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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

ALESSANDRA CARLA PEIXOTO MONTEIRO

Características de personalidade e estratégias de coping e sua relação com o


desempenho esportivo de árbitros brasileiros de futebol

BELO HORIZONTE - MG
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

ALESSANDRA CARLA PEIXOTO MONTEIRO

Características de personalidade e estratégias de coping e sua relação com o


desempenho esportivo de árbitros brasileiros de futebol

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Psicologia como
requisito parcial à obtenção do grau de
Mestre em Psicologia.
Área de concentração: Desenvolvimento
Humano.
Linha de pesquisa: Diferenças Individuais
Orientadora: Prof. Dra. Marcela Mansur
Alves

BELO HORIZONTE - MG
2017
Dedicatória

Dedico este trabalho a todos os árbitros e assistentes mineiros que sempre acreditaram
e apoiaram meus estudos, e ao presidente da CEAF-MG, meu amigo e incentivador
Giulliano Bozzano, assim como aos membros da Comissão de Arbitragem mineira
Rogério Pereira e Gilson Ornelas.
Agradecimentos

À minha família (Murilo, Raissa, Bernardo, Murilinho e Davi) por estarem ao meu lado.

Ao meu pai, minha mãe e minha avó Turca, meus exemplos de vida, por terem me ensinado a
não desistir da luta.

Ao meu amigo Alberto Mesaque, que insistiu para que eu entrasse no processo.

Aos árbitros do Distrito Federal, Ceará, Maranhão, Pernambuco e Piauí que participaram da
pesquisa.

Aos psicólogos da arbitragem brasileira Marta Magalhães, Yghor Gomes, Tássia Ramos,
Bárbara Guimarães, Diana Carvalho e Joyce Sales, que avaliaram os árbitros em seus estados.

Ao Sr. Sérgio Corrêa, que autorizou a pesquisa na CBF.

À Federação Mineira de Futebol, na pessoa do Sr. Castellar Modesto, pelo apoio.

Aos alunos da UFMG que auxiliaram a avaliar e tabular os dados Pedro Couto, Alberto
Timóteo, João Aversa e Ricardo Venturelli.

À Vetor Editora, na pessoa do Sr. Cristiano Esteves, que gentilmente emprestou o material.

Aos membros suplentes da banca, Antônio Jaeger e Liza Fensterseifer, pela pronta disposição
em participar.

À querida professora Elizabeth Nascimento, esta meiguice de pessoa, que me acolheu com
respeito e fez possível a logística da pesquisa com suas sugestões.

À professora Regina Brandão, profissional extremamente competente, que eu admiro e me


introduziu ao mundo da Psicologia do Esporte (que hoje se tornou uma das minhas razões de
viver).
Agradecimento Especial

À minha orientadora Marcela Mansur, tão jovem e tão capaz, que me fez descobrir, mesmo sem
saber, que posso ser uma profissional melhor.

À minha grande amiga Mariana Verdolin, meu braço direito, pois sem ela nada disso seria
possível.
“En este mundo traidor / nada es verdad ni mentira / todo es según el color / del
cristal con que se mira”

Ramón de Campoamor
Resumo
Sabe-se que traços de personalidade são preditores do uso de estratégias de coping e
desempenho exitoso no trabalho. No contexto esportivo, os estudos ainda são incipientes quanto
à predição do desempenho, e pouco se sabe sobre o padrão de associação entre personalidade e
coping em árbitros de futebol. Assim, pois, este estudo pretendeu verificar o padrão de
associação entre traços de personalidade e estratégias de coping para uma amostra de árbitros
brasileiros de futebol e sua relação com o desempenho esportivo. Ademais, pretendeu-se
comparar o perfil de traços de personalidade dos árbitros com a população geral. No total foram
avaliados 310 árbitros dos estados do Ceará, Distrito Federal, Maranhão, Minas Gerais,
Pernambuco e Piauí, sendo 278 do gênero masculino, 154 árbitros centrais e 150 árbitros
assistentes, com média de idade de 31,41 anos (DP=6,44) e tempo de arbitragem médio de 6,8
anos (DP=5,79). A análise dos traços de personalidade detectou altos e significativos escores
para Conscienciosidade e Extroversão e baixos valores com um grande tamanho de efeito em
Neuroticismo, resultado diferente da amostra geral brasileira e que se assemelha ao perfil
característico de personalidade de atletas de alto rendimento. Quanto às estratégias de coping,
a utilização das quatro estratégias na amostra mostrou-se equiparada, com pequena elevação
para os enfrentamentos focados no problema e no apoio social. A correlação entre as dimensões
de personalidade e as estratégias de coping se mostrou significativa para as cinco dimensões e
o coping Focado no Problema. Para a estratégia Focada na Emoção, somente o Neuroticismo
apresentou correlação positiva e significativa, e para o Apoio Social a Extroversão se associou
de maneira significativa e positiva. Quanto ao desempenho esportivo foi realizada uma análise
não paramétrica de comparação entre grupos (Kruskal-Wallis). Como resultados, foram
encontradas diferenças estatisticamente significativas para a interação entre as dimensões
Neuroticismo e Abertura, as variáveis idade e tempo de arbitragem. Nesse sentido, o presente
estudo apresentou resultados importantes na busca de uma caracterização de árbitros como
atletas de alto rendimento, e na procura por uma justificativa que corrobore com a “Hipótese de
Seleção”, que preconiza serem as habilidades psicológicas os fatores responsáveis pela
introdução e manutenção dos atletas nos esportes de alto rendimento. No entanto, se faz
necessário uma melhor categorização do desempenho esportivo em árbitros de futebol, torna-
se imprescindível encontrar critérios físicos, técnicos e psicológicos consistentes que avaliem
de forma significativa os árbitros brasileiros quanto ao seu desempenho esportivo.

Palavras-chave: árbitros; futebol; traços de personalidade; coping; desempenho esportivo.

Abstract
It is known that personality traits are predictors of the use of coping strategies and successful
performance at work. In the sports context, studies about performance prediction are still
incipient, and little is known about the pattern of association between personality and coping in
soccer referees. Thus, this study aimed to verify the pattern of association between personality
traits and coping strategies and their relation to sports performance in a sample of Brazilian
soccer referees. In addition, it was intended to compare the profile of personality traits of
referees with the general population. A total of 310 referees from the states of Ceará, Federal
District, Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco and Piauí were evaluated, being 278 males, 154
central referees and 150 assistant referees, with a mean age of 31.41 years (SD = 6,44) and
mean arbitration time of 6.8 years (SD = 5.79). The analysis of personality traits pointed high
and significant scores for Consciousness and Extraversion and low values, with a large effect
size, in Neuroticism, distinguishing the referees from the Brazilian general sample and
resembling their personality profile to that of high performance athletes. Regarding the Coping
strategies, there was a balanced use of the four strategies, with a small increase in the Problem-
focused and Social Support strategies. The correlation between personality dimensions and
coping strategies was significant for the five dimensions and Problem-focused coping. For the
Emotion-Focused strategies, only Neuroticism showed a positive and significant correlation,
and for Social Support, the Extraversion was associated in a significant and positive way.
Regarding the sport performance, a nonparametric comparison analysis between groups
(Kruskal-Wallis) was performed. As results, were found statistically significant differences for
the interaction between Neuroticism and Openness, the variables age and time of arbitration. In
this sense, this study presented important results towards the characterization of referees as
high-performance athletes, and in the search for a corroboration of the "Selection Hypothesis",
which advocates that psychological skills the responsible factors for introducing and
maintaining athletes in high-performance sports. However, it is necessary to better categorize
sports performance in soccer referees, as it is imperative to find consistent physical, technical
and psychological criteria that significantly evaluate Brazilian referees regarding their sports
performance.
Keywords: referees; soccer; personality traits; coping; sports performance.
Lista de Figuras

Estudo II

Figura 1. Gráfico de sedimentação do Inventário de Estratégias de Coping............................89


Lista de Tabelas

Estudo I

Tabela 1. Resultados da comparação entre árbitros e população geral nas dimensões do NEO-
FFI- R........................................................................................................................................38

Estudo II

Tabela 1. Frequência e percentual de uso de cada estratégia de coping…...............................66


Tabela 2. Correlações entre as cinco dimensões de Personalidade e as quatro estratégias
de coping..................................................................................................................................67
Tabela 3. Distribuição dos árbitros nas categorias de desempenho..........................................69
Tabela 4. Cargas fatoriais dos itens do Inventário de Estratégias de Coping...........................88
Tabela 5. Alfa de Cronbach das quatro subescalas do Inventário de Estratégias de Coping...92
Lista de Abreviaturas e Siglas

FIFA – Fédération Internationale de Football Association

ONU –Organização das Nações Unidas

COMEMBOL – Confederação Sul americana de Futebol

CBF – Confederação Brasileira de Futebol

CBO – Classificação Brasileira de Ocupações

FMF- Federação Mineira de Futebol

CIUO – Classificação Internacional Uniforme de Ocupações

NEO-FFI-R – Inventário de Personalidade NEO Revisado (Versão Curta)

NEO PPI – Inventário de Personalidade NEO

NEO PPI R – Inventário de Personalidade NEO Revisado

CGF – Cinco Grandes Fatores

N–Neuroticismo

E– Extroversão

Ab– Abertura a Experiências

Am– Amabilidade

C– Conscienciosidade

ABEP– Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa

TCLE– Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

SPSS – Pacote Estatístico para as Ciências Sociais/ Statistical Package for Social Sciences

WCC – Inventário de Estratégias de Coping/ Ways of Coping Checklist

AFE – Análise Fatorial Exploratória

EFP– Estratégia Focada no Problema

EFE– Estratégia Focada na Emoção

EFEv– Estratégia Focada na Evitação


EFAS– Estratégia Focada no Apoio Social

VI– Variável Independente

VD– Variável Dependente

ANOVA – Análise de Variância/ Analysis of Variance

MANOVA – Análise de Covariância Multivariada/ Multivariate Analysis of Covariance


Sumário

1 Introdução Geral..................................................................................................................13
1.1 Estrutura da Dissertação...................................................................................................19
1.2 Referências.........................................................................................................................20
2 Objetivos...............................................................................................................................26
2.1 Objetivo Geral....................................................................................................................26
2.2 Objetivos Específicos.........................................................................................................26
3 Estudo I - Características de personalidade de árbitros de futebol de diferentes Estados
Brasileiros................................................................................................................................27
Resumo.....................................................................................................................................28
Abstract....................................................................................................................................28
3.1 Introdução..........................................................................................................................29
3.2 Método................................................................................................................................35
3.2.1 Participantes....................................................................................................................35
3.2.2 Instrumentos.....................................................................................................................35
3.2.3 Procedimentos..................................................................................................................36
3.2.4 Análise dos Dados............................................................................................................37
3.3 Resultados..........................................................................................................................38
3.4 Discussão............................................................................................................................40
3.5 Conclusão...........................................................................................................................45
3.5 Referências.........................................................................................................................46
Apêndice A – Questionário Sociodemográfico.........................................................................53
Apêndice B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.....................................................55
4 Estudo II - Estratégias de Coping, traços de personalidade sua relação desempenho
esportivo de árbitros de futebol..............................................................................................56
Resumo.....................................................................................................................................57
Abstract....................................................................................................................................57
4.1 Introdução..........................................................................................................................59
4.2 Método................................................................................................................................63
4.2.1 Participantes....................................................................................................................63
4.2.2 Instrumentos.....................................................................................................................64
4.2.3 Procedimentos..................................................................................................................65
4.2.4 Análise dos Dados............................................................................................................66
4.3 Resultados..........................................................................................................................67
4.3.1 Análise de frequência e comparação entre grupos de árbitros quanto às estratégias mais
utilizadas....................................................................................................................................67
4.3.2 Análises de correlação de Pearson e Regressão entre Coping e Personalidade.............68
4.3.3 Diferenças entre categorias de desempenho nos traços de personalidade e estratégias
de coping...................................................................................................................................70
4.4 Discussão............................................................................................................................71
4.5 Conclusão...........................................................................................................................77
4.6 Referências.........................................................................................................................78
5 Conclusão Geral....................................................................................................................85
Apêndice C - Análise psicométrica da Escala de Modos de Enfrentamento......................86
13

1 Introdução Geral

O futebol apresenta-se, no mundo moderno, como um esporte de grande poder e


influência, o que pode ser percebido pelos dados atuais da Fédération Internationale de
Football Association (FIFA)1. A FIFA possui 211 países afiliados, enquanto a Organização das
Nações Unidas (ONU)2integra 193 países. Em 2002, Yallop afirmou que mais de um quinto da
população do planeta estava envolvida com este esporte. O Brasil compartilha desta paixão,
sendo reconhecido internacionalmente como “o país do futebol”, além de ser o único a possuir
cinco títulos de Campeão Mundial de Futebol, o que confirma o valor deste esporte para os
brasileiros.
A estrutura do futebol profissional mundial se equipara à de uma sociedade capitalista
que valoriza a competição e a mensuração dos resultados (Giglio & Rubio, 2013). Segundo
Ferreira e Brandão (2012), essa estrutura é comandada pela FIFA e, no Brasil, se vincula à
Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol)3 e à Confederação Brasileira de Futebol
(CBF)4. A CBF representa as 27 Federações Estaduais afiliadas, sendo que estas últimas são
responsáveis pelos clubes de Futebol Profissional de seu estado pertencentes as séries do
Campeonato Brasileiro A, B, C e D.
Segundo Bueno (2008), o esporte de alto rendimento, mais especificamente o futebol, é
caracterizado por atividades que se fundamentam em competições sob regras pré-definidas,
participando deste contexto atletas e árbitros, comissão técnica e toda a estrutura do entorno do
evento esportivo. Neste contexto, González-Oya e Dosil (2004) afirmam que de todos os
envolvidos, o árbitro é o único que não pode faltar na competição, pois sem ele, não se pode
realizar a partida. Ele apresenta papel primordial, pois em sua figura reside a autoridade e a
responsabilidade de perceber, coordenar, intermediar e, até mesmo, ajustar comportamentos
inadequados à prática de uma competição esportiva (Carvalho, 2010). Seu desempenho implica
em consequências diretas na performance dos atletas, no placar do jogo ou até mesmo no
resultado de uma competição (Guillén & Jiménez, 2001). Um equívoco de sua parte pode trazer
prejuízos aos clubes de futebol, que abrangem o tempo, energia e recursos financeiros
investidos por patrocinadores (V. Costa, Ferreira, Penna, I. Costa, Noce, & Simim, 2010). Um

1
Dados retirados do site: http://www.fifa.com/2015
2
Dados retirados do site: http://nacoesunidas.org/2015
3
Dados retirados do site: http://www.conmebol.com/2015
4
Dados retirados do site: http://www.cbf.com.br/2015
14

erro que interfira no placar pode trazer, também, penalizações e sanções a curto e longo prazo
para a equipe de arbitragem, dentre as quais podem ser citadas a exclusão de seus nomes nos
sorteios para os jogos seguintes de um campeonato, a estagnação e atraso na carreira
Nas competições oficiais, o árbitro trabalha em equipe composta, geralmente, por quatro
integrantes: um árbitro central, dois árbitros assistentes e um quarto árbitro, que embora atuem
juntos, possuem funções diferentes (Castagna, Abt, & D’Ottavio, 2007). O árbitro central terá
autoridade total para fazer cumprir as Regras do Jogo5 (Castagno et al., 2007; Oya & Dosil,
2004, 2006; Patiños & Cañadas, 2015; Velho & Fialho, 2015). Os árbitros assistentes auxiliam
o árbitro central na direção da partida, sempre submetidos à decisão do segundo, sendo de sua
competência marcar tiros de canto ou de meta em sua área de atuação, faltas próximas, laterais
e impedimentos. Por fim, o quarto árbitro (que podem ser até dois, em casos de jogos de maior
relevância) atua como suporte para a equipe, podendo inclusive, substituir qualquer um dos
outros escalados, se impossibilitados de atuar.
Segundo a Lei nº 12.867, de 10 de Outubro de 20136, o árbitro de futebol é agora um
profissional estando inserido na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO)7sob o Código
3772 - Árbitro Desportivo, mais especificamente 3772-20 - Árbitro de Futebol, tendo sua
função descrita como: “Zelar pela observância do regulamento nas competições esportivas,
controlando o andamento das mesmas, registrando as infrações, aplicando as penalidades e
fazendo as marcações necessárias para assegurar o processamento desses eventos dentro das
normas estabelecidas pelos órgãos desportivos”. Entretanto, poderia estar inserido também no
código 3771- Atleta Profissional, que descreve a função como: “Tomam parte como
profissionais em competições e provas esportivas. Participam, individualmente ou
coletivamente, de competições esportivas, em caráter profissional”, já que na Classificação
Internacional Uniforme de Ocupações (CIUO)8, ele está incluído na classificação número 3475-
Atletas, Desportistas e Afins.
No contexto esportivo, todo árbitro profissional pode ser considerado um atleta de alto
rendimento, na medida em que necessita passar por todo um processo de treinamento físico,
técnico e mental para estar apto a atuar no esporte, ademais de sua permanência nesta atividade
depende de seu desempenho esportivo (Balaguer, 2002; Gimeno, Buceta, Lahoz, & Sanz, 1998;

5
Dados retirados do site: http://www.cbf.com.br/arbitragem/regras-futebol-e-livros/livro-de-regras-2015-2016-
portugues
6
Dados retirados do site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/Lei/L12867.htm/2016
7
Dados retirados do site: http://www.mtecbo.gov.br/2016
8
Dados retirados do site: http://www.ilo.org/public/spanish/bureau/stat/isco/2016
15

González-Oya & Dosil, 1998, 2003, 2004; Patiño & Cañadas, 2015; Quinteiro & Reseña, 2007;
Realley & Warren, 2006; Velho & Fialho, 2015). O desempenho esportivo é composto por, no
mínimo, quatro pilares, a saber: o Físico, o Técnico, o Tático e o Psicológico, sendo assim
representado na arbitragem (Quinteiro & Reseña, 2007; Patiño & Cañadas, 2015; Velho &
Fialho, 2015).
O desempenho físico diz da capacidade para se movimentar em campo acompanhando
as jogadas, incorporando alternância na direção e velocidade dos deslocamentos, com agilidade,
resistência e explosão. Durante uma partida de futebol, o árbitro percorre, em média, de 12 a
14 quilômetros (Da Silva, 2005). Num período que varia de quatro a seis segundos, o árbitro
muda sua ação motora, portanto durante os 90 minutos de jogo ele realiza, em média, 1.268
atividades motoras diferentes (Costa et al., 2010).
O desempenho técnico configura-se como a capacidade para compreender, dominar e
aplicar as regras do jogo, além do correto posicionamento e deslocamento em campo. Em um
campeonato de relevância, como o Campeonato Brasileiro, o árbitro central adota cerca de 137
decisões observáveis por jogo. Além dessas decisões, ele também faz uso de decisões não
observáveis, aquelas que ocorrem quando o árbitro decide não interferir no jogo, totalizando
cerca de 180 a 200 decisões. Considerando o número médio de decisões tomadas pelo árbitro e
a duração mínima de uma partida de futebol (noventa minutos), tem-se de três a quatro decisões
por minuto. Dependendo da partida, serão várias grandes decisões a serem tomadas (Velho &
Fialho, 2015).

O plano de trabalho de uma equipe de arbitragem é elaborado antes de cada partida e


tem como base os integrantes da mesma (se já trabalharam juntos anteriormente, se conhecem
o trabalho do companheiro de equipe e o perfil de conduta de cada um), os dois times
participantes (tipo de jogo, estratégias mais adotadas, as características dos jogadores), a
história do jogo (confronto anteriores entre as duas equipes) e do campeonato (o que vale a
partida para cada equipe no campeonato). Ele contém os parâmetros principais a serem adotados
ao longo do jogo, e é definido a cada partida, sendo executado pela equipe de árbitros designada
para atuar na partida específica. A este plano de trabalho dá-se o nome de desempenho tático.
De todas as decisões realizadas em campo, 64% são baseadas no trabalho em equipe entre os
árbitros (González-Oya & Dosil, 2003, 2004; Helsen & Bultynk, 2004).

