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1.

As
concessões  realmente explora
das: a constituição da
propriedade mineira e a lavra
de minas
 22 Ao longo do texto as referências de tipo geográfico a Portugal,
quando se trata da indústria mineir (...)

 23 A indústria mineira em Portugal: estudo económico-


jurídico. Coimbra, 1921, p.30.

 24 V. José Augusto César das Neves Cabral (org.), Estatística


Mineira (Ano de 1882), Lisboa, Imprensa (...)

1Desde a liberalização do sector mineiro em Portugal que o


número de minas em actividade foi sempre escasso relativamente
ao número de concessões atribuídas pelo Estado a particulares 22.
Manuel Rodrigues Júnior, num dos raros estudos especializados
feitos até ao Estado Novo, notava que raros seriam os países na
Europa  «em que a percentagem das minas paralisadas em relação
ao número total de concessões seja superior ou mesmo tao
grande»23. Tratava-se dum sintoma «estrutural». Já em 1882,
embora estivessem atribuídas 348 minas, só 74 tinham alguma
actividade24.
 25 V. Fig. 1 (p. 353). Os dados estatísticos sobre o movimento
mineiro antes do início do século são e (...)

 26 Facto já evidenciado em A. H. de Oliveira Marques


(coordenação), Nova História de Portugal. IX. Por (...)

2A partir da última década do século XIX o panorama não


melhorou, bem pelo contrário. Em 1903, por exemplo, apenas 19
minas tinham estado em laboração, ou seja, apenas 3,8% do total
das jazidas concessionadas eram aproveitadas25. Este facto era
ainda mais estranho se pensarmos que o processo de concessão
era objecto de um controlo burocrático muito aturado e moroso e
que nos alvarás de concessão ficava bem explícita a
obrigatoriedade de manter as minas em lavra activa sob pena de
cessação de um direito atribuído por tempo ilimitado. Não
admirava, portanto, que este fenómeno, aparentemente
especulativo, surgisse como sintoma de uma debilidade estrutural
desta actividade nacional26.
 27 Relatório de H. W. Gainsford citado por Sacuntala de
Miranda, Portugal: o círculo vicioso da depend (...)

 28 «Le Portugal est l'un des pays du monde les plus riches em gites
métaliferes. Les magnifiques dépôt (...)

 29 Ezequiel de Campos, A Conservação da Riqueza Nacional, Porto,


1913, p.185.

3Este panorama tornava-se ainda mais sombrio se pensarmos que


as áreas concessionadas eram, por sua vez, bastante inferiores ao
conjunto de jazidas conhecidas. De facto, a maior parte dos
registos de descoberta feitos por particulares nas câmaras
municipais não deram lugar a iniciativas para alcançar uma
concessão «definitiva», por não se verem nessas «descobertas»
qualquer valor económico. Assim, em 1910, um diplomata inglês
notava no relatório para o seu governo que   «a riqueza mineral de
Portugal e colónias é muito considerável, mas é explorada em
escala relativamente pequena. Sabe-se que existem 3.300 jazigos
de minérios no país, de que foram feitas pouco mais de 300
concessões, mas apenas 32 são de facto exploradas» 27. Pouco
tempo antes, Léon Poinsard e Eugène Ackermann tinham
defendido, com algum exagero, que Portugal era um dos países
mais ricos em depósitos minerais28. Na mesma altura, um
nacionalista como Ezequiel de Campos, apesar de não acreditar
em riquezas fabulosas escondidas no subsolo, nem que alguma
vez Portugal se tornasse uma «potência mineira» como a vizinha
Espanha, não deixava de criticar  «a política que temos seguido,
dando [os governos]  concessões que evidentemente não
representam para as grandes casas que as retêm sendo uma
reserva de minério para qualquer eventualidade de abastecimento
ou de processes [técnicos]  novos, e para outros sendo um artigo
de negocio a explorar – mas nunca minas a lavrar» 29.
4Apesar da crescente consciência, por parte das elites políticas,
dos fracos resultados obtidos com o modo de crescimento
seguido desde a Regeneração, o período republicano não veio, no
fundamental, alterar esta situação. O número de minas
concedidas pelo Estado continuou a aumentar regularmente até
finais da I Guerra Mundial, registando-se um súbito acréscimo
durante os primeiros anos na década de 1920 (fig. 2, p. 353). Se
exceptuarmos o ano de 1925, quando o governo se negou a
atribuir 33 concessões, o movimento mineiro permaneceu sempre
elevado e crescente. O número de concessões duplicou durante a
República, bem como o número de minas em actividade enquanto
o número de concessões abandonadas permaneceu relativamente
baixo. Nas vésperas da I Guerra Mundial, a corrida aos jazigos de
volfrâmio veio lançar as regiões do interior centro e de Trás-os-
Montes nas rotas privilegiadas dos que corriam à propriedade
mineira.
5
Movimento Mineiro em Portugal (1910-1930)
Distribuição anual do número de concessões mineiras existentes (A),
atribuídas no ano (B), abandonadas (C) e número de minas em lavra
activa (D)
[Tabela 1.1]
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Fonte:  Relatório dos serviços de Minas relativo ao ano de 1910, Lisboa,


Imp. Nac., 1912 e "Movimento de concessões mineiras... 1911 A 1930"
in  Boletim de Minas. Ano de 1930, Lisboa, Imp. Nac., 1930.

6Os negócios em torno dos direitos jurídicos sobre a propriedade


do subsolo nacional não tinham qualquer correspondência
imediata sobre a produção. A actividade produtiva parecia a ponta
dum  iceberg no qual muitos investimentos se imobilizavam nos
jogos de trocas em torno dos direitos de propriedade.
 30 Ainda em 1930 este imposto era arbitrado entre 2$50 e 5$00
por hectare segundo as classes de minéri (...)

 31 Em muitos casos, o móbil era unicamente vender na melhor


altura. Como se fazia notar ainda em 1939,(...)

7Contudo, a manutenção duma concessão inactiva impunha ao


concessionário várias obrigações, entre as quais, o pagamento
dum imposto anual fixo calculado com base na sua superfície.
Apesar do valor estipulado para este imposto ser quase ridículo,
quem mantinha esses direitos, certamente reconhecia neles algum
um valor económico30. Um período anómalo no comportamento
dos preços, por exemplo, podia remunerar bem o capital
imobilizado na manutenção de áreas concessionadas. Os
pequenos investidores lucravam com a venda de direitos a outras
companhias31.
8Por outro lado, como notava Ackermann, muitos registos
mineiros resultavam tanto da ignorância como da sede
especulativa, pois não bastava haver um afloramento de minério
para saber que a extracção valeria a pena.
 32 Le Portugal..., p. 128. Tradução nossa.

Eis o que é costume fazer em Portugal, como aliás noutros países, mas
talvez num grau mais elevado. Assim que se descobre um pedaço de
mineral, tenta-se logo assegurar os direitos legais de propriedade
sobre o que se supõe, com razão ou não, ser uma mina32.

9Deste modo a maior parte dos registos de descoberta não


chegava a avançar até à concessão provisória. Mas o pior neste
processo, dizia ele, era que os negócios em torno das «falsas»
minas prejudicavam as «boas» e afastavam os capitalistas. No país
escasseavam os engenheiros, os condutores de minas e até
mineiros. Faltava gente que, entre nós, vivesse da actividade
mineira, que soubesse de minas e as promovesse junto de
capitalistas.
10Outro elemento importante a considerar na explicação deste
fenómeno prendia-se com as estratégias de administração das
grandes companhias que as levava a constituir   reservas próprias.
Daí a crítica de homens como Ezequiel de Campos a todo este
sistema que permitia negócios tão especulativos quanto
improdutivos em torno de direitos outorgados pela liberalidade
duma  «nação imprevidente» e a manutenção por tempo indefinido
de reservas por grupos estrangeiros.
 33 Em termos estritamente económicos, estas reservas designam a
quantidade de minério que uma companhi (...)

11As concessões mineiras constituem um indicador das jazidas


com valor virtual dentro do seu próprio contexto económico 33.
Nessa medida, elas revelam um país com recursos diversificados
onde predominavam os minérios metálicos como o antimónio, o
cobre, o chumbo, o zinco, o estanho, o ferro, etc. Em
contrapartida, o país era pobre em combustíveis fósseis. Em
1914, havia 480 concessões de minérios metálicos e somente 26
de minérios «não-metálicos» (tabela 1.2.)· A maior parte delas
estavam nos distritos de Beja (136), Bragança (98), Castelo Branco
(50), Porto (64), Vila Real (57) e em Aveiro (37), ou seja,
espalhavam-se por diferentes regiões do país.
Concessões mineiras por classes de minérios, 1914
[Tabela 1.2.]

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Fonte: Boletim de Minas, ano de 1914.

 34 A primeira tentativa de liberalização das minas data de 1836


durante o governo de Passos Manuel mas (...)

 35 Veja-se a este respeito, «Breve notícia sobre a história e


legislação das minas em Portugal» de J. (...)
 36 Seguindo este espírito, mais tarde, em 1917, viria a estabelecer-
se direitos também para aqueles cu (...)

 37 Esta figura viria a ser abolida mais tarde, quando se estabeleceu


a «licença de pesquisa» em 1917.

12A existência dum número esmagador de concessões inactivas


contrariava evidentemente o espírito progressista que presidiu à
definição do quadro jurídico do desenvolvimento mineiro
moderno. Os princípios fundamentais da propriedade mineira
foram estabelecidos no período fontista e manter-se-iam em
vigor, apesar de sucessivas alterações, até ao Estado Novo. A
propriedade do subsolo (distinta da propriedade superficial) era
do Estado, o qual atribuía livremente aos particulares o seu uso e
usufruto mediante a observância de determinados
procedimentos34. Os indivíduos poderiam alienar apenas esses
direitos; o direito de abuso ficava limitado pelos deveres
estabelecidos no processo da sua atribuição. Desta forma, o
processo de concessão começava pelo  registo de descoberta que
poderia ser efectuado por qualquer cidadão junto da
administração local35. Este registo garantia direitos sobre a
ulterior exploração do jazigo manifestado, numa relação de
alguma forma análoga à do registo das patentes para a
indústria36. Dado que o manifesto era apenas válido durante um
determinado período de tempo, haveria em princípio todo o
interesse para avançar para a segunda etapa do processo –
a  concessão provisória37. Nesta etapa fazia-se o reconhecimento
do jazigo e estabelecia-se um plano para a sua lavra que devia ser
submetida à apreciação da Repartição de Minas do Ministério das
Obras Públicas. O individuo poderia então habilitar-se a uma
concessão por tempo ilimitado –  a concessão definitiva.
13O processo era fiscalizado pelo governo através das
circunscrições mineiras, cabendo ao Conselho Superior de Minas
emitir pareceres sobre ele. Outro atributo deste conselho
consistia em fixar as condições que garantiam ao Estado a
capacidade financeira e técnica duma entidade para explorar a
jazida a que se candidatava. A par da verificação da credibilidade
técnica, fixava-se uma caução financeira que era levantada
apenas no final da fase inicial dos trabalhos. Cada exploração
devia ter um director técnico acreditado pela Direcção Geral de
Minas, em função do seu currículo.
14Uma concessão mineira, embora atribuída por tempo ilimitado,
obrigava o concessionário a cumprir o plano de lavra aprovado e,
entre outras coisas, a manter a mina em actividade sob pena
de  instauração do processo de abandono. Os concessionários
ficavam isentos do pagamento de impostos sobre minas durante
os dois primeiros anos, por forma a permitir a rápida amortização
dos encargos iniciais. E, atendendo ao facto de se tratar duma
indústria de elevado risco para o investimento, o principal
imposto mineiro,  o imposto proporcional, recaía sobre o cálculo
do rendimento líquido obtido pelos concessionários anualmente.
15Assim se estabelecia a harmonia entre o interesse individual e o
bem público, cabendo ao Estado garantir as condições de
igualdade no acesso a um direito sobre a propriedade e a
liberdade de iniciativa do indivíduo. Mas para que isso se
realizasse deviam os poderes públicos fiscalizar eficazmente a
actividade dos particulares e corrigir defeitos que a prática iria
mostrando, por forma a que esse direito desse lugar à criação de
riqueza. Por isso, logo em 1862 (decreto de 13 de Agosto)
estabeleceu-se o princípio da caducidade do direito de descoberta
por forma a impelir os descobridores a prosseguirem os seus
esforços até obterem a concessão definitiva. Por outro lado,
limitaram-se as áreas demarcadas para cada concessão pois
verificou-se que se estavam a registar áreas desmesuradas. Com
isto procurava-se deixar a maior área possível aberta à
prospecção e adequar as áreas atribuídas à escala dum país onde
a actividade produtiva resultaria da acção do «pequeno»
investidor. Em 1880, voltariam a estabelecer-se mais normas para
o controlo das áreas demarcadas.
 38 Um exemplo disto foi o caso da relação entre a La Sabina e a
Mason & Barry na mina de São Domingos, (...)

16Tal como sucedia um pouco por toda a parte, também em


Portugal os concessionários desde cedo começaram a optar pelo
arrendamento, quando não se associavam a outros e formavam
uma companhia. A figura do capital mineiro era representada pela
associação daqueles que detinham o direito de propriedade com
os que dispunham do saber técnico e com aqueles que tinham
meios financeiros. Frequentemente o explorador pagava uma
renda ao concessionário várias vezes superior ao que o Estado
recebia através dos impostos38. Por seu turno, o Estado tentava
defender melhor os seus interesses quando, através de concurso
público, adjudicava as jazidas em condições especiais,
estabelecidas (pelo menos em teoria) em função  «das riquezas
evidenciadas por trabalhos anteriores».
17As próprias concessões eram objecto de transacção, muitas
vezes no estrangeiro e entre sociedades, em termos que
escapavam ao próprio Estado. Nos finais do século, exigia-se a
sanção do governo nessas transacções. O alvará de transmissão
de propriedade era atribuído após a verificação pelo governo da
idoneidade do novo concessionário e da garantia do cumprimento
das cláusulas do primeiro alvará.
18Não iremos deter-nos mais neste processo. Parece-nos claro
que sucessivos governos procuraram, através das leis e da
actividade fiscalizadora, acautelar os interesses do Estado ao
contrário do que a evidência imediata poderia sugerir. Uma
cláusula manter-se-ia sempre ao longo deste período,
frequentemente não cumprida: a obrigação de manter as minas
em actividade sob pena do concessionário a perder para outrém.
19A partir dos princípios do século tornou-se evidente a «crise»
neste sector. Era uma crise profunda, estrutural, que derivava do
modelo de crescimento que se vinha mostrando incapaz de gerar
riqueza para a nação.
 39 O diagnóstico aparece logo no preâmbulo da Lei de Fomento
Mineiro: «a indústria mineira em Portugal (...)

