores responsáveis pela
introdução e manutenção dos atletas nos esportes de alto rendimento. No entanto, se faz
necessário uma melhor categorização do desempenho esportivo em árbitros de futebol, torna-
se imprescindível encontrar critérios físicos, técnicos e psicológicos consistentes que avaliem
de forma significativa os árbitros brasileiros quanto ao seu desempenho esportivo.
Abstract
It is known that personality traits are predictors of the use of coping strategies and successful
performance at work. In the sports context, studies about performance prediction are still
incipient, and little is known about the pattern of association between personality and coping in
soccer referees. Thus, this study aimed to verify the pattern of association between personality
traits and coping strategies and their relation to sports performance in a sample of Brazilian
soccer referees. In addition, it was intended to compare the profile of personality traits of
referees with the general population. A total of 310 referees from the states of Ceará, Federal
District, Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco and Piauí were evaluated, being 278 males, 154
central referees and 150 assistant referees, with a mean age of 31.41 years (SD = 6,44) and
mean arbitration time of 6.8 years (SD = 5.79). The analysis of personality traits pointed high
and significant scores for Consciousness and Extraversion and low values, with a large effect
size, in Neuroticism, distinguishing the referees from the Brazilian general sample and
resembling their personality profile to that of high performance athletes. Regarding the Coping
strategies, there was a balanced use of the four strategies, with a small increase in the Problem-
focused and Social Support strategies. The correlation between personality dimensions and
coping strategies was significant for the five dimensions and Problem-focused coping. For the
Emotion-Focused strategies, only Neuroticism showed a positive and significant correlation,
and for Social Support, the Extraversion was associated in a significant and positive way.
Regarding the sport performance, a nonparametric comparison analysis between groups
(Kruskal-Wallis) was performed. As results, were found statistically significant differences for
the interaction between Neuroticism and Openness, the variables age and time of arbitration. In
this sense, this study presented important results towards the characterization of referees as
high-performance athletes, and in the search for a corroboration of the "Selection Hypothesis",
which advocates that psychological skills the responsible factors for introducing and
maintaining athletes in high-performance sports. However, it is necessary to better categorize
sports performance in soccer referees, as it is imperative to find consistent physical, technical
and psychological criteria that significantly evaluate Brazilian referees regarding their sports
performance.
Keywords: referees; soccer; personality traits; coping; sports performance.
Lista de Figuras
Estudo II
Estudo I
Tabela 1. Resultados da comparação entre árbitros e população geral nas dimensões do NEO-
FFI- R........................................................................................................................................38
Estudo II
N–Neuroticismo
E– Extroversão
Am– Amabilidade
C– Conscienciosidade
SPSS – Pacote Estatístico para as Ciências Sociais/ Statistical Package for Social Sciences
1 Introdução Geral..................................................................................................................13
1.1 Estrutura da Dissertação...................................................................................................19
1.2 Referências.........................................................................................................................20
2 Objetivos...............................................................................................................................26
2.1 Objetivo Geral....................................................................................................................26
2.2 Objetivos Específicos.........................................................................................................26
3 Estudo I - Características de personalidade de árbitros de futebol de diferentes Estados
Brasileiros................................................................................................................................27
Resumo.....................................................................................................................................28
Abstract....................................................................................................................................28
3.1 Introdução..........................................................................................................................29
3.2 Método................................................................................................................................35
3.2.1 Participantes....................................................................................................................35
3.2.2 Instrumentos.....................................................................................................................35
3.2.3 Procedimentos..................................................................................................................36
3.2.4 Análise dos Dados............................................................................................................37
3.3 Resultados..........................................................................................................................38
3.4 Discussão............................................................................................................................40
3.5 Conclusão...........................................................................................................................45
3.5 Referências.........................................................................................................................46
Apêndice A – Questionário Sociodemográfico.........................................................................53
Apêndice B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.....................................................55
4 Estudo II - Estratégias de Coping, traços de personalidade sua relação desempenho
esportivo de árbitros de futebol..............................................................................................56
Resumo.....................................................................................................................................57
Abstract....................................................................................................................................57
4.1 Introdução..........................................................................................................................59
4.2 Método................................................................................................................................63
4.2.1 Participantes....................................................................................................................63
4.2.2 Instrumentos.....................................................................................................................64
4.2.3 Procedimentos..................................................................................................................65
4.2.4 Análise dos Dados............................................................................................................66
4.3 Resultados..........................................................................................................................67
4.3.1 Análise de frequência e comparação entre grupos de árbitros quanto às estratégias mais
utilizadas....................................................................................................................................67
4.3.2 Análises de correlação de Pearson e Regressão entre Coping e Personalidade.............68
4.3.3 Diferenças entre categorias de desempenho nos traços de personalidade e estratégias
de coping...................................................................................................................................70
4.4 Discussão............................................................................................................................71
4.5 Conclusão...........................................................................................................................77
4.6 Referências.........................................................................................................................78
5 Conclusão Geral....................................................................................................................85
Apêndice C - Análise psicométrica da Escala de Modos de Enfrentamento......................86
13
1 Introdução Geral
1
Dados retirados do site: http://www.fifa.com/2015
2
Dados retirados do site: http://nacoesunidas.org/2015
3
Dados retirados do site: http://www.conmebol.com/2015
4
Dados retirados do site: http://www.cbf.com.br/2015
14
erro que interfira no placar pode trazer, também, penalizações e sanções a curto e longo prazo
para a equipe de arbitragem, dentre as quais podem ser citadas a exclusão de seus nomes nos
sorteios para os jogos seguintes de um campeonato, a estagnação e atraso na carreira
Nas competições oficiais, o árbitro trabalha em equipe composta, geralmente, por quatro
integrantes: um árbitro central, dois árbitros assistentes e um quarto árbitro, que embora atuem
juntos, possuem funções diferentes (Castagna, Abt, & D’Ottavio, 2007). O árbitro central terá
autoridade total para fazer cumprir as Regras do Jogo5 (Castagno et al., 2007; Oya & Dosil,
2004, 2006; Patiños & Cañadas, 2015; Velho & Fialho, 2015). Os árbitros assistentes auxiliam
o árbitro central na direção da partida, sempre submetidos à decisão do segundo, sendo de sua
competência marcar tiros de canto ou de meta em sua área de atuação, faltas próximas, laterais
e impedimentos. Por fim, o quarto árbitro (que podem ser até dois, em casos de jogos de maior
relevância) atua como suporte para a equipe, podendo inclusive, substituir qualquer um dos
outros escalados, se impossibilitados de atuar.
Segundo a Lei nº 12.867, de 10 de Outubro de 20136, o árbitro de futebol é agora um
profissional estando inserido na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO)7sob o Código
3772 - Árbitro Desportivo, mais especificamente 3772-20 - Árbitro de Futebol, tendo sua
função descrita como: “Zelar pela observância do regulamento nas competições esportivas,
controlando o andamento das mesmas, registrando as infrações, aplicando as penalidades e
fazendo as marcações necessárias para assegurar o processamento desses eventos dentro das
normas estabelecidas pelos órgãos desportivos”. Entretanto, poderia estar inserido também no
código 3771- Atleta Profissional, que descreve a função como: “Tomam parte como
profissionais em competições e provas esportivas. Participam, individualmente ou
coletivamente, de competições esportivas, em caráter profissional”, já que na Classificação
Internacional Uniforme de Ocupações (CIUO)8, ele está incluído na classificação número 3475-
Atletas, Desportistas e Afins.
No contexto esportivo, todo árbitro profissional pode ser considerado um atleta de alto
rendimento, na medida em que necessita passar por todo um processo de treinamento físico,
técnico e mental para estar apto a atuar no esporte, ademais de sua permanência nesta atividade
depende de seu desempenho esportivo (Balaguer, 2002; Gimeno, Buceta, Lahoz, & Sanz, 1998;
5
Dados retirados do site: http://www.cbf.com.br/arbitragem/regras-futebol-e-livros/livro-de-regras-2015-2016-
portugues
6
Dados retirados do site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/Lei/L12867.htm/2016
7
Dados retirados do site: http://www.mtecbo.gov.br/2016
8
Dados retirados do site: http://www.ilo.org/public/spanish/bureau/stat/isco/2016
15
González-Oya & Dosil, 1998, 2003, 2004; Patiño & Cañadas, 2015; Quinteiro & Reseña, 2007;
Realley & Warren, 2006; Velho & Fialho, 2015). O desempenho esportivo é composto por, no
mínimo, quatro pilares, a saber: o Físico, o Técnico, o Tático e o Psicológico, sendo assim
representado na arbitragem (Quinteiro & Reseña, 2007; Patiño & Cañadas, 2015; Velho &
Fialho, 2015).
O desempenho físico diz da capacidade para se movimentar em campo acompanhando
as jogadas, incorporando alternância na direção e velocidade dos deslocamentos, com agilidade,
resistência e explosão. Durante uma partida de futebol, o árbitro percorre, em média, de 12 a
14 quilômetros (Da Silva, 2005). Num período que varia de quatro a seis segundos, o árbitro
muda sua ação motora, portanto durante os 90 minutos de jogo ele realiza, em média, 1.268
atividades motoras diferentes (Costa et al., 2010).
O desempenho técnico configura-se como a capacidade para compreender, dominar e
aplicar as regras do jogo, além do correto posicionamento e deslocamento em campo. Em um
campeonato de relevância, como o Campeonato Brasileiro, o árbitro central adota cerca de 137
decisões observáveis por jogo. Além dessas decisões, ele também faz uso de decisões não
observáveis, aquelas que ocorrem quando o árbitro decide não interferir no jogo, totalizando
cerca de 180 a 200 decisões. Considerando o número médio de decisões tomadas pelo árbitro e
a duração mínima de uma partida de futebol (noventa minutos), tem-se de três a quatro decisões
por minuto. Dependendo da partida, serão várias grandes decisões a serem tomadas (Velho &
Fialho, 2015).
disciplina, segurança em suas decisões, e controle eficaz do estresse (Castagna et al., 2007;
Velho & Fialho, 2015).
