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Notas de Aula - Equações de Maxwell, Copyrigth© 2019 by Manoel Messias Ferreira Jr.

Equações de Maxwell, Simetria de calibre

Potencial escalar e potencial vetor, Equações de onda

P ROFº M ANOEL M ESSIAS F ERREIRA J R .

D EPARTAMENTO DE F ÍSICA - U NIVERSIDADE F EDERAL DO M ARANHÃO

Resumo

Nestas notas preliminares apresentamos alguns aspectos das equações de Maxwell, das equações
de onda para os campos E, B, assim como para os potenciais A 0 , A, convenientemente introduzidos
como ferramentas matemáticas auxiliares na descrição do campo eletromagnético. Discutimos as
transformações e invariância de gauge, focalizando nos conceitos de liberdade de calibre e fixação de
calibre. Apresentamos os calibres de Lorentz e de Coulomb, discutindo aspectos gerais destas duas
escolhas, assim como as equações de onda para os potenciais válidas em cada calibre. Discutimos
propriedades, particularidades e soluções para os potenciais em ambos calibres. Apresentamos o cál-
culo da função de Green retardada e avançada, assim como as correspondentes soluções das equações
de onda para os potenciais A 0 , A em termos da função de Green retardada. Encontramos os poten-
ciais de Lienard-Wiechart para cargas pontuais. Apresentamos ainda o Teorema de Poynting, que
estabelece a conservação da energia do campo eletromagnético de forma genérica.

1 Equações de Maxwell
As equações de Maxwell no sistema SI, em um meio dielétrico, são dadas por:

∇ · D = ρ, (1)
∇ · B = 0, (2)
∇ × E + ∂ t B = 0, (3)
∇ × H − ∂ t D = j, (4)

onde D e E representam o deslocamento elétrico e campo elétrico, respectivamente, enquanto H, B re-


presentam o vetor campo magnético e o vetor indução magnética, respectivamente. Entre tais grandezas
valem as seguintes relações constitutivas:

1
D = ²E, H = B, (5)
µ
onde ² é a permissividade elétrica do meio e µ é a permeabilidade magnética do meio. Considerando as
relações constitutivas (5), a Eq. (1) e (4) são lidas como:
ρ
∇·E = , (6)
²
∇ × B − µ²∂ t E = µj. (7)

Note ainda que a permissividade elétrica, ², e a permeabilidade magnética, µ, do meio, estão dadas por:

² = ²0 (1 + χ), (8)
µ = µ0 (1 + χm ) (9)

onde χ é a susceptibilidade elétrica e χm é a susceptibilidade magnética do meio.


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As equações de Maxwell no sistema CGS, em um meio dielétrico, são dadas por:

∇ · D = 4πρ , (10)
∇ · B = 0, (11)
∇ × E + ∂ t B = 0, (12)
1 4π
∇ × H − ∂t D = j. (13)
c c

1.1 Equações de onda para os campos


Podemos determinar as equações de onda para os campos E, B, realizando operações vetoriais sobre as
equações de Maxwell. Tomando o rotacional da Eq. (3), temos:

∇ × ∇ × E + ∂ t ∇ × B = 0, (14)
2
∇ (∇ · E) − ∇ E + ∂ t ∇ × B = 0. (15)

Da Eq. (7), temos: ∂ t ( ∇ × B) = µ²∂2t E + µ∂ t j. Substituindo na Eq. (15), temos:

∇ (∇ · E) − ∇2 E + µ²∂2t E + µ∂ t j = 0, (16)
2
∇ (∇ · E) − ∇ E + µ²∂2t E = −µ∂ t j, (17)
1
−∇2 E + µ²∂2t E = −µ∂ t j − ∇ρ , (18)
²
onde usamos a Eq. (6) na última passagem. Da mesma forma, podemos obter uma equação de onda
para setor magnético. Para tanto, aplicamos o rotacional sobre a Eq. (4):

∇ × ∇ × H − ∂ t ∇ × D = ∇ × j, (19)
2
∇ (∇ · H) − ∇ H − ∂ t ∇ × D = ∇ × j, (20)
2
−∇ H + ²∂2t B = ∇ × j, (21)

onde usamos ∇ × D = −²∂ t B. Usando agora H = µ1 B, encontramos:

− ∇2 H + ²µ∂2t H = ∇ × j. (22)

As equações de onda (18) e (22) são válidas num meio dielétrico descrito por µ, ².
Em meios condutores, vale a seguinte relação constitutiva:

j = σE, (23)

onde σ representa a condutividade do meio. Substituindo a relação (23) na equação de onda (18), encon-
tramos:
1
−∇2 E + µ²∂2t E + µσ∂ t E = − ∇ρ , (24)
²
2 2 1
∇ E − µ²∂ t E − µσ∂ t E = ∇ρ , (25)
²
sendo esta a equação de onda para o campo elétrico em um meio material condutor caracterizado por
µ, ², σ. Neste mesmo meio condutor, a equação de onda (22) assume a forma:

−∇2 H + ²µ∂2t H = σ∇ × E, (26)


2
−∇ H + ²µ∂2t H = σ (−∂ t B) , (27)
∇2 H − ²µ∂2t H − µσ∂ t H = 0. (28)

2
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também lida na forma:


∇2 B − µ²∂2t B − µσ∂ t B = 0, (29)
sendo esta a equação de onda para o campo magnético num meio condutor.
Num meio material isolante, σ = 0, caracterizado por µ, ², tais equações de reduzem a:

1
∇2 E − ²µ∂2t E = ∇ρ , (30)
²
∇2 B − ²µ∂2t B = 0. (31)

Considerando que
µ² = n2 /c2 , (32)
onde n é o índice de refração do meio, escrevemos:

n2 2 1
∇2 E − ∂ E = ∇ρ , (33)
c2 t ²
2
n
∇2 B − 2 ∂2t B = 0. (34)
c
Podemos também tratar a obtenção da equação de onda considerando a propagação no vácuo desde
o início, e na presença de fontes, ρ 6= 0, j 6= 0, onde as equações de Maxwell são:

∇ · E = ρ /²0 , ∇ · B = 0, ∇ × E + ∂ t B = 0, (35)

∇ × B − µ0 ²0 ∂ t E = µ0 j. (36)
Tomando o rotacional da lei de Faraday,

∇ (∇ · E) − ∇2 E + ∂ t ∇ × B = 0, (37)

na qual substituímos ∇ · E = ρ /²0 e ∇ × B = µ0 ²0 ∂ t E + µ0 j, obtendo:

∇ ρ /²0 − ∇2 E + µ0 ²0 ∂2t E + µ0 ∂ t j = 0,
¡ ¢
(38)

e a equação de onda para o campo elétrico no vácuo:

1 2
∇2 E − ∂ t E = µ0 ∂ t j + ∇ ρ /²0 ,
¡ ¢
2
(39)
c

onde µ0 ²0 = 1/c2 . Tomando o rotacional da lei de Ampere,

− ∇2 B + ∇ (∇ · B) − µ0 ²0 ∂ t (∇ × E) = µ0 ∇ × j, (40)

encontramos a equação de onda para o campo magnético no vácuo:

1 2
∇2 B − ∂ B = −µ0 ∇ × j. (41)
c2 t
No vácuo e na ausência de fontes, temos:

1 2
∇2 E − ∂ E = 0, (42)
c2 t
1
∇2 B − 2 ∂2t B = 0. (43)
c

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1.2 Potenciais escalar e vetor


No estudo do eletromagnetismo, é vantajoso introduzir funções matemáticas que auxiliam na solução
das equações de Maxwell. Tais funções são o potencial escalar (A 0 ) e potencial vetor (A). Considerando
a Eq. (2), vemos que podemos definir
B = ∇ × A, (44)
=0
uma vez que ∇ · (∇ × V) , sendo V um vetor qualquer. Substituindo a Eq. (44) na lei de Fadaray, resulta

∇ × E + ∇ × ∂ t A = 0, (45)
∇ × (E + ∂ t A) = 0. (46)

Dado que ∇ × ∇ A 0 = 0, onde A 0 é uma função escalar, que desempenha o papel do potencial escalar.
Fazemos E + ∂ t A = −∇ A 0 , implicando em:

E = −∇ A 0 − ∂ t A. (47)

Substituindo a expressão (44) na Eq. (4), temos:

1
∇ × ∇ × A − ²∂ t E = j, (48)
µ
∇ (∇ · A) − ∇2 A − µ²∂ t E = µj. (49)

Substituindo agora a expressão (47) na Eq. (49):

∇ (∇ · A) − ∇2 A + µ²∂ t ∇ A 0 + µ²∂2t A = µj, (50)


∇ A − µ²∂2t A − µ²∂ t ∇ A 0 − ∇ (∇ · A) = −µj,
2
(51)
∇2 A − µ²∂2t A−∇ µ²∂ t A 0 + (∇ · A) = −µj.
£ ¤
(52)

Substituindo agora a expressão (47) na Eq. (6):


ρ
∇ · (−∇ A 0 − ∂ t A) = , (53)
²
ρ
∇2 A 0 + ∂ t (∇ · A) = − . (54)
²
No vácuo, as equações (52) e (54) são:

1 2 1
· ¸
2
∇ A − 2 ∂ t A−∇ 2 ∂ t A 0 + (∇ · A) = −µ0 j, (55)
c c
ρ
∇2 A 0 + ∂ t (∇ · A) = − . (56)
²0

2 Transformações de gauge, simetria de gauge, liberdade de gauge


O campo eletromagnético possui uma simetria muito importante e fundamental, conhecida como sime-
tria de gauge ou simetria de calibre. Tal simetria advém do fato dos campos elétrico e magnético
permanecerem invariantes enquanto os potenciais escalar e vetor são modificados de uma forma espe-
cífica. Para encontrar tais transformações, focamos inicialmente atenção na Eq. (44). Percebemos que
se somarmos um gradiente de uma função escalar (Λ) na expressão do vetor potencial A, ou seja,

A → A0 = A + ∇Λ, (57)

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o campo B permanece o mesmo, uma vez que

∇ × A0 = ∇ × (A + ∇Λ) = ∇ × A. (58)

Portanto, vemos que sob a transformação (57), o campo magnético permanece invariante;

B → B0 = B. (59)

Devemos agora encontrar uma transformação para o potencial escalar que mantenha o campo elé-
trico invariante, considerando simultaneamente a transformação (57). Deste modo propomos:

A 0 → A 00 = A 0 − ∂ t Λ. (60)

Substituindo as transformações (57), (60) na Eq. (47),

E0 =−∇ A 00 − ∂ t A0 = −∇ (A 0 − ∂ t Λ) − ∂ t (A + ∇Λ) , (61)


0
E = −∇ A 0 + ∇∂ t Λ − ∂ t A + ∂ t ∇Λ = −∇ A 0 − ∂ t A, (62)

E → E0 = E. (63)

As equações (57), (60) representam as chamadas transformações de gauge,

A 0 → A 00 = A 0 − ∂ t Λ, (64)
0
A → A = A + ∇Λ , (65)

definidas sobre os potenciais A 0 , A, que mantêm os campos E, B, invariantes. Tais transformações não
modificam o cenário físico do campo eletromagnético (representado pelos campos E, B), configurando a
existência da simetria de gauge. Como consequênciada desta simetria, há uma liberdade de gauge
(existência de distintos potenciais A 0 , A representando as mesmas soluções clássicas para o campo ele-
tromagnético - o mesmo cenário físico). Esta liberdade, obviamente, pode ser traduzida como uma
arbitrariedade na definição dos potenciais conectados pelas transformações de calibre. Tal arbitrarie-
dade na definição de vários potenciais precisará ser controlada quando tivermos interesse em encontrar
soluções específicas para os potenciais.
No intuito de restringir a liberdade de gauge é que se torna necessário fixar um gauge ou calibre,
o que significa estabelecer vínculos sobre as componentes dos potenciais A 0 , A, reduzindo o número de
componentes independentes (graus de liberdade da teoria). Vale notar que os campos E e B possuem
juntos 6 componentes, mas nem todas independentes. Cada uma das equações de Maxwell representa
um vínculo sobre as componentes, que reduz uma componente independente do campo eletromagnético.
Portanto são 4 vínculos, e o número de componentes independentes do campo eletromagnético é reduzido
para
6 − 4 = 2, (66)

que é o número de graus de liberdade do campo eletromagnético.


¡ ¢
Os potenciais escalar e vetorial possuem juntos 4 componentes A 0 , A x , A y , A z . Fazendo uma des-
crição do campo eletromagnético em termos destes potenciais, vemos que há 4 componentes para repre-
sentar dois graus de liberdade físicos. Portanto, há uma sobrerepresentação, descrita através de duas
componentes sobressalentes dos potenciais. Tais componentes sobressalentes estão associadas com a
arbitrariedade do potencial, e podem ser eliminadas estabelecendo vínculos entre as componentes dos
potenciais A 0 , A. Cada vínculo constitui uma relação (de fixação de gauge) que reduz uma componente
sobressalente. Para termos uma descrição com apenas dois graus de liberdade (sem arbitrariedade), é
necessário estabelecer duas relações de fixação de gauge.

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2.1 Calibre de Lorentz


Uma relação de fixação de calibre tradicional é a chamada relação ou condição de Lorentz,

1
∇·A+ ∂ t A 0 = 0, (67)
c2
que define o chamado calibre de Lorentz, e tem o mérito de ser Lorentz-invariante (invariante sob
as transformações relativísticas para os potenciais A 0 , A). Isto significa que esta condição é escrita na
mesma forma (matemática) em qualquer sistema de referência inercial. Obviamente, esta é a escolha
adequada quando se pretende desenvolver a formulação relativística para o campo eletromagnético.
Adotando tal relação, as equações (55) e (56), definidas no vácuo, assumem a forma típica de equa-
ções de onda, ou seja,

1 2
∇2 A − ∂ A = −µ0 j, (68)
c2 t
1 ρ
∇2 A 0 − 2 ∂2t A 0 = − . (69)
c ²0

Vemos que a condição de Lorentz permite obter formas bem mais simples para as equações de onda
para os potenciais A 0 , A, que se tornam similiares na estrutura diferencial, diferindo apenas pela parte
não-homogênea. Esta é uma outra vantagem desta escolha de fixação de gauge.
Dado que A 0 , A satisfazem a condição de Lorentz, é sempre possível encontrar novos potenciais
A 0 , A0 que também satisfaçam tal condição e que estejam relacionados pelas transformações (57), (60),
0

ou seja,
1
∇ · A0 + 2 ∂ t A 00 = 0. (70)
c
Substituindo as transformações de gauge,

1
∇ · (A + ∇Λ) + ∂ t (A 0 − ∂ t Λ) = 0, (71)
c2
1 1
∇ · A + 2 ∂ t A 0 + ∇2 Λ − 2 ∂2t Λ = 0, (72)
c c

1 1 2
µ ¶
2
∇ · A + 2 ∂t A 0 = − ∇ Λ − 2 ∂t Λ . (73)
c c
Dado que A 0 , A satisfazem a condição de Lorentz (67), resulta

1 2
∇2 Λ − ∂ Λ = 0, (74)
c2 t
sendo esta a equação necessária para que todos os potenciais A 0 , A, ligados pelas transformaçoes de
calibre, satisfaçam a condição de Lorentz. Todos os potenciais A 0 , A restritos pela condição (74) são
ditos pertecentes ao calibre de Lorentz.