Por fim, o desempenho psicológico envolve os aspectos mentais indispensáveis para


auxiliar o árbitro a atuar de forma isenta e com equidade de critérios, pode-se ressaltar
estabilidade emocional, uma leitura de jogo clara e imparcial, velocidade na tomada de decisão,
16

disciplina, segurança em suas decisões, e controle eficaz do estresse (Castagna et al., 2007;
Velho & Fialho, 2015).

Em relação à exigência quanto aos desempenhos físico, técnico, tático e mental,


evidenciam-se diferenças quando comparados dois grupos de árbitros: aqueles que atuam no
futebol profissional do seu estado, e/ou no Brasil, e/ou internacionalmente, e os amadores. O
segundo grupo trabalha em campeonatos sem estrutura profissional, logo apresentam menor
rigor, além de instituírem suas próprias regras. O Brasil apresenta um grande número desta
modalidade superando em quantidade os campeonatos profissionais9. É possível que o árbitro
amador atue por hobby e prazer, ou também por não serem absorvidos no mercado profissional,
quer por seu desempenho aquém do necessário ou mesmo por falta de espaço para tantos
interessados. Apesar das características desta modalidade, eles recebem um apoio financeiro
por sua atuação, de menor vulto em comparação ao que recebem os profissionais.

Arbitrar é uma tarefa altamente complexa, não somente pelo fato de o árbitro ter que
tomar decisões em um curto período de tempo, mas também por ficar exposto a críticas e
pressões dos torcedores, atletas, técnicos e meios de comunicação (Balch & Scott, 2007;
González-Oya, 2006), além de sofrer abusos verbais, ameaças e, até mesmo agressões físicas,
ao mesmo tempo os reforçadores positivos são praticamente inexistentes (Ferreira, 2012;
Ferreira & Brandão, 2012). Os aspectos elencados contribuem para que esta experiência seja
exaustiva tanto emocional, quanto física e intelectualmente o que a torna, de certa forma,
excludente para alguns indivíduos que teriam características de personalidade e cognitivas que
aumentariam suas reações desadaptativas aos estressores vivenciados diariamente (Balch &
Scott, 2007; Brandão, Serpa, Krebs, Araújo, & Machado, 2011; Ferreira & Brandão, 2012).
Segundo González-Oya (2006), arbitrar é mais que fazer cumprir regras e regulamentos,
pois tem a ver, antes de tudo, com a própria experiência pessoal, conhecimento de si e da
arbitragem. Muitas tarefas do árbitro levam em conta sua percepção subjetiva da ação, estando
sujeitas ao seu julgamento de valor e à sua interpretação. Considerando tais aspectos
psicológicos, verifica-se a necessidade de estudar de forma mais profunda as características
pessoais e as potencialidades que fazem o árbitro ter um desempenho bem-sucedido dentro de
campo (González-Oya & Dosil, 2004).
No esporte, desempenhos excepcionais são alvos recorrentes de pesquisas, as quais
objetivam entender quais as características ou competências que tornam estes atletas

9
Dados retirados do site: http://fmf.com.br/2016
17

diferenciados, ou mesmo o que distingue esses atletas dos outros com desempenhos dentro da
expectativa (Matos, Cruz & Almeida, 2011). Há menos de uma década, os pesquisadores
brasileiros têm buscado pelas competências indispensáveis a um atleta de elite (Williams &
Hodges, 2005). Segundo Masala, Sunje, Rado, e Bonacin (2009) e Min, Kim, Choe, Eom e
McKay (2008), isto nos remete a uma busca cada vez mais acentuada pelo melhor modelo
preditivo da performance de um atleta.
Evidências empíricas indicam que os fatores psicológicos são preditores consistentes de
desempenho esportivo (Aidman, 2007; Allen & Laborde, 2014; Allen, Greenlees, & Jones,
2011, Naveira & Ruiz, 2013; Orlick & Partington, 1988; Smith & Christensen, 1995). Aliado à
capacidade física e técnica, outros fatores são primordiais para a evolução de um desempenho
de excelência, como, por exemplo, o tempo de prática, o conhecimento do jogo, além de
aspectos psicológicos como o desejo de excelência e de êxito, a auto eficácia elevada, a
capacidade de detectar informações relevantes do ambiente para se antecipar às situações e o
autocontrole. Santos (2011) afirma que a paixão pelo esporte que pratica também é fator
essencial nesta construção.
Segundo Baker e Horton (2004), o desempenho esportivo é um processo resultante da
interação de dois tipos de influências: primária, constituída pela genética (por exemplo,
habilidades motoras para treinamento e características psicológicas) e, influências secundárias,
compostas por aspectos socioculturais e ambientais. Quanto aos aspectos psicológicos, os
autores afirmam que as pesquisas têm demonstrado que para a aquisição da proficiência, uma
disposição motivacional adequada para persistir nos treinamentos é necessária (Baker &
Horton, 2004). Já para a manifestação da alta performance, destacam-se a capacidade de
concentração, controle da ansiedade, autoconfiança e resiliência (Cox, 1990; Gould,
Petlichkoff, Simons, & Vevera, 1987; Gould, Dieffenbach & Moffett, 2002; Williams & Krane,
2001). Morgan (1980) destaca a tendência a apresentarem Perfil Iceberg (alto vigor, e baixas
tensão, depressão, raiva, fadiga e confusão). Anshel (1997) relatou que atletas de elite estão
predispostos a tomadas de decisão de alto risco e a uma maior busca por sensações e
competitividade. Ademais, Singer e Janelle (1999) destacam a importância de saber manejar
bem as obrigações e as distrações.
Dentre os fatores psicológicos, a personalidade tem sido alvo de estudos recentes nos
Estados Unidos, Austrália, Reino Unido, Canadá, especialmente com o advento do modelo dos
cinco grandes fatores (Baker & Horton, 2004; Piemonte, Hill, & Blanco, 1999; Rhodes &
Smith, 2006; Tolea, Terracciano, Simonsick, Metter, Costa Jr. & Ferrucci, 2012). Em revisão
feita por Naveira e Ruiz (2013) de 35 artigos publicados entre 1976 e 2013, maior Extroversão
18

(ativo, otimista, impulsivo e facilidade em estabelecer contato social), baixo a moderado


Neuroticismo (estabilidade emocional) e alta Conscienciosidade (tendência a ser organizado e
orientado para a realização) parecem constituir o perfil de personalidade característico de atletas
quando comparados à população geral. Ademais, estes autores perceberam também que atletas
mais velhos possuíam níveis mais altos de Abertura e mais baixos de Neuroticismo, ou seja,
eram mais flexíveis quanto a aceitação de novidades e mais estáveis emocionalmente, que
atletas mais jovens.
Outro aspecto que tem merecido destaque em estudos recentes é o Coping. Gomes,
Coimbra, Bara Filho e Miranda (2007) entendem o coping como enfrentamento,
gerenciamento, uma forma de lidar com o estresse e esclarecem que ainda é pouco estudada
pelos psicólogos do esporte do Brasil. A teoria de coping mais popular, e que será utilizada
neste estudo, é a de Folkman e Lazarus (1985). Tem um caráter cognitivista e de avaliação
individual, na qual o indivíduo percebe, interpreta e representa mentalmente a situação de
estresse para, em seguida, adotar uma estratégia de comportamento com o objetivo de reduzir
o mal-estar provocado por demandas internas e externas de uma situação. Os autores ainda
dividem as estratégias de enfrentamento em dois grandes tipos: focado no problema, busca pela
modificação da situação estressora e focado na emoção, busca pela regulação do estado
emocional decorrente do estresse.
Nicholls, Remco e Polman (2006) afirmam que as competições apresentam estressores
diversos para os atletas, como, por exemplo, a dor, o medo, a falta de confiança, lesões, relação
com o treinador, além das exigências da prática desportiva e, que não lidar bem com elas, é um
fator significativo de fracasso para os atletas. Estudos apresentam resultados semelhantes
quanto ao tipo de estratégia de coping utilizados por atletas durante as competições. Nicholls et
al. (2006) e Holt e Dunn (2004) avaliaram estratégias de coping de atletas femininas de Rúgbi
e Futebol, respectivamente, por meio de registros em um diário (criado com uma listagem de
estressores e estratégias possíveis avaliados por meio de uma escala tipo Likert) em um período
de competições. Em ambos os estudos, verificou-se maior utilização de estratégias classificadas
como focadas no problema, sendo o uso de estratégias focadas na emoção e evitativas (em que
o atleta procura afastar-se do evento estressor, física ou internamente), restrito a situações nas
quais as atletas identificavam já ter havido algum tipo de dano, o que vai ao encontro da teoria
de Folkman e Lazarus (1985). Estes resultados são consistentes com pesquisas anteriores
(Crocker & Isaak, 1997; Gaudreau, Lapierre & Blondin, 2001; Gaudreau, Blondin, & Lapierre,
2002; Nicholls, Holt, Polman, & James, 2005).
19

As características distintivas do atleta brasileiro quando comparado à população geral,


bem como sua relação com o desempenho ainda são pouco investigadas, especialmente em se
tratando de árbitros de futebol (Bara Filho, 2005). No Brasil, há poucos estudos sobre o pilar
psicológico da arbitragem. Porém, vários estudos internacionais (Philippe, Vallerand,
Andrianarisoa, & Brunel, 2009; Garcia-Tardón, Millán, & Martín, 2011; González-Oya &
Dosil, 2003, 2004) têm demonstrado a importância de conhecer características psicológicas
preditoras de sucesso e desempenho profissional, também em contextos como o Esporte.
Investigar aspectos que podem interferir no desempenho do árbitro de futebol é contribuir para
o avanço da área, na medida em que possibilita atuar de forma mais contundente sobre essas
questões.
Atualmente, os atletas são monitorados e comparados por tecnologia específica quanto
ao seu desempenho físico, técnico e tático, o que possibilita o nivelamento da performance dos
atletas em tais quesitos. Assim, diferenças em seu rendimento ocorrem, possivelmente, por
conta de características psicológicas individuais (Rabelo, 2013). Considerando o árbitro de
futebol um atleta de alto rendimento, torna-se imprescindível avaliar e buscar compreender de
que forma a personalidade e as estratégias de coping diferenciam esse profissional e predizem
seu desempenho. Considerando o anteriormente exposto, elaboram-se os seguintes problemas
para o presente estudo: qual o perfil de personalidade e de estratégias de coping do árbitro de
futebol brasileiro? As características de personalidade e as estratégias de coping estão
relacionadas ao desempenho esportivo desses árbitros?

1.1 Estrutura da dissertação


A presente dissertação está composta por uma Introdução Geral, apresentada na seção
anterior, que pretendeu contextualizar a temática a ser abordada pelo presente trabalho e
formular o problema de pesquisa. A seguir serão apresentados os objetivos gerais e específicos
do trabalho. Ademais, dividiu-se esta dissertação em dois artigos a fim de facilitar a
apresentação dos métodos e resultados encontrados. O primeiro artigo, Características de
personalidade de árbitros de futebol de diferentes Estados Brasileiros, foca na apresentação
de literatura pertinente ao estudo das diferenças individuais em personalidade no contexto
esportivo, bem como no objetivo de se caracterizar o perfil de personalidade dos árbitros de
diferentes Estados brasileiros. O segundo artigo, Características de Personalidade e
Estratégias de Coping e sua relação com o desempenho esportivo de árbitros de futebol,
apresenta e discute a literatura e os resultados da caracterização das estratégias de coping
utilizadas por árbitros brasileiros de futebol e apresenta a relação encontrada entre traços de
20

personalidade e as estratégias de coping com o desempenho esportivo. Por fim, será apresentada
uma conclusão final geral, em que pese as contribuições e limitações do presente trabalho, além
de sugestões para futuros estudos nesta área.

1.2 Referências

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26

2 Objetivos

2.1 Objetivo Geral

Verificar se características de personalidade e estratégias de Coping estão associadas ao


desempenho de árbitros brasileiros de futebol.

2.2 Objetivos Específicos

a) Verificar a existência de diferenças no perfil de personalidade de árbitros de


diferentes Estados quando comparados à população geral;

b) Levantar as estratégias de Coping mais utilizadas pelos árbitros de diferentes


Estados brasileiros;

c) Verificar a associação entre traços de personalidade e estratégias de Coping em


árbitros dos diferentes Estados da Federação;

d) Identificar se há relação entre os traços da personalidade e as estratégias de


Coping, com base no modelo dos Cinco Grandes Fatores, e o desempenho dos árbitros.

e) Identificar diferenças relativas à idade, gênero e experiência profissional, nas


características de personalidade e nas estratégias de Coping dos árbitros
27

3 Estudo I

Características de personalidade de árbitros de futebol de diferentes Estados


Brasileiros

Alessandra Carla Peixoto Monteiro¹

Marcela Mansur-Alves ²

¹Mestranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal de Minas


Gerais, Brasil.
²Professora Adjunta do Departamento de Psicologia, Laboratório de Estudos do
Comportamento, Cognição e Aprendizagem (LECCA) – Universidade Federal de Minas
Gerais.
28

Resumo

O objetivo deste estudo foi verificar a existência de diferenças no perfil de personalidade de


árbitros comparados à população geral e identificar diferenças relativas às variáveis
sociodemográficas, além de verificar a semelhança com o perfil característico de atletas de alto
rendimento. A amostra contou com 285 árbitros de futebol dos Estados do Ceará, Distrito
Federal, Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco e Piauí, 144 são árbitros assistentes e 141
árbitros centrais, com idades variando de 18 a 46 anos (M= 31,3 anos; DP=6,1), sendo 254 do
sexo masculino e 137 apresentando curso superior completo. A média de tempo de experiência
na arbitragem é de 6,9 anos (DP=5,5). Para avaliação da personalidade foi utilizado o Inventário
NEO-FFI-R. Os resultados encontrados apontaram para uma diferença estatisticamente
significativa entre árbitros e a população geral em todos os cinco fatores, sendo, maior em
Neuroticismo (d= 0,83) e em Conscienciosidade (d= -0,90). Extroversão também apresentou
maior escore que a população geral (d= -0,58), o que se assemelha ao perfil de atletas de alto
rendimento apresentado na literatura internacional. Quanto à relação com variáveis de gênero,
idade e tempo de prática, os resultados demonstraram que os árbitros são mais velhos (d=0,4)
e apresentam mais tempo de arbitragem (d=0,7), além de maior escore em Amabilidade (t= -
2,5; p<0,05; d=0,3) que as árbitras. O tempo de arbitragem não apresentou correlação
significativa com as dimensões de personalidade, o que pode ser justificado pela “Hipótese de
Seleção” que defende serem as habilidades psicológicas a introduzirem e manterem os atletas
no contexto esportivo de alto rendimento. Os resultados apresentados demonstram que a
amostra de árbitros estudada apresenta um perfil de personalidade semelhante aos atletas de
alto rendimento que os diferencia da população em geral, alta Conscienciosidade e Extroversão
e baixo Neuroticismo.
Palavras-chave: Traços de personalidade; árbitros; futebol; atletas de alto rendimento.
Abstract

The aim of this study was to verify the existence of differences in referees’ personality profile
compared to the general population, to identify differences related to sociodemographic
variables, and to verify the similarity between referees and other high performance athletes.
The sample consisted of 285 soccer referees from the states of Ceará, Federal District,
Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco and Piauí. 144 were assistant referees and 141 central
referees, ranging in age from 18 to 46 years (M = 31.3 years; SD = 6.1). 254 were males and
137 were graduated, with an average time of experience in refereeing of 6.9 years (SD = 5.5).
The NEO FFI Inventory was used to evaluate the personality. The results indicated a
statistically significant difference between referees and the general population in all five factors,
being higher in Neuroticism (d = 0.83) and in Conscientiousness (d = -0.90). The referees also
showed higher scores in Extraversion (d = -0.58), which is similar to the profile of high
performance athletes presented in the international literature. Regarding the relationship with
gender, age and refereeing time variables, the results showed that the male referees are older (d
= 0.4) and present more experience in refereeing (d = 0.7), as well as a higher score in
Agreeableness (T = -2.5, p <0.05, d = 0.3) than the female referees. The refereeing time did not
show a significant correlation with any personality dimensions, which can be explained by the
"Selection Hypothesis" that defends that the psychological abilities are responsible to introduce
and keep the athletes in the high-performance sports context. The results showed that the referee
sample investigated has a personality profile (high Conscientiousness and Extraversion and low
Neuroticism) that is similar to the high-performance athletes and which distinguishes the
referees from the general population.
Keywords: Personality traits; referees; soccer; high performance athletes.
29

3.1 Introdução

O estudo da personalidade humana sempre despertou o interesse de pesquisadores


também na área do Esporte. Cox (2009) relata que entre 1960 e 1970 existiam 572 fontes de
investigações que buscavam uma relação entre personalidade e desempenho esportivo, mas
caíram em desuso, muito provavelmente, como resultado da inexistência de diferentes modelos
e teorias explicativas para a personalidade e, como consequência da excessiva diversidade
metodológica entre os estudos feitos por autores ou grupos de pesquisa distintos. Ucha (2008)
indica que o estudo da personalidade no esporte data do término da segunda guerra mundial,
especialmente na antiga União Soviética. Porém, apesar de apresentarem estudos acerca da
importância das teorias da personalidade, os psicólogos do esporte soviéticos não conseguiram
demonstrar como ela poderia auxiliar na prática desportiva (Cruz Feliu,1996), e, por isso, não
se sustentou. Ele credita esta situação ao fato de que na antiga União Soviética, a imensa maioria
dos especialistas em Psicologia do Esporte não eram psicólogos, e sim professores de Educação
Física ou treinadores, que adquiriam o grau de mestre ou de doutores em Ciências Psicológicas,
nos Institutos de Cultura Física e Esporte. Assim, não havia uma compreensão exata do
construto personalidade, tampouco teoria consistente para seu estudo.
Desde então, o estudo da personalidade no esporte passou por etapas distintas, e sua
evidência oscilou em cada fase, ou seja, ora foi valorizada e ora descartada. Esta oscilação deve-
se (Eysenck, 1982; Naveira & Ruiz, 2013; Vealey, 2002) a alguns fatores como, por exemplo,
às diferentes abordagens que embasam as teorias de personalidade e que na prática pouco
contribuem para o esporte, aos muitos instrumentos utilizados na aferição, ao foco da
investigação (características, valores, motivação, emoção, etc.), falta de rigor metodológico e
conceitual, diferenças na amostra dos atletas, requisitos psicológicos diferentes para cada
modalidade esportiva (Baker & Horton, 2004), Abordagens e testes específicos para a área da
psicologia clínica. Todos estes fatores contribuíram para a grande variedade de resultados
inconclusivos e contraditórios que minaram o interesse pelo estudo da personalidade e sua
relação com o esporte (Raglin, 2001). Sendo assim, dois grupos se formaram desde então e
foram denominados, “os crédulos e os céticos” quanto à necessidade de levar em consideração
a personalidade para o entendimento das diferenças de performance entre os atletas.
Integrando o grupo dos “crédulos”, Laborde e Dosseville (2013) apostam nas diferenças
individuais da personalidade, para permitir, por exemplo, a compreensão de como os atletas
diferem das pessoas em geral e uns dos outros. Eles relatam a importância de se alcançar uma
melhor compreensão do seu objeto de estudo, o atleta, entendendo as particularidades de cada
30