Arbitrar é uma tarefa altamente complexa, não somente pelo fato de o árbitro ter que
tomar decisões em um curto período de tempo, mas também por ficar exposto a críticas e
pressões dos torcedores, atletas, técnicos e meios de comunicação (Balch & Scott, 2007;
González-Oya, 2006), além de sofrer abusos verbais, ameaças e, até mesmo agressões físicas,
ao mesmo tempo os reforçadores positivos são praticamente inexistentes (Ferreira, 2012;
Ferreira & Brandão, 2012). Os aspectos elencados contribuem para que esta experiência seja
exaustiva tanto emocional, quanto física e intelectualmente o que a torna, de certa forma,
excludente para alguns indivíduos que teriam características de personalidade e cognitivas que
aumentariam suas reações desadaptativas aos estressores vivenciados diariamente (Balch &
Scott, 2007; Brandão, Serpa, Krebs, Araújo, & Machado, 2011; Ferreira & Brandão, 2012).
Segundo González-Oya (2006), arbitrar é mais que fazer cumprir regras e regulamentos,
pois tem a ver, antes de tudo, com a própria experiência pessoal, conhecimento de si e da
arbitragem. Muitas tarefas do árbitro levam em conta sua percepção subjetiva da ação, estando
sujeitas ao seu julgamento de valor e à sua interpretação. Considerando tais aspectos
psicológicos, verifica-se a necessidade de estudar de forma mais profunda as características
pessoais e as potencialidades que fazem o árbitro ter um desempenho bem-sucedido dentro de
campo (González-Oya & Dosil, 2004).
No esporte, desempenhos excepcionais são alvos recorrentes de pesquisas, as quais
objetivam entender quais as características ou competências que tornam estes atletas
9
Dados retirados do site: http://fmf.com.br/2016
17
diferenciados, ou mesmo o que distingue esses atletas dos outros com desempenhos dentro da
expectativa (Matos, Cruz & Almeida, 2011). Há menos de uma década, os pesquisadores
brasileiros têm buscado pelas competências indispensáveis a um atleta de elite (Williams &
Hodges, 2005). Segundo Masala, Sunje, Rado, e Bonacin (2009) e Min, Kim, Choe, Eom e
McKay (2008), isto nos remete a uma busca cada vez mais acentuada pelo melhor modelo
preditivo da performance de um atleta.
Evidências empíricas indicam que os fatores psicológicos são preditores consistentes de
desempenho esportivo (Aidman, 2007; Allen & Laborde, 2014; Allen, Greenlees, & Jones,
2011, Naveira & Ruiz, 2013; Orlick & Partington, 1988; Smith & Christensen, 1995). Aliado à
capacidade física e técnica, outros fatores são primordiais para a evolução de um desempenho
de excelência, como, por exemplo, o tempo de prática, o conhecimento do jogo, além de
aspectos psicológicos como o desejo de excelência e de êxito, a auto eficácia elevada, a
capacidade de detectar informações relevantes do ambiente para se antecipar às situações e o
autocontrole. Santos (2011) afirma que a paixão pelo esporte que pratica também é fator
essencial nesta construção.
Segundo Baker e Horton (2004), o desempenho esportivo é um processo resultante da
interação de dois tipos de influências: primária, constituída pela genética (por exemplo,
habilidades motoras para treinamento e características psicológicas) e, influências secundárias,
compostas por aspectos socioculturais e ambientais. Quanto aos aspectos psicológicos, os
autores afirmam que as pesquisas têm demonstrado que para a aquisição da proficiência, uma
disposição motivacional adequada para persistir nos treinamentos é necessária (Baker &
Horton, 2004). Já para a manifestação da alta performance, destacam-se a capacidade de
concentração, controle da ansiedade, autoconfiança e resiliência (Cox, 1990; Gould,
Petlichkoff, Simons, & Vevera, 1987; Gould, Dieffenbach & Moffett, 2002; Williams & Krane,
2001). Morgan (1980) destaca a tendência a apresentarem Perfil Iceberg (alto vigor, e baixas
tensão, depressão, raiva, fadiga e confusão). Anshel (1997) relatou que atletas de elite estão
predispostos a tomadas de decisão de alto risco e a uma maior busca por sensações e
competitividade. Ademais, Singer e Janelle (1999) destacam a importância de saber manejar
bem as obrigações e as distrações.
Dentre os fatores psicológicos, a personalidade tem sido alvo de estudos recentes nos
Estados Unidos, Austrália, Reino Unido, Canadá, especialmente com o advento do modelo dos
cinco grandes fatores (Baker & Horton, 2004; Piemonte, Hill, & Blanco, 1999; Rhodes &
Smith, 2006; Tolea, Terracciano, Simonsick, Metter, Costa Jr. & Ferrucci, 2012). Em revisão
feita por Naveira e Ruiz (2013) de 35 artigos publicados entre 1976 e 2013, maior Extroversão
18
personalidade e as estratégias de coping com o desempenho esportivo. Por fim, será apresentada
uma conclusão final geral, em que pese as contribuições e limitações do presente trabalho, além
de sugestões para futuros estudos nesta área.
1.2 Referências
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26
2 Objetivos
3 Estudo I
Marcela Mansur-Alves ²
Resumo
The aim of this study was to verify the existence of differences in referees’ personality profile
compared to the general population, to identify differences related to sociodemographic
variables, and to verify the similarity between referees and other high performance athletes.
The sample consisted of 285 soccer referees from the states of Ceará, Federal District,
Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco and Piauí. 144 were assistant referees and 141 central
referees, ranging in age from 18 to 46 years (M = 31.3 years; SD = 6.1). 254 were males and
137 were graduated, with an average time of experience in refereeing of 6.9 years (SD = 5.5).
The NEO FFI Inventory was used to evaluate the personality. The results indicated a
statistically significant difference between referees and the general population in all five factors,
being higher in Neuroticism (d = 0.83) and in Conscientiousness (d = -0.90). The referees also
showed higher scores in Extraversion (d = -0.58), which is similar to the profile of high
performance athletes presented in the international literature. Regarding the relationship with
gender, age and refereeing time variables, the results showed that the male referees are older (d
= 0.4) and present more experience in refereeing (d = 0.7), as well as a higher score in
Agreeableness (T = -2.5, p <0.05, d = 0.3) than the female referees. The refereeing time did not
show a significant correlation with any personality dimensions, which can be explained by the
"Selection Hypothesis" that defends that the psychological abilities are responsible to introduce
and keep the athletes in the high-performance sports context. The results showed that the referee
sample investigated has a personality profile (high Conscientiousness and Extraversion and low
Neuroticism) that is similar to the high-performance athletes and which distinguishes the
referees from the general population.
Keywords: Personality traits; referees; soccer; high performance athletes.
29
3.1 Introdução
um a fim de ajudá-los, de forma mais eficaz, a alcançar um ótimo desempenho. Outros autores,
tais como Allen, Greenlees e Jones (2013), vêm estudando a relação entre características de
personalidade e desempenho em atletas. Esses autores concluem que a personalidade é um
determinante importante do sucesso a longo prazo no esporte, e identifica diferenças de
personalidade claras entre os indivíduos que participam do esporte de competição, e os
indivíduos que não participam.
Um dos fatores que possibilitou a retomada do interesse pelas investigações do papel da
personalidade no desempenho esportivo e das características diferenciais de atletas quanto
comparados à população geral foi a consagração do Modelo dos Cinco Grandes Fatores de
Personalidade (CGF) como melhor modelo estrutural para descrição da personalidade, que se
deu a partir da década de 1980, com os trabalhos de Goldberg, e de Robert McCrae e Paul Costa
(Garcia, 2007; Pervin & John, 2004). A personalidade, pela perspectiva do modelo dos Cinco
Grandes Fatores (CGF), é o sistema em que as características inatas da pessoa interagem com
o meio ambiente e se transformam em comportamentos e experiências peculiares a cada ser
(McCrae, 2006). O modelo destaca que o indivíduo traz consigo tendências básicas, material
bruto e universal da personalidade (McCrae & Costa, 1996), capacidades e disposições mais
fundamentais, que constituem o potencial e a orientação do indivíduo, podendo ser hereditárias
ou terem origem nas primeiras experiências. Estas tendências básicas seriam cinco:
Neuroticismo, Extroversão, Abertura a Experiências, Amabilidade e Conscienciosidade.
Neuroticismo (N) refere-se à instabilidade/estabilidade emocional, às tendências para
preocupação, à susceptibilidade ao humor negativo e à propensão à psicopatologia (Claridge &
Davis, 2001). A Extroversão (E) corresponde ao nível de sociabilidade, sendo definida por
traços como afiliação, dominância, energia e emoções positivas. A dimensão Abertura a
Experiências (Ab) diz do interesse intrínseco na experiência em várias áreas, a curiosidade
intelectual e o interesse estético são elementos centrais, como também a sensibilidade aos
sentimentos, a disposição para experimentar novas atividades e o liberalismo em termos de
valores políticos e sociais. Esta dimensão tem uma leve associação com a inteligência.
Amabilidade (Am) representa atitudes e comportamentos pró- sociais, as pessoas com alta
amabilidade são agradáveis, corteses, crédulos e simpáticos. A quinta dimensão, aqui
representada pela Conscienciosidade (C), é caracterizada por senso de contenção e sentido
prático. Indivíduos com alto escore em C são zelosos e disciplinados, e se relaciona a
desempenhos profissionais superiores em várias ocupações, o que confere uma vantagem social
(Barrick & Mount, 1991). O Modelo dos Cinco Grandes Fatores (CGF) é o que possui, na
atualidade, maior replicabilidade e capacidade preditiva, sendo predominante nas investigações
31
científicas em várias áreas da Psicologia e campos afins, inclusive no Esporte (Silva & Nakano,
2011)
O esporte de alto rendimento traz como característica períodos intensos de treinamento
exaustivos, de incertezas quanto a posterior participação nas competições, de disputa por poucas
vagas, da possibilidade de lesões. Estes fatores elencados exigem do atleta muita persistência,
estabelecimento de rotinas e metas, busca por realização e competência pessoal, alta energia e
motivação, gosto por desafios, além de, no momento da competição, aliado aos fatores
mencionados, é imprescindível possuir estabilidade emocional. Nesse sentido, um conjunto de
investigações realizadas em países diversos tem apresentado evidências de que características
de personalidade são fatores distintivos dos atletas quando comparados à população geral,
sendo esta relação moderada, por exemplo, por outras variáveis, tais como tipo esporte, gênero
e idade (Allen et al., 2013; Baker & Horton, 2004; Naveira & Ruiz, 2013; Nia & Besharata,
2010).