Vantagens de trabalhar no calibre de Lorentz:

• Preserva a covariância de Lorentz das equações, que assim apresentam a mesma forma em todos
os referenciais inerciais; a condição de Lorentz pode ser escrita na forma covariante, ∂µ A µ = 0,
onde A µ = (A 0 /c, A) é o 4-potencial.

• As equações de onda para os potenciais A 0 , A tornam-se similiares e conhecidas, diferindo apenas


pela parte não-homogênea.

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• Todas as famílias de potenciais A 0 , A, conectadas pelas transformações de calibre, satisfazem a


condição de Lorentz, desde que a condição (74) seja obedecida.

OBS.: A desvantagem de trabalhar neste gauge é que o mesmo não explicita quem são os graus
de liberdade físicos da teoria. De fato: a adoção do gauge de Lorentz não fixa totalmente os potenciais
A 0 , A, uma vez que não elimina a arbitrariedade existente em suas componentes, dado que estabelece
apenas 1 vínculo, eliminando apenas uma componente sobressalente. Para eliminar totalmente esta
arbitrariedade (as duas componentes supérfluas), faz-se necessário fixar mais uma relação entre as
componentes do potencial.

2.2 Calibre de Coulomb

Uma outra condição de fixação de calibre bastante conhecida é

∇ · A = 0, (75)

denominado de calibre de Coulomb, sendo também chamado de gauge transverso ou gauge de


radiação, por razões vistas a seguir. Levando em conta esta condição, as equações de onda (55) e (56)
tornam-se:
1 1
∇2 A − 2 ∂2t A− 2 ∇∂ t A 0 = −µ0 j, (76)
c c
ρ
∇2 A 0 = − . (77)
²0
Supondo-se agora para o campo A uma expansão de Fourier do tipo, A ∝ e i(k·r−ω t) , vemos que

∇ · A = 0 → k · A = 0, (78)

o que implica em k ortogonal à A, ou que a componente longitudinal de A ao vetor k é nula. Logo, no


gauge de Coulomb, o campo A só possui componentes transversais, ou seja, Ak = 0, A⊥ 6= 0.
Importante: Independente da implementação ou não da condição de Coulomb, o potencial A, assim
como qualquer vetor de interesse, pode ser decomposto em duas componentes: uma logitudinal (Ak ),
outra transversal (A⊥ ) ao vetor k de propagação do campo, ou seja,

A = A⊥ + Ak . (79)

Vemos que
¯ ¯
∇ · A = ik · A = i |k| ¯Ak ¯ , (80)
∇ × A = ik × A = ik × A⊥ . (81)

É fácil perceber que a componente Ak é irrotacional, enquanto a componente A⊥ é solenoidal, ou seja,

∇ × Ak = ik × Ak = 0, (82)
∇ · A⊥ = ik · A⊥ = 0, (83)

sendo tais relações acima genéricas e válidas em qualquer contexto.


Seguimos agora comentando sobre a Eq. (77), conhecida como equação de Poisson, que pode ser
facilmente solucionada pelo método de Green. A primeira observação é que esta é uma equação de onda
sem derivadas temporais, indicando que a informação codificada na componente A 0 não se propaga no
tempo, não representando assim um grau de liberdade da teoria. Esta solução pode ser obtida pelo
método de Green estático, como será visto a seguir.

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2.2.1 Solução da equação de Poisson pelo método de Green estático

Para solucionar equação de Poisson (77), reescrita a seguir,


ρ
∇2 A 0 = − . (84)
²0
calculamos a função de Green correspondente, G(R), que satisfaz a mesma estrutura diferencial desta
equação. Logo, a função de Green satisfaz:

∇2 G(R) = δ3 (R), (85)

onde R = (r − r0 ), sendo r0 a posição da densidade de carga. De acordo com o método de Green, a solução
para A 0 é dada pela covolução da função de Green com a parte não homogênea da equação diferencial
(84):
ρ r0 , t
Z µ ¡ ¢¶
0
A 0 (r,t) = G(r − r ) − d 3 r0 , (86)
²0
1
Z
G(r − r0 )ρ r0 , t d 3 r0 .
¡ ¢
A 0 (r,t) = − (87)
²0
Sabemos que a solução da Eq. (85) é
1 1
G(R) = − , (88)
4π |r − r0 |
levando ao resultado usual para o escalar potencial (potencial de Coulomb) obtido no âmbito da eletros-
tática,
Z ¡ 0 ¢
1 ρ r ,t 3 0
A 0 (r,t) = d r. (89)
4π²0 |r − r0 |
Esta solução é chamada de instantânea porque a densidade de carga medida no tempo t implica na
solução para o potencial escalar também no tempo t. Este fato parece indicar uma propagação instantâ-
nea do potencial escalar em todo espaço, o que é um comportamento não físico. Uma maneira de explicar
este cenário é admitindo que o campo A 0 não representa um grau de liberdade propagante da teoria e,
portanto, não representa propagação de sinal eletromagnético.
Podemos rapidamente detalhar o cálculo da função de Green (88):

d3p d 3 p − ip·R
Z Z
− i p· R 3
G (R) = G̃ (p) e , δ (R) = e . (90)
(2π)3 (2π)3
d3p ¡ 2¢
Z
∇2 G(R) = −p G̃ (p) e− ip·R , (91)
(2π)3
A Eq. (85) implica em

d3p ¡ 2¢ d 3 p − i p· R
Z Z
− i p·R
− p G̃ (p) e = e , (92)
(2π)3 (2π)3
d3p £ 2
Z
p G̃ (p) + 1 e− ip·R = 0.
¤
3
(93)
(2π)
Para satisfazer a última equação, deve valer p2 G̃ (p) + 1 = 0, o que implica em:
1
G̃ (p) = − , (94)
p2
de modo que agora podemos calcular a função de Green (90),

d 3 p 1 − ip·R 1
Z
G (R) = − e =− . (95)
(2π) 3 p2 4π R

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Os detalhes deste cálculo estão exibidos a seguir. O elemento de volume no espaço dos momentos é
escrito como d 3 p = p2 d p sin θ d θ d φ, de modo que

d 3 p 1 − ip·R 2π π ∞ p2 d p sin θ e− i pR cos θ ∞ dp π


Z Z Z Z Z Z
e = dφ dθ = 2π d θ sin θ e− i pR cos θ . (96)
(2π)3 p2 (2π)3 p2 (2π)3
¡ ¢
0 0 0 0 0

