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BABY-ART Os psimeiros passos com a arte Ania Marie Holm MUSEU DE ARTE MODERNA mam DE SAO PAULO la7b e32 CAs Cee tee. oy ae) OS ane Note oog ee ee CaN Cenc a aa Cad ry ca - nt eee a em RU) RR eC eae) fackiyathurai | Torben Madsen | Anna Marie Holm Re ee er ee ey D. Cunha Lima Ue ue Le} Pca Ce eu Leen) Corea ee men Ree) peace CONVITE 0s pequenos nos convidam a experimentar. Eles tém a arte dentro de si les criam arte. Eles nos dizem algo, ‘Ago que perdemos. Algo atraente e sedutor. Algo que reconhecemos. E que nio podemos explicar. Tudo & muito maior. Para as ctiancas pequenas existe uma conexao direta entre vida e obra, Fs5as S80 coisas inseparsves Milan, 1 ano e 2 meses, pda um instante e escuta 0 som das gotas gua caindo de um pano em um balde! isto 6 percepgdo artistica, & 0 dnico meio de investor € 0 Tocar ompreender 0 mu © trabalho de arte-educagdo da dinamarquesa Anna Marie Holm & conhecido no Brasil mediante uma iniciativa inédita e inovadora do Museu de Arte Moderna de $30 Paulo de apostar no potencial da arte junto & educacdo e aquisicao de valores. Em agosto de 2005, Anna Marie realizou uma surpreendente experiéncia educacional no MAM, contemplando a participacao de indmeras escolas alunos do ensino publico, bem como a publicaco do livro "Fazer e pensar arte’, trabalho que evidenciou na artista dinamarquesa, um cardter verdadeiramente revolucionario. Uma agente de transformacdo. Ao conhecer seu trabalho é impossivel ndo se mobilizar e multiplicer suas agbes ‘Agora, com uma nova experincia ao ar livre voltada para criancas, também com 0 apoio do MAM, em rovembro de 2007, Anna Marie reafirma 0 seu papel pela humanizacao cativante e efetiva nas relacoes entre pais, filhos, educadores e artistas. Baby-Art ~ 0s primeitos passos com a arte é um livro que, com ‘empenho e presenca do setor Educativo do Museu, por meio do projeto Familia MAM, se tora um referencial de estimulo para o desenvolvimento da ctianga com a arte. Este livro, com a marca da Editora Modema, é uma diversficada coletdnea de suas experiéncias, ou, ‘como diz Anna Marie, um didrio. Mas pode-se salientar também que se trata da reuniao de imaginativas crénicas que estimulam 05 pais 2 estarem ao lado de seus filhos e promoverem atividades artisticas simples e com recursos ignorados pelo senso comum do brinquedo industrializado. ‘Anna Marie nos faz reflett, por meio do seu modo transformador, sobre o envolvimento com 0 processo natural de criagdo da crianga. Nao é preciso muito ou © excessivo para garantir a aproximacdo de pais € filhos, nem criar barreiras complicadas pare construir 2a imaginacdo infantil. A arte e a pedagogia de Anna Marie se resumem no ato diteto ¢ festivo perante as coisas do mundo. Por isso, 0 trabalho de Baby-Art & envolvente, repleto de humanidade e conectado com a arte contemporanea. ‘Milt Viel Presidente ‘Museu de Arte Moderne de Sao Poulo Prefacio a edicao brasileira COM OLHOS DE CRIANCA E preciso vera vida itera como no tempo em que se «ra crianco, pois a perde desta cndicao nos priva da possibtidade de uma maneira de expressdo origina, sto 6, pessoal envi Matisse Nao é novo 0 fascinio dos artistas pela maneira como as criangas pequenas olham e expressam sua visdo sobre as coisas, A novidade que Anna Marie traz neste livro, é voltar o alerta de Matisse para a educacio, convidando os educadores a olharem as criancas com olhos de crianca. Anna Marie Holm trabalha com educacao hé mais de vinte anos e, paralelamente, vem desenvolvendo ‘sua producdo artistica. Uma artista e educadora ‘comprometida com uma visdo contemporénea da arte. Para ela nao existe 0 conilito, tao comum entre 0 artistas, de que o trabalho com criangas possa roubar o tempo que deveria ser dedicado exclusivamente 4 criacdo. Parece, a0 contrario, que encontra nessa relacdo uma inesgotavel fonte de inspiracao. E 0 que observamos acompanhando 2a anotacoes em seus disrios publicados, em parte, pelo MAM Sao Paulo em 2005, sob o titulo Fazer -e Pensar Arte. ‘Nas propostas daquele primeiro livro encontramos, sob um caos aparente, uma direcdo precisa, um controle absoluto das atividades do inicio ao fim. Havia 0 conwite & improvisagio, & criagao livre, porém a regéncia do trabalho estava sempre nas mios da artista, Ela propunha as atividades e fotografava 05 resultados: produtos de processos sempre fascinantes e inusitados. E mais inusitada era a apreciagao freqiiente de obras de arte contempora- rneas, consideradas de dificil assimilacao e com as ‘quais as criancas interagiam, aparentemente, com ‘9 mesmo prazer € fascinio que a professora. Em Baby-Art ~ Os primeiros passos com a arte 0 olhar de Anna Marie esta voltado para as atividades que as criancas desenvolver fora do foco de sua proposta inicial. Sua atengdo esté centrada na acao das criancas: para onde olham, como olham, qual & © tempo de seu olhar, como exploram os materiais, como interagem entre elas e com os adultos. Agora, neste livro, a5 fotos mostram a movimentacao das ctiangas e procuram capturar o desenvolvimento da criacdo, mais do que o produto final. Olhando as criancas como se as estivesse vendo pela primeira vez, Anna Marie convida o leitor a despir-se de atitudes e expectativas preconcebidas sobre o que deveriam ser atividades de arte voltadas para elas. Propde, simplesmente, observé-las enquando brincam, por exemplo, com uma caixinha de cha no ch8o da cozinha Para ela tudo vai depender da disponibilidade do adulto de ouvir e acompanhar as narrativas criadas durante as brincadeiras, e também, de sua capacidade de propor desafios e aceitar que as criangas transgridam as propostas apresentadas, ctiando outras. A cozinha, o quintal, um guarda-sol velho, o espaco embaixo da mesa de jantar, um parque pubblico, a garagem, a casinha de boneca, qualquer espaco pode ser, em instantes, transformado em um atelier, ‘onde meias velhas, caixinhas de cha, pésteres antigos, a gua da conserva de beterraba, o sumo da ameixa sio utilizados como materiais expressivos. Lendo Baby-Art ~ Os primeiros passos com a arte ‘ouvimos ressoar a voz de Manoel de Barros: AAs coisas que nao levam a nada tém grande importéncia Cada coisa ordinéria é um elemento de estima Cada coisa sem préstimo tem seu lugar Na poesia ou na geral © que se encontra em ninho de jodo-ferreira: aco de vidro, garampos, retratos de formatura, servem demais para poesia Poetas e artistas deveriam estar, sempre, entre os interlocutores privilegiados dos educadores que trabalham com a primeira infancia, Eles recuperam para a educacao aquilo que a crianca ainda nao perdeu: 0 encantamento diante de todas as coisas simples. Das pedrinhas encontradas no caminho as caixas vazias e as cheias de farinha, tudo serve para elas de matéria para poesia. Porque sabem, como © poeta, que as coisas sem importancia sao bens de poesia. Para Anna Marie o encantamento infantil traduz-se ‘nas sublimes nartativas criadas pelos bebés. Este livro toma visivel seus encontros com essas narrativas @ nos faz acreditar que a simplicidade & o caminho. Ana Angélica Albano ‘Sao Paulo, primavera de 2007 indice Alegria Totaldade LUGARES, IDEIAS, POSSIBILIDADES nnn 1 Caligrafia de bebe 2 O menino com piri nena 3 Pintura de caveras e arte peste 4. Gravuas de beis.. 5 Quando o suporte 6 7 8 Giz colorido... Pintura sobre funds CO1Fid0$ ann Quadros pintados de uma oja de usados.26 8 Paginas amareas © velho guarda-sl 21 Gravuras de beterraba e suco de ameixa 22.0 brineD a2 nn Desenho com 05 pes. 26 Aquarela dos bebés———-— z 27 Siljee Victor examinarn @ expIaM ann cnnenn 58 28 Sexd posshe! pintar com uma tela? Ops! isto faz barulho..—- |32 Seu desenho fica bem em mim? .. 