Allen, Greenlees e Jones (2011) realizaram pesquisa em que participaram 253 atletas
(187 homens e 66 mulheres) do Reino Unido. O primeiro resultado obtido com os atletas de
elite demonstrou níveis mais elevados de Extroversão e mais baixo de Neuroticismo que as
amostras normativas da população geral, mesmo resultado encontrado por Naveira, Barquín e
Pujals (2011). Quanto ao nível de atuação, a análise apresentou uma relação significativa em
que atletas de elite regionais (N=89), nacionais (N=27) e internacionais (N=13) obtiveram
níveis mais elevados de Conscienciosidade e Amabilidade e mais baixos em Neuroticismo, do
que atletas de recreação das Universidades (N=21) e Clubes (N=90). Naveira et al. (2011)
encontraram em atletas de elite o mesmo resultado, porém em lugar da Amabilidade a dimensão
que apresentou altos escores foi Abertura a Experiências. A idade dos atletas apresentou uma
correlação positiva com Conscienciosidade e negativa com Neuroticismo, indicando que
também entre atletas indivíduos mais velhos são mais conscienciosos e possuem maior
estabilidade emocional.
Vários estudos, transversais e longitudinais, em amostras em diferentes contextos,
replicam estes resultados, indicando uma associação positiva entre a idade e a
Conscienciosidade e negativa com Neuroticismo (Allen et. al., 2013; Balch & Scott, 2007;
Caspi, Roberts, & Shiner, 2005; Krueger & Johnson, 2008; Mc Adams & Olson, 2010; Roberts
& Del Vecchio, 2006). Estes achados são tão consistentes que se tem considerado este padrão
como universal e parte do desenvolvimento da personalidade humana, sendo chamado de
“Princípio da Maturidade” (Terracciano, McCrae, & Costa, 2010; Roberts, Walton, &
Viechtbauer, 2006). Em síntese, este princípio diz de que o avançar da idade propicia o aumento
32
e Extroversão. Resultados semelhantes foram encontrados por Dhesi e Bal (2012) que
avaliaram 250 esportistas do sexo masculino, com idade média de 21,8 anos (DP=2,14),
integrantes de esportes individuais e coletivos. Etemadi, Nia e Besharata (2010) avaliaram 92
atletas de equipe e 42 individuais, e apresentou como resultado alta Conscienciosidade em
atletas individuais e alta Amabilidade em atletas de esporte coletivo, porém não encontrou
nenhuma diferença para Neuroticismo, Abertura e Extroversão.
Por fim, Allen e Laborne (2014) afirmam que estudos contemporâneos comprovam a
relação entre traços de personalidade, segundo o Modelo dos Cinco Grandes Fatores, e o
esporte, tanto no contexto do alto rendimento, como na aderência a atividade física em busca
de saúde e bem-estar. No contexto do desempenho esportivo, novos estudos têm demonstrado
que os traços de personalidade se relacionam com sucesso atlético a longo prazo, com as
relações interpessoais, e estados psicológicos dos atletas antes, durante e depois das
competições.
Especificamente acerca das diferenças de personalidade entre árbitros e população geral
e das características de personalidade mais marcantes entre os primeiros, a literatura é escassa.
O árbitro de futebol é um atleta na medida em que somente um desempenho exitoso se faz
requisito tanto para sua permanência nos quadros profissionais quanto para sua inserção nos
sorteios dos campeonatos, para que possa atuar. Este desempenho esportivo é composto por, no
mínimo quatro pilares: físico (capacidade de deslocamento dentro de campo com o objetivo de
acompanhar as jogadas), técnico (domínio das regras do jogo, posicionamento e deslocamentos
em campo), tático (plano de trabalho para uma boa evolução e entrosamento da equipe em
campo) e psicológico (habilidades que possibilitam equilíbrio emocional e enfrentamento
eficaz do estresse, o que isentam as tomadas de decisão e leitura de jogo de cunho pessoal)
(Castagno, Abt, & D’Ottavio, 2007; Gonzalez-Oya & Dosil, 2003, 2004; Patino & Cañadas,
2015; Velho & Fialho, 2015). O papel do árbitro em campo envolve a aplicação das regras do
jogo permitindo assim que o mesmo transcorra de forma organizada, disciplinada e isenta
(Castagno et al.,2007). Em síntese, conforme descrito acima, a literatura internacional tem
apontado que os atletas possuem um perfil de personalidade aparentemente distinto de não
atletas que pode ser mediado pela idade, experiência, tipo de esporte praticado e gênero. Os
árbitros de futebol são atletas de alto rendimento, apesar de apresentarem função distinta dentro
de campo, portanto, parece plausível supor que as mesmas diferenças encontradas entre atletas
e população geral no que se refere aos traços de personalidade, possam ser replicadas em
árbitros. Ainda não foram encontrados estudos que visem identificar se as características de
35
3.2Método
3.2.1 Participantes
Participaram do estudo 285 árbitros de futebol (144 árbitros assistentes e 141 árbitros
centrais) com idades variando de 18 a 46 anos (M= 31,3 anos; DP=6,1), sendo 254 do sexo
masculino (89,1% da amostra). Participaram 120 árbitros do estado de Minas Gerais, 69 do
Ceará, 27 do Distrito Federal, 32 de Pernambuco, 23 do Piauí e 14 do Maranhão. Quanto ao
grau de instrução, 48,1% da amostra possui curso superior completo e 32,3% nível médio
completo ou superior incompleto. A classificação socioeconômica, calculada com base nos
parâmetros do Critério Brasil de 2015 (poder de consumo, nível de escolaridade, acesso à água
potável e ruas asfaltadas na vizinhança), está representada na amostra com 47,5% na classe B,
seguida por 31,3% na classe C e 9,8% representam a classe A. A média de tempo de experiência
na arbitragem é 6,9 anos (DP=5,5 anos), com mínimo de 6 meses e máximo 22 anos.
3.2.2 Instrumentos
Inventário de Cinco Fatores NEO Revisado: NEO-FFI-R (Versão Curta) (Costa &
McCrae, 1985; adaptação brasileira por Flores-Mendoza et al. (2010): o NEO-FFI-R é a versão
curta da forma S do NEO PI-R, que é instrumento considerado padrão-ouro na avaliação da
personalidade. Contém 60 itens com informações sobre os cinco traços de personalidade
36
3.2.3 Procedimentos
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Minas Gerais
(CAAE 53351216.4.0000.5149). Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE, Apêndice B). A escolha pelos Estados participantes se deu por
conveniência, pelo critério de disponibilidade de uma psicóloga habilitada em cada uma destas
Federações, as quais se dispuseram a aplicar os instrumentos. O contato com a Federação
Mineira de Futebol foi estabelecido por meio da primeira autora desse artigo. O contato com as
demais Federações (dos Estados do Ceará, Distrito Federal, Maranhão, Pernambuco e Piauí)
foi feito também por meio das psicólogas do esporte atuantes em cada instituição, que
possibilitaram o acesso e anuência da presidência da comissão de arbitragem local.
Em seguida, via Sedex 10, foram enviados às psicólogas os instrumentos, juntamente a
um documento com informações sobre a pesquisa e instruções de aplicação. Reuniões entre a
pesquisadora e as profissionais, via Skype (programa de chat com voz e vídeo), possibilitaram
37
o esclarecimento das dúvidas e reforço das instruções. No estado de Minas Gerais, as aplicações
foram conduzidas em Belo Horizonte, na sede da Federação Mineira de Futebol e no Centro de
Treinamento Esportivo da UFMG, por equipe de graduandos em psicologia orientados pela
pesquisadora responsável. Nos demais Estados, as aplicações ocorreram nas sedes das
federações locais, também supervisionadas pelas psicólogas responsáveis por cada Federação.
As aplicações dos instrumentos foram realizadas coletivamente e duraram cerca de 1
hora e 30 minutos, em todos os Estados. Logo após as aplicações, todo o material foi devolvido,
via Sedex 10, pelas psicólogas responsáveis pela coleta em cada Estado. Ao final do estudo, os
árbitros receberão uma devolutiva, por meio de carta, com os principais resultados obtidos de
sua avaliação de personalidade.
10
Dados retirados do site: http://satepsi.cfp.org.br/2016
38
médias dos grupos e logo se divide o valor obtido pela média dos desvios-padrões (Espírito-
Santo & Daniel, 2015). Todas as análises foram realizadas utilizando o software SPSS (versão
22), com exceção do cálculo do d de Cohen que foi feito com base em um macro disponibilizado
no site da Universidade do Colorado11.
3.3 Resultados
A partir da verificação das médias, medianas e modas dos fatores do NEO-FFI-R,
juntamente aos valores de assimetria e curtose, concluiu-se que os dados apresentam
distribuição normal (Dancey & Reidy, 2011), possibilitando a utilização de estatísticas
paramétricas.
A Tabela 1 apresenta os resultados das comparações entre os escores médios dos árbitros
e da população geral nas cinco dimensões do NEO-FFI-R (Flores-Mendoza, 2010). Verificou-
se, por meio do teste t para única amostra, que os árbitros apresentam maiores níveis de
Extroversão, Amabilidade e Conscienciosidade, e menores níveis de Neuroticismo e Abertura,
sendo todas estas diferenças estatisticamente significativas. Foram verificados tamanhos de
efeito grandes para Neuroticismo e Conscienciosidade, médios em Extroversão e Abertura e
pequeno para Amabilidade (Espírito-Santo & Daniel, 2015).
Tabela 1.