R 2π
onde 0 d φ = 2π, devido ao fato do problema não depender da coordenada angular φ. Também foi
usado p · R = pR cos θ , estando o vetor R alinhado com o eixo-z do espaço dos momentos. Observando o
resultado intermediário, Z π
− i ³ i pr ´
d θ sin θ e− i pr cos θ = e − e− i pr , (97)
0 pr
temos:
d 3 p 1 − ip·R ∞ d p − i ³ i pR
Z Z ´
− i pR
e = 2π e − e , (98)
(2π)3 p2 0 (2π)3 pR
o que recai em duas integrais no plano complexo:

d 3 p 1 − ip·R d p e i pR d p e− i pR ∞
Z ∞
1
Z ·Z ¸
e = −i − , (99)
(2π) 3 p2 (2π) R
0 (2π) p 0 (2π) p
Z 3
d p 1 − ip·R 1 i i 1
· ¸
e = − i + = , (100)
(2π)3 p2 (2 π ) R 4 4 (4 π )R

resultado que demonstra a Eq. (95). Neste desenvolvimento, usamos as seguintes integrações no plano
complexo:
∞ d p e i pR i ∞ d p e i pR i
Z Z
= → = , (101)
−∞ 2π p 2 0 2π p 4
∞ dp e− i pR i ∞ d p e− i pR i
Z Z
=− → =− . (102)
−∞ 2π p 2 0 2π p 4

2.2.2 Equação do vetor potencial transversal

Vamos agora cuidar da eq. (76). Para mostrar que no calibre de Coulomb apenas os graus de liber-
dade transversos se propagam, é preciso demonstrar que a eq. (76) é escrita somente em termos das
componentes A⊥ . Esta equação exibe a complicação de estar acoplada ao potencial A 0 pela presença do
termo ∇∂ t A 0 , que pode ser cancelado pela componente longitudinal da corrente, recaindo numa equação
diferencial totalmente lida em termos das componentes transversais, como veremos a seguir. A corrente
j, assim como o vetor potencial A, pode ser decomposta em duas componentes: uma logitudinal (jk ),
outra transversal (j⊥ ) ao vetor k de propagação do campo, ou seja,

j = j⊥ + jk . (103)

Supondo uma expansão de Fourier para a corrente, j ∝ e i(k·r−ω t) , vemos que

∇ · j = ik · j, (104)
∇ × j = ik × j. (105)

Portanto, é fácil perceber que a componente jk é irrotacional, enquanto a componente é solenoidal, tal
qual ocorre com as componentes Ak e A⊥ , ou seja,

∇ × jk = ik × jk = 0, (106)
∇ · j⊥ = ik · j⊥ = 0. (107)

9
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Sabendo que no gauge de Coulomb, A = A⊥ e, considerando a decomposição (103), escrevemos:

1 2 1
∇2 A⊥ − 2
∂ t A⊥ − 2 ∇∂ t A 0 = −µ0 j⊥ − µ0 jk . (108)
c c
Partindo agora da identidade,
∇ × ∇ × j = − ∇2 j + ∇ (∇ · j) , (109)

escrevemos a equação
∇2 j = −∇ × ∇ × j + ∇ (∇ · j) . (110)

A função de Green para a equação acima satisfaz a Eq. (85), sendo dada pela expressão (95). A solução
da Eq. (110), portanto, é
∇0 × j⊥ (r0 )

Z
G(r − r0 ) −∇0 × ∇0 × j(r0 ) + ∇0 ∇0 · j(r0 ) d 3 r0 ,
£ ¡ ¢¤
j(r,t) = (111)
  
1 1  0
Z
0 0 0 0 0  3 0
j(r,t) = ∇ × ∇ × j(r ) − ∇ ∇ · j(r ) d r , (112)
4π |r − r | 0 | {z } | {z }
0 0
∇0 ×j⊥ (r ) ∇0 ·jk (r )

onde ∇0 atua sobre as coordenadas r0 . Vemos assim que o primeiro termo do lado direito contém uma con-
tribuição transversal, enquanto o segundo termo do lado direito contém uma contribuição longitudinal.
Desta forma, a equação (112) pode ser separada em duas, uma para j⊥ , outra para jk , a saber:

1 1 £ 0
Z
∇ × ∇0 × j(r0 ) d 3 r0 ,
¤
j⊥ (r,t) = (113)
4π | r − r |
0

1 1 £ 0¡ 0
Z
∇ ∇ · j(r0 ) d 3 r0 .
¢¤
jk (r,t) = − (114)
4π | r − r |
0

A componente longitudinal pode ser reescrita, via integração por partes, como

1 1 £ 0¡ 0 1 1
Z Z µ ¶
0
¢¤ 3 0 0
¡ 0 0
¢ 3 0
jk (r,t) = − ∇ ∇ · j(r ) d r = ∇ ∇ · j(r ) d r, (115)
4π |r − r0 | 4π | r − r0 |

como demonstramos a seguir. Neste intento, fazemos uso de uma versão particular do teorema da
divergência, Z Z
¡ ¢ 3
∇ψ d r = ψ n̂dS, (116)
V S
com
1
ψ= ∇0 · j(r0 ). (117)
| r − r0 |
A relação (116) com ψ dado por (117) é escrita como,

1 1
Z µ ¶ Z µ ¶
0
0 0 0 3 0 0 0
∇ 0
∇ · j(r ) d r = 0
∇ · j(r ) n̂dS = 0, (118)
|r − r | S |r − r |

onde supusemos uma superfície S muito distante das fontes, na qual vale j(r0 ) = 0 e ∇0 · j(r0 ) = 0. Com
isto,
1
Z µ ¶
∇0 ∇0
· j(r0
) d 3 r0 = 0. (119)
| r − r0 |
Agora usamos:
1 1
µ ¶ µ ¶
∇0 ψ = ∇0 0 0
∇0 ∇0 · j(r0 ) ,
¡ ¢
0
∇ · j(r ) + 0
(120)
|r − r | |r − r |

10
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de tal modo que (119) leva a:

1 1
Z µ ¶ Z µ ¶
0 3 0
0 0
∇0 ∇0 · j(r0 ) d 3 r0 = 0,
¡ ¢
∇ 0
∇ · j(r )d r + 0
(121)
|r − r | |r − r |

1 1
Z µ ¶ Z µ ¶
¢ 3 0
0
∇0 · j(r0 )d 3 r0 .
¡ 0 0 0
∇ ∇ · j(r ) d r = − ∇ (122)
|r − r0 | | r − r0 |
Esta última passagem justifica o resultado

1 1
Z µ ¶
∇0 ∇ · j(r0 ) d 3 r0 ,
¡ 0 ¢
jk (r,t) = (123)
4π 0
|r − r |

tal qual escrito inicialmente na Eq. (115). Usando agora

1 1
µ ¶ µ ¶
∇0 = −∇ , (124)
|r − r0 | | r − r0 |

a Eq. (123) é reescrita como

1 1 1 1
Z µ ¶ Z µ ¶
¡ 0 0
¢ 3 0 ¡ 0 0
¢ 3 0
jk (r,t) = − ∇ ∇ · j(r ) d r = − ∇ ∇ · j(r ) d r, (125)
4π | r − r0 | 4π | r − r0 |

