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Maxwell Equations 2020D3 PDF
Maxwell Equations 2020D3 PDF
Resumo
Nestas notas preliminares apresentamos alguns aspectos das equações de Maxwell, das equações
de onda para os campos E, B, assim como para os potenciais A 0 , A, convenientemente introduzidos
como ferramentas matemáticas auxiliares na descrição do campo eletromagnético. Discutimos as
transformações e invariância de gauge, focalizando nos conceitos de liberdade de calibre e fixação de
calibre. Apresentamos os calibres de Lorentz e de Coulomb, discutindo aspectos gerais destas duas
escolhas, assim como as equações de onda para os potenciais válidas em cada calibre. Discutimos
propriedades, particularidades e soluções para os potenciais em ambos calibres. Apresentamos o cál-
culo da função de Green retardada e avançada, assim como as correspondentes soluções das equações
de onda para os potenciais A 0 , A em termos da função de Green retardada. Encontramos os poten-
ciais de Lienard-Wiechart para cargas pontuais. Apresentamos ainda o Teorema de Poynting, que
estabelece a conservação da energia do campo eletromagnético de forma genérica.
1 Equações de Maxwell
As equações de Maxwell no sistema SI, em um meio dielétrico, são dadas por:
∇ · D = ρ, (1)
∇ · B = 0, (2)
∇ × E + ∂ t B = 0, (3)
∇ × H − ∂ t D = j, (4)
1
D = ²E, H = B, (5)
µ
onde ² é a permissividade elétrica do meio e µ é a permeabilidade magnética do meio. Considerando as
relações constitutivas (5), a Eq. (1) e (4) são lidas como:
ρ
∇·E = , (6)
²
∇ × B − µ²∂ t E = µj. (7)
Note ainda que a permissividade elétrica, ², e a permeabilidade magnética, µ, do meio, estão dadas por:
² = ²0 (1 + χ), (8)
µ = µ0 (1 + χm ) (9)
∇ · D = 4πρ , (10)
∇ · B = 0, (11)
∇ × E + ∂ t B = 0, (12)
1 4π
∇ × H − ∂t D = j. (13)
c c
∇ × ∇ × E + ∂ t ∇ × B = 0, (14)
2
∇ (∇ · E) − ∇ E + ∂ t ∇ × B = 0. (15)
∇ (∇ · E) − ∇2 E + µ²∂2t E + µ∂ t j = 0, (16)
2
∇ (∇ · E) − ∇ E + µ²∂2t E = −µ∂ t j, (17)
1
−∇2 E + µ²∂2t E = −µ∂ t j − ∇ρ , (18)
²
onde usamos a Eq. (6) na última passagem. Da mesma forma, podemos obter uma equação de onda
para setor magnético. Para tanto, aplicamos o rotacional sobre a Eq. (4):
∇ × ∇ × H − ∂ t ∇ × D = ∇ × j, (19)
2
∇ (∇ · H) − ∇ H − ∂ t ∇ × D = ∇ × j, (20)
2
−∇ H + ²∂2t B = ∇ × j, (21)
− ∇2 H + ²µ∂2t H = ∇ × j. (22)
As equações de onda (18) e (22) são válidas num meio dielétrico descrito por µ, ².
Em meios condutores, vale a seguinte relação constitutiva:
j = σE, (23)
onde σ representa a condutividade do meio. Substituindo a relação (23) na equação de onda (18), encon-
tramos:
1
−∇2 E + µ²∂2t E + µσ∂ t E = − ∇ρ , (24)
²
2 2 1
∇ E − µ²∂ t E − µσ∂ t E = ∇ρ , (25)
²
sendo esta a equação de onda para o campo elétrico em um meio material condutor caracterizado por
µ, ², σ. Neste mesmo meio condutor, a equação de onda (22) assume a forma:
2
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1
∇2 E − ²µ∂2t E = ∇ρ , (30)
²
∇2 B − ²µ∂2t B = 0. (31)
Considerando que
µ² = n2 /c2 , (32)
onde n é o índice de refração do meio, escrevemos:
n2 2 1
∇2 E − ∂ E = ∇ρ , (33)
c2 t ²
2
n
∇2 B − 2 ∂2t B = 0. (34)
c
Podemos também tratar a obtenção da equação de onda considerando a propagação no vácuo desde
o início, e na presença de fontes, ρ 6= 0, j 6= 0, onde as equações de Maxwell são:
∇ · E = ρ /²0 , ∇ · B = 0, ∇ × E + ∂ t B = 0, (35)
∇ × B − µ0 ²0 ∂ t E = µ0 j. (36)
Tomando o rotacional da lei de Faraday,
∇ (∇ · E) − ∇2 E + ∂ t ∇ × B = 0, (37)
∇ ρ /²0 − ∇2 E + µ0 ²0 ∂2t E + µ0 ∂ t j = 0,
¡ ¢
(38)
1 2
∇2 E − ∂ t E = µ0 ∂ t j + ∇ ρ /²0 ,
¡ ¢
2
(39)
c
− ∇2 B + ∇ (∇ · B) − µ0 ²0 ∂ t (∇ × E) = µ0 ∇ × j, (40)
1 2
∇2 B − ∂ B = −µ0 ∇ × j. (41)
c2 t
No vácuo e na ausência de fontes, temos:
1 2
∇2 E − ∂ E = 0, (42)
c2 t
1
∇2 B − 2 ∂2t B = 0. (43)
c
3
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∇ × E + ∇ × ∂ t A = 0, (45)
∇ × (E + ∂ t A) = 0. (46)
Dado que ∇ × ∇ A 0 = 0, onde A 0 é uma função escalar, que desempenha o papel do potencial escalar.
Fazemos E + ∂ t A = −∇ A 0 , implicando em:
E = −∇ A 0 − ∂ t A. (47)
1
∇ × ∇ × A − ²∂ t E = j, (48)
µ
∇ (∇ · A) − ∇2 A − µ²∂ t E = µj. (49)
1 2 1
· ¸
2
∇ A − 2 ∂ t A−∇ 2 ∂ t A 0 + (∇ · A) = −µ0 j, (55)
c c
ρ
∇2 A 0 + ∂ t (∇ · A) = − . (56)
²0
A → A0 = A + ∇Λ, (57)
4
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∇ × A0 = ∇ × (A + ∇Λ) = ∇ × A. (58)
Portanto, vemos que sob a transformação (57), o campo magnético permanece invariante;
B → B0 = B. (59)
Devemos agora encontrar uma transformação para o potencial escalar que mantenha o campo elé-
trico invariante, considerando simultaneamente a transformação (57). Deste modo propomos:
A 0 → A 00 = A 0 − ∂ t Λ. (60)
E → E0 = E. (63)
A 0 → A 00 = A 0 − ∂ t Λ, (64)
0
A → A = A + ∇Λ , (65)
definidas sobre os potenciais A 0 , A, que mantêm os campos E, B, invariantes. Tais transformações não
modificam o cenário físico do campo eletromagnético (representado pelos campos E, B), configurando a
existência da simetria de gauge. Como consequênciada desta simetria, há uma liberdade de gauge
(existência de distintos potenciais A 0 , A representando as mesmas soluções clássicas para o campo ele-
tromagnético - o mesmo cenário físico). Esta liberdade, obviamente, pode ser traduzida como uma
arbitrariedade na definição dos potenciais conectados pelas transformações de calibre. Tal arbitrarie-
dade na definição de vários potenciais precisará ser controlada quando tivermos interesse em encontrar
soluções específicas para os potenciais.
No intuito de restringir a liberdade de gauge é que se torna necessário fixar um gauge ou calibre,
o que significa estabelecer vínculos sobre as componentes dos potenciais A 0 , A, reduzindo o número de
componentes independentes (graus de liberdade da teoria). Vale notar que os campos E e B possuem
juntos 6 componentes, mas nem todas independentes. Cada uma das equações de Maxwell representa
um vínculo sobre as componentes, que reduz uma componente independente do campo eletromagnético.
Portanto são 4 vínculos, e o número de componentes independentes do campo eletromagnético é reduzido
para
6 − 4 = 2, (66)
5
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1
∇·A+ ∂ t A 0 = 0, (67)
c2
que define o chamado calibre de Lorentz, e tem o mérito de ser Lorentz-invariante (invariante sob
as transformações relativísticas para os potenciais A 0 , A). Isto significa que esta condição é escrita na
mesma forma (matemática) em qualquer sistema de referência inercial. Obviamente, esta é a escolha
adequada quando se pretende desenvolver a formulação relativística para o campo eletromagnético.
Adotando tal relação, as equações (55) e (56), definidas no vácuo, assumem a forma típica de equa-
ções de onda, ou seja,
1 2
∇2 A − ∂ A = −µ0 j, (68)
c2 t
1 ρ
∇2 A 0 − 2 ∂2t A 0 = − . (69)
c ²0
Vemos que a condição de Lorentz permite obter formas bem mais simples para as equações de onda
para os potenciais A 0 , A, que se tornam similiares na estrutura diferencial, diferindo apenas pela parte
não-homogênea. Esta é uma outra vantagem desta escolha de fixação de gauge.
Dado que A 0 , A satisfazem a condição de Lorentz, é sempre possível encontrar novos potenciais
A 0 , A0 que também satisfaçam tal condição e que estejam relacionados pelas transformações (57), (60),
0
ou seja,
1
∇ · A0 + 2 ∂ t A 00 = 0. (70)
c
Substituindo as transformações de gauge,
1
∇ · (A + ∇Λ) + ∂ t (A 0 − ∂ t Λ) = 0, (71)
c2
1 1
∇ · A + 2 ∂ t A 0 + ∇2 Λ − 2 ∂2t Λ = 0, (72)
c c
1 1 2
µ ¶
2
∇ · A + 2 ∂t A 0 = − ∇ Λ − 2 ∂t Λ . (73)
c c
Dado que A 0 , A satisfazem a condição de Lorentz (67), resulta
1 2
∇2 Λ − ∂ Λ = 0, (74)
c2 t
sendo esta a equação necessária para que todos os potenciais A 0 , A, ligados pelas transformaçoes de
calibre, satisfaçam a condição de Lorentz. Todos os potenciais A 0 , A restritos pela condição (74) são
ditos pertecentes ao calibre de Lorentz.
• Preserva a covariância de Lorentz das equações, que assim apresentam a mesma forma em todos
os referenciais inerciais; a condição de Lorentz pode ser escrita na forma covariante, ∂µ A µ = 0,
onde A µ = (A 0 /c, A) é o 4-potencial.
