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e Toxicologia
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO À FARMACOBOTÂNICA....................................................................................... 9
CAPÍTULO 2
SISTEMÁTICA VEGETAL............................................................................................................. 16
UNIDADE II
FARMACOGNOSIA............................................................................................................................... 27
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO À FARMACOGNOSIA......................................................................................... 27
CAPÍTULO 2
ESTUDO DAS PRINCIPAIS CLASSES DE COMPOSTOS ORGÂNICOS ENCONTRADOS EM PLANTAS. 32
CAPÍTULO 3
CONTROLE DE QUALIDADE DE MATÉRIA-PRIMA E PRODUTOS FITOTERÁPICOS............................ 41
CAPÍTULO 4
BIOTRANSFORMAÇÃO............................................................................................................. 48
CAPÍTULO 5
FARMACOLOGIA E FITOQUÍMICA DE FITOTERÁPICOS QUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO
CENTRAL, SISTEMA CARDIOVASCULAR, SISTEMA RESPIRATÓRIO, SISTEMA DIGESTÓRIO E TRATO
GENITO-URINÁRIO................................................................................................................... 53
UNIDADE III
TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS ........................................................................................................... 61
CAPÍTULO 1
CONCEITOS GERAIS DE TOXICOLOGIA.................................................................................... 63
CAPÍTULO 2
MECANISMOS DE AÇÃO DA TOXICIDADE................................................................................ 69
CAPÍTULO 3
CONTAMINAÇÃO E PRINCIPAIS PLANTAS TÓXICAS................................................................... 72
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
Atenção
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Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
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Introdução
É com imenso prazer que introduzo o conhecimento de Farmacobotânica, Farmacognosia e Toxicologia,
a você que veio a procura de novos aprendizados e conceitos atualizados na área de Fitoterápicos.
Iremos abordar conceitos básicos já bem estabelecidos por diversos pesquisadores sobre morfologia
de plantas e como consequência sua taxonomia. Mais adiante também será abordado como as drogas
são originadas a partir de um vegetal, o que é necessário para uma produção de excelência. Por
fim, vamos discutir quais principais plantas, que são usadas no dia a dia de um profissional pode
ter consequências nocivas ao paciente, como por exemplo, a toxicidade, tanto da planta como dos
compostos originados por ela.
Objetivos
»» Promover o conhecimento fisiológico, farmacológico e o preparo de plantas para a
finalização da droga.
»» Analisar que a droga pode trazer consequências tanto benéficas como maléficas.
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FARMACOBOTÂNICA UNIDADE I
CAPÍTULO 1
Introdução à farmacobotânica
Como visto acima, a Farmacobotânica abrange uma área extensa tanto do conhecimento da planta
até sua produção em fármaco. Deste modo, esta ciência pode relacionar a identificação e pureza
das drogas, avaliar, identificar e isolar os princípios ativos, selecionar, fazer a colheita, preparar,
conservar e dispensar para assim, produzir o fitoterápico e, por fim observar se há toxicidade a
partir da biotransformação da planta. Contudo, dentro da Farmacobotânica vamos estudar a
Farmacognosia e a Toxicidade de plantas. Para tornar o processo mais ilustrativo, observe a figura
1., abaixo, sobre o desenho do estudo.
Figura 1. Apresentação esquematizada do conteúdo que será abordado neste caderno, referente ao módulo
Farmacobotânica, Farmacognosia e Toxicologia de plantas.
FARMACOBOTÂNICA
Seleção, colheita,
preparação, conservação Toxicidade
e dispensação
Figura 1. Apresentação esquematizada do conteúdo que será abordado neste caderno, referente ao módulo Farmacobotânica, Farmacognosia
e Toxicologia de plantas.
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UNIDADE I │ FARMACOBOTÂNICA
Para entendermos todo o mecanismo pelo qual a planta passará até sua transformação em um
fitoterápico, precisamos saber a fisiologia da planta.
Reino Plantae
Antigamente era comum classificar cada ser vivo como um animal ou uma planta. O reino Animalia
incluía aqueles organismos que se moviam e cujos corpos cresciam até um certo tamanho e então
interrompiam o crescimento. O reino Plantae compreendia todos os seres vivos que não se moviam
ou comiam e que cresciam indefinidamente. Assim, os fungos, as algas, e as bactérias ou procariotos
eram agrupados entre as plantas, enquanto os protozoários, que são organismos unicelulares que
se moviam e comiam eram classificados como animais. No século XX, novos dados começaram
a emergir a partir da microscopia eletrônica, desse modo, utilizaram evidências moleculares,
mudando o sistema de classificação agora para três domínios, os quais são Bacteria, Archaea e
Eukarya, sendo que os protistas, fungos, plantas e animais são agora reconhecidos como reinos
dentro do domínio Eukarya, sendo então denominados reino Protista, Fungi, Plantae,Virus,
Monera e Animalia (JÚNIOR, SASSON e JÚNIOR, 2010; JOLY,1977; RIZZINI, 1976).
O reino Plantae será o foco deste capítulo. Ele é representado por diversas espécies, cuja história
evolutiva for marcada pela grande capacidade adaptativa na conquista gradual e extensa do
meio terrestre. Nessa conquista do ambiente terrestre, as plantas desenvolveram estruturas e
mecanismos especiais capazes de superar problemas como a perda de água para o ar, o processo
de respiração, entre outras. Algumas dessas adaptações garantiram o processo de fecundação, que
até então em grupos antigos, este era dependente de água do meio ou de líquidos secretores pelos
órgãos femininos que possibilitavam o encontro dos gametas. Já nos grupos mais recentes, essa
dependência de água para a fecundação é muito reduzida ou até mesmo ausente (JÚNIOR, SASSON
e JÚNIOR, 2010; SCHUTTZ, 1939).
As plantas são consideradas multicelulares e compostas de células eucarióticas que contêm vacúolos
e são envoltas por paredes que possuem celulose. O seu principal meio de nutrição é a fotossíntese,
embora, já se sabe que algumas plantas se tornaram heterotróficas, ou seja, não produzem seu
próprio alimento, diferente da maioria das plantas que são autótrofas, ou seja, produzem seu próprio
alimento a partir da fotossíntese. Esta diferenciação de autótrofas para heterótrofas foi observada
no reino Plantae durante a evolução das plantas para o ambiente terrestre, dessa forma, à evolução
mais notada foi a de órgãos especializados para a fotossíntese, fixação e suporte. Nas plantas
mais complexas, tal organização produziu tecidos fotossintetizantes, vasculares e de revestimento
especializado. A reprodução das plantas é primariamente sexuada, com ciclos de gerações haploide
e diploide alternantes. Nos membros mais avançados deste reino, a geração haploide (o gametófito)
foi reduzida no curso da evolução (RAVEN, EVERT e EICHHORN, 2001).
Dentro do reino Plantae, existe uma separação por grupos de plantas, já que as plantas apresentam
diferenciação em diversas estruturas e aspectos, deste modo, as plantas podem ser classificadas em
briófitas, pteridófitas, gimnospermas e angiospermas (Tabela 1.). As quais, iremos abordar mais a
frente, antes disso, vamos entender como esses grupos foram formados.
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FARMACOBOTÂNICA │ UNIDADE I
Primeiramente, quando pensamos na palavra planta, logo nos lembramos de flores e frutos, no
entanto, é interessante salientar que estas estruturas foram às últimas grandes aquisições evolutivas
deste reino. Anteriormente a este evento podemos citar as algas verdes como as carofíceas, que se
acredita serem os parentes mais próximos dos embriófitos ou briófitas, por possuírem clorofila. No
entanto, o caminho foi longo desde as algas verdes, carofíceas, grupo do qual provavelmente foi
originado as embriófitas, sendo estas as primeiras plantas até as angiospermas que são as plantas
mais estruturadas e completas deste reino. Nessa história evolutiva, uma conquista crucial foi a
transição do meio aquático para o terrestre (JÚNIOR, SASSON e JÚNIOR, 2010; JOLY, 1977).
As briófitas, do grego bryon, (musgos) e phyton, (plantas) são consideradas plantas avasculares, isto
é, não possuem vasos condutores para transporte de seiva bruta e elaborada (xilema e floema) pelo
seu corpo, são os primeiros vegetais onde há presença de diferenciação de tecidos como, por exemplo,
a epiderme, para a proteção. Como qualquer outro vegetal, são capazes de realizar fotossíntese,
sendo então autótrofos fotossintetizantes. Como as algas, possuem o corpo na forma de talo, sem
raízes, caule e folhas diferenciadas. O corpo das briófitas é formado por três componentes essenciais
sendo os rizoides que são os filamentos fixantes a planta no ambiente em que ela vive absorvendo os
nutrientes necessários para esta. O cauloide que são as hastes que formam os filoides e esses são as
estruturas capazes de fazer a fotossíntese da planta. A ausência dos vasos condutores restringem o
tamanho e o hábitat destes vegetais, deste modo são de pequeno porte e são encontrados em locais
úmidos ou de água doce, sombrios, em barrancos de rios ou lagos, córregos, em cascas de árvores
e também no xaxim, onde são cultivadas as samambaias. Esta restrição a locais úmidos deve-se
à ausência dos vasos condutores e também a dependência da água para a reprodução, pois sua
fecundação é por oogamia (UZUNIAN e BIRNER, 2008; Vídeo sobre o ciclo das briófitas acessado
em 26/05/2014. <http://www.youtube.com/watch?v=JrjUGOR2HTM>).
Não só os nutrientes como também a água são retirados do solo pelos rizoides. O processo de
distribuição de nutrientes e da água para as células das plantas ocorre através de osmose e difusão.
Em resumo, o filo das briófitas compreende as plantas simples comumente denominadas “musgos”
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UNIDADE I │ FARMACOBOTÂNICA
e “hepáticas”, além das antocerófitas. As briófitas não apresentam flores, frutos ou semente, porém
são morfologicamente mais avançadas que as algas. As briófitas são importantes componentes da
biomassa, e são essenciais para alguns ecossistemas por serem de cadeia alimentar (certos animais
comem musgos), elas absorvem muita água, evitam a erosão do solo em locais onde crescem
abundantemente. Assim, como os liquens, são indicadores de poluição ambiental. Além disso, as
briófitas podem ser utilizadas em pesquisas farmacêuticas e para a extração de essências (UZUNIAN
e BIRNER, 2008; DAJOZ, 1973).
Dentre as briófitas mais simples, estão às hepáticas (Filo Hepatophyta), compostas por
aproximadamente 10.000 espécies distribuídas em 3.000 gêneros. A classe “Hepaticae” significa
“semelhantes a um fígado” nome escolhido por causa da forma de fígado do gametófito de certas
espécies. Lembrando que estas não possuem tecidos condutores especializados (possivelmente há
umas poucas exceções) nem estômatos (estes trabalham no controle hídrico da planta)(RAVEN,
2005). Os gametófitos podem ser talosos ou folhosos e os rizoides são unicelulares. A maior parte da
fotossíntese ocorre no gametófito, do qual o esporófito é dependente (UZUNIAN e BIRNER, 2008).
A classe Musci (Filo Bryophyta), é a maior classe de briófitas, com mais de nove mil espécies
classificadas. Os gametófitos são folhosos e fixam aos substratos pelos rizoides que são multicelulares
e conectam-se aos filoides pelo cauloide. Os estômatos estão presentes nos esporófitos, e estes
apresentam complexos padrões de deiscência. Apesar de não possuírem tecido condutor, alguns
musgos têm no interior do cauloide um canal semelhante a uma veia, que auxilia no transporte de
nutrientes (RAVEN, EVERT e EICHHORN, 2001).
Nas plantas vasculares sem sementes estão as psilofitas, licofitas, spnhenophyta, e a mais conhecida
a pteridófita, estas são samambaias, a maior parte é formada por plantas homósporas, embora
algumas sejam heterósporas. Todas possuem um megafilo. O gametófito é mais ou menos de vida
livre e geralmente fotossintetizante, os gametângios são multicelulares e anterozoides que nadam
livremente. As pteridófitas compreendem de nove a doze mil espécies de plantas conhecidas
popularmente como samambaias (no Brasil) ou fetos (nos outros países lusófonos) e as avencas
(RAVEN, EVERT e EICHHORN, 2001;THAMES, 1977).
Por último, e mais evolutivas estão as plantas vasculares com sementes, denominadas gimnospermas
e angiospermas. As gminospermas são compostas por cicas ou popularmente conhecidas palmeira-
de-ramos ou palmeira-de-sagu, ginko, coníferas e gnetófitas. As gimnospermas referem-se
precisamente ao fato de que as sementes e óvulos destas plantas se encontram expostas sobre
a superfície dos esporófitos ou estruturas análogas. Todas as plantas são terrestres, embora
apresentem tamanhos variados, são sempre árvores ou arbustos. Este fato deriva de apresentarem,
pela primeira vez neste reino, crescimento secundário, ou seja, o seu crescimento é contínuo tanto
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FARMACOBOTÂNICA │ UNIDADE I
em altura, como em largura. Os principais grupos de gimnospermas são as cicas (as primeiras
gimnospermas, sobreviventes do tempo dos dinossauros), o Ginkgo (única árvore do seu gênero
sobrevivente e que parece ter mudado muito pouco em 80 milhões de anos) e as coníferos, por
exemplo, pinheiros, cedros, ciprestes, sequoias, tuias, entre outros (UZUNIAN e BIRNER, 2008;
RAVEN, EVERT e EICHHORN, 2001; BARROSO, 1978).
As angiospermas, também fazem parte das plantas vasculares, estas são plantas floríferas, com
sementes nas quais os óvulos são envolvidos por um carpelo e sementes no interior de frutos. As
angiospermas são extremamente diversas vegetativamente, mas caracterizam-se pela presença
da flor, que é basicamente polinizada por insetos, existem outros processos de polinização como
por intermédio do vento, a partir de então se desenvolveram em várias linhagens distintas e em
diversos lugares. Os gametófitos são muito reduzidos, com o gametófito feminino frequentemente
consistindo em apenas sete células na condição madura. A dupla fecundação, envolvendo os dois
gametas masculinos do microgametófito maduro, dá origem ao zigoto (gameta masculino ou oosfera)
e ao núcleo endospérmico primário (gameta masculino e núcleos polares), o primeiro torna-se o
embrião e o último, um tecido nutritivo especial chamado endosperma. (UZUNIAN e BIRNER,
2008; RAVEN, EVERT e EICHHORN, 2001; PEREIRA,1980).
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UNIDADE I │ FARMACOBOTÂNICA
como por exemplo, as árvores, com exceção das coníferas e plantas herbáceas, feijão entre outros
(RAVEN, 2005; PIRANI, 2000).
As criptógamas eram usadas para referenciar algas, talófitas, briófitas e pteridófitas e as fanerógamas
referenciavam às gimnospermas e ás angiospermas, por possuírem estruturas visíveis para a
fecundação, o que veremos logo a seguir (Figura 2.). No entanto, a divisão Thallophyta foi excluída
do reino Plantae. Mesmo assim estas apresentam características próprias como organismos
fotoautotróficos (alguns crescem heterotroficamente), se diferenciam do reino Plantae por não
necessitarem de sistema vascular para transporte de nutrientes, muitas são móveis, a coloração
também é muito variada, podem ser verdes, amarelas, vermelhas, pardas, azuis, castanho douradas,
entre outras. A reprodução é tão variada quanto às formas e cores, envolvendo mecanismos
vegetativos, assexuados e sexuais, frequentemente caracterizados pela produção de esporos e
gametas flagelados (RAVEN, EVERT e EICHHORN, 2001; PIRANI, 2000; THAMES, 1977).
No entanto, antigamente esses termos citados acima eram muito usados em Farmacobotânica pelo
sistema de Eichler, isso por que, para Eichler, o reino vegetal era dividido em dois subconjuntos,
baseado na presença ou na ausência de órgãos reprodutíveis bem visíveis. Assim, o subconjunto
Cryptogamae, era aquele que apresentava órgãos reprodutivos ocultos, e se caracterizava por
reunir espécies que formavam flores. Elas podiam ser divididas em avasculares, de acordo com a
presença ou ausência de tecidos condutores de seiva. Desse modo, as Tallophytas e as Bryophytas
eram consideradas avasculares. As Pteridophytas vasculares, isto é, que formam tecidos condutores
de seiva. Não obstante, as Thallophytas foram excluídas do reino Plantae, como já citado acima. O
subconjunto Phanerogamae caracterizava-se por reunir espécies formadoras de órgãos reprodutivos
bem visíveis, tais como as flores Gymnospermae. Desse modo, podiam ser divididos em dois
grupos, considerando-se a presença ou ausência de frutos. As Gymnospermae que apresentam
sementes nuas, isto é, neste grupo de plantas não se formam: frutos verdadeiros e as Angiospermae
que formam frutos e são divididos em dois subgrupos, baseados na presença de um ou dois
cotilédones (embriófilos ou folhas embrionárias) no embrião. Tendo assim as monocotyledoneae e
as dicotyledoneae (PIRANI, 2000; SIMÕES, 1999).
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FARMACOBOTÂNICA │ UNIDADE I
Hoje em dia, esse quadro demonstrado por Eilcher (Figura 2.) não é considerado errado, mas sim,
desatualizado, devido a novos conceitos que foram surgindo após aquela época. No entanto, pode-se
alguns autores ainda usam esse sistema como base para a didática de Botânica e Farmacobotânica.
Uma das principais evidências que podemos citar para confirmar o desuso deste quadro adotado por
Eilcher é que “flores verdadeiras”, são aquelas que aparecem na angiosperma somente. Constituindo
assim, um caráter importante na separação de gimnospermas e angiospermas.
