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A LEI E A GRAÇA

Rm 13.

Leia o texto a seguir.


Faça-o com calma.
Depois eu volto fazendo alguns comentários.
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Toda pessoa esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as que
existem foram ordenadas por Deus.
Por isso quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a punição.
Porque os magistrados não são motivo de temor para os que fazem o bem, mas para os que fazem o mal.
Queres tu, pois, não temer a autoridade?
Faze o bem, e terás louvor dela; porquanto ela é ministro de Deus para teu bem.
Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador em ira contra
aquele que pratica o mal.
Pelo que é necessário que lhe estejais sujeitos às autoridades, não por causa do temor, mas também por causa da
consciência.
Por esta razão também pagais tributo; porque são ministros de Deus, para atenderem a isso mesmo.
Dai a cada um o que lhe é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem
honra, honra.
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Paulo aqui fala da Lei do Estado.


Ele falara o tempo todo de como a Lei morrera em Cristo.
Agora ele manda obedecer as autoridades que se incumbem de fazer vingar a lei e a ordem.
Do que ele está falando?
Bem, nos últimos trinta anos eu falei demais a esse respeito. Escrevi até mesmo um livro que se estende
razoavelmente sobre o tema: A Bíblia e o Impeachment.
Hoje, aqui, quero apenas falar algo bem mais simples.
Paulo nos diz que a lei acabou apenas para quem tem consciência.
Por isto ele completa dizendo:

A ninguém devais coisa alguma, senão o amor recíproco; pois quem ama ao próximo tem cumprido a lei.
Com efeito, todos os mandamentos numa palavra se resumem: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.
O amor não faz mal ao próximo. De modo que o amor é o cumprimento da lei.

Quem tem consciência não precisa nem mesmo pensar na lei, pois, a consciência no amor, coloca a pessoa
naturalmente no caminho mais excelente do que a lei pode almejar que seja alcançado por qualquer ser humano. Mas
saiba-se: este milagre só inicia seu processo como obra do Espírito Santo, quando nos deixa cônscios da Graça de
Deus!

Numa cruz morria um ladrão que se arrependeu e foi salvo; mas a despeito disto, morreu sob a lei.
Se não há Graça no coração, tem que haver a Lei para a não-consciência; para o ser entorpecido para o próximo.

Desde o início que a Palavra de Deus deixa isto muito claro.


Daí os mandamentos do Antigo Testamento preverem até mesmo a morte como pena para algumas transgressões.
E por que?
Porque o salário do pecado é a morte. E, a lei demonstra isso de modo grotesco, quando executa o criminoso.

Assim, a Bíblia nos diz duas coisas:


1. A consciência que vem do amor, prescinde da Lei, porque o amor é em si a expressão daquilo que nem a Lei almeja
alcançar.
2. A única outra linguagem que os seres humanos entendem, se não discernem a língua da Graça, é a comunicação
que vem da Lei.

Ora, isto nos faz ver que nenhum Estado Organizado vai a lugar algum sem que se imponha como autoridade legal.

Não pode abusar exacerbando suas prerrogativas—que são de justiça—; e nem pode abusar não exercendo as
mesmas prerrogativas.

No primeiro caso, gera a tirania.


No segundo, faz surgir anarquia, violência, desrespeito, a toda sorte de coisas ruins para a vida humana; tanto social,
quanto coletivamente falando.
Estado de Graça somente aquele que o reino de Deus faz surgir, sem visível aparência, nos coração.

O Estado Legal não pode jamais se transformar num Estado de Graça. Não neste mundo caído. Pois, caso tente assim
ser, instituirá a perversidade e a frouxidão, gerando o total desvalor da vida.

Daí, os cristãos que desejam tomar o poder estarem totalmente equivocados quando pensam que um Estado Cheio de
Crentes poderia existir para cumprir a Lei de Cristo.

A Lei de Cristo é a Lei da Graça e da Vida. É aquela que levou o ladrão condenado a morte direto para o paraíso.