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OBS.: A desvantagem de trabalhar neste gauge é que o mesmo não explicita quem são os graus
de liberdade físicos da teoria. De fato: a adoção do gauge de Lorentz não fixa totalmente os potenciais
A 0 , A, uma vez que não elimina a arbitrariedade existente em suas componentes, dado que estabelece
apenas 1 vínculo, eliminando apenas uma componente sobressalente. Para eliminar totalmente esta
arbitrariedade (as duas componentes supérfluas), faz-se necessário fixar mais uma relação entre as
componentes do potencial.
∇ · A = 0, (75)
∇ · A = 0 → k · A = 0, (78)
A = A⊥ + Ak . (79)
Vemos que
¯ ¯
∇ · A = ik · A = i |k| ¯Ak ¯ , (80)
∇ × A = ik × A = ik × A⊥ . (81)
∇ × Ak = ik × Ak = 0, (82)
∇ · A⊥ = ik · A⊥ = 0, (83)
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onde R = (r − r0 ), sendo r0 a posição da densidade de carga. De acordo com o método de Green, a solução
para A 0 é dada pela covolução da função de Green com a parte não homogênea da equação diferencial
(84):
ρ r0 , t
Z µ ¡ ¢¶
0
A 0 (r,t) = G(r − r ) − d 3 r0 , (86)
²0
1
Z
G(r − r0 )ρ r0 , t d 3 r0 .
¡ ¢
A 0 (r,t) = − (87)
²0
Sabemos que a solução da Eq. (85) é
1 1
G(R) = − , (88)
4π |r − r0 |
levando ao resultado usual para o escalar potencial (potencial de Coulomb) obtido no âmbito da eletros-
tática,
Z ¡ 0 ¢
1 ρ r ,t 3 0
A 0 (r,t) = d r. (89)
4π²0 |r − r0 |
Esta solução é chamada de instantânea porque a densidade de carga medida no tempo t implica na
solução para o potencial escalar também no tempo t. Este fato parece indicar uma propagação instantâ-
nea do potencial escalar em todo espaço, o que é um comportamento não físico. Uma maneira de explicar
este cenário é admitindo que o campo A 0 não representa um grau de liberdade propagante da teoria e,
portanto, não representa propagação de sinal eletromagnético.
Podemos rapidamente detalhar o cálculo da função de Green (88):
d3p d 3 p − ip·R
Z Z
− i p· R 3
G (R) = G̃ (p) e , δ (R) = e . (90)
(2π)3 (2π)3
d3p ¡ 2¢
Z
∇2 G(R) = −p G̃ (p) e− ip·R , (91)
(2π)3
A Eq. (85) implica em
d3p ¡ 2¢ d 3 p − i p· R
Z Z
− i p·R
− p G̃ (p) e = e , (92)
(2π)3 (2π)3
d3p £ 2
Z
p G̃ (p) + 1 e− ip·R = 0.
¤
3
(93)
(2π)
Para satisfazer a última equação, deve valer p2 G̃ (p) + 1 = 0, o que implica em:
1
G̃ (p) = − , (94)
p2
de modo que agora podemos calcular a função de Green (90),
d 3 p 1 − ip·R 1
Z
G (R) = − e =− . (95)
(2π) 3 p2 4π R
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Os detalhes deste cálculo estão exibidos a seguir. O elemento de volume no espaço dos momentos é
escrito como d 3 p = p2 d p sin θ d θ d φ, de modo que
R 2π
onde 0 d φ = 2π, devido ao fato do problema não depender da coordenada angular φ. Também foi
usado p · R = pR cos θ , estando o vetor R alinhado com o eixo-z do espaço dos momentos. Observando o
resultado intermediário, Z π
− i ³ i pr ´
d θ sin θ e− i pr cos θ = e − e− i pr , (97)
0 pr
temos:
d 3 p 1 − ip·R ∞ d p − i ³ i pR
Z Z ´
− i pR
e = 2π e − e , (98)
(2π)3 p2 0 (2π)3 pR
o que recai em duas integrais no plano complexo:
d 3 p 1 − ip·R d p e i pR d p e− i pR ∞
Z ∞
1
Z ·Z ¸
e = −i − , (99)
(2π) 3 p2 (2π) R
0 (2π) p 0 (2π) p
Z 3
d p 1 − ip·R 1 i i 1
· ¸
e = − i + = , (100)
(2π)3 p2 (2 π ) R 4 4 (4 π )R
resultado que demonstra a Eq. (95). Neste desenvolvimento, usamos as seguintes integrações no plano
complexo:
∞ d p e i pR i ∞ d p e i pR i
Z Z
= → = , (101)
−∞ 2π p 2 0 2π p 4
∞ dp e− i pR i ∞ d p e− i pR i
Z Z
=− → =− . (102)
−∞ 2π p 2 0 2π p 4
Vamos agora cuidar da eq. (76). Para mostrar que no calibre de Coulomb apenas os graus de liber-
dade transversos se propagam, é preciso demonstrar que a eq. (76) é escrita somente em termos das
componentes A⊥ . Esta equação exibe a complicação de estar acoplada ao potencial A 0 pela presença do
termo ∇∂ t A 0 , que pode ser cancelado pela componente longitudinal da corrente, recaindo numa equação
diferencial totalmente lida em termos das componentes transversais, como veremos a seguir. A corrente
j, assim como o vetor potencial A, pode ser decomposta em duas componentes: uma logitudinal (jk ),
outra transversal (j⊥ ) ao vetor k de propagação do campo, ou seja,
j = j⊥ + jk . (103)
∇ · j = ik · j, (104)
∇ × j = ik × j. (105)
Portanto, é fácil perceber que a componente jk é irrotacional, enquanto a componente é solenoidal, tal
qual ocorre com as componentes Ak e A⊥ , ou seja,
∇ × jk = ik × jk = 0, (106)
∇ · j⊥ = ik · j⊥ = 0. (107)
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1 2 1
∇2 A⊥ − 2
∂ t A⊥ − 2 ∇∂ t A 0 = −µ0 j⊥ − µ0 jk . (108)
c c
Partindo agora da identidade,
∇ × ∇ × j = − ∇2 j + ∇ (∇ · j) , (109)
escrevemos a equação
∇2 j = −∇ × ∇ × j + ∇ (∇ · j) . (110)
A função de Green para a equação acima satisfaz a Eq. (85), sendo dada pela expressão (95). A solução
da Eq. (110), portanto, é
∇0 × j⊥ (r0 )
Z
G(r − r0 ) −∇0 × ∇0 × j(r0 ) + ∇0 ∇0 · j(r0 ) d 3 r0 ,
£ ¡ ¢¤
j(r,t) = (111)
1 1 0
Z
0 0 0 0 0 3 0
j(r,t) = ∇ × ∇ × j(r ) − ∇ ∇ · j(r ) d r , (112)
4π |r − r | 0 | {z } | {z }
0 0
∇0 ×j⊥ (r ) ∇0 ·jk (r )
onde ∇0 atua sobre as coordenadas r0 . Vemos assim que o primeiro termo do lado direito contém uma con-
tribuição transversal, enquanto o segundo termo do lado direito contém uma contribuição longitudinal.
Desta forma, a equação (112) pode ser separada em duas, uma para j⊥ , outra para jk , a saber:
1 1 £ 0
Z
∇ × ∇0 × j(r0 ) d 3 r0 ,
¤
j⊥ (r,t) = (113)
4π | r − r |
0
1 1 £ 0¡ 0
Z
∇ ∇ · j(r0 ) d 3 r0 .
¢¤
jk (r,t) = − (114)
4π | r − r |
0
A componente longitudinal pode ser reescrita, via integração por partes, como
1 1 £ 0¡ 0 1 1
Z Z µ ¶
0
¢¤ 3 0 0
¡ 0 0
¢ 3 0
jk (r,t) = − ∇ ∇ · j(r ) d r = ∇ ∇ · j(r ) d r, (115)
4π |r − r0 | 4π | r − r0 |
como demonstramos a seguir. Neste intento, fazemos uso de uma versão particular do teorema da
divergência, Z Z
¡ ¢ 3
∇ψ d r = ψ n̂dS, (116)
V S
com
1
ψ= ∇0 · j(r0 ). (117)
| r − r0 |
A relação (116) com ψ dado por (117) é escrita como,
1 1
Z µ ¶ Z µ ¶
0
0 0 0 3 0 0 0
∇ 0
∇ · j(r ) d r = 0
∇ · j(r ) n̂dS = 0, (118)
|r − r | S |r − r |
onde supusemos uma superfície S muito distante das fontes, na qual vale j(r0 ) = 0 e ∇0 · j(r0 ) = 0. Com
isto,
1
Z µ ¶
∇0 ∇0
· j(r0
) d 3 r0 = 0. (119)
| r − r0 |
Agora usamos:
1 1
µ ¶ µ ¶
∇0 ψ = ∇0 0 0
∇0 ∇0 · j(r0 ) ,
¡ ¢
0
∇ · j(r ) + 0
(120)
|r − r | |r − r |
10
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1 1
Z µ ¶ Z µ ¶
0 3 0
0 0
∇0 ∇0 · j(r0 ) d 3 r0 = 0,
¡ ¢
∇ 0
∇ · j(r )d r + 0
(121)
|r − r | |r − r |
1 1
Z µ ¶ Z µ ¶
¢ 3 0
0
∇0 · j(r0 )d 3 r0 .
¡ 0 0 0
∇ ∇ · j(r ) d r = − ∇ (122)
|r − r0 | | r − r0 |
Esta última passagem justifica o resultado
1 1
Z µ ¶
∇0 ∇ · j(r0 ) d 3 r0 ,
¡ 0 ¢
jk (r,t) = (123)
4π 0
|r − r |
1 1
µ ¶ µ ¶
∇0 = −∇ , (124)
|r − r0 | | r − r0 |
1 1 1 1
Z µ ¶ Z µ ¶
¡ 0 0
¢ 3 0 ¡ 0 0
¢ 3 0
jk (r,t) = − ∇ ∇ · j(r ) d r = − ∇ ∇ · j(r ) d r, (125)
4π | r − r0 | 4π | r − r0 |
∇ · j(r0 3 0
Z µ 0
1
¶
jk (r,t) = − ∇ d r. (126)
4π | r − r0 |
Substituindo tais resultados na Eq. (108), temos
1 2 1 µ0 ∇0 · j(r0 )
Z ·µ ¶¸
∇2 A⊥ − ∂ t A⊥ − 2 ∇∂ t A 0 = −µ0 j⊥ + ∇ d 3 r0 . (127)
c 2 c 4π |r − r0 |
Podemos agora retomar o termo ∇∂ t A 0 da Eq. (127), que à luz da solução (89), fornece:
∂ t ρ r0 , t 3 0
¡ ¢
1
Z
∇∂ t A 0 (r,t) = ∇ d r. (128)
4π²0 |r − r0 |
∇ · j(r0 ) 3 0
Z 0
1
∇∂ t A 0 (r,t) = − ∇ d r, (129)
4π²0 | r − r0 |
µ0 ∇ · j(r0 ) 3 0
Z 0
1
− 2 ∇∂ t A 0 = ∇ d r. (130)
c 4π | r − r0 |
Vemos assim, claramente, que o termo − c12 ∇∂ t A 0 se cancela com a contribuição da corrente longitudinal
do lado direito da Eq. (127), que então se reduz a:
1 2
∇2 A⊥ − ∂ A⊥ = −µ0 j⊥ . (131)
c2 t
Recuperamos então uma equação de onda para o potencial vetor, similar à equação (68), só que restrita
às componentes transversas de A e j, que representam os dois graus de liberdade físicos da teoria. O
fato desta equação de onda estar escrita apenas para a componente transversal A⊥ significa que apenas
os graus de liberdade transversais se propagam (representam graus de liberdade independentes) nesta
teoria.