um a fim de ajudá-los, de forma mais eficaz, a alcançar um ótimo desempenho. Outros autores,
tais como Allen, Greenlees e Jones (2013), vêm estudando a relação entre características de
personalidade e desempenho em atletas. Esses autores concluem que a personalidade é um
determinante importante do sucesso a longo prazo no esporte, e identifica diferenças de
personalidade claras entre os indivíduos que participam do esporte de competição, e os
indivíduos que não participam.
Um dos fatores que possibilitou a retomada do interesse pelas investigações do papel da
personalidade no desempenho esportivo e das características diferenciais de atletas quanto
comparados à população geral foi a consagração do Modelo dos Cinco Grandes Fatores de
Personalidade (CGF) como melhor modelo estrutural para descrição da personalidade, que se
deu a partir da década de 1980, com os trabalhos de Goldberg, e de Robert McCrae e Paul Costa
(Garcia, 2007; Pervin & John, 2004). A personalidade, pela perspectiva do modelo dos Cinco
Grandes Fatores (CGF), é o sistema em que as características inatas da pessoa interagem com
o meio ambiente e se transformam em comportamentos e experiências peculiares a cada ser
(McCrae, 2006). O modelo destaca que o indivíduo traz consigo tendências básicas, material
bruto e universal da personalidade (McCrae & Costa, 1996), capacidades e disposições mais
fundamentais, que constituem o potencial e a orientação do indivíduo, podendo ser hereditárias
ou terem origem nas primeiras experiências. Estas tendências básicas seriam cinco:
Neuroticismo, Extroversão, Abertura a Experiências, Amabilidade e Conscienciosidade.
Neuroticismo (N) refere-se à instabilidade/estabilidade emocional, às tendências para
preocupação, à susceptibilidade ao humor negativo e à propensão à psicopatologia (Claridge &
Davis, 2001). A Extroversão (E) corresponde ao nível de sociabilidade, sendo definida por
traços como afiliação, dominância, energia e emoções positivas. A dimensão Abertura a
Experiências (Ab) diz do interesse intrínseco na experiência em várias áreas, a curiosidade
intelectual e o interesse estético são elementos centrais, como também a sensibilidade aos
sentimentos, a disposição para experimentar novas atividades e o liberalismo em termos de
valores políticos e sociais. Esta dimensão tem uma leve associação com a inteligência.
Amabilidade (Am) representa atitudes e comportamentos pró- sociais, as pessoas com alta
amabilidade são agradáveis, corteses, crédulos e simpáticos. A quinta dimensão, aqui
representada pela Conscienciosidade (C), é caracterizada por senso de contenção e sentido
prático. Indivíduos com alto escore em C são zelosos e disciplinados, e se relaciona a
desempenhos profissionais superiores em várias ocupações, o que confere uma vantagem social
(Barrick & Mount, 1991). O Modelo dos Cinco Grandes Fatores (CGF) é o que possui, na
atualidade, maior replicabilidade e capacidade preditiva, sendo predominante nas investigações
31

científicas em várias áreas da Psicologia e campos afins, inclusive no Esporte (Silva & Nakano,
2011)
O esporte de alto rendimento traz como característica períodos intensos de treinamento
exaustivos, de incertezas quanto a posterior participação nas competições, de disputa por poucas
vagas, da possibilidade de lesões. Estes fatores elencados exigem do atleta muita persistência,
estabelecimento de rotinas e metas, busca por realização e competência pessoal, alta energia e
motivação, gosto por desafios, além de, no momento da competição, aliado aos fatores
mencionados, é imprescindível possuir estabilidade emocional. Nesse sentido, um conjunto de
investigações realizadas em países diversos tem apresentado evidências de que características
de personalidade são fatores distintivos dos atletas quando comparados à população geral,
sendo esta relação moderada, por exemplo, por outras variáveis, tais como tipo esporte, gênero
e idade (Allen et al., 2013; Baker & Horton, 2004; Naveira & Ruiz, 2013; Nia & Besharata,
2010).
Allen, Greenlees e Jones (2011) realizaram pesquisa em que participaram 253 atletas
(187 homens e 66 mulheres) do Reino Unido. O primeiro resultado obtido com os atletas de
elite demonstrou níveis mais elevados de Extroversão e mais baixo de Neuroticismo que as
amostras normativas da população geral, mesmo resultado encontrado por Naveira, Barquín e
Pujals (2011). Quanto ao nível de atuação, a análise apresentou uma relação significativa em
que atletas de elite regionais (N=89), nacionais (N=27) e internacionais (N=13) obtiveram
níveis mais elevados de Conscienciosidade e Amabilidade e mais baixos em Neuroticismo, do
que atletas de recreação das Universidades (N=21) e Clubes (N=90). Naveira et al. (2011)
encontraram em atletas de elite o mesmo resultado, porém em lugar da Amabilidade a dimensão
que apresentou altos escores foi Abertura a Experiências. A idade dos atletas apresentou uma
correlação positiva com Conscienciosidade e negativa com Neuroticismo, indicando que
também entre atletas indivíduos mais velhos são mais conscienciosos e possuem maior
estabilidade emocional.
Vários estudos, transversais e longitudinais, em amostras em diferentes contextos,
replicam estes resultados, indicando uma associação positiva entre a idade e a
Conscienciosidade e negativa com Neuroticismo (Allen et. al., 2013; Balch & Scott, 2007;
Caspi, Roberts, & Shiner, 2005; Krueger & Johnson, 2008; Mc Adams & Olson, 2010; Roberts
& Del Vecchio, 2006). Estes achados são tão consistentes que se tem considerado este padrão
como universal e parte do desenvolvimento da personalidade humana, sendo chamado de
“Princípio da Maturidade” (Terracciano, McCrae, & Costa, 2010; Roberts, Walton, &
Viechtbauer, 2006). Em síntese, este princípio diz de que o avançar da idade propicia o aumento
32

gradual nos níveis de Conscienciosidade, ao passo que a Amabilidade aumenta gradualmente


até 50 anos de idade e mais rapidamente entre os 50 e 60 anos, se estabilizando após os 60 anos
e o Neuroticismo diminui gradualmente até os 40 anos.
Malinauskas (2014) também realizou um estudo com atletas e não atletas de várias
modalidades para verificar a relação entre traços de personalidade e capacidade para se
exercitar. Avaliou três grupos de 170 pessoas sendo, um grupo de esporte coletivo, outro de
atletas de força e alta energia e outro de atletas e não atletas. Para a capacidade de se exercitar,
montou baterias de exercícios físicos específicos para cada grupo, para a personalidade usou o
NEO PI. Os resultados encontrados demonstram que atletas têm maior Conscienciosidade que
não atletas e menor Neuroticismo. Neuroticismo e Conscienciosidade apresentam correlação
positiva com capacidade de exercitar, porém Abertura, Amabilidade e Extroversão
apresentaram fraca correlação. Dobersek e Bartling (2008) avaliaram atletas e não atletas
percebendo como resultado que não atletas apresentaram menos organização e disciplina do
que os atletas.
Vários autores estudaram a relação entre gênero e personalidade em atletas de elite
(Allen et al., 2011; Colley, Roberts, & Chipps, 1985; Kirkcaldy, 1982; Newcombe & Boyle,
1995), e como resultado apresentaram atletas mulheres com escores mais altos nas dimensões
Neuroticismo, Amabilidade e Conscienciosidade em relação aos atletas homens. Allen et al.
(2013) e Williams (1980), discutem que valores mais altos em N e Am vão ao encontro do
padrão apresentado pelas mulheres na amostra normativa, ou seja as mulheres atletas tendem a
apresentar características de personalidade mais próximas da amostra geral de mulheres. Já
Rhodes e Smith (2006) em sua metanálise, encontraram resultados significativos para a
diferença de gêneros, somente em Extroversão e Neuroticismo, apresentando uma relação
positiva e negativa, respectivamente, com a prática da atividade física. Diferença somente no
fator Neuroticismo, em que mulheres atletas apresentam maior escore que os atletas homens
também foi encontrado (Dobersek & Bartling, 2008; Man & Blais, 2004), porém quando as
mesmas estão inseridas em esporte coletivo este resultado se inverte.
Merritt e Tharp (2013) avaliaram 277 praticantes de Parkour e corrida livre
(considerados esportes de alto risco) e constataram que comportamentos de risco e imprudentes
foram associados a um alto Neuroticismo e baixa Conscienciosidade. Neste caso, a extroversão
não se mostrou significativa para prever a prática de esportes arriscados. Rheal e Martin (2010)
pesquisaram traços de personalidade de atletas praticantes de esporte tradicional (tênis e
voleibol) e esportes alternativos (Motocross e Wakeboard). Os resultados indicam que atletas
de esportes alternativos tendem a ser mais reservados, autossuficientes e possuírem níveis mais
33

elevados de busca de sensações do que atletas de esportes tradicionais, características


possivelmente compatíveis a baixa Extroversão e Amabilidade e alta Abertura a experiências.
Quanto à posição que os atletas ocupam, Brito-Costa, Piovesan, Castro, Sales,
Fernández e Almeida (2016) desenvolveram um estudo com 170 jogadores de futebol
portugueses e encontraram diferenças estatisticamente significativas no fator Abertura para os
jogadores do meio de campo, que armam as jogadas e são considerados o “cérebro do time”,
ou seja, são jogadores que necessitam apresentar maior criatividade, ótima leitura de jogo e se
arriscarem mais, precisam estar sempre buscando novas jogadas, elementos estes que podem
estar relacionados a uma alta abertura a experiências. Schaubhut, Donnay e Thompson (2012)
avaliaram 812 atletas de futebol americano da América do Norte, durante três anos, com o
objetivo de pesquisar também as diferenças nas características de personalidade dos atletas, que
ocupam diferentes posições (trabalhou com dois grupos: ofensivos e defensivos), como também
dos que alcançaram maior sucesso. Encontrou valores significativamente maiores para atletas
ofensivos em Extroversão e em relação aos que alcançaram mais sucesso que apresentaram
Neuroticismo menor.
Com o objetivo de explorar a relação treinador /atleta, Jackson, Dimmock, Gucciardi e
Grove (2011) investigaram os traços de personalidade predominantes para compromisso,
relacionamento e confiança entre as díades. Os autores perceberam que a dupla que apresenta
maior diferença entre Extroversão e Abertura demonstra menor compromisso e confiança. Bom
nível de compromisso correspondeu a maior Amabilidade, Extroversão e Conscienciosidade, e
relacionamentos positivos associam-se a alto nível de Amabilidade e Extroversão, mesmo que
somente em um dos parceiros. Por outro lado, Neuroticismo e Extroversão foram preditores
significativas de dimensão apoio relação. A análise indicou que Conscienciosidade foi o mais
forte preditor de conflito. Em conclusão, características de personalidade dos atletas podem ser
importantes na medida em que estão associadas à qualidade da relação treinador-atleta. Outro
estudo neste sentido foi o de Kelecek e Altintas (2015) que investigaram 84 atletas mulheres e
129 homens, todos com seus respectivos treinadores, encontrando resultados semelhantes ao de
Jackson et al. (2011).
Quanto a atletas que competem individualmente e atletas de esporte coletivos, o
montante de pesquisas é maior. Allen et al. (2011) demonstraram que atletas que competem em
esportes individuais, apresentam maior nível de Conscienciosidade e Abertura e menores
valores de Extroversão e Neuroticismo do que os atletas que competem em equipe. Aidman
(2007) revelou uma pontuação significativamente maior para o atleta de esporte individual no
fator Conscienciosidade e os atletas de equipe o resultado significativo se deu em Amabilidade
34

e Extroversão. Resultados semelhantes foram encontrados por Dhesi e Bal (2012) que
avaliaram 250 esportistas do sexo masculino, com idade média de 21,8 anos (DP=2,14),
integrantes de esportes individuais e coletivos. Etemadi, Nia e Besharata (2010) avaliaram 92
atletas de equipe e 42 individuais, e apresentou como resultado alta Conscienciosidade em
atletas individuais e alta Amabilidade em atletas de esporte coletivo, porém não encontrou
nenhuma diferença para Neuroticismo, Abertura e Extroversão.
Por fim, Allen e Laborne (2014) afirmam que estudos contemporâneos comprovam a
relação entre traços de personalidade, segundo o Modelo dos Cinco Grandes Fatores, e o
esporte, tanto no contexto do alto rendimento, como na aderência a atividade física em busca
de saúde e bem-estar. No contexto do desempenho esportivo, novos estudos têm demonstrado
que os traços de personalidade se relacionam com sucesso atlético a longo prazo, com as
relações interpessoais, e estados psicológicos dos atletas antes, durante e depois das
competições.
Especificamente acerca das diferenças de personalidade entre árbitros e população geral
e das características de personalidade mais marcantes entre os primeiros, a literatura é escassa.
O árbitro de futebol é um atleta na medida em que somente um desempenho exitoso se faz
requisito tanto para sua permanência nos quadros profissionais quanto para sua inserção nos
sorteios dos campeonatos, para que possa atuar. Este desempenho esportivo é composto por, no
mínimo quatro pilares: físico (capacidade de deslocamento dentro de campo com o objetivo de
acompanhar as jogadas), técnico (domínio das regras do jogo, posicionamento e deslocamentos
em campo), tático (plano de trabalho para uma boa evolução e entrosamento da equipe em
campo) e psicológico (habilidades que possibilitam equilíbrio emocional e enfrentamento
eficaz do estresse, o que isentam as tomadas de decisão e leitura de jogo de cunho pessoal)
(Castagno, Abt, & D’Ottavio, 2007; Gonzalez-Oya & Dosil, 2003, 2004; Patino & Cañadas,
2015; Velho & Fialho, 2015). O papel do árbitro em campo envolve a aplicação das regras do
jogo permitindo assim que o mesmo transcorra de forma organizada, disciplinada e isenta
(Castagno et al.,2007). Em síntese, conforme descrito acima, a literatura internacional tem
apontado que os atletas possuem um perfil de personalidade aparentemente distinto de não
atletas que pode ser mediado pela idade, experiência, tipo de esporte praticado e gênero. Os
árbitros de futebol são atletas de alto rendimento, apesar de apresentarem função distinta dentro
de campo, portanto, parece plausível supor que as mesmas diferenças encontradas entre atletas
e população geral no que se refere aos traços de personalidade, possam ser replicadas em
árbitros. Ainda não foram encontrados estudos que visem identificar se as características de
35

personalidade mais presentes em atletas são as mesmas daquelas observadas em árbitros e


também diferentes da população geral.
Nesse sentido, tem-se como objetivo descrever os traços de personalidade dos árbitros
de futebol de diferentes estados brasileiros e comparar os dados com a amostra da
normatização do NEO-FFI-R para população geral. Além disso, pretende-se verificar
diferenças de personalidade relativas ao gênero e à idade dos árbitros. O presente estudo
trabalha com as seguintes hipóteses: a) os árbitros de futebol possuem características de
personalidade semelhantes àquelas descritas na literatura para atletas de alto rendimento; b)
os árbitros de futebol apresentam maiores níveis de Extroversão e Conscienciosidade; c)
árbitros de futebol apresentam baixos níveis de Neuroticismo; d) as mulheres apresentam
maiores níveis de E, N e Am que os árbitros do sexo masculino; e) serão observadas diferenças
etárias em Conscienciosidade, Neuroticismo e Amabilidade, conforme princípio da
maturidade.

3.2Método
3.2.1 Participantes

Participaram do estudo 285 árbitros de futebol (144 árbitros assistentes e 141 árbitros
centrais) com idades variando de 18 a 46 anos (M= 31,3 anos; DP=6,1), sendo 254 do sexo
masculino (89,1% da amostra). Participaram 120 árbitros do estado de Minas Gerais, 69 do
Ceará, 27 do Distrito Federal, 32 de Pernambuco, 23 do Piauí e 14 do Maranhão. Quanto ao
grau de instrução, 48,1% da amostra possui curso superior completo e 32,3% nível médio
completo ou superior incompleto. A classificação socioeconômica, calculada com base nos
parâmetros do Critério Brasil de 2015 (poder de consumo, nível de escolaridade, acesso à água
potável e ruas asfaltadas na vizinhança), está representada na amostra com 47,5% na classe B,
seguida por 31,3% na classe C e 9,8% representam a classe A. A média de tempo de experiência
na arbitragem é 6,9 anos (DP=5,5 anos), com mínimo de 6 meses e máximo 22 anos.

3.2.2 Instrumentos

Inventário de Cinco Fatores NEO Revisado: NEO-FFI-R (Versão Curta) (Costa &
McCrae, 1985; adaptação brasileira por Flores-Mendoza et al. (2010): o NEO-FFI-R é a versão
curta da forma S do NEO PI-R, que é instrumento considerado padrão-ouro na avaliação da
personalidade. Contém 60 itens com informações sobre os cinco traços de personalidade
36

(Neuroticismo, Extroversão, Amabilidade, Conscienciosidade e Abertura a Experiências),


porém não contempla as facetas. Os itens são respondidos com base em uma escala do tipo
Likert de cinco pontos, sendo 1 discordo totalmente e 5 concordo totalmente. Seu uso deve se
restringir a situações nas quais o tempo de aplicação é limitado e se pretende levantar apenas
um panorama geral das dimensões.
Flores-Mendoza et al. (2010) submeteu o instrumento a análise exploratória, com rotação
Varimax, na qual os cinco fatores extraídos explicaram 34,49% da variância total. Quanto à
consistência interna, as cinco dimensões apresentaram Alfas de Cronbach entre aceitáveis e
bons (0,7<α>0,83). A amostra utilizada na versão curta foi a mesma da versão completa, o NEO
PI-R, e evidências de validade de critério foram obtidas por meio da correlação do instrumento
e informações obtidas em questionário Sociodemográfico (idade, escolaridade, nível
socioeconômico, religiosidade, entre outras).
Questionário Sociodemográfico: foi elaborado especificamente para o presente estudo e
tem como objetivo caracterizar o participante, no que se refere a aspectos sociais, econômicos
e profissionais. Composto por 16 questões que se dividem em identificação, estado civil,
escolaridade e profissão, classificação econômica baseada no Critério Brasil 2015 (Associação
Brasileira de Empresas de Pesquisa – ABEP) e aspectos relativos à arbitragem, como: anos de
experiência, testes físicos realizados, aprovações/reprovações, frequência de treinamento físico
semanal, local de treinamento físico, principais competições que participou e razões para ter
ingressado na arbitragem (Apêndice A).

3.2.3 Procedimentos
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Minas Gerais
(CAAE 53351216.4.0000.5149). Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE, Apêndice B). A escolha pelos Estados participantes se deu por
conveniência, pelo critério de disponibilidade de uma psicóloga habilitada em cada uma destas
Federações, as quais se dispuseram a aplicar os instrumentos. O contato com a Federação
Mineira de Futebol foi estabelecido por meio da primeira autora desse artigo. O contato com as
demais Federações (dos Estados do Ceará, Distrito Federal, Maranhão, Pernambuco e Piauí)
foi feito também por meio das psicólogas do esporte atuantes em cada instituição, que
possibilitaram o acesso e anuência da presidência da comissão de arbitragem local.
Em seguida, via Sedex 10, foram enviados às psicólogas os instrumentos, juntamente a
um documento com informações sobre a pesquisa e instruções de aplicação. Reuniões entre a
pesquisadora e as profissionais, via Skype (programa de chat com voz e vídeo), possibilitaram
37

o esclarecimento das dúvidas e reforço das instruções. No estado de Minas Gerais, as aplicações
foram conduzidas em Belo Horizonte, na sede da Federação Mineira de Futebol e no Centro de
Treinamento Esportivo da UFMG, por equipe de graduandos em psicologia orientados pela
pesquisadora responsável. Nos demais Estados, as aplicações ocorreram nas sedes das
federações locais, também supervisionadas pelas psicólogas responsáveis por cada Federação.
As aplicações dos instrumentos foram realizadas coletivamente e duraram cerca de 1
hora e 30 minutos, em todos os Estados. Logo após as aplicações, todo o material foi devolvido,
via Sedex 10, pelas psicólogas responsáveis pela coleta em cada Estado. Ao final do estudo, os
árbitros receberão uma devolutiva, por meio de carta, com os principais resultados obtidos de
sua avaliação de personalidade.