35 Grate de bebés..... vem iy oqueé copa eta presents, ALEGRIA Todos nascemos curiosos. No inicio, a crianca tem uma maravithosa curiosidade acerca de tudo. Um pincel, um giz de cera, papel, como so excitantes! Essa curiosidade é um dom natural que a crianca possui e do qual pademos participar. Eu ainda sou muito curiosa. Quando se oferecem diferentes possibilidades as ciiancas pequenas, usando materiais proprios para que elas criem imagens, que experiencia poderiamos Vivenciar junto com elas? ‘Onde teria lugar essa experiéncia? Que meteriais seriam 0s mais adequados ao uso? O que fazer? Qual seria 0 melhor momento para se por a idéia em prética? Por que as criancas perdem a concentracao ‘to rapidamente? O que esté sendo feito errado? Definitivamente, 0 importante é que nao haj limitagoes. € essencial abrit-se a todas as possibilidades. Amplie 0 espaco, deixe que as coisas acontecam, e sempre que possivel ao ar livre. aaa tec E quanto mais vezes, melhor. Abra a mente para 0 uso de materiais inusitados. Sao indmeros os materiais disponiveis num mundo aberto a varias interpretacdes. Abra-se para os movimentos do corpo, use roupas jé bem usadas e deixe livre 0 espaco. Abra-se ao tempo e deixe que a brincadeira seja parte do ato de criagdo. Escute a si ‘mesma, conviva de igual para igual com a crianca e esteja presente de corpo e alma No momento de criar, é condic&o essencial estar junto. Uma oficina de arte aquilo que se faz dela. Nao geste tempo e energia com excesso de ‘organizacdo, mas com 0 que é essencial - estar junto. Uma oficina de arte pode funcionar em ‘qualquer lugar. A oficina é o lugar onde vocé esta. As ctiancas sempre procuram o equilibrio ~ se suas demandas nao forem atendidas, elas irdo reagir. E exatamente a esse reagao que & preciso dar ‘ouvidos. £ essa sensacdo de equilibrio que se deve buscar. Entdo tudo fica timo. E isso @ alegria saa TOTALIDADE Quando se trabalha com a primeira infancia, arte ndo € algo que ocorra isoladamente Ela engloba: Controle corporal Coordenagao Equilibrio Motricidade Sentir Ver Owvir Pensar Falar Ter seguranca, E ter confianca, para que a crianca possa se movimentar e experimentar. E que ela retome ao adulto, tenha contato e crie junto. O importante é ter um adulto por perto, co-participando e no controlando, As criancas pequenas procuram adultos para desenvolver sua linguagem artista, Nao se trata de criar situacdes atfcialmente, mas deixar que elas fluam naturalmente. Ouvir também os passaros. Saborear uma fruta. Dancar. E voltar a pintar. Pode-se criar de varias maneiras: Brincar ao mesmo tempo que se cria um desenho. Sentir outros materiais e outros lugares. Experimenta. Ao tracar caminhos novos e desconhecidos, a crianca desenvolve sua sensibilidade e adquire uma consciéncia maior de todos os sentidos. Isso 6 fantéstico, arte dos pequenos deve ser vista em um contexto amplificado, ‘Como um todo. Tobias, 2 onos e & meses Victor 2 anos ¢ 6 meses DIFERENCAS Por que comparar desenhos de criancas pequenas? Por que nao apenas aceitar as diferencas de cada uma? Hoje em dia, 20 explorar o mundo a sua volta, 25 iancas pequenas se preparam para o futuro, e cada uma se expressa de uma maneita diferente. Aiianga sente alegria ao utilizar outra linguagem, ‘outro meio de expresso no dia-a-dia, "Para que a linguagem artistica se desenvolva e aperfeigoe, é preciso que haja um interlocutor qualificado’, diz 0 artista dinamarquésyislandés Olatur Eliasson, "Em uma sociedade que nao se importe com a arte, o artista automaticamente passa a se esforcar menos. A pior coisa que pode acontecer para ‘qualquer linguagem ¢ que ela fique isolada e a pessoa ndo tenha com quem interagir. £ imperativo Rees, Yano € 11 meses que possamos dialogar com alguém para que @ linguagem e a expresso se desenvolvam’. Cada ctianga desenvolve sua expressio artstica de acordo com o interlocutor que a acompanhe nesse processo. f isso que proporciona grandes e fantasticas diferencas nas produgOes artisticas. E elas serdo ainda maiores se 0 adulto possbilitar que a ctianca desenvolva sua criatividade corporal durante a atividade. Existem alguns tracos primitivos semelhantes nos desenhos de todas as criancas pequenas. (© improviso presente no trabalho de arte com os pequenos é uma mistura de sentimentos, emocdes, atmosfera e possibilidades. Durante todo 0 tempo 0 novo e o diferente estio interligados. Tudo esté em jogo. E dai que nascem as diferencas. Anton, 2 anos @ més a> O SUBLIME A narrativa imprevisivel esté além de nossa compreensao. Se essumirmos que o sublime ¢ algo que ndo podemos compreender; algo maior do que nds e sem limites, posso afirmar que tenho passado por recorrentes situacdes de narrativas sublimes com as criancas. As ctiancas precisam se sentir seguras para que © sublime aconteca. Se nds permititmos 0 espaco € as oportunidades para a ocorréncia do sublime, as criangas irdo automaticamente experimentar um dia-a-dia attistico, 'Nés, adultos, sempre temos em mente uma ou outra atividade para desenvolver com as criancas. Procuramos manter 0 foco em nossa idéia original. ‘As criancas, por seu lado, rapidamente descobrem rnovas possibilidades com os materiais apresentados e as relacdes entre eles. Nbs continuamos tentando manter 0 foco em “nossa” atividade. Mas dai em diante é importante ousar ir além e ouvir: nds devemnos ouvir as ctiancas, q> A nnarrativa sublime. Para onde ela vai? Sei que esta, mas ela nao € 0 que esta sendo mostrado ou comunicado. ‘Como podemos desenvolver atividades de artes visuais com criangas pequenas que conciliem o ‘espaco para as histérias dos alunos e a0 mesmo tempo a incorporacio da criatividade dos adultos que estdo propondo a atividade? Antes eu achava importante que as criancas ficassem dentro de limites previamente estabelecidos. Hoje jd nao penso assim. Constantemente emergem hist6rias fantasticas das atividades desenvolvidas com as criancas. E 6 nessas oportunidades que acontece algo genial. Eu mesma deixo de ver “o que deveriamos estar fazendo’. ‘Vejo nas entrelinhas tudo aquilo que nao é nada Procuro sentir o sublime entre as criancas. Annarrativa sublime é como uma musica que preenche o ambiente depois desaparece. Poderiamos até concluir que a atividade da oficina de arte é “apenas” um pretexto para o surgimento de novas relacbes e a expressao livre de nossos sentimentos. No entanto, ao mesmo tempo, as ctiangas estdo ocupades, usando as maos. Os materiais que sao sentidos, tocados e manuseados nao criam, necessariamente, uma “obra de arte” visivel, mas “algo” proprio, que esta além. disso. Como adultos, precisamos melhorar nossa capacidade de ouvir. Ouse ouvir. Ouse sentir 0 que € sublime, o que vai além dos limites. Gosto de estar no campo do desconhecido € imprevisivel com as criancas. Muito daquilo que considero artistico e criativo € 0 que geralmente se considera “bagunca’, e acaba sendo recolhido ou jogado fora pelos adultos. ‘Anaarrativa sublime é varrida junto com o original, © diferente, o vivo e o nao adestrado. E af que estao a energia e 0s valores artisticos, tudo 0 que as criancas inventam e as relacdes que estabelecem paralelamente as atividades de arte desenvolvidas. © sublime ¢ isso. ti deve tocar e sen ‘aprende atta é novidade. ‘Ariana pequene gs materiais. A crianca ‘dos sentidos, tudo Leerke, 1 ano € 9 meses CALIGRAFIA DE BEBE » a> Quando viajo, sempre levo para «asa jomais de outros paises. Junte jornais! Publicacoes de diferentes tipos, com formatos e cores variadas. Algumas secoes geralmente s80 cor-de-rosa ou ‘com fundo amarelo, Para os jornais,tinta preta A escolha do pincel determina se a pintura vai ser de “caligrafia” ou “pintura de paredes” 0 resultado depende do tempo que a crianca passa pintando e também de quanto ela € ouvida durante o processo. A partir do jornal, surge muita comunicacdo. Ludvig, de 2 anos 5 meses, teve a sorte de ganhar uma folha de um jornal brasileiro na qual havia uma gravura do Batman, na parte inferior. Ele levanta seu blusao e mostra sua camiseta com 0 Batman. E pinta em cima da ilustragao do jomnal e ao lado dela, Muitas das criancas taram por cima das ilustragoes, que iam cobrindo com 0 pincel, a0 mesmo tempo que conversavam. Clara, de 2 ‘anos e meio, pintava os rostos € falava, como se estivesse lendo tum poema, Os menores, naturalmente, se deliciaram quando viram que podiam pintar uma superficie grande com a tinta preta. € uma delicia participar dessa atividade. 