Sistema de EICHLER
1. Cryptogamae (plantas sem flores)
• Thallophyta
• Bryophyta avasculares
• Pteridophyta vasculares
Monocotyledonae
Dicotyledonae
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CAPÍTULO 2
Sistemática vegetal
Quando você pára e observa uma flor, um arbusto ou uma árvore, você pode
perguntar-se: “Qual o nome daquela planta?” Essa pergunta simples, no entanto,
intrigou Aristóteles e sem dúvida pessoas até antes dele. Neste capítulo você irá
aprender que o processo aparentemente trivial de dar nome a um organismo é,
de fato, parte de um sistema totalmente organizado para o estabelecimento de
relacionamentos genéticos e identificação de tendências evolutivas. É comum
observarmos a variedade de nomes que uma planta pode apresentar, a partir da sua
localidade, deste modo, para os botânicos, e outros biólogos, essa pluralidade de
nomes representa uma barreira para o compartilhamento de informações. Portanto,
além dos “nomes populares” que variam de localidade para localidade, cada planta
também apresenta um “nome científico” – um nome de origem latim com duas
palavras que a identifica precisamente em qualquer lugar do mundo (SCHUTTZ,
1939; THAMES, 1977).
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FARMACOBOTÂNICA │ UNIDADE I
A Sistemática Vegetal tem por objetivo agrupar as plantas dentro de um sistema. Deste modo, ela
utiliza conhecimentos de Morfologia, Fisiologia, Fitopaleontologia, Química, Genética, Ecologia,
Fitogeografia, entre outros ramos do conhecimento. Contudo, a Sistemática tem por finalidade a
identificação, a nomenclatura e a classificação das plantas.
»» sistemas artificiais;
»» sistemas naturais;
»» sistemas filogenéticos.
Os sistemas naturais baseiam-se na afinidade natural das plantas. Este tipo de classificação foi
primeiro, utilizado por Jussieu. Baseia-se em diversos tipos de caracteres, relacionando-os.
Taxonomia
A taxonomia é um aspecto importantíssimo da sistemática, devido a sua função de identificar, atribuir
nomes e classificar as espécies de plantas, animais e minerais. O primeiro naturalista a denominar
os nomes e descrever as espécies foi Carl Linnaeus, do século XVIII. Em 1753, Linnaeus publicou
um trabalho em dois volumes com o título Species Plantarum (“As Espécies Vegetais”), no qual ele
descrevia em latim cada espécie por meio de uma sentença limitada a doze palavras. Mais adiante,
esses polinômios foram trocados pelo sistema binomial (“Sistema de dois termos”) de nomenclatura,
por este mesmo pesquisador. Este sistema foi originado a partir do Species Platarum, sendo que
ele juntou aquele polinômio, de cada planta, minério ou animal e retirou uma palavra “própria”
de cada espécie, descrevendo a espécie em uma única palavra. Essa palavra, quando combinada
com a primeira palavra do polinômio, denominada gênero, formava uma designação “abreviada” e
conveniente para a espécie. Por exemplo, a gataria, que foi formalmente chamada Nepeta floribus
interrupte spicatus pedunculatis (significando “Nepeta com flores numa espiga pendunculada
interrompida”), Linnaeus escreveu “cataria” (significado “associada a gato”) na margem do texto,
assim chamando a atenção para um atributo familiar à planta. Após a nomenclatura ser originada,
17
UNIDADE I │ FARMACOBOTÂNICA
muitos pesquisadores e cientistas da época começaram a usar esse termo para se referenciar a
espécie. A Nepeta cataria se popularizou e até hoje esse nome ainda é usada por diversas pessoas
tanto leigos como cientistas (RAVEN, EVERT e EICHHORN, 2001; TREASE e EVANS,1972).
No sistema Binomial que é usado hoje em dia, todo o nome deve ser acompanhado pelo nome
do autor da espécie em latim, e deve aparecer destacado no texto. Além disso, a primeira palavra
corresponde ao nome genérico, e a segunda corresponde ao nome específico. Assim, o nome
científico é constituído de um nome genérico ou ao gênero ao lado do nome específico ou epíteto
específico. Assim, o nome de uma espécie consiste em duas partes.
Com certa frequência, costuma-se acrescentar ao conjunto o nome do autor que descreveu o vegetal
pela primeira vez.
Por exemplo 1: Desse modo, para a gataria, o nome genérico é Nepeta, o epíteto é o cataria, e o nome
da espécie é Nepeta cataria.
Exemplo 2:
Coffea arábica L. à Nome do autor que descreveu o vegetal pela primeira vez
Além disso, quando uma espécie muda de gênero, o nome do autor referente ao primeiro nome
dado a espécie (Basiônimo) deve ser citado entre parênteses, seguido pelo nome do autor que fez a
nova combinação.
O nome genérico pode ser escrito sozinho quando se refere ao grupo inteiro de espécies que formam
aquele gênero. Por exemplo: Figura 3. Mostra três espécies do gênero da violeta, Viola. Contudo, um
epíteto específico é desprovido de sentido quando escrito sozinho, uma vez que, o epíteto específico
biennis, por exemplo, está associado a dezenas de diferentes nomes genéricos. Artemisia biennis,
uma espécie de losna, e Lactuca biennis, uma espécie de alface selvagem, são dois representantes
muito diferentes da família do girassol; Oenothera biennis, uma flor semelhante à prímula, pertence
a uma família totalmente diferente. Devido ao perigo de se confundirem os nomes, um epíteto
específico é sempre precedido do nome ou da letra inicial do gênero, no qual, ele se inclui, por
exemplo: Oenothera biennis ou O. biennis. Os nomes dos gêneros e espécies são escritos em itálicos
ou são sublinhados quando escritos à mão.
Caso uma espécie seja colocada em um gênero errado, ela deverá ser colocada no gênero certo, dessa
maneira, o epíteto específico move-se com a espécie para o novo gênero. No entanto, caso já haja
uma espécie naquele gênero que tem aquele determinado epíteto específico, um nome alternativo
deve ser criado.
18
FARMACOBOTÂNICA │ UNIDADE I
Cada espécie tem um espécimen tipo, geralmente um espécimen seco da planta, mantido em um
museu ou um herbário, que é designado ou pela pessoa que originalmente descreveu aquela espécie
ou por um autor subsequente, se o autor original não fez a designação. O espécimen tipo serve como
um referencial para a comparação com outros espécimens para determinar se eles pertencem ou
não à mesma espécie (RAVEN, EVERT e EICHHORN, 2001; TREASE e EVANS,1972).
Figura 3. Três membros do gênero da violeta. (a) A violeta comum azul, Viola papilionaceae, que cresce em na
América do Norte. (b) Viola tricolor, uma violeta de flores amarelas. (c) Amor-perfeito, Viola tricolor var. hortensis,
uma linhagem anual cultivada, pertencente a uma espécie principalmente perene e nativa do oeste europeu.
Estas fotos indicam os tipos de diferenças em tamanho e cor das flores, forma e margem das folhas e outras
características que distinguem as espécies desse gênero, muito embora haja uma semelhança geral entre elas. Há
cerca de 500 espécies do gênero Viola; a sua maioria é encontrada em regiões temperadas no Hemisfério Norte.
(a) (c)
(b)
Figura adaptada e disponível em: <http://carolynsshadegardens.com/tag/natural-lawn-care/>, <aggiehorticulture.tamu.edu/
wildseed/johnnyjumpup.html>, <http://www.plantamed.com.br/plantaservas/especies/Viola_tricolor.htm>
Acessado em 12 maio 14.
A conveniência desse novo sistema logo substituiu os polinômios, desse modo, o primeiro binômio
aplicado a uma dada espécie tem prioridade sobre outros nomes aplicados posteriormente. As regras
que governam a aplicação de nomes científicos às plantas estão incorporadas no International Code
of Botanical Nomenclature (Código Internacional de Nomenclatura Botânica) (RAVEN, EVERT e
EICHHORN, 2001).
O nome científico é universal, e serve para caracterizar a espécie que designa. Em levantamento
bibliográfico, através de Abstracts, é o nome científico do vegetal que deve ser empregado como
palavra-chave.
Com frequência, atribuem-se às espécies vegetais nomes vulgares. Estes nomes são regionais e
variam de lugar para lugar, podendo dar margem a confusões. Algumas vezes ainda se fala em nome
oficial. Chama-se nome oficial, em um país, o nome vulgar que foi eleito para designar uma planta
na farmacopeia oficializada.
Carl Linnaeus, também conhecido como Carl von Linné ou Carolus Linnaeus, é
muitas vezes chamado o pai da taxonomia. Seu sistema para nomear a classificação,
e classificação de organismos ainda é largamente utilizado hoje (com muitas
alterações). Suas ideias sobre a classificação tem influenciado gerações de biólogos
19
UNIDADE I │ FARMACOBOTÂNICA
tanto durante como depois de sua própria vida, mesmo aqueles que se opunham às
raízes filosóficas e teológicas de sua obra.
Linnaeus foi para a Holanda em 1735, rapidamente terminou seu curso de medicina
na Universidade de Harderwijk, e depois se matriculou na Universidade de Leiden
para estudos posteriores. Nesse mesmo ano, ele publicou a primeira edição de sua
classificação dos seres vivos, o Systema Naturae. Durante esses anos, ele obteve
contato com grandes pesquisadores botânicos da Europa, e continuou a desenvolver
o seu sistema de classificação. Retornando para a Suécia em 1738, praticou medicina
(especializada no tratamento da sífilis) e lecionou em Estocolmo, antes de ser premiado
com uma cátedra na Uppsala em 1741. Na Uppsala, ele restaurou o jardim botânico da
Universidade (organizando as plantas de acordo com o seu sistema de classificação),
fez mais três expedições a diversas partes da Suécia, e inspirou uma geração de
estudantes. Tanto é que seu aluno mais famoso, Daniel Solander, foi o naturalista
a primeira viagem da volta ao mundo do capitão James Cook, e trouxe de volta as
primeiras coleções de plantas da Austrália e do Pacífico Sul para a Europa. Anders
Sparrman, outro dos alunos de Linnaeus, foi o botânico da segunda viagem de
Cook. Outro estudante, Pehr Kalm, viajou nas colônias americanas do Nordeste por
três anos estudando plantas americanas. No entanto, o aluno Carl Peter Thunberg,
foi o primeiro naturalista ocidental a visitar o Japão em mais de um século; ele não
só estudou a flora do Japão, mas ensinou a medicina ocidental para praticantes
japoneses. Outros de seus alunos viajaram para a América do Sul, sudeste da Ásia, da
África e do Oriente Médio, no entanto, muitos morreram em suas viagens.
20
FARMACOBOTÂNICA │ UNIDADE I
exterior, seja pela aclimatação de plantas valiosas para crescer na Suécia, ou por
encontrar substitutos nativos. Infelizmente, as tentativas de Linnaeus para crescer
cacau, café, chá, bananas, arroz e amoras não foi bem sucedida no clima frio da
Suécia. Suas tentativas de impulsionar a economia (e para evitar a fome que ainda
atingiam a Suécia na época), encontrando fábricas suecas nativas que poderiam ser
usadas como chá, café, farinha, e forragens também não foram bem sucedido. Ele
ainda achou tempo para praticar a medicina, tornando-se médico pessoal da
família real sueca. Em 1758, ele comprou a propriedade senhorial do Hammarby,
fora de Uppsala, onde construiu um pequeno museu por suas extensas colecções
pessoais. Em 1761, foi-lhe concedida a nobreza, e tornou-se Carl von Linné. Seus
últimos anos foram marcados por depressão e baixa autoestima. Persistente por
vários anos, depois de sofrer o que foi, provavelmente, uma série de derrames leves
em 1774, ele morreu em 1778. Seu filho, também chamado Carl, conseguiu a sua
cátedra em Uppsala, mas nunca foi notável como um botânico. Quando Carl, o
filho, morreu cinco anos mais tarde, sem herdeiros, sua mãe e irmãs venderam a
biblioteca do Linnaeus mais velho, manuscritos e coleções de história natural para o
Inglês naturalista Sir James Edward Smith, que fundou a Linnean Society of London
para cuidar deles.
Classificação Hierárquica
A unidade fundamental dos sistemas de classificação é a espécie. A espécie, porém, não é a menor
unidade sistemática. A espécie pode ser dividida em categorias taxonômicas, tais como a raça ou
variedades, subespécies ou forma.
A espécie pode ser considerada como um grupo de indivíduos que se assemelham e que são capazes
de se intercruzarem, originando descendentes férteis. Apesar de a aparência ser útil na identificação
de espécies, não é isso que a define. Por exemplo, a cotovia ocidental (Sturnella neglecta) e a
cotovia oriental (Sturnella magna) apresentam similaridades físicas, no entanto, apesar de suas
regionalidades o que realmente as diferencia são seus diferentes cantos que previnem o acasalamento
entre espécies (TREASE e EVANS, 1972).
Até recentemente, o reino era a unidade mais inclusiva usada na classificação biológica. Além dela,
várias outras categorias taxonômicas hierárquicas foram acrescentadas entre os níveis de gênero e
reino: os gêneros foram agrupados em famílias, as famílias em ordens e estas em classes. O botânico
franco-suíço Augustin-Pyramus de Candolle (1778-1841), que criou a palavra “taxonomia”, incluiu
outra categoria, a divisão, para designar grupos de classes no reino vegetal. Assim, as divisões
tornaram-se os maiores grupos inclusivos do reino vegetal. Nesse sistema hierárquico, isto é, os
grupos dentro de grupos, cada um deles colocado em certo nível hierárquico, o grupo taxonômico
em qualquer nível é chamado de táxon. O nível no qual ele é colocado é conhecido como categoria,
e Prunus e Prunus persica são táxons dentro daquelas categorias.
21
UNIDADE I │ FARMACOBOTÂNICA
O termo filo na nomenclatura equivale à divisão. “Filo” tem sido usado há muito tempo pelos
zoólogos para os grupos de classes. Além disso, o Código Internacional de Nomenclatura Botânica
recomendou a prática de usar itálico para todos os nomes taxonômicos, não apenas para os nomes
de gêneros e espécies. Todos os táxons em nível de gênero ou em nível mais alto são escritos em
letras maiúsculas.
Os nomes mais antigos são admitidos como alternativas para umas poucas famílias, tais como
Fabaceae, a família da ervilha, que pode também ser chamada pelo nome mais antigo Leguminosae;
Apiaceae, a família da salsinha, também é conhecida como Umberlliferae; as Asteraceae, a família
do girassol, também é conhecida como Compositae.
A classificação dos vegetais baseia-se nos caracteres de semelhança e nas diferenças. Cada uma
das categorias taxonômicas é individualizada por uma série de caracteres de semelhanças. Assim,
os indivíduos pertencentes à certa espécie possuem uma similaridade nas suas características, que
fazem parte da descrição minuciosa do classificador. São características que permitem reunir numa
mesma categoria diversos elementos.
22
FARMACOBOTÂNICA │ UNIDADE I
Deste modo, certas espécies consistem em duas ou mais subespécies ou variedades. Como observado no
esquema hierárquico de Engler, quando ele subdivide a espécie de hortelã-pimenta, como, por exemplo:
»» Divisão: Angiospermae
»» Classe: Dicotiledoneae
»» Subclasse: Simpetalae
»» Ordem: Tubiflorae
»» Subordem: Verbenineae
»» Subfamília: Stachidoideae
»» Tribo: Satureieae
»» Gênero: Menta
Todos os representantes de uma subespécie ou variedade de uma dada espécie assemelham-se entre
si e compartilham uma ou mais características que não se encontram em outras subespécies ou
variedades daquela espécie. Como resultado dessas subdivisões, embora o nome binomial ainda
seja à base da classificação, os nomes de algumas plantas e animais podem consistir em três partes.
A subespécie ou variedade que inclui o espécime tipo da espécie repete o nome da espécie e todos os
nomes são escritos em itálico ou sublinhados. Assim, por exemplo, o pessegueiro é Prunus persica
var. nectarina. A repetição persica no nome do pessegueiro nos diz que o espécime tipo da espécie P.
persica pertence a essa variedade, abreviada “var.” (RAVEN, EVERT e EICHHORN, 2001;TREASE
e EVANS, 2000).
FAMÍLIA Rubiaceae/Asclepiadaceae/Apocynaceae/...
Policourea/Cephaelis/Coffeal/...
GÊNERO Palicourea marcgravii St Hill
Palicourea coriácea (Cham.) Schum.
INDIVÍDUOS que mais se assemelham ESPÉCIE
(modificado de TREASE e EVANS, 2000).
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UNIDADE I │ FARMACOBOTÂNICA
Filogenia
A taxonomia é apenas um aspecto da sistemática vegetal. Para Linnaeus e seus sucessores imediatos,
o objetivo da taxonomia era a revelação do magnífico e imutável projeto de criação. Contudo, após
a publicação em 1859 da obra Origem das Espécies, de Darwin, as diferenças e semelhanças entre
os organismos passaram a ser vistas como os produtos de sua história evolutiva, ou a filogenia.