3.2.4 Análise dos Dados


Após a correção dos instrumentos e tabulação dos dados, os mesmos foram submetidos
à análise de valores extremos e submetidos à avaliação da normalidade. Foi verificada a
assimetria e curtose de cada dimensão, assim como análise de histogramas, tendo os dados
apresentado distribuição normal (Dancey & Reidy, 2011).
Na sequência, foram empreendidas análises descritivas a fim de caracterizar a amostra
e estabelecer o perfil de personalidade dos participantes. Com o intuito de relacionar as
características de personalidade com as variáveis sociodemográficas investigadas, foram
conduzidas análises de correlação (r de Pearson) e de comparação entre grupos (teste t de única
amostra e para amostras independentes e One Way ANOVA), acompanhados da análise do
tamanho do efeito via d de Cohen. O teste t para amostra única é o mais recomendado quando
se pretende comparar a média da amostra em questão com a média populacional, a fim de
verificar se a média da referida amostra difere significativamente da média populacional
(Dancey & Reidy, 2011). No presente estudo, optou-se por esta técnica de análise estatística,
uma vez que se assumiu que a média populacional para cada uma das cinco dimensões de
personalidade é conhecida e está disponível no manual do teste NEO-FFI-R. Estas médias
foram utilizadas para normatização do teste para população brasileira adulta e são consideradas
atualizadas, dentro dos critérios definidos pelo Conselho Federal de Psicologia10. O índice d
de Cohen constitui nas diferenças entre os grupos expressas em unidades de desvios-padrões.
Este índice permite, por exemplo, fazer comparações entre resultados vindos da aplicação de
diferentes instrumentos de medida psicológica. Para estimá-lo, se identifica a diferença das

10
Dados retirados do site: http://satepsi.cfp.org.br/2016
38

médias dos grupos e logo se divide o valor obtido pela média dos desvios-padrões (Espírito-
Santo & Daniel, 2015). Todas as análises foram realizadas utilizando o software SPSS (versão
22), com exceção do cálculo do d de Cohen que foi feito com base em um macro disponibilizado
no site da Universidade do Colorado11.

3.3 Resultados
A partir da verificação das médias, medianas e modas dos fatores do NEO-FFI-R,
juntamente aos valores de assimetria e curtose, concluiu-se que os dados apresentam
distribuição normal (Dancey & Reidy, 2011), possibilitando a utilização de estatísticas
paramétricas.
A Tabela 1 apresenta os resultados das comparações entre os escores médios dos árbitros
e da população geral nas cinco dimensões do NEO-FFI-R (Flores-Mendoza, 2010). Verificou-
se, por meio do teste t para única amostra, que os árbitros apresentam maiores níveis de
Extroversão, Amabilidade e Conscienciosidade, e menores níveis de Neuroticismo e Abertura,
sendo todas estas diferenças estatisticamente significativas. Foram verificados tamanhos de
efeito grandes para Neuroticismo e Conscienciosidade, médios em Extroversão e Abertura e
pequeno para Amabilidade (Espírito-Santo & Daniel, 2015).

Tabela 1.
Resultados da comparação entre árbitros e população geral nas dimensões do NEO-FFI-R

População
Árbitros d de
Dimensões Geral T
M (DP) Cohen**
M (DP)

Neuroticismo 20,05 (6,06) 25,4 (6,9) -14,9* 0,83


Extroversão 33,13 (5,2) 30 (5,6) 10,2* -0,58
Amabilidade 34,5 (4,8) 32,4 (5,2) 7,5* -0,43
Conscienciosidade 37,5 (5,1) 32,3 (6,5) 17,4* -0,90
Abertura 29,1 (4,7) 32,4 (5,7) -11,6* 0,62

*p<0,001; ** valor d negativo indicará resultado mais alto para os árbitros, uma vez que as médias deste grupo
ingressaram em segundo lugar na fórmula.

11
Dados retirados do site: http://www.uccs.edu/~lbecker/2016
39

Análises de correlação entre os escores no NEO-FFI-R e variáveis sociodemográficas e


ocupacionais dos árbitros evidenciaram relação positiva e estatisticamente significativa entre
idade e tempo de arbitragem (r=0,72; p<0,01). Idade também apresentou correlações baixas,
mas significativas com Neuroticismo (r=-0,15; p<0,05), e Conscienciosidade (r=0,135;
p<0,05), indicando que quanto maior a idade menor a instabilidade emocional e maior a
realização. Em relação às dimensões entre si, foram verificadas correlações positivas entre as
dimensões Extroversão, Abertura, Amabilidade e Conscienciosidade (0,24< r >0,3; p<0,01) e
negativos entre Neuroticismo e Amabilidade (r=-0,39; p<0,01) e Neuroticismo e
Conscienciosidade (r=-0,38; p<0,01). Contudo, apesar da significância estatística, a magnitude
das correlações é baixa (Evans, 1996).
A fim de verificar diferenças entre os árbitros em relação ao sexo, identificou-se por
meio do teste t para amostras independentes, que os homens são mais velhos (t=-3,1; p<0,05;
d=0,4), apresentam maior tempo de arbitragem (t=-5,6; p<0,001; d=0,7) e maiores escores em
Amabilidade (t=-2,5; p<0,05; d=0,3). Em contrapartida, as mulheres apresentam maiores níveis
de Neuroticismo (t=4,01; p<0,001; d=0,5). Ainda utilizando o teste t para amostras
independentes, foram feitas comparações entre os árbitros assistentes e os centrais, nas quais
constatou-se que a única diferença estatisticamente significativa entre eles foi em Neuroticismo.
Na amostra estudada, os árbitros assistentes apresentaram um nível mais elevado na referida
dimensão (t=-2,5; p<0,05; d=0,3).
Análise de variância (One Way ANOVA) apontou a inexistência de diferenças
estatisticamente significativas para idade dos árbitros de acordo com o Estado no qual atuam
[F(5,300) =1,98; p=0,08]. Em relação aos escores no NEO FFI-R, verificou-se diferença
estatisticamente significativa no fator Conscienciosidade [F(5,279) =3,64; p=0,003]. O
teste post-hoc de Tukey confirmou que os árbitros mineiros apresentaram maiores escores em
C do que aqueles que atuam no Distrito Federal (d=0,66) e no Piauí (d=0,64). É importante
observar que ambas as diferenças apresentam tamanho de efeito médio (Espírito-Santo, &
Daniel, 2015).

3.4 Discussão

Este estudo teve por objetivo descrever os traços de personalidade de árbitros de futebol
brasileiros, compará-los àqueles observados na população geral e correlacioná-los com
variáveis sociodemográficas. De forma geral, as hipóteses levantadas foram corroboradas.
40

No que se refere à caracterização da personalidade de árbitros e comparação com


amostras da população geral, hipotetizou-se que níveis mais altos de Conscienciosidade e mais
baixos de Neuroticismo seriam encontrados em árbitros. As principais diferenças encontradas
no perfil de personalidade dos árbitros em relação à população geral apontam para menores
escores em Neuroticismo (N) e maiores em Conscienciosidade (C) para os árbitros, o que
permite afirmar que nossa hipótese foi corroborada.
Analisando este resultado sob a perspectiva da Hipótese de Seleção, na qual as
características de personalidade orientam os atletas em sua escolha e permanência na
modalidade esportiva (Cox, 2009; Elman, & McKelvie, 2003; McKelvie, Lemieux, & Stout,
2003; Wann, 1997; Weinberg & Gould, 2008), pode-se inferir que os árbitros com menor
Neuroticismo têm maiores chances de entrar e permanecer na arbitragem. Uma maior
estabilidade é necessária para que eles mantenham o controle de suas próprias emoções e
comportamentos diante de situações estressantes, proporcionando também maior controle das
reações externas a ele (jogadores, torcedores, comissão técnica, jornalistas, etc.). Maiores níveis
de instabilidade poderiam contaminar as decisões da equipe de arbitragem, supostamente
isentas de juízos e reações pessoais. Situações em que se deixa a emoção predominar, seja ela
positiva ou negativa, provavelmente irão apresentar-se carregadas de interpretações subjetivas,
ou seja, não permitiriam uma leitura de jogo real e uma tomada de decisão justa. Pessoas com
alto Neuroticismo tendem a enxergar a vida de modo negativo, são vulneráveis e inseguras,
além de se culparem muito, o que seria incompatível com a atuação dos mesmos. É possível
que o baixo Neuroticismo possibilite que os árbitros vivenciem de forma mais funcional o alto
nível de pressão ao qual são submetidos antes, durante e depois da partida. Assim, pois, os
resultados encontrados aqui são os mesmos descritos na literatura para atletas de alto
rendimento (Allen & Laborne, 2014; Allen et al., 2011, 2013; D. Bartholomeu, Machado,
Spigato, L. Bartholomeu, Cozza, & Montiel, 2010; Conner, 2001; Dineen, 2003; Malinauskas,
2014; Naveira et al., 2011, 2010; Naveira & Ruiz, 2013; Piemonte, Hill, & Blanco, 1999;
Rhodes & Courneya, 2003; Rhodes, Courneya, & Bobick, 2001; Rhodes, Courneya, & Jones,
2003, 2005; Rhodes & Smith, 2006; Ruiz, 2012; Tolea, Terracciano, Simonsick, Metter, Costa
Jr., & Ferrucci, 2012; Vealey, 1992; Wilson, Krueger, & Gu, 2005).
Altos níveis de Conscienciosidade também são característicos dos árbitros avaliados,
estando presente em outros estudos com árbitros e atletas de alto rendimento. Destaca-se ainda,
que associado a baixo Neuroticismo, alta Conscienciosidade prediz sucesso atlético a longo
prazo (Allen & Laborne, 2014; Piedmont, Hill, & Blanco, 1997). Maiores escores em C já
haviam sido identificados por Sinclair, em 1975, quando avaliou a personalidade de árbitros de
41

vôlei canadenses. Pode-se pensar que atletas com alta pontuação neste traço buscam ir além do
seu limite, apresentando motivação para realizações, características de responsabilidade,
tendência para a ordem, persistência e autodisciplina como também uma visão de si mesmo
mais positiva, possivelmente relacionado a maior auto eficácia (Allen et al., 2013; Rhodes &
Pfaeffli, 2012; Rhodes & Smith, 2006; Hoyt, Rhodes, Hausenblas, & Giacobbi, 2009).
Baker e Horton (2004) discorrem sobre desempenho esportivo e preconizam que embora
atletas competitivos lutem por excelência, sob a pressão da concorrência, eles passam a maior
parte de seu tempo treinando para a competição ao invés de competirem. Baker e Horton (2004)
citam que atletas competitivos gastam até 99% do seu tempo em treinamento. Neste sentido,
indivíduos com alta Conscienciosidade dispõem de um importante traço para o comportamento
de adesão, além da qualidade da preparação (García-Naveira et al., 2011; Rhodes & Smith,
2006). As rotinas de preparação e trabalho exigentes, duras e até mesmo maçantes se tornariam
extremamente difíceis e aversivas para indivíduos pouco focados para metas e realização, o que
reforça a associação entre responsabilidade e prática desportiva (Allen et al., 2013; Hoyt et al.,
2009; Rhodes & Pfaeffli, 2012; Rhodes & Smith, 2006). Ademais, a área de atuação da
arbitragem envolve muitos estressores e pouca valorização, tanto financeira quanto cultural.
Logo, aqueles que não têm um perfil adequado podem acabar desistindo antes de chegar ao
nível profissional.
Alta Extroversão (E) foi identificada como traço característico de atleta de alto
rendimento desde a década de 1960. Naveira e Ruiz (2013) colocam que um alto E indica uma
predisposição para manter comportamento de atividade física, pois prevê emoções positivas,
como felicidade, animação, otimismo, elevado nível de energia e atividade, além de
sociabilidade. Allen et al. (2013), Rhodes e Pfaeffli (2012), Rhodes e Smith (2006), Hoyt et al.
(2009), Rhodes e Smith (2006) e Tolea et al. (2012) apresentaram estudos nos quais ficou
demonstrado a associação entre alta extroversão, a prática da atividade física e a capacidade
para exercitar-se em busca do aprimoramento do desempenho esportivo.
Ademais, um árbitro não deve ser tímido, por conta da exposição pública a qual está
submetido, tanto durante os jogos quanto fora deles. Pesquisas com atletas, segundo o modelo
Big Five, mostram os mesmos como pessoas com escores mais altos de Extroversão (Dineen,
2003; Garcia Naveira et al., 2011; Hausenblas & Giacobbi, 2004; Rhodes & Courneya, 2003;
Rhodes et al., 2001). Balch e Scott (2007) avaliaram árbitros esportivos de vôlei, hóquei e luta
livre, e os resultados apresentaram o fator Extroversão significativamente mais elevado que o
grupo de comparação. Este achado foi encontrado em outros estudos com árbitros (Balch &
Scott, 2007; Fratzke, 1975; Ittenbach & Eller, 1988).
42

Amabilidade apresentou um nível elevado entre os árbitros quando comparados à


população geral, porém com menor tamanho de efeito. Pode-se pensar que tal característica
propiciaria que o árbitro se colocasse no lugar do outro, jogador ou membro da equipe,
flexibilizando a disciplina rígida e severa, dentro e fora de campo. Pode também facilitar o
trabalho em equipe, principalmente em situações nas quais ocorrer erro grave (que comprometa
o resultado da partida) cometido por um dos membros da equipe. No entanto, Amabilidade não
é um traço característico de atletas de alto rendimento, estando presente em poucos estudos com
atletas, como nos desenvolvidos por Allen et al. (2011), Purdy e Snyder (1985), Ittenbach e
Eller (1988) e Furst (1991), o que poderia significar que uma alta Amabilidade seria
característica de modalidades esportivas especificas ou mesmo indicar uma especificidade da
arbitragem, o que certamente merece investigação mais detalhada que inclua árbitros de outros
Estados e também de outros países.
Purdy e Snyder (1985) avaliaram árbitros de basquete do sexo masculino com idade
entre30 e 40 anos que apresentaram altos escores em Amabilidade, porém como o objetivo dos
autores era avaliar o interesse dos árbitros pela arbitragem, eles associaram este resultado a uma
participação na arbitragem motivada por valores mais altruístas e interpessoais. Balch e Scott
(2007) encontraram como resultado alta Amabilidade em árbitros de vôlei e luta livre, quando
comparados com atletas, o que pode favorecer sua permanência na carreira já que são
desvalorizados e pouco aceitos socialmente, esta característica faz com que se aceite e entenda
melhor o outro, o que provavelmente justificaria a aceitação de tal comportamento por parte da
sociedade. Koslowsky e Maoz (1988) compararam árbitros de futebol e de atletismo israelenses,
sendo que os primeiros apresentaram alta Conscienciosidade, alta Amabilidade e baixo
Neuroticismo, diferentemente dos árbitros de atletismo. Um maior nível de comprometimento
com o trabalho e maiores investimentos pessoais e psicológicos parecem ser mais
característicos do árbitro de futebol do que do árbitro de atletismo. Os autores colocam que
apesar de apresentarem o mesmo título e, provavelmente, exercerem a mesma função, são
modalidades totalmente diversas que requerem características pessoais diferentes. O atletismo
não compartilha o interesse social do futebol, o árbitro não necessita de desempenho físico, não
se distancia da família, pois trabalha muito menos e no meio da semana, ou seja, seu
investimento físico e mental é muito menor do que os de árbitros de futebol, o que justificaria
a existência de perfis distintos de personalidade entre eles.
Por fim, os árbitros de futebol avaliados apresentaram, de uma forma geral, níveis mais
baixos de Abertura a experiências. Tal perfil pode estar relacionado ao seguimento de regras,
papel de cumprimento das regras, menor permissividade, a fim de manter a ordem e a disciplina
43

em campo. O meio da arbitragem brasileira é permeado por indivíduos que também pertencem
a meios institucionais hierarquizados, como, por exemplo, o Exército, a Marinha, Aeronáutica
e a Polícia Militar, Civil e Federal. O próprio sistema arbitral é hierarquizado como nestas
instituições e, muito provavelmente, isto poderia estar associado aos baixos escores em
Abertura a experiências encontrados no presente estudo, já que há uma tendência a buscarmos
ambientes que reforcem nossos traços. Contudo, para se testar esta hipótese explicativa
levantada seria necessário que em novos estudos o tipo de formação e local de treinamento dos
árbitros fossem controlados.
Malinauskas (2014) também encontrou baixa Abertura em atletas, porém seu estudo
verificou baixos níveis de Amabilidade e Extroversão, resultados que vão de encontro ao
presente estudo. Naveira e Ruiz (2013) concluíram que os atletas não são caracterizados por
abertura à experiência e amabilidade, de acordo com o modelo de Costa e McCrae, e que esses
traços não estão relacionados com a atividade física.
Balch e Scott (2007) aplicaram o NEO-FFI em 33 árbitros esportivos de vôlei, hóquei e
luta livre e em 89 estudantes. Comparando os dois grupos os pesquisadores não encontraram
diferenças estatisticamente significativas em nenhuma das dimensões. Contudo, quando
comparados entre si, os árbitros mais velhos apresentaram níveis mais altos em C e menores
em N. Tais associações também são encontradas na amostra normativa da versão brasileira da
escala, indicando que as mesmas também são encontradas na população geral (Flores et
al.,2010). Segundo o “Princípio da Maturidade” (Roberts et al., 2006; Terracciano, McCrae, &
Costa, 2010), existe uma relação gradual e positiva com a Conscienciosidade até os 50 anos e
gradual, porém negativa com o Neuroticismo até os 40 anos.
As árbitras avaliadas assim como as mulheres da população geral, também apresentam
maior N do que os homens. Entretanto, a maior Amabilidade (Am) nos árbitros homens vai
contra o esperado na população (Flores et al.,2010). Esse resultado também vai contra ao
encontrado por Allen et al. (2011), no qual atletas do sexo feminino mostraram escores mais
altos em Am do que atletas homens. Contudo, é importante destacar que o tamanho do efeito
da diferença é baixo, indicando a necessidade de não supervalorizar o resultado. Nesse caso,
pode-se pensar que provavelmente as mulheres que procuram a arbitragem possuem perfis de
personalidade diferente de outras mulheres, inclusive atletas, pois adentram um mundo
majoritariamente masculino, com características de sistemas hierárquicos e hostilizados
socialmente. Pode ser que tenham preferência por desafios e de se posicionarem contra
preceitos e normas pré-estabelecidas, além de possuírem características de independência e
autossuficiência.
44

Em relação às comparações entre funções, evidenciou-se que árbitros assistentes


apresentaram escores mais elevados em N do que os centrais, mas ainda assim menores do que
a população geral. Tal resultado pode ser interpretado tendo em vista que o árbitro central tem
o controle da partida, podendo haver uma espécie de “seleção natural” entre os próprios árbitros,
sendo que aqueles com menor instabilidade apresentariam maior chance de assumir a
arbitragem central. Quando o árbitro faz o curso de arbitragem, na maioria das vezes não tem
prática e não sabe qual das duas funções irá seguir. No futebol amador, o árbitro inicia
exercendo as duas funções a fim de adquirir prática, sendo que nesse período dá-se a escolha
por uma delas. É importante destacar que não foi verificada diferença estatisticamente
significativa em relação à idade dos árbitros centrais e assistentes, logo, tal diferença em
Neuroticismo não pode ser atribuída à faixa etária.
Por fim, os resultados apontaram para maior Conscienciosidade em árbitros residentes
no estado de Minas Gerais em relação aos demais estados. Estes resultados poderiam ser, em
parte, explicados pelo processo de seleção da amostra de Minas Gerais, na medida em que todos
os árbitros do quadro mineiro foram convidados a participar e os que se prontificaram, aqueles
que se deslocaram até a sede da Federação, vindos até de cidades da Grande Belo Horizonte
para participarem da pesquisa, já se dispuseram justamente por possuírem maior nível de
Conscienciosidade, ou seja, têm maior compromisso e senso de cumprimento do dever.