∇ · j(r0 3 0
Z µ 0
1

jk (r,t) = − ∇ d r. (126)
4π | r − r0 |
Substituindo tais resultados na Eq. (108), temos

1 2 1 µ0 ∇0 · j(r0 )
Z ·µ ¶¸
∇2 A⊥ − ∂ t A⊥ − 2 ∇∂ t A 0 = −µ0 j⊥ + ∇ d 3 r0 . (127)
c 2 c 4π |r − r0 |

Podemos agora retomar o termo ∇∂ t A 0 da Eq. (127), que à luz da solução (89), fornece:

∂ t ρ r0 , t 3 0
¡ ¢
1
Z
∇∂ t A 0 (r,t) = ∇ d r. (128)
4π²0 |r − r0 |

Fazendo uso da equação de continuidade, ∂ t ρ = −∇ · j, resulta

∇ · j(r0 ) 3 0
Z 0
1
∇∂ t A 0 (r,t) = − ∇ d r, (129)
4π²0 | r − r0 |
µ0 ∇ · j(r0 ) 3 0
Z 0
1
− 2 ∇∂ t A 0 = ∇ d r. (130)
c 4π | r − r0 |

Vemos assim, claramente, que o termo − c12 ∇∂ t A 0 se cancela com a contribuição da corrente longitudinal
do lado direito da Eq. (127), que então se reduz a:

1 2
∇2 A⊥ − ∂ A⊥ = −µ0 j⊥ . (131)
c2 t
Recuperamos então uma equação de onda para o potencial vetor, similar à equação (68), só que restrita
às componentes transversas de A e j, que representam os dois graus de liberdade físicos da teoria. O
fato desta equação de onda estar escrita apenas para a componente transversal A⊥ significa que apenas
os graus de liberdade transversais se propagam (representam graus de liberdade independentes) nesta
teoria.
Note que o potencial A 0 não representa grau de liberdade propagante, enquanto a componente lon-
¡ ¢
gitudinal é nula Ak = 0 , restando apenas as componentes transversais como graus de liberdade propa-
gantes.

11
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• Vantagens de trabalhar no calibre de Coulomb: elimina os graus de liberdade não-físicos,


deixando explícito apenas a propagação dos graus de liberdade transversais;

• Desvantagem de trabalhar no calibre de Coulomb: As equações de onda para os potenciais


A 0 , A assumem formas diferentes; a covariância da teoria é perdida.

1. Problema resolvido: Eletrodinâmica de Proca - A eletrodinâmica de Proca consiste na teoria


de Maxwell suplementada na presença do termo de massa para o fóton. As equações de Mawxell
no vácuo para o fóton massivo são dadas por:

∇ · E + M 2A A 0 = ρ /²0 , (132)

∇ × B − µ0 ²0 ∂ t E = − M 2A A + µ0 j, (133)

∇ × E = −∂ t B, (134)

∇ · B = 0. (135)

onde a massa do fóton é M A (massa de Proca para o fóton). (a) Partindo das equações de Maxwell,
encontre as equações de onda para o fóton massivo. (b) Usando o método de Green, encontre a solução
do potencial escalar para o fóton massivo.
Solução: (a) A equação de onda para o campo E pode ser obtida a partir da aplicação do operador
rot sobre a lei de Faraday, e B estão dadas por

∇ (∇ · E) − ∇2 E + ∂ t ∇ × B = 0. (136)
Da Eq. (7), temos: ∂ t ( ∇ × B) = − M 2A ∂ t A + µ0 ²0 ∂2t E + µ0 ∂ t j. Substituindo na Eq. (15), temos:

∇ (∇ · E) − ∇2 E − M 2A ∂ t A + µ0 ²0 ∂2t E + µ0 ∂ t j = 0, (137)
∇ ρ − M 2A A 0 − ∇2 E + µ0 ²0 ∂2t E − M 2A ∂ t A = −µ0 ∂ t j,
¡ ¢
(138)
2
−∇ E + µ0 ²0 ∂2t E − M 2A (∇ A 0 + ∂ t A) = −∇ρ /²0 − µ0 ∂ t j, (139)
1 2
µ ¶
∂ E − ∇ E + M 2A E = −∇ρ /²0 − µ0 ∂ t j,
2
(140)
c2 t
 + M 2A E = −∇ρ /²0 − µ0 ∂ t j.
¡ ¢
(141)

Da mesma forma, podemos obter uma equação de onda para setor magnético. Tomando o rotacional da
lei de Ampere (133),

−∇2 B + ∇ (∇ · B) − µ0 ²0 ∂ t (∇ × E) = − M 2A ∇ × A + µ0 ∇ × j, (142)
−∇ B + µ0 ²0 ∂2t B = − M 2A B + µ0 ∇ × j,
2
(143)
¡ 2
−∇ B + µ0 ²0 ∂2t B + M 2A B = µ0 ∇ × j,
¢
(144)
 + M 2A B = ∇ × j.
¡ ¢
(145)

As equações de onda para os campos E e B estão apresentadas abaixo,

 + M 2A B = µ0 ∇ × j,
¡ ¢
(146)

 + M 2A E = −∇ρ /²0 − µ0 ∂ t j,
¡ ¢
(147)

12
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sendo compatíveis com as as seguintes equações de onda para os potenciais escalar e vetor:

 + M 2A A 0 = ρ /²0 ,
¡ ¢
(148)

 + M 2A A = µ0 j.
¡ ¢
(149)
Tal compatibilidade pode ser verificada da seguinte forma: aplicando o rotacional na Eq. (149), obtemos
a Eq. (146); aplicando o gradiente na Eq. (148) e somando com a derivada temporal da Eq. (149),
obtemos a Eq. (147).
Na sua forma estática, as Eqs. (148) e (149) são lidas como:
¡ 2
−∇ + M 2A A 0 = ρ /²0 ,
¢
(150)
¡ 2
−∇ + M 2A A = µ0 j.
¢
(151)
Vamos usar o método de Green para solucionar tais equações, iniciando pela equação para o potencial
escalar:
¡ 2
∇ − M 2A A 0 = −ρ /²0 .
¢
(152)
Partimos das relações (88), de tal modo que temos:
d3p ¡ 2 d 3 p − i p· R
Z Z
2 − i p·R
¢
−p − M A G̃ (p) e = e , (153)
(2π)3 (2π)3
d3p £ ¡ 2
Z
− p + M 2A G̃ (p) − 1 e− ip·R = 0,
¢ ¤
3
(154)
(2π)
Para satisfazer a última equação, deve valer p2 + M 2A G̃ (p) = −1, o que implica em:
£ ¤

1
G̃ (p) = − . (155)
p2 + M 2A
A função de Green (90) é dada por:
d3p 1
Z
G (R) = − e − i p· R . (156)
3
(2π) p2 + M 2A
Os detalhes deste cálculo estão exibidos a seguir. O elemento de volume no espaço dos momentos é
escrito como d 3 p = p2 d p sin θ d θ d φ, de modo que
p d p sin θ e− i pR cos θ
Z 3 Z 2π Z π Z ∞ 2 Z π
p2
Z ∞
d p 1 dp
e − i p·R
= d φ d θ = d θ sin θ e− i pR cos θ .
(2π)3 p2 + M 2A 0 0 0 (2π)
3 p2 + M 2A 2
0 (2π) p2 + M A 0
2