Resultados da comparação entre árbitros e população geral nas dimensões do NEO-FFI-R
População
Árbitros d de
Dimensões Geral T
M (DP) Cohen**
M (DP)
*p<0,001; ** valor d negativo indicará resultado mais alto para os árbitros, uma vez que as médias deste grupo
ingressaram em segundo lugar na fórmula.
11
Dados retirados do site: http://www.uccs.edu/~lbecker/2016
39
3.4 Discussão
Este estudo teve por objetivo descrever os traços de personalidade de árbitros de futebol
brasileiros, compará-los àqueles observados na população geral e correlacioná-los com
variáveis sociodemográficas. De forma geral, as hipóteses levantadas foram corroboradas.
40
vôlei canadenses. Pode-se pensar que atletas com alta pontuação neste traço buscam ir além do
seu limite, apresentando motivação para realizações, características de responsabilidade,
tendência para a ordem, persistência e autodisciplina como também uma visão de si mesmo
mais positiva, possivelmente relacionado a maior auto eficácia (Allen et al., 2013; Rhodes &
Pfaeffli, 2012; Rhodes & Smith, 2006; Hoyt, Rhodes, Hausenblas, & Giacobbi, 2009).
Baker e Horton (2004) discorrem sobre desempenho esportivo e preconizam que embora
atletas competitivos lutem por excelência, sob a pressão da concorrência, eles passam a maior
parte de seu tempo treinando para a competição ao invés de competirem. Baker e Horton (2004)
citam que atletas competitivos gastam até 99% do seu tempo em treinamento. Neste sentido,
indivíduos com alta Conscienciosidade dispõem de um importante traço para o comportamento
de adesão, além da qualidade da preparação (García-Naveira et al., 2011; Rhodes & Smith,
2006). As rotinas de preparação e trabalho exigentes, duras e até mesmo maçantes se tornariam
extremamente difíceis e aversivas para indivíduos pouco focados para metas e realização, o que
reforça a associação entre responsabilidade e prática desportiva (Allen et al., 2013; Hoyt et al.,
2009; Rhodes & Pfaeffli, 2012; Rhodes & Smith, 2006). Ademais, a área de atuação da
arbitragem envolve muitos estressores e pouca valorização, tanto financeira quanto cultural.
Logo, aqueles que não têm um perfil adequado podem acabar desistindo antes de chegar ao
nível profissional.
Alta Extroversão (E) foi identificada como traço característico de atleta de alto
rendimento desde a década de 1960. Naveira e Ruiz (2013) colocam que um alto E indica uma
predisposição para manter comportamento de atividade física, pois prevê emoções positivas,
como felicidade, animação, otimismo, elevado nível de energia e atividade, além de
sociabilidade. Allen et al. (2013), Rhodes e Pfaeffli (2012), Rhodes e Smith (2006), Hoyt et al.
(2009), Rhodes e Smith (2006) e Tolea et al. (2012) apresentaram estudos nos quais ficou
demonstrado a associação entre alta extroversão, a prática da atividade física e a capacidade
para exercitar-se em busca do aprimoramento do desempenho esportivo.
Ademais, um árbitro não deve ser tímido, por conta da exposição pública a qual está
submetido, tanto durante os jogos quanto fora deles. Pesquisas com atletas, segundo o modelo
Big Five, mostram os mesmos como pessoas com escores mais altos de Extroversão (Dineen,
2003; Garcia Naveira et al., 2011; Hausenblas & Giacobbi, 2004; Rhodes & Courneya, 2003;
Rhodes et al., 2001). Balch e Scott (2007) avaliaram árbitros esportivos de vôlei, hóquei e luta
livre, e os resultados apresentaram o fator Extroversão significativamente mais elevado que o
grupo de comparação. Este achado foi encontrado em outros estudos com árbitros (Balch &
Scott, 2007; Fratzke, 1975; Ittenbach & Eller, 1988).
42
em campo. O meio da arbitragem brasileira é permeado por indivíduos que também pertencem
a meios institucionais hierarquizados, como, por exemplo, o Exército, a Marinha, Aeronáutica
e a Polícia Militar, Civil e Federal. O próprio sistema arbitral é hierarquizado como nestas
instituições e, muito provavelmente, isto poderia estar associado aos baixos escores em
Abertura a experiências encontrados no presente estudo, já que há uma tendência a buscarmos
ambientes que reforcem nossos traços. Contudo, para se testar esta hipótese explicativa
levantada seria necessário que em novos estudos o tipo de formação e local de treinamento dos
árbitros fossem controlados.
Malinauskas (2014) também encontrou baixa Abertura em atletas, porém seu estudo
verificou baixos níveis de Amabilidade e Extroversão, resultados que vão de encontro ao
presente estudo. Naveira e Ruiz (2013) concluíram que os atletas não são caracterizados por
abertura à experiência e amabilidade, de acordo com o modelo de Costa e McCrae, e que esses
traços não estão relacionados com a atividade física.
Balch e Scott (2007) aplicaram o NEO-FFI em 33 árbitros esportivos de vôlei, hóquei e
luta livre e em 89 estudantes. Comparando os dois grupos os pesquisadores não encontraram
diferenças estatisticamente significativas em nenhuma das dimensões. Contudo, quando
comparados entre si, os árbitros mais velhos apresentaram níveis mais altos em C e menores
em N. Tais associações também são encontradas na amostra normativa da versão brasileira da
escala, indicando que as mesmas também são encontradas na população geral (Flores et
al.,2010). Segundo o “Princípio da Maturidade” (Roberts et al., 2006; Terracciano, McCrae, &
Costa, 2010), existe uma relação gradual e positiva com a Conscienciosidade até os 50 anos e
gradual, porém negativa com o Neuroticismo até os 40 anos.
As árbitras avaliadas assim como as mulheres da população geral, também apresentam
maior N do que os homens. Entretanto, a maior Amabilidade (Am) nos árbitros homens vai
contra o esperado na população (Flores et al.,2010). Esse resultado também vai contra ao
encontrado por Allen et al. (2011), no qual atletas do sexo feminino mostraram escores mais
altos em Am do que atletas homens. Contudo, é importante destacar que o tamanho do efeito
da diferença é baixo, indicando a necessidade de não supervalorizar o resultado. Nesse caso,
pode-se pensar que provavelmente as mulheres que procuram a arbitragem possuem perfis de
personalidade diferente de outras mulheres, inclusive atletas, pois adentram um mundo
majoritariamente masculino, com características de sistemas hierárquicos e hostilizados
socialmente. Pode ser que tenham preferência por desafios e de se posicionarem contra
preceitos e normas pré-estabelecidas, além de possuírem características de independência e
autossuficiência.
44
3.5 Conclusão
Este estudo apresentou evidências de que o perfil de personalidade de árbitros do futebol
brasileiro difere do perfil encontrado na população geral, embora o padrão de mudanças
relativas à idade de cada um dos traços de personalidade siga o que é frequentemente reportado
na literatura de diferenças individuais em personalidade. Ademais, pode-se afirmar que os
resultados encontrados trazem mais subsídios para classificar, do ponto de vista de
características psicológicas, os árbitros de futebol como atletas de alto rendimento, uma vez
que o padrão de personalidade encontrado se assemelha aos perfis apregoados na literatura
como característicos de atletas de alto rendimento. Outro resultado interessante, que não
corroborou a hipótese inicialmente levantada, diz respeito às diferenças de gênero entre árbitros,
que não seguiram o padrão da amostra normativa, em que as mulheres apresentaram maiores
escores em E, N, e Am do que os homens. Não obstante, este resultado seja interessante é
importante ressaltar que a amostra feminina foi bastante reduzida o que pode explicar
parcialmente os resultados encontrados.
45
O presente estudo trouxe, portanto, contribuições para a Psicologia do Esporte, uma vez
que aponta para a importância de se considerar as características de personalidade dos árbitros
não apenas na seleção e promoção de profissionais, mas também na condução de um trabalho
psicológico futuro com os árbitros, no sentido de se adaptar melhor os treinamentos e técnicas
de intervenções, para que possam ser mais motivadores e eficazes. Ademais, acredita-se que
esta investigação abra caminho para que outros pesquisadores possam se interessar por conduzir
pesquisas semelhantes em um grupo historicamente negligenciado em estudos na área do
Esporte.
Não obstante as suas contribuições, o estudo também apresenta limitações. Não foi
possível incluir árbitros representativos de outras unidades da federação, o que limita um pouco
a generalização dos achados. Ainda, seria interessante para se obter um perfil mais completo
dos árbitros em comparação à população geral, que outro instrumento de avaliação da
personalidade que incluísse a avaliação das facetas fosse utilizado. Alguns autores (Allen et al.,
2013; Nia & Besharat, 2010; Tolea et al., 2012) defendem que a avaliação das facetas
componentes de cada traço forneceria uma avaliação mais precisa e profunda da personalidade,
sendo possível identificar diferenças mais tênues intergrupos. No Brasil, poder-se-ia utilizar,
por exemplo, o Inventário de Personalidade NEO PI-R em sua versão completa.
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52
Nome: _________________________________________________________________
Informações Gerais
3. Profissão
6. Qual quantidade destes itens você possui em casa? (Considerar os que estão
funcionando)
Itens
Banheiros 0 1 2 3 4 ou +
Empregados domésticos (carteira assinada) 0 1 2 3 4 ou +
Automóveis 0 1 2 3 4 ou +
Microcomputador 0 1 2 3 4 ou +
Lava louca 0 1 2 3 4 ou +
Geladeira 0 1 2 3 4 ou +
Freezer 0 1 2 3 4 ou +
Lava roupa 0 1 2 3 4 ou +
DVD 0 1 2 3 4 ou +
Micro-ondas 0 1 2 3 4 ou +
Motocicleta 0 1 2 3 4 ou +
Secadora roupa 0 1 2 3 4 ou +
Informações Profissionais
6. Função: Árbitro Assistente
14.Você já foi convidado pela CBF/ FIFA para fazer algum curso ou treinamento fora do seu
estado? Sim Não Quantas vezes:____________ Anos:
Local:________
Nome do evento:
16. Abaixo estão enumeradas algumas razões que podem ter influenciado em seu ingresso na
arbitragem. Marque em todas as afirmativas, conforme a escala abaixo, o quanto elas
contribuíram em sua decisão.