3.5 Conclusão
Este estudo apresentou evidências de que o perfil de personalidade de árbitros do futebol
brasileiro difere do perfil encontrado na população geral, embora o padrão de mudanças
relativas à idade de cada um dos traços de personalidade siga o que é frequentemente reportado
na literatura de diferenças individuais em personalidade. Ademais, pode-se afirmar que os
resultados encontrados trazem mais subsídios para classificar, do ponto de vista de
características psicológicas, os árbitros de futebol como atletas de alto rendimento, uma vez
que o padrão de personalidade encontrado se assemelha aos perfis apregoados na literatura
como característicos de atletas de alto rendimento. Outro resultado interessante, que não
corroborou a hipótese inicialmente levantada, diz respeito às diferenças de gênero entre árbitros,
que não seguiram o padrão da amostra normativa, em que as mulheres apresentaram maiores
escores em E, N, e Am do que os homens. Não obstante, este resultado seja interessante é
importante ressaltar que a amostra feminina foi bastante reduzida o que pode explicar
parcialmente os resultados encontrados.
45

O presente estudo trouxe, portanto, contribuições para a Psicologia do Esporte, uma vez
que aponta para a importância de se considerar as características de personalidade dos árbitros
não apenas na seleção e promoção de profissionais, mas também na condução de um trabalho
psicológico futuro com os árbitros, no sentido de se adaptar melhor os treinamentos e técnicas
de intervenções, para que possam ser mais motivadores e eficazes. Ademais, acredita-se que
esta investigação abra caminho para que outros pesquisadores possam se interessar por conduzir
pesquisas semelhantes em um grupo historicamente negligenciado em estudos na área do
Esporte.
Não obstante as suas contribuições, o estudo também apresenta limitações. Não foi
possível incluir árbitros representativos de outras unidades da federação, o que limita um pouco
a generalização dos achados. Ainda, seria interessante para se obter um perfil mais completo
dos árbitros em comparação à população geral, que outro instrumento de avaliação da
personalidade que incluísse a avaliação das facetas fosse utilizado. Alguns autores (Allen et al.,
2013; Nia & Besharat, 2010; Tolea et al., 2012) defendem que a avaliação das facetas
componentes de cada traço forneceria uma avaliação mais precisa e profunda da personalidade,
sendo possível identificar diferenças mais tênues intergrupos. No Brasil, poder-se-ia utilizar,
por exemplo, o Inventário de Personalidade NEO PI-R em sua versão completa.

3.6 Referências

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52

APÊNDICE A: Questionário Sociodemográfico

Nome: _________________________________________________________________

Data de Nascimento: _____/_____/____ Idade:____________

Sexo:  Feminino  Masculino

Local de Nascimento: Estado em que reside: Cidade:

Informações Gerais

1.Estado Civil: Solteiro CasadoViúvo Divorciado/SeparadoOutro:

2. Escolaridade:  Analfabeto/Fundamental I Incompleto Fundamental I completo/


Fundamental II incompleto  Fundamental II completo / Médio Incompleto  Médio
completo / Superior incompleto: Superior completo –Curso:_________________________
 Pós graduação completa – Curso:

3. Profissão

4. A água utilizada em seu domicílio é proveniente de?


(1) Rede geral de distribuição (2) Poço ou nascente (3) Outro meio

5. Considerando o trecho da rua do seu domicílio, você diria que ela é:


(1) Asfaltada/pavimentada (2) Terra/cascalho

6. Qual quantidade destes itens você possui em casa? (Considerar os que estão
funcionando)
Itens
Banheiros 0 1 2 3 4 ou +
Empregados domésticos (carteira assinada) 0 1 2 3 4 ou +
Automóveis 0 1 2 3 4 ou +
Microcomputador 0 1 2 3 4 ou +
Lava louca 0 1 2 3 4 ou +
Geladeira 0 1 2 3 4 ou +
Freezer 0 1 2 3 4 ou +
Lava roupa 0 1 2 3 4 ou +
DVD 0 1 2 3 4 ou +
Micro-ondas 0 1 2 3 4 ou +
Motocicleta 0 1 2 3 4 ou +
Secadora roupa 0 1 2 3 4 ou +

Informações Profissionais
6. Função:  Árbitro  Assistente

7. Categoria:  FIFA Especial 1Especial 2 Aspirante FIFA CBF1 CBF2 CBF3


53

 Ouro Prata Bronze Amador Outros:

8. Tempo de arbitragem estadual: ______________ anos

9. Tempo de arbitragem nacional: ______________anos, internacional: ____________ anos.

10. Número de Testes Físicos Realizados ________11. Número de Reprovações

12. Frequência Semanal de treinamento:

13. Local de treinamento:

14.Você já foi convidado pela CBF/ FIFA para fazer algum curso ou treinamento fora do seu
estado? Sim  Não Quantas vezes:____________ Anos:
Local:________
Nome do evento:

15. Principais competições que participou:_

16. Abaixo estão enumeradas algumas razões que podem ter influenciado em seu ingresso na
arbitragem. Marque em todas as afirmativas, conforme a escala abaixo, o quanto elas
contribuíram em sua decisão.
 1 - Nada  2 - Um pouco  3 - Medianamente  4 - Bastante  5 - Extremamente

Afirmativas 1 2 3 4 5
Amor pelo futebol
Permanecer no meio do futebol (tentei ser jogador...)
Contribuir de alguma forma para o futebol
Gostar de desafios
Busca de sensações
Desejo de poder e controle
Renda extra
Influência de familiares e amigos
Praticar esporte
Fazer amigos
Viajar
Seguir a tradição familiar (tenho parentes que foram árbitros)
Sempre gostei de apitar desde novo
54

APÊNDICE B: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


Prezado (a) Sr. (a),
O (a) senhor (a) está sendo convidado (a) a participar da pesquisa intitulada
“Características de personalidade e estratégias de coping como preditoras do desempenho
esportivo de árbitros de futebol profissional”, que está sendo desenvolvida por mim, sob
orientação da Profa. Dra. Marcela Mansur Alves do Departamento de Psicologia da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). No Brasil, há poucos estudos sobre o pilar
psicológico da arbitragem, porém vários estudos internacionais têm demonstrado a importância
de conhecer características psicológicas preditoras de sucesso e desempenho profissional, a fim
de desenvolver um trabalho mais individualizado com os envolvidos com maior efetividade.
Esse projeto visa identificar quais são estas características de personalidade e estratégias de
enfrentamento que poderiam predizer o desempenho profissional.
No caso do (a) senhor (a), a participação implica no preenchimento de questionários de
caracterização social, escalas de personalidade e de estratégias de enfrentamento de estressores,
em um único momento.
Para participar deste estudo, o (a) senhor (a) não terá nenhum custo, nem receberá
qualquer vantagem financeira. Será esclarecido(a) em qualquer aspecto que desejar e estará
livre para participar ou recusar-se a participar. Você poderá interromper a participação a
qualquer momento. A participação é voluntária e a recusa em participar não acarretará qualquer
penalidade ou modificação na forma em que é atendido (a) pelo pesquisador que irá tratar a sua
identidade com padrões profissionais de sigilo. O (a) senhor (a) não será identificado em
nenhuma publicação. Este estudo apresenta risco mínimo.

Este termo de consentimento encontra-se impresso em duas vias, sendo que uma delas
será arquivada pelo pesquisador responsável, e a outra será fornecida a você.
Eu, _________________________________________, portador(a) do documento de
Identidade ____________________, fui informado(a) dos objetivos do presente estudo de
maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que a qualquer momento poderei
solicitar novas informações junto ao pesquisador responsável listado abaixo, telefone 31-
91113978. Tenho ciência que posso modificar a decisão de participar do estudo, se assim o
desejar. Recebi uma via deste termo de consentimento livre e esclarecido e me foi dada a
oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas1
Assinatura do participante: .......................................................................................................
Telefone.....................E-mail...................................................Data......./......../.........
Deseja receber os seus resultados na pesquisa, por meio de uma carta enviado ao seu e-
mail? ( ) Sim ( ) Não

Alessandra Carla Monteiro (Psicóloga e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em


Psicologia da UFMG)

Profa. Dra. Marcela Mansur Alves


Orientadora – Depto. de Psicologia UFMG
1
Em casos de dúvidas de ordem ética, entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Federal de Minas Gerais, Rua Av. Antônio Carlos, 6627, Unidade Administrativa II - 2º andar (Sala 2005),
Campus Pampulha, 31270-901- Belo Horizonte MG, Fone:(31) 3409-4592.
55

4. Estudo II

Estratégias de Coping, traços de personalidade e sua relação com desempenho esportivo


de árbitros de futebol

Alessandra Carla Peixoto Monteiro¹

Marcela Mansur-Alves²

¹Mestranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal de Minas Gerais,


²Professora Adjunta do Departamento de Psicologia. Laboratório de Estudos do Comportamento, Cognição e
Aprendizagem (LECCA), Universidade Federal de Minas Gerais.
56

Resumo
Estratégias de coping são mecanismos de enfrentamento que o indivíduo utiliza em situações
estressantes, nas quais se sinta ameaçado física ou emocionalmente. No esporte possuir
estratégias de coping adequadas significa lidar bem com o estresse, condição que torna o atleta
adaptado ao meio. A literatura internacional tem demonstrado que traços de personalidade são
preditores dessas estratégias, como também de desempenho esportivo. O objetivo deste estudo
foi levantar as estratégias de Coping mais utilizadas pelos árbitros de diferentes estados
brasileiros, assim como avaliar sua relação com a personalidade e o desempenho esportivo. A
amostra constou de 225 árbitros de futebol (113 árbitros centrais e 110 árbitros assistentes) com
idades variando de 18 a 45 anos (M= 31,1 anos; DP=6,0), sendo 203 do sexo masculino (90,2%
da amostra). O instrumento utilizado foi o Inventário de Estratégias de Coping, o Inventário de
Personalidade NEO-FFI-R e um questionário sociodemográfico. Para avaliar o desempenho
esportivo, os árbitros foram classificados em quatro níveis (amador, bronze, prata e ouro),
segundo o critério da abrangência do campeonato que atuam,
além do tempo de ingresso na Federação. Quanto ao tipo de estratégia mais adotado pela
amostra, uma análise de frequência revelou que a utilização das quatro estratégias se dá em
níveis semelhantes. A correlação entre os traços de personalidade apresentou-se significativa
nas cinco dimensões para Estratégias Focadas no Problema, com Estratégias Focadas na
Emoção, somente N e C apresentaram correlações significativas e Estratégias Focadas no Apoio
Social apresentou correlação significativa, porém baixa com E. Estratégias Evitativas não se
correlacionaram com nenhuma dimensão. Conscienciosidade, Abertura e Extroversão
predisseram coping Focado no Problema, Neuroticismo predisse Focado na Emoção, Apoio
Social apresentou Extroversão e a interação de Neuroticismo e Conscienciosidade como
preditores e, por fim Evitação teve como preditores a variável gênero e as interações entre
Neuroticismo e Conscienciosidade e Neuroticismo e Abertura. No que se refere ao desempenho
dos árbitros, idade e tempo de arbitragem correlacionaram-se positivamente com este. Ademais,
Neuroticismo e Abertura a Experiências foram as únicas dimensões de personalidade preditoras
do desempenho. Em suma, este estudo aponta para as relações entre coping e personalidade
também para árbitros de futebol. Porém, questiona-se a forma como o desempenho esportivo
tem sido historicamente mensurado no país. Novos estudos são necessários não apenas para
elaboração de critérios mais objetivos de desempenho, como também para inclusão de um
número maior de árbitros, do uso de instrumentos de Coping mais adequados ao contexto do
Esporte e da inclusão de medidas de personalidade que possam fornecer avaliações mais amplas
a nível de facetas.

Palavras-chave: Estratégias de Coping; traços de personalidade; desempenho esportivo;


arbitragem.

Abstract

Coping strategies are coping mechanisms used by individuals in stressful situations in which
they feel threatened physically or emotionally. In sports, having proper coping strategies means
coping well with stress, condition that makes the athlete adapted to the environment. The
international literature has shown that personality traits are predictors of these strategies, as well
as of sports performance. The objective of this study was to identify the coping strategies most
used by referees from different Brazilian states, as well as to evaluate their relationship with
personality and sports performance. The sample consisted of 225 soccer referees (113 central
and 110 assistant referees), ranging in age from 18 to 45 years (M = 31.1 years, SD = 6.0),
being 203 males (90.2% Sample). The instruments used were the Coping Strategies Inventory,
the NEO-FFI-R Personality Inventory and a sociodemographic questionnaire. In order to
57

evaluate the sport performance, the referees were classified into four levels (amateur, bronze,
silver and gold), according to the criterion of the championship coverage that act beyond the
time of entry into the Federation. A frequency analysis revealed that the use of the four
strategies occurs at similar levels. Problem-focused strategies showed significant correlations
with all the five personality dimensions. Emotion-focused strategies were only significantly
correlated with N and C, as Social Support focused strategies presented a significant, but low,
correlation with E. Avoidance strategies haven’t show significant correlations with any
dimension. Conscientiousness, Openness and Extraversion predicted Problem-focused coping,
Neuroticism predicted Emotion-focused, Extraversion and the interaction of Neuroticism and
Conscientiousness were Social Support focused strategies’ predictors, and finally, Avoidance
strategies had, as predictors, the variable gender and the interactions between Neuroticism and
Conscientiousness and Neuroticism and Openness. Regarding the performance of the referees,
age and time of arbitration were positively correlated with this one. In addition, Neuroticism
and Openness were the only personality dimensions that predicted the referees’ performance.
This study points out to the relationship between coping and personality for soccer referees.
However, the question is how sports performance has been historically measured in the country.
Other studies are necessary, not only to elaborate more objective criteria for performance
evaluation, but to include a larger sample of referees, and to use coping instruments that are
more appropriated to the context of Sports as well as using personality measurements that can
provide wider information, at the level of facets.

Keywords: coping strategies; personality traits; sports performance; refereeing.


58

4.1 Introdução

Brandão (2011) afirma que a atividade praticada pelos árbitros de futebol os expõe a
todo momento a situações estressoras. Portanto, uma habilidade fundamental e determinante
para o desempenho esportivo de árbitros de futebol, é a forma como lidam com estímulos
estressores. Desde o início da década de 1990, pesquisadores do esporte se interessam pelo
estudo do Coping no contexto esportivo (Gould, Eklund, & Jackson, 1993; Hardy, Jones, &
Gould, 1996; Nicholls & Polman, 2006). A capacidade de lidar, de forma adequada, com
eventos estressantes durante a competição faz parte do desempenho esportivo bem-sucedido,
pois se evita efeitos prejudiciais sobre processos psicológicos tais como concentração, foco de
atenção (Lazarus, 2000).
Nesse sentido, as estratégias de Coping podem ser um fator importante para explicar
algumas das diferenças de níveis de desempenho esportivo (Coetzee, Grobbelaar, & Gird, 2006;
Cox, Shannon, Mc Guire, & Mc Bride, 2010; Van den Heever, Grobbelaar, & Potgieter, 2007;
Segato, Brandt, Liz, Vasconcellos & Andrade, 2010). No entanto, os estudos sobre o assunto
ainda são pouco frequentes. O Coping é uma forma de autorregulação emocional que garante
aos atletas a habilidade para lidar com vários tipos de exigências sem que afete seu desempenho,
constituindo-se em um fenômeno psicológico complexo, determinado e passível de ser
planejado (Barreiros, 2005; Dias, 2005).
Nicholls, Holt, N. Polman, R. Polman e Bloomfield (2006) analisaram 64 estudos,
publicados de 1988 a 2004, sobre Coping no esporte e como resultado verificaram que 46 destes
estudos se basearam na perspectiva de processo defendida por Folkman e Lázarus. Ademais,
apontaram que atletas homens e mulheres percebem o estresse de forma semelhante, porém
homens utilizam mais estratégias focadas no problema (gerir o problema que se encontra na
gênese da perturbação do sujeito, buscando controlar ou alterar a situação que originou o
estresse) e mulheres buscam maior enfrentamento focado na emoção (regulação da perturbação
emocional no nível somático ou de alívio de sentimentos, podendo estar relacionado a
mudanças no significado da situação). Quanto à idade, os autores demonstraram ser um fator
moderador do Coping, pois quanto mais velhos os atletas se tornam, mais eficazes são suas
estratégias e maior controle de suas emoções eles obtêm (Folkman & Lazarus, 1988; Oliveira,
2009). Nicholls et al. (2006) concluíram que estratégias focadas no problema foram mais
eficazes no esporte, porém, quando os atletas percebem não haver mais solução ou perdem o
59

controle da situação, ou seja, quando a avaliação do estressor é de dano, eles utilizam estratégias
focadas na emoção para que possam se reestruturar emocionalmente.
No que se refere às estratégias evitavas (decisão de um indivíduo de se retirar de uma
tarefa estressante particular, ou se envolver em outra atividade), Anshel (1997) e Krohne (1996)
consideram que, no contexto esportivo, este tipo de estratégia não deva ser avaliado somente
com cunho negativo e chamam a atenção para a necessidade dos atletas em reduzir a
importância do estressor, ou se afastar do mesmo, física ou psicologicamente, na tentativa de
manter o foco de atenção para a tarefa em mãos. Outros estudos têm encontrado um padrão de
resultados semelhantes àqueles apontados na revisão de Nicholls et al. (2006), a saber: em
situações de estresse durante a competição, atletas utilizam mais estratégias focadas na
evitação; as estratégias focadas no problema estão associadas a melhores níveis de desempenho
(subjetivo ou objetivo); as mulheres utilizam mais de estratégias de busca de apoio social por
razões emocionais e os homens apresentam níveis mais elevados de estratégias focadas no
problema, embora estes resultados não sejam consensuais (Campen & Roberts, 2001; Crocker
& Graham, 1995; Dollen, Grove, & Pepping, 2015; Gaudreau, Nicholls, & Levy, 2010; Nicholls
et al., 2006; Nicholls, Holt, & James, 2005; Nicholls & Polman, 2007; Park,2000).
São raríssimos os estudos com árbitros e coping, uma exceção é o estudo inglês de
Wolfson e Neave (2007) com 42 árbitros (do sexo masculino) da Liga Inglesa, com qualificação
de pelo menos três anos. Com idade média de 40,04 (DP=3,83), 95% da amostra tinha um
emprego em tempo integral. A média de anos de experiência foi de 12,33 (DP = 5,50), variando
de 4 a 25 anos. Os árbitros investigados consideram os jogos ruins como moderadamente
estressantes, mas não desmotivam, sentem que os erros são benéficos para o desenvolvimento
profissional. Não ignoram seus erros, mas reconhecem que são raros e que no momento fizeram
o seu melhor. Os resultados demonstraram que os árbitros usam estratégias de Coping focadas
no problema que reduzem ou eliminam a natureza de estressores, porém 71% dos entrevistados
se sentiram fisicamente esgotados após os jogos.
Considerando que o Coping parece ser influenciado pela avaliação da controlabilidade
do estresse, e que traços de personalidade são moderadores da experiência e manejo do estresse
(Folkman & Moskowitz, 2000; Ribeiro & Rodrigues, 2004), alguns estudos têm buscado
verificar a associação entre estratégias de Coping e traços de personalidade, almejando
aumentar o poder preditivo de modelos de desempenho em situações variadas, e, também, no
Esporte (Carver, & Connor-Smith, 2010). Por exemplo, Allen, Greenlees e Jones (2011)
exploraram a relação entre as dimensões da personalidade descritas no modelo dos cinco
grandes fatores e o tipo de enfrentamento relacionado a grupos distintos de atletas. Avaliaram
60