(157)
R 2π
onde 0 d φ = 2π, devido ao fato do problema não depender da coordenada angular φ. Também foi
usado p · R = pR cos θ , estando o vetor R alinhado com o eixo-z do espaço dos momentos. Observando o
resultado intermediário, Z π
− i ³ i pr ´
d θ sin θ e− i pr cos θ = e − e− i pr , (158)
0 pr
temos:
Z 3
d p e− ip·R −1 i ∞ pd p ³ i pR
Z ´
− i pR
= e − e , (159)
(2π)3 p2 + M 2A (2π)2 R 0 p2 + M 2A
 

d3p e− ip·R pe i pR d p
Z ∞ Z ∞ − i pR 
i 
−1 pe dp
Z
=  − , (160)
(2π)3 p2 + M 2A (2π)2 R  0 p2 + M 2A p2 + M 2A 
 
0
| {z } | {z }
I1 I2

13
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Precisamos agora resolver as integrais no plano complexo, onde o momento p agora é uma variável
complexa, escrevemos: p = Re(p) + i Im(p). Vamos iniciar com a seguinte integral:

pe i pR d p pe i pR d p
Z ∞ Z ∞
I1 = = , (161)
0 p2 + M 2A 0 (|p| + iM A ) (|p| − iM A )

onde p2 + M 2A = (|p| + iM A ) (|p| − iM A ) . Portanto, temos dois pólos no eixo imaginário do plano complexo:
|p| = − iM A e |p| = iM A . Identificados polos, vamos propor a equivalência da integral I 1 com a seguinte
integral no plano complexo:

pe i pR d p
I
I 1C = , (162)
(|p| + iM A ) (|p| − iM A )
C
onde C 1 é um contorno em forma de semi-círculo que abarca todo eixo real da variável p, sendo fechado
por cima (pela parte superior do plano complexo). Vide a Fig. (1-a).

Figura 1: Contornos de integração (a) e (b) para as integrais complexas (162) e (168).

É importante justificar por qual razão o contorno C 1 precisa ser fechado por cima, não por baixo.
Para isto, lembramos que p = Re(p) + i Im(p), o que implica:

e i pR = e iR Re( p) e−R Im( p) . (163)

Portanto, se o cortono C 1 tiver um grande raio R, os valores da parte imaginária de p são elevados,
Im(p) >> 1, o que leva a exponencial a zero, e− Im( p) → 0, apenas se Im(p) > 0 (o que ocorre na parte
superior do plano complexo). Com e− Im( p) → 0 ocorre a anulação da integração complexa ao longo da
parte circular do caminho C 1 , restando apenas a contribuição sobre o eixo real - Re (p), estabelecendo a
equivalência entre as integrais I 1 e I 1C , dadas em (??) e (??). Dado tal equivalência, escrevemos:

pe i pR d p pe i pR d p
Z ∞ I
= . (164)
−∞ (|p| + iM A ) (|p| − iM A ) (|p| + iM A ) (|p| − iM A )
C

Seguimos agora para aplicar o teorema dos resíduos para a integral I 1C :

pe i pR d p pe i pR d p
I · ¸
= (2π i) Res . (165)
(|p| + iM A ) (|p| − iM A ) (|p| + iM A ) (|p| − iM A ) |p|= iM A
C1

Como apenas o polo |p| = iM A está dentro do contorno C 1 , vide Fig. (1-a), o resíduo é calculado apenas
para este polo:
pe i pR d p iM A e− M A R e− M A R
· ¸ · ¸
Res = = , (166)
(|p| + iM A ) (|p| − iM A ) |p|= iM A (2iM A ) 2

14
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pe i pR d p e− M A R
I
= (2π i) = i π e− M A R . (167)
(|p| + iM A ) (|p| − iM A ) 2
C1

Vamos agora calcular a integral I 2 :


∞ pe− i pR d p ∞ pe− i pR d p
Z Z
I2 = = , (168)
0 p2 + M 2A 0 (|p| + iM A ) (|p| − iM A )

Temos os mesmos dois pólos no eixo imaginário do plano complexo: |p| = − iM A e |p| = iM A . Identificados
os polos, vamos propor a equivalência da integral I 2 com a seguinte integral no plano complexo:

pe− i pR d p
I
I 2C = , (169)
(|p| + iM A ) (|p| − iM A )
C2

onde C 2 é um contorno em forma de semi-círculo que abarca todo eixo real da variável p, sendo fechado
por baixo (pela parte infeior do plano complexo), pela mesma razão que o contorno C 1 da integral I 1C é
fechado por cima. É importante justificar por qual razão o contorno C 2 precisa ser fechado por baixo, e
não por cima. Para isto, lembramos que p = Re(p) + i Im(p), o que implica:

e− i pR = e− iR Re( p) e+R Im( p) . (170)

Portanto, se o cortono C 2 tiver um grande raio R e Im(p) << 1, decorre eIm( p) → 0. Note isto só se realiza
se Im(p) < 0 (válido na parte inferior do plano complexo). Deste modo, a integração complexa ao longo
da parte circular do caminho C 2 torna-se nula, restando apenas a integral sobre o eixo real. Vide Fig.
(1-b). Este procedimento estabelece a equivalencia entre as integrais I 2 e I 2C , ou seja,
∞ pe− i pR d p pe− i pR d p
Z I
= . (171)
−∞ (|p| + iM A ) (|p| − iM A ) (|p| + iM A ) (|p| − iM A )
C2

Seguimos agora para aplicar o teorema dos resíduos para a integral I 2C :

pe− i pR d p pe− i pR d p
I · ¸
= (−2π i) Res , (172)
(|p| + iM A ) (|p| − iM A ) (|p| + iM A ) (|p| − iM A ) |p|=− iM A
C1

onde o sinal negativo em (−2π i) advém do sentido horário de circulação da integral complexa (o sentido
de circulação foi revertido para preserva a integração ao longo do sentido crescente do eixo Re (p)). Como
apenas o polo |p| = − iM A está dentro do contorno C 2 , o resíduo é calculado somente para este polo:

pe− i pR d p − iM A e− M A R e− M A R
· ¸ · ¸
Res = = , (173)
(|p| + iM A ) (|p| − iM A ) |p|=− iM A (−2iM A ) 2

pe i pR d p e− M A R
I
= (−2π i) = − i π e− M A R . (174)
(|p| + iM A ) (|p| − iM A ) 2
C1

Substituindo tais resultados na expressão (160), temos:

d3p e − i p· R −1i iπ −M A R iπ −M A R 1 π e− M A R
Z · µ ¶¸
= e − − e = , (175)
(2π)3 p2 + M 2A (2π)2 R 2 2 (2π)2 R

d3p e− ip·R 1 e− M A R
Z
= , (176)
(2π)3 p2 + M 2A 4π R
o que leva à seguinte função de Green estática para a eletrodinâmica de Proca:

15
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1 e− M A R
G (R) = − . (177)
4π R
Considerando a Eq. (152), temos:
Z Ã 0