Os cientistas desejavam classificações que fossem não apenas informativas e úteis, mas também
que espelhassem as relações evolutivas entre os organismos. Estas têm sido representadas em
diagramas conhecidos como árvores filogenéticas, que mostram as relações genealógicas entre
táxons. Simplificando mostra quais grupos ou espécies estão mais relacionadas, de acordo com as
hipóteses de um determinado pesquisador. Do mesmo modo, que outras hipóteses, certos aspectos
das arvores filogenéticas podem ser testados e revistos quando necessário. Exemplos de tais testes
poderiam ser os estudos detalhados do registro fóssil e o exame das características estruturais e
moleculares dos organismos vivos (<http://www.biomania.com.br/bio/conteudo.asp?cod=1778>
acesso em 20-05-2014).
Em um esquema de classificação que reflete de modo preciso a filogenia, cada táxon é, nas condições
ideais, monofilético. Isso significa que os representantes de um táxon em qualquer nível hierárquico,
seja ele gênero, família ou ordem, devem ser todos descendentes de uma única espécie ancestral.
Assim, um gênero deveria constituir em todas as espécies descendentes do ancestral comum
mais recente e apenas de espécies daquele ancestral. De modo semelhante, uma família deveria
ser formada por todos os gêneros descendentes de um ancestral comum mais distante e apenas
de gêneros descendentes daquele ancestral, como, por exemplo, a trepadeira da tribo Passifloreae
pertencente a família Passifloraceae, apresenta uma corona filamentosa em suas flores que é uma
característica marcante dessa família (JUDD et al., 1999).
Embora esse ideal, que resulta em táxons naturais, soe de modo relativamente direto, frequentemente
se torna difícil consegui-lo. Em muitos casos, os pesquisadores não conhecem o suficiente sobre a
história evolutiva dos organismos para estabelecer táxons que sejam monofiléticos com um razoável
grau de segurança. No entanto, nos casos em que as relações são desconhecidas ou incertas, pode
ser mais prático criar um táxon artificial. Desse modo, alguns táxons amplamente conhecidos
contêm representantes descendentes de mais de uma linha ancestral. Pode-se dizer que estes táxons
são polifiléticos. Outros táxons excluem um ou mais descendentes de um ancestral comum. Assim,
denomina-se que estes táxons são parafiléticos, como, por exemplo, a tribo Paropsieae, pertencente
a família de plantas Passifloraceae. Esta tribo por ter perdido suas gavinhas se originam em árvores
e arbustos, desta forma são consideradas parafiléticas dentro da sua família (JUDD et al., 1999).
No amplo sentido, a sistemática é uma ciência comparada. Esta agrupa organismos em táxons
desde a categoria de gênero até filo, baseando-se em semelhanças estruturais e outros caracteres.
No entanto, a partir de Aristóteles, os pesquisadores vêm reconhecendo que as semelhanças
superficiais não são critérios úteis para decisões taxonômicas. Recorrendo a um exemplo simples,
pássaros e insetos não devem ser reunidos em um grupo somente por ambos apresentam asas.
Um inseto sem asas (como uma formiga) ainda é um inseto e um pássaro sem asas (como o quivi)
continua sendo um pássaro.
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FARMACOBOTÂNICA │ UNIDADE I
Desse modo, podemos dizer que as folhas normais, os cotilédones, as escamas das gemas e as
peças florais têm funções e aparências bem diferentes, mas todas são modificações do mesmo tipo
de órgão, ou seja, a folha. Assim, tais estruturas que apresentam uma origem comum, mas não
necessariamente uma função comum, são homólogas. Essas são as características baseadas nas
quais os sistemas de classificação deveriam idealmente ser construídos.
Ao contrário, outras estruturas, que podem ter uma função semelhante ou aparência superficial,
tem uma bagagem evolutiva totalmente diferente. Desse modo, podemos dizer que estas estruturas
são análogas e que aparecem por evolução convergente. Assim, as asas de uma ave e as asas de um
inseto são análogas, em vez de homólogas. De modo semelhante, os espinhos de um cacto (uma folha
modificada) e um espinho de um hawthorn (um caule modificado) são análogos e não homólogos.
A distinção entre homologia e analogia raramente é simples e geralmente requer uma comparação
minuciosa e evidências oriundas de outras características dos organismos em estudo (TAIZ e ZEIGER,
2006; NABORS, 2003). Sumarizando, podemos dizer que ao se comparar a anatomia de organismos,
percebe-se um grau de parentesco entre eles, evidenciando, dessa forma, a presença de estruturas
análogas e/ou homólogas. Assim, as estruturas análogas são as que apresentam a mesma função,
porém diferente formação em espécies variadas. Já as homólogas são aquelas que possuem a mesma
formação, porém podem ou não desempenhar as mesmas funções também em espécies variadas.
Desse modo, isso nos faz pensar que diferentes espécies poderiam ter um ancestral comum, que
conforme a evolução, dependendo do ambiente e temperatura, acabaram desenvolvendo novas
espécies para se adaptar conforme suas necessidades.
Evolução Convergente
Forças seletivas de intensidade comparável, agindo sobre plantas que crescem em
habitats semelhantes, mas em distintas partes do mundo, frequentemente fazem
com que plantas totalmente não relacionadas adquiram uma aparência semelhante.
O processo pelo qual isso acontece é conhecido como Evolução Convergente.
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UNIDADE I │ FARMACOBOTÂNICA
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FARMACOGNOSIA UNIDADE II
CAPÍTULO 1
Introdução à farmacognosia
O termo farmacognosia foi primeiramente empregado entre 1759-1809 por Johann Adam Schmidt
no manuscrito Lehrbuch der Materia Medica, o qual foi publicado em 1811, e depois em 1815, em
um pequeno trabalho intitulado Analecta Pharmacognostica, por Aenotheus Seydler.
Além disso, o termo farmacognosia encontra-se, de certa forma, ultrapassado. É usado, atualmente,
mais por tradição. Na Alemanha usa-se a expressão “Biologia Farmacêutica” para substituí-lo. Os
franceses utilizam a expressão “Matéria Médica”. Recentemente, foi criada no Brasil a designação
“Biofarmacognosia” (SOUSA, 2004).
Esta é uma ciência multidisciplinar, deste modo, se nos restringirmos de forma arbitrária, ao estudo
de drogas e substâncias de origem vegetal, a farmacognosia envolve a identificação de drogas
vegetais por caracteres morfológicos e anatômicos. O estudo de sua origem e forma de produção,
controle de qualidade, composição química, elucidação estrutural e conhecimento das propriedades
físico-químicas das substâncias ativas, bem como o estudo de suas propriedades farmacológicas
e toxicológicas (BRUNETON, 1993). Esta ciência ainda tem o cuidado com a seleção, cultura e
colheita de plantas destinadas a produzir drogas, bem como seleção e criação de animais destinados
ao mesmo fim.
A Farmacognosia pode ser encarada tanto sob o ponto de vista utilitário como filosófico. As pesquisas
de novas plantas medicinais, buscando o isolamento de princípios ativos e sua identificação, a
verificação da atividade farmacodinâmica destes princípios ativos bem como a do extrato vegetal
envolvido, constitui atividade relevante.
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UNIDADE II │ FARMACOGNOSIA
Farmacognosia é uma ciência privativa do farmacêutico, representando uma das mais importantes
disciplinas de sua formação. No campo das ciências básicas, que entram no currículo farmacêutico,
ela se relaciona intimamente com a Botânica, Zoologia, Genética, Física e Química, lançando mão
destas ciências no cumprimento de suas finalidades. No campo das ciências aplicadas, ela exerce
influência na Farmacotécnica, na Química Farmacêutica, na Farmacodinâmica e na Tecnologia e
Controle, tanto de medicamentos como de alimentos (< http://www.sbfgnosia.org.br/> acessado
em 17-5-2014; SCHENKEL, 2003).
Inúmeras matérias de origem vegetal são utilizadas tanto no combate às doenças, como para saciar
a fome. A maioria dos condimentos utilizados na alimentação encontra-se incluída nos tratados de
farmacognosia. A microscopia alimentar constitui um dos elos importantes entre Bromatologia e
Farmacognosia (SOUSA, 2004).
Drogas
Em farmacognosia, droga é todo o produto de origem vegetal ou animal que, coletado ou separado
da natureza e submetido a processo de preparo e conservação, apresentam composição e
propriedades, dentro da sua complexidade, que constitui a forma bruta do medicamento. Droga é,
pois, toda a matéria sem vida que sofreu alguma transformação para em seguida servir de base para
o medicamento. A história, a produção, o armazenamento, a comercialização, o uso, a identificação,
avaliação, conservação e o isolamento de princípios ativos de drogas são aspectos também tratados
em farmacognosia (OLIVEIRA, 2005).
A origem da palavra droga não está ainda bem esclarecida. Contudo, alguns pesquisadores
consideram que a designação esteja relacionada com a palavra alemã trocken que significa secar,
visto que drogas de origem vegetal ou animal se apresentarem quase que exclusivamente no estado
seco. Outros acreditam que a palavra droga seja originada do holandês droog que apresenta também
o mesmo significado, seco (PIO CORREA, 1984; OLIVEIRA, 2005).
Sabe-se que qualquer parte, órgão ou produtos derivados diretamente do vegetal ou de origem
animal, após sofrerem processos de coleta, preparo e conservação, são capazes de possuir composição
e propriedades que possibilitam o seu uso como forma bruta em um medicamento. Além disso, o
processo de coleta e conservação não modifica as condições genéricas do produto. Por exemplo: As
folhas de eucalipto, Eucalyptus globulus Labillardiere, são utilizadas em tratamentos respiratórios,
no entanto, são coletadas simplesmente do vegetal, não constituindo nenhuma forma de droga, em
28
FARMACOGNOSIA │ UNIDADE II
contrapartida, quando são submetidas a um processo de conservação como, por exemplo, a secagem
passa a constituir a forma de uma droga. Já no caso de um fruto como, por exemplo, uvas rosadas,
pertencentes à família Vitis vinífera L. se submetê-lo ao processo de secagem, irá se transformar em
uva passa, o qual não apresenta uso medicinal (AL - SAYED et al.,2014). Na América Central, nas
plantas pertencentes à família Cactaceae se desenvolve um inseto denominado Cochonilha (coccos
cacti L.). Estes insetos coletados, quando mortos a partir do emprego de água fervente são submetidos
posteriormente ao processo de secagem, constituindo o chamado carmim animal, o qual é empregado
como uma necessidade farmacêutica no colorimento de certos medicamentos e alimentos. Trata-se,
portanto, de um tipo de droga apesar de não apresentar atividade farmacodinâmica (de CASTRO
CAMPOS PINTO, 2014; COHEN, 2013).
Mas não são todos os frutos que não apresentam uso medicinal, dependendo do fruto, ao passar pelo
processo de preparação do medicamento, ele pode passar a constituir uma droga. Neste aspecto, a
droga pode ser considerada como matéria-prima de medicamento conservado.
Segundo a sua origem, a droga pode ser classificada em três tipos, a saber:
»» droga vegetal;
»» droga animal;
Drogas derivadas são produtos derivados de animal ou planta, obtidos diretamente, isto é, sem
utilização de processo extrativo delicado. Quando executamos incisões no tronco de um pinheiro,
por exemplo, notamos, após algum tempo, a exsudação de uma mistura complexa de substâncias
que se solidifica em contato com o ar. Este conjunto de substâncias recebe o nome de terebintina e,
após o trabalho de coleta e preparo, constitui exemplo de droga derivada. Se, entretanto, retirarmos
desta mesma árvore alguns pedaços de caule e os submetermos a destilação, obteremos o óleo
essencial do pinheiro. Este não é considerado como droga derivada, em virtude do processo de
sua obtenção. O pão de ópio constitui outro exemplo de droga derivada (LING e BOCHU, 2014).
Além disso, podemos considerar o caso dos frutos verdes, plenamente desenvolvidos de Papoula
(Papaver somniferum L.). Fazendo incisões nestes frutos, deles exsudará um látex que, em contato
com o ar se solidificará. Este exsudato raspado das cápsulas, reunido e moldado em forma de
pães após processo de secagem vai construir o pão de ópio, sendo rico em alcaloides, deste modo,
apresentando função na indústria farmacêutica. Trata-se, portanto, de um tipo especial de droga
constituída de mistura de substâncias derivadas diretamente de vegetal, denominada deste modo,
de droga derivada (BONILLA et al., 2014). Como exemplo de droga derivada de origem animal têm
o bílis de boi e o mel de abelha.
Assim, para que uma matéria possa ser considerada como droga, segundo o sentido farmacognóstico,
deverá preencher as seguintes condições:
29
UNIDADE II │ FARMACOGNOSIA
O uso da droga legítima no preparo “simples” é o fato que se impõe. O prestígio ou desprestígio
dos extratos vegetais usados na terapêutica depende do tipo da droga utilizada em sua elaboração.
Assim, por exemplo, o fabricante de extratos vegetais que utilizar na fabricação de um extrato
fluido de jaborandi, folhas de uma espécie de Ottonia, conhecida pelo povo como jaborandi, estará
cometendo um erro. As propriedades farmacodinâmicas deste extrato irão diferir muito daquele
obtido com as folhas de Pilocarpus jaborandi Holmes, que constitui a droga verdadeira (VERAS et
al., 2013).
O analista deve sempre ter em mente que a adulteração e a falsificação constituem procedimentos
danosos daqueles que, sem pensar no bem público, buscam aumentar o lucro. Há muito tempo
esse tipo de procedimento têm preocupado aqueles que assumem como função preservar a saúde
pública.
Em nosso país, as leis que governam os procedimentos que apresentam o processamento de drogas
naturais, principalmente as de origem vegetal, é comum apresentarem problema frequentemente.
Grande parte das drogas brasileiras origina-se de plantas silvestres. Deste modo, pode-se afirmar
que o cultivo racional das plantas medicinais quase inexiste em nosso país. Não obstante, as
pessoas que se prestam à coleta de plantas nativas, com frequência, são possuidoras de poucos
conhecimentos, recorrendo, portanto, ao lado da desonestidade de alguns, a ignorância de outros
(OLIVEIRA, 2005).
Os nomes regionais de plantas podem se constituir em outro motivo de erro. Esses nomes, ou seja,
os nomes populares das plantas variam muito de um lugar para o outro, e é comum designarem-se
plantas diferentes com o mesmo nome, bem como uma planta com diversos nomes. Por exemplo:
“jaborandi”, nome oficial de nossa farmacopeia para as espécies Pilocarpus jaborandi Holmes,
Pilocarpus microphyllus Stapf e Pilocarpus pennatifolius Lem., se conhecem também diversas
espécies pertencentes ao gênero Piper e Ottonia, subordinadas à família Piperaceae. Chapéu-de-couro,
denominação oficial de nosso código farmacêutico para Echinodorus macrophyllus (Kunt) Micheli, é
nome vulgar de diversas espécies de Alisma e de Echinodorus (CLEMENTE e STEFFEN, 2010).
30
FARMACOGNOSIA │ UNIDADE II
A produção de drogas vegetais designa-se tanto de vegetais silvestres ou espontâneos como vegetais
cultivados. A grande maioria das drogas brasileiras é proveniente de vegetais silvestres, ou seja, de
processos extrativos. Estas drogas acabam, quase sempre, possuindo qualidade não suficientemente
boa e padronizada (SCHENKEL, 2003).
O cultivo de plantas medicinais vem sofrendo impulso relativamente grande tanto no Brasil como
no resto do mundo. Inúmeros campos experimentais de cultivo têm sido destinados, quase que
com exclusividade, para o setor de plantas medicinais. Nestes campos experimentais procura-se
adaptar plantas exóticas a novas condições de cultivo, bem como produzir, em larga escala, vegetais
autóctones. Assim, a seleção e cultivo de novas variedades são tarefas bastante frequentes nestes
tipos de instituições. O melhoramento de plantas medicinais relaciona-se tanto com a maior
capacidade de produção de princípios ativos, como com a maior resistência a condições climáticas
desfavoráveis e a parasitas (GILMAM, HARDMAM, LIMBRIG, 2003).
O melhoramento pode estar relacionado a condições exteriores, isto é, com o maior ambiente ou com
o patrimônio genético do vegetal. No primeiro caso, diz-se estar relacionado com fatores extrínsecos
e, no segundo caso, com fatores intrínsecos.
No entanto, podem ocorrer problemas inerentes às drogas como no processo de seleção, por
exemplo, pois sabe-se que uma espécie vegetal pode estar relacionada com caracteres genéticos
flutuantes, deste modo, a seleção de melhores indivíduos, levará à produção de cultura de melhor
qualidade. Cultura, fatores climáticos, fatores edáficos, colheitas, preparo e tratamento como:
secagem, estabilização, conservação e ambiente também são exemplos que podem vir a ocasionar
problemas no processamento das drogas (GILMAM, HARDMAM, LIMBRIG, 2003; OLIVEIRA,
2005).
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CAPÍTULO 2
Estudo das principais classes de
compostos orgânicos encontrados em
plantas
32
FARMACOGNOSIA │ UNIDADE II
A celulose é o composto mais abundante na Terra, pois forma a parede celular das plantas superiores.
É insolúvel em solventes orgânicos, como álcool, éter, benzeno e outros, sendo usado como reagente
na indústria química para a fabricação do ácido oxálico. Em herbalismo é usado como purgativo ou
hemostático (hemorragias) (CAMPOS e CARIBÉ, 1999).
As gomas são modificações das membranas celulares para a armazenagem de água, são compostos de
vários polissacarídeos e pequena quantidade de ácido urônico, presume-se que sirvam para proteger
a planta de ataques de micro-organismo em áreas com lesões. Podem ser total ou parcialmente
solúveis em água, mas nunca em alcoóis fortes. Assim, são usadas como fixadores em cosmética
(cremes, pós, laquês e adesivos para dentadura) e em herbalismo como protetores de peles irritadas,
ressecadas, como protetor de mucosas e em xaropes para diabéticos. Na indústria alimentícia a
utilização da goma hidrossolúvel é importante para a preparação e alimentos fáceis e de rápido
preparo (NEUKOM, 1989; PANEGASSI, SERRA e BUCKERIDGE, 2000).