253 atletas com idade média de 21,1 anos (DP=3,7), sendo 187 homens e 66 mulheres. Os
atletas competiam em 34 modalidades esportivas e em diferentes níveis de competição
(nacional, estadual ou internacional). Os autores apresentaram como resultado que atletas com
alta Extroversão utilizam mais estratégia focada no problema, o que é consistente com pesquisas
realizadas em populações não atléticas (Connor-Smith & Flachsbart, 2007).
Atletas com baixos níveis de abertura (Ab) ou níveis elevados de Neuroticismo (N)
relataram maior uso de estratégias de evitação de enfrentamento e emoção, assim como atletas
com alta Conscienciosidade (C) utilizam mais enfrentamento focado na emoção. Atletas que
apresentam melhor desempenho esportivo têm menores escores em N, e aqueles que competem
em esporte individual apresentam maior Conscienciosidade e Abertura, além de menor
Extroversão (E) e Neuroticismo. Em comparação com os homens, as mulheres relataram níveis
mais elevados de Neuroticismo, Amabilidade (Am) e Conscienciosidade. Analisando sob uma
perspectiva de interação entre as dimensões da personalidade, Allen et al., (2011) também
encontraram resultados em que os atletas com alta Extroversão, Abertura e baixo Neuroticismo
(um efeito de interação de três vias), relataram maior uso de estratégias de enfrentamento
focado no problema. Atletas que apresentam altos níveis de Extroversão, Abertura e
Amabilidade, relataram maior uso de estratégias de enfrentamento focada na emoção.
Vollrath e Torgersen (2000) também demonstraram que diferentes combinações de
traços poderiam prever mais estratégias de enfrentamento focado na emoção. Alta Extroversão
com alta Conscienciosidade, enfrentamento focalizado na emoção, enquanto as que combinam
alto Neuroticismo com baixa Conscienciosidade foram associados a menor enfrentamento
focado no problema. Outros autores sugeriram que os efeitos da interação entre Abertura e
Amabilidade também podem ser um determinante importante para o estresse e o Coping (Grant
& LanganFox, 2006; Røvik, Tyssen, Gude, Moum, Ekeberg, & Vaglum, 2007). Grant e
LanganFox (2006) encontraram uma interação importante entre alto N e baixa C na predição
de enfrentamentos disfuncionais, e também uma importante interação entre alto Neuroticismo
e baixa Amabilidade em predizer insatisfação na realização das atividades. Além disso,
Kaiseler, Polman e Nicholls (2012) constataram que os cinco fatores influenciam na avaliação
e controle do evento estressor, seleção da estratégia de coping e na eficácia da mesma. Seu
estudo contou com 482 atletas (masculino n = 305; feminino n = 177) e como resultado obteve
que Neuroticismo previu uma percepção de maior intensidade de estresse, menor controle e
eficácia das estratégias de Coping adotadas. Amabilidade previu a percepção de menor
intensidade do estressor, C previu maior controle do evento. Um Neuroticismo elevado utiliza
mais estratégias de Evitação e focadas na emoção e menos focadas no problema.
61

Conscienciosidade previu maior uso de coping focado no problema e apoio social. Am


apresentou maior uso de focada no Apoio Social tanto instrumental quanto emocional, E não
previu estratégias focadas no problema e sim no apoio social, Abertura não mostrou correlação
com as estratégias.
Ademais, conforme apontado anteriormente, alguns pesquisadores têm se dedicado a
entender a relação entre traços de personalidade e desempenho esportivo, visando testar uma
das três principais hipóteses consideradas para a relação entre características individuais e
desempenho, a saber: a Hipótese de Seleção em que características pessoais definem a escolha
pela modalidade e permanência no mesmo; Hipótese de Desenvolvimento em que o meio
esportivo transforma as características individuais e, por fim, a Hipótese de Interação em que
as duas primeiras interagem de forma recíproca (Cox, Shannon, Mcguire, & Mcbride, 2010;
Naveira & Ruiz, 2013; Wann, 1997; Weinberg & Gould, 2007, 2010).
Embora a capacidade cognitiva seja o indicador mais confiável e válido do desempenho
de trabalho em todas as ocupações (r = 0,53; Schmidt & Hunter, 1998), estudos e metanálise
indicaram que os traços de personalidade humanos, particularmente aqueles incluídos no
Modelo dos Cinco Grandes Fatores, também são altamente relacionados a desempenho
profissional (Barrick, Mount, & Juiz, 2001; Rothmann & Coetzer, 2003). A discussão atual é a
visão de que o comportamento dos atletas é melhor compreendido tendo em conta a interação
entre a pessoa e a situação, porém alguns pesquisadores argumentam que a personalidade "afeta
o desempenho acima das influencias do meio" (Aidman & Schofield, 2004, p. 28). Em resumo,
estas pesquisas sugerem que, mesmo controlando o potencial físico entre os atletas, tempo de
experiência e idade, em modalidades olímpicas ou paralímpicas e esportes individuais ou
coletivos, a Conscienciosidade é o melhor preditor e está mais frequentemente associado ao
desempenho (seja avaliado de forma subjetiva pelo técnico ou de forma objetiva); altos níveis
de extroversão e também abertura a experiências também têm sido associados a melhores
resultados esportivos, ao passo que altos níveis de Neuroticismo estariam associados a piores
resultados e a amabilidade parece não se associar ao desempenho na maioria dos estudos
(Aidman, 2007; Allen, Greenlees, & Jones, 2014; Jackson, Dimmock, Gucciardi, & Grove,
2010, 2011; Kaiseler, Polman, & Nicholls, 2012; Lopez & Santelices, 2011; Martin, Malone,
& Hilyer, 2011; Merritt & Tharp, 2013; Mirzaei, Nikbakhsh, & Sharififar, 2013; Piemonte,
Hill, & Blanco, 1999; Sayfollahpour, Ganjooee, & Nikbakhsh, 2013; Teshome, Mengistu, &
Beker, 2015).
Há pouco mais de uma década, o desempenho esportivo era analisado apenas por
aspectos fisiológicos, sendo a busca pela avaliação de aspectos psicológicos, motores,
62

cognitivos e outros integrados às Ciências do Esporte relativamente recente (Willians &


Hodges, 2005). Atualmente existe uma busca por um modelo preditivo de desempenho, porém
ainda existem aspectos que precisam ser melhor estudados para que se obtenha tal compreensão
(Masala, Sunje, Rado, & Bonacin,2009).
Especificamente sobre a arbitragem, o interesse científico pelas performances de
árbitros de futebol tem crescido substancialmente nas últimas duas décadas. Weston (2015)
coloca que antes de 1995, existiam dois artigos publicados em jornais internacionais revisados
sobre o tema, de 1995 a 2007, foram publicados 22 artigos (Castagna, Abt, & D'Ottavio, 2007).
Os árbitros de futebol dependem, assim como os atletas de alto rendimento, de seu desempenho
esportivo para atuarem e progredirem na carreira, porém os critérios de desempenho da
arbitragem ainda não são muito claros. É necessário homogeneizar os critérios e instrumentos
de avaliação do desempenho para que se categorize de forma consistente. (Gonzalez-Oya, 2004;
Helsen & Bultynck, 2004). Assim, pois, Weston (2015) destaca que se torna indispensável aliar
o estudo de aspectos físicos, técnicos e psicológicos para a avaliação do desempenho dos
árbitros.
Diante das evidências encontradas na literatura acerca das relações entre coping e
personalidade e entre personalidade e desempenho esportivo, mas considerando a escassez de
estudos que relacionem personalidade, coping e desempenho esportivo em árbitros de futebol,
o presente estudo teve por objetivo avaliar empiricamente quais as estratégias de coping são
mais utilizadas pelos árbitros participantes, e a relação entre as mesmas, as características de
personalidade e o desempenho esportivo em árbitros do futebol brasileiro.

4.2 Método

4.2.1 Participantes

Participaram desse estudo 225 árbitros de futebol (113 árbitros centrais e 110 árbitros
assistentes) com idades variando de 18 a 45 anos (M= 31,1 anos; DP=6,0), sendo 203 do sexo
masculino (90,2% da amostra). Desse total, 21,3% (n=48) são árbitros do estado do Ceará, 9,3%
(n=21) do Distrito Federal, 3,6% (n=08) do Maranhão, 46,2% (n=104) de Minas Gerais,12,4%
(n=28) de Pernambuco e 7,1% (n=16) do Piauí. Quanto ao grau de instrução 47,1% (n=112) da
amostra possui curso superior completo e 34,0% (n=81) nível médio completo ou superior
incompleto. A classificação socioeconômica está representada na amostra com 58,5% (n=131)
63

na classe B, seguida por 30,3% (n=68) na classe C e 10,7% (n=24) na classe A. A média de
tempo de experiência na arbitragem é de 6,7 anos (DP=5,6).

4.2.2 Instrumentos

Inventário de Estratégias de Coping (Ways of Coping Checklist-WCC): instrumento


desenvolvido por Folkman e Lazarus, em 1985, com o objetivo de avaliar estratégias de
enfrentamento utilizadas pelas pessoas diante de um evento estressor. Em 1996, foi validado no
Brasil por Savóia, Santana e Mejias (1996). É um questionário que contém 66 itens que
englobam pensamentos e ações que as pessoas utilizam para lidar com demandas internas ou
externas de um evento estressante específico. Os estudos demonstraram ser um instrumento
preciso e válido para o estudo de estratégias de coping, segundo os padrões comumente aceitos
pela psicometria. Em relação à adaptação para o Brasil, Savoia, Santana e Mejias (1996)
verificaram que os oito fatores explicaram 70,8% da variância, sendo que a maior parte dos itens
apresentou cargas fatoriais superiores a 0,3 nos respectivos fatores teóricos. Em relação à
precisão, foi empreendida análise teste-reteste, que apresentou correlações estatisticamente
significativas (p<0,001) entre os fatores variando de 0,4 a 0,7.

Inventário de Cinco Fatores NEO Revisado: NEO-FFI-R (Versão Curta) (Costa &
McCrae, 1985), adaptado para o Brasil por Flores-Mendoza et al. (2010). O NEO-FFI-R é a
versão curta da forma S do NEO PI-R, que é instrumento considerado padrão-ouro na avaliação
da personalidade. Contém 60 itens com informações sobre os cinco traços de personalidade
(Neuroticismo, Extroversão, Amabilidade, Conscienciosidade e Abertura a Experiências),
porém não contempla as facetas. Os itens são respondidos com base em uma escala do tipo
Likert de cinco pontos, sendo 1 discordo totalmente e 5 concordo totalmente. Seu uso deve se
restringir a situações nas quais o tempo de aplicação é limitado e se pretende levantar apenas
um panorama geral das dimensões.
Flores-Mendoza et al. (2010) submeteu o instrumento a análise exploratória, com rotação
Varimax, na qual os cinco fatores extraídos explicaram 34,49% da variância total. Quanto à
consistência interna, as cinco dimensões apresentaram Alfas de Cronbach entre aceitáveis e bons
(0,7<α>0,83). A amostra utilizada na versão curta foi a mesma da versão completa, o NEO PI-
R, e evidências de validade de critério foram obtidas por meio da correlação do instrumento e
informações obtidas em questionário sociodemográfico (idade, escolaridade, nível
socioeconômico, religiosidade, entre outras).
64

Questionário Sociodemográfico: foi elaborado especificamente para o presente estudo e


tem como objetivo caracterizar o participante no que se refere a aspectos sociais, econômicos e
profissionais. Composto por 16 questões que se dividem em identificação, estado civil,
escolaridade e profissão, classificação econômica baseada no Critério Brasil 2015 (Associação
Brasileira de Empresas de Pesquisa – ABEP) e aspectos relativos à arbitragem, como: anos de
experiência, testes físicos realizados, aprovações/reprovações, frequência de treinamento físico
semanal, local de treinamento físico, principais competições que participou e razões para ter
ingressado na arbitragem (Apêndice A).

Avaliação do Desempenho Esportivo: considerando que no Brasil não há uma avaliação


única e padronizada do desempenho esportivo a nível nacional e estadual, optou-se por elaborar
para o presente estudo uma classificação dos árbitros baseada na abrangência do campeonato
no qual atuam (estadual ou nacional), tempo de atuação, e avaliação geral do rendimento do
árbitro (que na nível nacional se encontra na Relação Nacional dos Árbitros de Futebol -
RENAF- em forma de nota individual, e a nível estadual se encontra nos relatórios enviados
pelos assessores que assistem os jogos, sendo o ano base estipulado o de 2015). Estes critérios
de rendimento foram elaborados pela autora do presente estudo, juntamente com o ao Sr.
Giulliano Bozzano (presidente da Federação Mineira de Futebol), ambos com extensa
experiência com arbitragem.
Determinou-se, então, quatro categorias:
- Categoria Ouro: foram categorizados nesse nível os árbitros atuantes há mais de um
ano em nível nacional;
- Categoria Prata: aqueles com até um ano de categoria nacional e aqueles que ocupam
nível mais elevado em suas federações estaduais;
- Categoria Bronze: árbitros que atuam exclusivamente em campeonatos estaduais e que
ocupam níveis médio e iniciante;
- Categoria Amador: árbitros não profissionalizados.
Os critérios elaborados foram então enviados às psicólogas responsáveis pela coleta dos
dados nos outros Estados para que classificassem os seus árbitros nessas quatro categorias. Esta
classificação dos árbitros dos outros Estados foi revisada pelos coordenadores da pesquisa. A
concordância entre as classificações foi maior do que 80%.

4.2.3 Procedimentos
65

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Minas Gerais
(CAAE 53351216.4.0000.5149). Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE, Apêndice B). O contato com a Federação Mineira de Futebol foi
estabelecido por meio da primeira autora desse artigo, que atua como psicóloga do esporte na
instituição. O contato com as demais federações (dos estados do Ceará, Distrito Federal,
Maranhão, Pernambuco e Piauí) foi feito também por meio das psicólogas do esporte atuantes
em cada instituição, que possibilitaram o acesso e anuência da presidência da comissão de
arbitragem local.
Em seguida, via Sedex 10, foram enviados às psicólogas os instrumentos, juntamente a
um documento com informações sobre a pesquisa e instruções de aplicação. Reuniões entre a
pesquisadora e as profissionais, via Skype (programa de chat com voz e vídeo), possibilitaram
o esclarecimento das dúvidas e reforço das instruções. No estado de Minas Gerais, as aplicações
foram conduzidas em Belo Horizonte, na sede da Federação Mineira de Futebol e no Centro de
Treinamento Esportivo da UFMG, por equipe de graduandos em psicologia orientados pela
pesquisadora responsável. Nos demais estados, as aplicações ocorreram nas sedes das
federações locais, também supervisionadas pelas psicólogas.
As aplicações dos instrumentos foram realizadas coletivamente e duraram cerca de 1
hora e 30 minutos. Logo após as aplicações, todo o material foi devolvido, via Sedex 10, pelas
psicólogas responsáveis pela coleta em cada estado. Ao final do estudo, os árbitros receberão
uma devolutiva, por meio de carta, com os principais resultados obtidos.

4.2.4 Análises dos Dados


Os dados obtidos foram tabulados e inicialmente submetidos a análises descritivas para
caracterização da amostra em relação a variáveis demográficas (sexo, idade, escolaridade, nível
socioeconômico) e ocupacionais (função exercida e tempo de atuação na arbitragem). Em
seguida, foram empreendidas diferentes análises a fim de verificar algumas propriedades
psicométricas do Inventário de Estratégias de Coping (Ways of Coping Checklist – WCC;
Lazarus & Folkman, 1985). Conduziu-se a Análise Fatorial Exploratória (AFE), com rotação
Varimax, a fim obter informações sobre a estrutura fatorial da escala. Verificou-se também a
confiabilidade do instrumento via análise de consistência interna (Alfa de Cronbach). A partir
dos fatores encontrados foram determinados os escores fatoriais dos árbitros no instrumento, via
método de regressão. A Análise Fatorial Exploratória (método de extração Maximum
Likelihood, com rotação Varimax) apontou para existência de 19 fatores com autovalores
maiores do que 1,00. A análise do gráfico de sedimentação sugeriu a redução para quatro fatores,
66

que explicaram juntos 26,85% da variância. Optou-se, assim, por tal solução, por ser mais
adequada às formulações teóricas do inventário descritas na literatura. Os fatores foram
nomeados: “Focado no Problema” (EFP), “Focado na Emoção” (EFE), “Focado na Evitação”
(EFEv) e “Focado no Apoio Social” (EFAS). Submetidos a análise da consistência interna os
fatores apresentaram alfas de Cronbach aceitáveis (α>0,7) à exceção de “Focado no Apoio
Social”, com um alfa questionável (α=0,69) (Zanon, & Filho, 2015). Informações detalhadas
sobre os procedimentos da AFE encontram-se no Apêndice C.
Os escores fatoriais possibilitaram, posteriormente, análises descritivas indicando a
frequência de cada tipo de estratégia na amostra. Também foram conduzidas análises de
correlação (de Pearson) entre os escores na escala de coping, a idade e o tempo de arbitragem
e comparação entre grupos (teste t), na qual os escores foram comparados em razão do sexo e
da função (árbitro central ou árbitro assistente). Análises de correlação também foram
empreendidas entre os escores de coping e os cinco fatores de personalidade (NEO-FFI-R), e
análises de regressão (linear múltipla, pelo método Stepwise) indicaram o poder preditivo da
personalidade em relação ao coping. Por fim, foram empreendidas análises de variância com o
intuito de verificar diferenças significativas entre as categorias de desempenho em relação ao
coping e à personalidade. Todas as análises foram realizadas utilizando o SPSS (versão 22).

4.3 Resultados

4.3.1 Análise de frequência e comparação entre grupos de árbitros quanto às estratégias mais
utilizadas
A partir da comparação numérica dos escores fatoriais obtidos por cada árbitro nos
quatro fatores do Inventário de Estratégias de Coping– Ways of Coping Checklist(WCC), os
mesmos foram categorizados pela estratégia na qual apresentaram maior escore. Em seguida
foram empreendidas análises de frequência, a fim de determinar o fator de coping mais
recorrente para este grupo de árbitros (Tabela 1).

Tabela 1.
Frequência e percentual de uso de cada grupo de estratégia de coping
Estratégia de Coping Frequência Absoluta Percentual
Focado no Problema (EFP) 62 25,9
Focado na Emoção (EFE) 57 23,8
67

Focado na Evitação (EFEv) 56 23,4


Focado no Apoio Social (EFAS) 64 26,8
Total 239 100

Não parece ter havido diferenças quanto à frequência de uso de cada conjunto de
estratégias na amostra estudada. Todas as estratégias foram igualmente utilizadas pelos árbitros.
Com relação ao uso de cada conjunto de estratégias de acordo com o gênero, foram
encontradas diferenças significativas no fator Estratégias Focadas na Evitação (t= -3,5; df=237;
p=0,001), na qual a média das mulheres foi inferior à dos homens. Tal diferença apresentou um
tamanho de efeito grande (d=-1,2). Quanto à função em campo, foram encontradas diferenças
significativas para a Estratégia Focada no Apoio Social (t=-2,4; df=237; p=0,017), tendo os
árbitros centrais um escore mais baixo comparado aos assistentes. Neste caso, o tamanho do
efeito foi pequeno (d=-0,3). Não foram encontradas correlações estatisticamente significativas
entre os quatro fatores de coping e as variáveis idade e tempo de arbitragem. Idade e tempo de
arbitragem apresentaram correlação de 0,72 (p<0,01; N=239).

4.4.2 Análises de correlação de Pearson e Regressão entre Coping e Personalidade


Todas as cinco dimensões de personalidade apresentaram correlações estatisticamente
significativas (p<0,001), mas de baixa magnitude, com o fator de coping Focado no Problema,
sendo que E, C, Ab e Am apresentaram correlações positivas e N negativa. A Estratégia Focada
na Emoção apresentou correlação positiva e estatisticamente significativa somente com N e
negativa com Conscienciosidade. Nenhuma dimensão de personalidade se correlacionou com
EFEv e Extroversão se correlacionou positivamente com EFAS. A Tabela 2 apresenta as
correlações entre as cinco dimensões de personalidade e as estratégias de coping.