Note que o potencial A 0 não representa grau de liberdade propagante, enquanto a componente lon-
¡ ¢
gitudinal é nula Ak = 0 , restando apenas as componentes transversais como graus de liberdade propa-
gantes.
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∇ · E + M 2A A 0 = ρ /²0 , (132)
∇ × B − µ0 ²0 ∂ t E = − M 2A A + µ0 j, (133)
∇ × E = −∂ t B, (134)
∇ · B = 0. (135)
onde a massa do fóton é M A (massa de Proca para o fóton). (a) Partindo das equações de Maxwell,
encontre as equações de onda para o fóton massivo. (b) Usando o método de Green, encontre a solução
do potencial escalar para o fóton massivo.
Solução: (a) A equação de onda para o campo E pode ser obtida a partir da aplicação do operador
rot sobre a lei de Faraday, e B estão dadas por
∇ (∇ · E) − ∇2 E + ∂ t ∇ × B = 0. (136)
Da Eq. (7), temos: ∂ t ( ∇ × B) = − M 2A ∂ t A + µ0 ²0 ∂2t E + µ0 ∂ t j. Substituindo na Eq. (15), temos:
∇ (∇ · E) − ∇2 E − M 2A ∂ t A + µ0 ²0 ∂2t E + µ0 ∂ t j = 0, (137)
∇ ρ − M 2A A 0 − ∇2 E + µ0 ²0 ∂2t E − M 2A ∂ t A = −µ0 ∂ t j,
¡ ¢
(138)
2
−∇ E + µ0 ²0 ∂2t E − M 2A (∇ A 0 + ∂ t A) = −∇ρ /²0 − µ0 ∂ t j, (139)
1 2
µ ¶
∂ E − ∇ E + M 2A E = −∇ρ /²0 − µ0 ∂ t j,
2
(140)
c2 t
+ M 2A E = −∇ρ /²0 − µ0 ∂ t j.
¡ ¢
(141)
Da mesma forma, podemos obter uma equação de onda para setor magnético. Tomando o rotacional da
lei de Ampere (133),
−∇2 B + ∇ (∇ · B) − µ0 ²0 ∂ t (∇ × E) = − M 2A ∇ × A + µ0 ∇ × j, (142)
−∇ B + µ0 ²0 ∂2t B = − M 2A B + µ0 ∇ × j,
2
(143)
¡ 2
−∇ B + µ0 ²0 ∂2t B + M 2A B = µ0 ∇ × j,
¢
(144)
+ M 2A B = ∇ × j.
¡ ¢
(145)
+ M 2A B = µ0 ∇ × j,
¡ ¢
(146)
+ M 2A E = −∇ρ /²0 − µ0 ∂ t j,
¡ ¢
(147)
12
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sendo compatíveis com as as seguintes equações de onda para os potenciais escalar e vetor:
+ M 2A A 0 = ρ /²0 ,
¡ ¢
(148)
+ M 2A A = µ0 j.
¡ ¢
(149)
Tal compatibilidade pode ser verificada da seguinte forma: aplicando o rotacional na Eq. (149), obtemos
a Eq. (146); aplicando o gradiente na Eq. (148) e somando com a derivada temporal da Eq. (149),
obtemos a Eq. (147).
Na sua forma estática, as Eqs. (148) e (149) são lidas como:
¡ 2
−∇ + M 2A A 0 = ρ /²0 ,
¢
(150)
¡ 2
−∇ + M 2A A = µ0 j.
¢
(151)
Vamos usar o método de Green para solucionar tais equações, iniciando pela equação para o potencial
escalar:
¡ 2
∇ − M 2A A 0 = −ρ /²0 .
¢
(152)
Partimos das relações (88), de tal modo que temos:
d3p ¡ 2 d 3 p − i p· R
Z Z
2 − i p·R
¢
−p − M A G̃ (p) e = e , (153)
(2π)3 (2π)3
d3p £ ¡ 2
Z
− p + M 2A G̃ (p) − 1 e− ip·R = 0,
¢ ¤
3
(154)
(2π)
Para satisfazer a última equação, deve valer p2 + M 2A G̃ (p) = −1, o que implica em:
£ ¤
1
G̃ (p) = − . (155)
p2 + M 2A
A função de Green (90) é dada por:
d3p 1
Z
G (R) = − e − i p· R . (156)
3
(2π) p2 + M 2A
Os detalhes deste cálculo estão exibidos a seguir. O elemento de volume no espaço dos momentos é
escrito como d 3 p = p2 d p sin θ d θ d φ, de modo que
p d p sin θ e− i pR cos θ
Z 3 Z 2π Z π Z ∞ 2 Z π
p2
Z ∞
d p 1 dp
e − i p·R
= d φ d θ = d θ sin θ e− i pR cos θ .
(2π)3 p2 + M 2A 0 0 0 (2π)
3 p2 + M 2A 2
0 (2π) p2 + M A 0
2
(157)
R 2π
onde 0 d φ = 2π, devido ao fato do problema não depender da coordenada angular φ. Também foi
usado p · R = pR cos θ , estando o vetor R alinhado com o eixo-z do espaço dos momentos. Observando o
resultado intermediário, Z π
− i ³ i pr ´
d θ sin θ e− i pr cos θ = e − e− i pr , (158)
0 pr
temos:
Z 3
d p e− ip·R −1 i ∞ pd p ³ i pR
Z ´
− i pR
= e − e , (159)
(2π)3 p2 + M 2A (2π)2 R 0 p2 + M 2A
d3p e− ip·R pe i pR d p
Z ∞ Z ∞ − i pR
i
−1 pe dp
Z
= − , (160)
(2π)3 p2 + M 2A (2π)2 R 0 p2 + M 2A p2 + M 2A
0
| {z } | {z }
I1 I2
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Precisamos agora resolver as integrais no plano complexo, onde o momento p agora é uma variável
complexa, escrevemos: p = Re(p) + i Im(p). Vamos iniciar com a seguinte integral:
pe i pR d p pe i pR d p
Z ∞ Z ∞
I1 = = , (161)
0 p2 + M 2A 0 (|p| + iM A ) (|p| − iM A )
onde p2 + M 2A = (|p| + iM A ) (|p| − iM A ) . Portanto, temos dois pólos no eixo imaginário do plano complexo:
|p| = − iM A e |p| = iM A . Identificados polos, vamos propor a equivalência da integral I 1 com a seguinte
integral no plano complexo:
pe i pR d p
I
I 1C = , (162)
(|p| + iM A ) (|p| − iM A )
C
onde C 1 é um contorno em forma de semi-círculo que abarca todo eixo real da variável p, sendo fechado
por cima (pela parte superior do plano complexo). Vide a Fig. (1-a).
Figura 1: Contornos de integração (a) e (b) para as integrais complexas (162) e (168).
É importante justificar por qual razão o contorno C 1 precisa ser fechado por cima, não por baixo.
Para isto, lembramos que p = Re(p) + i Im(p), o que implica:
Portanto, se o cortono C 1 tiver um grande raio R, os valores da parte imaginária de p são elevados,
Im(p) >> 1, o que leva a exponencial a zero, e− Im( p) → 0, apenas se Im(p) > 0 (o que ocorre na parte
superior do plano complexo). Com e− Im( p) → 0 ocorre a anulação da integração complexa ao longo da
parte circular do caminho C 1 , restando apenas a contribuição sobre o eixo real - Re (p), estabelecendo a
equivalência entre as integrais I 1 e I 1C , dadas em (??) e (??). Dado tal equivalência, escrevemos:
pe i pR d p pe i pR d p
Z ∞ I
= . (164)
−∞ (|p| + iM A ) (|p| − iM A ) (|p| + iM A ) (|p| − iM A )
C
pe i pR d p pe i pR d p
I · ¸
= (2π i) Res . (165)
(|p| + iM A ) (|p| − iM A ) (|p| + iM A ) (|p| − iM A ) |p|= iM A
C1
Como apenas o polo |p| = iM A está dentro do contorno C 1 , vide Fig. (1-a), o resíduo é calculado apenas
para este polo:
pe i pR d p iM A e− M A R e− M A R
· ¸ · ¸
Res = = , (166)
(|p| + iM A ) (|p| − iM A ) |p|= iM A (2iM A ) 2
14
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pe i pR d p e− M A R
I
= (2π i) = i π e− M A R . (167)
(|p| + iM A ) (|p| − iM A ) 2
C1
Temos os mesmos dois pólos no eixo imaginário do plano complexo: |p| = − iM A e |p| = iM A . Identificados
os polos, vamos propor a equivalência da integral I 2 com a seguinte integral no plano complexo:
pe− i pR d p
I
I 2C = , (169)
(|p| + iM A ) (|p| − iM A )
C2
onde C 2 é um contorno em forma de semi-círculo que abarca todo eixo real da variável p, sendo fechado
por baixo (pela parte infeior do plano complexo), pela mesma razão que o contorno C 1 da integral I 1C é
fechado por cima. É importante justificar por qual razão o contorno C 2 precisa ser fechado por baixo, e
não por cima. Para isto, lembramos que p = Re(p) + i Im(p), o que implica:
Portanto, se o cortono C 2 tiver um grande raio R e Im(p) << 1, decorre eIm( p) → 0. Note isto só se realiza
se Im(p) < 0 (válido na parte inferior do plano complexo). Deste modo, a integração complexa ao longo
da parte circular do caminho C 2 torna-se nula, restando apenas a integral sobre o eixo real. Vide Fig.