33
UNIDADE II │ FARMACOGNOSIA
Mucilagens são coloides que em contato com a água se tornam viscosos. Promovem depósitos de
água para a germinação e impedem a atividade de substâncias irritantes, protegendo mucosas
inflamadas, como vias respiratórias, tubo digestivo e vias genito-urinárias. São laxantes e podem
promover diarreias por irritação da mucosa intestinal. São usados em cataplasmas por causar
congestão sanguínea e são estabilizantes de pomadas e cremes. Diminuem a acidez de certos
medicamentos e são hidratantes. Não são absorvidos no tubo digestório pelo seu grande tamanho,
mas aumentam o bolo alimentar, quando atuam como laxantes e são reguladoras do apetite. Podem
ser encontradas nas Rosáceas, lináceas, Boragináceas, Plantagináceas, Malváceas e Tiliáceas
(PIMENTEL et al., 2011; PRIOLO DE LUFRANO e CAFFI NI, 1981; GREGORY e BAAS, 1989;
ROSHCHINA e ROSHCHINA, 1993).
»» Glicosídeos cianogenéticos
»» Glicosídeos sulfurados
»» Glicosídeos aldeídicos
»» Glicosídeos fenólicos
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FARMACOGNOSIA │ UNIDADE II
contraçãodo músculo cardíaco, regular a função cardiovascular e melhorar a função renal, aliviando
o edema associado à insuficiência cardíaca. Foram descobertos a partir da Dedaleira (Digitalis
purpurea). Sua dose terapêutica é muito próxima da dose tóxica, deste modo, devem ser usados
com prescrição médica e não devem ser aquecidos (LI et al., 2014). Além disso, POBLOCKA-OLECH
et al., (2014) também observaram que os glicosídeos cardiotônicos induzem a morte celular por
autofagia em células cancerígenas do pulmão.
Glicosídeos alcoólicos ou salicílicos apresentam uma fração aglicona formada por um álcool, é
anti-inflamatório e antipirético, agindo sobre o reumatismo e sobre a temperatura corporal. Foi
descoberto a partir do salgueiro (Salix alba) usado pelo índios americanos, levou à síntese do acetil
salisílico (aspirina), que hoje os substitui (NEDERKASSEL et al., 2007). Glicosídeios cianogenéticos
liberam o ácido cianídrico ou prússico quando hidrolisados, são tóxicos por inibir a respiração
celular. Pode ser encontrados nas folhas e nas sementes das Rosáceas, Leguminosas e Euforbiáceas,
apresenta no gênero Prunus – pessegueiro (Prunus pérsica), cerejeira (Prunus cerasus) e damasco
(Prunus armeniaca), um tipo de glicosídeo que tem ação sedativa sobre a tosse, a amigdalina.
Geralmente são de uso externo, podendo ter ação anticancerígena e aromatizante (GLEADOW e
MOLLER, 2014; KIM et al., 2013).
Glicosídeos sulfurados, contèm enxofres em sua composição celular, apresentam ação antisséptica
e estimulante das funções digestivas, produzem efeito tópico irritante e vasodilatador. São
anticancerígenos e estão presentes nas Crucíferas, Tropaoláceas e Lilíáceas (ABDULL e NOOR,
2013; VLASE et al.,2012).
As Saponinas também são metabólicos secundários de planats. Elas são heterosídeos que apresentam
uma molécula de açúcar diferente da glicose ligada a uma aglicona. Dependendo desta fração serão
esteroidais como nas monocotiledôneas ou triterpênicas como as eudicotiledôneas. Diminuem
a tensão superficial da água e formam espuma, saponificam substâncias solúveis em gorduras,
tornando-a liposolúvel. Participam da germinação e induzem a floração, são extremamente anti-
sépticas. Podem ser usadas em cosméticas e apresentam atividade mucolítica, expectorante,
diarreica, antimicrobiana e anti-inflamatória. Podem ter ação hemolítica e necrotizante em doses
excessivas. São absorvidas por via oral. Pode-se encontra-las no Alcaçuz (Glyrrhiza glabra)
semelhante a um corticóide, no Ginseng (Panax ginseg) que ativa o metabolismo oxidativo, na
35
UNIDADE II │ FARMACOGNOSIA
castanha da Índia (Aesculus hippocastanum) como tônica das veias e anti-inflamatório (XIONG et
al.,2014; NASROLLAHI et al., 2014; QIAO et al., 2014; JIANG et al., 2011).
Os Lipídeos são óleos, gorduras e ceras, sua função é armazenar nutrientes, apresenta alto valor
calórico e dão muita energia. Apresentam-se ação emoliente no organismo. Podem ser chamado
de óleos quando são líquidos à temperatura ambiente, e de gorduras quando são sólidas. As ceras
são usadas para endurecer pomadas e cosméticos. Estão presentes nas sementes de Palmáceas,
leguminosas e Rosáceas (ITF, 2008).
Os Terpenóides são encontrados tanto nos vegetais como em fungos, insetos e alguns animais
marinhos. São compostos simples, os óleos essências são muito voláteis, apresentam baixo peso
molecular que é o que dá o odor a plantas e flores. Podem apresentar até 100 substâncias diferentes,
têm função de polinização, proteção e metabolismo celular. Apresentam ação anestésica, anti-
histamínica, anti-inflamatória, anti-helmíntica, anti-fúngica, carminativa, expectorante e sedativa.
Dão os sabores picantes e aromáticos às plantas medicinais. São bem absorvidos por via oral ou
pela mucosa digestiva e alterações neurológicas. As principais famílias são Labiadas, Rubiáceas,
lauráceas, Umbelíferas e Asteráceas (AL MUQARRABUN, AHMAT e ARIS, 2014) .
Os Taninos, desde os tempos mais longínquos plantas taniníferas são utilizadas no processo de
curtimento do couro. Devido à sua capacidade de se combinar com proteínas da pele animal, os
taninos inibem o processo de putrefação, e, consequentemente, conservam as peles e dão a elas
resistências e flexibilidade. Um típico exemplo de droga vegetal utilizada para este fim é o Angico
(Anadenanthera macrocarpa), que além de curtir o couro, proporciona uma coloração avermelhada
típica dos couros nordestinos. Interessante que o extrato de Anadenanthera macrocarpa além da
sua função de coloração foi observado que ela é capaz de matar a larva do Aedes aegypti. Desse
modo, é provável que o tanino dessa espécie possa ser capaz de atuar como inseticida (FARIAS et
al., 2010).
Por serem compostos fenólicos os taninos são muito reativos quimicamente, possuindo a capacidade
de formação de pontes de hidrogênio intra e intermoleculares. Assim, um mol de taninos pode se
ligar a doze moles de proteínas, fundamentando-se nessa propriedade pode-se identificar taninos
por teste de precipitação de gelatinas, por exemplo (LING e BOCHU, 2014).
Tais compostos são responsáveis pela adstringência de muitos frutos e produtos vegetais, devido à
precipitação de proteínas salivares, o que ocasiona a perda do poder lubrificante. Nos vegetais, os
36
FARMACOGNOSIA │ UNIDADE II
taninos agem como protetores contra predadores, devido à redução da palatabilidade, dificuldade
na digestão e toxicidade. Há aqueles que buscam aumentar a produção de taninos em plantas
medicinais, visando melhorar a resistência do vegetal, reduzindo desta forma, a probabilidade de
utilização de inseticidas, visto que estes compostos podem proteger a planta (aumento dos teores de
taninos sem que os mesmos sejam as substâncias farmacologicamente ativas) (FARIAS et al., 2010).
Os taninos podem ser classificados segundo a estrutura química como hidrolisáveis ou condensados
(não hidrolisáveis). Estes taninos hidrolisáveis são ésteres de ácido gálico ou elágico glicosilados,
onde os grupos hidroxila do ácido são esterificados com os ácidos fenólicos, formando os galotaninos
(taninos gálicos) e os elagitaninos (taninos elágicos). Estes grupos de taninos podem ser hidrolisados
a compostos mais simples por ação da água quente ou de enzimas (MELONE et al., 2013). Os
taninos elágicos são muito mais frequentes que os gálicos, provavelmente porque ocorre a ligação
oxidativa de dois ácidos gálicos para a formação do ácido elágico antes da união destas substâncias
na biogênese dos taninos. Os taninos elágicos agem sobre a inflamação gástrica aliviando a dor
(SANGIOVANNI et al., 2013).
Já que os taninos precipitam alcaloides e metais, eles podem servir de antídoto em casos de
intoxicações por estes compostos. Além disso, a possibilidade de interações medicamentosas entre
taninos presentes em muitos chás consumidos rotineiramente, como o chá verde, e alcaloides deve
ser levados em consideração na orientação aos pacientes, isto é, na assistência farmacêutica (LING
e BOCHU, 2014).
37
UNIDADE II │ FARMACOGNOSIA
com ratos revelaram que os animais alimentados com sementes de soja apresentaram menor
absorção de ferro quando tratados com taninos condensados (YUN et al., 2011).
Identificação dos taninos pode ser caracterizada através de reações de precipitação com gelatina,
alcaloides, cloreto férrico, acetato de chumbo e acetato de cobre. Quanto às aplicações industriais,
os taninos são empregados na maioria das vezes no curtimento do couro e na produção de cerveja.
Nas cervejarias, o objetivo é reduzir a concentração de proteínas através de precipitação como
complexos tanino-proteícos, que são retirados de cerveja através de sedimentação ou centrifugação/
filtração (PASCAL et al., 2009).
Uma curiosidade é que alguns pesquisadores relacionaram menor incidência de processos obstrutivos
esofágicos na população inglesa em comparação aos holandeses, pois os ingleses têm o hábito de
tomar chá com leite, enquanto que os holandeses não (HERTOG et al., 1997). Os pesquisadores
americanos atribuíram a maior incidência de câncer de esôfago em uma determinada localidade dos
EUA às pessoas que consomem rotineiramente após o almoço nozes que contêm cerca de 25% de
taninos. Contraditoriamente, pesquisadores japoneses sugerem que pessoas que ingerem chá verde,
rico em taninos, em suas dietas diárias o risco de câncer gástrico é menor (CHUNG et al., 1998).
Flavonóides são compostos por um açúcar e um pigmento que têm atuação na diferenciação celular
(semente e folhas) e dão cor as folhas, flores e frutos. Há um tipo amarelo (flavonona) presente em
Rutáceas, gramíneas, Asteráceas, Polipodiáceas, Leguminosas, Pináceas e escrofulariáceas, e um
tipo azul (antociânicos), presentes nas flores. Os amarelos são de baixa toxicidade e são absorvidos
via digestiva. Têm ação anti-inflamatória, antiespasmódica, cardiocirculatória e estabilizadora das
paredes das veias. Os flavonoides são, provavelmente, a maior classe de metabólitos secundários
vegetais, e apresentam um amplo espectro de atividades biológicas, incluindo frequentemente
38
FARMACOGNOSIA │ UNIDADE II
atividade mutagênica e, com bem menos frequência, atividade anti-mutagênica, podendo ser
encontradas nas famílias Eriocaulaceae, como a Paepalanthus latipes (Silveira) ( BOSQUEIRO et
al., 2000).
Fitoesteróides são os hormônios vegetais (esteróides), eles atuam no crescimento das plantas, sendo
encontrada em todas as plantas medicinais, porém em baixas concentrações. Nas dioscoreáceas (Inhames)
e algumas Leguminosas, permite a síntese de hormônio feminino semi-sintético. São bem absorvidos
por via oral e metabolizados no fígado. O tratamento de fitoesterois na dieta diminuiu moderadamente
os lípides plasmáticos em pacientes hipercolesterolêmicos (LOTTENBERG et al., 2002).
Alcalóides são os compostos mais estudados, mas não são encontrados em qualquer planta. Em
contrapartida, as espécies vegetais com altas concentrações deste princípio ativo são consideradas
as mais perigosas e, às vezes, até mesmo venenosas. São compostos nitrogenados alcalinos e de
sabor amargo. Apresentam função protetora reguladora no crescimento de plantas. Podem estar
em várias partes da planta. Sua atividade terapêutica é muito variada, podendo ser vaso-dilatadora,
analgésica, vemicida, antitussígena, anti-hipertensiva, liberadora de adrenalina. Podemos ser
absorvidos por via oral e metabolizados no fígado. As famílias, onde possamos encontrar os
alcaloides são Apocináceas, Leguminosas, Papaveráceas, Rubiáceas e Solanáceas. São potentes
psicotrópicos. São solúveis em água, álcool e etanol e são encontrados nas plantas como os sais
(XAVIER e RAUTER, 2014).
Cumarinas são lactonas derivas do ácido cumarínico, cujo aroma se intensifica com a desidratação
da planta. Têm ação farmacológica diversificada, como hepato-proteção, antiinflamatório e
especialmente anti-espamódica, tendo sido utilizadas como condimento alimentar por suas
qualidades aromáticas e de disfarçar adores. São encontrados livres ou como glicosídeos muito
presentes no reino vegetal, especialmente nas Leguminosas, rutáceas, Moráceas (LEE et al., 2014;
SHI et al., 2014).
Lactonas sesquiterpênicas são presentes notadamente na família Asteráceas, mas também em outras
angiospermas. São lactonas associadas a terpenos, onde sua atividade farmacológica citostática,
antimicrobiana e anti-inflamatória, está diretamente relacionada à fração lactona. Causam reações
alérgicas e dermatites de contato comumente (MOHAMED, ESMAIL e EL-SAADE, 2013).
Resinas são óleos essencias transformados e misturados a outros componentes, produzidos por
células especializadas nas famílias Coníferas e Leguminosas (ITF, 2008).
Látex são emulsões leitosas (borrachudas) fracas em óleos essenciais. As famílias onde podemos
encontrar o látex são as Asclepiáceas, Euforbiáceas, Moráceas, Papaveráceas, Apocináceas e
Sapotáceas (ITF, 2008).
Óleos resinosos são provenientes da oxidação incompleta de um óleo essencial. Podem apresentar
minerais e ácidos graxos. As famílias que apresentam os óleos resinosos são Pináceas, Anacardiáceas
e Leguminosas (ITF, 2008).
39
UNIDADE II │ FARMACOGNOSIA
Princípios amargos apresentam ação estimulante sobre as papilas gustativas e ação digestiva.
Sua característica principal é o sabor amargo, criando um grupo especial. Podem ser glicosídeos,
alcaloides, saponinas, e até mesmo óleos essenciais, estão mais presentes nas famílias Asteráceas e
Gencianáceas (GAO et al., 2004).
Os sais minerais são indispensáveis ao metabolismo humano e vegetal, são oxidantes e reconstituintes.
Cada elemento é responsável por uma função específica, assim sendo, os sais de cálcio formam
o tecido ósseo, modulam a excitabilidade neuromuscular e participam do processo de coagulação
sanguínea. Sais de ferro são estruturalmente importante nas hemácias e processos anti-anêmicos.
Temos ainda os oligo-elementos, que geralmente aparecem como traços também fundamentais
como o iodo, manganês, zinco, boro, bromo, molibdênio, entre outtros, cuja participação no
processo enzimático é crucial (GOLAN et al., 2009).
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CAPÍTULO 3
Controle de qualidade de matéria-
prima e produtos fitoterápicos
Para o controle de qualidade de uma droga, há três tipos de operações fundamentais, que são: a
amostragem ou tomada de ensaio, a identificação e a verificação da pureza. A análise de uma droga
se inicia pela amostragem, seguindo a identificação e a verificação da pureza. A partir do momento
que se prova que a droga não é adequada, esta não passa para a etapa seguinte de avaliação. No
entanto, quando se têm a droga de interesse em ótimo estado de pureza, então consequentemente
passamos para a etapa seguinte. Outro aspecto a ser considerado na análise das drogas vegetais é o
da qualidade, pois esta característica está relacionada a apresentação, estado de conservação, teor
de princípios ativos e com a pureza. Deste modo, a apresentação de uma droga é importante quando
ela se destina à elaboração de chás, por exemplo. Assim, tamanhos muitos diferentes e coloração
irregular, depreciam o produto, no entanto, a apresentação já não é levada em conta quando a droga
41
UNIDADE II │ FARMACOGNOSIA
se destina a indústrias de extratos, por exemplo. Devemos lembrar que o teor de princípios ativos e
pureza sempre devem ser lavados em consideração, independente de qual rumo o produto (droga)
tomar (OLIVEIRA, 2005).
Como uma das principais etapas no processo de controle de qualidade de insumos vegetais se destaca
a amostragem ou tomada de ensaio, devido à variabilidade na uniformidade dos lotes recebidos, a
amostragem é determinante para o sucesso dos testes de controle de qualidade. Esta deve seguir
critérios estatísticos para que a mesma seja representativa do todo. No caso de insumos vegetais,
na forma de droga vegetal inteira ou rasurada, a segregação de porções com diferentes espessuras
ou granulometrias é muito frequente. Dessa forma, a amostragem deve ser realizada utilizando-
se métodos como o quarteamento que permite a realização de uma amostragem homogênea
respeitando-os diferentes estados de divisão da droga. Assim podemos observar que:
A análise de chás é feita separando-se as partes pelo processo de catação. Quando o chá é constituído
por duas ou mais plantas, procura-se separar os componentes com auxílio de lupa e de pinça.