1 - Nada 2 - Um pouco 3 - Medianamente 4 - Bastante 5 - Extremamente
Afirmativas 1 2 3 4 5
Amor pelo futebol
Permanecer no meio do futebol (tentei ser jogador...)
Contribuir de alguma forma para o futebol
Gostar de desafios
Busca de sensações
Desejo de poder e controle
Renda extra
Influência de familiares e amigos
Praticar esporte
Fazer amigos
Viajar
Seguir a tradição familiar (tenho parentes que foram árbitros)
Sempre gostei de apitar desde novo
54
Este termo de consentimento encontra-se impresso em duas vias, sendo que uma delas
será arquivada pelo pesquisador responsável, e a outra será fornecida a você.
Eu, _________________________________________, portador(a) do documento de
Identidade ____________________, fui informado(a) dos objetivos do presente estudo de
maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que a qualquer momento poderei
solicitar novas informações junto ao pesquisador responsável listado abaixo, telefone 31-
91113978. Tenho ciência que posso modificar a decisão de participar do estudo, se assim o
desejar. Recebi uma via deste termo de consentimento livre e esclarecido e me foi dada a
oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas1
Assinatura do participante: .......................................................................................................
Telefone.....................E-mail...................................................Data......./......../.........
Deseja receber os seus resultados na pesquisa, por meio de uma carta enviado ao seu e-
mail? ( ) Sim ( ) Não
4. Estudo II
Marcela Mansur-Alves²
Resumo
Estratégias de coping são mecanismos de enfrentamento que o indivíduo utiliza em situações
estressantes, nas quais se sinta ameaçado física ou emocionalmente. No esporte possuir
estratégias de coping adequadas significa lidar bem com o estresse, condição que torna o atleta
adaptado ao meio. A literatura internacional tem demonstrado que traços de personalidade são
preditores dessas estratégias, como também de desempenho esportivo. O objetivo deste estudo
foi levantar as estratégias de Coping mais utilizadas pelos árbitros de diferentes estados
brasileiros, assim como avaliar sua relação com a personalidade e o desempenho esportivo. A
amostra constou de 225 árbitros de futebol (113 árbitros centrais e 110 árbitros assistentes) com
idades variando de 18 a 45 anos (M= 31,1 anos; DP=6,0), sendo 203 do sexo masculino (90,2%
da amostra). O instrumento utilizado foi o Inventário de Estratégias de Coping, o Inventário de
Personalidade NEO-FFI-R e um questionário sociodemográfico. Para avaliar o desempenho
esportivo, os árbitros foram classificados em quatro níveis (amador, bronze, prata e ouro),
segundo o critério da abrangência do campeonato que atuam,
além do tempo de ingresso na Federação. Quanto ao tipo de estratégia mais adotado pela
amostra, uma análise de frequência revelou que a utilização das quatro estratégias se dá em
níveis semelhantes. A correlação entre os traços de personalidade apresentou-se significativa
nas cinco dimensões para Estratégias Focadas no Problema, com Estratégias Focadas na
Emoção, somente N e C apresentaram correlações significativas e Estratégias Focadas no Apoio
Social apresentou correlação significativa, porém baixa com E. Estratégias Evitativas não se
correlacionaram com nenhuma dimensão. Conscienciosidade, Abertura e Extroversão
predisseram coping Focado no Problema, Neuroticismo predisse Focado na Emoção, Apoio
Social apresentou Extroversão e a interação de Neuroticismo e Conscienciosidade como
preditores e, por fim Evitação teve como preditores a variável gênero e as interações entre
Neuroticismo e Conscienciosidade e Neuroticismo e Abertura. No que se refere ao desempenho
dos árbitros, idade e tempo de arbitragem correlacionaram-se positivamente com este. Ademais,
Neuroticismo e Abertura a Experiências foram as únicas dimensões de personalidade preditoras
do desempenho. Em suma, este estudo aponta para as relações entre coping e personalidade
também para árbitros de futebol. Porém, questiona-se a forma como o desempenho esportivo
tem sido historicamente mensurado no país. Novos estudos são necessários não apenas para
elaboração de critérios mais objetivos de desempenho, como também para inclusão de um
número maior de árbitros, do uso de instrumentos de Coping mais adequados ao contexto do
Esporte e da inclusão de medidas de personalidade que possam fornecer avaliações mais amplas
a nível de facetas.
Abstract
Coping strategies are coping mechanisms used by individuals in stressful situations in which
they feel threatened physically or emotionally. In sports, having proper coping strategies means
coping well with stress, condition that makes the athlete adapted to the environment. The
international literature has shown that personality traits are predictors of these strategies, as well
as of sports performance. The objective of this study was to identify the coping strategies most
used by referees from different Brazilian states, as well as to evaluate their relationship with
personality and sports performance. The sample consisted of 225 soccer referees (113 central
and 110 assistant referees), ranging in age from 18 to 45 years (M = 31.1 years, SD = 6.0),
being 203 males (90.2% Sample). The instruments used were the Coping Strategies Inventory,
the NEO-FFI-R Personality Inventory and a sociodemographic questionnaire. In order to
57
evaluate the sport performance, the referees were classified into four levels (amateur, bronze,
silver and gold), according to the criterion of the championship coverage that act beyond the
time of entry into the Federation. A frequency analysis revealed that the use of the four
strategies occurs at similar levels. Problem-focused strategies showed significant correlations
with all the five personality dimensions. Emotion-focused strategies were only significantly
correlated with N and C, as Social Support focused strategies presented a significant, but low,
correlation with E. Avoidance strategies haven’t show significant correlations with any
dimension. Conscientiousness, Openness and Extraversion predicted Problem-focused coping,
Neuroticism predicted Emotion-focused, Extraversion and the interaction of Neuroticism and
Conscientiousness were Social Support focused strategies’ predictors, and finally, Avoidance
strategies had, as predictors, the variable gender and the interactions between Neuroticism and
Conscientiousness and Neuroticism and Openness. Regarding the performance of the referees,
age and time of arbitration were positively correlated with this one. In addition, Neuroticism
and Openness were the only personality dimensions that predicted the referees’ performance.
This study points out to the relationship between coping and personality for soccer referees.
However, the question is how sports performance has been historically measured in the country.
Other studies are necessary, not only to elaborate more objective criteria for performance
evaluation, but to include a larger sample of referees, and to use coping instruments that are
more appropriated to the context of Sports as well as using personality measurements that can
provide wider information, at the level of facets.
4.1 Introdução
Brandão (2011) afirma que a atividade praticada pelos árbitros de futebol os expõe a
todo momento a situações estressoras. Portanto, uma habilidade fundamental e determinante
para o desempenho esportivo de árbitros de futebol, é a forma como lidam com estímulos
estressores. Desde o início da década de 1990, pesquisadores do esporte se interessam pelo
estudo do Coping no contexto esportivo (Gould, Eklund, & Jackson, 1993; Hardy, Jones, &
Gould, 1996; Nicholls & Polman, 2006). A capacidade de lidar, de forma adequada, com
eventos estressantes durante a competição faz parte do desempenho esportivo bem-sucedido,
pois se evita efeitos prejudiciais sobre processos psicológicos tais como concentração, foco de
atenção (Lazarus, 2000).
Nesse sentido, as estratégias de Coping podem ser um fator importante para explicar
algumas das diferenças de níveis de desempenho esportivo (Coetzee, Grobbelaar, & Gird, 2006;
Cox, Shannon, Mc Guire, & Mc Bride, 2010; Van den Heever, Grobbelaar, & Potgieter, 2007;
Segato, Brandt, Liz, Vasconcellos & Andrade, 2010). No entanto, os estudos sobre o assunto
ainda são pouco frequentes. O Coping é uma forma de autorregulação emocional que garante
aos atletas a habilidade para lidar com vários tipos de exigências sem que afete seu desempenho,
constituindo-se em um fenômeno psicológico complexo, determinado e passível de ser
planejado (Barreiros, 2005; Dias, 2005).
Nicholls, Holt, N. Polman, R. Polman e Bloomfield (2006) analisaram 64 estudos,
publicados de 1988 a 2004, sobre Coping no esporte e como resultado verificaram que 46 destes
estudos se basearam na perspectiva de processo defendida por Folkman e Lázarus. Ademais,
apontaram que atletas homens e mulheres percebem o estresse de forma semelhante, porém
homens utilizam mais estratégias focadas no problema (gerir o problema que se encontra na
gênese da perturbação do sujeito, buscando controlar ou alterar a situação que originou o
estresse) e mulheres buscam maior enfrentamento focado na emoção (regulação da perturbação
emocional no nível somático ou de alívio de sentimentos, podendo estar relacionado a
mudanças no significado da situação). Quanto à idade, os autores demonstraram ser um fator
moderador do Coping, pois quanto mais velhos os atletas se tornam, mais eficazes são suas
estratégias e maior controle de suas emoções eles obtêm (Folkman & Lazarus, 1988; Oliveira,
2009). Nicholls et al. (2006) concluíram que estratégias focadas no problema foram mais
eficazes no esporte, porém, quando os atletas percebem não haver mais solução ou perdem o
59
controle da situação, ou seja, quando a avaliação do estressor é de dano, eles utilizam estratégias
focadas na emoção para que possam se reestruturar emocionalmente.