(1-b). Este procedimento estabelece a equivalencia entre as integrais I 2 e I 2C , ou seja,
∞ pe− i pR d p pe− i pR d p
Z I
= . (171)
−∞ (|p| + iM A ) (|p| − iM A ) (|p| + iM A ) (|p| − iM A )
C2
pe− i pR d p pe− i pR d p
I · ¸
= (−2π i) Res , (172)
(|p| + iM A ) (|p| − iM A ) (|p| + iM A ) (|p| − iM A ) |p|=− iM A
C1
onde o sinal negativo em (−2π i) advém do sentido horário de circulação da integral complexa (o sentido
de circulação foi revertido para preserva a integração ao longo do sentido crescente do eixo Re (p)). Como
apenas o polo |p| = − iM A está dentro do contorno C 2 , o resíduo é calculado somente para este polo:
pe− i pR d p − iM A e− M A R e− M A R
· ¸ · ¸
Res = = , (173)
(|p| + iM A ) (|p| − iM A ) |p|=− iM A (−2iM A ) 2
pe i pR d p e− M A R
I
= (−2π i) = − i π e− M A R . (174)
(|p| + iM A ) (|p| − iM A ) 2
C1
d3p e − i p· R −1i iπ −M A R iπ −M A R 1 π e− M A R
Z · µ ¶¸
= e − − e = , (175)
(2π)3 p2 + M 2A (2π)2 R 2 2 (2π)2 R
d3p e− ip·R 1 e− M A R
Z
= , (176)
(2π)3 p2 + M 2A 4π R
o que leva à seguinte função de Green estática para a eletrodinâmica de Proca:
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1 e− M A R
G (R) = − . (177)
4π R
Considerando a Eq. (152), temos:
Z Ã 0
!µ
ρ r0 , t 1 e− M A |r−r | ρ r0
Z µ ¡ ¢¶ ¡ ¢¶
3 0
A 0 (r) = 0
G(r − r ) − d r = − − d 3 r0 , (178)
²0 4π | r − r 0 | ²0
Z − M A |r−r0 |
1 e
ρ r0 d 3 r0 .
¡ ¢
A 0 (r) = (179)
4π²0 0
|r − r |
Para uma carga pontual, ρ r = qδ r − r0 , temos:
¡ 0¢ ¡ 0 ¢
0 0
1 e− M A |r−r | ¡ 0 ¢ 3 q e− M A |r−r | ¡ 0
Z Z
qδ r d r = qδ r − r0 d 3 r0 .
¢
A 0 (r) = (180)
4π²0 0
|r − r | 4π²0 0
|r − r |
q e− M A |r−r0 |
A 0 (r) = . (181)
4π²0 |r − r0 |
Para carga fonte na origem, r0 = 0, temos simplesmente:
q e− M A r
A 0 (r) = . (182)
4π²0 |r|
O campo elétrico correspondente, E = −∇ A 0 , é dado a seguir:
µ −M A r
q e e− M A r
¶
E (r) = − r̂ − M A r̂ , (183)
4π²0 r2 r
q e− M A r
E (r) = − (1 + M A r) r̂. (184)
4π²0 r2
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Substituindo tais expressões na Eq. (185), encontramos a equação não homogênea de Helmholtz,
¡ 2
∇ + k2 Ψ(r, ω) = f (r, ω),
¢
(190)
onde k = ω/c é o vetor de onda. A função de Green espacial para a Eq. (190) satisfaz a mesma estrutura
diferencial desta equação, ou seja,
¡ 2
∇ + k2 G(r, r0 ) = δ(r − r0 ).
¢
(191)
Na ausência de superfícies de contorno, sabemos que função de Green só pode depender do vetor relativo
r − r0 , ou seja, G(r, r0 ) = G(r − r0 ), devendo ser esfericamente simetrica. Assim, reescrevemos:
¡ ¢
¡ 2
∇ + k2 G(R) = δ(R).
¢
(192)
Uma maneira mais direta de solucionar a Eq. (185) é escrevendo diretamente a equação diferencial
para a função de Green completa correspondente, G(r, r0 ; t, t0 ), generalizada para espaço e tempo. Para
a função de Green G(r, r0 ; t, t0 ) escreve-se uma equação com a mesma estrutura diferencial da Eq. (185),
ou seja,
1
µ ¶
∇2 − 2 ∂2t G(r, r0 ; t, t0 ) = δ(r − r0 )δ(t − t0 ), (193)
c
1
µ ¶
∇2 − 2 ∂2τ G(R; τ) = δ3 (R)δ(τ), (194)
c
onde R = r − r0 , τ = t − t0 . Note agora que a função de Green é uma função tanto da posição quanto do
tempo. A solução para Ψ(r, t) é dada por uma dupla convolução no espaço e no tempo da função de
Green com a funçao não homogênea, ou seja:
Z Z
Ψ(r, t) = G(R; τ) f (r0 , t0 )dt0 d 3 r0 . (195)
d3p dω
Z Z
G (R, τ) = G̃ (p,ω) e− ip·R e− iωτ , (196)
(2π) 3(2π )
d 3 p − ip·R d ω − iωτ
Z Z
δ3 (R) = e , δ (τ ) = e . (197)
(2π) 3 (2π)
d3p dω £
Z Z
G̃ (p,ω) −p2 + k2 − 1 e− ip·R e− iωτ = 0,
¡ ¢ ¤
(200)
(2π) 3 (2π)
1 1
G̃ (p,ω) = ¡ ¢ = −¡ ¢, (201)
−p2 + k2 p − k2
2
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d ω − iωτ d3p e − i p· R
Z Z
G (R, τ) = − e ¢. (202)
(2π) (2π)3 p2 − k2
¡
d3p 1 1 e−mR
Z
− i p·R
e = , (203)
(2π)3 p2 + m2 4π R
d3p 1 1 e± ikR
Z
− i p·R
e = , (204)
(2π)3 p2 − k2 4π R
encontramos:
d ω − i ω (τ ∓ R / c ) 1 1
Z
e =− δ (τ ∓ R/c) , (207)
(2π) (4π) R
obtemos:
1 δ (τ ∓ R/c)
G (±) (R, τ) = − . (208)
(4π) R
Lembrando que R = r − r0 , τ = t − t0 , escrevemos:
|r−r0 |
³h i ´
1 δ t∓ c − t0
G (±) (R, τ) = − . (209)
(4π) | r − r0 |
A função G (+) (R, τ) é a chamada função de Green de retardada, enquanto G (−) (R, τ) é a chamada
função de Green de avançada. A função de Green retardada desempenha um papel físico importante
no que tange aos aspectos deicausalidade na transmissão da informação do campo eletromagnético.
|r−r0 |
³h ´
Note que a função δ t − c 0
− t , quando integrada no tempo, implicará em contribuições não nulas
apenas para
¯ r − r0 ¯ ¸
· ¯ ¯
0
t = t− , (210)
c
onde se nota que a defasagem temporal entre t e t0 é exatamente o tempo que ¯ a luz¯ leva para se propagar
¡ 0¢ 0¯
da localizaçao da fonte r ao ponto de medida do campo (r) , dado por r − r /c. Portanto, a função
¯
de Green retardada incorpora em seu interior a noção do tempo de propagação da informação física,
elemento fundamental em uma boa teoria de campos.
No cálculo das transformadas (203) e (204), usamos d 3 p = p2 d p sin θ d θ d φ, ou seja,
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e o resultado intermediário
Z π i ³ i pR ´
d θ sin θ e− i pR cos θ = − e − e− i pR . (213)
0 pR
Considerando as equações de onda escritas no gauge de Lorentz,
1 2
∇2 A − ∂ A = −µ0 j, (214)
c2 t
1 ρ
∇2 A 0 − 2 ∂2t A 0 = − . (215)
c ²0
para as quais a função de Green associada é a função retardada, podemos escrever suas soluções como
1
Z
A 0 (r, t) = − G (+) (R, τ) ρ (r0 , t0 )dt0 d 3 r0 , (216)
²0
Z
A(r, t) = −µ0 G (+) (R, τ) j(r0 , t0 )dt0 d 3 r0 . (217)
o tempo gasto pela onda eletromagnética (propagação de sinal) para propagar-se da posição da fonte (r0 )
para o ponto onde o ponto os campos são avaliados (r).
19
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1 ∇0 ρ (r0 , t0 )
Z Z µ ¶
E(r, t) = − G (+) (R, τ) µ0 ∂ t0 j(r0 , t0 ) + dt0 d 3 r0 , (227)
(4π) ²0
0 i
Z Z δ t − |r−r | − t0 µ
³h ´
1 ∇0 ρ (r0 , t0 )
¶
c
E(r, t) = − 0
0 0
µ0 ∂ t j(r , t ) + dt0 d 3 r0 , (228)
(4π) | r − r0 | ²0
1 1 ¡
Z
0 0 0
¢ 3 0
E(r, t) = − µ 0 ² 0 ∂ t j(r , t R ) + ∇ ρ (r , t R ) d r, (229)
(4π) ²0 |r − r0 | R
ou equivalentemente:
1 1 1
Z · ¸
E(r, t) = − ∂ t 0 j(r0 0
, t ) + ∇0
ρ (r0 0
, t ) d 3 r0 , (230)
(4π) ²0 |r − r0 | c2 ret
1 1 1 £
Z ½ ¾
∇ ρ (r , t ) ret + 2 ∂ t j(r , t ) ret d 3 r0 ,
£ 0 0 0
¤ 0 0
¤
E(r, t) = − 0 (231)
(4π) ²0 |r − r0 | c
onde []ret designa que termo entre colchetes deve ser avaliado no tempo retardado, t0 = t R = t − ¯r − r0 ¯ /c.
¯ ¯
É possível reapresentar as soluções acima calculando os termos ∇ ρ (r0 , t0 ) ret e ∂ t0 j(r0 , t0 ) ret . Inici-
£ 0 ¤ £ ¤
∂ ∂ ∂ ∂ t0
µ ¶ · ¸
= [] −
i 0 ret
, (233)
∂ x i0 ret ∂x ∂ t0 ret ∂ x i0
∂ρ
· ¸
¡ 0 ¢ 0 0
∇ ρ ret = ∇ ρ ret − ¯r − r0 ¯ /c .
£ ¤ ¡ ¯ ¯ ¢
∇ t − (234)
∂ t0 ret
Explicitando a derivação em relação a uma coordenada x i0 , temos:
∂ t − ¯r − r0 ¯ /c
¡ ¯ ¯ ¢
∂ρ ∂ t0 ∂ρ
· ¸
¡ 0 ¢i ¡ 0 ¢i 0i
∇ ρ = ∂0i ρ (r0 , t0 ) − 0 i0 ∇ ρ = ∇ ρ ret −
£ ¤
→ , (235)
∂t ∂x ∂ t0 ret ∂ x i0
Calculando o gradiente do tempo t0 :
¯i
∂ t − ¯r − r0 ¯ /c 1 ∂ ¯r − r0 ¯ 1 ¯r − r0 ¯
¡ ¯ ¯ ¢ ¯¢ ¯
1 Ri
¡¯
∂ t0
= =− = = , (236)
∂ x i0 ∂ x i0 c ∂ x i0 c | r − r0 | c | R|
Esse resultado é
R̂
∇0 t − ¯r − r0 ¯ /c = ∇0 (t R ) = .