Estima-se, depois, a porcentagem de cada componente da mistura.
Figura 4. Figura representativa do quarteamento da droga vegetal, sendo que a superfície é dividida em quatro
quadrados, destinada a reduzir o tamanho da amostra
42
FARMACOGNOSIA │ UNIDADE II
A identificação cria individualidades, não existindo sequer dois indivíduos iguais. No entanto, entre
os indivíduos da mesma espécie prevalecem às semelhanças, ficando assim, as diferenças restritas a
certos limites. Graças a este fato é possível concluir que “certa” planta pertence a uma determinada
espécie, como vimos no capítulo 1. Por outro lado, órgãos de indivíduos pertencentes à mesma
espécie são muito semelhantes entre si, possibilitando, inclusive, a identificação da espécie à qual
pertencem. As raízes Ipecacuanha – Cephaelis ipecacuanha (Brotero) Richard, possuem certas
características especiais, que permitem a sua identificação mesmo quando estão separadas do
restante da planta. Na análise de drogas vegetais, grande parte das identificações baseia-se neste fato.
A qualidade dos extratos vegetais utilizados na terapêutica depende do tipo de droga utilizada na sua
produção. Antes de utilizarmos qualquer droga no preparo de medicamentos, devemos submetê-
la a análise rigorosa. Dessa forma, a identificação de uma droga vegetal é feita comparando-a com
a droga padrão, através de descrições pormenorizadas existentes nas farmacopeias, ou ainda, em
literatura especializada (método comparativo). A identificação pode ser por processos diretos ou
indiretos (TREASE e EVANS, 2000; OLIVEIRA, 2005).
43
UNIDADE II │ FARMACOGNOSIA
Já pelo olfato, a droga pode apresentar-se inodora ou com odor, sendo este agradável ou desagradável,
aromático ou nauseoso. As raízes de Guiné ou Pipi apresentam odor aliáceo, as raízes de polígala
apresentam odor de salicilato de metila, por exemplo. Além disso, KURODA, SHIZUME e MIMAKI,
(2014) evidenciaram dois novos glicosídeos triterpenoides acetilados após o isolamento do extrato
de metanol de raízes de Polígala que apresentavam intenso odor de salicilatro de metila.
Por fim, o sabor também é uma característica relevante na identificação das drogas. Podendo
apresentar-se com sabor doce, amargo, azedo e salgado. O sabor é muito presente em drogas
vegetais, como adstrigentes, oleosos, mucilaginosos, acre e pungente. O adstringente, observado
em drogas tânicas, apresenta um aperto sobre a mucosa bucal. O oleoso lembra a sensação de óleo
na boca. O mucilaginoso dá a impressão de aumentar de volume e escorregar na boca. O acre ou
picante e o pungente apresenta-se ardido ou doloroso, sendo todos esses sabores empregados na
caracterização de certos tipos de droga. Assim, os métodos diretos são simples e rápidos e podem
justificar a rejeição de um lote de droga vegetal.
44
FARMACOGNOSIA │ UNIDADE II
Nas transformações químicas, as reações de caracterização química, podem ser feitas no próprio
tecido vegetal ou em extratos provenientes destes. As reações de caracterização podem se derivar
em reações histoquímicas, quando a reação ocorre no seio do tecido, e em reações microquímicas,
quando uma pequena quantidade de substância é extraída, para a execução da reação destinada a
caracterizar a droga, a qual ocorre fora do tecido vegetal. Um exemplo de transformação química
destinada à identificação de drogas é a reação de murexida que se faz com as drogas caféicas, a
qual origina um extrato clorofórmico da droga. O extrato passa por um processo de evaporação
do clorofórmio a partir de uma temperatura baixa, e, em seguida o resíduo formado é tratado e
acrescentado a uma mistura de ácido clorídrico e clorato de potássio, o qual visa obter um composto
intermediário oxidado. Por fim, expõe-se este composto a vapores de amônia originando coloração
vermelha da murexida (Figura 5.) (OLIVEIRA, 2005).
oxidação aquecimento
CAFEÍNA ALOXANO
O O
OH
O
NH
HN NH4
O O O O
N N
H H
ALOXANTINA
MUREXIDA
(modificada de OLIVEIRA, 2005).
45
UNIDADE II │ FARMACOGNOSIA
Os cristais de oxalato de cálcio são frequentes em tecidos vegetais. Sua identificação costuma ser
evidenciada pela verificação da presença de íons-cálcio. Para tanto, emprega-se o reativo para oxalato
de cálcio à base de ácido sulfúrico diluído. O ácido sulfúrico reage com o oxalato de cálcio, formando
sulfato de cálcio, substância esta que se cristaliza em forma de cristais aciculares. Basicamente, o
que ocorre é a transformação de uma forma cristalina de oxalato de cálcio em outra de sulfato de
cálcio (BROWN, WARWICK e PRYCHID, 2013).
Inúmeros processos biológicos de identificação podem ser utilizados. A hemólise ocasionada por
extratos de drogas contendo saponinas constitui exemplo deste importante grupo de processos de
identificação. A hemo-aglutinação ocasionada por extratos de drogas contendo taninos corresponde
a outro exemplo. Algumas reações específicas costumam ser empregadas. A verificação de
ictiotoxicidade para drogas contendo saponinas, o vômito de pombos para as drogas cardiotônicas,
a convulsão estricnínica e o desenvolvimento de estado de catatonia, são algumas vezes utilizados
(TREASE e EVANS, 2000).
Segundo a OMS 2007 – Guidelines for assessing quality of herbal medicines with reference to
contaminants and residues, os contaminantes em insumos vegetais são classificados em físico-
químicos e biológicos. Os contaminantes físico-quimicos são partes da mesma planta que não
a parte usada ou partes de outras plantas, terra, areia, pesticidas e herbicidas, metais pesados e
os contaminantes biológicos são micro-organismos, insetos, parasitos, entre outros (TREASE e
EVANS, 2000).
46
FARMACOGNOSIA │ UNIDADE II
Alguns destes contaminantes podem ser identificados através de técnicas muito simples como teor
de cinzas. Dessa forma, é importante compreendermos a origem destes contaminantes para que
ações possam ser tomadas no sentido de evitar ou minimizar as contaminações.
Pesticidas e herbicidas deixam como resíduos em solo e/ou plantas medicinais os metais pesados.
Portanto, deve-se evitar o cultivo de plantas medicinais em terrenos contaminantes pelos mesmos,
bem como evitar seu uso. A poluição ambiental é fonte de contaminação de insumos vegetais com
metais pesados. Recomenda-se não coletar plantas medicinais em locais poluídos como áreas
próximas às rodovias, onde as plantas podem estar em contato com os gases poluentes oriundos
dos automóveis e estarem contaminadas por chumbo (GILMAM, HARDMAM e LIMBIRD, 2003).
Em outras palavras, quando uma droga é adulterada, a porcentagem de cinzas varia. Esta
determinação é muito importante na identificação de drogas pulverizadas, que podem ser adulteradas
pela adição de areia. Neste caso, o teor de cinzas vai aparecer aumentado.
47
CAPÍTULO 4
Biotransformação
Diversos órgãos têm a capacidade de metabolizar em certo grau as drogas pelas reações enzimáticas.
Assim, os rins, o trato gastrintestinal, os pulmões, a pele e outros órgãos contribuem para o metabolismo
sistêmico das drogas. Entretanto, o fígado é que contém a maior diversidade e quantidade de enzimas
metabólicas, de modo que a maior parte do metabolismo das drogas ocorre nesse órgão. A capacidade
do fígado de modificar os fármacos depende da quantidade de droga que penetra nos hepatócitos. Em
geral, os fármacos altamente lipofílicos podem penetrar mais facilmente nas células (inclusive nos
hepatócitos). Desse modo, o fígado metaboliza preferencialmente as drogas hidrofóbicas. Entretanto,
o fígado também contém numerosos receptores, que também permitem a entrada de algumas drogas
hidrofílicas nos hepatócitos. As enzimas hepáticas têm a propriedade de modificar quimicamente uma
variedade de substituintes nas moléculas das drogas, tornando essas drogas inativas ou facilitando
a sua eliminação. Essas modificações são designadas, em seu conjunto, como biotransformação.
As reações de biotransformação são classificadas em dois tipos: as reações de oxidação/redução e
as reações de conjugação/hidrólise. (Embora as reações de biotransformação sejam frequentemente
denominadas reações de Fase I e de Fase II) (GOLAN et al., 2009).
A reação de fase I envolve as reações de hidrólise, redução e oxidação. Estas reações expõe ou introduz
um grupo funcional (-OH, -NH2, -SH ou -COOH), e geralmente resultam em um pequeno aumento
na hidrofilicidade. Reações de biotransformação de fase II incluem acetilação, metilação, sulfonação
(mais conhecido como sulfatação), glucuronidação, conjugação com glutationa (síntese de ácido
mercaptúrico), e conjugação com aminoácidos, bem como glicina, taurina e ácido glutâmico. Os
cofatores para estas reações reagem com o grupo funcional que está presente sobre os xenobióticos
ou que foram introduzidos ou expostos durante a biotransformação de fase I. Muitas reações de
48
FARMACOGNOSIA │ UNIDADE II
O limoneno é um monoterpeno monocíclico que faz parte da estrutura de mais de 300 vegetais
(BURDOCK,1995). Ele tem a finalidade de trazer o aroma a diversos produtos a partir da sua
biotransformação, no entanto, também pode ser usado como solvente para resinas, síntese de outros
componentes químicos, aplicações em borracha, tintas, agentes dispersantes para óleo, além da
utilização na síntese química do menthol (http:// http://www.associtrus.com.br/, acessada em Maio
de 2014). Assim sendo, a biotransformação de limoneno em compostos de aroma, como carvona,
álcool perílico trouxe vantagens a esta substância, uma vez que, formou a regioespecificidade e a
enantioespecificidade que são enzimas importantes no processo de biotransformação. Fazendo
com que numerosos microoganismos e células de plantas fossem descritos como transformadores
desse monoterpeno (DUETZ, 2003).
49
UNIDADE II │ FARMACOGNOSIA
Princípios Ativos
A biotransformação pela ação farmacodinâmica das drogas é devida à presença de princípios ativos.
Estes princípios ativos são constituídos de uma substância ou conjunto de substâncias quimicamente
definidas.
Além dos princípios ativos que são importantíssimos para a função da droga, existe uma série
de substâncias que não apresentam atividade farmacodinâmica como os princípios ativos, mas
que, frequentemente, apresentam importância farmacêutica. Estas substâncias químicas são
importantes algumas vezes na caracterização química da droga. O ácido mecônico, por exemplo,
existente no pão de ópio é importante pela cloração vermelho-vinhosa que ele forma na presença
da solução de cloreto férrico, e esta reação é empregada na identificação de ópio, no entanto, não
é considerado um princípio ativo (LING e BOCHU, 2014; AYYANGAR e BHIDE, 1988; KAMAT,
JOGLEKAR, 1975).
Por outro lado, estas substâncias que não são designadas de princípios ativos podem agir ocasionando
incompatibilidades medicamentosas que dificultam a obtenção de boas formas farmacêuticas.
Genericamente, estas substâncias são denominadas de princípios inativos.
50
FARMACOGNOSIA │ UNIDADE II
Das principais plantas tóxicas existentes, cada uma apresenta um princípio ativo, podendo ser igual
ou diferente, no entanto, o princípio ativo que mais prevalece nas plantas é o oxalato de cálcio e
depois derivados de diferentes glicosídeos, como podemos observar abaixo:
Desse modo, o princípio ativo de algumas plantas pode ser formado a partir de enzimas, como no
caso da enzima que hidrolisa os glicosídeos, estas agem sobre a Salina, Amigdalina, Sinigrina e
glicosídeo cardíaco. Outras enzimas atuam sobre ligações peptídicas, como as enzimas animais,
Pepsina, Renina, Tripsina, Trombina e plasmina e as enzimas vegetais, Papaína (Carica papaya)
e a Ficina (da espécie do Figo). Existem enzimas que atuam sobre o amido linear que são as
Asparaginases (presente no alcaçuz e em demais plantas) e a Urease. Os amidos cíclicos são atuantes
na Penicilinase (ITF, 2008).
51
UNIDADE II │ FARMACOGNOSIA
Isopentanil difosfato isomerase (IPP) e a Chalcona isomerase são enzimas importantíssimas que
levam a formação de metabólitos medicinais, como os Terpenóides (HAN et al., 2014; ZHOU et al.,
2013).
Os glicosídeos são metabólitos muito conhecidos de diversas plantas, os açúcares achados dentro
dos glicosídeos podem ser monossacarídeos, com a glicose, ramnose e fucose e mais raramente, o
deoxiaçúcar, assim como a cimarose achada nos glicosídeos cardíacos. Mais de uma molécula de
açúcar pode se ligar ao aglicona.
Nem todos os compostos químicos elaborados pelas plantas são igualmente interessantes para os
farmacognosistas. Até recentemente, os principais princípios ativos de plantas eram os alcaloides
ou glicosídeos específicos que apresentavam propriedades farmacológicas relevantes. Estes, por
sua vez, apresentavam-se nas principais drogas de plantas do sistema alopático de medicina. Hoje
muitos outros constituintes de plantas, particularmente são associados na fitoterapia, apresentando
suas propriedades medicinais, a qual é manifestada mais sutilmente e por vias menos agressivas do
que obviamente plantas venenosas.
Outros grupos como carboidratos, gorduras, proteínas que são de importância alimentar, e outros,
bem como amido e gomas são usadas pela farmácia, no entanto, nem sempre apresentam sua
ação farmacológica. Desse modo, substâncias como oxalato de cálcio, sílica, liginina e métodos
colorímetros, como corantes, podem ajudar na identificação de drogas e na detecção de adulteração.
52
CAPÍTULO 5
Farmacologia e fitoquímica de
fitoterápicos que atuam no sistema
nervoso central, sistema cardiovascular,
sistema respiratório, sistema digestório
e trato genito-urinário
Um esquema válido para estudos de plantas e seus produtos medicinais são suas a ações
farmacológicas. Este esquema pode ser explicado incluindo numerosas plantas na qual, embora
provoquem uma resposta farmacológica, não são usadas como drogas, por diversos motivos. Isso
talvez, por que centenas de plantas contêm metabólitos secundários, como alcaloides e glicosídeos.
Alguns dos principais grupamentos farmacológicos envolvidos nas drogas agem sobre o sistema
nervoso, cardíaco, pulmão, trato-gastrointestinal, rins, fígado, órgãos reprodutores, pele, mucosa e
sistema sanguíneo.
Outras drogas também pode ter ação em hormônios, vitaminas e drogas quimioterápicas para o
tratamento de infecções e doenças malignas.
No entanto, algumas plantas como, por exemplo, Papaver, ipecacuanha e alcaçuz, contêm diversos
compostos que diferem nas suas propriedades farmacológicas. Dessa forma, plantas usadas no
estudo de drogas alopáticas, vista na medicina tradicional pode vir a acarretar problemas, uma vez
que, numerosas plantas são capazes de ser empregadas em ações farmacológicas.
Outras drogas agem diretamente no SNA, o que acaba sendo mais conveniente para a sua classificação,
uma vez que órgãos são envolvidos, assim, produzem vasoconstrição ou vasodilatação, muitas vezes
envolvendo o sistema circulatório e respiratório (GILMAM, HARDMAM, LIMBRIG, 2003).
Basicamente, o SNC compreende o cérebro, cerebelo, medula oblonga e medula espinhal. Ele
coordena atividades voluntárias do corpo e apresenta numerosas interações dentro do seu sistema,
juntamente com interações ao sistema autônomo. Drogas envolvidas com o SNC podem ser
amplamente classificadas de acordo com a sua ação estimulatória ou depressiva e algumas subdivisões
em relação a ações específicas como atividades anticonvulsivantes e psicofarmacológicas. Alguns
dos medicamentos naturais mais estudados estão no grupo dos narcóticos (opióides), analgésicos,
53
UNIDADE II │ FARMACOGNOSIA
outras drogas como alucinógenas apresentam importante implicação social, um dos motivos
principais é por afetar a atividade mental. As principais drogas alucinógenas são: ácido lisérgico
dietilamida (LSD) que são preparados pela síntese parcial dos alcaloides a partir do centeio ou
cultura artificial, Mescalina são obtidas de cactus peiote e Cannabis que são componentes ativos
contidos na resina de Cannabis sativa (GILMAM, HARDMAM, LIMBRIG, 2003).
Já as bases Purinas como cafeína, teofilina e teobromina, estimulam a atividade mental, geralmente
estão presentes em bebidas como, café, chá, mate, cacau e cola. A cocaína é uma das mais recentes
drogas que estimula o cérebro. É encontrada nas folhas Erythroxylum coca, altamente viciante.
Diversas outras drogas atuam no cérebro, manifestando diversas reações, como por exemplo,
Ginkgo biloba, melhora temporariamente a memória, Ginseng, melhora parcialmente a
concentração mental no envelhecimento, Galantamina, ajuda no tratamento da doença Alzheimer,
Hipérico, alivia depressões leves e moderadas. Sálvia, usado para perda de memória. Reserpina,
usado em tratamentos psiquiátricos, obtida da Rauwolfia spp., ela deprime a atividade mental
e provoca sedação. Ioimbina apresenta ação similar da Reserpina, foi achada em várias espécies
de Apocymaceae, apresenta reações antiadrenalina que repercuti sobre o músculo cardíaco, não
é usada na clínica. Valeriana, Passiflora, é usada como sedativo e hipinótico, tem a capacidade de
melhorar a qualidade do sono, por ajudar na insônia (EBUEHI e ALESHINLOYE, 2010; SHIBUYA
e SATO, 1985; CHARVERON et al., 1984; TREASE e EVANS, 2000).