A Lei do Estado tem que ser a Lei da Justiça, e que pode chegar até mesmo a decidir pela morte. Essa é aquela lei
que executou o ladrão que ia para o paraíso.

Assim, acaba-se a crise entre o que o Estado deve fazer e o que os cristãos devem pregar.

O Estado prega a Lei.


Os cristãos deveriam pregar a vivencia de algo tão maior que a Lei, que a fizesse sentir-se de calças curtas, no Jardim
da Infância do Monte Sinai.

Essa é a justiça que excede a dos escribas e fariseus.


E por meio dela ninguém também é salvo. Mas todos os que creram, foi para ela que foram a seguir apresentados.

Pela Graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se
glorie. Pois somos feitura Dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para
que andássemos nelas.

Essa é a Palavra da Graça para os que são cidadãos do Reino no meio do Estado da Lei.

Caio

15/03/2003

Acabo de assistir no Discovery Channel a um documentário sobre a tomada de Edessa pelos cristãos no tempo dos
Cruzados.

O grito cristão era: Contra os Inimigos da Cruz!—fazendo referencia aos mulçumanos.

E me choquei...sempre me choco.

Inimigos da Cruz de Cristo é uma frase horrivelmente comovente aos sentidos dos religiosos cristãos.

Dá um sentido de cruzada mesmo.

As cruzadas entraram na alma da “igreja” de uma maneira definitiva.


Sempre tem uma cruzada.

Até o nome diz o que a coisa era.

Para defender a Cruz de Cristo só mesmo cruzada neles.

Assim, os inimigos da Cruz de Cristo se tornaram os pagãos, os diferentes e os inaceitáveis.

A questão é:

Quem eram os inimigos da Cruz de Cristo aos quais Paulo fazia referencia?

Certamente que se você pegar as cartas dele—e esse trabalho eu já tive para mim há muito tempo, agora, deixo para
você mesmo a certificação—e as ler com conhecimento mínimo dos contextos históricos; ou seja: do que estava
acontecendo em Jerusalém, nos movimentos anticristãos do judaísmo e dos movimentos de cristãos judaizantes; se
souber sobre costumes, comportamentos e significados psicológicos e culturais de muitas coisas mencionadas com o
“uso de palavras” e que, muitas vezes, hoje nem mais representam aquilo a que um dia designaram; e também tiver
idéia do que diziam os filósofos da época e quais eram os movimentos do capital econômico e de quais eram as forças
políticas na ocasião...Então, a percepção das coisas que Paulo diz ficam muito mais claras.
No entanto, há mais do que isto...

Mesmo sem saber de nada disso, se você é sensível para o Espírito, você sente que há um espírito que liga e amarra
todas as coisas: o espírito da graça de Deus em Cristo.

É assim que Paulo via.

Era o seu mundo que via.

Até os apocalipses de Paulo são certezas em fé, não visões.

Quando você lê a Paulo com esses olhos e com o coração que não esquece de duas outras coisas pelo menos—que
ali havia um homem, com todas as ambigüidades e ambivalências de um homem; e que ali havia a inspiração divina
num coração para quem a Graça não tinha limites—então, tudo se ilumina.

Desse ponto em diante você vê que para Paulo o inimigo da Cruz de Cristo jamais seria o sacerdote pagão—aliás, nos
dias dele havia aos milhares, mas ele não fala quase nada do assunto—, mas sempre aquele que tentava duas coisas:
fazer-se representante de Deus (como os judeus fanáticos e os cristãos judaizantes) e reduzir as conquistas da Cruz
aos condicionantes da lei, dos costumes e dos sistemas de auto-justificação ou mesmo auto-santificação humanos.

Assim, para Paulo, voltando ao documentário do Discovery Channel, o inimigo da Cruz de Cristo não eram os
mulçumanos contra os quais os Cruzados se lançavam com fúria religiosamente assassina e devota, mas eles mesmos
e, sobretudo, aqueles que em suas mentes haviam feito o signo supremo da Graça se transformar numa devoção ao
ideal religioso-político de conquista.