Tabela 2.
Correlações entre as cinco dimensões de personalidade e as quatro estratégias de coping
Focado no Focado na Focado na Focado no
Problema Emoção Evitação Apoio Social
(EFP) (EFE) (EFEv) (EFAS)
Neuroticismo (N) -0,2** 0,35** 0,50 0,87
Extroversão (E) 0,27** -0,28 -0,55 0,15**
Abertura (Ab) 0,31** 0,14 -0,1 0,08
Amabilidade (Am) 0,15** -0,06 0,01 0,03
68

Conscienciosidade (C) 0,34** -0,21** 0,09 0,12


**p<0,001

Diante dos resultados da matriz de correlação, optou-se pela condução de analises de


regressão linear múltipla, a fim de verificar o poder preditivo das características de
personalidade dos árbitros em relação às estratégias de coping. Antes de proceder-se à análise
de regressão linear, verificou-se que o número de protocolos respondidos era suficiente para a
análise. Dancey e Reidy (2011) indicam que o tamanho amostral (N) deve ser superior ao valor
de 50+8m, no qual m é o número de variáveis independentes (VIs). Nesse caso, considerando
que cada regressão contará com 17 VIs, o tamanho amostral deveria ser superior a 186, o que é
verdadeiro (N=225).
Em seguida foram analisados os níveis de colinearidade entre as VIs, adotando-se o
índice de tolerância superior a 0,3 (Dancey & Reidy, 2011). Para cada análise também foi
avaliada a ausência de outliers, utilizando-se, para tanto, valores de distância de Cook inferiores
a 1,00. Cabe destacar que foram identificados índices de tolerância superiores a 0,3 nas
interações entre os fatores do NEO-FFI-R. Tais resultados foram compreendidos como
esperados, já que as interações são produto dos cinco fatores. Assim, procedeu-se a análise de
regressão, utilizando-se o método Stepwise, em que os quatro fatores de coping foram definidos
como variáveis dependentes e que trabalha literalmente passo a passo, ou seja em cada estágio
incluem-se um conjunto de variáveis. Inicialmente, foram controladas as variáveis, gênero,
idade e tempo de arbitragem por já apresentarem correlação com os construtos. No primeiro
passo foram incluídas como variáveis independentes somente as variáveis sociais, no segundo
passo foram incluídas também as dimensões de personalidade e finalmente no terceiro passo
incluiu-se também as interações entre as dimensões de personalidade. Inicialmente, verificou-
se que, à exceção dos resultados encontrados na regressão das Estratégias Focadas na Evitação
(EFEv), as variáveis idade, sexo e tempo de arbitragem não foram preditoras de estratégias de
coping.
Inicialmente, verificou-se que, à exceção dos resultados encontrados na regressão das
Estratégias Focadas na Evitação (EFEv), as variáveis idade, sexo e tempo de arbitragem não
foram preditoras do uso de determinado conjunto de estratégias de coping. Em relação à
Estratégia Focada no Problema, o modelo que se apresentou como melhor ajustado aos dados
(R2 ajustado=0,192), incluía a Conscienciosidade (β=0,279; p=0,000), abertura a experiências
(β=0,222; p=,001) e extroversão (β=0,149; p=0,020) como únicas VIs preditoras. Para a
69

Estratégia Focada na Emoção, a única variável independente preditora foi o Neuroticismo


(β=0,354; p=0,000) (R² ajustado=0,122).
Para a estratégia de Coping Focada na Evitação, as dimensões preditoras foram a
variável gênero (β=0,202; p=,003) e as interações entre as dimensões N x C (β=0,293; p=,004)
e N x Ab (β= -0,201; p=,050), esta última apresentando valor negativo. Não obstante, mesmo
este modelo incluindo estas três variáveis independentes explica uma pequena porcentagem da
variância da VD (R2 ajustado=0,059). Por fim, para o coping focado no Apoio Social (EFAS),
o modelo mais ajustado incluiu apenas Extroversão (β=0,172; p=0,010) e a interação entre as
dimensões N x C (β=0,173; p=0,010) como preditores significativos (R2 ajustado=0,42).

4.3.3 Diferenças entre categorias de desempenho nos traços de personalidade e estratégias de


Coping
Com o intuito de verificar a existência de diferenças estatisticamente significativas entre
os diferentes níveis de desempenho (amador, bronze, prata e ouro) em relação a características
de personalidade e estratégias de coping foram conduzidas análises multivariadas de variância
(MANOVA). A fim de controlar o efeito da idade e do tempo de arbitragem nos resultados, tais
variáveis também foram incluídas nas análises. Antes da condução do teste, verificou-se se os
dados apresentavam as condições necessárias de normalidade.
A distribuição dos árbitros nas quatro categorias mostrou-se desigual (Tabela 3), mas a
quantidade mínima de sujeitos por grupo (n=12) foi obedecida (Dancey & Reidy, 2011), assim
como a normalidade das variáveis dependentes (fatores do NEOFFI, escores fatoriais na escala
de coping, idade e tempo de arbitragem). Contudo, o valor do teste Box de M foi
estatisticamente significativo (p<0,001), o que indica que se deve rejeitar a hipótese nula de que
as matrizes de covariância da variável dependente são iguais entre os grupos desta (no nosso
caso, categorias de desempenho), o que torna impossível a realização da MANOVA.

Tabela 3.
Distribuição dos árbitros nas categorias de desempenho
Percentual
Categoria Frequência Percentual (%)
Acumulado (%)
Amador 28 12,4 12,4
Bronze 87 38,7 51,1
Prata 62 27,6 78,7
70

Ouro 48 21,3 100


Total 197 100 100

A partir da determinação do desvio da normalidade (via teste de Box de M),


empreendeu-se uma estatística não paramétrica de comparação entre grupos (Kruskal-Wallis).
Como resultados, foram encontradas diferenças estatisticamente significativas apenas para
idade (χ2=38,1; df=3; p<0,001) e tempo de arbitragem estadual (χ2=106,9; df=3; p<0,001). Não
foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre as categorias de desempenho,
para nenhuma das cinco dimensões de personalidade, tampouco para as quatro estratégias de
coping aqui incluídas.

4.4 Discussão

Este estudo objetivou levantar quais as estratégias de coping mais utilizadas pela
amostra de árbitros centrais e árbitros assistentes dos seis estados brasileiros avaliados (CE, DF,
MA, MG, PE, PI) e correlacioná-los com traços de personalidade e categorias de desempenho
esportivo.

No que se refere às estratégias de coping mais utilizadas pelos árbitros, foi realizada
uma comparação numérica dos escores fatoriais obtidos por cada árbitro nos quatro fatores do
Inventário de Estratégias de Coping – Ways of Coping – Checklist (WCC), sendo categorizados
pela estratégia na qual apresentaram maior escore. Em seguida foram empreendidas análises de
frequência, a fim de determinar o fator de coping mais recorrente, como resultado foi
apresentado que os árbitros desta amostra utilizam as quatro estratégias de forma bem uniforme,
apresentando um leve aumento para estratégia focada no Apoio Social, porém essa diferença
não se apresentou significativa. Segundo Nicholls et al. (2005), diferentes estratégias de
enfrentamento podem ser utilizadas simultaneamente para lidar com determinada situação
estressora, bem como o uso de uma estratégia em maior escala, o que não demonstra
necessariamente sinônimo de maior eficácia.

Louvet, Campo e André (2015) em seu estudo sobre coping em árbitros demonstram a
utilização das estratégias Focada no Problema, Focada na Emoção e Focada no Apoio Social
em níveis semelhantes (Brennan, 2001; Louvet, Gaudreau, Menaut, Genty, & Deneuve, 2009;
Voight, 2009; Wolfson & Neaves, 2007). Justificam o fato pela complexidade do processo que
alia fatores disposicionais e situacionais (Lázarus,1999). Provavelmente pela quantidade de
71

eventos estressores a que estão sujeitos, possam necessitar de um leque de opções mais
adequado a resolução de problemas em um curto espaço de tempo.
Outra justificativa para a distribuição da frequência de uso das estratégias de coping de
forma equivalente nesta amostra, talvez possa ir ao encontro do que preconizou Kowalski e
Crocker (2001) quando defendeu que os instrumentos utilizados para avaliação do coping não
são específicos para o esporte. Eles são criados para a população em geral e adaptados para o
esporte, porém a mudança na redação se dá no sentido de atender as análises das estruturas
fatoriais e não para se adequar as questões estressoras do esporte que são muitas, são peculiares
a cada especificidade esportiva, além de permearem todo o processo de alto rendimento, tanto
na busca da proficiência quanto na atuação em competições (Crocker, 1992; Grove, Eklund, &
Heard, 1997). As demandas exclusivas de esportes podem exigir tipos distintos de
enfrentamento. Ademais, Nicholls et al. (2007) argumentam que achados contrastantes podem
ser resultado de diferentes classificações de enfrentamento, pois além de existirem diversos e
variados tipos de enfrentamento, por vezes uma única estratégia pode ser classificada em mais
de um fator (Nicholls, Polman, Morley, &Taylor, 2009).

Quanto à correlação entre as estratégias de coping e a variável função, árbitros centrais


e árbitros assistentes, os segundos apresentaram níveis mais elevados de Estratégia focada no
Apoio Social. Apesar de não existir literatura a este respeito, a própria atuação dos mesmos
talvez possa explicar esta preferência, já que suas decisões estão sempre submetidas ao crivo
do árbitro central que é absoluto e independente. Esta escolha pela função em que dependam
da aprovação de terceiros, provavelmente os coloquem como pessoas mais abertas em relação
a opinião e aprovação do outro, ou seja, possivelmente utilizem esta estratégia quando
confrontados com eventos estressores, pois para eles além de ser uma situação recorrente, se
sentem mais seguros quando apoiados socialmente. Lazarus e Folkman (1984) identificam que
este enfrentamento reflete um comportamento de busca de apoio, seja instrumental ou
emocional, para solicitar e obter a assistência ou conforto para lidar com situações estressantes.
Sendo assim esta estratégia se traduz na melhor opção de sucesso na atuação esportiva dos
árbitros assistentes.

De maneira geral, estudos de coping em árbitros demonstram uma maior utilização de


estratégia focada no Apoio Social (Louvet et al. 2007; Wolfson & Neave, 2007). Por exemplo,
o estudo de Wolfson e Neave (2007), com árbitros ingleses, encontrou correlações significativas
entre o uso dos vários sistemas de apoio como procurar aconselhamento, participar de reuniões
e treinar com outros árbitros, o que facilitaria a troca de experiências e informações
72

construtivas. Esse apoio é susceptível de gerar sentimentos de identidade de grupo, onde é


possível serem reforçados pelo fato de compartilharem muitos pontos de vista e experiências,
já que socialmente não encontram muito respaldo de apoio.

Quanto às diferenças encontradas para as estratégias de coping e a variável gênero, em


que os árbitros do sexo masculino apresentaram maiores pontuações em foco na Evitação do
que as mulheres, a literatura científica não corrobora os resultados aqui encontrados. Em geral,
a literatura aponta que atletas do sexo feminino estão mais propensas a utilizar estratégia Focada
na Emoção e atletas do sexo masculino utilizam mais foco no problema (Anshel, Porter & Quek,
1998; Campen & Roberts, 2001; Goyen & Anshel, 1998; Hammermeister & Burton, 2004;
Madden, Kirkby, & McDonald, 1989; Yoo, 2001). No entanto, Crocker e Graham (1995) e
Kolt, Kirkby e Lindner (1995) relataram que não encontraram diferenças de gênero para foco
no problema, porém as atletas utilizaram mais foco no Apoio Social. Esta preferência por
estratégias focadas no Apoio Social foi apresentada também nos estudos de Campen e Roberts
(2001), Crocker e Graham (1995) e Philippe, Seiler & Mengisen (2004). Já Bebetsos e Antoniou
(2003) e Pensgaard, Roberts e Ursin (1999) não encontraram diferenças entre gêneros para
qualquer tipo de estratégia de enfrentamento. A utilização de estratégias focadas na Evitação
está associada a altos escores de Neuroticismo, Connor-Smith e Flachsbart (2007) mostram que
os atletas emocionalmente instáveis usam mais este tipo de estratégia, neste caso as mulheres
estariam mais propensas a utilização desta estratégia, já que possuem maior escore de
Neuroticismo que os homens. Estes resultados vão ao encontro da literatura que demonstrou
uma relação similar com a população geral.

Anshel et al. (1997) e Krohne (1996) defendem que no esporte pode-se pensar que foco
na Evitação se traduz em uma estratégia muito eficaz, principalmente para árbitros centrais que
não podem se apegar a um erro ou evento que tire o foco de sua atenção, pois fatalmente o
restante do jogo estaria contaminado, portanto é salutar que ele evite pensar ou sentir algo que
o desconcentre enquanto está em ação. Outra perspectiva sobre a utilização de EFEv é
defendida por Nicholls & Polman (2007). Estes autores afirmam ser esta uma estratégia
inadequada e menos desejável pelos atletas (que envolve o afastamento da situação
problemática).

Possivelmente os árbitros centrais usem do coping evitação com maior frequência, já


que possibilitam a continuação da atuação isenta, sem estarem impregnados de pensamentos e
sentimentos inadequados provocados por um evento estressor anterior, ou seja, esta estratégia
para um árbitro de futebol com a função de arbitro central parece ser altamente adaptativa,
73

essencial, já que possibilita a continuidade das tarefas a serem executadas sem perder a
concentração. Talvez possa explicar também esta relação de serem mais usadas em árbitros
homens já que a amostra de mulheres não é significativa para árbitros centrais e sim assistentes.

A análise de correlação entre as dimensões de personalidade e os fatores de coping


aponta para resultados diversos em relação à literatura internacional, alguns indo ao encontro
de achados anteriores, outros não. A estratégia Focada no Problema se correlacionou de forma
positiva e significativa com Conscienciosidade (C), Extroversão (E), Amabilidade (Am) e
Abertura a experiências (Ab). De forma negativa com Neuroticismo (N). Connor Smith e
Flachsbart (2007) realizaram uma metanálise com 165 amostras e 33.094 participantes, para
verificar a correlação entre o Big Five e coping. Encontraram Conscienciosidade, Extroversão
e Abertura correlacionados ao coping problema, no entanto, Vollrath e Torgersen (2000) e
Allen et al. (2011) só encontraram correlação para Extroversão. Quanto à correlação negativa
com N, Kaiseler et al. (2010), Allen et al. (2011), Connor Smith e Flachsbart (2007) também a
encontraram. A correlação significativa e positiva da Amabilidade com o coping Focado no
Problema não se confirma em outros estudos com atletas.
A correlação entre estratégia Focada na Emoção e as dimensões de personalidade
mostrou-se significativa e positiva para Neuroticismo assim como nos resultados descritos por
Kaiseler et al. (2010), Allen et al. (2011), Connor Smith e Flachsbart (2007), como também
apresentou um correlação inversa com Conscienciosidade, ou seja, quanto menor o
envolvimento com o desempenho em níveis de excelência, as metas, a organização, mais o
árbitro voltará para dentro quando confrontado com situações estressoras, Connor Smith e
Flachsbart (2007) associa a baixa Conscienciosidade a um coping emoção de cunho mais
negativo.
Para a estratégia Focada no Apoio Social, houve correlação positiva e significativa com
Extroversão, esta é uma correlação esperada (Connor Smith & Flachsbart, 2007), ou seja, atletas
que se relacionam bem com o outro e estão abertos para o meio social, além possuírem energia
positiva, provavelmente busquem resolver os conflitos procurando apoio social. Entretanto,
Carver e Connor-Smith (2009) apresentaram uma discussão a respeito do coping Focado no
Apoio Social, que pode ser entendido sob duas perspectivas, a saber: quando a busca de apoio
tem o objetivo de obtenção de apoio emocional e segurança, ou se o objetivo é obter
aconselhamento ou ajuda instrumental. Neste caso, os autores discutem a relação da primeira
situação com estratégias Focadas na Emoção, e se o objetivo que prevalece é o segundo, ele diz
da relação com o coping problema.
74

Quanto à predição dos fatores de coping pelas dimensões de personalidade, no que se


refere às estratégias focadas no problema, as dimensões Conscienciosidade, Abertura e
Extroversão emergiram como melhores preditores. Estudos confirmam a predição do foco no
problema por Conscienciosidade, Extroversão e Abertura (Kaiseler et al., 2012; Gould, Guinan,
Greenleaf, & Chung, 2002; Pensgaard & Duda, 2000). O coping voltado para o problema
consiste no enfrentamento em que a pessoa vai em busca de resolver o problema, ela parte para
a ação e traz implícito a pressa em resolver a questão impeditiva, a energia que impulsiona para
a ação. A questão central é resolver o problema em sua gênese logo, para voltar-se a atividade
necessária. São características impressas nesta amostra de árbitros. Atletas que possuem
características de alta Conscienciosidade almejam desempenhos exitosos e não medem esforços
para consegui-los, são persistentes e cumprem metas, portanto se eventos impeditivos
atrapalham, eles não titubeiam em removê-los, partem para a ação. Nesse sentido, alta
Conscienciosidade prediz foco no problema. A descoberta de que os atletas extrovertidos
(atletas com preferência por interações sociais e alta energia) usam um enfrentamento mais
focado no problema é consistente com a pesquisa realizada em populações não atléticas
(Connor-Smith & Flachsbart, 2007). Pessoas com alta Extroversão possuem energia positiva e
gostam de agir, de atuar, de desempenhar, e estas características se confirmam como preditores
de estratégias Focada no Problema. Uma alta Abertura traz uma vontade de se arriscar, não ter
medo do novo e partir em busca da ação, uma avaliação do estressor mais positiva também
predizem EFP.
Conforme já era esperado, a estratégia Focada na Emoção tiveram em Neuroticismo seu
melhor preditor e pode-se pensar em um cunho negativo permeando a situação, pois no
momento em que o atleta não consegue lidar com a avaliação de perda ou dano imposta pelo
estresse, ele volta para dentro de si, mas provavelmente não conseguirá resolver bem a questão,
pela própria característica que N confere, de insegurança e medo, que irão gerar sentimentos e
pensamento paralisantes e negativos que são impeditivos no esporte de alto rendimento. (Allen
et al. 2011, Carver & Connor-Smith,2010; Connor-Smith& Flachsbart, 2007). Outra dimensão
se correlacionou significativamente com o foco na emoção, só que de forma negativa, a
Conscienciosidade. Neste caso, a relação é inversa, pessoas que não almejam bom desempenho,
não são persistentes e organizadas maior a tendência a não conseguir lidar de forma positiva
com o evento estressor e consequentemente voltar-se para dentro, em busca talvez de uma
ressignificação do evento.
Para as estratégias Focadas na Evitação, encontrou-se como preditores a variável
gênero, o que justifica a maior utilização desta estratégia, pelos homens da amostra, ou seja, o
75

sexo neste caso já prediz o uso deste tipo de coping. Mais duas interações de dimensões de
personalidade, predizem o uso de estratégia Focada na Evitação, a combinação de N e C
positiva e a interação entre N e Ab, só que de forma negativa. No que se refere à interação entre
Neuroticismo e Conscienciosidade na predição de estratégia Focada na Evitação, tem-se que
para altos níveis de Neuroticismo a relação entre Conscienciosidade e estratégias focadas na
Evitação é mais forte, ao passo que para níveis baixos de Neuroticismo a relação entre
Conscienciosidade e estratégias evitativas é menor. Isso seria o mesmo que dizer que a
Conscienciosidade de um indivíduo com alto Neuroticismo, parece ser importante para se
compreender melhor sua escolha por estratégias de enfrentamento Evitação. Embora não haja
estudos suficientes que incluam a análise da interação entre as dimensões de personalidade para
predição das estratégias de coping, pode-se hipotetizar que um árbitro que possui alto
Neuroticismo sabe de sua incapacidade para lidar com situações estressoras, porém a alta
ansiedade que este traço propicia aliada à necessidade de manter as metas e obter desempenhos
em altos níveis (característicos de alta Conscienciosidade) faz com que ele prefira se esquivar
dos eventos desadaptativos para persistir em seu objetivo.
A interação entre N e Ab se dá de forma negativa, os coeficientes de regressão indicam
que níveis mais elevados de instabilidade emocional e níveis mais baixos de abertura
predispõem a mais comportamento de evitação (Allen et al., 2011). Os árbitros que possuem
baixo nível de Abertura, ou seja, são mais ortodoxos, procuram sempre a segurança do familiar,
e também são mais instáveis emocionalmente, são mais propensos a utilizarem EFEv.
Anshel et al. (1997) e Krohne (1996) defendem a eficiência da Evitação no esporte, pois
permite a não paralização de uma ação em virtude de pensamentos ou sentimentos
desadaptativos provocados por eventos estressores. No caso de árbitros centrais, possivelmente
deve ser utilizada com frequência, visto a necessidade de não se apegarem a um erro ou evento
que tire o foco de sua atenção, pois fatalmente o restante do jogo estaria contaminado, portanto
é salutar que ele evite pensar ou sentir algo que o desconcentre enquanto está em ação. Outra
perspectiva sobre a utilização de estratégia Focada na Evitação é defendida por Nicholls &
Polman (2007). Estes autores afirmam ser esta uma estratégia inadequada e menos desejável
pelos atletas (que envolve o afastamento da situação problemática).
Em seu estudo sobre árbitros de futebol ingleses, Wolfson e Neave (2007) identificaram
a culpabilização do outro e a distorção da realidade, como, por exemplo, ignorar informações
reais desagradáveis ou interpretar os seus motivos como justos e adequados, como EFEv
adotadas para manter a confiança em circunstancias difíceis. Allen et al. (2011) colocam que
atletas menos abertos a novas experiências são mais propensos a utilizarem EFEv. Isso difere
76

da pesquisa em populações não atléticas onde a Abertura tende a não estar relacionada ao
comportamento de evitação (Carver & Connor-Smith, 2010). No entanto, parece razoável que
os atletas que possuem baixa Abertura enfrentariam o estresse tentando evitar

Por fim o quarto fator, estratégia Focada no Apoio Social, apresentou como preditora a
dimensão Extroversão, o que parece ser coerente, pois pessoas com facilidade para se
relacionarem e que gostam de estar acompanhadas, possivelmente irão preferir resolver seus
problemas apoiando-se em terceiros. Uma interação significativa e positiva entre N e C também
se apresentou como preditora de EFAS. Segundo Carver e Connor-Smith (2009), esta estratégia
comporta dois tipos de apoio, um apoio mais emocional, no caso de alto N e um apoio mais
operacional, em caso de alta Conscienciosidade. esta interação predispõe o uso elevado de
estratégias focadas no apoio, sendo qual for o objetivo devido a interação das dimensões. Esta
perspectiva é pertinente no contexto da arbitragem. A grande exposição negativa da classe e o
pouco apoio social que recebem, ocasionaria a busca de um apoio social de parentes e amigos
no sentido emocional, de busca de segurança. A segunda hipótese seria a busca do apoio social
instrumental, em que ele procura se munir de informações que possam auxiliá-lo no
enfrentamento das situações e mesmo evitar que ocorram erros similares no futuro.