Os depressores centrais de funções motoras são: alcaloides tropanos, exemplo: atropina, hioscina, e
outros. São drogas efetivas no aliviamento dos sintomas da doença de Parkinson.
Drogas analgésicas como morfina, são efetivas para o alívio de dores severas. Além disso, apresenta
ação depressora sobra à tosse e centros respiratórios, lembrando que ele é o principal alcaloide
do ópio. Codeína, apesar de ser menos ativa do que a morfina, a codeína é uma droga muito mais
segura para o alívio de dores suaves e para o uso de supressor de tosse.
O SNA controla o tecido muscular liso e as glândulas exôcrinas do corpo. É constituído por neurônios
que se encontram na medula e no tronco encefálico, e através de gânglios periférico coordenam a
atividade da musculatura lisa e glândulas exócrinas. O SNA é dividido em sistema nervoso simpático
(toracolombar ou adrenérgico), divisão na qual surge de uma ragião lombar e torácica e o sistema
nervoso parassimpático (craniossacral ou colinégico), a divisão ocorre da região cerebral e sacral.
No geral o aumento da atividade do sistema simpático gera a resposta imediata do corpo (luta e
fuga), enquanto os estímulos do sistema vagal ou parassimpático produzem efeitos mais associados
54
FARMACOGNOSIA │ UNIDADE II
com aqueles que ocorrem durante o sono e com a conservação de energia. Assim duas importantes
substâncias de neurotransmissores do SNA são aceticlcolina e noradrenalina, sendo que as fibras
que secretam a noradrenalina ativam os receptores adrenérgicos e as que secretam a acetilcolina
ativam os receptores colinérgicos. Os derivados dessas duas substâncias que podem ser agonistas
ou antagonistas produzem maiores respostas fisiológicas (GILMAM, HARDMAM, LIMBRIG, 2003;
GOLAN et al., 2009).
As drogas que atuam no sistema nervoso autônomo são: Pilocarpina, advinda de folhas de Pilocarpus
microphyllus, Aerocolina, advinda de sementes de Areca catechu, Muscarina, proveniente de
Amanita spp. e outros fungos e Fisostigmina, um inibidor de colinesterase, advinda de sementes
de Physostigma venenosum. Essas drogas são conhecidas por serem agonistas de acetilcolina.
Já as drogas antagonistas de acetilcolina são: Tropano éster de alcaloide, por exemplo, hioscina
e atropina, estas drogas estão envolvidas geralmente com tratamentos gastro-intestinais, genito-
urinário, bronquial, efeitos oftálmicos além de ter atividade sobre o sistema nervoso central,
também (TREASE e EVANS, 2000).
Agente inibidor neuromuscular e de gânglios, como por exemplo, Tubocarina, originada de folhas e
caules de Rhondodredon tomentosum (RAAL, ORAV e GRETCHUSHNIKOVA, 2014).
Os olhos são afetados por algumas drogas, como por exemplo, Atropina, Hioscina, Pilocarpina e
Fisostigmina (CARLIER et al., 2014).
Dessa forma, o hábito das pessoas, em relação a ser mais saudável, vem mudando conforme o
tempo, dando maior importância a exercícios físicos, fatores alimentares, suplementação na dieta e
produtos fitoterápicos, estes vem substituindo os medicamentos farmacêuticos tradicionais.
Muitos fatores afetam a regulação cardíaca, do ponto de vista terapêutico, já que muitas drogas
conhecidas no mercado possuem atividade cardiovascular, mas falham sobre a sua ação na
musculatura cardíaca. Assim, estas drogas possuem ação, antiarritmia, anti-hipertensivo, anti-
hiperlipidêmico, vasoconstritor, vasodilatador, anticoagulante e atividade de ação plaquetária
(TREASE e EVANS, 2000).
55
UNIDADE II │ FARMACOGNOSIA
Os fitoterápicos apresentam grande interesse já que alguns compostos presentes em plantas podem
levar a uma nova droga semi-sintéticos. GHISALBERTI, PENNACHIO e ALEXANDER (1998)
listaram aproximadamente 447 espécies de 109 famílias de plantas que apresentaram atividade
cardiovascular, junto com uma compilação de mais de 700 metabólitos secundários, como atividade
cardíaca também.
Glicosídeos cardioativos são considerados um grupo de plantas que exercem efeitos sobre o músculo
cardíaco a partir da sua interação com açúcares, na região aglicona, tornando os compostos mais
solúveis que aumentam o poder de fixação dos glicosídeos ao músculo cardíaco. Estão presentes
nesses grupos as Digitalis, Strophanthus, Convallaria, Nerium, Thevetia e Erysimum. São
também usados como drogas antiarritimias (NORN e KRUSE, 2004). O controle da pressão é um
importante elemento nas desordens metabólicas, desse modo o principal fitoterápico hipotensivo
é a Rauwolfia, que é o principal alcaloide da Reserpina, junto como o extrato Veratrum que foi
reconhecido pela medicina alopática, por volta de 1950. No entanto, outras plantas também
podem auxiliar no controle hipotensivo, como Crataegus, Yarrow, Tilia e Fagopyrum. Agora,
para o controle hipertensivo, são usadas na medicina Ayurvedic: Pipper betle, Jasminum sabac,
Cardospermum halicacabum e Tribilus terrestris o uso do controle hipertensivo é associado a uma
alta inibição da enzima conversora de angiotensinogênio (ECA), sugerindo que este é um possível
mecanismo de ação da droga (ZHANG et al., 2010).
Indivíduos que possuem problemas cardíacos podem vir a apresentar agregação plaquetária
causada pelo PAF (Fator de ativação plaquetária). Fisiologicamente atua a prostaciclina originada
da prostaglandia, na íntima arterial, a qual apresenta propriedades de desagregação plaquetária,
no entanto, existem situações em que o sistema fisiológico não consegue compensar o dano, a
partir daí intervimos com medicamentos, como por exemplo, a aspirina que é um medicamento
já bem estabelecido. Contudo, as plantas também apresentam componentes que são capazes de
antagonizarem a ativação do PAF, sendo que um dos primeiros produtos naturais identificado foi
extraído da Piper futokadsura,usada na medicina tradicional chinesa para tratamentos alérgicos.
Outras plantas também foram relatadas como antagonistas de PAF assim incluem as espécies
Forsythia, Arctium, Centipeda, Tussilago, Pyrola, Populus e Peucedanum. Ginkgo biloba tem sido
comercializado na Europa para tratamento de desordens cardiovasculares. Assim, como óleos de
peixe, que tem sido suplementado na dieta alimentar, apresentando uma diminuição na agregação
plaquetária nas pessoas que fazem o uso deste suplemento devido a alta concentração de ácido
eicosapentaenoico que favorece a biossíntese de tromboxano A3, o que é um fraco estimulador de
agregação plaquetária, em comparação ao tromboxano A2 (LIU et al., 2014; GOLAN et al., 2009;
TREASE e EVANS, 2000).
Os anticoagulantes orais são geralmente aqueles que constituem o 4-hidroxi-cumarinas, estes atuam
antagonizando o efeito da vitamina K, uma das drogas mais usadas que apresenta este constituinte
é a Warfarin sodium. As plantas que apresentam estes constituintes são Melilotus officinalis,
Galium aparine, Lavandula officinalis e Aster yomena (Kitam). Honda. Outros anticoagulantes
são a heparina, que dada por injeção e a hirudina, produzida por uma sanguessuga, sendo um
polipeptídeo de 65 aminoácidos que pode ser obtida por modificação genética da Saccharomyces
(CHOI et al., 2014).
56
FARMACOGNOSIA │ UNIDADE II
A dislipidemia apresenta associação positiva com a doença cardiovascular. Assim, tratamento para
hiperlipidemia na maioria das vezes vem acompanhado com orientação nutricional. Terapias
medicamentosas só são indicadas para condições intratáveis. Produtos naturais de ação benéfica
incluem ácido nicotínico e óleos de peixe que contêm alta quantidade de ômega -3. Diversos estudos
têm demonstrado que o alho (Allium sativum) também é benéfico para tratamento cardiovascular,
principalmente por diminuir LDL-colesterol e aumentar a HDL-colesterol (AHMAD ALOBAIDI, 2014).
Dentre os patógenos que infectam o aparelho respiratório com maior frequência, encontram-se
as bactérias Haemophilus influenzae (sensível às penincilinas associadas aos inibidores de beta-
lactamases) e Staphylococcus aureus (sensível a cefotaxima e ceftriaxona) e os agentes virais dos
grupos influenza, parainfluenza e adenovírus, contra os quais a terapia profilática ainda tem melhor
efeito (SBPT, 2001).
Para o tratamento das afecções das vias respiratórias são usados fármacos anti-inflamatórios,
analgésicos e antitérmicos (SIMÕES et al., 1999; MATOS, 2000), É, também, bastante comum
o uso de plantas na forma de chás e xaropes, de forma isolada ou, associadas aos medicamentos
tradicionais. Plantas como a Eucalyptus globulus, Mentha piperita e Nasturtium officinale, entre
outras, são frequentemente usadas pela população nesses casos (PIO CORRÊA, 1984; SIMÕES et
al., 1999; MATOS, 2000)
Dentre as opções terapêuticas das quais dispomos no combate dessas patologias ainda estão a codeína
(analgésico narcótico que inibe a tosse a nível central, que pode causar sedação, náuseas, vômitos e
constipação) e o dextrometorfano (também de ação central, mas com menor número de reações
adversas). Os anti-histamínicos são úteis nas faces iniciais do resfriado comum. Também são usados
fármacos broncodilatadores, como os agonistas beta-adrenergicos, as metilxantinas e os glicocorticoides,
indicados nos casos de asma e doenças pulmonares obstrutiva crônicas, entretato, esses medicamentos
apresentam uma gama de reações adversas (GILMAN HARDMAM, LIMBRIG, 2003).
57
UNIDADE II │ FARMACOGNOSIA
A tosse é um reflexo fisiológico que tem a finalidade de proteger as vias aéreas contra a inalação
de partículas, eliminando-as juntamente com o muco produzido na luz bronquial. Por vezes, há
intercorrência inflamatória, o que faz com que se agregue a essa mistura, debris teciduais e exsudatos
(COCKCROFT, 1998). A caracterização clínica da tosse é fundamental para o diagnóstico de sua
causa e seu tratamento (WEINBERG, 1996).
Dado seu caráter defensivo, não deve ser suprimida indiscriminadamente. Prioriza-se a supressão
da tosse nos casos em que a mesma apresenta-se em expectoração, emenagoga (provocando
vômitos) ou tão frequentes que irrita o paciente, ou impede seu sono. Nestas situações, o médico
deve prescrever um medicamento que reduza a ocorrência e intensidade da tosse (WYNGAADEN e
SMITH, 1998).
Além dos citados acima, podemos descrever outras drogas provenientes de plantas usadas para o
tratamento do sistema respiratório, como Benjoim, óleo de eucalipto, óleo de pimenta com hortelã e
mentol, timol, bálsamo de Tolu, terebentina, que são inalações aromáticas, para bronco-dilatadores,
expectorantes e descongestionantes nasais são indicados, efedrina, xantinas (teofilina), efedra,
ipecacuanha, raiz de alcaçuz, raiz de angélica, violeta doce entre outros. Para antiexpectorantes são
usados atropina e codeína. Para depressores de tosse, morfina, codeína, noscapina e cereja selvagem.
Dumulcente (protetor de mucosa) marshmallow, verbascum, mel, musgo da Islândia e plantago.
As drogas eméticas constituem ipecacuanha, sobre administração oral irrita a membrana da mucosa,
a picrotoxina estimula o centro do vômito por meio de um efeito geral no SNC. Os anti-eméticos, no
caso o gengibre tem sido cientificamente aprovado por prevenir os sintomas de enjoos. Os cannabis
proporcionam alívio em pacientes que fazem quimioterapia (GILMAM, HARDMAM, LIMBRIG,
2003).
Carminativos são substâncias aromáticas com mecanismo de ação desconhecido, que ajudam no
reflexo da erupção. Óleos de Dill são usados para melhorar a flatulência, especialmente em bebês.
Outras plantas ou óleos são usados como carminativos, incluindo alcaravia, erva-doce, hortelã-
58
FARMACOGNOSIA │ UNIDADE II
pimenta, noz-moscada, gengibre, cravo, canela, camomila, tomilho, dente de alho, cálamo e outros
(TREASE e EVANS, 2000).
Derivados do ácido glicirrízico, extraído da raiz de alcaçuz, promove melhora em úlceras pépticas.
Outras agentes antiulceras incluem o ácido algínico, marshmallow e confrei (TREASE e EVANS,
2000).
Demulcentes acalmam e protege o trato alimentar, podem ser usados para tratar úlceras, também.
Musgo da Islândia, lírio e casca de olmo podem ser incluídos aqui.
Laxativos ou purgativos, os purgativos podem ser divididos conforme sua ação. Agar, pisílio e
ispaghula, os coloides hidrofílicos destes compostos funcionam como laxantes produzindo bolo fecal.
O farelo uma fibra vegetal não digestiva, tem como função absorver água e promover a formação
do bolo fecal. Sena contem derivados de antraquinona, o qual são hidrolisados no intestino para
estimular o plexo Auerbach na parede intestinal. Cascara, ruibarbo e aloés são similares ao sena. O
óleo de rícino contem glicerídeos que hidrolisam o ácido riconoleico, irritando o intestino. Resina
de podófilo, resina de jalapa e colocíntidas são purgativos drásticos, usados em poucas quantidades,
já foram prescritos com beladona para reduzir a gripe TREASE e EVANS, 2000).
Óleo de amendoim, esculina, hamamelis, bálsamo do Peru são exemplos de constituintes de drogas
para o reto e cólon, incluem o uso de supositórios.
Morfina e codeína atuam por aumentar o tônus da musculatura lisa do intestino, reduzindo a
mobilidade, geralmente prescrito com caulim.
Antigamente, o fungo ergot era usado em partos, hoje em dia ele foi substituído pela ergometrina,
que foi isolada de alcaloides desse fungo ergot. A ergometrina tem ação estimulante direta sobre
a musculatura do útero e por isso reduz a incidência de hemorragia pós-parto. Ergotamina atua
similarmente, porém não é adequada para o uso obstétrico, uma vez que, tem ação vasoconstritora.
“Black haw” é um tônico uterino e sedativo usado para a prevenção de aborto espontâneo e para
dismenorreia (cólica menstrual) após o parto. Hidrastis são empregados para menorreia e outras
desordens menstruais (BORTOLONI e MARTIN, 2001; CALLIARI, 1998).
Para contraceptivos orais diversas plantas veem sendo estudadas para serem testadas na atividade
de anti-infertilidade tanto para as mulheres como para os homens.
59
UNIDADE II │ FARMACOGNOSIA
Para o tratamento de impotência masculina é usado a Papaverina, somente sob supervisão médica
e a ioimbina para disfunção erétil.
60
TOXICIDADE DE UNIDADE III
FITOTERÁPICOS
Terapias alternativas são práticas que visam à assistência a saúde do indivíduo, seja
na prevenção, tratamento ou cura, considerando-o como um todo e não por partes
isoladas, como é visto na prática ocidental. Deste modo, o objetivo da fitoterapia,
por exemplo, é diminuir o custo da assistência médica privada, e o custo dos
medicamentos alopáticos e também a precariedade dos serviços públicos prestados
(TROVO et al., 2003).
61
UNIDADE III │ TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS
“...todas as substâncias são venenos, não existe nenhuma que não seja. A dose
correta diferencia um remédio de um veneno”.
Paracelsus 1443-1541
62
CAPÍTULO 1
Conceitos gerais de toxicologia
Toxicologia é a ciência que estuda os efeitos nocivos decorrentes das interações de substâncias
químicas com o organismo, sob as condições específicas de exposição. Entre o organismo vivo e a
substância química pode-se apresentar o dano, a partir do rompimento da homeostase dentro do
organismo vivo. Assim, o índice terapêutico (IT), é definido como a relação entre a dose necessária
para produzir um efeito tóxico e a dose necesserária para obter a resposta terapêutica desejada.
Por outro lado, todo agente capaz de provocar o rompimento da homeostase no sistema biológico,
e alterar seriamente uma função específica ou levar à morte em certas condições de exposição,
pode ser chamado de agente tóxico, toxicante ou xenobiótico. Como por exemplo, nitritos, chumbo,
mercúrio e cianeto (HAYES, 2001).
O veneno é um termo popular utilizado para designar a substância química, que provoca a intoxicação
ou a morte com baixas doses. Estas substâncias podem ser encontradas em animais com o intuito de
provocar a autodefesa ou até mesmo a predação de uma presa.
Além disso, o veneno pode ser definido como um agente capaz de produzir uma resposta prejudicial
em um sistema biológico. Praticamente todas as substâncias químicas conhecidas têm o potencial de
produzir lesão ou morte caso estejam presentes em quantidades suficientes. É necessário perceber
que as medidas de letalidade aguda, como DL50 (Dose Letal que se pressupõe que irá causar a morte
de 50 % da população investigada) podem não refletir o espectro de toxicidade ou o perigo associado
à exposição a uma substância química. Alguns produtos químicos com baixa toxicidade aguda, por
exemplo, podem ter efeitos cancerígenos ou teratogêncios em doses que não produzem nenhuma
evidência de toxicidade aguda (HAYES, 2001).