ρ r0 , t 1 e− M A |r−r | ρ r0
Z µ ¡ ¢¶ ¡ ¢¶
3 0
A 0 (r) = 0
G(r − r ) − d r = − − d 3 r0 , (178)
²0 4π | r − r 0 | ²0
Z − M A |r−r0 |
1 e
ρ r0 d 3 r0 .
¡ ¢
A 0 (r) = (179)
4π²0 0
|r − r |
Para uma carga pontual, ρ r = qδ r − r0 , temos:
¡ 0¢ ¡ 0 ¢

0 0
1 e− M A |r−r | ¡ 0 ¢ 3 q e− M A |r−r | ¡ 0
Z Z
qδ r d r = qδ r − r0 d 3 r0 .
¢
A 0 (r) = (180)
4π²0 0
|r − r | 4π²0 0
|r − r |

Realizando a integração em d 3 r0 , encontramos:

q e− M A |r−r0 |
A 0 (r) = . (181)
4π²0 |r − r0 |
Para carga fonte na origem, r0 = 0, temos simplesmente:

q e− M A r
A 0 (r) = . (182)
4π²0 |r|
O campo elétrico correspondente, E = −∇ A 0 , é dado a seguir:
µ −M A r
q e e− M A r

E (r) = − r̂ − M A r̂ , (183)
4π²0 r2 r
q e− M A r
E (r) = − (1 + M A r) r̂. (184)
4π²0 r2

3 Solução das Equações de onda via método de Green geral


Para obter soluções das equações de onda encontradas para os potenciais A 0 , A, apresentamos o método
de Green especificado para equações de onda da forma,
1 2
∇2 Ψ − ∂ Ψ = f (r, t), (185)
c2 t
onde a função f (r, t) desempenha o papel da fonte da equação. Nesta equação de onda, o sinal propaga-se
com velocidade c. A fim de aplicar o método de Green, é necessário apresentar representações integrais
de Fourier para as funções Ψ(r, t), f (r, t):
1
Z
Ψ(r, t) = Ψ(r, ω)e− iω t d ω, (186)

1
Z
f (r, t) = f (r, ω)e− iω t d ω, (187)

juntamente com as transformadas inversas:
Z
Ψ(r, ω) = Ψ(r, t)e iω t dt, (188)
Z
f (r, ω) = f (r, t)e iω t dt. (189)

16
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Substituindo tais expressões na Eq. (185), encontramos a equação não homogênea de Helmholtz,
¡ 2
∇ + k2 Ψ(r, ω) = f (r, ω),
¢
(190)

onde k = ω/c é o vetor de onda. A função de Green espacial para a Eq. (190) satisfaz a mesma estrutura
diferencial desta equação, ou seja,
¡ 2
∇ + k2 G(r, r0 ) = δ(r − r0 ).
¢
(191)

Na ausência de superfícies de contorno, sabemos que função de Green só pode depender do vetor relativo
r − r0 , ou seja, G(r, r0 ) = G(r − r0 ), devendo ser esfericamente simetrica. Assim, reescrevemos:
¡ ¢

¡ 2
∇ + k2 G(R) = δ(R).
¢
(192)

Uma maneira mais direta de solucionar a Eq. (185) é escrevendo diretamente a equação diferencial
para a função de Green completa correspondente, G(r, r0 ; t, t0 ), generalizada para espaço e tempo. Para
a função de Green G(r, r0 ; t, t0 ) escreve-se uma equação com a mesma estrutura diferencial da Eq. (185),
ou seja,

1
µ ¶
∇2 − 2 ∂2t G(r, r0 ; t, t0 ) = δ(r − r0 )δ(t − t0 ), (193)
c
1
µ ¶
∇2 − 2 ∂2τ G(R; τ) = δ3 (R)δ(τ), (194)
c

onde R = r − r0 , τ = t − t0 . Note agora que a função de Green é uma função tanto da posição quanto do
tempo. A solução para Ψ(r, t) é dada por uma dupla convolução no espaço e no tempo da função de
Green com a funçao não homogênea, ou seja:
Z Z
Ψ(r, t) = G(R; τ) f (r0 , t0 )dt0 d 3 r0 . (195)

Para aplicar o método de Green, devemos apresentar as transformadas de Fourier da função de


Green e da delta de Dirac, envolvendo agora tempo e espaço:

d3p dω
Z Z
G (R, τ) = G̃ (p,ω) e− ip·R e− iωτ , (196)
(2π) 3(2π )
d 3 p − ip·R d ω − iωτ
Z Z
δ3 (R) = e , δ (τ ) = e . (197)
(2π) 3 (2π)

Substituindo tais transformadas na Eq. (194), obtemos:

1 2 d3p dω ω2 − ip·R − iωτ


µ ¶ Z Z µ ¶
2 2
∇ − 2 ∂τ G(R; τ) = G̃ (p,ω) −p + 2 e e , (198)
c (2π)3 (2π) c
d3p dω d3p dω
Z Z Z Z
2 − i p·R − i ωτ
¡ 2
ω
¢
G̃ (p, ) −p + k e e = , (199)
π
(2 ) 3 (2 π ) π
(2 )3 (2 π)

onde k = ω/c é o vetor de onda. Substituindo (199) na Eq. (194), encontramos:

d3p dω £
Z Z
G̃ (p,ω) −p2 + k2 − 1 e− ip·R e− iωτ = 0,
¡ ¢ ¤
(200)
(2π) 3 (2π)

o que exige G̃ (p,ω) −p + k2 − 1 = 0, ou melhor,


¡ 2 ¢

1 1
G̃ (p,ω) = ¡ ¢ = −¡ ¢, (201)
−p2 + k2 p − k2
2

17
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o que substituído na Eq. (196), leva a:

d ω − iωτ d3p e − i p· R
Z Z
G (R, τ) = − e ¢. (202)
(2π) (2π)3 p2 − k2
¡

Conhecendo as transformadas de Fourier,

d3p 1 1 e−mR
Z
− i p·R
e = , (203)
(2π)3 p2 + m2 4π R
d3p 1 1 e± ikR
Z
− i p·R
e = , (204)
(2π)3 p2 − k2 4π R

encontramos:

1 d ω − iωτ e± ikR 1 1 ∞ d ω − iωτ ± ikR


Z Z
G (R, τ) = − e =− e e , (205)
4π (2π) R (4π) R −∞ (2π)
1 1 d ω − i ω (τ ∓ R / c )
Z
G (R, τ) = − e , (206)
(4π) R (2π)
onde R = |R| = ¯r − r0 ¯ . Usando o resultado
¯ ¯

d ω − i ω (τ ∓ R / c ) 1 1
Z
e =− δ (τ ∓ R/c) , (207)
(2π) (4π) R

obtemos:
1 δ (τ ∓ R/c)
G (±) (R, τ) = − . (208)
(4π) R
Lembrando que R = r − r0 , τ = t − t0 , escrevemos:

|r−r0 |
³h i ´
1 δ t∓ c − t0
G (±) (R, τ) = − . (209)
(4π) | r − r0 |

A função G (+) (R, τ) é a chamada função de Green de retardada, enquanto G (−) (R, τ) é a chamada
função de Green de avançada. A função de Green retardada desempenha um papel físico importante
no que tange aos aspectos deicausalidade na transmissão da informação do campo eletromagnético.
|r−r0 |
³h ´
Note que a função δ t − c 0
− t , quando integrada no tempo, implicará em contribuições não nulas
apenas para
¯ r − r0 ¯ ¸
· ¯ ¯
0
t = t− , (210)
c
onde se nota que a defasagem temporal entre t e t0 é exatamente o tempo que ¯ a luz¯ leva para se propagar
¡ 0¢ 0¯
da localizaçao da fonte r ao ponto de medida do campo (r) , dado por r − r /c. Portanto, a função
¯
de Green retardada incorpora em seu interior a noção do tempo de propagação da informação física,
elemento fundamental em uma boa teoria de campos.
No cálculo das transformadas (203) e (204), usamos d 3 p = p2 d p sin θ d θ d φ, ou seja,