¡ ¯ ¯ ¢
(237)
c
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Assim temos:
¡ 0 £ ¤ ¢ i 1 ∂ρ Ri
· ¸
£ 0 ¤i
∇ ρ ret = ∇ ρ ret − , (238)
c ∂ t0 ret |R|
∂ρ
· ¸
£ 0 ¤ 0 R̂
∇ ρ ret = ∇ ρ ret −
£ ¤
. (239)
∂ t0 ret c
1 1 ∂ρ R̂ 1 £
Z · · ¸ ¸
0
∇ ρ ret − ∂ t0 j(r , t ) ret d 3 r0 ,
0 0
£ ¤ ¤
E(r, t) = − + (240)
(4π) ²0 |R| ∂ t0 ret c c2
∇0 ρ ret
Z " £ ¤ #
1 ∂ρ 1 £
· ¸
R̂
∂ t0 j(r , t ) ret d 3 r0 .
0 0
¤
E(r, t) = − + − (241)
(4π) ²0 R ∂ t0 ret cR c2 R
0 i
Z Z δ t − |r−r | − t0
³h ´
1 c
−µ0 ∇0 × j(r0 , t0 )dt0 d 3 r0 ,
¡ ¢
B(r, t) = − (246)
(4π) 0
|r − r |
µ0
Z 0
∇ × j(r0 , t R ) 3 0
B(r, t) = d r, (247)
(4π) | r − r0 |
Z £ 0
∇ × j(r0 , t0 ) ret 3 0
¤
µ0
B(r, t) = d r. (248)
(4π) |r − r0 |
Realizando procedimentos similares, decorre:
µ0
Z ½ µ ¶ ¾
R̂ R̂
d 3 r0 .
£ 0 0¤ 0 0
+ ∂ t j(r , t ) ret ×
£ ¤
B(r, t) = j(r , t ) ret × 0 (249)
π
(4 ) R 2 R c
Esta é equação de Jefimenko para o campo magnético, correspondente à generalização da lei de Biot-
Savart para o caso em que a densidade de corrente apresenta variação temporal. Note que a condição
∂ t0 j(r0 , t0 ) = 0 reduz essa solução à lei estática de Biot-Savart:
µ0 j(r0 ) × R̂ 3 0
Z µ ¶
B(r, t) = d r. (250)
(4π) R2
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1 ρ (r0 , t0 ) 3 0 1 ∇ρ (r0 , t0 ) 1
Z µ ¶ Z µ µ ¶¶
∇ A 0 (r, t) = ∇ d r = 0 0
+ ρ (r , t )∇ d 3 r0 . (252)
(4π) ²0 |r − r0 | (4π) ²0 | r − r0 | |r − r0 |
1 (r − r0 )
µ ¶ µ ¶
R R̂
∇ 0
= − 3
=− 3 =− 2, (253)
|r − r | |r − r0 | | R| |R|
∂ρ ∂ρ
· ¸ · ¸ µ ¶
0 0 0¯ R̂
∇ρ (r , t ) =
¯ ¯ ¢ ¡
∇ t − r − r /c = −
¯ , (254)
∂ t ret
0 ∂ t ret c
0
onde usamos
R̂
∇ (t R ) = ∇ t − ¯r − r0 ¯ /c = − .
¡ ¯ ¯ ¢
(255)
c
¯b
∂ t − ¯r − r0 ¯ /c 1 ∂ ¯r − r0 ¯ 1 ¯r − r0 ¯
¡ ¯ ¯ ¯¢ ¯
1 Rb
¢ ¡¯
b ∂ t0
∇ (t R ) = ∂b t R = b = = − = − = − . (256)
∂x ∂xb c ∂xb c |r − r0 | c |R|
1 ∂ρ
Z µ · ¸ ¶
R̂ 0 0 R̂
∇ A 0 (r, t) = − − ρ (r , t ) d 3 r0 , (257)
(4π) ²0 ∂ t0 ret cR R2
1 1 ∂ρ ρ (r0 , t0 ) R̂ 3 0
Z µ · ¸ ¶µ ¶
∇ A 0 (r, t) = − + d r. (258)
(4π) ²0 c ∂ t0 ret R R
Podemos agora calcular a derivada temporal do potencial vetor, dado na Eq. (222), que é encontrada
derivando apenas no numerador:
µ0 ∂ t j(r0 , t R ) 1 ∂ t j(r0 , t R )
Z Z
∂ t A(r, t) = d 3 r0 = d 3 r0 . (259)
4π |r − r0 | 4π²0 c2 |r − r0 |
Substituindo os resultados na Eq. (251),
1 ∂ρ 1 ∂ t j(r0 , t R ) 3 0
Z µ· ¸ ¶
R̂ 0 0 R̂
Z
3 0
E(r, t) = + ρ (r , t ) d r − d r, (260)
(4 ) ²0
π ∂ t0 ret cR R 4π²0 c2 | r − r0 |
1 ∂ρ R̂ ∂ t j(r0 , t R ) 3 0 3 0
Z µ· ¸ ¶
R̂ 0
E(r, t) = + ρ (r , t R ) 2 − d r d r. (261)
(4π) ²0 ∂ t0 ret cR R c2 R
Por sua vez, o campo magnético está dado por:
µ0
µ 0
j(r , t R ) 3 0 µ0 ∇ × j(r0 , t R ) 1
Z ¶ Z µ µ ¶ ¶
0 3 0
∇ × A(r, t) = ∇× d r = + ∇ × j(r , t R d r,
) (263)
4π |r − r0 | 4π |r − r0 | |r − r0 |
22
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uma vez que ∇ × (φj) = φ(∇ × j) + ∇φ × j. Vamos agora calcular ∇ × j(r0 , t R ), ou seja,
¤a
∇ × j(r0 , t R ) = ²abc ∂b j c (r0 , t R )
£
(264)
µ ¶b
R̂
∂b j c = ∂ t R j c (∂b t R ) = ∂ t R j c − , (266)
c
µ ¶b µ ¶b
¤a R̂ R̂
∇ × j(r0 , t R ) = ²abc ∂ t R j c − = −²abc ∂tR jc ,
£
(267)
c c
¸ ¶a ·· µ ¶¸a
∂j(r0 , t R ) ∂j(r0 , t R )
µµ ¶ · ¸
£ 0
¤a R̂ R̂
∇ × j(r , t R ) = − × = × , (268)
c ∂t ret ∂t ret c
∂j(r0 , t R )
· ¸ µ¶
0 R̂
∇ × j(r , t R ) = × . (269)
∂t ret c
Substituindo esses resultados na Eq.(263), obtemos:
µ0 ∂j(r0 , t R )
Z µ· ¸ ¶
R̂ R̂
∇ × A(r, t) = × − × j(r , t R ) d 3 r0 ,
0
(270)
4π ∂ t0 ret cR |R|2
implicando em:
µ0
Z µ ¶
R̂ R̂
∂ t0 j(r0 , t R ) ret × + j(r0 , t R ) × 2 d 3 r0 ,
£ ¤
B(r, t) = (271)
4π cR R
mesmo resultado obtido anteriormente.
5 Potenciais de Lienard-Wiechert.
Vamos agora determinar como podemos usar os resultados já alcançados para obter os potenciais escalar
e vetor de uma carga pontual em movimento. Neste contexto, seja r0 o vetor que designa a posição de
uma carga pontual, q, que se desloca com velocidade v, onde v = dr0 /dt. As densidades de carga e
corrente associadas são dada por distribuições tipo delta de Dirac centradas sobre a carga:
ρ (r0 , t0 ) = qδ3 r0 − r0 ,
¡ ¢
(272)
j(r0 , t0 ) = qvδ3 r0 − r0 ,
¡ ¢
(273)
|r−r0 |
³h i ´
Z Z δ t− − t0
1 c
qδ3 r0 − r0 dt0 d 3 r0 ,
¡ ¢
A 0 (r, t) = (274)
(4π) ²0 |r − r0 |
Integrando primeiramente em d 3 r0 , temos:
|r−r0 ( t0 )|
³h i ´
Z δ t− − t0
q c
A 0 (r, t) = dt0 . (275)
(4π) ²0 |r − r0 (t0 )|
23
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dR dr0 dR
=− 0 → = −v. (276)
dt0 dt dt0
Temos agora que ¯realizar a integral em dt0 , observando que a delta de Dirac somente contribuirá quando
0
t = t − r − r0 (t0 )¯ /c , o que levaria a escrever o vetor posição r0 (t0 ) em função dele mesmo:
£ ¯ ¤
¯
Uma forma de contornar esta dificuldade é fazendo uma mudança de coordenada, t0 → t00 , onde:
¯r − r0 (t0 )¯
¯ ¯
00 0
t = t −t+ , (278)
c
o que leva a
1 dR 0 1 dR
· ¸
dt00 = dt0 + dt = dt 0
1 + , (279)
c dt0 c dt0
p
Sabendo que R = R · R, decorre
dR 1 d 2 d
µ ¶
R
0
= 0
(R · R) = 0
R · R = −v · = −v · R̂, (280)
dt 2R dt 2R dt R
1
· ¸
00 0
dt = dt 1 − v · R̂ . (281)
c
Note que R̂ é o vetor unitário na direção e sentido do vetor R = r − r0 . Fazendo estas substituições na
expressão (275), escrevemos:
δ − t00
¡ ¢
q dt00
Z
A 0 (r, t) = ¤, (282)
(4π) ²0 |r − r0 (t0 )| 1 − 1 v · R̂
£
c
cujo resultado é
q 1
A 0 (r, t) = , (283)
(4π) ²0 κ |r − r0 (t ret )|
tendo
1
· ¸
κ = 1 − v · R̂ = 1 − β · R̂ ,
£ ¤
(284)
c
| r − r0 |
t ret = t − , (285)
c
onde β = v/c. No que concerne ao potencial vetor, dado pela Eq. (221), o mesmo pode ser especificado
para uma carga pontual em movimento usando-se a densidade de corrente (273), levando a
|r−r0 |
³h i ´
Z Z δ t− − t0
µ0 c
δ3 r0 − r0 dt0 d 3 r0 ,
¡ ¢
A(r, t) = qv (286)
4π |r − r0 |
³h i ´
Z δ |r−r0 |
µ0 t− c − t0
A(r, t) = qv dt0 . (287)
4π |r − r0 (t0 )|
24
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A solução para Eq. (287) é obtida seguindo a mesma prescrição do potencial escalar:
µ0 qv
A(r, t) = , (288)
(4π) κ |r − r0 (t ret )|
µ0 j
A(r, t) = , (289)
(4π) κ |r − r0 (t ret )|
with j = qv. As expressões (283), (288) são conhecidas como potenciais de Lienard-Wiechert, originados
por cargas pontuais em movimento. Note que no cálculo dos potenciais A 0 , A, no ponto r, e instante t,
contribui a carga fonte localizada no ponto r0 (t ret ), no instante retardado, t ret = t − |r − r0 | /c.