As substâncias tóxicas são produzidas por sistemas biológicos como as plantas, animais, fungos ou
bactérias. Por exemplo: toxina butolínica, aflatoxinas e microcistinas que são toxinas produzidas por
cianobactérias. O toxicante pode ser um composto químico original ao qual o organismo é exposto,
um metabólito ou espécies reativas de oxigênio ou de nitrogênio (ROS, RNS) geradasa durante a
biotransformação do toxicante, ou uma molécula endógena.
A droga como vimos no capítulo 3, é a matéria – prima de origem mineral, animal ou vegetal que
contém um ou mais fármacos. É a partir da droga que extraímos o fármaco, e o fármaco por sua vez,
é toda a substância com estrutura química definida que, quando em contato ou introduzida em um
sistema biológico, modifica uma ou mais de suas funções (WATERS e FOSTEL, 2004).
Deste modo, o objetivo da toxicologia é obter o diagnóstico, observar se realmente a substância foi
tóxica, e se sim, qual melhor tratamento. Nestes aspectos quem atua é o médico.
A intoxicação refere-se à manifestação dos efeitos tóxicos, com consequentes alterações bioquímicas
no organismo. (As definições de toxicologia podem ser visualizadas no site: http://www.saude.
pr.gov.br/arquivos/File/zoonoses_intoxicacoes/Conceitos_Basicos_de_Toxicologia.pdf).
63
UNIDADE III │ TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS
Dessa forma, efeitos tóxicos crônicos podem ocorrer se a substância química se acumular no sistema
biológico, ou seja, se a taxa de absorção exceder a taxa de biotransformações e/ou excreção (Figura 6.).
64
TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS │ UNIDADE III
A linha A é um produto químico com eliminação muito lenta (por exemplo, meia-vida de 1 ano).
Em contrapartida, a linha B é um produto químico, com uma taxa de eliminação igual à frequência
de administração (por exemplo, um dia). Já a linha C, é a taxa de eliminação mais rápida do que
a frequência de administração (por exemplo, 5 h). Nunca atingindo a toxicidade. A área em roxo
é representativa da concentração do produto químico no local de destino, necessária para obter
uma resposta tóxica. Deste modo, quanto maior o tempo da substância na circulação, maior será a
probabilidade de toxicidade (WATERS e FOSTEL, 2004; CALABRESE e BLAIN, 2005).
As principais vias de administração são por ingestão, inalção, cutânea e parenterais diferentes da via
intestinal (Figura 7). Os agentes tóxicos produzem resposta de maior efeito quando administrados
diretamente na corrente sanguínea. Desta maneira, a ordem decrescente de eficácia para vias seria
inalação, intraperitoneal, subcutânea, intramuscular, intradermica, oral e dérmica. Além disso, a
via de administração pode influenciar a toxicidade dos agentes. Por exemplo, um agente que atua
no SNC e que e de maneira eficiente é detoxificado no fígado, seria menos tóxico se administrado
por via oral do que inalado, já que quase a totalidade da dose por via oral passa pelo fígado antes de
atingir a circulação sanguínea e, em seguida, o SNC (CALABRESE e BLAIN, 2005).
Figura 7. Rotas de absorção, distribuição e excreção de toxicantes no organismo a partir da via de administração
65
UNIDADE III │ TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS
Como vimos até o momento, a toxicologia trata dos efeitos deletérios dos agentes químicos e físicos
sobre todos os sistemas vivos. Todavia, a toxicologia trata primeiramente os efeitos adversos que
resultam da exposição dos seres humanos a drogas e outras substâncias químicas, assim como a
demonstração de segurança ou dos perigos associados a seu uso (GOLAN et al., 2009).
É preciso reconhecer que não existe nenhuma substância totalmente “específica”. Todos os fármacos
possuem efeitos colaterais ou adversos. Embora os efeitos colaterais possam ser neutros ou até
mesmo benéficos, eles são tipicamente indesejáveis. Os efeitos adversos podem variar quanto à
sua gravidade, incluindo desde um efeito prejudicial a um efeito passível de ameaçar a vida do
indivíduo. Em consequência desses efeitos, muitos pacientes demonstram relutância em tomar
fármacos de modo regular, e essa falta de aderência do paciente ao tratamento representa uma
importante limitação prática da farmacologia (GOLAN et al., 2009, BERTRAM, 2006).
A possibilidade de uma droga causar mais prejuízo do que benefício a determinado paciente
irá depender de muitos fatores, incluindo idade do indivíduo, constituição genética e condições
preexistentes, dose do fármaco administrado e se o paciente faz uso de outros fármacos em
associação. Por exemplo, indivíduos muito idosos ou crianças muito pequenas podem ser mais
susceptíveis aos efeitos tóxicos de uma droga, devido a diferenças dependentes da idade no perfil
de absorção e metabolismo da droga. Os fatores genéticos também podem alterar o modo pelo qual
uma pessoa metaboliza ou responde a determinada droga. Desta maneira, podem ocorrer também
respostas individuais, devido a diferenças genéticas no metabolismo da droga ou na atividade do
receptor, bem como a diferenças nas atividades dos mecanismos de reparo. Pode haver maior
tendência às reações adversas da droga, pacientes com condições preexistentes, como disfunção
hepática ou renal, função imune deprimida ou gravidez. A determinação de toxicidade de uma
66
TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS │ UNIDADE III
droga nem sempre pode ser direta (GOLAN et al., 2009; MONTEIRO et al., 2001). Dessa forma,
muitos efeitos adversos podem estar associados ao uso de qualquer droga. Assim é útil conceituar
os mecanismos de toxicidade das substâncias, como por exemplo:
»» Efeitos adversos sobre o alvo, que é resultado da ligação da droga a seu receptor,
porém em uma concentração inapropriada, com cinética subótima ou no tecido
incorreto;
»» Efeitos colaterais indesejados, que são causados pela ligação da droga a um alvo ou
receptores não pretendidos;
»» Respostas idiossincrásticas.
Praticamente todas as drogas são metabolizadas pelo fígado e/ou por outros tecidos. Algumas vezes
o metabolismo produz um metabólito ativo que pode ter um efeito adverso.
67
UNIDADE III │ TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS
são frequentemente utilizados para calcular o risco de carcinogênese (ECOBICHON, 1992), podem
ser também utilizados para avaliar o risco envolvido em outras formas de toxicidade.
A via de entrada das substâncias no organismo difere situações de exposição. Num ambiente
industrial a inalação constitui a principal via de entrada. A via transdérmica também é muito
importante, enquanto a ingestão oral represente uma via relativamente insignificante. Assim, as
medidas preventivas destinam-se, em grande parte, a eliminar a absorção por inalação ou por
contato tópico (BERTRAM, 2006). Desta maneira a toxicidade por contato pode ser evitada por
EPI´s (equipamentos de proteção individual) como luvas, botas, máscaras, óculos e outros.
68
CAPÍTULO 2
Mecanismos de ação da toxicidade
<http://www.cnpa.embrapa.br/produtos/algodao/publicacoes/trabalhos_cba5/336.pdf>
Patogênese, sinais clínicos e patologia das doenças causadas por plantas hepatotóxicas
em ruminantes e equinos no Brasil, Pesq. Vet. Bras. 28(1):1-14, janeiro 2008
<http://www.scielo.br/pdf/pvb/v28n1/a01v28n1.pdf>
Deste modo, a farmacocinética refere-se à relação entre a quantidade de uma substância química
que atua sobre o organismo e a concentração dele no plasma, relacionando os processos de absorção,
distribuição, armazenamento, biotransformação e excreção, em função do tempo (ARENA, 1979).
A biotransformação, tão importante para a excreção de substâncias, apresenta o seu lado perverso
como resultado da oxidação microssômica. Os metabólitos tóxicos podem formar ligações
covalentes e/ou não covalentes com moléculas-alvo. As interações não covalentes, entre elas,
a peroxidação lipídica, a produção de espécies tóxicas de oxigênio e as reações causadoras de
alteração na concentração de glutationa reduzida (GSH) e de grupos sufidrilas, podem resultar na
citotoxicidade. Já as interações covalentes de metabólitos reativos à proteína podem produzir um
imunógeno, que é a ligação ao DNA, podendo causar carcinogênese e teratogênese (MOREIRA et
al., 2002). Atualmente, as principais hipóteses para os mecanismos de ação de substâncias que
provocam câncer estão baseadas na indução de mutações em células somáticas. Praticamente,
todos os agentes mutagênicos químicos e físicos, capazes de provocar câncer e induzir danos no
DNA celular, resultam na geração de mutações de diferentes tipos, como, por exemplo, metilação,
glicosilação entre outros (GOLAN et al., 2009).
69
UNIDADE III │ TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS
quantidades, o que contrasta diretamente com a necessidade de um curto tempo de fermentação, uma
vez que o substrato monoterpênico (limoneno) possui alta instabilidade e volatidade (SPEELMANS,
BIIJLSMA, EGGINK, 1998). Além disso, alguns autores relatam que o limoneno diminui a
velocidade do processo de fosforilação oxidativa nas células (CHATTERJEE e BHATTACHARYYA,
2001). Log P é utilizado como medida estabelecida da toxicidade de microrganismos a solventes
orgânicos imiscíveis em água. As toxicidades mais fortes foram observadas em valores de log P
entre 1 e 5. Compostos como o limoneno (com log P = 4,83) aumentam a fluidez das membranas
dos fungos filamentosos, o que leva a permeabilidade não específica, perda de integridade celular,
decréscimo de matéria seca e inativação da energia metabólica devido à dissipação da força próton
motiva (gradiente eletroquímico de H+ através da membrana)(ONKEN e BERGER, 1999).
Durante a fase de distribuição, os toxicantes são removidos do sistema circulatório para os seus alvos
ou também chamados, sítios. Estes podem ser sítios de ação tóxicos que a partir da biotransformação
origina o toxicante.
Os toxicantes podem ser reabsorvidos pelas células tubulares renais, aumentando sua residência no
sistema biológico e, deste modo, a toxicidade no sistema.
Toxicantes liberados para o sistema digestório pela excreção biliar, gástrica e intestinal e secreção
por glândulas salivares e exócrinas pancreáticas podem ser reabsorvidas por difusão pela mucosa
intestinal. A reabsorção de compostos excretores na bile é possível somente se eles forem lipofílicos
ou se forem convertidos para as formas lipossolúveis no lúmen intestinal (GOLAN et al., 2009).
A ingestão de vegetais é uma das 10 principais causas de intoxicação em todo o mundo. Felizmente,
a intoxicação por vegetais é rara, no entanto, quando acontece a toxicidade grave ou o óbito devido
às plantas tóxicas é por causa do abuso intencional, uso inadequado ou até por tentativa de suicídio.
70
TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS │ UNIDADE III
Os vegetas podem ser classificados de acordo com a sua toxicidade potencial. Por exemplo;
»» Vegetais do grupo IIa – contêm critais insolúveis de oxalato de cálcio que podem
causar dor forte e edema das membranas mucosas. Geralemente as plantas
domésticas encontram-se neste grupo;
»» Vegetais grupo IIb – contêm sais solúveis de oxalato (sódio ou potássio) que podem
gerar hipocalemia aguda, insufuciência renal e lesões em outros órgãos secundários
à precipitação dos cristais de oxalato de cálcio em diversos órgãos. A irritação de
mucosa é rara, a qual posibilitaa ingestão de quantidades suficientes para causar
toxicidade sistêmica. Também pode ocorrer gastroenterite.
A amêndoa amarga produz uma substância tóxica, denominada amigdalina, esta quando hidrolisada
produz glicose, benzaldeído e ácido hidrociânico. A produção de cianureto define glicosídeos
cianogênicos. A liberação enzimática de cianureto ocorre na presença da enzima glucoronidade
beta que é encontrada nas sementes e no intestino humano. Quando o cianureto é removido, o óleo
resultante é chamado de óleo de amêndoa amarga que é basicamente composto de benzaldeído.
Este óleo é tóxico quando consumido em grandes quantidades (ITF, 2008).
71
CAPÍTULO 3
Contaminação e principais plantas
tóxicas
< h t t p : / / w w w. s c i e l o . b r / s c i e l o . p h p ? s c r i p t = s c i _ a r t t e x t & p i d = S 0 1 0 3 -
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As plantas tóxicas são consideradas todos os vegetais que, em contato com o organismo do homem
ou de animais, ocasionam danos que se refletem na saúde e na vitalidade desses seres. Deste modo,
todo vegetal é potencialmente tóxico.
O princípio tóxico consiste em uma substância ou um conjunto delas, quimicamente bem definido,
de mesma ou diferente natureza, capaz de causar intoxicação, quando em contato com o organismo.
Deste modo, os fatores que determinam ou influenciam a toxicidade das plantas, podem ser diversos
como, por exemplo:
Figura 8. Principais fatores que podem influenciar o acúmulo de metabólitos secundários em plantas, tornando-os
potencialmente tóxicos
72
TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS │ UNIDADE III
»» Por condições da própria planta que pode apresentar uma parte tóxica. Em algumas
plantas, há maior concentração do princípio tóxico em uma ou em mais partes da
planta, por exemplo, nas sementes de Mamona (Ricinus communis).
»» Por variedades de plantas, por exemplo, dentro de uma mesma espécie podem
existir variações quanto à concentração de princípios tóxicos, contidos numa planta.
»» Pela solubilidade do princípio ativo, a intoxicação pode ser causada pela ingestão de
água, por exemplo, Policourea marcgravii (erva de rato) - ácido monofluoracético.
»» Podem estar relacionadas às próprias pessoas, com relação a idade, dose, ou seja,
quanto maior a dose maior a probabilidade das ocorrências de intoxicações.
»» Pela via de administração, ou seja, muitas plantas de uso externo são tóxicas quando
administradas por via oral, por exemplo, Confrei (Synphytum officinale L.).
Assim, os fatores que determinam a toxicidade das plantas também podem interferir quanto a ação
abortiva dela, por exemplo, muitas plantas que são destacadas como medicinais se submetidas
a uma destes fatores podem ser consideradas abortivas ou podem causar mal ao feto, como por
exemplo, as plantas Confrei (Synphytum officinale L.), Mussambê (Cleome heptaphilla) e Capim
Santo (Cymbopogon citratus (D.C.) Stapf) (SIMÕES et al., 2010).
Além disso, quanto maior o tempo de uso de uma droga potencialmente tóxica, mais propenso está
o usuário a ter problemas tóxicos.
Digestivos como, náuseas, vômitos, cólicas abdominais e diarréia. Os principais responsáveis por
estes sintomas são:
»» Resinas: mistura de álcoois, ácidos e fenóis têm efeito irritante sobre o trato
gastrintestinal. Por exemplo, D. racemosa Grisele (Imbira) provoca distúrbios
diarréicos graves.
73
UNIDADE III │ TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS
Também pode trazer distúrbios, cutâneo de mucosas, como traumas mecânicos, por exemplo, nas
Stipa SP que apresentam frutos espiculados o qual perfuram a pele, causando irritação química
primária ou pela seiva leitosa do Avelós, da Coroa de Cristo entre outras (SIMÕES et al., 2010).
As sensibilizações alérgicas podem vir do ipê roxo e da aroeira do sertão. A fotossensibilização pode
vir de plantas ricas em furocumarinas como a Arruda e o Hipérico (SIMÕES et al., 2010).
Os distúrbios nas mucosas, como erosões, úlceras hemorrágicas, edema podem ser causados por
Dieffenbachia picta Schott (comigo-ninguém-pode) (SIMÕES et al., 2010).
As alergias respiratórias, como rinite alérgica, asma alérgica, podem ocasionar a partir da Ricinus
comunis (Mamona). E as alucinações pelas plantas, Jurema preta, angico, saia branca, coca entre
outras (ITF, 2008).
Deste modo, existem regras básicas para a prevenção no contato com as plantas, como por exxemplo:
»» Não comer plantas selvagens, inclusive cogumelos, a não ser que sejam bem
identificadas.
74
TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS │ UNIDADE III
»» Ensinar as crianças, o mais cedo possível, a não pôr na boca plantas ou suas partes,
alertando-as sobre os perigos em potencial das plantas tóxicas.
»» Não fazer nem tomar remédios caseiros com planta, sem orientação médica.
»» Lembrar que não existem testes ou regras práticas seguras para distinguir plantas
comestíveis das venenosas.
»» Evitar fumaça de plantas que estão sendo queimadas a não ser quando sejam bem
identificadas.
Os princípios gerais de tratamento das intoxicações agudas por plantas são, diminuição da exposição
do organismo ao tóxico, aumento da eliminação do tóxico já absorvido, administração de antídotos
e antagonistas e tratamento geral e sintomático.
Assim, pode-se afirmar que uma planta pode ser ora medicinal ora tóxica, dependendo de fatores
relacionados com o indivíduo e com a planta (MÉNDEZ e RIET-CORREA, 2000).