No que se refere às estratégias evitavas (decisão de um indivíduo de se retirar de uma
tarefa estressante particular, ou se envolver em outra atividade), Anshel (1997) e Krohne (1996)
consideram que, no contexto esportivo, este tipo de estratégia não deva ser avaliado somente
com cunho negativo e chamam a atenção para a necessidade dos atletas em reduzir a
importância do estressor, ou se afastar do mesmo, física ou psicologicamente, na tentativa de
manter o foco de atenção para a tarefa em mãos. Outros estudos têm encontrado um padrão de
resultados semelhantes àqueles apontados na revisão de Nicholls et al. (2006), a saber: em
situações de estresse durante a competição, atletas utilizam mais estratégias focadas na
evitação; as estratégias focadas no problema estão associadas a melhores níveis de desempenho
(subjetivo ou objetivo); as mulheres utilizam mais de estratégias de busca de apoio social por
razões emocionais e os homens apresentam níveis mais elevados de estratégias focadas no
problema, embora estes resultados não sejam consensuais (Campen & Roberts, 2001; Crocker
& Graham, 1995; Dollen, Grove, & Pepping, 2015; Gaudreau, Nicholls, & Levy, 2010; Nicholls
et al., 2006; Nicholls, Holt, & James, 2005; Nicholls & Polman, 2007; Park,2000).
São raríssimos os estudos com árbitros e coping, uma exceção é o estudo inglês de
Wolfson e Neave (2007) com 42 árbitros (do sexo masculino) da Liga Inglesa, com qualificação
de pelo menos três anos. Com idade média de 40,04 (DP=3,83), 95% da amostra tinha um
emprego em tempo integral. A média de anos de experiência foi de 12,33 (DP = 5,50), variando
de 4 a 25 anos. Os árbitros investigados consideram os jogos ruins como moderadamente
estressantes, mas não desmotivam, sentem que os erros são benéficos para o desenvolvimento
profissional. Não ignoram seus erros, mas reconhecem que são raros e que no momento fizeram
o seu melhor. Os resultados demonstraram que os árbitros usam estratégias de Coping focadas
no problema que reduzem ou eliminam a natureza de estressores, porém 71% dos entrevistados
se sentiram fisicamente esgotados após os jogos.
Considerando que o Coping parece ser influenciado pela avaliação da controlabilidade
do estresse, e que traços de personalidade são moderadores da experiência e manejo do estresse
(Folkman & Moskowitz, 2000; Ribeiro & Rodrigues, 2004), alguns estudos têm buscado
verificar a associação entre estratégias de Coping e traços de personalidade, almejando
aumentar o poder preditivo de modelos de desempenho em situações variadas, e, também, no
Esporte (Carver, & Connor-Smith, 2010). Por exemplo, Allen, Greenlees e Jones (2011)
exploraram a relação entre as dimensões da personalidade descritas no modelo dos cinco
grandes fatores e o tipo de enfrentamento relacionado a grupos distintos de atletas. Avaliaram
60
253 atletas com idade média de 21,1 anos (DP=3,7), sendo 187 homens e 66 mulheres. Os
atletas competiam em 34 modalidades esportivas e em diferentes níveis de competição
(nacional, estadual ou internacional). Os autores apresentaram como resultado que atletas com
alta Extroversão utilizam mais estratégia focada no problema, o que é consistente com pesquisas
realizadas em populações não atléticas (Connor-Smith & Flachsbart, 2007).
Atletas com baixos níveis de abertura (Ab) ou níveis elevados de Neuroticismo (N)
relataram maior uso de estratégias de evitação de enfrentamento e emoção, assim como atletas
com alta Conscienciosidade (C) utilizam mais enfrentamento focado na emoção. Atletas que
apresentam melhor desempenho esportivo têm menores escores em N, e aqueles que competem
em esporte individual apresentam maior Conscienciosidade e Abertura, além de menor
Extroversão (E) e Neuroticismo. Em comparação com os homens, as mulheres relataram níveis
mais elevados de Neuroticismo, Amabilidade (Am) e Conscienciosidade. Analisando sob uma
perspectiva de interação entre as dimensões da personalidade, Allen et al., (2011) também
encontraram resultados em que os atletas com alta Extroversão, Abertura e baixo Neuroticismo
(um efeito de interação de três vias), relataram maior uso de estratégias de enfrentamento
focado no problema. Atletas que apresentam altos níveis de Extroversão, Abertura e
Amabilidade, relataram maior uso de estratégias de enfrentamento focada na emoção.
Vollrath e Torgersen (2000) também demonstraram que diferentes combinações de
traços poderiam prever mais estratégias de enfrentamento focado na emoção. Alta Extroversão
com alta Conscienciosidade, enfrentamento focalizado na emoção, enquanto as que combinam
alto Neuroticismo com baixa Conscienciosidade foram associados a menor enfrentamento
focado no problema. Outros autores sugeriram que os efeitos da interação entre Abertura e
Amabilidade também podem ser um determinante importante para o estresse e o Coping (Grant
& LanganFox, 2006; Røvik, Tyssen, Gude, Moum, Ekeberg, & Vaglum, 2007). Grant e
LanganFox (2006) encontraram uma interação importante entre alto N e baixa C na predição
de enfrentamentos disfuncionais, e também uma importante interação entre alto Neuroticismo
e baixa Amabilidade em predizer insatisfação na realização das atividades. Além disso,
Kaiseler, Polman e Nicholls (2012) constataram que os cinco fatores influenciam na avaliação
e controle do evento estressor, seleção da estratégia de coping e na eficácia da mesma. Seu
estudo contou com 482 atletas (masculino n = 305; feminino n = 177) e como resultado obteve
que Neuroticismo previu uma percepção de maior intensidade de estresse, menor controle e
eficácia das estratégias de Coping adotadas. Amabilidade previu a percepção de menor
intensidade do estressor, C previu maior controle do evento. Um Neuroticismo elevado utiliza
mais estratégias de Evitação e focadas na emoção e menos focadas no problema.
61
4.2 Método
4.2.1 Participantes
Participaram desse estudo 225 árbitros de futebol (113 árbitros centrais e 110 árbitros
assistentes) com idades variando de 18 a 45 anos (M= 31,1 anos; DP=6,0), sendo 203 do sexo
masculino (90,2% da amostra). Desse total, 21,3% (n=48) são árbitros do estado do Ceará, 9,3%
(n=21) do Distrito Federal, 3,6% (n=08) do Maranhão, 46,2% (n=104) de Minas Gerais,12,4%
(n=28) de Pernambuco e 7,1% (n=16) do Piauí. Quanto ao grau de instrução 47,1% (n=112) da
amostra possui curso superior completo e 34,0% (n=81) nível médio completo ou superior
incompleto. A classificação socioeconômica está representada na amostra com 58,5% (n=131)
63
na classe B, seguida por 30,3% (n=68) na classe C e 10,7% (n=24) na classe A. A média de
tempo de experiência na arbitragem é de 6,7 anos (DP=5,6).
4.2.2 Instrumentos
Inventário de Cinco Fatores NEO Revisado: NEO-FFI-R (Versão Curta) (Costa &
McCrae, 1985), adaptado para o Brasil por Flores-Mendoza et al. (2010). O NEO-FFI-R é a
versão curta da forma S do NEO PI-R, que é instrumento considerado padrão-ouro na avaliação
da personalidade. Contém 60 itens com informações sobre os cinco traços de personalidade
(Neuroticismo, Extroversão, Amabilidade, Conscienciosidade e Abertura a Experiências),
porém não contempla as facetas. Os itens são respondidos com base em uma escala do tipo
Likert de cinco pontos, sendo 1 discordo totalmente e 5 concordo totalmente. Seu uso deve se
restringir a situações nas quais o tempo de aplicação é limitado e se pretende levantar apenas
um panorama geral das dimensões.
Flores-Mendoza et al. (2010) submeteu o instrumento a análise exploratória, com rotação
Varimax, na qual os cinco fatores extraídos explicaram 34,49% da variância total. Quanto à
consistência interna, as cinco dimensões apresentaram Alfas de Cronbach entre aceitáveis e bons
(0,7<α>0,83). A amostra utilizada na versão curta foi a mesma da versão completa, o NEO PI-
R, e evidências de validade de critério foram obtidas por meio da correlação do instrumento e
informações obtidas em questionário sociodemográfico (idade, escolaridade, nível
socioeconômico, religiosidade, entre outras).
64
4.2.3 Procedimentos
65
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Minas Gerais
(CAAE 53351216.4.0000.5149). Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE, Apêndice B). O contato com a Federação Mineira de Futebol foi
estabelecido por meio da primeira autora desse artigo, que atua como psicóloga do esporte na
instituição. O contato com as demais federações (dos estados do Ceará, Distrito Federal,
Maranhão, Pernambuco e Piauí) foi feito também por meio das psicólogas do esporte atuantes
em cada instituição, que possibilitaram o acesso e anuência da presidência da comissão de
arbitragem local.
Em seguida, via Sedex 10, foram enviados às psicólogas os instrumentos, juntamente a
um documento com informações sobre a pesquisa e instruções de aplicação. Reuniões entre a
pesquisadora e as profissionais, via Skype (programa de chat com voz e vídeo), possibilitaram
o esclarecimento das dúvidas e reforço das instruções. No estado de Minas Gerais, as aplicações
foram conduzidas em Belo Horizonte, na sede da Federação Mineira de Futebol e no Centro de
Treinamento Esportivo da UFMG, por equipe de graduandos em psicologia orientados pela
pesquisadora responsável. Nos demais estados, as aplicações ocorreram nas sedes das
federações locais, também supervisionadas pelas psicólogas.
As aplicações dos instrumentos foram realizadas coletivamente e duraram cerca de 1
hora e 30 minutos. Logo após as aplicações, todo o material foi devolvido, via Sedex 10, pelas
psicólogas responsáveis pela coleta em cada estado. Ao final do estudo, os árbitros receberão
uma devolutiva, por meio de carta, com os principais resultados obtidos.
que explicaram juntos 26,85% da variância. Optou-se, assim, por tal solução, por ser mais
adequada às formulações teóricas do inventário descritas na literatura. Os fatores foram
nomeados: “Focado no Problema” (EFP), “Focado na Emoção” (EFE), “Focado na Evitação”
(EFEv) e “Focado no Apoio Social” (EFAS). Submetidos a análise da consistência interna os
fatores apresentaram alfas de Cronbach aceitáveis (α>0,7) à exceção de “Focado no Apoio
Social”, com um alfa questionável (α=0,69) (Zanon, & Filho, 2015). Informações detalhadas
sobre os procedimentos da AFE encontram-se no Apêndice C.