Nesta seção pretendemos construir soluções de campo elétrico e magnético associadas com os potenciais
(283), (288).
Seção em construção....
___________________
(2) Problema resolvido: Considere a equação de onda homogênea, ∇2 A−µσ∂ t A = 0, que pelo método
de Green proporciona a seguinte solução A(r, t) = d 3 r0 G (R,t) A(r, 0), sendo A(r, 0) a configuração
R
d3p p2 t
Z µ ¶
− i p·R
G (R,t) = e exp − , (291)
(2π)3 µσ
d3p dω i µσ
Z Z
G (R,t) = − e− ip·R e− iω t , (295)
(2π) 3 (2π) ip + µσω
2
d 3 p − ip·R +∞ d ω e− iω t
Z Z
G (R,t) = − i e , (296)
(2π)3 −∞ (2π) ω + ip /µσ
2
25
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Figura 2: Contorno de integração no plano complexo de ω, onde no caso ² = p2 /µσ representa o pólo no
plano inferior.
A integral em d ω apresenta um pólo simples em ω = − ip2 /µσ, situado no plano complexo inferior. Veja
Fig. (2).
Vamos calcular a integral (296), fechando o contorno pelo plano complexo inferior de ω− onde Re (ω) <
0, e circulando em sentido horário. Usando o teorema dos resíduos, encontramos:
+∞ dω e− iω t 1 e− iω t
Z · ¸
= (−2π i ) Res (297)
−∞ (2π) ω + ip2 /µσ (2π) ω + ip2 /µσ ω=− ip2 /µσ
+∞ dω e− iω t p2
Z
− i (− i p2 /µσ) t − µσ t
= − ie = − ie . (298)
−∞ (2π) ω + ip2 /µσ
Continuando:
d3p p2
Z
− µσ t
G (R,t) = − 3
e− ip·R e
. (299)
(2π)
OBS.: Como o contorno foi fechado por baixo, temos que exigir t > 0 para que o produto Re (ω) t
seja negativo e a integral se anule no círculo inferior. Se o contorno fosse fechado por cima, isto seria
compatível com t < 0, e teríamos resultado nulo G (R,τ) = 0, uma vez que não há polos no plano complexo
superior. Portanto, o resultado completo, que reflete estas duas informações, deve incluir a função
degrau:
d 3 p − ip·R − pµσ2 t
Z
G (R,t) = − e e Θ (t) . (300)
(2π)3
Vamos agora resolver a integração angular:
Z 2 µZ π
p d p − pµσ2 t
¶
− i pR cos θ
G (R,t) = −Θ (t) e d θ sin θ e , (301)
(2π)2 0
Z 2
p d p − pµσ2 t i ³ i pR
µ ´¶
− i pR
G (R,t) = −Θ (t) e − e − e , (302)
(2π)2 pR
Θ (t) i ∞ − pµσ2 t ³ i pR
Z ´
− i pR
G (R,t) = pe e − e d p. (303)
(2π)2 R 0
onde usamos a expressão (213). Reagrupando:
Θ (t) i ∞ ³ −αp2 + i pr
Z ´
−αp2 − i pr
G (R,t) = p e − e d p. (304)
(2π)2 R 0
onde α = t/µσ. Podemos fazer:
26
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Observe que a função G (R,t) tem a largura de uma gaussiana centrada em R = 0. Em t = 0, esta
largura é nula, indicando G (R,0) = 0, ausência de propagação de sinal. Para t > 0, esta largura torna-se
não-nula, G (R,0) 6= 0, indicando propagação de sinal para R 6= 0− distâncias além da fonte.
corrente, j = ρ v, a taxa de realização de trabalho (potência) sobre as mesmas é possível definir uma
densidade (volumétrica) de força de Lorentz,
f = ρE + j × B ,
¡ ¢
(316)
tal que F = fd 3 r. Note que o trabalho (por unidade de tempo) da força elétrica agora pode ser escrito
R
como ρ E · vd 3 r = E · ρ v d 3 r, ou seja,
R R ¡ ¢
dW
Z
= (E · j) d 3 r. (317)
dt
27
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O trabalho por unidade de tempo sobre as cargas, dado na expressão (317), é realizado às custas da
energia acumulada no campo eletromagnético, obviamente. Note que (E · j) designa trabalho por uni-
dade de tempo por unidade de volume sobre as cargas. Portanto, à medida que o trabalho é realizado, a
energia acumulada no campo eletromagnético é reduzida. Este é o conceito encontrando no teorema de
Poynting, que pode ser formalizado adequadamente usando as equações conhecidas.
Usando a identidade,
∇ · (E × H) = H · (∇ × E) − E · (∇ × H) , (319)
e a equação ∇ × E = −∂ t B, temos
∇ · (E × H) = −H · (∂ t B) − E · (∇ × H) , (320)
E · (∇ × H) = −H · (∂ t B) − ∇ · (E × H) . (321)
Para meios lineares e sem dispersão, sabemos que os parâmetros µ, ² são independentes da posição,
do tempo, e da frequência da onda, de modo que:
1
∂ t (H · B) = (∂ t H) · B + H · (∂ t B) = 2H · (∂ t B) → H · (∂ t B) = ∂ t (H · B) ,
2
1
∂ t (E · D) = (∂ t E) · D + E · (∂ t D) = 2E · (∂ t D) → E · (∂ t D) = ∂ t (E · D) .
2
1
Z Z µ ¶
(E · j) d 3 r = −∇ · (E × H) + ∂ t [H · B + E · D] d 3 r, (323)
2
1
Z Z Z
(E · j) d 3 r = − ∇ · (E × H) d 3 r − ∂ t [H · B + E · D] d 3 r. (324)
2
De estudos anteriores, sabemos que a energia acumulada no setor elétrico do campo é dada por 12 [E · D] d 3 r,
R
1
Z
U= [H · B + E · D] d 3 r, (325)
2
1
u= [H · B + E · D] , (326)
2
1£ 2 ¤ 1 1 2
· ¸
2 2
u = ²E + µ H = ²E + B , (327)
2 2 µ
28
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Z Z Z
− (E · j) d r = (∇ · S) d r + ∂ t ud 3 r,
3 3
(328)
Z Z Z
∂ t ud 3 r + (∇ · S) d 3 r = − (E · j) d3 r, (329)
ener gia
[S] = . (332)
(area × tempo)
Importante notar que o termo de divergência, V (∇ · S) d 3 r, pode ser transformado numa integral
R
H
de superfície, ∂R (S · n̂) dS, que denota o fluxo de energia pela superfície que limita o volume V de
integração, sendo n̂dS o elemento infinitesimal orientado de área. De fato:
I Z
∂ tU + (S · n̂) dS = − (E · j)d 3 r. (333)
∂R
A conservação de energia do sistema é dada pela Eq. (333), sendo conhecida como Teorema de
Poynting. Designa que a variação temporal da energia do campo, U, somada ao fluxo de energia que
sai (ou entra no) do volume V , é igual a menos o trabalho realizado sobre o conjunto das fontes contidas
no volume V . Desta forma, vemos que:
• Mesmo na ausência de fluxo de energia pela fronteira ∂R, ∂R (S · n̂) dS = 0, a energia guardada
H
dentro da mesma pode variar se há trabalho sendo feito pelo campo. De fato: Se o trabalho
realizado é positivo, (E · j)d 3 r > 0, a energia contida no volume V decresce, ∂ tU < 0; se o trabalho
R
• Quando o trabalho (E · j)d 3 r é positivo, o campo eletromagnético doa energia para as cargas
R
(fontes). Tal ganho é assimilado na forma de energia mecânica, ou calor (grau de agitação térmica).
• A Eq.(333) vale tanto para o vácuo, quanto para meios materiais lineares, isotrópicos e não-
dispersivos, em que D = ²E e µH = B. No vácuo, obviamente, temos:
1£
²0 E2 + µ0 H2 ,
¤
u= (335)
2
1
S= (E × B) . (336)
µ0
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1
Z Z
E f ield = ud 3 r = [H · B + E · D] d 3 r, (337)
2
Z · 2
1 1 1 2 3
¸ Z · ¸
B 2 3 2
E f ield = + ²E d r = ²E + B d r. (338)
2 µ 2 µ
Supomos que a energia E mech seja sensível apenas ao efeito do campo eletromagnético, que realiza
trabalho sobre as fontes. Deste modo, é lícito afirmar a sua variação temporal somente pode advir do
trabalho realizado pelo campo sobre as fontes, ou seja,
d
Z
E mech = (E · j)d 3 r. (339)
dt
Em vista da expressão Eq. (339), podemos reescrever (333), ∂ tU + (E · j)d 3 r = − ∂R (S · n̂) dS, como:
R R
d d
I
U + E mech = − (S · n̂) dS, (340)
dt dt
I∂ R
d ¡ ¢
E f ield + E mech = − (S · n̂) dS, (341)
dt
I∂ R
d
(E tot ) = − (S · n̂) dS, (342)
dt ∂R
onde U = E f ield . Percebemos assim que a variação temporal da energia total do sistema campo mais
cargas,
E tot = E f ield + E mech , (343)
é igual a menos o fluxo de energia eletromagnética pela fronteira ∂R. Note que se o fluxo é positivo
d
(energia saindo), temos dt (E tot ) < 0, correspondendo ao descréscimo da energia total. A Eq. (341) pode
também ser escrita como,
d
Z Z
u f ield + u mech d r = − (∇ · S) d 3 r,
¡ ¢ 3
(344)
dt V V
levando a seguinte forma diferencial:
d ¡ ¢
u f ield + u mech = − (∇ · S) , (345)
dt
d ¡ ¢
u f ield + u mech + (∇ · S) = 0. (346)
dt
Estas duas últimas equações constituem formas diferenciais do teorema de Poynting.
30
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volume V como sendo P mech , estando o conjunto destas cargas sujeito a uma força total F tot , que re-
presenta a força de Lorentz atuante sobre o somatório das cargas e fontes presentes no volume V. A
d
segunda lei de Newton, escrita para este conjunto de carga, é lida como F tot = dt Pmech . Como a força
atuante sobre cada carga q do sistema é a força de Lorentz, vale:
d
Z
ρ E + j × B d 3 r.