Para VEIGA JÚNIOR et al. (2005), a angélica (Angelica archangelica), sucuúba (Himathantus
sucuuba), alecrim (Rosmarinus officinales), arnica (Arnica montana), cânfora (Cinnamomum
canphora), confrei (Symphytum officinale L.), eucalipto (Eucaliptus globulus) e sene (Cassia
angustifolia e Cassia acutifolia) são abortivos, pois podem estimular a motilidade uterina e provocar
aborto. A angélica é utilizada como anticoagulante e a cânfora tem largo uso como antisséptico
75
UNIDADE III │ TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS
Estudos realizados com ratas wistar prenhas mostraram que arruda (GONZALES et al., 2006),
barbatimão (VITRAL et al., 1987), cambará (MELLO et al., 2005), chapéu-de-couro (TOLEDO et
al., 2004b), falso boldo (ALMEIDA e LEMONICA, 2000), vidreira (CHAN e NG, 1995), Rhazya
stricta (RASHEED et al., 1997) e Senecio latifolius (STEENKAMP et al., 2001) apresentam efeitos
que podem ser prejudicial a gestante e o concepto. A arruda (Ruta graveolens) possui atividade
anti-helmíntica, anti-hemorrágica, abortiva, carminativa, antiespamódica e estimulante. Indicada
para reumatismo, hipertensão e verminoses. Contra indicada durante a gravidez, pois exerce fortes
contrações no útero (MATOS, 2000; SOUSA et al., 2004). Além disso, estudos comprovaram o efeito
embriotóxico e teratogênico a partir do extrato aquoso das folhas de Arruda (Ruta chalepensis)
no período de pós-implantação (GONZALES et al., 2006). Já o Barbatimão (Stryphnodendron
polyphyllum) apresenta atividade antioxidante e antimicrobiana (SOARES et al., 2002). As
sementes do barbatimão (Stryphnodendron polyphyllum) foram testadas em ratas grávidas na qual
encontrou-se diminuição do peso dos ovários e do peso e medidas dos corpos lúteos gravídicos das
ratas. A partir de então, acredita-se que o efeito do barbatimão ocorra através de alterações da zona
basal da placenta, acarretando a morte embrionária e atrofia do corpo lúteo (VITRAL et al., 1987).
Mello et al. (2005) afirmam que o cambará (Lantana camara) apresenta atividade embriotóxica.
É utilizado para fins antipiréticos, antimicrobianos e antimutagênicos (Seawrigth, 1965; Sharma
et al., 1988). A planta chapéu-de-couro (Echinodorus macrophyllus) é utilizada na medicina
popular para tratamentos de doenças renais, reumatismo, afecções cutâneas e problemas do fígado.
Em ensaios realizados com extratos aquosos de chapéu-de-couro em ratas, comprovou-se que
os fetos apresentaram hepatomegalia branda, pontos hemorrágicos pelo corpo, pele viscosa. Um
útero encontrava-se desprovido de fetos e preenchido com um líquido semelhante ao amniótico
comprovando seu efeito abortivo (TOLEDO et al., 2004b). O efeito abortivo do falso boldo (Coleus
barbatus) foi comprovado em estudo realizado no período de pré-implantação cujo efeito anti-
implantação e desenvolvimento retardado (ALMEIDA e LEMONICA, 2000). O falso boldo é
utilizado para o tratamento de problemas digestivos (FISCHMAN et al., 1991).
76
TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS │ UNIDADE III
A atividade anti-inflamatória é exercida tanto pela artemísia (Artemisia vulgaris) (TIGNO et al.,
2000) quanto pela espinheira santa (Maytenus ilicifolia) (SOUZA-FORMIGONI et al., 1991;
JORGE et al., 2004). Além disso, a artemísia pode apresentar efeito antihipertensivo (TIGNO et
al., 2000; TIGNO e GUMILA, 2000), digestivo, antiespasmódico, anti-helmíntico, reguladora da
menstruação e provocar aborto (NÁCUL et al., 2001). Entretanto, quando as doses ingeridas são
insuficientes para interromper a gestação, podem resultar em toxicidade para a gestante e o concepto
(CALLIARI, 1998) ou em alterações no desempenho reprodutiva materna (BORTOLINI e MARTIN,
2001). A espinheira santa (Maytenus ilicifolia) além de antiinflamtória, tem ação antiulcerogênica e
antinoniceptiva (SOUZA-FORMIGONI et al., 1991; JORGE et al., 2004). Extratos hidroalcoólicos de
espinheira santa mostraram-se abortivos por atuarem no período de pré-implantação dos embriões
no útero (MONTANARI e BELILACQUA, 2002).
A plantas utilizadas para fins digestivos são boldo (MONTEIRO et al., 2001), boldo do Chile
(NEWALL et al., 1996) e gengibre (Zingiber officinale). O extrato aquoso de folhas de boldo
(Vernonia condensata) é indicado para tratamento da desordem gastrintestinal, enxaqueca, diarréia
e além de possuir propriedades analgésicas. Possui baixa toxicidade e nenhuma evidência mostra
risco de teratogenicidade ou mutagenicidade, entretanto o único efeito tóxico era um leve retardo
de crescimento fetal ou embriotoxidade (MONTEIRO et al., 2001). O boldo do Chile (Peumus
boldus) é indicado para hepatites, dispepsias hiposecretoras, mal estar, afecções do fígado e da
vesícula, cálculo biliar, diarreia, digestão, febre, fraqueza orgânica, gota, insônia, má-flatulência,
previne icterícia, prisão de ventre, problemas diuréticos, reumatismo, ureia (NEWALL et al., 1996).
O Boldo do chile é teratogênico (MENGUE et al., 2001) e estudos têm demonstrado ação abortiva
e teratogênica (ALMEIDA et al., 2000). Além atuar com auxílio digestivo, o gengibre (Zingiber
officinale) é utilizado como estimulante, diurético e antiemético. Estudo realizado em ratos com
11 semanas de gestação obteve-se resultados terapêuticos que incluíam abortos, além disso,
encontraram associação entre exposição pré-natal e aumento da perda fetal (CONOVER, 2003).
Segundo NAVARRO (2000), o ipê roxo (Tabebuia sp.) e hortelã (Mentha piperita) possuem efeito
teratogênico. Foram encontrados ensaios-clínicos confirmando a atividade antineoplásica do Ipê
Roxo (MATOS, 2002). Já a hortelã é indicada para distúrbios gastrintestinais, vermífugo (giardíase
e amebíase), gases, analgésica, antisséptica, antiespasmódica, anti-inflamatória, tônica, problemas
respiratórios (VIEIRA, 1992). Quebra-pedra (Phyllanthus amarus) não pode ser utilizada durante
a gravidez, pois possui princípios ativos que atravessam a barreira placentária, podendo provocar
aborto, e essas substâncias também podem ser excretadas no leite materno (MATOS, 2000; SOUZA
et al., 2004). A quebra-pedra (Phyllanthus amarus) possui propriedades diurética, hipoglicemiante,
antiespasmódica, litolítica, colagoga (LONDRINA, 2006).
Muito comercializada para rinite e sinusite a bucha paulista ou cabacinha (Luffa operculata)
(MENGUE et al., 2001; SCHENKEL et al., 2003) possui substâncias denominadas cucurbitacinas
responsáveis pelas ações embriotóxicas e abortivas, podendo causar hemorragia grave ou até mesmo
a morte (MATOS, 2000; SOUSA et al., 2004). Ginseng (Pfaffia glomerata spreng) que é utilizado
para fins afrodisíacos, calmante, contra úlcera e hipoglicemica. Em ensaios realizados com esta
77
UNIDADE III │ TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS
planta, foi possível observar malformações externas viscerais e esqueléticas, provocando mudanças
estruturais que podem prejudicar o desenvolvimento dos fetos, observou-se também atraso no
desenvolvimento fetal em relação a fetos controle (TOLEDO et al., 2004a).
Chenopodium ambrosioides (Mastruz) apresenta toxicidade pode ser citados, náuseas, vômitos,
depressão do SNC, lesões hepáticas e renais, transtornos visuais e auditivos, convulsões, coma,
lesões no miocárdio e insuficiência cardiorrespiratória. A toxicidade pode manifestar-se, também,
de maneira cumulativa, por meio do uso de pequenas doses diárias. Por este motivo, recomenda-se
que, mesmo em pequenas doses, o uso diário deve ser repetido somente após seis meses (ROBINEAU,
1995). O óleo essencial é irritante à mucosa do trato gastrointestinal, rins e fígado (DE PASCUAL et
al., 1980).
Absinto (Artemisia absinthum L.) seu óleo essencial é tóxico. Abútua (Chondrodendron platyyphyllum
Myers), os efeitos de intoxicação desta planta incluem taquicardia, taquipnéia,hipotensão, arritimias
e morte. Acerola (Malpighia glabra L.), os extratos etanólicos em doses maiores que a terapêutica
apresentam toxicidade não específica, apesar de não ter nenhum, relato de morte por intoxicação.
Açafrão (Crocus sativus L.) A dose letal é 20g e a dose abortiva se encontra em 10 g. grandes doses
atuam como sedativo, porém há relatos de morte por açafrão sendo abortífero. A presença das
saponinas no rebento é tóxica a animais jovens. Após 5g desse composto já foi relatado, púrpura
severa, trombocitopenia, e sangramento severo. Agoniada (Plumeria lancifolia Muell. Arg.) as
resinas do gênero Plumeria são tóxicas em doses elevadas, causando grande irritação da mucosa
gastrointestinal, provocando diarreia, esofagite, gastrite e eventualmente sangramento digestivo.
Alecrim (Rosmarinus officinalis L.) a ingestão de grandes quantidades do óleo de alecrim por
induzir toxicidade, sendo caracterizada por irritação no estômago e intestino e por danos renais.
As cetonas monoterpénicas da planta são potentes convulsantes com propriedade epileptogénicas
conhecidas. Algodoeiro (Gossypium herbaceum L.), o gossipol causa hipo-potassemia, fadiga
crônica e oligoespermia com o uso prolongado, a dose tóxica é 500 vezes superior à dose terapêutica,
causando congestão pulmonar e hemorragia difusa (ITF, 2008).
78
TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS │ UNIDADE III
Inseticidas Botânicos
Os inseticidas derivados de fontes naturais incluem a nicotina, a rotenona e o piretro. A nicotina é
obtida das folhas secas de Nicotiana tabacum e Nicotiana rústica. É rapidamente absorvida pelas
superfícies mucosas, sendo que o alcaloide livre, mas não o sal, sobre rápida absorção pela pele.
A nicotina reage com o receptor de acetilcolina da membrana pós-sináptica (gânglios simpáticos
e parassimáticos, junção neuromuscular), resultando em despolarização da membrana. As doses
tóxicas causam estimulação que é rapidamente seguida de bloqueio de transmissão. O tratamento é
orientado para a manutenção dos sinais vitais e a supressão das convulsões.
O piretro consiste em seis ésteres conhecidos: a piretrina I, a piretrina II, a cinerina I, a cinerina II,
a jasmolina I e a jasmolina II. Os piretroides sintéticos são responsáveis por cerca de 30% do uso
mundial de inseticidas (ECOBICHON, 1996). O piretro pode ser absorvido após inalação ou ingestão.
A absorção pela pele não é significativa. Os ésteres sofrem extensa biotransformação. Os inseticidas
de piretro não são altamente tóxicos para os mamíferos. Quando absorvidos em quantidades
suficientes, o SNC constitui o principal local de sua ação tóxica. Podem ocorrer excitação, convulsões
e paralisia tetânica através de um mecanismo que envolve os canais de sódio, semelhante ao do
DDT. O tratamento consiste no uso de anticonvulsivantes. A lesão relatada com mais frequência
nos seres humanos decorre das propriedades alergênicas da substância, especialmente dermatite
de contato. Foram observadas parestesias cutâneas em trabalhadores que utilizam piretroides
sintéticos em spray. A exposição ocupacional grave a piretroides sintéticos na China resultou em
efeitos pronunciados sobre o SNC, incluindo convulsões (ECOBICHON, 1996).
Tinhorão
Família: Araceae.
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UNIDADE III │ TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS
Sintomas: a ingestão e o contato podem causar sensação de queimação, edema (inchaço) de lábios,
boca e língua, náuseas, vômitos, diarreia, salivação abundante, dificuldade de engolir e asfixia; o
contato com os olhos pode provocar irritação e lesão da córnea.
Comigo-ninguém-pode
Família: Araceae.
Sintomas: a ingestão e o contato podem causar sensação de queimação, edema (inchaço) de lábios,
boca e língua, náuseas, vômitos, diarréia, salivação abundante, dificuldade de engolir e asfixia; o
contato com os olhos pode provocar irritação e lesão da córnea.
Taioba-brava
Família: Araceae.
Sintomas: a ingestão e o contato podem causar sensação de queimação, edema (inchaço) de lábios,
boca e língua, náuseas, vômitos, diarréia, salivação abundante, dificuldade de engolir e asfixia; o
contato com os olhos pode provocar irritação e lesão da córnea.
Copo-de-leite
Família: Araceae.
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TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS │ UNIDADE III
Sintomas: a ingestão e o contato podem causar sensação de queimação, edema (inchaço) de lábios,
boca e língua, náuseas, vômitos, diarreia, salivação abundante, dificuldade de engolir e asfixia; o
contato com os olhos pode provocar irritação e lesão da córnea.
Saia-branca
Família: Solanaceae.
Sintomas: a ingestão pode provocar boca seca, pele seca, taquicardia, dilatação das pupilas, rubor
da face, estado de agitação, alucinação, hipertermia; nos casos mais graves pode levar a morte.
Aroeira
Família: Anacardiaceae.
Sintomas: o contato ou, possivelmente, a proximidade provoca reação dérmica local (bolhas,
vermelhidão e coceira), que persiste por vários dias; a ingestão pode provocar manifestações
gastrointestinais.
Bico-de-papagaio
Família: Euphorbiaceae.
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UNIDADE III │ TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS
Sintomas: a seiva leitosa causa lesão na pele e mucosas, edema (inchaço) de lábios, boca e língua,
dor em queimação e coceira; o contato com os olhos provoca irritação, lacrimejamento, edema das
pálpebras e dificuldade de visão;
Coroa-de-cristo
Família: Euphorbiaceae.
Sintomas: a seiva leitosa causa lesão na pele e mucosas, edema (inchaço) de lábios, boca e língua,
dor em queimação e coceira; o contato com os olhos provoca irritação, lacrimejamento, edema das
pálpebras e dificuldade de visão; a ingestão pode causar náuseas, vômitos e diarreia.
Avelós
Família: Euphorbiaceae.
Sintomas: a seiva leitosa causa lesão na pele e mucosas, edema (inchaço) de lábios,boca e língua,
dor em queimação e coceira; o contato com os olhos provoca irritação, lacrimejamento, edema das
pálpebras e dificuldade de visão; a ingestão pode causar náuseas, vômitos e diarreia.
Urtiga
Família: Urticaceae.
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TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS │ UNIDADE III
Sintomas: o contato causa dor imediata devido ao efeito irritativo, com inflamação, vermelhidão
cutânea, bolhas e coceira.
Espirradeira
Família: Apocynaceae.
Sintomas: a ingestão ou o contato com o látex podem causar dor em queimação na boca, salivação,
náuseas, vômitos intensos, cólicas abdominais, diarreia, tonturas e distúrbios cardíacos que podem
levar a morte.
Chapéu-de-napoleão
Família: Apocynaceae.
Sintomas: a ingestão ou o contato com o látex pode causar dor em queimação na boca, salivação,
náuseas, vômitos, cólicas abdominais, diarreia, tonturas e distúrbios cardíacos que podem levar a
morte.
Cinamomo
Família: Meliaceae.
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UNIDADE III │ TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS
Sintomas: a ingestão pode causar aumento da salivação, náuseas, vômitos, cólicas abdominais,
diarréia intensa; em casos graves pode ocorrer depressão do sistema nervoso central.
Mandioca-brava
Família: Euphorbiaceae.
Sintomas: a ingestão causa cansaço, falta de ar, fraqueza, taquicardia, taquipneia, acidose metabólica,
agitação, confusão mental, convulsão, coma e morte.
Mamona
Família: Euphorbiaceae.
Sintomas: a ingestão das sementes mastigadas causa náuseas, vômitos, cólicas abdominais, diarreia
mucosa e até sanguinolenta; nos casos mais graves podem ocorrer convulsões, coma e óbito.
Pinhão-roxo
Família: Euphorbiaceae.
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TOXICIDADE DE FITOTERÁPICOS │ UNIDADE III
Sintomas: a ingestão do fruto causa náuseas, vômitos, cólicas abdominais, diarreia mucosa e até
sanguinolenta, dispneia, arritmia e parada cardíaca.
Contudo, devemos sempre lembrar de que não devemos preparar remédios ou chás caseiros sem
orientação médica e, não comer folhas, frutos, e raízes desconhecidas. Lembre-se de que não há
regras ou testes seguros para distinguir as plantas comestíveis das venenosas. E nem sempre o
cozimento elimina a toxicidade da planta. (<http://www.fiocruz.br/sinitox_novo/media/plantas_
toxicas.pdf> acesso em 15/05/2014)
Borragem
Alcalóides pirrolizidínicos,
Borago officinalis Anti-inflamatório, diurético Evitar
hepatotoxicidade
Sumidades, folhas
Chaparral
Anti-infeccioso, antioxidante,
Larrea tridentata Hepatotoxicidade Evitar
anticâncer
Brotos, folhas
Sassafrás
Óleo de safrol, Hepatocarcinógeno
Sassafras albidum Diminui a viscosidade do sangue Evitar
em animais
Raízes, casca
85
Para (não) finalizar
Com base nisso, o conhecimento precisa ser renovado e ampliado constantemente, já que a pesquisa
se supera a cada dia. Deste modo, bons profissionais devem buscar fontes seguras para novos
conceitos e aprendizados, levando sempre um conteúdo mais atualizado para sua prática.
86
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