05 tracos caligraficos de pincel das criancas pequenas sdo belos Por si s6 ~ incrivelmente belos. Uma idéia bem simples: jornais de graca e tinta preta diluida, Materiais: Tinta preta diluida com dgua Diterentes tipos de pince! Jornais de toda parte e de variadas cores Placas de eucatex para usar como cavalete 0 processo ctiativo ndo pode se desenvolver numa situacdo fechada. Quando se cria, é preciso fugir da necessidade de ser bem sucedido 0 tempo todo. Temos que retornar & criaco como um elemento integrado, uma convivéncia comum, sem esperar resultados Nesse dia, levei giz e um rolo de papel pardo, que desenrolei sobre © gramado. Rapidamente descobri que Renesh, de 2 anos e 1 més, nao conseguia desenhar sobre o papel colocado no chao. Para ele © papel precisa estar mais alto, senao suas pernas atrapalham. Porém, Renesh encontrou uma saida junto com o pai: ele se deitou sobre as pemnas dele, e af seus bracos ficaram na posicdo ideal para desenhar naquele momento. Um menino um pouco maior, de 2 anos e 9 meses, passava por ali Foi atraido pelo papel grande e pelos gizes. Mostrou-se interessado, mas tinha um pirulito na mao. Com muita confianca e método, consegui que ele me deixasse segurar 0 pirulito. Deithe um pedaco de giz ¢ ele, de modo elegante, se curvou para a frente, com as pernas estendidas, Desenhou um lindo circulo, depois outro e mais um. Sentia um enorme prazer ao ver 0 circulo se fechar, unindo 0 inicio ao fim do traco. Ele continuou nessa posi¢ao ~ desenhou circulos por toda a borda do papel. Renesh observava, interessado. (© menino tinha que ir para casa. Pegou de volta seu pirulito e me devolveu o giz, E entio nos despedimos, acenando um para 0 outro! Renesh ento resolveu ficar de pé, curvado para a frente e também agachado. Seu pai desenhou um elefante, e entdo ficaram conversando sobre o elefante e seus sons. © desenho como forma de convivio na nratureza. Saia de dentro da sala e permita um convivio improvisado | fora. E to bom quanto um almoco em grupo ao ar livre, Mas Renesh me ensinou que para ele seria melhor desenhar com o papel em pé. Material Rolo de papel Giz Cecil, 2 anos e & meses PINTURA DE CAVERNAS E ARTE RUPESTRE Como 0 giz se dissolve com a chuva, pode-se usé-lo, quando estiver chovendo, sobre outros suportes como grandes pedras, madeira, lajotas, coisas que as criancas adoram. A ctianga e o adulto podem desenhar juntos: © processo é 0 dilogo, e havia dislogos. A criatividade é uma parte da brincadeira, um todo. E nao é preciso comprar diferentes objetos para ser criativo. Se precisar de um cavalete, use as drvores. Preparei o ambiente para a pintura das cavernas. Deve-se perceber as possibilidades existentes no local e ser flexivel Lucas, de 2 anos e 10 meses, esté em frente a uma grande pedra no jardim e diz: "Eu desenho o Papai Noel.” ‘AM (Anna Marie): "Com a longa barba branca?” Lucas: “Nao” Tobias, de 2 anos e 9 meses: “Eu néo tenho medo do Papai Noel.” Durante @ conversa as criancas desenham. AM: “Quando eu era pequena, eu tinha um pouco de medo do Papai Noel” A pedra se torna coletiva, unificador Uma beleza de se ver. Mathias, de 2 anos e 5 meses: “Eu também desenho 0 Papai Noel” E continuaram a conversar sobre o Papai Noel Hey § Assim se faz arte rupestre dos dias de hoje, Materiais: Giz e papel em rolo aes res GRAVURAS DE BEIJOS a v lore, 2 anos e 5 mes ‘Alinguagem visual é uma forme ide expressii Nesse dia chovia sem parar. Coloquei um CD de musica com ritmos brasileiros — isso é muito estimulante. Peguei meu batom vermelho-vivo e dei um beijo em uma folha. Deixei a marca de batom na folha branca. As criancas tiram. ‘As meninas ficaram entusiasmadas, boquinhas que estampam. Outra vez, mais uma, de novo. Com um lapis de cor, Katrine continuou desenhando na folha de beijos. Clara nao conseguia parar. No minimo, deu uns 50 beijos em uma folha. E ela estava radiante. Uma gravura de beijos para a mame. Os meninos no se entusiasmaram, pelo menos nao tanto quanto as meninas. Telvez possamos fazer uma gravura de beijos em grupo. Hé muitos anos vi uma exposigdo de arte com gravuras de beijos. Desde entao sempre tive vontade de fazer a mesma coisa, mas apenas nesse dia surgiu a oportunidade. Ate esquecemos que estava chovendo!!! Materiais: Aquele batom vermelho ‘comprade por impulso Folhas de papel » v QUANDO O SUPORTE DO BALANCO VIROU ~ CAVALETE Nesse dia usamos 0 suporte do balanco como um grande cavalete. Com plastico transparente por cima, ele se transformou numa tenda de pintura maravilhosa. Era possivel entrar e sair correndo e pintar por toda parte. E quando se deixa de pintar, hd o jardim para brincar. Nenhuma limitacdo ara 0 corpo nem para a brincadeira. Talver devéssemos dar mais atencdo ao fato de que a pintura também é uma atividade de verso, que pode ser desenvolvida a0 ar livre, A felicidade com a ctiaco 6 naturalmente maior quando nao hé limitacdes. Existe a possibilidade de uma total integracdo dos sentidos, envolvendo movimentos, sentimentos, sons e tudo 0 que se pode ver. A pratica da Pintura nao deve ser experimentada com limitagdes. Serd que 8 pequenos ndo deveriam ter 0 direito de ite vir? Sera que desde cedo eles tém que aprender a ficar sentados e se concentrar? O importante & estar feliz. Thor diz: “O que isto vai ser?", enquanto mistura ansiosamente as cores. “E 0 arco-tis” Ele pinta uma cor ao lado de outra, © pequeno Victor circula e acha um pincel. Mergulha-o na tinta e pinta, Descobre que ali ha areia, Comeca a brincar com 2 areie, Depois continua a pintar. 0 ideal nao ¢ isso? O perfume das flores. A grama macia sob os pés. 0 teto, sem fim. H8 lugar para todos. Victor 1 ana @ 10 meses Thor, 3 anos e 1 més Materiis: Um suporte de balanco, sem 0 balango Plastico transparente Tinta Dilerentes pincéis GIZ COLORIDO Para mim, cada desenho é Unico. Nao consigo ver as similaridades, somente as diferencas. © desenho, com certeza, é comunicacio. Renesh, de 1 ano e 1) meses, desenha = primeiramente riscos, pequenos, grandes; © 2 cada traco dé uma tisada. Olha para mint, a felicidade num tisco. Ele pega um giz de outa cor; ra folha seguinte comeca a desenhar circulos. Fic feliz. quando consegue unit um circulo. € faz isso de novo, uma vez, outta, vifias vezes. } Na terceirafolha troca de cor eebmeca com grandes movimentos ciculares ¢ sobrepostos. Desenhauma série de circulos, preenchend tox a folha. = f Na quarta fotha pega uma nava core recotega a desenhar muitos ciculos, grandes e pequenos. Um pequeno circulo dentro de um grande. De repente Renesh diz: “carro” “todas? Carro, rodas, e continua a desenhar mais citculos, muitos. Diz: “bald” e vai buscar seu baldo metalizado com 2 forma de um golfinho. Mostra para-0 golfinho os baldes que desenhou. Renesh faz mais desenhos. para mostrar ao golfinho. Perguntei para Rajana, a mde de Renesh, se ele costuma contar 0 que desenha, Disse que ele nunca conta nada, pois sempre desenha sozinho, em sua mesinha. ‘Agora a mae de Renesh sabe que o desenho de uma crianca é uma conversa, um didlogo com oadulto. Moterais: Gia de cera colorido Grandes folhas de papel enesh, 1 ano 11 meses » 4 PINTURA SOBRE FUNDOS COLORIDOS Por que sempre pintar sobre superficies brancas? Cubra placas de eucatex com restos de tintas de cor viva, vermelho, ~amarelo, verde, rosa, e deixe secar. As criancas se encantam com as placas coloridas. Se as criancas tiverem oportunidade, com certezairdo escolher a cor de fundo que preferem. Nesse trabalho, d& preferéncia @ tints lavaveis. Utilize diferentes tipos de pincel, grandes e pequenos. Escovas também sao um material interessante para ser usados pelos pequenos. Algumas criancas pequenas pintam durante tum espaco de tempo curto.Talvez apenas alguns minutos, outrastalvez pintem por mais tempo. Cada uma tem sua propria percepcto. Toda pintura ¢ algo inédito, nunca foi feito antes. Aquela forma especitica naquela determinada cor. Deixe que as placas se sequem novamente e finalize