20O problema mineiro português era um problema de


subprodução39. O pequeno número de minas em lavra, bem como
a sua irregularidade, tornaram-se indicadores do
desaproveitamento económico a que o subsolo nacional estaria
sujeito, pouco contribuindo para o crescimento do produto
nacional. Ε esta ideia fundava-se na convicção de que ninguém
mantinha em seu poder uma concessão, nem a comprava nem a
vendia, se ela não tivesse qualquer valor.
21No entanto, tanto a irregularidade na lavra de minas como a
existência de concessões inactivas não eram fenómenos
nacionais, antes resultavam, em larga medida, da própria
especificidade económica do sector. Uma quebra continua no
preço dos minérios tinha como resultado frequente, não o
abrandamento da produção, mas o encerramento das minas em
posição mais frágil. Além disso, uma empresa que possuía várias
minas poderia, como boa medida de administração, atacar
prioritariamente as mais pobres quando o preço dos minérios
estava em alta e guardar as mais ricas para sua defesa futura. Ou
apenas aproveitar os filões mais ricos, fazendo uma lavra de
rapina. Inúmeras razões poderiam invocar-se para que, tanto os
Estados como as companhias, criassem as suas próprias reservas
estratégicas. O aumento das despesas de exploração devido ao
desenvolvimento dos trabalhos em profundidade ou a outros
quaisquer factores (como, por exemplo, o aumento dos custos de
mão-de-obra) poderiam levar ao encerramento duma mina
durante largos anos.
 40 Raphael Samuel, «Mineral Workers» in Miners, Quarryman and
Saltworkers, 1.  ed., Londres, Roudedge (...)
a

22A intermitência nos trabalhos era ainda maior com as


sociedades ou indivíduos que operavam com pequenas
explorações. Se olharmos para o processo de industrialização
britânica durante a primeira metade do século XIX, por exemplo,
vemos que a maior parte das minas tinha uma vida breve.
Segundo Samuel, o período médio de vida duma mina da
Cornualha era habitualmente curto e, no caso das minas de
chumbo, essa vida era ainda mais instável do que nas de cobre e
de estanho, visto que não estavam sujeitas às mesmas incertezas
geológicas. Companhias de  aventureiros (como então se
chamavam aos accionistas destes empreendimentos) estavam
constantemente a ser formadas ou a ser reorganizadas. As
paragens nas lavras eram frequentes, umas vezes temporárias,
outras definitivas, e a média da vida duma mina não ultrapassava
os cinco anos40.
23No caso dum país em vias de industrialização, a existência de
uma multidão de pequenas concessões nas mãos de particulares
parecia particularmente adequada a uma economia onde não
abundavam os meios técnicos avançados nem grande capacidade
financeira,  desde que esses recursos fossem efectivamente
explorados. E a preocupação de limitar a extensão das concessões
e a sua concentração esteve presente no espírito dos legisladores
desde a Regeneração. No entanto, e apesar dos vários «surtos
industriais» falhados que os historiadores nacionais procuram
identificar, Portugal não era, em rigor, um país em vias de
industrialização. Mas também não era um país agrário e fechado,
com uma organização político-económica «arcaica». O Portugal
dos finais da Monarquia era essencialmente um país aberto que se
tinha especializado na produção dum número restrito de bens
oriundos da actividade primária, onde predominavam relações de
tipo capitalista.
 41 «Les Portugais n'ont pas su tirer parti de ces richesses; leur
minerais n'ont guère été pour eux qu (...)

24Poinsard percebeu os princípios em que assentava o problema:


sem o concurso dos estrangeiros, os minérios lusitanos
permaneceriam no subsolo e, nestas condições, era preferível
concedê-los aos estrangeiros41. Desta forma, este jogo de trocas,
ligado aos países industrializados ou em vias de industrialização,
cedo se revelou desigual. É, pois, nesta última perspectiva que se
pode falar em «crise» neste sector, como a crise dum certo
modelo de desenvolvimento. Nela assentará o discurso em torno
do «subaproveitamento» das riquezas nacionais. A questão que se
coloca é então a de saber de que modo foram efectivamente os
minérios aproveitados.

2. Os minérios que se
exportavam: uma riqueza que
se escoava?
25As poucas minas em actividade, com a excepção das minas de
carvão satisfaziam a procura dos países industrializados. Grande
parte das jazidas mineiras, sobretudo as mais importantes,
estavam nas mãos de companhias radicadas nos países para onde
iam a maior parte dos minérios, como era o caso da Inglaterra, da
França e da Bélgica. O mesmo acontecia, aliás, em muitos outros
sectores fundamentais da economia portuguesa e, em particular,
da indústria e dos transportes.
26O país pouco obtinha com o desenvolvimento mineiro na
medida em que a maior parte dos minérios arrancados eram
exportados em bruto, ou quase. Desde o início do século e até às
vésperas da I Guerra Mundial o peso destas exportações no
conjunto das exportações portuguesas variou, em valor, entre 4 e
5%. Em 1917, devido ao elevado valor dos minérios, em particular
do volfrâmio, esse peso atingiu quase os 24%. Depois da Guerra e
até 1939, esse peso andou entre os 6,6 e os 8,6% (com excepção
de 1921 em que se atingiu os 15%). Ou seja, a Grande Guerra, em
vez de suscitar uma corrida às minas devido às carências internas
impostas pelo bloqueamento marítimo, estimula a actividade
exportadora. O «proteccionismo» industrial criado pelo conflito
não estimula esta actividade. Tal como sucederá também durante
a II Guerra Mundial, é o aumento da procura no exterior
dos  minérios de guerra que explica a melhoria no comportamento
económico neste sector (figuras 3 e 4, p. 354).
Imposto mineiro em Portugal, 1893-1921
[Tabela I.3.]

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Legenda: (A) Valor do imposto mineiro "proporcional" em contos de
réis ou em milhares de escudos que recaía sobre o valor do minério
calculado "à boca da mina”; (B) peso deste valor no total do imposto
mineiro cobrado (i.e., incluindo o imposto sobre a superfície da
concessão); (C) Valor índice (100 = 1914) do imposto proporcional a
preços constantes.
Nota: O imposto proporcional foi abolido pela lei I 368 de 21/09/1922
e restabelecido pelo decreto-lei 18.713 de 1/07/1930.

 42 A nossa dependência energética da Inglaterra não era


compensada com a produção doutros minérios e d (...)

27Os minérios e as pedras que exportávamos também não


chegavam para pagar o carvão que vinha de Inglaterra 42. A taxa
de cobertura das exportações pelas importações na classe dos
minérios variou quase sempre entre os 22 e os 27% até ao final
dos anos ’30 (excepção feita ao período da guerra de 1914-
1918). Ou seja, embora a nossa dependência recaísse quase
totalmente sobre combustíveis, minérios que não poderíamos
substituir nem diminuir o consumo sob pena de afectar
gravemente o crescimento da economia, as nossas exportações
não conseguiam pagar nem sequer metade das nossas
importações. Produção inferior às nossas capacidades mas
também exportação de minérios de baixo valor como eram as
pirites. Assim, o valor de cada tonelada de minério que
exportávamos, embora variasse naturalmente durante este
período, manteve-se sempre muito baixo (mais uma vez com a
excepção dos anos da guerra), sendo inferior ao do carvão que
importávamos. No que respeita aos metais, as exportações
tinham tão pouco significado que não pagavam 90% das nossas
necessidades. De facto, embora exportássemos concentrados de
minérios de cobre, de estanho, de chumbo, tínhamos de importar
esses metais.
28O Estado pouco beneficiava directamente dessa actividade. Em
termos fiscais, o principal imposto sobre os minérios,   o imposto
proporcional, era estabelecido sobre uma percentagem de 3 a 4%
sobre o valor dos minérios à boca da mina, deduzidas as
despesas de exploração, os custos de transporte terrestre e
marítimo, normalmente bastante elevados face à localização das
minas, bem como despesas com seguros e comissões diversas.
Nestas condições, os cálculos financeiros para apuramento dos
impostos eram necessariamente difíceis. Até às vésperas da I
Guerra Mundial o pequeno imposto fixo atingia mais de 20% do
total das receitas das minas, o que revelava a grande dimensão da
superfície mineira inactiva (tabela 1.3.).
29Os argumentos que defendiam baixos impostos para não
sobrecarregar outras indústrias a jusante e as manufacturas
vingaram sempre, apesar de não fazerem sentido num país que
exportava matérias-primas em bruto. Em suma, exportávamos
pirites e concentrados de cobre mas não ácido sulfúrico, adubos e
ligas de cobre, exportávamos volframite e cassiterite mas não
tungsténio e estanho.
30Em suma, as «riquezas escoavam-se». Ganhava assim relevo a
ausência, no país, de estabelecimentos industriais que
procedessem ao tratamento metalúrgico dos minérios ou que,
pelo seu consumo, viabilizassem o aproveitamento de muitas
explorações. Os pequenos empreendimentos mineiros (que eram
a maioria) estavam condenados a produzir para mercados
longínquos, enfrentando a concorrência internacional. Neste
contexto, a actividade só era remuneradora em situações
excepcionais, quando os preços eram elevados ou quando se
achavam filões ricos. Ou seja, por outras palavras, para muitas
empresas a  lavrade rapina era uma fatalidade, embora
condenada por delapidar as jazidas e inviabilizar o seu
aproveitamento «racional».
31O comportamento económico do sector mineiro obedecia assim
a uma lógica diferente das indústrias voltadas para a satisfação do
consumo interno. As minas não participam do «surto industrial»
que resultou da pauta de 1892. No entanto, responderam
positivamente à conjuntura que antecede e acompanha a Grande
Guerra devido tanto às dificuldades de abastecimento externas
como, e sobretudo, ao elevado preço que atingiram os metais e,
em particular, os «minérios de guerra» que eram o volfrâmio e o
manganês.
32A curva da produção mineira em Portugal constituiu uma
sobreposição dos diferentes comportamentos económicos das
classes de minérios. Se focamos a nossa atenção naqueles
minérios com o maior volume de produção e de emprego,
identificamos três grupos que reagem de forma diferente às
conjunturas externas e internas: os carvões nacionais, os minérios
de guerra e, finalmente, as pirites.

Os carvões nacionais
33Tratemos, em primeiro lugar dos carvões. Com a guerra de
1914-1918, a exploração de carvão ocupou a atenção de tal
forma que quase se confundia com o problema mineiro
português. Para isso contribuíram factores poderosos. Só por si, o
carvão representava um peso enorme nas nossas importações e o
facto da sua origem ser inglesa acentuava o sentimento de
dependência do país. Além disso, a importância que o carvão
tivera na I Revolução Industrial levou teóricos como Anselmo de
Andrade a defender a impossibilidade da industrialização.
34As nossas maiores reservas eram de antracite mas o melhor
carvão para a indústria era a hulha e, quanto a esta, eram muito
pequenas as jazidas conhecidas. Algumas delas seriam
declaradas  cativas para o Estado e foram exploradas somente no
final dos anos vinte como foi o caso da mina do Moinho da Ordem
(Santa Susana), no concelho de Alcácer do Sal. As grandes minas
de carvão, como as de São Pedro da Cova e do Pejão, eram de
antracite, com um teor calórico muito mais baixo, e ainda assim
com uma qualidade variável.
35A utilização industrial destes carvões requeria a instalação de
oficinas de biquetagem, com custos de produção adicionais pouco
promissores para as empresas. Contrariamente ao que sucedia
com os minérios metálicos, desde sempre a sua exploração vivera
para o mercado nacional. Nessa medida, a actividade sofria com a
concorrência do bom carvão de Newcastle e do país de Gales. Os
transportes terrestres, assegurados por carreiros, eram muito
mais caros que os fretes marítimos e davam vantagem ao carvão
inglês, pois este encontrava a maior parte do consumo na
navegação, transportes e industria que estavam concentradas no
litoral e, em particular, nas cidades de Lisboa, Porto e Setúbal.
 43 Já no Inquérito Industrial de 1881, por exemplo, se afirmava
que as minas de Buarcos (Cabo Mondego) (...)

 44 Veja-se Severiano Monteiro e João Augusto Barata, Exposição


Nacional das Indústrias Fabris. Catálog (...)

36Assim, em situação de normalidade, apenas uma pequena parte


do carvão nacional tinha aceitação na indústria, como acontecia
com as minas de Cabo Mondego (Figueira da Foz) no início do
século. Por isso, e um pouco paradoxalmente, os carvões
nacionais tinham «falta de mercados» 43. As minas da Bacia
Carbonífera do Douro encontravam a maior parte do consumo nas
cozinhas da cidade do Porto. Situadas apenas a dez quilómetros,
as minas de S. Pedro da Cova gastavam 2.165 réis por tonelada
no transporte, em 1888, e produziam carvão de quatro
qualidades, que era vendido entre 5.855 e 2.865 réis 44. Os custos
maiores do carvão pobre recaíam sobre as despesas de transporte
que, por isso, nem chegava ao mercado.
 45 Cf. Ε. Campos, Ob. cit., p. 175: «O carvão produzido vem para o
Porto, onde é consumido quase todo (...)

 46 Para o problema do carvão na economia portuguesa durante a


guerra veja-se Sacuntala de Miranda, Ob. (...)

 47 Veja-se a este respeito António do Carmo G. Q. Viana, num dos


raros estudos especializados para est (...)

37A situação não se alterou até à I Guerra Mundial. Nessa altura


os termos económicos invertem-se45. O carvão inglês começa a
rarear e os custos de transporte marítimo sobem em flecha, o
preço dos metais sobe, suscitando o aproveitamento tanto de
novas minas como o desenvolvimento da produção das que já se
encontravam em laboração. Das 25 mil toneladas de carvão
produzidas em 1914, passava-se no ano seguinte para as 60 mil,
atingindo-se em 1917 as 192 mil toneladas. Se bem que esta
quantidade fosse irrisória para fazer face às necessidades
nacionais, ele não deixava de representar um acréscimo de 668%,
relativamente ao início da guerra46. A produção declinou
fortemente nos anos seguintes, mas a um nível três vezes
superior ao registado antes do conflito. Assim, no que respeita à
antracite e à lenhite, a Grande Guerra proporcionou um salto
qualitativo, marcando este período a entrada decisiva da indústria
nacional como mercado de consumo47.
38Na segunda metade dos anos vinte, com a difusão da produção
de energia eléctrica e com as medidas de apoio governamentais,
atingiam-se as 232 mil toneladas e, no final da década seguinte, a
produção era já superior a 246 mil toneladas.
39Em conclusão, foi a guerra e o imediato pós-guerra que, pela
divulgação da electricidade no consumo doméstico e industrial,
abriram novos mercados para os carvões e viriam a reformular os
princípios teóricos dos que defendiam a vocação agrária do país
devido à ausência de carvão em abundância. Como Ferreira Dias
defenderia mais tarde:
 48 Linha de Rumo: Notas de Economia Portuguesa, Lisboa,
Clássica, 1946, pp. 182-183.