Os escores fatoriais possibilitaram, posteriormente, análises descritivas indicando a
frequência de cada tipo de estratégia na amostra. Também foram conduzidas análises de
correlação (de Pearson) entre os escores na escala de coping, a idade e o tempo de arbitragem
e comparação entre grupos (teste t), na qual os escores foram comparados em razão do sexo e
da função (árbitro central ou árbitro assistente). Análises de correlação também foram
empreendidas entre os escores de coping e os cinco fatores de personalidade (NEO-FFI-R), e
análises de regressão (linear múltipla, pelo método Stepwise) indicaram o poder preditivo da
personalidade em relação ao coping. Por fim, foram empreendidas análises de variância com o
intuito de verificar diferenças significativas entre as categorias de desempenho em relação ao
coping e à personalidade. Todas as análises foram realizadas utilizando o SPSS (versão 22).
4.3 Resultados
4.3.1 Análise de frequência e comparação entre grupos de árbitros quanto às estratégias mais
utilizadas
A partir da comparação numérica dos escores fatoriais obtidos por cada árbitro nos
quatro fatores do Inventário de Estratégias de Coping– Ways of Coping Checklist(WCC), os
mesmos foram categorizados pela estratégia na qual apresentaram maior escore. Em seguida
foram empreendidas análises de frequência, a fim de determinar o fator de coping mais
recorrente para este grupo de árbitros (Tabela 1).
Tabela 1.
Frequência e percentual de uso de cada grupo de estratégia de coping
Estratégia de Coping Frequência Absoluta Percentual
Focado no Problema (EFP) 62 25,9
Focado na Emoção (EFE) 57 23,8
67
Não parece ter havido diferenças quanto à frequência de uso de cada conjunto de
estratégias na amostra estudada. Todas as estratégias foram igualmente utilizadas pelos árbitros.
Com relação ao uso de cada conjunto de estratégias de acordo com o gênero, foram
encontradas diferenças significativas no fator Estratégias Focadas na Evitação (t= -3,5; df=237;
p=0,001), na qual a média das mulheres foi inferior à dos homens. Tal diferença apresentou um
tamanho de efeito grande (d=-1,2). Quanto à função em campo, foram encontradas diferenças
significativas para a Estratégia Focada no Apoio Social (t=-2,4; df=237; p=0,017), tendo os
árbitros centrais um escore mais baixo comparado aos assistentes. Neste caso, o tamanho do
efeito foi pequeno (d=-0,3). Não foram encontradas correlações estatisticamente significativas
entre os quatro fatores de coping e as variáveis idade e tempo de arbitragem. Idade e tempo de
arbitragem apresentaram correlação de 0,72 (p<0,01; N=239).
Tabela 2.
Correlações entre as cinco dimensões de personalidade e as quatro estratégias de coping
Focado no Focado na Focado na Focado no
Problema Emoção Evitação Apoio Social
(EFP) (EFE) (EFEv) (EFAS)
Neuroticismo (N) -0,2** 0,35** 0,50 0,87
Extroversão (E) 0,27** -0,28 -0,55 0,15**
Abertura (Ab) 0,31** 0,14 -0,1 0,08
Amabilidade (Am) 0,15** -0,06 0,01 0,03
68
Tabela 3.
Distribuição dos árbitros nas categorias de desempenho
Percentual
Categoria Frequência Percentual (%)
Acumulado (%)
Amador 28 12,4 12,4
Bronze 87 38,7 51,1
Prata 62 27,6 78,7
70
4.4 Discussão
Este estudo objetivou levantar quais as estratégias de coping mais utilizadas pela
amostra de árbitros centrais e árbitros assistentes dos seis estados brasileiros avaliados (CE, DF,
MA, MG, PE, PI) e correlacioná-los com traços de personalidade e categorias de desempenho
esportivo.
No que se refere às estratégias de coping mais utilizadas pelos árbitros, foi realizada
uma comparação numérica dos escores fatoriais obtidos por cada árbitro nos quatro fatores do
Inventário de Estratégias de Coping – Ways of Coping – Checklist (WCC), sendo categorizados
pela estratégia na qual apresentaram maior escore. Em seguida foram empreendidas análises de
frequência, a fim de determinar o fator de coping mais recorrente, como resultado foi
apresentado que os árbitros desta amostra utilizam as quatro estratégias de forma bem uniforme,
apresentando um leve aumento para estratégia focada no Apoio Social, porém essa diferença
não se apresentou significativa. Segundo Nicholls et al. (2005), diferentes estratégias de
enfrentamento podem ser utilizadas simultaneamente para lidar com determinada situação
estressora, bem como o uso de uma estratégia em maior escala, o que não demonstra
necessariamente sinônimo de maior eficácia.
Louvet, Campo e André (2015) em seu estudo sobre coping em árbitros demonstram a
utilização das estratégias Focada no Problema, Focada na Emoção e Focada no Apoio Social
em níveis semelhantes (Brennan, 2001; Louvet, Gaudreau, Menaut, Genty, & Deneuve, 2009;
Voight, 2009; Wolfson & Neaves, 2007). Justificam o fato pela complexidade do processo que
alia fatores disposicionais e situacionais (Lázarus,1999). Provavelmente pela quantidade de
71
eventos estressores a que estão sujeitos, possam necessitar de um leque de opções mais
adequado a resolução de problemas em um curto espaço de tempo.
Outra justificativa para a distribuição da frequência de uso das estratégias de coping de
forma equivalente nesta amostra, talvez possa ir ao encontro do que preconizou Kowalski e
Crocker (2001) quando defendeu que os instrumentos utilizados para avaliação do coping não
são específicos para o esporte. Eles são criados para a população em geral e adaptados para o
esporte, porém a mudança na redação se dá no sentido de atender as análises das estruturas
fatoriais e não para se adequar as questões estressoras do esporte que são muitas, são peculiares
a cada especificidade esportiva, além de permearem todo o processo de alto rendimento, tanto
na busca da proficiência quanto na atuação em competições (Crocker, 1992; Grove, Eklund, &
Heard, 1997). As demandas exclusivas de esportes podem exigir tipos distintos de
enfrentamento. Ademais, Nicholls et al. (2007) argumentam que achados contrastantes podem
ser resultado de diferentes classificações de enfrentamento, pois além de existirem diversos e
variados tipos de enfrentamento, por vezes uma única estratégia pode ser classificada em mais
de um fator (Nicholls, Polman, Morley, &Taylor, 2009).
Anshel et al. (1997) e Krohne (1996) defendem que no esporte pode-se pensar que foco
na Evitação se traduz em uma estratégia muito eficaz, principalmente para árbitros centrais que
não podem se apegar a um erro ou evento que tire o foco de sua atenção, pois fatalmente o
restante do jogo estaria contaminado, portanto é salutar que ele evite pensar ou sentir algo que
o desconcentre enquanto está em ação. Outra perspectiva sobre a utilização de EFEv é
defendida por Nicholls & Polman (2007). Estes autores afirmam ser esta uma estratégia
inadequada e menos desejável pelos atletas (que envolve o afastamento da situação
problemática).
essencial, já que possibilita a continuidade das tarefas a serem executadas sem perder a
concentração. Talvez possa explicar também esta relação de serem mais usadas em árbitros
homens já que a amostra de mulheres não é significativa para árbitros centrais e sim assistentes.
sexo neste caso já prediz o uso deste tipo de coping. Mais duas interações de dimensões de
personalidade, predizem o uso de estratégia Focada na Evitação, a combinação de N e C
positiva e a interação entre N e Ab, só que de forma negativa. No que se refere à interação entre
Neuroticismo e Conscienciosidade na predição de estratégia Focada na Evitação, tem-se que
para altos níveis de Neuroticismo a relação entre Conscienciosidade e estratégias focadas na
Evitação é mais forte, ao passo que para níveis baixos de Neuroticismo a relação entre
Conscienciosidade e estratégias evitativas é menor. Isso seria o mesmo que dizer que a
Conscienciosidade de um indivíduo com alto Neuroticismo, parece ser importante para se
compreender melhor sua escolha por estratégias de enfrentamento Evitação. Embora não haja
estudos suficientes que incluam a análise da interação entre as dimensões de personalidade para
predição das estratégias de coping, pode-se hipotetizar que um árbitro que possui alto
Neuroticismo sabe de sua incapacidade para lidar com situações estressoras, porém a alta
ansiedade que este traço propicia aliada à necessidade de manter as metas e obter desempenhos
em altos níveis (característicos de alta Conscienciosidade) faz com que ele prefira se esquivar
dos eventos desadaptativos para persistir em seu objetivo.
A interação entre N e Ab se dá de forma negativa, os coeficientes de regressão indicam
que níveis mais elevados de instabilidade emocional e níveis mais baixos de abertura
predispõem a mais comportamento de evitação (Allen et al., 2011). Os árbitros que possuem
baixo nível de Abertura, ou seja, são mais ortodoxos, procuram sempre a segurança do familiar,
e também são mais instáveis emocionalmente, são mais propensos a utilizarem EFEv.
Anshel et al. (1997) e Krohne (1996) defendem a eficiência da Evitação no esporte, pois
permite a não paralização de uma ação em virtude de pensamentos ou sentimentos
desadaptativos provocados por eventos estressores. No caso de árbitros centrais, possivelmente
deve ser utilizada com frequência, visto a necessidade de não se apegarem a um erro ou evento
que tire o foco de sua atenção, pois fatalmente o restante do jogo estaria contaminado, portanto
é salutar que ele evite pensar ou sentir algo que o desconcentre enquanto está em ação. Outra
perspectiva sobre a utilização de estratégia Focada na Evitação é defendida por Nicholls &
Polman (2007). Estes autores afirmam ser esta uma estratégia inadequada e menos desejável
pelos atletas (que envolve o afastamento da situação problemática).