cobrindo-as com verniz diluido para dar-thes um pouco de brilho. Um resto de tecido ou um velho vestido estampado sobre uma placa também pode ser um divertido fundo para a crianca. ‘Também é possivel forrar toda a mesa com papel de embrutho. Moteriis: Plocas de eucatex pintadas de diferentes cores Tinta Pincéis Vernie Restos de tecido ou um vestide velho Papel de embrutho Fito odesiva Grompeccor Vicor, Lenk, Victor, Marcus, Thor Cecile, 2 anos & 7 meses. Tobias, 2 onos e 8 meses QUADROS PINTADOS DE UMA LOJA DE USADOS Pintar sobre quadros velhos, descartados, foi uma otima {| idéia, Um grande desafio para os pequenos. O suporte jd & uma ilustrag8o com moldura. E ha um trabalho a ser feito. Tobios, 2 onos e 8 meses. Cecilie, de 2 anos 7 meses, nio parava de pinta, uma camade de tinta em cima da outra. Ela estava entusiasmada com © processo. O problema é do adulto: quendo se deve tirara pintura das maos da ctianga? Tanto faz: 8s vezes pode-se deixar que a crianga continue a pintar até que as cores se misturem por completo, Outras vezes interrompe-se 0 processo, guardando os belos tracos de pintura do trabalho da ctianga como recordacao. Zakatiah, de 2 anos e 3 meses, ganhou um quadro com bordado de ponto em cruz. Que alegrial Ele pintou e adorou. Ele mesmo decidiu a hora de parar e pediu outro quadro para pintar. Para ele seu quadro de bordado estava pronto, Zokeriah, 2 ons © 3 meses tericis: ‘Quads velhos Tinta misturada com verniz PAGINAS AMARELAS Sem preocupacdo com simetria, junto folhas de papel A4 amarelas com fita adesiva. As criancas t8m de 1 a 2 anos e 8 meses. Elas se interessam pela fita adesiva. Dou pedacos de fita para elas. Afita adesiva pode ser usada em varios lugates, que nao estraga as superticies. Coloco a folha gigante no chao. As criancas se ajoelham ou se deitam de brucos, com o giz de cera que escolheram. Depois, 6:56 ir acrescentando outras folhas amarelas, conforme a necessidade, Em vez de dar uma nova folha, apenas acrescento outra por cima, colando-a com a fita adesiva. (0s pequenos trabalham rapidamente. A grande folha cobre a mesa € cai para os lados formando uma pequena cabana. Essa folha vai sendo colada nas portas, paredes ¢ janelas. A crianca pode desenhar sobre uma mesa ou ainda num pedaco da folha preso numa porta. Adiciono novas folhas. Troco as cores. Eles rastejam, pulam e brincam na pequena cabana formada com as folhas de papel. Cecile, 2 anos e & meses Anion, 2 on0s ¢ 5 mese Quando ha um adulto por perto para ouvi-as, algumas criancas d3o nome as formas desenhadas. {As ctiancas experimentam os gizes. Quais s30 as possibilidades? D4 para bater no papel com o giz. Grande dedicacao, Algumas criancas experimentam vérias cores em uma folha. Coil, 2 anos e & meses E fantastico acompanhar o que acontece. Matera: CChego a ter inveja do que elas conseguem: eee ‘sao cores, tracos, formas, comunicacao, Poste wane Ne brincadeira ~ tudo. ae Que beleza! Cecile, 2 anos © 8 meses O VELHO GUARDA-SOL 0 sol brilha desde cedo. Justamente nesse dia, parece que tudo pode acontecer. 0 calor faz tudo brotar. shor Desenrolamos 0 papelao no gramado. Assim temos ‘dae uma oficina externa nrke Pego nosso velho guarda-sol, que havia sido descartado, e 0 coloco na extremidade do rolo de papeléo. Rapidamente pegamos as tintas. As criangas escolhem. Pinceis largos, escovas de limpeza, rolinhos de pintura. guarda-sol tem uma superficie ampla, maravilhoso. Ha lugar para muitas criancas. Nés viramos 0 guarda-sol para poder pinté-lo todo. As criancas tém entre 1 e 3 anos. E t80 bom realizar uma oficina de arte ao ar liv, que as criancas podem correr pelo gramado se tiverem vontade. Alguns querem pintar mais. Fazemos uma festa de pintura, Levo bolsas e chapéus da loja de usados. Elas querem pintar algo para a mae. Nada de monotonia. Nao ha limitacdes. Uma oficina de pintura ao ar live dé liberdade ao corpo e & pintura. fe criacdo trabalha com indo serto ou ertadO- Yazer certo OF » 4 Materia: Tinta Pincéis variados Chopéus Bolsas E um velho quardo-sol VICTOR E A LUA Uma oficina pode ser instalada em varios lugares. Nao precisa ser decorada e totalmente organizada. A oficina extema desse dia surgiu a partir de uma mesa de jardim. Pusemos uma placa de eucatex de 60 x 120 em de pé e apoiada na mesa e montamos assim um étimo cavalete, Outras placas foram colocadas no gramado. Elas servem perfeitamente de base para o rolo de papel. Quando a folha esta cheia basta desenrolar outra por cima. € uma oficina ao ar livre, portanto, é natural que as criancas corram ao redor, indo e vindo quando tém vontade Brincar e desenhar. Uma boa idéia ¢ 0 adulto se sentar e conversar enquanto a crianga desenha. Isso ¢ conviver. O ato de desenhar se toma uma parte de sua vivencia, de seu ato de ser. Os pequenos experimentam os gizes. Victor, de 2 anos e 1 més, desenha circulos intensamente. De repente ele diz: "Lua" "Vocé viui a lua?” pergunto. Victor olha ao longe e diz: “A lua some’. Imagino que ele esteja se lembrando de ter visto pela janela, fem casa, uma nuvem encobrindo a lua. Na mesma noite, em casa, por coincidéncia olho a lua pela janela. Penso em Victor. Sera que esta dormindo? Com certeza ele viu a lua na noite anterior, pois agora estamos na lua cheia. tor, 2 anos @ 1 més Materiis: 1 mesa velha de jardim placas de eucatex rolo de papel git de cera » A GELADEIRA Esta ¢ a primeira vez que Renesh, de 1 ano e 11 meses, vai pinter. Trouxe uma placa de acrlico. Comecei com uma pincelada. Renesh continuou do outro lado da placa de acilico, As criangas pequenas sempre querem copia. Meu pincel seguia correndo atrés do traco dele. Ele ria. Continuamos rnesse didlogo sem palavras por um bom tempo. De repente, ele pegou 0 pequeno pincel e fez um ponto na testa, entre ‘as sobrancelhas. Eu fiz 0 mesmo. Continuamos @ pintura sem conversar, com sorrisos,risos e outros sons. Os rastros eram nossa comunicacao. © que ha na cozinha que pode ser uusado como cavalete? N&o quisemos nos sentar 4 mesa, porque isso limitaria nossos movimentos. A geladeira, sim, ou entao as portas, dos atmarios da cozinha. Cobrimos tudo com pléstico transparente. Renesh adorou. Ele escolhia as cores com muita conviccdo. Levantava e sentava, Seu corpo esteve live todo ‘© tempo. Com um pincel. Dois pincéis de uma vez. € bom se desenvolver com ambas as maos e bracos. Para mim foi um prazer estar junto, Materiais Tinta Placa de aciiico Plastico transparente > 4 DUAS TENDAS Hoje convidamos outras criancas para um dia de convivio. com desenho e pinture. Montamos grandes tendas. Nao precisamos de mais nada para dizer: ISTO € UMA OFICINA. Estar junto em torno de algo; isso é suficiente. Alguns pingos de chuva no atrapalham. As criancas correm a vontade e ¢ isso que importa, Uma babs traz bolinhos feitos em casa, Alguém traz bolo de cenoura com deliciosa cobertura, Tem café e refresco. Estavam ali muitas criangas. Nao hé paredes nem teto. A grama é macia sob os pés. Quando uma crianga n3o quer mais pintar ele pode ir brincar, correr, Pular, ou ainda dar a mao para outta crianga. 'Nosso corpo se movimenta quando tem necessidade, sem que isso prejudique a concentracabo. ait As placas de eucatex, colocadas de pé ao redor da mesa de jardim, s80 usadas como cavaletes. Quando é necessério trocam-se as folhas. Ludvig e Victor se encontram e ajoelhados conversam sobre o que esto desenhando. Quando a conversa (e 0 desenho) termina, eles podem voltar a correr. Se esse trabalho fosse realizado com todos sentados & mesa seria uma atividade muito mais restrita, limitando o modo de segurar os lapis e a troca de experiéncias. Nesse caso, nem precisamos de cadeiras. Mile, ¥ ano e 3 meses Patricia, 2 anos ¢ 7 meses. Ludvig © Victor Aidéia de levar a oficina para fora é maravilhosa. E tudo simplesmente maravilhoso. Nao ha conflitos, pois o ambiente é tudo o que ha & nossa volta ‘As criangas usam roupas velhas, e assim 0 corpo também se sente livre. Pintar e desenhar junto. Brincar. Pintar e descobrir. 