As premissas de Anselmo de Andrade (falta de carvão, de hulha branca


e de matérias-primas) estão longe de conduzir obrigatoriamente ao
abandono de toda a ideia industrial na metrópole portuguesa (...) Com
o desenvolver da hidroelectricidade, o domínio do carvão sobre a
indústria desapareceu quase totalmente no sector da força motriz 48.

Os minérios de guerra
40As conjunturas imperialistas, por conduzirem à corrida aos
armamentos, provocam um aumento desmesurado na produção
de aços de qualidade, processo no qual o volfrâmio e o manganês
desempenhavam um papel fundamental. Por isso, essas
conjunturas são também muito favoráveis ao grupo de minas que
produziam «minérios de guerra».
41As minas de volfrâmio, beneficiando já do ambiente anterior à
eclosão da I Guerra Mundial, produziram em 1911, 843 toneladas.
Em 1917 atingiram-se as 1.452 toneladas, começando então a
curva descendente que muito se acentua no final do conflito. Até
às vésperas da II Guerra Mundial, a produção mantém-se
relativamente baixa, oscilando entre as 200 e as 400 toneladas
até 1933 (com excepção do ano de 1930 em que se produziram
493 toneladas).
 49 Para o problema do volfrâmio no contexto da guerra, vejam-se
as linhas que lhe dedica Fernando Rosa (...)

42A crise no pós-guerra seria atenuada pelo facto de muitas das


minas que arrancavam volframite produzirem também cassiterite.
Por esta razão, a curva da produção do estanho é, por vezes,
inversa da curva do volfrâmio pois representava um rendimento
alternativo. Assim, o pós-guerra marcou um período de expansão
na extracção de estanho quando a exportação de volfrâmio era
diminuta. A partir de 1934, começa o ciclo ascendente, atingindo-
se as 3.000 toneladas em 1939. Como minério geograficamente
localizado, o volfrâmio ganharia uma grande importância no
contexto da guerra e Salazar soube bem tirar partido, em termos
financeiros, dessa sábia política de neutralidade e do facto das
principais jazidas mundiais se encontrarem em regiões
controladas pelos aliados49.

As pirites
43Finalmente temos os minérios com baixo valor e cujo comércio
prospera apenas em situações de «normalidade» internacional.
Uma parte importante das pirites arrancadas em São Domingos,
em Aljustrel, em Grândola e em Aveiro destinavam-se à produção
de concentrados metálicos (cementos). Nas minas pequenas, só
eram exportados os minérios ricos em cobre como a calcopirite
ou os concentrados ricos em prata, chumbo e cobre que as
estatísticas registavam como «minérios de cobre». A exportação
de minério cru, ou seja, rico em enxofre mas pobre em metais
ficaria muito dependente de economias de escala, dos custos de
transporte até ao mercado e do valor dos minérios.
44Voltado para satisfazer as indústrias químicas e a metalurgia do
cobre, o movimento das pirites é, pois, distinto dos anteriores,
sofrendo fortemente com o início da guerra e ainda mais com a
entrada de Portugal no conflito europeu. Em 1913 produziam-se
414 mil toneladas e, três anos depois, apenas 218 mil. Nos anos
seguintes a produção diminui sucessivamente, chegando-se às 40
mil toneladas em 1918. A recuperação até aos níveis anteriores ao
conflito foi lenta e difícil, situando-se a exportação geralmente
pouco acima das 200 mil toneladas até 1926. O ponto mais alto
situou-se em 1930 (um ano bom para as minas), quando se
atingiram quase as 400 mil toneladas.
45Estas minas, apesar de produzirem concentrados de cobre,
mostram-se muito sensíveis às variações na prosperidade das
nações industrializadas. O enxofre, com o qual se fabricava o
ácido sulfúrico que alimentava as grandes indústrias químicas, é
cada vez mais a principal substância útil das nossas explorações
que, até aos princípios do século, eram designadas por «minas de
cobre». As pirites, muito sensíveis ao comportamento dos
mercados externos, ressentiram-se de factores conjunturais como
as rápidas variações cambiais, as alterações nos custos de
transporte ou o aumento dos custos de extracção. Por isso, as
empresas sentiram fortemente a crise de 1931-1932 e apenas
nos anos que antecedem o conflito mundial se verificou um
crescimento continuado na produção.
***
46Apesar da diversidade de minérios conhecidos em Portugal, a
maior parte das jazidas não tinha grande desenvolvimento. Nestas
condições naturais, a exploração mineira teria como cenário
óptimo a actividade duma multidão de pequenas minas, facilitada
por não exigirem vultuosos investimentos. Mesmo num universo
já dominado pelas grandes companhias, as pequenas explorações
tinham um importante papel económico a desempenhar. Não era
raro acontecer, em países industrializados, os pequenos
empreendimentos mostrarem-se capazes de competir com a
produção externa quando abasteciam mercados próximos. Por
outro lado, como as pequenas explorações valiam pelo número e
requeriam um investimento inicial relativamente pequeno,
reagiam rápida e positivamente à alta de preços contribuindo para
a regularização dos mercados. Em teoria poderia dizer-se que,
para um país pequeno e economicamente muito aberto e
dependente do exterior como seria Portugal, as pequenas jazidas
constituíam uma reserva importante em situações de isolamento
forçado e de privação como sucedia num período de guerra. Ora,
a Grande Guerra veio permitir a lavra de pequenas minas, graças
ao preço excepcional que alcançaram algumas matérias-primas.
Mas essa actividade não beneficiou substancialmente da penúria
interna, antes ligou-se directamente aos grandes centros de
consumo na Europa.
47Ora, em Portugal, a ausência de metalurgias e de indústrias que
consumissem os nossos minérios, faziam com que a produção
mineira fosse pensada fundamentalmente numa lógica de
exportação. Neste contexto, o aproveitamento das jazidas ficava
muito dependente de circunstâncias excepcionais, como a
dimensão do jazigo, a sua posição geográfica, etc. Em suma, se
exceptuarmos o caso do carvão e de mais algumas situações
pontuais, na área das pedreiras, a indústria nacional pouco
ganharia com os minérios que o país dispunha. Portugal tinha em
abundância apenas os minérios de que não precisava para o nível
e o tipo de desenvolvimento em que se encontrava: o antimónio,
o volfrâmio, o estanho, as pirites e o ferro de Moncorvo (este
último por ser de difícil aproveitamento económico).
48De qualquer forma, é inegável o progresso registado
globalmente no sector, primeiro com a guerra, depois com a
Ditadura Militar e, mais tarde, durante a segunda metade dos
anos trinta. Assim, se nos princípios do século a população
mineira rondava os cinco mil indivíduos, no começo da década de
1930 atingia-se os 8 mil e, no final do período, tínhamos já cerca
de 23 mil trabalhadores.
3. As minas dos estrangeiros e
os portugueses
 50 Já Ezequiel de Campos notava com mágoa que «as minas são
dos estrangeiros; estrangeiro é o capital, (...)

49Outro elemento conhecido no meio mineiro português foi a


rápido domínio exercido pelo capital oriundo dos países
industrializados50. Com excepção das minas de carvão do Douro
e do Cabo Mondego, as principais jazidas minerais estavam
controladas por estrangeiros. As maiores empresas eram inglesas,
belgas ou francesas e, por vezes, estavam associadas a grandes
grupos industriais ou financeiros. No domínio técnico essa
dependência do exterior era ainda superior.
50Esta hegemonia, porém, não foi um dado à partida. Por outras
palavras, quando a hora da liberalização do subsolo nacional
chegou, o domínio do estrangeiro não existia já, nem se
estabeleceu de imediato. Como veremos para o caso das pirites,
ele resultou dum processo em que as regras do jogo se
mostraram desiguais para os capitais nacionais.
51Nos meados do século passado, figuras sonantes do liberalismo
português surgiram associadas à exploração mineira, como foi o
caso do Conde Farrobo, concessionário das minas de São Pedro
da Cova e da do Cabo Mondego, ou de José Ferreira Pinto Basto
(Júnior), do Visconde de Pernes (este último detentor das minas de
prata de Adorigo) ou da célebre Companhia Perseverança que
explorou várias minas de antimónio da região Douriense. As elites
não descuraram a importância deste sector nos seus negócios.
Indivíduos como Pinto Basto (filho) ou Schiappa de Azevedo
tinham formação superior em minas, obtida na Inglaterra. No
entanto, também no domínio técnico a moderna exploração
mineira ficaria ligada à presença e acção dos estrangeiros. Mesmo
as empresas firmadas por portugueses para a lavra de minas
frequentemente recorriam a ingleses, alemães e franceses.
 51 É esta a ideia com que se fica depois de se ler o historial de
inúmeras minas portuguesas. É útil, (...)

52Com risco de alguma simplificação, poder-se-á afirmar que, a


partir da Regeneração, as sociedades portuguesas que
empregavam técnicos superiores estrangeiros deram
gradualmente lugar ao arrendamento ou cedência de direitos a
estrangeiros. Mais raramente formaram-se sociedades de capital
misto. Assim, nos princípios do século, a maior parte dos
manifestos mineiros eram feitos por portugueses mas quem
explorava a maior parte das minas eram sociedades
estrangeiras51.
 52 Mesmo L. Poinsard reconhece que a timidez de capital não foi
uma característica inicial, mas antes (...)

53Ao contrário do que se poderia supor este movimento não


revela uma timidez, apatia ou desinteresse do capital português
perante as possibilidades que lhe oferecia a abertura do subsolo
nacional à livre iniciativa52. Ele mostra antes a incapacidade da
burguesia portuguesa tirar outro partido disso para além das
vantagens oferecidas pela subordinação a uma economia mundial
comandada pelos grandes centros industriais.
 53 Charles Harvey e Jon Press, «Overseas investment and the
profissional advance of British metal mini (...)

54De facto, quer através da sua política imperial ultramarina, quer


através da defesa do liberalismo nas relações entre as nações
«civilizadas», a Grã-Bretanha acabaria por controlar as grandes
minas da Península Ibérica e grande parte da produção e do
comércio mundial de minérios. Entre 1880 e 1913, cerca de 8.408
companhias foram registadas na  city de Londres para a
exploração mineira e prospecção no estrangeiro. As companhias
detidas por Britânicos eram responsáveis por 60% da produção
mundial de ouro e, por volta de 1914, 20 das maiores minas do
mundo, um quarto da produção de estanho e 60% da produção de
nitratos do Chile eram detidas e controladas por empresas
britânicas53.
Origem dos capitais e dos empresários em minas alentejanas
exploradas entre 1852 e 1888
[Tabela I.4.]

Agrandir Original (jpeg, 184k)

Fonte: Catálogo Descritivo passim.

 54 Um diplomata britânico salientava, ainda em 1934: «À parte o


carvão e as pirites, cujas concessões (...)

55Ora, como não poderia deixar de ser, Portugal era uma região
marginal para os capitalistas da City. No início do século, tinha-se
a ideia de que se estava perante um território praticamente
virgem54. Os custos das comunicações desaconselhavam qualquer
empreendimento, quando se podia dispor de inúmeras
alternativas em qualquer outra parte do globo.
56Se a nossa perspectiva é correcta, então o desenvolvimento
mineiro pautou-se pela dupla subordinação à procura externa e
aos capitais oriundos dos principais destinos das nossas
exportações. Não foi a ausência de minérios que atrofiou o
crescimento industrial mas a ausência da indústria que impediu
um maior aproveitamento dos nossos minérios. Mesmo no caso
das pirites pobres, abundantes e baratas, somente nos princípios
do século se viu a instalação no Barreiro do conjunto industrial
que estaria no cerne da estrutura do grupo C.U.F. Mas até aos
anos ’50, o consumo de pirites para a produção de adubos não
chegava para viabilizar economicamente, só por si, uma só das
grandes minas portuguesas. E, em meados da década de 1930, o
grupo S.A.P.E.C. conseguiu explorar as minas do Lousal porque,
entre outros factores, havia sido concluída recentemente a linha
ferroviária até Setúbal. A maior parte desta produção seria
destinada à exportação. Seria, pois, demasiado estreito pensar
que, a longo prazo, o controlo exercido pelo capital estrangeiro
teria sido um obstáculo ao crescimento da indústria mineira. Bem
pelo contrário, ele viria a pautar o seu modo desenvolvimento.

O estanho e o volfrâmio
 55 Neves Cabral escrevia nos finais dessa década: «O wolfram tem
hoje muito bom preço no mercado, poré (...)

57O caso do volfrâmio é o exemplo mais tardio de como arrancou


a exploração duma classe de minério. A partir da década de 1880
o volfrâmio começaria a ser objecto da cobiça internacional,
graças à divulgação dos novos processos técnicos para a
produção de aços de qualidade55.
58Quanto ao estanho, as minas da região de Bragança, por
exemplo, desenvolviam uma actividade irregular e ao que parece
clandestina, sendo fundido o minério no local. A única que tivera
uma actividade industrial digna desse nome fora uma da região
de Vila Real, explorada por ingleses entre 1871 e 1874, e depois
abandonada pela pouca remuneração do investimento.
 56 Idem, p. 162.

Até à actualidade, escrevia Neves Cabral em 1888, a lavra do estanho


no país não tem sido produtiva senão para pesquisadores furtivos,
principalmente galegos, que atravessam a fronteira de Trás-os-
Montes, escavam o solo aqui e ali abrindo pequenas covas onde
colhem o minério de estanho, vão fundi-lo a um sítio distante e tendo
obtido um número suficiente de barras que lhe assegure um capital
com que possa viver um ano, partem para a Espanha a fazer venda
desse metal aos funileiros das aldeias, vilas e cidades da Galiza e
Castela a Velha56.

