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978-85-93471-05-6
REALIZAÇÃO:
Programa de Pós-Graduação em Estudos Contemporâneos das Artes
Universidade Federal Fluminense
PARCERIA:
Prefeitura Municipal de Niterói
Secretaria Municipal de Cultura
Fundação de Arte de Niterói
Museu de Arte Contemporânea de Niterói
Solar do Jambeiro
Instituto MESA
Galeria do Poste Arte Contemporânea
Museu de Arte do Rio
Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação - UFF
Instituto de Arte e Comunicação Social - UFF
Coordenação do Curso de Graduação em Artes - UFF
subversões de protocolos
:uso impróprio
Beatriz Cerbino
Luiz Sérgio de Oliveira
Tato Taborda
[organizadores]
PPGCA-UFF
Niterói
2016
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Marcos Mesquita
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
musical, discurso este agora, é verdade, não tão “militar” quanto aquele dos
inumeráveis manifestos da vanguarda “heróica” das primeiras décadas do século
XX. Não, a partir desse momento, o discurso apresentava, frequentemente,
um verniz de seriedade pseudo-acadêmica. Em razão dos equívocos teóricos
momentâneos mencionados acima, foi concebida uma música, a música serial
integral, que ainda não teve a oportunidade de se afirmar perante intérpretes e
público em geral e que, até hoje, é escutada e comentada muito criticamente.
Por outro lado, argumenta-se que essa transformação ininterrupta satura o limite
da cognição humana e, consequentemente, pode até mesmo provocar o colapso da
comunicação musical:
p. 224)
Muitos anos mais tarde, compositores de gerações mais jovens avaliaram a heran-
ça da música serial e suas opiniões se mostravam divididas. O compositor francês
Gérard Grisey, por exemplo, salienta a insuficiência dos parâmetros tradicionais
que fundamentam a música serial ortodoxa: “descobre-se [nos diferentes limiares
psicoacústicos] uma tal trama de correlação que a noção mesma de parâmetros
definidos e isolados pela música serial parece caduca e inepta para dar conta dos
fenômenos sonoros”. (1984, p. 19) Um tom mais positivo pode ser reconhecido
neste comentário de Konrad Boehmer:
Não se pode esquecer que essa matriz pode também ser expandida no sentido dos
períodos histórico-musicais como é o caso, por exemplo, de obras do compositor
alemão Bernd Alois Zimmermann, o qual cita trechos musicais de vários estilos e
épocas, incluindo contemporâneos ao seu período de vida.
res nos anos 1950. Gerações futuras manifestariam, eventualmente, seu ceticismo
a esse respeito:
subversões de protocolos :uso impróprio
1978/1997, p. 51-52)
(HOUAISS, 2001), ou seja, qualquer padrão sonoro variável que o compositor es-
tabeleça como relevante ou pertinente à sua peça. Mesmo um compositor espec-
tralista, um estilo antagônico ao serialismo integral, reconhece o som como um
fenômeno poliestratificado, um campo de forças, no qual desenvolvimentos inde-
pendentes entre si podem se manifestar. Apesar da crítica à análise sonora simples
com o auxílio dos parâmetros sonoros tradicionais, a relação de seu comentário
com o conceito de defasagem temporal de parâmetros do serialismo integral é
inequívoca: “antes de descrever um som com o auxílio de ‘parâmetros’ (timbre,
altura, intensidade, duração), é mais realista, mais adequado à realidade física e
àquela da percepção, considerá-lo como um campo de forças, cada força tendo sua
evolução própria”. (MURAIL, 1980, p. 78)
Percebe-se, aqui, a clara relação entre o termo figura – compreendido como uma
estratégia composicional – e o conceito da dissociação de parâmetros sonoros do
serialismo integral. Ferneyhough atribui a esse termo uma perspectiva cognitiva
ao constatar que a figura, como todo processo sonoro, oferece e estabelece moldu-
ras provisórias para a percepção:
grifo do autor)
A oposição entre gesto e figura, entretanto, parece resultar de uma avaliação su-
perficial, pois uma superfície figurativamente sobrecarregada não é um recurso
suficiente para ultrapassar uma semântica musical estabelecida. Aqui se reconhe-
ce ainda o velho dogma “alto grau de informação = alto nível estético”. Porém, para
um ouvinte experiente que conheça bem a música de concerto europeia dos anos
1950, escondem-se sob uma superfície sonora histericamente movimentada, a
qual alguns comentaristas exaltam como complexa, inúmeros gestos sonoros mais
ou menos miniaturizados – chamados por Ferneyhough de figuras – que, em ver-
dade, pertencem a uma retórica passadista de um determinado estilo que, outrora,
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3. Considerações finais
As querelas em torno do serialismo integral já não causam hoje, por certo, tanta
comoção como nas décadas de 1950 e 1960, mas uma opinião consensual sobre
esse fenômeno de curta duração na história da música europeia está longe de ser
estabelecida – e talvez tal opinião não seja de grande validade para a arte em geral
e para a música em particular.
Referências
BOEHMER, Konrad. Das verteufelte Serielle (1989). In: Das böse Ohr: Texte zur
Musik 1961–1991. Colônia: DuMont Buchverlag, 1993, p. 207-222.
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Lectures, 1937–1995. Rochester: University of Rochester, 1998, p. 224-228.
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B. Schott’s Söhne, 1984, p. 16-23.
HOUAISS, Antônio et alii. Dicionário Eletrônico Houaiss. Versão 1.0. CD-ROM. Rio
de Janeiro: Editora Objetiva, 2001.
MURAIL, Tristan. La révolution des sons complexes. In: Darmstädter Beiträge zur
Neuen Musik XVIII. Mainz: B. Schott’s Söhne, 1980, p. 77-92.
POUSSEUR, Henri. Pour une périodicité généralisée. In: Fragments théoriques I sur
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de l’Institut de Sociologie de l’Université Libre de Bruxelles, 1970, p. 239-290.
SCHNEBEL, Dieter. Die kochende Materie der Musik. John Cages experimentelle
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DuMont Schauberg, 1972, p. 139-150.
SCHOENBERG, Arnold. New Music, Outmoded Music, Style and Idea (1946). In:
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STOCKHAUSEN, Karlheinz. Struktur und Erlebniszeit. die Reihe II. Anton Webern.
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STOCKHAUSEN, Karlheinz. Weberns Konzert für neun Instrumente op. 24. Analyse
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Bd. 1: Aufsätze 1952–1962 zur Theorie des Komponierens. Colônia: Verlag M. Du-
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