0 ato de brincar e as atividades de oficina nao s8o nem podem ser separadas. Imagine se um adulto me pedisse para eu nao me mover até que minha pintura ficasse pronta, © convivio espontaneo ao redor de uma placa de eucatex coberta com papel de desenho: um adulto se aproxima e deitado desenha junto com as criancas. Outras criancas se aproximam. Criancas e adultos desenhando juntos é igualdade de direitos. A conversa surge a partir dos desenhos. Entéo nao precisamos de mais nada Se q> Materiais: Tendas ao ar livre Roupas e botas da loja de usados Tintas, pincéis, papel, lépis de cor, placas de eucatex Remvesh, 2 anos 1 O LAPIS DE COR Milan, de 10 meses e 4 dias, recebeu um lépis de cor gr0550, que logo vai para a boca. O gosto nao é bom. E entao, fazer 0 qué? Sua mae tem uma folha de papel A4 pronta para ser usada. Ela mostra como se faz para deixar marcas no papel. os 10 meses 0 bebé faz muitas coisas com o ldpis de cor. Seus desenhos tém forca e energie E aro que uma folha de papel AA fica pequena em poucos segundos. Acrescente outra folha e prenda-a com fita adesiva E bom ter uma superficie plana para servir de apoio. bom se sentar no chao. Milan quer usar todo 0 seu corpo. Ele nao vai escolher isso novamente, se ele se sentir limitado. Tudo precisa ser fécil ¢ natural; deve-se evitar qualquer situacéo artificial ou complicada. Esse convivio de desenho e pintura talver dure apenas um breve periodo de tempo. Guarde os materiais e mostre-os novamente no dia seguinte. De maneira bem natural Eo inicio de um diario de desenhos. Cada processo de desenho é novo. Moteriats: Y ‘Milan, 10 meses e 4 dies Popel e lépis de cor MEIAS MUSICAIS Certo dia Birthe me trouxe algumas caixas com meias de nylon, “Estavam esquecidas em um velho atmario, achei que vocé poderia usé-las em alguma atividade” "Certamente que sim!" Na mesma hora utilize’ as meias de nylon com {as criangas pequenas. Improvisamos um varal no meio da oficina, Coloquei algumas molas para poder puxar as meias... meias saltitantes! Uma genial brincadeira de pintar! © pai de uma das criancas ficou sabendo e se lembrou de umas meias de trabalho que nao estavam sendo usadas por serem grandes demais. ‘As meias foram penduradas em um varal ao lado da grande tenda onde funciona nossa oficina ao ar live. Tove resolveu colocar pequenos sinos dentro de cada meia. Quando as criancas pintavam sobre as meias produziam belos sons. As criancas pequenas gostam dessa conjungao de linguagens: a brincadeira, os desenhos, 0 corpo e sons, tudo a0 mesmo tempo. Tao simples ¢ t8o belo! Materials: Diferentes tipas de meios usadas Tinta misturada com verniz Pincéis, escovas, esponjas Frederik, 2 anos e 10 meses, A TORRE As criancas, de contentamento, saltitam ao redor enquanto preparamos a torre Uma idéia simples: cadeiras em circulo e com 0 espaldar virado para fora. Apoiamos placas de eucatex e cobrimos tudo com papel Kraft bem firme. A torre é redonda, para que as criancas possam correr em volta dela. Como isso é ‘maravilhoso! A felicidade é grande no momento de escolher as cores e também de misturé-la. Os longos pincéis chegam até o alto, quase a0 topo da torre Todo 0 processo de pintura se baseia em uma situagao de convivio que depende de trés aspectos: = ter alguém com quem conversar ter vontade de continuar 2 alegria do momento. Apintura se dé de varias formas. Os pequenos pintam sem dizer nada, apenas levados pelo desejo de ver os rastros e outros vestigios de sua arte. Katrine, de 2 anos e meio, pinta figuras redondas, posticas, sem se manifestar verbalmente. Ludvig, de 2 anos e 5 meses, sempre escolhe 0 verde € 0 rosa: “Um besouro’, ele diz ao pintar uma forma verde artedondada. No jardim de Tove", continua, As ctiancas dancam um pouco ao som da musica, Sempre pulando. Brincam na caixa de areia. Dez minutos de pintura bastam; depois de brincar € pular, elas voltam para a torre de pintura Ludvig queria me mostrar 0 besouro novamente, Um belo processo de pintura. Uma oficina & aquilo que fazemos dela. ~~ Materiais: Pope! Kraft Tinta Pincéis longos Roles de pintura Todos aqueles pincéis proibidos Cadeiras de jardim e placas de eucatex, usados como covaletes » 4 O RABO RABISCA? Algumas idéias ndo convencionais surgem de forma surpreendente e inesperada Um dia vi num jornal a foto de um artista plastico alemao que havia deixado a barba crescer tanto, que podia usé-la como pincel, portanto, estava sempre pronto para pintar. Se eu tivesse um rabo bem comprido, também teria um pincel sempre 4 mio! No dia em que as criancas de uma creche vieram visitar @ oficina, coloquei um rabo feito com um velho into e uma mecha de cabelo retirada de uma peruca presa na ponta, ‘Além disso, havia pequenos frascos com tinta diluida e no chao longas trilhas feitas com papel. A surpresa foi grande quando comecei a correr, agitando © rabo cheio de tinta. Quando Sarah (funcionaria da creche) fez 0 mesmo, as criancas acharam muita grace, ‘A pequena Sofie quis tentar. Foi vestida com uma fantasia de ledo, mais o rabinho, e comecou a pintar. Quanta diversio! Os rastros dos rabos eram longos e variados. Depois, foi dada a cada crianca uma cadeira de plastico branca, para ser pintada com uma escova de limpeza. Isso pode levar bastante tempo. Em outta visita da escola maternal havia na oficina cipulas de abajur usadas para pintar. € fantastico resultado quando elas podem pintar sobre materiais inusitados. mma, 2 anos e 9 meses RS Yo se Ips pt dn Escovas de limpeza a> CORTAR E RASGAR Dou papéis coloridos e uma pequena tesoura para Renesh, de 1 ano e 10 meses. Ele escolhe uma folha coloride para recortar. € sua primeira ver, apesar de jé ter visto seus pais manuseando uma tesoura, Ele ndo consegue abrir e fechar a tesoura sozinho. Mostro a ele que pode seguré-le com as duas maos, como se fosse ‘uma tesoura de jardim. Seguro a folha em pé, ¢ assim ele consegue cortar o papel. Porém, nenhum pedaco se solta. Entao ele resolve cortar um pouco e depois rasgar. As formas sio diferentes. Ele fica feliz Coloco uma de suas formas rasgadas sobre outra folha colorida. Renesh continua e coloca outros pedacos sobre a folha. ‘Nesse momento, acontece algo incrivel: ele pra por um instante e analisa onde colocar os pedacos coloridos na folha e depois continua, trocando e recolocando os papeis em diferentes posicdes. Renesh, 1 ano «10 meses Respiro fundo e percebo que nesse instante Renesh esté brincando com seu senso estético ¢ refletindo artisticamente. Continuamos a recortar, rasgar e colocar na folha os pedacos de papel com as variadas formas. Uma risada a cada nova forma obtida. Depois ele comeca a se jogar para tras de tanta felicidade. E entdo eu faco 0 mesmo. Cada ver que criava uma nova forma com 0 papel, nés nos jogavamos para trés, rindo. Surgiram varias formas. Os pedacos de papel foram lancados ao alto, e dai surgiu uma nova brincadeira, com a tentativa de agarrar os pedacos de papel soltos no ar. Materia opts colordos — apenas Tesoura nos gostam de apenas eS, aes andes eta em cue jn. peice is aos verre ponizado © prepared. ser previomente a> VELHAS ALMOFADAS Um jardim e som de mésica: assim surge uma oficina de arte a0 ar livre, Hoje tenho a certeza de que uma oficina de pintura para bebés funciona melhor ao ar livre. © corpo, livre, a brincadeira, livre, € 0 céu & o limite ‘Com pincéis largos, rapidamente as criancas pintam sobre velhas almofadas usadas. Logo passam para as fronhas estendidas sobre as placas de eucatex. Grandes pinctis, todas as cores, masica e grema macia sob os pés, Que belezal » Onde colocar a pintura de Victor? Usamos como apoio um tronco de arvore. i {As placas 580 méveis e podem ser apoiadas em qualquer lugar ‘Assim foi, Estamios todos juntos. As criancas correm, brincam ¢ exploram 0 ambiente. De vex em quando alguns retornam e continuam a pintar Sifje, 1 ano 5 meses. Larre, 1 ono & 10 meses Victor 2 anos e 3 meses © pequeno Victor, de 1 ano e 10 meses, examina cuidadosamente 05 restos de tinta dos potes. Experimenta diversos pincéis ‘no papeldo ondulado. Pinta em uma pequena bandeja com diferentes