 57 V. Minas concedidas.., passim.

59Só na viragem do século XX começou a corrida às concessões


de volfrâmio na zona da Panasqueira (1894, 1900, 1904), Borralha
(1902, 1905), Sabrosa (1903), etc.57. Desde então os números de
concessões multiplicam-se com a afluência de ingleses, franceses
e alguns alemães. No início da I Guerra Mundial, a exploração do
volfrâmio estava ainda disseminada por um conjunto de pequenas
minas e a lavra clandestina deveria ser importante. Duas
empresas, uma inglesa e outra francesa, produziam a maior parte
do volfrâmio que se exportava (tabela 1.5.).
 58 Cálculos nossos efectuados a partir do Boletim de Minas (ano de
1939).

60O processo de concentração iria acentuar-se depois da guerra.


Em 1939, 59,4% do volfrâmio era produzido pela Beralt Tin
Wolfram. Reorganizada nos meados da década de 1920, a B.T.W.
era já um gigante que empregava 3.391 operários, ou seja, 29,4%
do total de trabalhadores desta indústria. Apesar de quatro
conjuntos mineiros empregarem cerca de 41% dos operários,
muitas das pequenas concessões mantiveram-se em mãos
nacionais e desenvolveram-se58.
61O volfrâmio ilustra de forma exemplar como na subordinação
ao exterior reside o fundamental do seu comportamento
produtivo. Foi tanto a procura externa como o controle das
maiores concessões, exercido pelo exterior, que deu forma ao
tecido industrial. Veremos também como no caso das pirites o
processo foi análogo e como o conhecimento dos mercados e do
meio mineiro internacional, a superioridade técnica e organizativa
foi determinante para o modo como esse controlo foi exercido. O
caso do ferro, até agora ainda não tratado, serve-nos de
contraprova.
62
Minas de volfrâmio em actividade, 1914
[Tabela I.5.]

Agrandir Original (jpeg, 208k)


Fonte:  Boletim de Minas. Ano de 1914.
Nota: A produção não é equivalente à quantidade de minério
arrancado. Tratam-se de concentrados

O ferro e o projecto siderúrgico


 59 «Indústria das Minas em Portugal. Memoria sobre as minas no
distrito de Leiria» in BMOPCI, 1858, IV (...)

63O primeiro estudo que conhecemos sobre a necessidade e


viabilidade da siderurgia moderna em Portugal data de 1858 e é
dedicado às minas do distrito de Leiria. Nele se previra a
necessidade do amparo do Estado, à semelhança do que acontecia
já com os caminhos de ferro, as companhias de Navegação, o
canal da Azambuja e a fábrica da Marinha Grande 59. Não é,
porém, a historia deste programa eternamente adiado e,
finalmente deturpado, face às aspirações de autarcia económica
que nos importa aqui. Interessa antes saber apenas de que forma
o ferro (não) foi explorado e em que termo se colocou o aproveito
das enormes jazidas de ferro de Moncorvo, um nome que por si
só acabaria por identificar um programa industrial.
 60 Estatística Mineira..., p.33. O sublinhado é nosso. Ele reforça a
ideia bem vincada entre os altos (...)

 61 Idem, p.33.

64Segundo Neves Cabral, foi a  «alta do preço do ferro de 1870 a


1873 nos mercados estrangeiros,  [que]  determinou naturalmente
o movimento que então se manifestou na procura das minas em
Portugal»60. De há muito essas jazidas eram conhecidas e
exploradas de forma irregular,  «sendo o minério fundido em
Portugal. Todavia a falta de combustível e a de operários hábeis,
além de outras circunstâncias, fizeram com que até hoje  [1882]  a
indústria do ferro não tenha prosperado entre nós»61.
 62 A maior parte destas concessões estavam registadas como
sendo de «ferro-manganês».

65A maior parte das jazidas de ferro conhecidas distribuíam-se


pelos distritos de Évora e de Beja (concelhos de Montemor-o-
Novo, Viana, Alvito e Santiago do Cacém) mas eram de fraco
desenvolvimento. Ε em muitas delas o minério de ferro andava
associado ao manganês, este último importante para a
siderurgia62. As grandes massas, porém, encontravam-se em
Moncorvo, havendo aí 32 concessões inexploradas em 1882. O
seu aproveitamento dependia
 63 Referência a Leixões. Idem, p. 34.

essencialmente de três elementos, a saber: a elevação dos preços do


ferro e do aço nos mercados da Europa e da América; que o caminho
de ferro da Régua se prolongue até às proximidades de Moncorvo e
que, ou se melhore consideravelmente a barra do Douro, ou se leve a
efeito a criação dum porto artificial para servir a cidade do Porto 63.

66Ou seja, mesmo se o país tivesse uma boa infraestrutura


ferroviária e portuária, o aproveitamento dos minérios dependeria
ainda de preços de excepção nos mercados externos.
 64 Catálogo..., p. 28.

67As demarcações então realizadas pelos inspectores permitiram


avaliar a existência de 45 a 50 mil toneladas métricas de minério,
dos quais 10 a 15 mil era  «minério à vista e, por assim dizer,
pronto para fundir ou exportar»64. Era minério  «capaz de
alimentar uma grande indústria», dizia-se em 1889. Nas
condições normais dos mercados só poderiam ser exportados
minérios com teores de ferro superior a 50%.
 65 Idem, p. 29.
(...) o resto tem de ser tratado no país. A realização desse tratamento
traz como consequência a importação de coque, porque a zona
carbonífera do Norte não fornece combustível em quantidade
suficiente. Para economia dos fretes marítimos, a importação do coque
deve corresponder a exportação de ferro de teor elevado.
É necessário que a exploração se faça em larguíssima escala para que o
caminho-de-ferro se sujeite a uma tarifa suficientemente baixa, que
não pode ser muito afastada de 5 réis [por tonelada e por quilómetro].
Para conseguir este resultado parece conveniente estabelecer a
fundição na foz do Sabor.
Só com o concurso de todas estas condições é que o problema
industrial de Moncorvo parece ter uma solução prática 65.

68Nos princípios do século surgiriam novos elementos que


permitiram repensar o problema do ferro nacional. Em primeiro
lugar, as quantidades e a qualidade. As reservas de Moncorvo
eram agora estimadas em 30 milhões de toneladas mas, em
contrapartida, o teor de ferro regularia, em média, por volta dos
42%. O problema maior, contudo, estava na sílica que entrava
frequentemente em mais de 30%. Mantendo-se os problemas de
infraestruturas anteriores e de combustível, tornava-se
impensável falar no aproveitamento destes minérios em bruto. Em
segundo lugar, desenvolvimentos técnicos recentes possibilitavam
já estudar estabelecimentos siderúrgicos com base na energia
hidroeléctrica, coadjuvada ou não pela energia térmica (em parte
com carvões nacionais, em parte com coque importado). Em
terceiro lugar, as doutrinas nacionalistas em economia ganhavam
força perante a evidência de três quartos de século de liberalismo,
tornando não só aceitável, como desejável, uma posição
intervencionista do Estado e o estabelecimento de condições de
excepção para a viabilização de certos projectos que interessavam
à nação e que, implicitamente, iriam beneficiar as entidades neles
envolvidos. É nestes termos que o problema do aproveitamento
de Moncorvo e de todo o ferro nacional iria ser colocado, ligando-
se directamente ao problema siderúrgico nacional.
 66 Ezequiel de Campos, depois de lhe dedicar muitas páginas n’A
Conservação da Riqueza Nacional, estab (...)

 67 Estes termos são fundamentais para as posições que se iriam


tomar face ao estabelecimento da sideru (...)

69O problema do ferro vinha apelar para a criação de condições


político-económicas favoráveis que permitissem valorizar os
minérios do país em bases concorrenciais 66. Ou seja, a curto
prazo o mercado externo era ainda o alvo privilegiado do
aproveitamento do nosso subsolo através dum projecto que
assumia grandes proporções e integrava um conjunto de
actividades geograficamente dispersas67.
70Até então os poucos minérios de ferro que se arrancavam
provinham do Alentejo, das minas onde Henry Burnay começara a
investir desde o início do século, e tinham por destino a
exportação.
 68 Ob.cit., p.229.

71Vemos assim como na subordinação do sector mineiro aos


interesses externos residiu a essência mesma do seu próprio
desenvolvimento. Mas, como notou Poinsard, duas consequências
advinham deste facto: em primeiro lugar, os lucros fornecidos
directamente pela indústria mineira perdem-se na maior parte
para os portugueses; em segundo lugar, como as companhias
exploradoras são geralmente formadas e controladas pelas
fundições, estas preferem receber os minerais para alimentar os
seus fornos do que trabalhá-los no local68.
72Ε se esta perspectiva se encontra correcta, poderemos então
compreender que o discurso nacionalista em torno do
«subaproveitamento das riquezas nacionais», que a imagem de
um país com um subsolo «riquíssimo», improdutivo nuns casos,
desconhecido noutros, controlado pelo exterior, surge à luz da
nossa historia económica, em si mesma, como uma falsa questão.
Da mesma forma, a ideia de «atraso» não é esclarecedora quando
se procura qualificar o meio mineiro nacional, porque o que nele
encontrávamos não era uma multidão de pequenas minas a
produzir com meios parcos e obsoletos para um mercado
regional, mas algumas pequenas minas que alimentavam a grande
indústria dos países da Europa do «Norte», em situação de livre
concorrência internacional, e onde surgiam, aqui e além,
conjuntos industriais que empregam mais de um milhar de
trabalhadores e produziam a maior parte dos minérios que o país
exportava.
 69 O Estado exigia às companhias que o Director Técnico duma
mina fosse um engenheiro habilitado de na (...)

73Se em algum lado se pode falar em «atraso», entendida como


uma disfuncionalidade entre os processos de trabalho e as
competências necessárias à sua produção, é talvez na esfera
cultural onde serve melhor. De facto, foi igualmente característico
nesta área do trabalho nacional a fortíssima dependência do saber
técnico e organizativo que vinha do exterior. No Portugal
oitocentista faltavam não apenas os engenheiros de minas, como
também os «químicos», os condutores de minas e os mineiros.
Mesmo as companhias portuguesas recorriam a espanhóis,
franceses e ingleses para ocuparem lugares dirigentes na
organização industrial. E, com excepção dos capatazes e mineiros
que foram «formados» (através disciplina laboral), todas as outras
categorias andaram ainda ocupadas por estrangeiros já neste
século. A entrada dos técnicos portugueses teve de ser defendida
por via legislativa, primeiro em 1917 e depois reafirmada em
193069.
 70 Ainda em 1938 Adriano Rodrigues afirmava: «não temos em
Portugal [...] nem há na Direcção Geral de (...)

 71 Incluímos no primeiro caso o Boletim do Ministério das Obras


Públicas, Comércio e Indústria, o Bole (...)

74Essa dependência até níveis superiores ficava patente na


inexistência, em Portugal, de escolas para a formação profissional
de base, de laboratórios especializados para análise dos minérios
(até aos princípios do século) e de laboratórios para a
investigação sobre os metais70. No importante campo da
divulgação técnica, económica e científica, o meio português não
dispôs de jornais e revistas próprios, com excepção das
publicações oficiais e de dois periódicos, um que aparece no final
do século e outro ligado ao comércio do volfrâmio durante a
guerra71.
 72 M. Rodrigues Jr., Ob.cit., p. l1.

 73 Idem, idem, p. 10: «À ignorância do subsolo se atribuía, e com


justa razão, urna grande parte do in (...)

75Não menos importante era o conhecimento do Estado acerca


dos recursos que entregava aos particulares para exploração. A
primeira carta geológica de Portugal, muito pouco rigorosa, data
apenas de 1876, um quarto de século após a liberalização do
sector, e o primeiro inventário mineiro é de 188872. Mais grave
era o próprio desconhecimento dos nacionais que levaria vários
observadores a destacarem como causa primeira de tão grande
insucesso industrial73.

4. Da República ao Estado
Novo: que viragem na política
mineira?
76A avaliação da novidade introduzida, primeiro pela República, e
depois pela Ditadura Militar, na relação entre o Estado e o capital
mineiro depende em muito da perspectiva com que se parte do
nosso liberalismo: Se entendermos, nesse quadro, que o papel do
Estado consiste em definir, em igualdade, as condições de acesso
à propriedade, deixando aos indivíduos um vasto campo para a
realização dos seus objectivos, e que estes, ao fazê-lo, geram
riqueza para a comunidade, então devemos observar que desde a
Regeneração se criaram e mantiveram situações de favor e de
excepção. Desde essa altura o Estado foi chamado a amparar e a
estimular iniciativas, através de medidas activas ou excepcionais,
que interessavam ao progresso da nação. Os casos dos caminhos
de ferro e da indústria vidreira na Marinha Grande são exemplos
paradigmáticos; e a própria legislação de 1850-1852 estipulava
importantes isenções fiscais a quem se aventurasse nos
empreendimentos mineiros. Medidas de «amparo» seriam
tomadas no domínio dos transportes de minério nas linhas do
Estado, como mostra o caso das minas de Aljustrel ( v. infra).
Veremos, pois, que até à Ditadura Militar se mantiveram os
princípios dessa intervenção que culmina nos finais dos anos ‘30
numa viragem qualitativa, com a Lei do Fomento Mineiro.
 74 Diário do Governo, I série, n.º 57.

 75 A propriedade mineira era do Estado, o qual alienava o direito de


uso e usufruto aos particulares. (...)

 76 Art.º 5, idem.

77A lei 677 de 13 de Abril de 1917, publicada durante a


presidência de Bernardino Machado, ao mesmo tempo que
confirmava os grandes princípios fontistas, procurava corrigir
insuficiências anteriores74. O mesmo acontecera com as
disposições promulgadas na década de 1890 que não foram
esquecidas75. Contudo, introduzia-se agora uma excepção
importante no princípio do livre acesso à propriedade mineira: o
governo poderia tornar  cativa qualquer área de terreno,
subtraindo-a ao livre arbítrio dos particulares76.
 77 Art.º 54, idem.

78Outra novidade importante foi a criação dos coutos mineiros 77.