Em seu estudo sobre árbitros de futebol ingleses, Wolfson e Neave (2007) identificaram
a culpabilização do outro e a distorção da realidade, como, por exemplo, ignorar informações
reais desagradáveis ou interpretar os seus motivos como justos e adequados, como EFEv
adotadas para manter a confiança em circunstancias difíceis. Allen et al. (2011) colocam que
atletas menos abertos a novas experiências são mais propensos a utilizarem EFEv. Isso difere
76
da pesquisa em populações não atléticas onde a Abertura tende a não estar relacionada ao
comportamento de evitação (Carver & Connor-Smith, 2010). No entanto, parece razoável que
os atletas que possuem baixa Abertura enfrentariam o estresse tentando evitar
Por fim o quarto fator, estratégia Focada no Apoio Social, apresentou como preditora a
dimensão Extroversão, o que parece ser coerente, pois pessoas com facilidade para se
relacionarem e que gostam de estar acompanhadas, possivelmente irão preferir resolver seus
problemas apoiando-se em terceiros. Uma interação significativa e positiva entre N e C também
se apresentou como preditora de EFAS. Segundo Carver e Connor-Smith (2009), esta estratégia
comporta dois tipos de apoio, um apoio mais emocional, no caso de alto N e um apoio mais
operacional, em caso de alta Conscienciosidade. esta interação predispõe o uso elevado de
estratégias focadas no apoio, sendo qual for o objetivo devido a interação das dimensões. Esta
perspectiva é pertinente no contexto da arbitragem. A grande exposição negativa da classe e o
pouco apoio social que recebem, ocasionaria a busca de um apoio social de parentes e amigos
no sentido emocional, de busca de segurança. A segunda hipótese seria a busca do apoio social
instrumental, em que ele procura se munir de informações que possam auxiliá-lo no
enfrentamento das situações e mesmo evitar que ocorram erros similares no futuro.
As fracas medidas de desempenho ainda são em grande parte responsáveis por estudos
apresentarem resultados tão inconsistentes, porém muitos estudos colocam o tempo de prática
esportiva como índice de desempenho (Williams & Hodges, 2005). Tucker e Collins (2012) e
77
Ward et al., (2004) preconizam que o treinamento assim como a experiência, o tempo de prática,
o conhecimento do jogo e o desejo de excelência são medidas de desempenho.
Helsen e Bultink, (2004) destacam que ao avaliar o desempenho esportivo em árbitros
de futebol, não se encontram resultados consistentes o que pode estar relacionado às diferenças
substanciais na metodologia dos autores, aos diferentes padrões competitivos dos árbitros e
jogadores e aos diferentes estilos de jogos. Adverte ainda que devem-se analisar as medidas
antropométricas, a aptidão física, as demandas perceptivas e cognitivas, pois todos estes
aspectos e suas diferenças também influenciam o desempenho dos árbitros. Conclui também
que os árbitros centrais passam a maior parte de sua atuação com categorias máximas de esforço
e de alta intensidade, enquanto árbitros assistentes executam principalmente de média a baixa
intensidade.
4.6 Conclusão
avaliação nacional, onde os árbitros são avaliados por outras pessoas diretamente envolvidas
com os mesmos, aumentando a subjetividade na avaliação do rendimento, mesmo possuindo
diretrizes gerais, justificaria, em parte, a não concretização das hipóteses que sobre a predição
do desempenho esportivo da amostra.
Sugere-se novos estudos para ampliar a busca da relação entre os construtos, ou mesmo
a criação de um instrumento para avaliação do coping válido para o contexto esportivo. É
necessária a criação de critérios mais definidos para se medir o desempenho esportivo.
4.6 Referências
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84
5. Conclusão Geral
Este estudo apresentou resultados importantes para a área da psicologia do esporte e
especialmente para a psicologia do esporte aplicada à arbitragem. Um achado importante diz
respeito à semelhança do perfil de personalidade dos árbitros com o perfil de atletas de alto
rendimento, trazendo evidencias do pertencimento do mesmo a classe de esportistas. Espera-se
com isto contribuir para uma maior valorização da classe no contexto esportivo.
Outra contribuição da pesquisa diz respeito a “Hipótese de Seleção” que permeia o meio
esportivo quando se diz de habilidades psicológicas. Os resultados apresentados contribuem
para a verificação da estabilidade dos traços em relação ao tempo de experiência, ou seja, o
tempo de pratica não trouxe mudanças no perfil da amostra. Isto justifica a convicção de que as
diferenças individuais são importantes norteadoras na seleção da modalidade e permanência no
processo de formação de um atleta, certamente considerando-se que os fatores ambientais são
essenciais para modulação da expressão de cada uma das características individuais.
A Análise fatorial exploratória (AFE) foi aplicada aos 66 itens da WCC que foram
respondidos adequadamente por 286 participantes. O teste de esfericidade Kaiser-Meyer-Olkin
(KMO) e Bartlett apontou índice bastante aceitável de 0, 799 (p=0,000), indicando a
possibilidade de fatoração dos dados a (Hair, Anderson, Tatham, & Black, 2005). Para tanto
utilizou-se o método de extração Maximum Likelihood, com intuito de buscar maior
verossimilhança entre os dados aqui estudados e a distribuição normal (Hair, et al., 2005). O
método mostrou a existência de 19 fatores com eigenvalues (autovalores) maiores ou iguais a
1,00, com um total de variância explicada de 49,4%. Observa-se, contudo, através do gráfico de
sedimentação (Scree Plot), que existem três fatores fortes em linha vertical e, a partir do quarto
fator, o início de uma linha em sentido horizontal, a partir do qual a porcentagem de variância
explicada por um traço latente individual diminui consideravelmente (ver Figura 1).
Assim sendo, decidiu-se fazer a rotação Varimax, uma vez que o método permite a
identificação de traços claramente separados (Hair et al., 2005). Nessa nova análise solicitou-
se a extração de quatro fatores, segundo resultado apontado pelo gráfico de sedimentação. A
Tabela 5 apresenta a saída fatorial rodada com quatro componentes dos quais são mostrados
somente as cargas fatoriais acima de 0,30. O valor utilizado como ponto de corte garante um
mínimo de associação entre item do instrumento e o fator encontrado (Dancey & Reidy, 2011).
86
O fator 1 possui autovalor 7,04 e explica 10,67% da variância, o fator 2 possui autovalor de 5,0
e explica 7,58% da variância, o terceiro fator possui autovalor de 3,32 e explica 5,0% da
variância dos dados e o quatro e último fator possui autovalor de 2,38e explica 3,60% da
variância. Assim, os quatro fatores explicam juntos 26,85% da variância dos dados.
O primeiro fator tem 22 itens com cargas acima de 0,30 e de uma maneira mais geral
reflete um tipo de enfrentamento mais ativo que vai em busca da resolução do problema que
aflige, inclui comportamentos de autocontrole, reavaliação positiva, direcionados a metas e a
busca por outros meios de resolver o problema ou entendê-lo. Optou-se, portanto, por chamar
este fator de coping “Focado no Problema” (EFP). Quando comparado ao estudo de adaptação
para o Brasil (Savóia, Santana, & Mejias, 1996), verifica-se que EFP agrega itens dos fatores de
“Reavaliação Positiva” (Itens 23, 30, 39 e 63), “Aceitação de Responsabilidade” (15, 48 e 62),
“Resolução de Problemas” (1 e 26), “Autocontrole” (15 e 35), “Suporte Social” (31), e
“Confronto” (34), além de dez itens que não foram encontrados nos resultados de Savóia et al.
(1996).
O segundo fator agrupa 16 itens e foi denominado de “Focado na Emoção” (EFE),
agrupando estratégias que envolvem esforços internos para lidar com a situação estressora, seja
89
mudando o significado da situação ou fantasiando como se ela não tivesse ocorrido, seja
reconhecendo sua contribuição para o evento. Dentre os itens, alguns originalmente carregaram
nos fatores “Aceitação de Responsabilidade” (9, 25, 29 e 51), “Fuga-esquiva” (58 e 59),
“Confronto” (40 e 47) e “Reavaliação Positiva” (56). Seis itens desse fator não foram
encontrados no estudo de adaptação (Savóia et al., 1996).
Nove itens compuseram o terceiro fator, denominado aqui de “Evitação” (EFEv),
compreendendo os esforços do indivíduo para evitar o contato com a situação, seja no âmbito
externo ou interno. Cinco dos nove itens desse fator estão relacionados ao fator original
“Afastamento”, sendo que os quatro restantes não carregaram em nenhum fator na análise de
Savóia et al. (1996).
O quarto e último fator, “Apoio Social” (EFAS), apresenta quatro estratégias (Itens 8,
18, 42, 45) nas quais a solução do problema encontra-se em outra pessoa, que pode fornecer
apoio emocional ou informações sobre o problema. Tanto no estudo original (Lazarus &
Folkman, 1985) quanto na adaptação brasileira (Savóia, Santana, & Mejias, 1996), os itens
acima compuseram o fator “Suporte Social”, agregados aos itens 31 (“Falei com alguém que
poderia fazer alguma coisa concreta sobre o problema”) e 22 (“Procurei ajuda profissional”).
O primeiro item carregou no fator FP e o segundo não apresentou carga fatorial superior
a 0,3 em nenhum fator. Por fim, é importante destacar que, do total de 66 itens, 15 não
apresentaram cargas fatoriais iguais ou superiores a 0,3, indicando que podem não ser bons
representantes de estratégias de coping na amostra investigada.
Consistência interna
Tabela 6.
Alfa de Cronbach das quatro subescalas do Inventário de Estratégias de Coping
90
Subescalas α
Focado no Problema (EFP) 0,878
Focado na Emoção (EFE) 0,828
Evitação (EFEv) 0,732
Apoio Social (EFAS) 0,689
De acordo com Zanon e Filho (2015), apenas uma subescala (EFAS) apresenta
coeficiente alfa questionável (0,69< α>0,6). Tal valor reduzido pode se dever ao fato de que a
subescala é composta por um menor número de itens (quatro). A subescala EFP e a subescala
EFEv têm bons níveis de consistência e a subescala EFEv tem um nível considerado aceitável,
acima de 0,70. Por fim, pode-se afirmar que a escala de coping apresenta evidências de validade
e precisão para a amostra de árbitros. Assim sendo, permite-se realizar as posteriores análises
desta pesquisa.