¡ ¢
Pmech = (348)
dt
Podemos agora usar as equações de Maxwell para escrever as fontes ρ , j em termos dos campos E, B. De
fato,
1
ρ = ²∇ · E, j = ∇ × B − ²∂ t E, (349)
µ
d 1
Z µ ¶
Pmech = ² (∇ · E) E + (∇ × B) × B − ²∂ t E × B d 3 r. (350)
dt µ
O integrando da Eq. (350) pode ser reescrito como
1
µ ¶
² (∇ · E) E − B × (∇ × B) − ²∂ t (E × B) − ²E × (∇ × E) , (351)
µ
onde usamos (∇ × B) × B = −B × (∇ × B) , e
(∂ t E) × B = ∂ t (E × B) − E × ∂ t B → ∂ t E × B = ∂ t (E × B) + E × (∇ × E) . (352)
Dado a estrutrura da equação anterior, o segundo termo do lado esquerdo da equação deve possuir
dimensão de momento por tempo, de modo que a integral ² (E × B) d 3 r possui dimensão de momento
R
linear. Como este termo só envolve os campos (E,B) , pode ser lido como o momento linear do campo,
P f ield , ou seja, Z Z
P f ield = ² (E × B) d 3 r = ²µ (E × H) d 3 r, (354)
onde
g = ²µ (E × H) , (355)
é a densidade de momento linear do campo (por unidade de volume). Com esta nova definição, a Eq.
(353) é reescrita como
d ¡ 1
Z · ¸
²E (∇ · E) − ²E × (∇ × E) − B × (∇ × B) d 3 r,
¢
Pmech + P f ield = (356)
dt µ
d ¡ 1
Z · ¸
Pmech + P f ield = ² E (∇ · E) − E × (∇ × E) − B × (∇ × B) d 3 r,
¢
(357)
dt µ²
31
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vetorial V × T tem sua component genérica l dada por (V × T)l = ²l jk V j Tk , sendo ²l jk o símbolo de Levi-
¡ ¢i
Civita 3-dimensional. A i − ésima componente do gradiente do escalar φ é ∇φ = ∂ j φ, enquanto a
i − ésima componente do rotacional do vetor T é (∇ × T) i = ² i jk ∂ j Tk . O divergente do vetor T é simples-
mente (∇ · T) = ∂ j T j .
Dentro deste contexto geral, trabalhamos inicialmente com o termo E × (∇ × E) , cuja componente
vetorial arbitrária i é dada por
³ ´
(E × (∇ × E)) i = ² i jk E j (∇ × E)k = ² i jk E j ²kab ∂a Eb = ² i jk ²kab E j ∂a Eb , (358)
= δ ia δ jb − δ ib δ ja E ∂a Eb = E j ∂ i E j − E j ∂ j E i ,
¡ ¢ j
(359)
1 ³ ´ 1 ¡ ¢
(E × (∇ × E)) i = ∂ i E j E j − (E · ∇) E i = ∂ i E2 − (E · ∇) E i , (360)
2 2
onde usamos ² i jk ²kab = ²ki j ²kab = δ ia δ jb − δ ib δ ja . Temos ainda [E (∇ · E)] i = E i ∂ j E j = ∂ j E i E j −
¡ ¢ ¡ ¢ ¡ ¢
E j ∂ j E i , de forma que:
¡ ¢
³ ´ ³ ´ 1 ¡ ¢
[E (∇ · E) − E × (∇ × E)] i = ∂ j E i E j − E j ∂ j E i − ∂ i E2 + (E · ∇) E i , (361)
2
³ ´ 1 ¡ ¢ ³ ´
= ∂ j E i E j − ∂ i E2 − E j ∂ j E i + (E · ∇) E i , (362)
2
³ ´ 1 ¡ ¢
= ∂ j E i E j − ∂ i E2 , (363)
2
uma vez que E j ∂ j E i = (E · ∇) E i . Notando que ∂ i = δ i j ∂ j , podemos ainda escrever
¡ ¢
³ ´ 1 ¡ ¢ ³ ´ 1 ·³ ´ 1 ¸
i j 2 i j
¡ 2¢ i j
¡ 2¢
∂ j E E − ∂i E = ∂ j E E − δi j ∂ j E = ∂ j E E − δi j E , (364)
2 2 2
·³ ´ 1 ¸
[E (∇ · E) − E × (∇ × E)] i = ∂ j E i E j − δ i j E2 .
¡ ¢
(365)
2
Observando o integrando da expressão (356), percebemos que o mesmo pode conter um setor mag-
nético de forma análoga ao elétrico introduzindo-se o termo trivial µ1 B (∇ · B) , com o qual a Eq. (356)
assume a forma:
¸i
d ¡ 1 1
Z ·
¢i
Pmech + P f ield = ²E (∇ · E) − ²E × (∇ × E) + B (∇ · B) − B × (∇ × B) d 3 r. (366)
dt µ µ
Analogamente, vale:
1
·³ ´ ¸
i i j
¡ 2¢
[B (∇ · B) − B × (∇ × B)] = ∂ j B B − δi j B . (367)
2
De posse dos resultados (365) e (367), prossegue:
d ¡ ¢i
Z ½ h ³ ´ ² ¡ 2 ¢i 1
·³ ´ 1 ¸¾
i j i j
¡ 2¢
Pmech + P f ield = ∂ j ² E E − δi j E + ∂ j B B − δi j B d 3 r, (368)
dt 2 µ 2
d ¡ ¢i
Z ½ ³ ´ ² ¡ ¢ 1 ³ i j´ 1
µ
1
¶¾
Pmech + P f ield = ∂ j ² E i E j − δ i j E2 + B B − δ i j B2 d 3 r, (369)
dt 2 µ 2 µ
d 1 ² 1
Z ½ µ ¶¾
i
Pmech + P f ield = ∂ j ²E i E j + B i B j − δ i j E2 + B2 d 3 r.
¡ ¢
(370)
dt µ 2 µ²
Este último resultado é finalmente expresso na forma,
d ¡
Z
¢i
Pmech + P f ield = ∂ j T i j d 3 r, (371)
dt
d ¡
Z
¢i
Pmech + P f ield = T i j n̂ j dS, (372)
dt
32
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onde
1 i j 1 1 2
½ µ ¶¾
ij i j 2
T = ² E E + B B − δi j E + B , (373)
µ² 2 µ²
1 1 1
½ µ ¶¾
T i j = ²E i E j + B i B j − δ i j ²E2 + B2 , (374)
µ 2 µ
é o tensor de stress do campo de Maxwell, também conhecido como tensor de energia-momento. É im-
portante destacar o papel do termo envolvendo o tensor T i j na expressão (372). Este termo proporciona
contribuições de momento linear, a princípio, nas 3 direções do espaço, podendo fornecer componente de
momento não nula mesmo em direções onde o vetor de Poynting (e P f ield ) seja nulo.
Na passagem de (371) para (372), notoriamente usamos o teorema de Gauss,
Z I
∂ j T d r = T i j n̂ j dS,
ij 3
(375)
V
∂R
para expressar o resultado como uma integral de superfície. Ressaltamos que n̂ j é a componente j
do versor n̂ normal (orientado para fora) à superfície ∂R que delimita o volume V . Desta forma, a
integral T i j n̂ j dS designa o fluxo da i-ésima componente do momento linear através da superfície ∂R.
H
Por análise dimensional percebemos que as componentes do tensor T i j possuem dimensão de momento
linear por unidade de tempo por unidade de área, ou seja, força por unidade de área, que corresponde à
tensão ou pressão. No caso, a componente T i j refere-se à componente i da força agindo sobre o elemento
de área dS orientado na direção j; em detalhes:
Esta equivalência permite interpretar as componentes do tensor T i j como uma corrente de densidade
de momento, tal qual comentado na seção 15.2.2 da Ref.2
Para um sistema "ilimitado"(fronteiras muito distantes), é sempre possível supor que os campos E, B
se anulam nas fronteiras, de modo que a integral de superfície seja também nula. Deste modo,
d ¡ ¢ ¡ ¢
Pmech + P f ield = 0 → Pmech + P f ield = cte. (377)
dt
Este resultado estabelece a conservação do momento linear total no sistema cargas + campo
eletromagnético.
Uma outra observação relevante é que a Eq. (371) admite uma forma diferencial. Para obtê-la,
escrevemos tal equação na forma integral,
d
Z Z Z
¢i
ρE + j × B d3r + ² (E × B) i d 3 r = ∂ j T i j d 3 r,
¡
dt
d ∂
Z Z Z
fi d3r + g i d 3 r = ∂ j T i j d 3 r, (378)
dt ∂t
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∂ ∂
fi + gi = ∂ j T i j → g i − ∂ j T i j = −f i , (379)
∂t ∂t
uma versão local (diferencial) da conservação do momento que seria o análogo da Eq. (333) para conser-
vação local de energia.
Podemos ainda analisar melhor as componentes do tensor T i j , explicitadas a seguir na forma de
uma matriz 3 × 3: 11
T T 12 T 13
T i j = T 21 T 22 T 23 . (380)
T 31 T 32 T 33
Os termos diagonais, T ii , são facilmente identificáveis como a densidade de energia do campo; de
fato:
1 i i 1 1 2 1 1 2
µ µ ¶¶ µ ¶
ii i i 2 2
T = ²E E + B B − ²E + B = ²E + B = u. (381)
µ 2 µ 2 µ
Quanto aos termos não-diagonais (i 6= j) ,
1 i j
½ ¾
ij i j
T = ²E E + B B , (382)
µ
representam fluxos de componentes de momento linear por unidade de tempo. O índice i da componente
T i j indica a direção do fluxo de momento enquanto o índice j refere-se à componente do momento linear
que flui. De fato, a componente T i j indica o fluxo da componente j do momento pelo elemento orientado
de área n̂ i dS.
Note que os resultados aqui deduzidos valem também para o vácuo, sendo obtidos pela simples
substituição ² → ²0 , µ → µ0 . Neste meio, o tensor de stress de Maxwell é dado por:
1
½ ¾
T i j = ²0 E i E j + c2 B i B j − δ i j E2 + c2 B2 .
¡ ¢
(383)
2
Podemos finalizar esta seção comentando que o tensor T i j constitui uma parte (setor espacial) do
tensor de energia-momento T µν do campo eletromagnético, calculado em uma abordagem relativística
da teoria eletromagnética, que considera o campo distribuído através do espaço 4-dimensional de Min-
kowski. Neste caso, os índices gregos µ, ν assumem os valores 0, 1, 2, 3, sendo o 0 usado para rotular a
componente temporal.