Ao contrário do que sucedera durante Regeneração, a existência
de pequenas concessões distribuídas por grande número de
particulares era considerada um obstáculo ao «normal»
desenvolvimento da indústria. Por isso era agora possível criar
uma demarcação única, formada pelo conjunto de todas as
concessões contiguas dum concessionário. Deste modo começam
a constituir-se grandes unidades mineiras, tanto nas áreas do
carvão, do volfrâmio, do estanho e das pirites como também na
do caulino.
79Entre 1920 e 1926 constituíram-se 11 coutos mineiros e, em
1930, existiam já 24 coutos mineiros que agrupavam 238 minas.
Até 1939 constituíram-se 32 coutos que agrupavam 365 minas.
No entanto, ao longo deste período vários conjuntos mantiveram-
se inactivos, sinal de que o arranjo administrativo não alterava
substancialmente o problema.
80A maior parte dos coutos mineiros do carvão foram
constituídos antes do 28 de Maio, mas com a Ditadura o processo
de concentração ganhou novo impulso. Apesar do relevo atribuído
pelo novo regime aos combustíveis, os dez coutos mineiros
formados entre 1927 e 1928 diziam respeito ao estanho,
volfrâmio, rádio e apenas duas, em Rio Maior, eram do carvão.
 78 A taxa de base era fixada em $35 por hectare no caso dos
combustíveis e $50 nos minérios metálicos.
81Uma forma de refrear a especulação e a improdutividade, para
além da possibilidade dos governos controlarem as transacções,
era aumentar a carga fiscal sobre as áreas inactivas. A lei
republicana criava uma taxa dupla no imposto fixo para as minas
onde não se fazia a cobrança do imposto proporcional. Era,
porém, uma medida insuficiente78. Outra forma, mais poderosa,
consistiria pura e simplesmente em não aceitar a justificação dos
concessionários para a paralisação dos trabalhos e fazer cumprir
a lei. A questão fulcral que se coloca   é então saber qual o motivo
porque sucessivos governos não actuaram assim. Ou melhor,
porque razão só raramente se utilizou essa prerrogativa, embora
ela estivesse estipulada desde a Regeneração e a grande maioria
das concessões se mantivessem, desde então, inactivas? As
razões que nós colocávamos inicialmente como hipótese,
resultante da percepção do tipo de desenvolvimento, viemos
encontrá-las explícitas num texto dum funcionário superior da
Direcção Geral de Minas, num período já muito pouco «liberal».
Segundo ele, essas razões residiam no facto de
 79 Informação do eng.º chefe da Circunscrição Mineira do Sul,
Antonio Ribeiro de Paiva Moraes, em 18.F (...)

tanto nós como em países mais adiantados, foi sempre praxe para não
diminuir as receitas do Estado, declarar a perda de direitos à concessão
e o abandono das minas momentaneamente paralisadas só quando os
concessionários deixam de pagar os devidos impostos, a não ser que
qualquer entidade idónea se proponha pô-las em lavra. (...) o governo
da República não deverá aplicar a violenta medida que dele é solicitada
[a expropriação da concessão] que tão contrária é ao uso (que também
faz lei) sem previamente intimar o concessionário a iniciar o esgoto da
mina dentro dum prazo determinado (...). Se depois (...) se entender
que deve ser declarada a perda de direitos à concessão e portanto ao
abandono da mina (...) sou de parecer que só deve ser concedida (...) a
quem mais vantagens oferecer. Ε como ninguém mantém improdutiva
uma riqueza que lhe está concedida sem para isso ter fortes
razões,  é de presumir que as que levam o actual concessionário a
suspender a lavra da mina impedirão que o concessionário futuro a
prossiga nela79.

82Assim, a administração só intervinha quando surgia alguém


interessado na exploração de concessões inactivas e quando se
sabia da incapacidade do concessionário em explorar a sua
concessão, por motivos não imputáveis à economia. Mas neste
caso havia sempre a possibilidade de negociação directa entre as
partes, constituindo o lucro dessa operação, uma espécie de
reparação pelo investimento não reembolsado ao antigo
concessionário. E, além disso, não devemos esquecer que o acto
de retirar uma concessão a alguém era uma expropriação.
83Vejamos então o que acontecia às jazidas que voltavam às
mãos do Estado, para percebermos como se fechava o círculo da
«plutocracia». No caso das minas serem
declaradas  abandonadas, as concessões podiam ser postas em
praça e adjudicadas por quem mais oferecesse, o que era feito em
termos do pagamento duma percentagem ao Estado sobre o
minério extraído. Contudo, quem mais oferecia não era muitas
vezes nem a entidade mais idónea, nem quem pretendia levar a
lavra por diante. Alterar esta lógica supunha estabelecer medidas
de excepção numa indústria onde o risco do investimento era
elevado e a recuperação dos capitais só se realizava ao fim de
alguns anos.
 80 Isentava-se de impostos os carvões e minérios de ferro quando
aplicados na siderurgia nacional. A c (...)

84Ora, a própria lei de 1917 colocava já algumas condições que


apontavam para a «nacionalização de alguns minérios» em torno
dum projecto siderúrgico. Mas tratou-se duma iniciativa limitada
ao favor fiscal80.
 81 V. o caso das minas de Aljustrel, infra.

85As medidas tomadas durante a I República não alteraram


substancialmente o panorama mineiro. Se é verdade que a guerra
representou um momento de viragem para os carvões, os anos
vinte, porém, foram difíceis para a generalidade dos minérios.
Sucessivos governos não chegaram a estabelecer uma estratégia
que modificasse qualitativamente um sector voltado para a
exportação de bens com fraco valor acrescentado. No domínio
dos transportes ferroviários – um dos factores estruturais
importantes que inviabilizavam economicamente muitas minas –
raras vezes se praticaram tarifas especiais, tal como acontecera
durante a Monarquia81.
 82 M. Rodrigues Jr., Ob.cit., p.201 refere a existência dum plano
siderúrgico da autoria de Paulo Barr (...)

 83 V. M. Rodrigues Jr., Ob.cit., p.195: «Se das investigações


mineiras até hoje feitas e da constituiç (...)

86Embora as jazidas minerais mais importantes, com excepção


das de carvão, se encontrassem em poder dos estrangeiros, o
movimento tendente a restringir o acesso à propriedade mineira
foi apenas esboçado com a definição das áreas cativas. Não fazia
sentido limitarem-se as exportações e muito menos proceder a
qualquer nacionalização selectiva.82 O problema mineiro
português surgia sobretudo como um problema de
subprodução83. Manuel Rodrigues definia assim aquela que viria a
ser a linha condutora do Estado a partir da Ditadura Militar:
 84 Idem, idem, p. 195.

Levar ao máximo a produção dos nossos jazigos de combustíveis e de


metais, tentando libertar-nos, tanto quanto possível dos mercados
estrangeiros, tal parece ser o sentido do problema mineiro português,
bem diferente do problema mineiro na Inglaterra, na Bélgica e na
França, onde o clamor contra as altas rendas dos empresários constituí
a maior preocupação dos políticos, de alguns economistas e das
massas operárias84.

87Nesta perspectiva, a «nacionalização dos minérios» significava


fazer reverter para o Estado o maior rendimento possível para,
por sua vez, fazer (ou mandar fazer) estudos e promover a
viabilização das minas que doutra forma eram consideradas
inviáveis. Ou seja, caberia agora ao Estado um papel de
interveniente activo neste processo.
88Neste sentido, já no início da década de 1920 era definida a
prerrogativa do Estado em manter uma área   cativa, ou seja,
colocada à margem dos processos normais de concessão, com o
fim de salvaguardar o interesse nacional. Os governos
republicanos centraram esta política nos combustíveis fósseis
mas, infelizmente para o país, as jazidas descobertas como o
Moinho da Ordem (Santa Susana), em Alcácer do Sal, eram de
fraco desenvolvimento.
 85 V. decreto 11.852 de 6. Julho. 1926.

 86 V. dec. 24.009 de 30. Julho. 1927. Para urna abordagem global
do problema v. Fernando Rosas, O Esta (...)

 87 V. dec. 22.788 de 29. Junho. 1933.

89Assim faz mais sentido falar em continuidade do que em


ruptura quando avaliamos a acção dos primeiros governos
comandados por Salazar. Em face da grave situação financeira em
que o país se encontrava, a ênfase maior foi dada inicialmente ao
problema do carvão, do qual o país era cronicamente dependente
da Inglaterra. Logo em Junho de 1926 foram dadas diversas
regalias aos concessionários das minas de carvão por forma a
incentivá-los a utilizar modernos métodos de exploração,
isentando-os do pagamento de 90% do imposto de importação
sobre máquinas e equipamentos85. Ε um ano depois tornava-se
obrigatório o consumo dos carvões nacionais pela indústria e
pelos caminhos de ferro do Estado 86. Uma medida de maior
alcance talvez tenha sido a criação, cinco anos mais tarde, do
Instituto Português dos Combustíveis, destinado a estudar e
reconhecer as reservas nacionais de hidro-carburetos e de
substâncias betuminosas87. Em 1935, as isenções fiscais foram
alargadas para os equipamentos de prospecção e pesquisa para
as minas de carvão, material fixo e circulante dos caminhos de
ferro mineiros e instalações termo-eléctricas.
 88 V. decreto-lei 18.712 de 1 de Agosto de 1930 in Diário do
Governo, 177, I série e J. de Paiva Manso (...)

90Apesar destas medidas, a lei de minas de 1930 era uma


codificação e actualização de diplomas dispersos, muitos dos
quais anteriores à lei 677 de 1917. Embora afirmasse   «princípios
fundamentalmente diferentes» da lei republicana e se
preocupasse por  «garantir a matéria-prima indispensável à
laboração de instalações metalúrgicas que a planeada política de
fomento deve vir a justificar num período próximo»,  no essencial
o novo decreto mais não fazia do que reforçar princípios
anteriores88. Até às vésperas da II Guerra Mundial, o nacionalismo
corporativo não passaria aqui pela organização gremial (apenas
esboçada e tardia) mas poderemos encontrar o seu espírito em
algumas medidas e organismos criados.
 89 Veja-se, por exemplo, o Couto Mineiro do Lena, explorado pela
Empresa Mineira do Lena, SARL. A gran (...)

 90 V. por ex. Ferreira Dias Jr., Linha de Rumo..., p.54, a propósito


pela sua luta pela opção hidroelé (...)

 91 V. números publicados por F. Soares Carneiro


em Potencialidades Mineirais da Metrópole, Base firme (...)
91A acção do Instituto Português dos Combustíveis veio trazer
consistência ao debate sobre o problema do carvão nacional,
tendo-se constatado o que já se supunha, ou seja, a
impossibilidade do país se sustentar com base nos seus recursos
carboníferos. Novas jazidas foram exploradas como em Rio Maior
e no Moinho da Ordem (Alcácer do Sal). Prestou-se apoio técnico
e acompanhou-se o processo de lavra e de produção
de  briquetes para a indústria. A produção de carvão passou das
140 mil toneladas para as 230 mil logo em 1926, para ultrapassar
as 300 mil no final dos anos trinta. Se este acréscimo na produção
pode ser atribuído à orientação política do Estado, a articulação
entre os carvões e a indústria nacional era já anterior 89. Ε,
principalmente, o carvão era já um bem «nacionalizado», utilizado
em pequenas centrais térmicas. Neste sentido podemos até
pensar, como hipótese, que este  dirigismo acabaria por tornar-se
contraproducente, sobretudo se entendermos que pôde ter
contribuido para adiar a opção pelas hidroeléctricas e foi
inseparável do controle dos preços que, paradoxalmente, lançaria
em dificuldades financeiras as minas de carvão no início dos anos
‘4090. Ε durante a guerra a energia viria naturalmente a faltar,
embora a produção de carvão atingisse em 1942 o valor máximo
de 606 mil toneladas91.
 92 Decreto 25.423 de 29 de Maio de 1935 e decreto 25.579 de 2 de
Julho de 1935, respectivamente.

 93 Decreto 27.540 de 26 de Fevereiro de 1937. A anterior obrigação


de participação fundamentada da par (...)

92Uma política de facilitação da economia das empresas


acompanhada de medidas de excepção tinha como reverso da
medalha uma prática em que a «burocracia» tendia a substituir-se
à «economia». Em 1935 era concedida à empresa belga que
explorava as minas de Aljustrel uma redução de 40% no imposto
ferroviário que recaía sobre o transporte do minério e à empresa
de São Domingos a redução em 90% dos direitos de importação
sobre equipamentos industriais necessários ao estabelecimento
duma fábrica de enxofre92. Por outro lado, em Fevereiro de 1937,
obrigavam-se os concessionários das minas a requerer uma
licença prévia de suspensão de lavra, sempre que se vissem
obrigados a suspender os trabalhos93. Nos casos anteriores
permitiam-se medidas de excepção justificadas pelas dificuldades
económicas sentidas por uma empresa de grande impacto
regional (como era o caso das minas de Aljustrel) ou pela
necessidade de valorizar a matéria-prima nacional e substituir
importações (no caso de São Domingos); mas, por outro lado,
aumentava a pressão do governo sobre a «plutocracia».
 94 Decreto-lei 29.725 de 28/06/1939 no D.G. 149 (I série).

 95 «Relatório preliminar da Proposta de lei apresentada pelo


Governo à Assembleia Nacional em 9 de Fev (...)

93Seria apenas em 1939, cinco anos após a publicação da


legislação corporativa, que foi promulgada a Lei de Fomento
Mineiro, mais de acordo com a doutrina nacionalista e com os
princípios do  «dirigismo económico»94. Os seus objectivos eram a
identificação das «reservas nacionais», o reconhecimento geral e
sistemático das possibilidades mineiras do país, de acordo com os
novos meios técnicos possibilitados pela entrada da electricidade,
do diesel, da generalização do ar comprimido no trabalho do
subsolo e de modernas técnicas de prospecção; enfim, o
desenvolvimento duma indústria capaz de  «assegurar
ao
excedente de população uma actividade remuneradora  [pois]
a  produção agrícola não pode fornecer ocupação ao suplemento
de braços existente.»95.
 96 É o caso de Castro e Solía que anteriormente estivera ligado ao
Instituto Português de Combustíveis (...)
 97 art.º 16 do dec. 29.725. (Alusão às minas em situação análoga à
de Aljustrel e do Lousal).