cores e mistura tudo com um pouco de grama. Fico encantada de ver suas descobertas. Nesse dia, pintamos sobre almofadas ¢ fronhas. Mas talvez o mais importante seja tudo o que acontece paralelamente. No final, é preciso se lavar. € é facil, basta usar uma pequena bacia ao ar livre, Materiais: Velhas almofadas cobertas com uma base de tinte branca Frontias usadas Tinta misturada com verniz Pincéis variados Rolos de pintura Placas de eucatex Se w a f= 3 2 —— a > Sil, 1 ono & 3 meses. Victor, 2 anos e 3 meses itor, 1 ano e 10 meses CARVAO Renesh, de 2 anos e | més, chega a oficina, pula pata fora do carrinho de bebé e pep um Bind ‘0 pote,de tinta vermelia; dep «gf gitisasne com os ak.) = Continua a pintar. gore pinta circulos, controlando o que faz. ’ t ‘Os materiais esto numa cadeira, com os potes de \ [ tinta rie assento. Agora pinta circulos com tinta azul. { \ Renesh gosta do que faz,-——— \ Coleco mais tecido no encosto da cadeira. \ de pintar ni erealom > SK (/ Ela pinta um baléo com nd ir eum traco, ‘ Renesh também pinta linhas. Por titimo ele pinta um grandelctclfo e preenche | com a cor laranja. Est feliz e orgulh / / Grandes folhas de papel so colocaddd em uma ERE placa de madeira na parede. / Ali Rajana continua a pintar baldes. Renesh niéo lhe dou um pedaco grossd de carvao. Rapjdamente surgem vestigios, Fazer iss0\é muito bom,e ele sente prazer em usar 0 carvao. £ roast oy alcanca a tinta, e seu mae fica seco. Depois Mais um circulo se completa, e Renesh, diz: "Balao’ E actescenta um traco, como uma linha presa 30 balgo, como sua mae fez. legria, 0 desenho € convivéncia, Surge um enorme semicirculo, seu braco fica totalmente estendido. Renesh pula de satisfacao. Faz varios pequenos tracos. Ele diz algo. O tempo todo conversa; nao entendemos tudo o que diz. Este grande desenho representa: Convivenci Corpo Linguagem Experimentacao Alegria Matericis: Tecido e tinta Uma velha cadeira como cavatete Popel e carvao Renesh, 2 anos ¢ 1 més 4 ESE GRAVURAS DE musa BETERRABA E SUCO = DE AMEIXA Chovia bastante nesse dia, portanto, precisdvamos ficar dentro da oficina, sentados a grande mesa. Mas sempre ue for possivel, & preferiveltrabalhar com as criangas a0 ar livre! Ontem jantamos bife com beterrabas em conserva. Nunca jogue fora a dgua da conserva, pois ela serve como excelente tinta ecolégica Katrine, de 2 anos e 4 meses, fica muito feliz com a experiéncia: um pincel de aquarela funciona bem com a égua de beterraba, Ao derramar diferentes tipos de sal ~ sal grosso e sal reinado ~ obtém-se um resultado bem interessante. Se o objetivo for guardar o produto desse experimento, deve-se recolher rapidamente a gravura, pois nao hé nada melhor do que brincar com a agua salgada © experimentar 0 sabor. Katrine gosta do sabor agridoce. Katrine, 2 anos © 4 meses Katrine, 2 anos e 4 meses Em outra ocasido, fui convidada para o aniversério de | ano de Maria Paula, na cidade de Sao Paulo. Levei um pequeno pincel de presente. Em sua casa havia grandes e suculentas ameixas. Maria Paula resolveu usar 0 suco vermelho das ameixas como tinta. Os tragos artisticos surgem o tempo todo, a cada momento, ‘Maria Paula, brasileira, 1 ano O BRINCO AZUL oS Massinhas de modelar coloridas: que uso dar a elas numa atividade s com Renesh, de 2 anos e 1 més? De repente, me veio uma idéia inspirada num trabalho que vi na Bienal Mundial de Arte em Veneza ss Grande inspiracao artistica Ng para os pequenos: um artista 4 plastico havia utlizado massa de modelar sobre fotos de vu: ancincios de propaganda com belos modelos masculinos e femininos, modificando as figuras. Muito interessante ANCs Velhas revistas coloridas servem perfeitamente. Arranquei as paginas, e Renesh logo se interessou. De inicio, coloquei um nariz de palhaco, vermelho, feito com massinha no rosto de uma bela modelo. E depois nos olhos: agora ela ndo cenxerga! E uma grande boca vermelha, saliente. Em outra pagina de uma revista, a babé de Naja acrescentou um nariz vermelho. Que tal um par de brincos? Conversamos durante toda a atividade: olhos ~ nariz - boca ~ orelhas - cabelo ~ bochechas.. Renesh faz um brinco de massinha azul e 0 coloca no papel, ra orelha da modelo, e acrescenta uma pinta azul entre as sobrancelhas. Essa pinta ele ja viu em fotografias de sue familia, no Sri Lanka. Continuamos a atividade com uma nova propaganda. Moteriais: Brincar de massinha com fotos de propaganda é otimo ‘Masso de modelar para dialogar. Aniincos de revstas Renesh, 2 anos e 1 més DESENHO COM OS PES ‘Na verdade, é bem dificil apreender qualquer objeto com os és. Usamos pequenos pedacos de carvao. Algumas. ctiancas tém grande sensibilidade nos pés, e sentem muitas cécegas. Para Clara, de 2 anos e 5 meses, é uma brincadeira divertida, Ela consegue varias vezes seguidas agarrar 0 pedaco de carvio com os dedos dos pés e assim deixar rastros na folha branca. Também existe a possibilidade de fazer apenas desenhos no ar com os pés. 0 controle corporal, o equilibrio e a motricidade sao trabalhados simultaneamente. Materiis Congo Papel 05 pés das ciancas lara, 2 anos © 5 meses » 4 ARGILA Ludvig, 2 anas e 5 meses "um navio"™ Ludvig, 2 anos e 5 mese: Iniciamos a atividade pondo no gramado placas tipo eucatex, argila € diferentes materiais para estampar e prensar, além de um velho rolo de massa para alisar. Algumas criancas prontamente comecam a desenhar na placa de argila, depois de minha demonstracdo. a Num certo momento, percebe-se um sentimento primitivo: deixar mensagens gravadas na argila mac. Basta passar o rolo de massa e a superficie fica lisa novamente. A placa de argila 6 suspensa no ar e entéo alguns pedacos se soltam. “Um navio", diz Ludvig, e de repente uma forma se parece com algo concreto. E assim comeca a narrativa. Uso a argila para cobrir latas com pedras dentro. O som fica abafado. As ctiancas brincam, sacudindo as latas. Silje, de 1 ano e 3 meses, precisa passar a lingua na argila. Assim, ela percebe que o gosto é ruim e que é melhor brincar s6 com @ massa A argila € um material natural incrivelmente maledvel. De que outra forma é possivel deixar marcas na argila? Com um velho cachorrinho de brinquedo surgem divertidas e variadas formas ‘marcadas na argila. De vez em quando as criangas corer pelo jardim, mas depois retomam para brincar com a massa. Tove experimenta colocar uma placa de argila na arvore. Seré que a casca do tronco deixa marcas? Mas isso ndo é 0 mais interessante. O melhor é tentar cobrir os galhos e o tronco. Quanto tempo a argila cdemora para cait? “Vai cair, vai cair” As criancas pulam de alegria. Victor, de 2 anos e 2 meses, se joga no chao, tal qual a argila Ludvig, de 2 anos e 5 meses, consegue fixar um pedaco de argila e acrescenta novas camadas. ‘A piscina’, ele diz, “a montanha-russa’, € tenta subir na drvore como se quisesse dar uma volta na montanha: russa de argila Laerke, de 1 ano e 11 meses, tem uma bolinha de argila e com dois dedos consegue apertar a massa no tronco da érvore. Anatureza é tudo. A argila ¢ um material maravilhoso. Materia: Argila e diferentes objetos para prensor POR BAIXO DO COLCHAO Fui passar a noite na casa de Jan e Synnoeve. O colcho para as visitas fica no quarto de trabalho de Synnoeve. No ch8o havia grandes folhas de papel coladas com fita adesiva, formando caminhos até debaixo do colchdo. Uma grande area de desenho para Synnoeve e seu neto Hjalte, de 2 anos e 4 meses. Ali eles passam o tempo juntos, conversando e desenhando. Tenho certeza de que sao enriquecedores momentos de Contos e historias. Essa convivéncia com os desenhos se iniciou quando Hjalte tinha um ano de idade As folhas permanecem coladas no chao e novas camadas de papel s4o colocadas por cima Fiquei muito curiosa para saber 0 que se escondia sob as camadas de papel, mas $6 era possivel ver a folha de cima Tive uma noite de sono maravilhosa, depois de ficar imaginando todas aquelas histérias, com as quais somente pude sonhar. Materials Folhias de papel em rolo Fita adesiva Lépis de cor ou giz de cera — ‘0s desenhos dos