T 00 T 01 T 02 T 03 T 00 T 0i
T 10 T 11 T 12 T 13
¯ ¯
¯
T µν =
¯
= ¯ .
T 20 T 12 T 22 T 23 Tij
¯
¯ ¯
i0 ¯
T ¯
T 30 T 13 T 23 T 33 ¯ ¯
(3) Problema Resolvido: Considere um capacitor de placas paralelas, p com densidade de carga σ,
área A, contidas no plano x− y, e separadas pela distância d << A. Ortogonalmente ao campo elé-
trico, é aplicado um campo magnético externo B = |B| x̂. Tais placas nsão localizadas em z = ³d/2 e z = ´o
− d/2. (a) Determine as nove componentes do tensor de stress, T i j = ²E i E j + µ1 B i B j − 21 δ i j ²E2 + µ1 B2 ,
na região entre as placas. Qual o fluxo de momento (por unidade de tempo) através do plano x − y?
(b) No estudo da conservação do momento linear, sabemos que vale:
d d
Z Z
Pmech + P if ield = ∂ j T i j d 3 r = T i j n̂ j dS, (384)
dt dt
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onde P f ield = ² (E × B) d 3 r = ²µ (E × H) d 3 r. Esta equação pode ser usada para calcular a força
R R
Solução: (a) Considerando que o espaço entre as placas é permeado pelo vácuo, o campo elétrico
entre as mesmas será dado por: E = (σ/²0 ) ẑ. Sabendo que esta região é também também permeado pelo
campo magnético, B = |B| x̂.
1 1 ©
½ ¾
11 2 2
¡ 2 2 2
T = ²0 c B − δ11 E + c B = ²0 c2 B2 − E2 ,
¢ ª
(385)
2 2
1 1 ©
½ ¾
T 22 = ²0 − δ22 E2 + c2 B2 = − ²0 E2 + c2 B2 ,
¡ ¢ ª
(386)
2 2
1 1 ©
½ ¾
T 33 = ²0 E2 − δ33 E2 + c2 B2 = ²0 E2 − c2 B2 .
¡ ¢ ª
(387)
2 2
T 12 = T 13 = T 23 = 0. (388)
Vemos assim que temos o tensor T i j só possui 3 elementos independentes:
© 2
− E − c2 B2
ª
0 0
µν 1
− E + c2 B2
© 2
T = ²0
ª
0 0
ª . (389)
2 © 2 2 2
0 0 E −c B
Fluxo de momento por unidade de tempo é momento/(área x tempo), o que equivale a força/área, ou seja,
pressão. A componente T i j representa a componente i da força agindo sobre o elemento de área dS
orientado na direção j. No caso em que i 6= j, temos a componente de força i atuando tangencialmente
ao elemento dS cujo versor n̂ j é ortogonal ao eixo i, e T i j representa tensão de cisalhamento neste caso.
No caso em que i = j, temos a componente de força i atuando ortogonalmente ao elemento de área dS
cujo versor n̂ i é paralelo ao eixo i, e T ii representa uma pressão neste caso. Em se tratando de pressão
sobre o plano x − y, o elemento associado é T 33 , que representa a força F (3) = F z atuando na direção de
n̂ 3 = ẑ. Neste caso, a força no plano x − y do capacitor vale:
A ©
I
f z = T 33 n̂ 3 dS = ²0 E2 − c2 B2 .
ª
(390)
2
∂R
Item (b): o momento acumulado no campo eletromagnético é proporcional ao vetor de Poynting, e vale
Z Z
P f ield = ²0 (E × B) d r = ²0 (|E| |B| ŷ) d 3 r = ŷ [²0 |E| |B| d A] .
3
(391)
Por apontar na direção ŷ, o momento P f ield não cruza o plano x − y. Entretanto, a expressão (384)
envolve uma outra componente de momento que aponta na direção ẑ, associada ao tensor T i j , e pode
ser usada para calcular a força sobre a placa do capacitor (paralela ao plano x − y). Neste caso, como os
d i
campos são estacionários, temos dt P f ield = 0, de modo que a força na placa será dada simplesmente por:
i d d
f = dt Pmech = T n̂ j dS, ou melhor, f (3) = dt
ij
Pmech = T 33 n̂ 3 dS, o que fornecerá o mesmo resultado
R R
7 Magnetic monopoles
Um monopolo magnético é uma carga magnética q m que produz um campo magnético radial,
r
B = qm , (392)
r3
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tal qual o campo elétrico coulombiano produzido por uma carga elétrica q. A história da proposição dos
monopolos magnéticos remonta a pensadores da Idade Média, passando por Henry Poincaré, no final do
século XIX, e por Paul Dirac no início dos anos 30.
Na presença de cargas magnéticas, as equações de Maxwell tornam-se totalmente simétricas, assu-
mindo a forma:
∇ · D = ρ, (393)
∇ · B = ρm, (394)
∇ × E + ∂ t B = −jm , (395)
∇ × H − ∂ t D = j. (396)
A integração da Eq. (394), via teorema de Gauss, conduz à solução radial (392). No que concerne à
Eq. (395), a aplicação do divergente à mesma, leva a:
∇ · (∇ × E) + ∂ t ∇ · B = −∇ · jm , (397)
∂ t ρ m = −∇ · jm → ∂ t ρ m + ∇ · jm = 0, (398)
que constitui uma equação de continuidade estabelecendo a conservação da carga magnética,
Z
q m = ρ m d 3 r. (399)
Podemos tentar determinar o potencial vetor A associado a uma carga magnética, lembrando-se que
B = ∇ × A, o que implica
r
B = q m 3 = ∇ × A. (400)
r
Esta equação, entretanto, entra em contradição com a Eq. (394), uma vez que ∇ · (∇ × A) = 0, e ∇ · B =
ρ m 6= 0. Para uma carga pontual,
∇ · B = q m δ (r) . (401)
A fim de discutir esta incompatibilidade, propomos a seguinte forma para o potencial
resultando em
φ̂ 1 ¡
∇φ = − sin φ, cos φ, 0 ,
¢
= (405)
r sin θ r sin θ
sendo o último resultado em coordenadas cartesianas. Se adotarmos A(θ ) = − q m (1 + cos θ ), temos
1 + cos θ ¡
sin φ, − cos φ, 0 .
¢
A(r) = q m (406)
r sin θ
Este potencial por ser escrito na forma
q m r × ẑ
· ¸
A(r) = . (407)
r r − r · ẑ
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qm r sin θ ¡
sin φ, − cos φ, 0 ,
¢
A(r) = (408)
r r−z
qm r sin θ ¡
sin φ, − cos φ, 0 ,
¢
A(r) = (409)
r r(1 − cos θ )
qm r sin θ (1 + cos θ ) ¡
sin φ, − cos φ, 0 ,
¢
A(r) = (410)
r r(1 − cos θ )
2
qm r(1 + cos θ ) ¡
sin φ, − cos φ, 0 ,
¢
A(r) = (411)
r r sin θ
Esta última expressão é exatamente a Eq. (406), o que demonstra a proposição da expressão geral (407).
Retomando a forma (408)
q m r sin θ ¡ ¢ qm 1 ¡
sin φ, − cos φ, 0 = r sin θ sin φ, − r sin θ cos φ, 0 ,
¢
A(r) =
r r−z r r−z
podemos escrevê-la inserindo as coordenadas cartesianas (x, y), ou seja,
qm 1
A(r) = (y, − x, 0) . (412)
r r−z
Considerando que
B = ∇ × A = ∂ y A z − ∂ z A y x̂ + (∂ z A x − ∂ x A z ) ŷ + ∂ x A y − ∂ y A x ẑ,
¡ ¢ ¡ ¢
(413)
e que A z = 0, temos
B = ∇ × A = − ∂ z A y x̂ + (∂ z A x ) ŷ + ∂ x A y − ∂ y A x ẑ.
¡ ¢ ¡ ¢
(414)
Para encontrar este campo magnético, calculamos as seguintes derivadas:
1 x x 1 z x z/r − 1 x z x z−r
µ ¶ µ ¶ µ ¶
∂z A y = −q m ∂z = −qm − − = −qm − − ,
r r−z r − z r 2 r r (r − z)2 r − z r 3 r 2 (r − z)2
x z x 1 1 − xz + rx ³x´
µ ¶ µ ¶
= −qm − + = − q m = − q m .
r − z r 3 r 2 (r − z) r 3 (r − z) r3
1 y y 1 z y z/r − 1 y z y z−r
µ ¶ µ ¶ µ ¶
∂z A x = q m ∂z = − − = − − ,
r r−z r − z r 2 r r (r − z)2 r − z r 3 r 2 (r − z)2
y z y 1 1 − yz + r y ³ y´
µ ¶ µ ¶
= − + = q m = q m .
r − z r 3 r 2 (r − z) r 3 (r − z) r3
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µ 2
1 y 2y r − z y2 − r 3 + zr 2
µ ¶ ¶
∂ y A x = q m ∂x = −qm ,
r r−z r 3 (r − z)2
à ¡ !
2x2 r − zx2 − r 3 + zr 2 2y2 r − z y2 − r 3 + zr 2 2 x2 + y2 r − z x2 + y2 − 2r 3 + 2zr 2
µ ¶ ¢ ¡ ¢
∂x A y − ∂ y A x = q m + = qm ,
r 3 (r − z)2 r 3 (r − z)2 r 3 (r − z)2
à ¡ !
2 r 2 − z2 r − z(r 2 − z2 ) − 2r 3 + 2zr 2
µ 3
2r − 2z2 r − zr 2 + z3 − 2r 3 + 2zr 2
¢ ¶
= qm = q m ,
r 3 (r − z)2 r 3 (r − z)2
−2z2 r + z3 + zr 2 z −2zr + z2 + r 2 z −2zr + z2 + r 2
µ ¶ µ ¶ µ ¶
= qm = qm 3 = qm 3 ,
r 3 (r − z)2 r (r − z)2 r (r − z)2
z
= qm 3 .
r
Compondo os resultados, temos:
x y z r
B = qm x̂ + 3 ŷ + 3 ẑ → B = qm . (415)
r3 r r r3
sendo este o campo magnético radial do monopolo. Este resultado mostra que a forma (406) corresponde
de fato ao potencial vetor do monopolo. Podemos ainda mostrar que
A · r = 0, (416)
Referências
[1] J. D. Jackson, "Classical Electrodynamics", cap. 6, third edition, John Wiley & Sons.
[3] M. A. Heald, J.B. Marion, "Classical electromagnetic radiation", Dover Publication, Inc., New York,
2012.
[4] F. Melia, "Electrodynamics", Chicago Lectures in Physics, The university of Chicago Press, Chicago,
2001.
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