94Com base na experiencia anteriormente adquirida,


estabeleceram-se novos mecanismos de actuação susceptíveis de
ultrapassar bloqueios ancestrais96. Em primeiro lugar, o Estado
reservava para si o direito de prospecção, podendo declarar
cativas as áreas que entendesse para esse efeito. Os trabalhos de
prospecção e pesquisa poderiam ser atribuídas aos particulares
mas as áreas evidenciadas seriam objecto de condições especiais
de concessão. Em segundo lugar, ficava estabelecida a
possibilidade de isenção de direitos de importação sobre
máquinas destinadas ao desmonte, extracção e tratamento dos
minérios extraídos do nosso subsolo; e de contribuição industrial
para as empresas que se propunham instalar novas indústrias
destinadas ao aproveitamento e transformação dos minérios
nacionais. Em terceiro lugar, fixava-se a possibilidade de isentar
de imposto ferroviário, bem como estabelecer tarifas especiais
nos caminhos de ferro do Estado, as minas   «susceptíveis de
empregar grandes massas de mão-de-obra ou representar
aumento sensível de riqueza para a economia nacional» 97.
95Finalmente, facultava-se a possibilidade ao governo
de  «promover a criação de grémios mineiros e regulamentar o
seu funcionamento», com o fim de aproveitar em comum
instalações laboratoriais, caminhos de ferro, instalações para
tratamento de minérios,  «organizar mercados», realizar contratos
colectivos de trabalho, etc. Apesar de instituições corporativas
como estas não terem tido pleno vencimento, o essencial do
nacionalismo económico vingou. Uma «economia moral»,
condenando a livre-concorrência, formalizava-se num discurso
legitimador da coerção autoritária sobre os agentes económicos,
o qual se apoiava em valores como o do «preço justo» e o da
«defesa dos produtores» contra a «plutocracia». A Lei de Fomento
Mineiro não fugia a esta doutrina, expressando o governo, através
de Costa Leite (Lumbrales) e Castro e Solla, o desejo de coagir os
especuladores a trabalhar as minas, garantindo ao mesmo tempo
as «reservas justas».
 98 Os estudos sobre o carvão tinham já sido obra do I. P. dos
Combustíveis e no caso do petróleo e gaz (...)

96Neste contexto surgia o Serviço de Fomento Mineiro com a


missão de acompanhar a execução dum  «plano
geral de
reconhecimento» do país. O plano, inicialmente previsto para
começar pelo ferro e pelo ouro, acabaria por ver os seus prazos
de execução encurtados por causa da II Guerra Mundial 98. Desta
forma, uma das tarefas do S.F.M. explicadas pelo novo contexto
internacional foi o seu novo papel de reforço   «do trabalho de
assistência técnica da Direcção Geral [de Minas]  às empresas
mineiras para que estas desenvolvam a sua produção e se faça no
País o máximo aproveitamento das riquezas nacionais».
97A nova lei surgia relativamente tarde (se virmos como o
processo de organização corporativa estava avançada noutros
sectores) e sem qualquer relação com a guerra. Ela conjugava
modalidades de acção já antes ensaiadas mas introduz outras
novas, como as que impeliam os concessionários a realizar (ou
mandar realizar) trabalhos de pesquisa e a valorizarem os
minérios que extraíam. Introduzia-se a figura da hipoteca mineira
para permitir o financiamento necessário às empresas ao mesmo
tempo que se iria exercer um controle apertado sobre a
comercialização e circulação de metais, com a criação, pouco
tempo depois, das Comissões Reguladoras do Comércio do
Carvão e dos Metais. A política seguida por Salazar foi a de
garantir às empresas as condições de realização de bons lucros
em determinados projectos que tinham o aval do regime,
confiando que nessas condições a iniciativa privada cumpriria o
seu papel. Por outro lado, procurou, por vias fiscais, «fazer pagar
tão caro quanto possível» a maior parte dos minérios que se
exportavam e que o país não sabia (ou não podia) aproveitar. Não
nos cabe, porém, avaliar em que medida a política
de  «nacionalização dos recursos mineiros nacionais»  foi
alcançada ou determinar o seu papel no crescimento industrial do
país desde então. Salientemos, de qualquer forma, o seu carácter
tardio ainda relativamente ao enunciado dos princípios já
defendidos desde o início dos anos‘30 no interior do regime,
nomeadamente, no I Congresso da Indústria, no Congresso dos
Engenheiros e depois no Congresso da União Nacional.
98O crescimento do sector mineiro nas vésperas da guerra ficaria
assim a dever-se menos à política nacionalista e autoritária do
Estado e ao crescimento da procura interna (com excepção dos
carvões) do que a uma conjuntura externa favorável tanto às
pirites como aos minérios de guerra.

5· O trabalho das minas numa


sociedade rural
99Os elementos já evidenciados sobre o modo de
desenvolvimento mineiro, permitem-nos desde já estabelecer
algumas conexões entre a indústria e o trabalho. Podemos assim
identificar três grandes regiões, culturalmente diferenciadas, onde
se concentram a maior parte das minas com lavra desenvolvida no
país: a bacia carbonífera do Douro, onde às grandes minas de
carvão se juntam as explorações de antimónio e chumbo; a faixa
piritosa alentejana, onde surgem também as pequenas
explorações de manganês e de ferro, com uma vida geralmente
precária, a par das minas de «pirite cuprífera»; e, finalmente, o
vasto quadrilátero do volfrâmio, associado ao estanho e onde
encontramos também minas de urânio e ouro, centrado no
interior norte.
 99 É, pois, muito provável estarmos perante urna população
mineira, dado que actividades como a das pe (...)

100Já no censo de 1900 se desenham estas regiões quando


isolamos os concelhos com mais de 300 indivíduos dependentes
da «extracção de materiais da superfície do solo» (tabela 1.6.) 99.
Agregando os concelhos da faixa piritosa alentejana, temos uma
população mineira total de 1.755 indivíduos. Se a este número
adicionarmos a população da Bacia Carbonífera do Douro,
teremos quase 2.300 indivíduos que, no conjunto, representante
cerca de 40% do total desta classe. Temos, pois, quase toda a
população mineira distribuída num núcleo no sul (Aljustrel,
Mértola e depois Grândola) e pelo norte litoral (Figueira da Foz,
Sever do Vouga, Oliveira de Azeméis e Gondomar).
101No entanto, nesses concelhos os trabalhadores ligados as
minas não tinham qualquer expressão no conjunto da população.
Apenas em Aljustrel e Mértola, os mineiros eram,
respectivamente, 5,5 e 7% do total. É provável, no entanto, que
estes números apareçam ligeiramente subavaliados, já que muitos
trabalhadores rurais encontravam periodicamente trabalhos nas
minas. De qualquer forma estamos perante um universo ¡solado.
Concelhos mineiros em Portugal, 1900
[Tabela 1.6.]
Agrandir Original (jpeg, 92k)

Legenda: 1. População mineira nos concelhos com mais de 300


habitantes activos e dependentes da "extracção de materiais da
superfície do solo"; 2. Número de activos (homens); 4. Número de
activos (mulheres); 5. População residente nos concelhos.
Fonte: I.N.E.,  Censo de 1900.

102Uma década depois o panorama geral pouco se tinha alterado,


com excepção de Aljustrel que regista um importante acréscimo.
Em 1930, 16 e 14% da população de Aljustrel e Mértola eram
«mineiros» (v. tabela 0.1.); em Grândola eram 5% e em Gondomar
6%.
103Os mineiros permaneciam mergulhados num mundo onde a
agricultura surgia frequentemente como uma actividade
complementar e viviam concentrados em pequenos núcleos
populacionais que foram engrossando com o passar dos anos. O
mineiro que Poinsard encontrou no Braçal (Aveiro) é o mineiro-
camponês que porventura melhor tipifica a condição da maior
parte dos trabalhadores das minas portuguesas no início do
século.
104Se atendermos à  intensidade da actividade mineira,
verificamos que a maioria das explorações trabalhava menos de
300 dias durante o ano. Ε um número significativo, rondando a
terça parte, laborava pouco mais de metade do ano. Esta
irregularidade atravessa o período republicano como uma
característica cuja génese foi já explicada. A variação na duração
do trabalho mineiro ao longo do ano existe em todo o país.
Mesmo nos distritos com grandes minas como o de Beja e o do
Porto encontramos grandes variações anuais no desempenho
desta actividade até à II Guerra Mundial.
105
Intensidade da laboração nas minas portuguesas, 1912-1931 (Número
de minas distribuídas pelo número médio de dias de laboração em
cada ano)
[Tabela I.7.]

Agrandir Original (jpeg, 84k)

Fonte:  Boletim de Minas.... (cálculos nossos)

106
Dimensão das explorações mineiras portuguesas, 1912-1931 (Número
de minas segundo a dimensão da oferta de trabalho)
[Tabela 1.8.]
Agrandir Original (jpeg, 92k)

Fonte:  Boletim de Minas... (cálculos nossos)

107
Principais grupos de minas em actividade em Portugal (1910)
[Tabela 1.9.]

Agrandir Original (jpeg, 144k)

Fonte: Relatórios dos Serviços de Minas. Relativos ao ano de 1910.

108Muito desigual é também a dimensão do pessoal que


empregam. Apenas duas explorações (São Domingos e São Pedro
da Cova) empregam mais de um milhar de trabalhadores, sendo
muito poucas também as que empregam mais de quinhentos
trabalhadores. Assim, a maioria das empresas não emprega mais
de cem indivíduos, laborando frequentemente menos de 200 dias
no ano.
109Também encontramos grandes variações anuais no trabalho
em cada mina. Uma das poucas generalizações possíveis a este
respeito é a de que os aumentos na produção correspondem
invariavelmente a aumentos no volume de emprego, tanto nos
grandes empreendimentos como nos mais pequenos.
110O emprego de máquinas nas minas não se traduzia de modo
imediato em ganhos de produtividade. A maioria das máquinas
eram usadas no transporte (interior e exterior), no esgoto e
ventilação das minas, na trituração (preparação mecânica) e nas
oficinas acessórias. Na frente de extracção, os instrumentos
fundamentais do mineiro continuavam a ser o  pico, a vara de
aço,  o marrilho e a dinamite.
111O universo mineiro era, por norma, masculino. O número de
mulheres empregadas pelas empresas era relativamente pequeno
e o seu trabalho era executado no exterior, à superfície. A
população dependente, com mais de 14 anos, registada nos
censos era quase toda feminina e o peso dos homens no conjunto
da população das minas em actividade recente era enorme.
Devemos, por isso, considerar a  duração da actividade mineira
como um factor determinante na formação duma população
estabilizada com um modo de vida próprio e com elos ténues com
as comunidades rurais vizinhas. O cálculo do número médio de
anos de actividade para cada tipo de exploração é, porém, difícil
de realizar para o nosso país, dadas as fontes disponíveis.
Relembremos que muitas jazidas estiveram concessionadas sem
que nunca tivesse existido qualquer espécie de lavra. Em todo o
caso, arbitrar um valor médio não é fundamental. O importante é
constatarmos que apenas nas explorações que empregavam
frequentemente mais duma centena de trabalhadores, uma
pequena minoria portanto, tiveram uma vida superior a uma
dezena de anos e conheceram uma organização industrial
superior. A esmagadora maioria das explorações teve uma vida
curta, raramente ultrapassando os cinco anos de actividade e com
uma população assaz instável. Raras foram as empresas que
empregaram mais de meio milhar de trabalhadores. Como vimos,
quase todas tinham menos de uma centena e, uma parte
significativa, menos de 30 operários. Geralmente, à laboração de
pequenas minas correspondiam sociedades que no ciclo duma
campanha anual recebiam o capital que investiam e distribuíam os
lucros. Utensílios de mineiro, dinamite, madeira e eventualmente
um ou outro animal e meia dúzia de homens era o suficiente para
montar uma lavra pouco profunda em busca do minério mais rico
destinado a ser vendido em Swansea.
112Foi neste cenário dos princípios do século que ganharam relevo
as minas da faixa piritosa alentejana e, em particular, as minas de
Aljustrel e de São Domingos, pelo seu volume e intensidade de
trabalho, duração e nível de organização. Tal como as minas de
São Pedro da Cova nesta época,  elas não foram a regra ou o
exemplo a partir do qual se possa fazer um estudo de caso;
foram, de facto, a grande excepção que viu nascer e morrer várias
gerações de mineiros, criaram o seu próprio universo dentro
duma sociedade onde quase toda a população vivia e dependia do
«campo», em comunidades onde o sagrado e a Igreja
desempenhavam um papel importante (se não fulcral) na ordem
social.
113A ligação com o mundo fabril, como a ligação do carvão com o
têxtil ou como a associação das minas com as metalurgias e
siderurgias, estaria aqui ausente. Em que medida este
afastamento dos distritos industriais impediu (ou não) o
aparecimento de determinados tipos de comportamentos de
«classe»? E de que forma esse isolamento é capaz de explicar
certos factos da consciência colectiva, a emergência de
determinado tipo de organização e conflitos, uma forma de estar
e viver na comunidade?
Estrutura de emprego nas minas portuguesas, 1910
[Tabela 1.10.]

Agrandir Original (jpeg, 76k)

Fonte: Relatórios dos Serviços de Minas. Relativos ao ano de 1910.

NOTES
22 Ao longo do texto as referências de tipo geográfico a Portugal,
quando se trata da indústria mineira, circunscrevem-se ao continente
português. Da mesma forma, sempre que falarmos em «concessões»
deve-se entender, para o século passado, «concessões definitivas». As
«concessões provisórias» serão sempre explicitadas. (Sobre estes
conceitos  vide infra). As referências às minas de Aljustrel indicam a
mina de São João do Deserto e a mina de Algares, nos extremos da
vila. As outras pequenas minas do concelho serão especificadas
quando necessário.

23 A indústria mineira em Portugal: estudo económico-


jurídico. Coimbra, 1921, p.30.

24 V. José Augusto César das Neves Cabral (org.),  Estatística Mineira
(Ano de 1882), Lisboa, Imprensa Nacional, 1886, pp.46/7 e 52/3
(mapas estatísticos).

25 V. Fig. 1 (p. 353). Os dados estatísticos sobre o  movimento


mineiro antes do início do século são escassos e dispersos (tabela 61,
anexo). Cf. dados compilados por Oliveira Marques na obra citada, cap.
IV «O surto industrial», p. 116.
26 Facto já evidenciado em A. H. de Oliveira Marques
(coordenação),  Nova História de Portugal. IX. Portugal: Da Monarquía
para a República, 1.  ed., Lisboa, Presença,· 1991, pp.115-118.
a

27 Relatório de H. W. Gainsford citado por Sacuntala de


Miranda,  Portugal: o círculo vicioso da dependência (1890-
1939), Lisboa, Teorema, 1991, p. 162.