pequenns AQUARELA DOS BEBES sempre me sana tusiasin®. As pequenas tigelas onde os pintores diltem as tintas (godé) so excelentes para a pintura de aquarela com 0s pequenos. Silje, de 1 ano e 2 meses, adorou usar uma esponja com tinta. Ela fez marcas no papel, manuseando a esponja e molhando-a novamente na tigela com dgua, Maravilhosas sensagdes sinestésicas si0 experimentadas nessa brincadeira com agua. Também pode-se optar por oferecer & crianca um pincel. Os resultados se tormam mais perceptiveis quando hé um adulto por perto oferecendo novas folhas de papel; caso contrério, as criangas continuam a pintar por cima. Naja, 1 ano € 5 meses Desde que tinha um ano de idade, a pequena Naja tem um espaco reservado na cozinha de sua mae para fazer suas artes. Ha ali uma gaveta com ‘materiais para pintura e uma porta de armério coberta com papel. Sempre tem uma nova pintura na cozinha, uma nova aquarela nunca vista al J SILJE E VICTOR EXAMINAM E EXPLORAM STAB © pequeno Victor, de 1 ano e 10 \ = meses, examina mais uma vez tudo 20 seu redor. Ele precisa explorar 0 ambiente para poder conhecer as coisas. Portanto, precisa manusear € ‘manipular os objetos e assim T™ descobrir suas possibilidades. Deve- SE se oferecer & crianca a maior gama possivel de materiais, para que ela posse entao aprender a escolher. Essa capacidade de decidir e de fazer escolhas precise ser desenvolvida. A ‘motivagao para experimentar existe, ‘A ciianca procura novos métodos € seus proprios meios. Victor segue seu préprio caminho. Hoje encontrou uma pedra e resolveu usé-le para deixar marcas. Em ver de pintar nela, decide experimentar, usando a propria pedra para pinta. S= Tao pequeno e to curioso! Na verdade € uma étima idéia, Ao ar livre encontramos intimeros materiais desafiadores e provocativos, Silje, assim como Victor, também segue seu préprio caminho. & necessario sentir e experimentar. Pouco antes, usamos tampas de plastico para colocar a tint. Silje fencontra uma tampa e fica entretida ‘com ela durante longo tempo, totalmente absorta com as cores usadas, Como & bom poder apreciar isso. Através dos diferentes sentidos ela explora o ambiente ao seu redor. Silje, 1 ano @ 3 meses Victor, 1 ano e $ meses Devemos perceber que ndo apenas 0 que parece ser é; e tudo aquilo que pensamos que no é nada também pode SER. As brincadeiras sensério-motoras sdo de extrema importancia Silje e Victor percebem o meio ambiente através dos sentidos; a0 sentir, provar, cheirar, ouvir fe ver os abjetos e materiais que existem ao seu redor. Quando a crianca tem liberdade pare movimentar-se livremente, ela esta incessantemente em contato com diferentes materiais. Materiis: Tudo aquilo que a principio ndo & nada SERA QUE SE PODE Q PINTAR COM UMA TELA? ‘ b xz SIM, E POSSIVEL! Num dia de outono, tive a idéia de forrar a parede externa de uma casinha de boneca com pésteres que haviam sido descartados. © resultado foi uma superficie ampla, boa para pintar. Genial! Bastante espaco para 0 corpo, com altura do cho ao teto. As telas de pintura proprias para criancas so muito pequenas para pintar. Porque nao pintar com elas e nao sobre elas? Varetas de madeira foram pregadas atrds, e assim surgiu essa divertida idéia de pintar uma grande érea com as. pequenas telas. » 4 Moterias: Tinta acrilica Pésteres descartados Pequenas telas Diversas varetas e hastes de madeira SOBRE RODAS Milan tem um ano de idade e, segundo sua mae, Tijana, ele adora empurrar as coisas, Ao ver uma cadeira de escritério com rodas numa loja de usados, imaginei uma atividade para experimentar com Anne. Num tranqiilo dia de outono, colocamos varios pésteres no chao, ao contrério, com o lado branco para cima, formando um longo caminho. “A pista” estava pronta, Anne estava euférica. TUDO SOBRE RODAS Nessa idade, os objetos com rodas servem perfeitamente como pinctis. Lene, a bab, trouxe um velho carrinho de bonecas € pusemos tinta nas rodinhas. Muitas vezes os objetos que vao para o lixo podem ser utiizados em atividades de arte com os pequenos Materiais: Tinta acrlica Pésteres descartados Objetos com rodas BASTOES DE GRAFITE Coloca-se um grande lencol branco sobre a mesa e basties de grafite. As criancas gostaram dos bastdes, que produzem com facilidade tracos negros. Deitados de barriga para baixo na mesa, elas trabalham 0 corpo com amplos. movimentos de bracos. Para que pudessem desenhar em todos (0 espacos em branco, nés iamos movimentando 0 lengol o tempo todo. Tobias comecou a contar o que estava desenhando: “uma baleia grande, uma baleia grande” E depois continuou vibrando de alegria, a0 desenhar um quadrado: “Uma televisio’, disse ele. Alguns rabiscos finos e enviesados: “A montanha-russa!” Isso serviu de inspiracdo para a criacao de outras montanhas-russas. Fiquei novamente estupefata com a energia e a criatividade com que essas ctiancas de apenas 2 anos lidam com as formas. Sua energia parece inesgotével. Quando a toalha ficou pronta, passamos a desenhar no chao sobre folhas de papel. Mais e mais desenhos. Cecilie e Zakariah resolvem fazer desenhos numa caixa vazia de papelao. Esse tipo de rabisco produz um som engracado. ‘As outras criangas também tém a mesma idéia, e logo preciso arranjar mais caixas vazias para elas. Quanta ctiatividade! Novos materiais s0 experimentados. As criancas trabalham naturalmente e em harmonia. Acho étimo quando os materiais artisticos so utilizados numa atividade. Um grande laboratorio de experiéncias ‘com os pequenos da escola maternal. Materiis: Um tencol velho Bastoes de grafite Caixos de papeldo Cecilie, 2 enos © 7 meses. Zokariah, 2 anos e 3 meses OPS! ISTO FAZ BARULHO © que podemos fazer com pedacos de arame? Penduré-los em algum lugar? Nao fosse a forte chuva lé fora, poderiamos penduré-los nas drvores. ‘Assim, esticamos um arame atravessado de um lado a outro da sala {As criangas comecam a pendurar os pedagos de arame retorcidos. 0 arame & bem maledvel e facil de dobrar. Varios pedacos de arame séo pendurados, produzindo sons engracados quando se chocam. Silje, de 1 ano e 2 meses, acaba de ganhar um chocalho grande. Quando cuve um samba brasileiro, Victor, de 1 ano e 9 meses, entra no ritmo e fica feliz com seu novo instrumento. Em um mundo muttifacetado, ¢ extremamente importante que se utiizem materia diferentes e maleaveis q> precisa ser simples © fil Materiais: Arame flexivel (dobre as pontas para nado machucar) Alicate pequeno SEU DESENHO FICA BEM EM MIM? Cee eee eee ee ae que precisamos ser rdpidos e criativos para expor seus trabalhos attisticos. PO Cee Ror aed Deseno: Cora de 2 anos e 5 meses, “Bode, sol drvare, mame, maozinho” abides servem perfeitamente para pendurar os maravilhosos desenhos das criancas. "Seu desenho fica bem em mim?” ‘Nao jogue fora sacolas de papel. Utilize-as para expor 0s trabalhos dos bebés. As sacolas podem ser usadas para enfeitar prateleiras e outros lugares. E depois de alguns dias, substitui-se aqueles desenhos por outros. Materiais: Desenhos prontos Fita adesiva, ou “0 chiclete da professora” Socolas de papel usadas Cabides usados GGustev, 2anas e 10 meses; “Aqui & onde nds andamos (de caro). Aqui tem um cruzemento ~ ali vai ter um guindaste” Le Noja,¥ ano e 1 més GRAFITE DE BEBES Um pai cooperativo ofereceu o muro da garagem para uma atividade de pintura com as criancas. Em minha opiniao, essa ¢ uma fentéstica atividade, envolvendo muita ciiatividade, dedicacio e concentracao, nna qual criancas t80 pequenas tém a possibilidade de experimenter, juntas, tudo ao mesmo tempo. © aspecto social se desenvolve enquanto elas compartilham os materiais, dividindo a tinta e trocando 0s pincéis, 0 aspecto fisico também esta presente. Eles se agacham ¢ levantam, ficam na ponta dos pés, pulam de uma extremidade & outra do muro, enfim, movimentam 0 corpo 0 tempo todo. 0 espaco é livre, e as superficies s80 grandes. Até mesmo o tronco de uma drvore foi embrulhado em papel para ser pintado. As babas que acompanham as criancas estao felizes Clara, 2 anos e 9 meses Katrine, 2 anos & 6 meses