Este estudo almejou ainda verificar a associação entre traços de personalidade e


estratégias de coping no que concerne ao desempenho esportivo. Os resultados encontrados
apontaram para diferenças significativas entre as categorias de desempenho apenas para a idade
e o tempo de arbitragem. Ao contrário do que hipotetizava-se, nenhuma das dimensões de
personalidade, tampouco as estratégias de coping mostraram diferir entre as categorias de
desempenho aqui consideradas. No que concerne à idade e à experiência, parece lógico pensar
que quanto mais idade, maior o tempo de experiência na arbitragem e, por conseguinte, melhor
o desempenho esportivo. As pesquisas não são unânimes quanto a correlação do tempo de
experiência do árbitro e o desempenho esportivo, Gimeno (1997), Gimeno et al. (1998), Guillén
e Jiménez (2001), Marrero et al. (2003) e Tenenbaum et al. (1993) concordam que o tempo de
arbitragem se correlaciona com o desempenho. Outros estudos encontram correlações opostas
(Alonso-Arbiol et al., 2003; Guillén et al., 1999; Segura et al., 1999; Tabernero & Márquez,
1999). É necessário homogeneizar os critérios e instrumentos de avaliação do desempenho para
que se categorize de forma consistente (Gonzalez-Oya, 2004; Helsen & Bultynck, 2004).

As fracas medidas de desempenho ainda são em grande parte responsáveis por estudos
apresentarem resultados tão inconsistentes, porém muitos estudos colocam o tempo de prática
esportiva como índice de desempenho (Williams & Hodges, 2005). Tucker e Collins (2012) e
77

Ward et al., (2004) preconizam que o treinamento assim como a experiência, o tempo de prática,
o conhecimento do jogo e o desejo de excelência são medidas de desempenho.
Helsen e Bultink, (2004) destacam que ao avaliar o desempenho esportivo em árbitros
de futebol, não se encontram resultados consistentes o que pode estar relacionado às diferenças
substanciais na metodologia dos autores, aos diferentes padrões competitivos dos árbitros e
jogadores e aos diferentes estilos de jogos. Adverte ainda que devem-se analisar as medidas
antropométricas, a aptidão física, as demandas perceptivas e cognitivas, pois todos estes
aspectos e suas diferenças também influenciam o desempenho dos árbitros. Conclui também
que os árbitros centrais passam a maior parte de sua atuação com categorias máximas de esforço
e de alta intensidade, enquanto árbitros assistentes executam principalmente de média a baixa
intensidade.

4.6 Conclusão

O presente estudo procurou contribuir com a escassa literatura sobre aspectos


psicológicos que permeiam o desempenho esportivo de árbitros de futebol brasileiros. Um dos
resultados apresentados no artigo diz respeito a utilização das estratégias de coping pela amostra
apresentada. Utilizar as quatro estratégias de forma semelhante é um resultado que não é
compartilhado por atletas de alto rendimento em geral, apesar de estudos que vinculam
estratégias de coping e atletas de alto rendimento serem ainda iniciantes, mas estudos com
árbitros europeus afirmam que os mesmos utilizam EFP, EFE e EFAS de forma equivalente.
Autores atribuem os resultados inconsistentes às especificidades das modalidades, ao tipo de
instrumento inadequado ou a falta de rigor na metodologia do estudo.
As correlações entre as dimensões de personalidade e os fatores de coping, além da
predição dos construtos, apontam para a importância de se estudar mais esta relação, que se
mostrou significativa. Uma má atuação da arbitragem pode modificar o resultado de um jogo,
além de acabar com a carreira de um jovem promissor, entender a dinâmica psicológica dos
mesmos já é um primeiro passo na busca de um modelo de atuação para que a psicologia do
esporte possa auxiliá-los de forma mais eficaz quanto ao enfrentamento do estresse.
Sabe-se que desempenho esportivo é multifatorial e sujeito a intervenções situacionais
durante todo a atividade esportiva, talvez por isso a dificuldade para encontrar uma medida real
do mesmo. O desempenho esportivo da categoria não apresentou critérios bem definidos para
que se pudesse categorizar os árbitros em níveis diferentes de desempenho. A liberdade que
cada Federação possui para avaliar seus árbitros de acordo com sua proposta, e o viés da
78

avaliação nacional, onde os árbitros são avaliados por outras pessoas diretamente envolvidas
com os mesmos, aumentando a subjetividade na avaliação do rendimento, mesmo possuindo
diretrizes gerais, justificaria, em parte, a não concretização das hipóteses que sobre a predição
do desempenho esportivo da amostra.
Sugere-se novos estudos para ampliar a busca da relação entre os construtos, ou mesmo
a criação de um instrumento para avaliação do coping válido para o contexto esportivo. É
necessária a criação de critérios mais definidos para se medir o desempenho esportivo.

4.6 Referências

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84

5. Conclusão Geral
Este estudo apresentou resultados importantes para a área da psicologia do esporte e
especialmente para a psicologia do esporte aplicada à arbitragem. Um achado importante diz
respeito à semelhança do perfil de personalidade dos árbitros com o perfil de atletas de alto
rendimento, trazendo evidencias do pertencimento do mesmo a classe de esportistas. Espera-se
com isto contribuir para uma maior valorização da classe no contexto esportivo.

Outra contribuição da pesquisa diz respeito a “Hipótese de Seleção” que permeia o meio
esportivo quando se diz de habilidades psicológicas. Os resultados apresentados contribuem
para a verificação da estabilidade dos traços em relação ao tempo de experiência, ou seja, o
tempo de pratica não trouxe mudanças no perfil da amostra. Isto justifica a convicção de que as
diferenças individuais são importantes norteadoras na seleção da modalidade e permanência no
processo de formação de um atleta, certamente considerando-se que os fatores ambientais são
essenciais para modulação da expressão de cada uma das características individuais.

Outra contribuição importante foi a constatação da relação preditiva das dimensões de


personalidade e suas interações em relação às estratégias de coping. Conforme hipotetizado, o
uso, em maior ou menor grau, de estratégias de coping que possam se mostrar mais adaptativas
parece estar associado também às características de personalidade. No entanto, não foi possível
se chegar a um modelo preditivo do desempenho esportivo que incluísse tanto as características
de personalidade quanto as estratégias de coping, um dos objetivos centrais do presente.
Embora não tendo sido possível avaliar o desempenho esportivo de maneira mais objetiva e
pautada em critérios mais claros e padronizados por limitações do sistema nacional e estadual
de arbitragem e também metodológicas deste estudo, acredita-se que o presente trabalho
possibilitará a emergência de futuras pesquisas com os construtos considerados que possam
superar as limitações aqui apresentadas e contribuir ainda mais para a compreensão dos
processos psicológicos relacionados ao alto desempenho, quer para atletas de forma geral, quer
para a arbitragem brasileira.
85

APÊNDICE C - Análise psicométrica do Inventário de Estratégias de Coping (Ways of


Coping Checklist - WCC)

A Análise fatorial exploratória (AFE) foi aplicada aos 66 itens da WCC que foram
respondidos adequadamente por 286 participantes. O teste de esfericidade Kaiser-Meyer-Olkin
(KMO) e Bartlett apontou índice bastante aceitável de 0, 799 (p=0,000), indicando a
possibilidade de fatoração dos dados a (Hair, Anderson, Tatham, & Black, 2005). Para tanto
utilizou-se o método de extração Maximum Likelihood, com intuito de buscar maior
verossimilhança entre os dados aqui estudados e a distribuição normal (Hair, et al., 2005). O
método mostrou a existência de 19 fatores com eigenvalues (autovalores) maiores ou iguais a
1,00, com um total de variância explicada de 49,4%. Observa-se, contudo, através do gráfico de
sedimentação (Scree Plot), que existem três fatores fortes em linha vertical e, a partir do quarto
fator, o início de uma linha em sentido horizontal, a partir do qual a porcentagem de variância
explicada por um traço latente individual diminui consideravelmente (ver Figura 1).

Figura 1. Gráfico de sedimentação do Inventário de Estratégias de Coping

Assim sendo, decidiu-se fazer a rotação Varimax, uma vez que o método permite a
identificação de traços claramente separados (Hair et al., 2005). Nessa nova análise solicitou-
se a extração de quatro fatores, segundo resultado apontado pelo gráfico de sedimentação. A
Tabela 5 apresenta a saída fatorial rodada com quatro componentes dos quais são mostrados
somente as cargas fatoriais acima de 0,30. O valor utilizado como ponto de corte garante um
mínimo de associação entre item do instrumento e o fator encontrado (Dancey & Reidy, 2011).
86

O fator 1 possui autovalor 7,04 e explica 10,67% da variância, o fator 2 possui autovalor de 5,0
e explica 7,58% da variância, o terceiro fator possui autovalor de 3,32 e explica 5,0% da
variância dos dados e o quatro e último fator possui autovalor de 2,38e explica 3,60% da
variância. Assim, os quatro fatores explicam juntos 26,85% da variância dos dados.

Tabela 5. Cargas fatoriais dos itens do Inventário de Estratégias de Coping


Itens Fatores
1 2 3 4
1 - Concentrei-me no que deveria ser feito em 0,425
seguida, no próximo passo
2 - Tentei analisar o problema para entendê-lo 0,423
melhor
5 - Procurei tirar alguma vantagem da situação 0,33
15 - Procurei encontrar o lado bom da situação 0,521
19 - Disse coisas a mim mesmo (a) que me 0,335
ajudassem a me sentir melhor
20 - O problema me inspirou a fazer algo criativo 0,61
23 - Mudei ou cresci como pessoa de uma maneira 0,597
positiva
26 - Fiz um plano de ação e o segui 0,702
27 - Tirei o melhor da situação, o que não era 0,646
esperado
30 - Saí da experiência melhor do que quando 0,638
entrei
31 - Falei com alguém que poderia fazer alguma 0,442
coisa concreta sobre o problema
34 - Enfrentei como um grande desafio, fiz algo 0,401
muito arriscado
35 - Procurei não fazer nada apressadamente, ou 0,416
seguir o meu primeiro impulso
39 - Modifiquei aspectos da situação para que 0,576
tudo desse certo no final
46 - Recusei recuar e batalhei pelo que eu queria 0,565
48 - Busquei nas experiências passadas uma 0,452
situação similar
49 - Eu sabia o que deveria ser feito, portanto 0,65
dobrei meus esforços para fazer o que fosse
necessário
52 - Encontrei algumas soluções diferentes para o 0,468
problema
62 - Analisei mentalmente o que fazer o que dizer 0,525
63 - Pensei em uma pessoa que admiro e a tomei 0,469
como modelo
64 - Procurei ver as coisas sob o ponto de vista da 0,40 0,367
outra pessoa
66 - Corri, ou fiz exercícios 0,388
9 - Critiquei-me, repreendi-me 0,471
87

14 - Procurei guardar para mim mesmo(a) os 0,322


meus sentimentos
25 - Desculpei ou fiz alguma para repor os danos 0,369
29 - Compreendi que o problema foi provocado 0,466
por mim
33 -Procurei me sentir melhor, comendo, 0,333
fumando, utilizando drogas ou medicação
40 - Procurei fugir das pessoas em geral 0,401
47 - Descontei minha raiva em outra(s) pessoa(s) 0,349
50 - Recusei acreditar que aquilo estava 0,439 0,344
acontecendo
51 - Prometi a mim mesmo que as coisas serão 0,61
diferentes da próxima vez
55 - Gostaria de poder mudar o que tinha 0,449 0,345
acontecido ou como me senti
56 - Mudei alguma coisa em mim, modifiquei-me 0,35 0,485
de alguma forma
57 - Sonhava acordado (a) ou imaginava um lugar 0,518 0,319
ou tempo melhores do que aqueles em que eu
estava
58 - Desejei que a situação acabasse ou que de 0,536 0,317
alguma forma desaparecesse
59 - Tinha fantasias de como as coisas iriam 0,544
acontecer, como se encaminhariam
61 - Preparei-me para o pior 0,481
65 - Eu disse a mim mesmo (a) que as coisas 0,524
poderiam ter sido piores
4 - Deixei o tempo passar, a melhor coisa que 0,602
poderia fazer era esperar, o tempo é o melhor
remédio
6 - Fiz alguma coisa que acreditava não daria 0,365
resultados, mas ao menos estava fazendo alguma
coisa
12 - Concordei com meu destino, talvez eu tenha 0,341 0,351
dado azar
13 - Fiz como se nada tivesse acontecido 0,405
21 - Tentei esquecer todo o problema 0,629
24 - Esperei para ver o que acontecia antes de 0,505
fazer alguma coisa
41 - Não deixei me impressionar, recusava-me a 0,302 0,410
pensar muito sobre essa situação
44 - Minimizei a situação recusando-me a me 0,481
preocupar seriamente com ela
53 - Aceitei. Nada poderia ser feito 0,412
8 - Conversei com outra(s) pessoa(s) sobre o 0,357
problema, procurando mais dados sobre a
situação
18 - Aceitei a solidariedade e compreensão das 0,36 0,383
pessoas
88

42 - Procurei um amigo ou parente para pedir 0,597


conselhos
45 - Falei com alguém sobre como estava me 0,609
sentindo
3 - Procurei trabalhar ou fazer alguma atividade
para me distrair
10 - Tentei não fazer nada que fosse irreversível,
procurando deixar outras opções*
11 - Esperei que um milagre acontecesse*
16 - Dormi mais que o normal*
17 - Mostrei a raiva para as pessoas que causaram
o problema*
22 - Procurei ajuda profissional*
28 - De alguma forma extravasei os meus
sentimentos
32 - Tentei descansar, tirar férias a fim de
esquecer o problema*
36 - Encontrei novas crenças*
37 - Mantive meu orgulho não demonstrando os
meus sentimentos*
38 - Redescobri o que é importante na vida*
43 - Não deixei que os outros soubessem da
verdadeira situação*
7 - Tentei encontrar a pessoa responsável para
mudar suas ideias. *
54 - Procurei não deixar que meus sentimentos
interferissem muito nas outras coisas que eu
estava fazendo*
60 – Rezei*
*Itens que não apresentaram cargas fatoriais≥0,3

O primeiro fator tem 22 itens com cargas acima de 0,30 e de uma maneira mais geral
reflete um tipo de enfrentamento mais ativo que vai em busca da resolução do problema que
aflige, inclui comportamentos de autocontrole, reavaliação positiva, direcionados a metas e a
busca por outros meios de resolver o problema ou entendê-lo. Optou-se, portanto, por chamar
este fator de coping “Focado no Problema” (EFP). Quando comparado ao estudo de adaptação
para o Brasil (Savóia, Santana, & Mejias, 1996), verifica-se que EFP agrega itens dos fatores de
“Reavaliação Positiva” (Itens 23, 30, 39 e 63), “Aceitação de Responsabilidade” (15, 48 e 62),
“Resolução de Problemas” (1 e 26), “Autocontrole” (15 e 35), “Suporte Social” (31), e
“Confronto” (34), além de dez itens que não foram encontrados nos resultados de Savóia et al.
(1996).
O segundo fator agrupa 16 itens e foi denominado de “Focado na Emoção” (EFE),
agrupando estratégias que envolvem esforços internos para lidar com a situação estressora, seja
89

mudando o significado da situação ou fantasiando como se ela não tivesse ocorrido, seja
reconhecendo sua contribuição para o evento. Dentre os itens, alguns originalmente carregaram
nos fatores “Aceitação de Responsabilidade” (9, 25, 29 e 51), “Fuga-esquiva” (58 e 59),
“Confronto” (40 e 47) e “Reavaliação Positiva” (56). Seis itens desse fator não foram
encontrados no estudo de adaptação (Savóia et al., 1996).
Nove itens compuseram o terceiro fator, denominado aqui de “Evitação” (EFEv),
compreendendo os esforços do indivíduo para evitar o contato com a situação, seja no âmbito
externo ou interno. Cinco dos nove itens desse fator estão relacionados ao fator original
“Afastamento”, sendo que os quatro restantes não carregaram em nenhum fator na análise de
Savóia et al. (1996).
O quarto e último fator, “Apoio Social” (EFAS), apresenta quatro estratégias (Itens 8,
18, 42, 45) nas quais a solução do problema encontra-se em outra pessoa, que pode fornecer
apoio emocional ou informações sobre o problema. Tanto no estudo original (Lazarus &
Folkman, 1985) quanto na adaptação brasileira (Savóia, Santana, & Mejias, 1996), os itens
acima compuseram o fator “Suporte Social”, agregados aos itens 31 (“Falei com alguém que
poderia fazer alguma coisa concreta sobre o problema”) e 22 (“Procurei ajuda profissional”).
O primeiro item carregou no fator FP e o segundo não apresentou carga fatorial superior
a 0,3 em nenhum fator. Por fim, é importante destacar que, do total de 66 itens, 15 não
apresentaram cargas fatoriais iguais ou superiores a 0,3, indicando que podem não ser bons
representantes de estratégias de coping na amostra investigada.

Consistência interna

Procedeu-se a análise de consistência interna por meio do Alpha de Cronbach. A análise


de todos os 66 itens mostrou um índice altamente fidedigno (α=0,909). Contudo, como visto no
estudo de validade, nem todos os itens do instrumento se mostraram adequados e a escala possui
quatro traços latentes. Assim sendo, aplicou-se a análise de confiabilidade das quatro subescalas
geradas pela análise fatorial, eliminando da análise os itens que não carregaram adequadamente
em seu fator ou tiveram cargas inferiores a 0,30. Na Tabela 6 encontram-se os índices de
consistência internados quatro fatores da escala.

Tabela 6.
Alfa de Cronbach das quatro subescalas do Inventário de Estratégias de Coping
90

Subescalas α
Focado no Problema (EFP) 0,878
Focado na Emoção (EFE) 0,828
Evitação (EFEv) 0,732
Apoio Social (EFAS) 0,689

De acordo com Zanon e Filho (2015), apenas uma subescala (EFAS) apresenta
coeficiente alfa questionável (0,69< α>0,6). Tal valor reduzido pode se dever ao fato de que a
subescala é composta por um menor número de itens (quatro). A subescala EFP e a subescala
EFEv têm bons níveis de consistência e a subescala EFEv tem um nível considerado aceitável,
acima de 0,70. Por fim, pode-se afirmar que a escala de coping apresenta evidências de validade
e precisão para a amostra de árbitros. Assim sendo, permite-se realizar as posteriores análises
desta pesquisa.

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