Com esse espírito, como você acha que Paulo enxergaria a história do
Cristianismo e também aquilo que em nome de Jesus foi feito e é feito em nossos dias?

Cuidado, ver a vida com os olhos de Paulo pode ser terrivelmente subversivo.

Daí ele ter sido tão perseguido pelos legalistas—tantos entre os judeus como entre os falsos irmãos.

NAVALHAS DA GLÓRIA
 
Paulo disse que deveríamos nos gloriar na esperança da
glória de Deus, e, também, nas próprias tribulações,
sabendo nós do bem, do poder de forjamento e de
produtividade espiritual e de caráter de fé, que o triturador
de vaidades e de falsas importâncias que a
tribulação/provação gera como beneficio para o ser.
De fato Paulo estava nos apresentando a experiência
das navalhas da glória.
O forjamento de um ser humano glorioso, em um mundo
de ilusões, só pode ser feito [sem o poder da amargura
filosófica], pela via das navalhas da glória, que são as
tribulações desmontadoras das fábricas de ilusões; e que
apenas adocicam o ser e o iluminam com a alegria da
verdade/realidade, no caso de ele interpretar tudo como
obra do Escultor; embora, ele mesmo, o homem, precise se
oferecer, em amor, como matéria para o esculpir; visto
que, no processo existencial, o homem não seja
inanimado, e, por isto, tenha que ser matéria viva e auto-
ofertante ao Escultor — como se a pedra ou a madeira
dissessem ao Escultor: Eis-me aqui. Me esculpe. Ofereço-
me... Mudo de posição. Mudo de textura. Mudo conforme
Seu desejo. Tu és o Escultor [ou Tapeceiro]. Eu sou uma
matéria parceira da transformação e na arte do Teu
amo;, e o faço deliberadamente, cada dia mais.
As navalhas da glória são feitas de sabedorias divinas
aplicadas a circunstancia do homem, somadas o que, no
homem, pela Graça Livre e pela Graça da decisão na
Graça feita pelo homem — formem um termo/único de
poder mutante; e que não comporta o dualismo Escultor
ou Escultura Sujeita de seu próprio destino; tanto quanto
não comporta o problema: Tapeceiro ou Parceiro.
Não! Tudo provém de Deus. Porém, a provisão de Deus é
que o Tapeceiro conte com a Parceria do homem no
ofertamento de si mesmo como parceiro e cooperador de
Deus no trabalho de sua caminhada de glória em glória.
Não existe este dilema. Somente existe em quem pensa a
vida com categorias fixas; tipo: se Deus é o tapeceiro,
então eu sou um tapete inerte; ou, então: se Deus é o
Escultor, então, eu sou um escultura inerte; sempre a
espera do desejo Dele, de esculpir...
Mas não é assim no Evangelho.
Deus é vivo; e a oferta é viva também...
Este é o culto racional:
A entrega do homem vivo ao Deus vivo — por amor;
aceitando o que não entende ainda; e assumindo
conscientemente tudo o que já entende; fazendo-se, de
um lado, obra e feitura de Deus, e, de outro lado,
oferecendo-se como sujeito deliberadamente ativo na
disposição de cooperar com Deus, andando conforme a
Vontade revelada de Deus.
Enquanto a gente não aprende isto pela experiência das
navalhas da glória, da esperança da glória eterna vivida na
ambigüidade da dor e da tribulação, no máximo a pessoa
aceita isto como um bom argumento a ser usado na ajuda
aos que estejam com tal problema ou conflito.
Antes das navalhadas da glória tudo isto é apenas
estoicismo ensinado com máscara cristã. Seria uma
espécie de Zen Fé Cristã.
O caminho da glória, portanto, segundo Jesus, Paulo e
todos os apóstolos — é a vereda estreita da glória forjada
como navalhada na existência.
No fim cada cicatriz fica romântica, cada ferida se torna
poesia, toda dor converte-se em canção de ninar, e toda
perda se torna o maior lucro.
No fim, cada marca é de Cristo em nós.
Alguém quer ainda discutir o processo?...
 

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