28 «Le Portugal est l'un des pays du monde les plus riches em gites
métaliferes. Les magnifiques dépôts disséminés dans les sierras
espagnoles se continuent sur le territoire portugais, qu'ils traversent
de part en part». (L. Poinsard,  Le Portugal Inconnu. I. Paysanes, Marins
et Mineurs. Paris, s.d). V. Tb. E. Ackermann,  Le Portugal Moderne.
Étude intime des conditions industrielles du pays, 2 vols., Rixheim,
1907 e A. H. Oliveira Marques,  Nova história..., cap. IV. «O surto
industrial». Ackerman afirmava:  (Ob. cit., p. l)  «Quoique le Portugal
soit l'un des pays les plus riches en minéraux variés, l'on ne rend
néamoins pas assez compte combien la région est célèbre par la
richesse minérale de son sol.». E no  Dicionário de termos mineiros
portugueses (Londres, The Mining Journal, 1910, p. 127) voltava a
defender que  «le pays portugais est riche en mines».

29 Ezequiel de Campos,  A Conservação da Riqueza Nacional, Porto,


1913, p.185.

30 Ainda em 1930 este imposto era arbitrado entre 2$50 e 5$00 por
hectare segundo as classes de minério fixadas (v. art.º 101 do decreto-
lei 18.713 de 1 de Agosto de 1930,  Diário do Governo, 177, 1.ª série).
O imposto fixo fora estabelecido pela legislação de 1852. Apesar das
sucessivas modificações nas leis mineiras, manteve-se sempre muito
baixo, não desestimulando seriamente quem mantinha explorações
improdutivas (v. infra).

31 Em muitos casos, o móbil era unicamente vender na melhor altura.


Como se fazia notar ainda em 1939,  «o registo mineiro, feito sem
elementos suficientes, leva a explorações ocasionais, por vezes apenas
destinados a manter a concessão com o único intuito de esperar o
momento propício para vender». (V. Relatório preambular da «Proposta
de lei apresentada pelo governo à Assembleia Nacional em 9 de
Fevereiro de 1939»  in Diário das Sessões, 34, 10/02/1939. O texto é
publicado também pelo Serviço de Fomento Mineiro,   Relatório 1. Anos
de 1939 a 1941, Porto, 1942, pp. 3 e ss.).

32 Le Portugal..., p. 128. Tradução nossa.

33 Em termos estritamente económicos, estas  reservas designam a


quantidade de minério que uma companhia pode extrair mediante o
valor médio fixado no mercado. Deste modo, a posição das jazidas em
face do mercado é fundamental dado que as suas reservas são função
dos custos de extracção, de transporte e de exportação. Por outro
lado, as reservas têm um referente físico no  conhecimento do conjunto
de minério disponível para o mercado. Este conhecimento afecta
directamente os preços, transformando o referente físico numa linha
em constante mobilidade em função desses valores. Em termos
formais, as  reservas designam um conjunto de jazidas cativas por
particulares em função duma estratégia determinada face ao mercado,
sejam essas jazidas possuídas por produtores independentes ou
controladas pelas indústrias consumidoras a jusante. No caso dos
países dependentes, as estratégias das empresas nem sempre
coincidente com os interesses dos estados nacionais. Desta forma,
as  potencialidades mineiras podem transformar-se, para estes últimos,
em oportunidades económicas perdidas.

34 A primeira tentativa de liberalização das minas data de 1836


durante o governo de Passos Manuel mas em moldes muito diferentes.
A primeira lei liberal data de 15 de Julho de 1850, sendo logo
substituída pela de 31 de Dezembro 1852, cujos princípios são
idênticos. Esta seria regulamentada pelo decreto de 9 de Dezembro de
1853.

35 Veja-se a este respeito, «Breve notícia sobre a história e legislação


das minas em Portugal» de J. A. C. Neves Cabral in  Estatística
Mineira..., p. 7-15. O texto é reproduzido com alguns acrescentos
no  Catálogo Descritivo da Secção de Minas...,  pp. 7-18. O manual
jurídico de referência no meio mineiro para o séc. XIX é o  Código do
Mineiro ou Colecção Completa da Legislação sobre Minas (1852-
1883), Lisboa, 1883. Veja-se também, Manuel Rodrigues Júnior,  A
Indústria Mineira..., Coimbra, 1921.

36 Seguindo este espírito, mais tarde, em 1917, viria a estabelecer-se


direitos também para aqueles cujos estudos científicos conduzissem a
descobertas.

37 Esta figura viria a ser abolida mais tarde, quando se estabeleceu a


«licença de pesquisa» em 1917.

38 Um exemplo disto foi o caso da relação entre a La Sabina e a Mason


& Barry na mina de São Domingos, no concelho de Mértola ( v. infra).

39 O diagnóstico aparece logo no preâmbulo da Lei de Fomento


Mineiro:  «a indústria mineira em Portugal tem tido sempre vida
irregular e em certo modo precária, variando muito a produção como é
natural, com as contingências dos mercados, mas mantendo-se
sempre num nível muito abaixo em relação à produção
em geral».  S. Fomento Mineiro,  Relatório..., p. 3. Também o geógrafo
Hermann Lautenasach escrevia em 1932 («Aspectos da Vida
Económica» in Orlando Ribeiro et allie,  Geografía de Portugal, IV. A
Vida Económica e Social, Lisboa, Sá da Costa, 1991, pp. 1157) na linha
de M. Rodrigues Jr.  (Ob.cit.): «Contrariamente à maioria dos países
europeus, Portugal explora muito incompletamente os seus avultados
recursos minerais».

40 Raphael Samuel, «Mineral Workers» in  Miners, Quarryman and


Saltworkers, 1.  ed., Londres, Roudedge & Kegan Paul, 1977, pp. 20-
a

21.

41 «Les Portugais n'ont pas su tirer parti de ces richesses; leur


minerais n'ont guère été pour eux que des amas de pierres sans valeur
jusqu'au jour où les étrangers sont venus les extraite et les emporter
pour l'alimentation de leur usines» (L. Poinsard,  Ob.cit., p.216).
42 A nossa dependência energética da Inglaterra não era compensada
com a produção doutros minérios e das nossas pedreiras. Na classe
das matérias-primas de origem mineral, as estatísticas incluíam grupos
de exportação importantes como as lousas de Valongo, os
combustíveis reexportados, cal e cimento, pedras e rochas
ornamentais (mármores). Apenas no caso dos cimentos as trocas com
África e Brasil tiveram um peso importante. No caso dos mármores o
mercado brasileiro era importante. Mas a maior parte das nossas
lousas seguiam os caminhos dos nossos minérios.

43 Já no  Inquérito Industrial de 1881, por exemplo, se afirmava que as


minas de Buarcos (Cabo Mondego) não arrancavam mais minério
porque o consumo era apenas local. As 500 toneladas arrancadas por
mês bastavam para alimentar urna fábrica de vidro, outra de produtos
cerâmicos e outra ainda de cal hidráulica. O principal obstáculo ao
crescimento não era a falta de protecção pautal (razão de queixa
principal das indústrias) mas a inexistência de uma via férrea da
Figueira até à Pampilhosa. Numa palavra, um problema de transporte.
(V. «Companhia Mineira e Industrial do Cabo Mondego» in  Inquérito
Industrial de 1881.III parte, Lisboa, 1882 e também Américo Pires de
Lima,  Subsídios para a Historia das Minas de Carvão do Cabo
Mondego, Porto, 1956 e Manuel Joaquim Moreira dos Santos,  O
complexo industrial do Cabo Mondego: sua origem e evolução através
dos tempos, Figueira da Foz, Câmara Municipal, 1982).

44 Veja-se Severiano Monteiro e João Augusto Barata,   Exposição


Nacional das Indústrias Fabris. Catálogo Descritivo da secção de
minas, Lisboa, Imp. Nac., 1889, p. 293.

45 Cf. Ε. Campos,  Ob. cit., p. 175: «O carvão produzido vem para o


Porto, onde é consumido quase todo no uso doméstico. As
experiencias de emprego nos motores a gás parece terem sido pouco
favoráveis».

46 Para o problema do carvão na economia portuguesa durante a


guerra veja-se Sacuntala de Miranda,  Ob. cit., cap. III.
47 Veja-se a este respeito António do Carmo G. Q. Viana, num dos
raros estudos especializados para este período, escrito em 28. Dez.
1924 e publicado no  Β.  M. Ano de 1927, Lx, 1929, sem título. Nele se
afirmava:  «É incontestável que a guerra provocou um certo
desenvolvimento na exploração da indústria mineira do carvão, e se
terminada esta, a menor procura determinou urna baixa de produção,
em todo o caso as nossas minas podem hoje fornecer um mercado
relativamente mais amplo».

48 Linha de Rumo: Notas de Economia Portuguesa, Lisboa, Clássica,


1946, pp. 182-183.

49 Para o problema do volfrâmio no contexto da guerra, vejam-se as


linhas que lhe dedica Fernando Rosas,  Portugal entre a Paz e a Guerra:
Estudo do impacte da II Guerra Mundial na economia e na sociedade
portuguesas (1939-1945), Lisboa, Estampa,1990.

50 Já Ezequiel de Campos notava com mágoa que  «as minas são dos
estrangeiros; estrangeiro é o capital, são os engenheiros, os directores
e até parte dos mineiros».  (A Conservação...., ob. cit., p. 184).

51 É esta a ideia com que se fica depois de se ler o historial de


inúmeras minas portuguesas. É útil, a este respeito, a consulta das
obras monográficas do Serviço de Fomento Mineiro, publicadas já
durante o Estado Novo, como por exemplo, o  Catálogo das Minas de
Ferro do Continente, em 2 tomos, Porto, 1952.

52 Mesmo L. Poinsard reconhece que a timidez de capital não foi uma


característica inicial, mas antes um ponto de chegada  (Ob. cit., p.
212):  «Il faut dire que des spéculations hasardeuses, lancées par des
affairistes dénués de scrupules, ont beaucoup contribué à éloigner le
public des entreprises de ce genre.»  (ν. supra. Ackermann teve a
mesma opinião).

53 Charles Harvey e Jon Press, «Overseas investment and the


profissional advance of British metal mining engineers, 1851-1914»   in
Economic History Review, 2.  série, XLII, I (1989), p. 64.
a
54 Um diplomata britânico salientava, ainda em 1934:   «À parte o
carvão e as pirites, cujas concessões datam de 1854 e 1859,
respectivamente, a indústria mineira em Portugal é comparativamente
recente e pode considerar-se que está nos estados iniciais, pois só em
anos recentes foram desenvolvidas facilidades de transporte que
abriram um futuro económico a muitas regiões mineiras. Mesmo hoje,
apesar da activa construção e reparação de estradas, o transporte é
ainda urna unidade de custo muito importante, que milita contra os
minérios mais pobres. Mas existem poucas dúvidas em relação ao
facto de Portugal possuir urna grande riqueza inexplorada nos seus
recursos minerais, de que apenas a superfície foi até agora
arranhada.» (Citado por S. Miranda,  Ob. cit., p. 174).

55 Neves Cabral escrevia nos finais dessa década: «O  wolfram tem
hoje muito bom preço no mercado, porém, ainda não há muitos anos
era considerado como ganga sem valor e lançado aos entulhos nas
minas de estanho, actualmente a sua aplicação faz-se cada vez em
maior escala, tanto na indústria do ferro como na do aço.»
(Catálogo Descritivo..., p. 161).

56 Idem, p. 162.

57 V.  Minas concedidas.., passim.

58 Cálculos nossos efectuados a partir do  Boletim de Minas (ano de


1939).

59 «Indústria das Minas em Portugal. Memoria sobre as minas no


distrito de Leiria»  in BMOPCI, 1858, IV, 507-520. V. tb.  Revista
Peninsular, 7.

60 Estatística Mineira..., p.33. O sublinhado é nosso. Ele reforça a ideia


bem vincada entre os altos funcionários do Conselho Superior de Minas
de como se processava o desenvolvimento desta indústria.

61 Idem, p.33.
62 A maior parte destas concessões estavam registadas como sendo de
«ferro-manganês».

63 Referência a Leixões. Idem, p. 34.

64 Catálogo..., p. 28.

65 Idem, p. 29.

66 Ezequiel de Campos, depois de lhe dedicar muitas páginas n’ A


Conservação da Riqueza Nacional, estabelecia as seguintes condições
para a viabilidade económica do projecto: 1. realização da linha férrea
Contumil-Leixões; 2. protecção pautal para um certo número de
produtos metalúrgicos; 3. a necessidade de aproveitamento de todos
os minérios de ferro nacionais e desenvolvimento na exploração do
carvão; 4. isenções fiscais sobre importação de máquinas, redução nas
tarifas dos caminhos de ferro do Estado, e isenção de contribuição
industrial por largos anos; 5.crescimento da procura interna e a
preferência, por parte do Estado, do ferro nacional; 6. protecção
florestal e defesa do consumo de madeira no país. As razões porque
deveria consumir-se todo o ferro nacional deviam-se à natureza
siliciosa do minério de Moncorvo. No projecto siderúrgico entrariam
assim o ferro alentejano «para se obter um leito de fusão mais
convincente», o volfrâmio, o manganês, as sucatas, o carvão e o
caulino nacionais.

67 Estes termos são fundamentais para as posições que se iriam tomar


face ao estabelecimento da siderurgia nacional. Aboim Inglês é
contrário ao projecto porque ele parecia ser inviável em termos de livre
concorrência (A Lucta, 15 de Julho de 1913). Ezequiel de Campos, por
seu turno, parece contraditório já que na mesma obra afirma que   «não
podemos por enquanto instalar em Portugal a siderurgia, nem pelo
carvão, nem pela electricidades (Ob. cit., p. 190) para logo a seguir a
defender e apresentar as bases para um projecto de lei da «siderurgia
nacional»  {Ob.cit.,p.203). Ε concluí:  «Há necessidade de promover a
siderurgia no país; parece viável a empresa dentro de alguns meses
(...) a economia nacional lucrará mais de 3.000 contos; as Finanças
deverão melhorar; a educação nacional e os processes de trabalho
muito têm a lucrar; novas indústrias surgiriam paralelamente à
siderurgia, e urna parte de gente a mais no norte do país deixaria de
emigrar em condições desvantajosas, pastando a encontrar no país
trabalho tão vantajoso para a Nação»  (p. 211).
Em 1931 a sua opinião iria alterar-se numa altura em que o
proteccionismo imperava por todo o lado. Nestas condições defende
que «não  tínhamos mercado interno e colonial bastante, nem para um
só forno grande» (Para a Ressurreição de Lázaro...). Ε em 1935
defendia que a siderurgia não era viável com o
«nacionalismo  dominante [...] ficando também os minérios mais caros
do que os da siderurgia estrangeira [...A siderurgia] Só com minérios e
combustíveis portugueses [...] continuariam inalcançáveis os mercados
externos». (V. Serviço de Fomento Mineiro,  Relatório... 1939 a
1941, p.87).