Tobias, 2 anos © 6 meses 4 Katrine, 2 anos e 6 meses Experiéncias de todo tipo: misturar as cores, mexer a tinta, erguer o rolo de pintura do papa A pequena Silje, de apenas 1 ano, passa a mao no muro, sentindo sua textura. Diferentes materiais so utilizados para pintar: uma velha vassoura, uma escova de dentes usada e até mesmo meus velhos pincéis de rimel Grandes sombras no jardim, uma brisa leve e a temperatura amena fazem parte desta oficina de arte a0 ar livre em um dia de outono. Materias: Tinta aacrlica misturada com vernia Papel em rolo para envolver a érvore Pinceis largos Rolo de pintura Vassoura, escovas de dentes, pincéis de rimel Clara, Lag am Katrine ela Ludi idvig, 10 meses e 15 dias ‘0 mesmo travo. ‘um taco nunca sera guela crianga, naquele o1c% ‘moment tom aquele Képis de color. minha cabeca da voltas 96 de penser O desenvolvimento da criacao artistica ¢ algo que nao pode ser vivenciado de forma isolada Ela é um todo que envolve formas, linguagem, brincadeiras, corpo, experimentos, materiais, os lugares, as sensacdes, até mesmo a conviv ‘Apés 0 quarto més de idade, o reflexo da mao no ato de apreender & substituldo pela objetividade, pelo movimento intencional Geralmente, esse é um periodo de transicao, j4 que 30 € facil definir se se estd lidando com puro reflexo ili, com 4 meses e 3 dias, agarra a pequena lanterna que demos a ela. Meio deitada, meio sentada em sua cadeirinha, ela levanta e abeixa a lanterna acesa. A luz na sala foi apa ada e a cAmara, ajustada em “baixa velocidade", Esse é 0 momento de tirar fotos dos primeiros movimentos esponténeos. Os primeiros rastros visiveis foram criados. E assim se inicia o interesse pelos objetos ao redor. n ‘Com 5 meses, a ctianga estende o braco e agarra ‘bjetos. Os dedos funcionam como um todo. Esse ¢ um timo modo de segurar os objetos que a crianca quer levar & boca, Todos os objetos & sua volta sao tratados dda mesma maneira. Olav tem 5 meses e 1 dia e gosta de colocar na boca 0 pequeno pincel vermelho (que conseguiu agarra, assim que ele ficou a0 seu alcance) e cexperimentar um pouco da tinta vermelha dissohida em ‘gua, Os tragos de pinturafeitos por Olav so produridos pelos movimentos que ele fez 20 passar a mao no papel depois colocar na boca. £ possivel notar com clareza que ele aproveitou totalmente essa experiéncia: 0 som do papel sendo amassado, a visdo da tinta vermelha, © sabor do papel, 0s objetos descobertos mediante as sendagdgs vidas Sun expresso & de pure olga, \ ’ ° I. ‘ojo, 5 meses & 5 dior a { \w sente"? eaxigic um ‘mas um al para igual: que é "est pre Tema ver com 100 resultado espectica, conto de sau Olav, 5 meses e 1 dio Olav, 7 meses 6 7 dies ‘Aos 7 meses, a crianca & atenta a tudo a0 seu redor. s objetos s8o examinados minuciosamente. Agora, tudo ¢ muito intenso, Dei a Olav um pedaco de papel amarelo. Tentamos usar a tinta de novo, mas ele acha mais interessante ‘amassar 0 papel. Ele procura também soltar e mudar ‘0 papel de uma mao para a outa, com abertos. E é muito persistente, ja que pi & muito excitante. Brincar de amassar, sentir € experimentar o papel s6 chega ao fim quando acaba ‘oibloco de papel E predso consiuieno or ents de construir sobre uma base firme. Um artista cria esculturas, e um bebe cria o qué? ‘Aos 9 meses e 15 dias, Milan consegue agarrar firme. Nessa idade, a crianca jé consegue aprender ‘abjetos em qualquer direcdo. As maos e os dedos 0 t80 importantes quanto os olhos e @ boca na hora de descobrir 0 mundo ao seu redor. A crianca ‘agora pode comecar a usar “ferramentas’. ‘Milan ganhou um pincel com tinta vermelha. Ele esté no colo da mae, de frente para a vidraca da janela, Isso Ihe dé seguranca, e ambos vivem a mesma ‘experigncia, Sempre ha alguma coisa para se ver através da janela, € divertido, como se a gente estivesse desenhando sobre as coisas que esto do lado de fora. Milan pinta interessantes tracos sobre © vidro da janela. lay, 9 meses © 21 das q> os 9 meses e 25 dias, Milan demonstra interesse Pelas tintas e ferramentas, assim como pelo modo. como elas podem ser usadas. Ele consegue executar movimentos que exigem mais dele. A mae grudou uma fralda na porta da geladeira. Milan pode ficar ‘em pé, e parece que ele consegue manter melhor 0 equilibrio enquanto segura o pincel. Ele pinta tracos vvetmelhos de cima para baixo. Cada vez mais tracos. Um instinto natural. A alegria e o prazer de pintar e dar forma aos materiais surgem antes mesmo da fala. Os primeitos tracos sio a base da linguagem através da pintura. Mette tem 10 meses e estd sentada no chao, 0 adulto segura um bloco de aquarela na frente dela © ajuda a colocar tinta no pincel, Mette executa seu trabalho com a maior alegria. Ela experimenta a ‘sensacao de que seus tracos tém valor. E importante ‘que a situacdo seja alegre e de camaradagem. Esse convivio deve prosseguir, mesmo que a crianca rapidamente descubra que pode p6r tinta no pincel sem ajuda, ou que escolha usar lapis de cera para desenhar, ‘Mette, 13 meses & 25 dos Os desenhos e as pinturas so sempre t80 diferentes, que é um prazer poder participar. A crianca € muito curiosa nessa fase. Ela tem vontade de experimentar tudo ao seu redor e comeca a dar nome aos objetos, em interacao com o adulto, ‘Aproximadamente com 1 ano € meio de idade, os tragos tortos que vo em todas as direcdes s30 substituidos por formas mais variadas. Desenhar & lum prazer, agora que a crianca descobriu que existe luma ligacdo entre os olhos e a mao. Veja que proeza é conseguir desenhar um circulo, Fazer que as extremidades do traco se encontrem. A alegria dessa descoberta serve de inspiracao para que a crianga tente variar ainda mais as formas. Hé uma infinidade de possibilidades quando variados desenhos s8o postos no papel. As “ferramentas” usadas na pintura ou no desenho podem ser seguradas de diferentes maneiras, ‘Mette, 10 meses © 10 dias dominando melhor seus movimentos. Isso também __satisfacdo.Tudo & muito excitante. A atencio se significa que é preciso dar a crianca os materiais desenvolve fortemente. necessarios, a fim de que ela possa desenhar e mostrar 2 si mesma e para os adultos que ela propria _Existe uma grande diferenca entre pinter, desenhar € 6 capaz de definir 0s movimentos. A coordenago _criar formas com alguma coisa, € uma boa ideia fazer Optico-manual se desenvolve. Elas so incansaveis tudo isso. Repetidamente. A crianca e o adulto juntos. ‘com seus desenhos. £ um perfodo de grande De repente, entdo, acontece. a> » Jones, 1 ono @ 5 meses aja Pinte em porta de mn de ccsinhe, med * at A cok ——— ees 78 A CRIANCA CONTA 0 QUE ELA DESENHOU! ‘SEU DESENHO SE TRANSFORMA EM LINGUAGEM. Esse momento depende de muitos fatores: se a crianca ja comegou a falar e se um adulto estava presente ou nao. No caso de Soffa, isso aconteceu certo dia, quando ela desenhou no bloco de anotagdes ao lado do telefone. Tinha entao 1 ano e '8 meses. “Fie desenha gato’. Ela desenha um monte de riscos, ziguezagues, curvas e tenta formar circulos. "Agora gato sumiu’, ela diz Esse primeito desenho genial, acompanhado da linguagem, nao significa que a ctianca, a partir de agora, sempre vai contar 0 que ela desenhou, Mas isso no demora a acontecer de novo, © desenho se transforma num meio de comunicac8o. 1s50 é simplesmente fantastico!!! Naturalmente, no inicio, o vocabulério da crianca € restrito. Por isso € bom usar o desenho como complemento, quando ela quiser contar algo, porque na verdade ela ainda nao aprendeu palavras suficientes para se expressar. E mais fécil descrever uma experiéncia usando desenhos. Desenhos ajudam a compreender melhor todas as experiéncias ¢ sensacdes que o mundo ‘oferece. Quando a linguagem entra em cena, a0 desenhar, a crianga também comeca a pensar. A partir de 1 ano e meio, muitas criangas comecam a formar sentencas combinando palavras simples. Em geral, esse é um modo de compreender melhor © que acontece ao seu redor. Os primeiros circulos geralmente representam os adultos com os quais a

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