68 Ob.cit., p.229.

69 O Estado exigia às companhias que o Director Técnico duma mina


fosse um engenheiro habilitado de nacionalidade portuguesa, uma
medida que provavelmente se destinava mais a defender os
engenheiros que saíam das nossas escolas do que a qualquer outra
coisa. O Director Técnico era o responsável, perante o Estado, pelo
cumprimento do plano de lavra das minas bem como pelo andamento
dos trabalhos. Era muito frequente, porém, o mesmo individuo ser
Director Técnico de várias minas e não residir em nenhuma delas,
mesmo quando estavam em actividade. Identificamos alguns casos em
que tal sucedia mesmo nas maiores explorações (Louzal, por exemplo)
apesar do Estado reservar para si a prerrogativa de retirar a sanção
nesses casos.

70 Ainda em 1938 Adriano Rodrigues afirmava:  «não temos em


Portugal [...] nem há na Direcção Geral de Minas (como há em vários
países) nem nos Escolas Superiores Técnicas (como há em tantas
Nações) um laboratório de preparação mecânica de minérios, quer
para proceder aos trabalhos de investigação que interessam aos
recursos da Nação, quer mesmo para prestar ao público mineiro
português os serviços de que carece e que só os Laboratórios
estrangeiros lhes tem prestado até hoje». («Exposição e propostas
acerca do plano de Fomento Mineiro do país...»  in Relatório..., p.81).

71 Incluímos no primeiro caso o  Boletim do Ministério das Obras


Públicas, Comércio e Indústria, o Boletim de Minas e as publicações
dos Serviços Geológicos. No segundo caso, temos o   Jornal de Minas e
da Indústria Metalúrgica, 1.° ano, 1, Lisboa, 1892 e a  Revista Mineira.
Ano I. Lisboa, 1942. No editorial do primeiro número do  Jornal de
Minas (1.Out. 1892), afirmava-se:  «até aqui, apesar da febre de
negociação que o papel de minas originou nos capitalistas, nunca
houve entre nós um órgão de imprensa exclusivamente dedicado ao
assunto. Fez falta nessa época de precipitada ganância, em que só as
acções das companhias mineiras eram elemento de jogo e não se
cuidava da principal, da única fonte de receita séria – a exploração
insistente dos jazigos».

72 M. Rodrigues Jr.,  Ob.cit., p. l1.

73 Idem,  idem, p. 10:  «À ignorância do subsolo se atribuía, e com


justa razão, urna grande parte do insucesso tão repetido da indústria
mineira». Cf. Poinsard,  Ob.cit.

74 Diário do Governo, I série, n.º 57.

75 A propriedade mineira era do Estado, o qual alienava o direito de


uso e usufruto aos particulares. (Art.º 1, lei 677 de 13.Abr.1917). O
registo de descoberta, feito nos municípios, devia dar lugar no prazo
de 60 dias a uma licença de pesquisas que caducava ao fim de 2
meses, caso o manifestante ainda não tivesse iniciado trabalhos (art.º
23 e 34, idem). Este tinha depois dois anos para pedir a concessão ao
Estado (o prazo era alargado para 4 anos no caso dos combustíveis,
art.º 37, idem). No caso de se constituir urna companhia, era
necessário previamente apresentar os seus estatutos. No alvará de
concessão mantiveram-se os princípios de 1892 que incluíam
disposições quer sobre a lavra de minas quer sobre o campo social.
Neste domínio continuou a proibição de não admitir nos trabalhos
subterrâneos mulheres e rapazes com menos de 14 anos. Os
concessionários eram obrigados a fazer as obras necessárias para a
segurança e salubridade das povoações,  «a subvencionar
estabelecimentos de assistência pública de que aproveitam todos os
operários mineiros», bem como a construir ou a subvencionar a
construção de estradas, vias férreas e vias navegáveis   «que sejam
utilizados para transporte dos produtos das minas»  (Art.º 49, idem).
Embora a concessão fosse atribuída por tempo ilimitado, não podia ser
transmitida sem autorização do governo. Perdiam-se os direitos sobre
a concessão se a mina não estivesse em lavra activa, houvesse lavra
ambiciosa ou má direcção dos trabalhos que pusesse em risco a
segurança dos operários e povoações, ou ainda, se o concessionário
faltasse ao pagamento de impostos durante dois anos consecutivos.
(Art.ºs 55 e 59, idem). A obrigação de manter a lavra activa cessava por
motivos de força maior (incêndios, inundações, greves, etc.). «Lavra
ambiciosa» é o termo jurídico utilizado para designar aquilo que no
meio mineiro era conhecido como lavra de rapina. Esta consistia em
aproveitar apenas os minérios mais ricos das jazidas pelos processos
menos dispendiosos em circunstâncias de mercado favoráveis. As
minas eram abandonadas, sendo depois difícil (na maior parte dos
casos impossível) aproveitar integralmente a jazida devido aos custos
acrescidos duma exploração mais racional e ao facto de se contar
apenas com o minério pobre. Os impostos sobre as minas e os
minérios estavam limitados ao imposto fixo e ao imposto proporcional,
não havendo lugar a qualquer imposto de exportação nem à
contribuição industrial.

76 Art.º 5, idem.

77 Art.º 54, idem.

78 A taxa de base era fixada em $35 por hectare no caso dos
combustíveis e $50 nos minérios metálicos.
79 Informação do eng.º chefe da Circunscrição Mineira do Sul, Antonio
Ribeiro de Paiva Moraes, em 18.Fev.1929  in D.G.M. 31-3 (Mina da
Caveira, concelho de Grândola). Os sublinhados são originais. Se já é
raro encontrarmos as explicações dos concessionários sobre a inercia
das suas explorações, mais raros são os textos deste tipo, nos quais se
definem os princípios informalmente estabelecidos no tratamento
destas questões. Neste caso trata-se dum esclarecimento a um pedido
da Câmara de Grândola (of.º da C.M. Grândola de 14/02/1929, no
mesmo processo).

80 Isentava-se de impostos os carvões e minérios de ferro quando


aplicados na siderurgia nacional. A companhia ficaria isenta de
contribuição industrial durante 20 anos. As minas de carvão durante o
período da guerra e nos dois anos imediatos à cessação do conflito
ficavam isentas de impostos sobre maquinaria importada.

81 V. o caso das minas de Aljustrel,  infra.

82 M. Rodrigues Jr.,  Ob.cit., p.201 refere a existência dum plano


siderúrgico da autoria de Paulo Barros, logo considerado utópico, que
previa a nacionalização das principais jazidas. No caso da limitação às
exportações assinalemos a excepção do volfrâmio, mas só a partir nos
primeiros anos da década de 1940 e por pressões externas no
contexto da guerra, e mais tarde o caso doutro minério «político»
como foi o caso do urânio.

83 V. M. Rodrigues Jr.,  Ob.cit., p.195:  «Se das investigações mineiras


até hoje feitas e da constituição geológica conhecida resulta que
Portugal não é um país rico de minas, também é evidente que em face
do número, área das concessões existentes, da grande variedade dos
minérios e valor dos jazigos, a exploração actual está muito aquém
das suas possibilidades».

84 Idem,  idem, p. 195.

85 V. decreto 11.852 de 6. Julho. 1926.


86 V. dec. 24.009 de 30. Julho. 1927. Para urna abordagem global do
problema v. Fernando Rosas,  O Estado Novo...

87 V. dec. 22.788 de 29. Junho. 1933.

88 V. decreto-lei 18.712 de 1 de Agosto de 1930  in Diário do


Governo, 177, I série e J. de Paiva Manso Serrano,  Legislação Mineira
da Metrópole e Ultramar anotada, Porto, 1959.

89 Veja-se, por exemplo, o Couto Mineiro do Lena, explorado pela


Empresa Mineira do Lena, SARL. A grande maioria dos accionistas eram
franceses e à frente da administração estavam Henrique Sommer, da
Empresa de Cimentos de Leiria, Henrique da Fonseca e Chaves,
administrador da C.N.N. e o Visconde de Athougia entre outros. O
carvão era utilizado para produzir electricidade na Central da Macieira
e para a Empresa de Cimentos de Leiria. V. Empresa Mineira do Lena,
SARL,  Relatório da Administração e Parecer do Conselho Fiscal,  Lisboa,
1931-1941.

90 V. por ex. Ferreira Dias Jr.,  Linha de Rumo..., p.54, a propósito pela
sua luta pela opção hidroeléctrica: « (...) quase quinze anos de
persistência na mesma directriz, assistindo, vencido mas não
convencido, a sucessivas reformas em que os serviços mudavam de
nome sem que as questões de fundo se abordassem corajosamente»; e
na «Nota sobre a evolução da economia nacional» (sep. do   Boletim da
Direcção-Geral dos Serviços industriais, 582, p. 9 afirmava:  «A partir
de 1930 e durante 16 anos lutei pela electrificação nacional. Neste
longo período todas as armas serviam à resistência: as centrais e as
linhas existentes eram bastantes, o consumo não crescia, o novo
programa hidroeléctrico era uma aventura. Desacompanhado, olhado
por muitos sectores com certo ar de compaixão que notei com
amargor, em alguns períodos de desalento me senti Amadis de Gaula
em apuros de Dom Quixote». Sobre as consequências económicas
(sobre os custos de produção de energia) do arranque na construção
das barragens vejam-se as críticas de Daniel Barbosa em   Realidades
Económicas. Prelecções de Economia Aplicada, Porto, C.E.F.A.C.P.,
1952.

91 V. números publicados por F. Soares Carneiro em  Potencialidades


Mineirais da Metrópole, Base firme de desenvolvimento industrial do
país, Lisboa, Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos, 1971,
p.26.

92 Decreto 25.423 de 29 de Maio de 1935 e decreto 25.579 de 2 de


Julho de 1935, respectivamente.

93 Decreto 27.540 de 26 de Fevereiro de 1937. A anterior obrigação


de participação fundamentada da paralisação dos trabalhos dava assim
lugar a um requerimento prévio de licença.

94 Decreto-lei 29.725 de 28/06/1939 no  D.G. 149 (I série).

95 «Relatório preliminar da Proposta de lei apresentada pelo Governo à


Assembleia Nacional em 9 de Fevereiro»  in Serviço de Fomento
Mineiro,  Relatório..., p. 4. (Apesar do título a lei nunca seria submetida
à Assembleia Nacional, tendo sido elaborado apenas um parecer da
Câmara Corporativa).

96 É o caso de Castro e Solía que anteriormente estivera ligado ao


Instituto Português de Combustíveis e surgia agora à frente do Serviço
de Fomento Mineiro.

97 art.º 16 do dec. 29.725. (Alusão às minas em situação análoga à de


Aljustrel e do Lousal).

98 Os estudos sobre o carvão tinham já sido obra do I. P. dos


Combustíveis e no caso do petróleo e gaz natural, Salazar atribuíra o
exclusivo de pesquisas para todo o país a Joshua Pierce e Claude Hope
Morley (dec. 28.575 de 7. Abr. l938).

99 É, pois, muito provável estarmos perante urna população mineira,


dado que actividades como a das pedreiras, salinas, etc. se
dispersavam em pequenas empresas pelo espaço nacional.
TABLE DES ILLUSTRATIONS

Titre Movimento Mineiro em Portugal (1910-1930)Distribuição anual


do número de concessões mineiras existentes (A), atribuídas no
ano (B), abandonadas (C) e número de minas em lavra activa
(D)[Tabela 1.1]

Légende Fonte: Relatório dos serviços de Minas relativo ao ano de


1910, Lisboa, Imp. Nac., 1912 e "Movimento de concessões
mineiras... 1911 A 1930" in Boletim de Minas. Ano de 1930,
Lisboa, Imp. Nac., 1930.

URL http://books.openedition.org/cidehus/docannexe/image/129/img-
1.jpg

Fichier image/jpeg, 84k

Titre Concessões mineiras por classes de minérios, 1914[Tabela 1.2.]

Légende Fonte: Boletim de Minas, ano de 1914.

URL http://books.openedition.org/cidehus/docannexe/image/129/img-
2.jpg

Fichier image/jpeg, 104k

Titre Imposto mineiro em Portugal, 1893-1921[Tabela I.3.]

Légende Legenda: (A) Valor do imposto mineiro "proporcional" em contos


de réis ou em milhares de escudos que recaía sobre o valor do
minério calculado "à boca da mina”; (B) peso deste valor no total do
imposto mineiro cobrado (i.e., incluindo o imposto sobre a
superfície da concessão); (C) Valor índice (100 = 1914) do imposto
proporcional a preços constantes.Nota: O imposto proporcional foi
abolido pela lei I 368 de 21/09/1922 e restabelecido pelo decreto-lei
18.713 de 1/07/1930.

URL http://books.openedition.org/cidehus/docannexe/image/129/img-
3.jpg

Fichier image/jpeg, 136k

Titre Origem dos capitais e dos empresários em minas alentejanas


exploradas entre 1852 e 1888[Tabela I.4.]

Légende Fonte: Catálogo Descritivo passim.

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Titre Minas de volfrâmio em actividade, 1914[Tabela I.5.]

Légende Fonte: Boletim de Minas. Ano de 1914.Nota: A produção não é


equivalente à quantidade de minério arrancado. Tratam-se de
concentrados

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Titre Concelhos mineiros em Portugal, 1900[Tabela 1.6.]

Légende Legenda: 1. População mineira nos concelhos com mais de 300


habitantes activos e dependentes da "extracção de materiais da
superfície do solo"; 2. Número de activos (homens); 4. Número de
activos (mulheres); 5. População residente nos concelhos.Fonte:
I.N.E., Censo de 1900.

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Titre Intensidade da laboração nas minas portuguesas, 1912-1931


(Número de minas distribuídas pelo número médio de dias de
laboração em cada ano)[Tabela I.7.]

Légende Fonte: Boletim de Minas.... (cálculos nossos)

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Titre Dimensão das explorações mineiras portuguesas, 1912-1931


(Número de minas segundo a dimensão da oferta de trabalho)
[Tabela 1.8.]

Légende Fonte: Boletim de Minas... (cálculos nossos)

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Titre Principais grupos de minas em actividade em Portugal (1910)


[Tabela 1.9.]

Légende Fonte: Relatórios dos Serviços de Minas. Relativos ao ano de 1910.

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Titre Estrutura de emprego nas minas portuguesas, 1910[Tabela


1.10.]

Légende Fonte: Relatórios dos Serviços de Minas. Relativos ao ano de 1910.

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