d3p 1 2π π ∞ p2 d p sin θ e− i pR cos θ


Z Z Z Z
3 p2 + m 2
e− ip·R = dφ dθ ¢ , (211)
(2π) (2π)3 p2 + m 2
¡
0 0 0

d3p 1 2π π ∞ p2 d p sin θ e− i pR cos θ


Z Z Z Z
3 p2 − k 2
e− ip·R = dφ dθ ¢ , (212)
(2π) (2π)3 p2 − k 2
¡
0 0 0

18
Profº Manoel Messias Ferreira Jr - Notas de Aula - Equações de Maxwell e simetria de calibre

e o resultado intermediário
Z π i ³ i pR ´
d θ sin θ e− i pR cos θ = − e − e− i pR . (213)
0 pR
Considerando as equações de onda escritas no gauge de Lorentz,
1 2
∇2 A − ∂ A = −µ0 j, (214)
c2 t
1 ρ
∇2 A 0 − 2 ∂2t A 0 = − . (215)
c ²0
para as quais a função de Green associada é a função retardada, podemos escrever suas soluções como
1
Z
A 0 (r, t) = − G (+) (R, τ) ρ (r0 , t0 )dt0 d 3 r0 , (216)
²0
Z
A(r, t) = −µ0 G (+) (R, τ) j(r0 , t0 )dt0 d 3 r0 . (217)

Substituindo a função G (+) (R, τ) na Eq. (216),


|r−r0 |
³h i ´
Z Z δ t− − t0
1 c
A 0 (r, t) = ρ (r0 , t0 )dt0 d 3 r0 , (218)
(4π) ²0 | r − r0 |
1 ρ (r0 , t ret ) 3 0
Z
A 0 (r, t) = d r, (219)
(4π) ²0 |r − r0 |
onde
¯r − r0 ¯
¯ ¯
t ret = t −
, (220)
c
é o tempo retardado. Analogamente, para o potencial vetor,
0 i
Z Z δ t − |r−r | − t0
³h ´
µ0 c
A(r, t) = j(r0 , t0 )dt0 d 3 r0 , (221)
4π | r − r0 |
µ0 j(r0 , t ret ) 3 0
Z
A(r, t) = d r. (222)
4π |r − r0 |
OBS.: Note que A 0 (r, t) e A(r, t), avaliado no tempo presente t, estão dadas em ¯ termos de uma integral
avaliada em t ret , que é um tempo passado. A diferença entre t e t ret é dada por ¯r − r0 ¯ /c, o que representa
¯

o tempo gasto pela onda eletromagnética (propagação de sinal) para propagar-se da posição da fonte (r0 )
para o ponto onde o ponto os campos são avaliados (r).

4 Soluções de campos retardados e equações de Jefimenko


Nesta seção, buscaremos obter os campos E, B, associados às soluções para os potenciais retardados das
Eqs. (219), (222),
Z £ 0
ρ (r , t R ) ret 3 0
¤
1
A 0 (r, t) = d r, (223)
(4π) ²0 | R|
Z £ 0 ¤
j(r , t R ) ret 3 0
A(r, t) = µ0 d r, (224)
|R|
que exibem termos não estáticos, de dependência temporal, típicos de cenários de evolução temporal
dinâmica. Tais soluções para os campos E(r, t) e B(r, t) são denominadas de soluções de Jefimenko. São
encontradas a seguir através de dois métodos distintos de cálculo.

19
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4.1 Equações de Jefimenko (método 1)


As soluções retardadas para os campos E, B, correspondem às generalizações da lei de Coulomb e lei
de Bio-Savart para o caso em que a densidade de carga e corrente (fontes) apresentam dependência
temporal. Como sabemos, os campos E, B, satisfazem às seguintes equações de onda:
1 2
∇2 E − ∂ E = µ0 ∂ t j + ∇ρ /²0 , (225)
c2 t
1
∇2 B − 2 ∂2t B = −µ0 ∇ × j. (226)
c
Para tais equações, a função de Green correspondente satisfaz a Eq. (194), sendo assim dada pela
solução (209). As soluções para o campo E, neste caso, é dada por:

1 ∇0 ρ (r0 , t0 )
Z Z µ ¶
E(r, t) = − G (+) (R, τ) µ0 ∂ t0 j(r0 , t0 ) + dt0 d 3 r0 , (227)
(4π) ²0

0 i
Z Z δ t − |r−r | − t0 µ
³h ´
1 ∇0 ρ (r0 , t0 )

c
E(r, t) = − 0
0 0
µ0 ∂ t j(r , t ) + dt0 d 3 r0 , (228)
(4π) | r − r0 | ²0
1 1 ¡
Z
0 0 0
¢ 3 0
E(r, t) = − µ 0 ² 0 ∂ t j(r , t R ) + ∇ ρ (r , t R ) d r, (229)
(4π) ²0 |r − r0 | R

ou equivalentemente:

1 1 1
Z · ¸
E(r, t) = − ∂ t 0 j(r0 0
, t ) + ∇0
ρ (r0 0
, t ) d 3 r0 , (230)
(4π) ²0 |r − r0 | c2 ret
1 1 1 £
Z ½ ¾
∇ ρ (r , t ) ret + 2 ∂ t j(r , t ) ret d 3 r0 ,
£ 0 0 0
¤ 0 0
¤
E(r, t) = − 0 (231)
(4π) ²0 |r − r0 | c

onde []ret designa que termo entre colchetes deve ser avaliado no tempo retardado, t0 = t R = t − ¯r − r0 ¯ /c.
¯ ¯

É possível reapresentar as soluções acima calculando os termos ∇ ρ (r0 , t0 ) ret e ∂ t0 j(r0 , t0 ) ret . Inici-
£ 0 ¤ £ ¤

amos avaliando ∇0 ρ (r0 , t0 ) ret :


£ ¤
¯ r − r0 ¯ ¶
µ ¯ ¯
0 0 0 0 0
∇ ρ (r , t ) = ∇ ρ r , t − , (232)
c
Como ρ (r0 , t0 ) possui uma segunda dependência em termos de r0 dentro de t0 , vamos usar:

∂ ∂ ∂ ∂ t0
µ ¶ · ¸
= [] −
i 0 ret
, (233)
∂ x i0 ret ∂x ∂ t0 ret ∂ x i0
∂ρ
· ¸
¡ 0 ¢ 0 0
∇ ρ ret = ∇ ρ ret − ¯r − r0 ¯ /c .
£ ¤ ¡ ¯ ¯ ¢
∇ t − (234)
∂ t0 ret
Explicitando a derivação em relação a uma coordenada x i0 , temos:

∂ t − ¯r − r0 ¯ /c
¡ ¯ ¯ ¢
∂ρ ∂ t0 ∂ρ
· ¸
¡ 0 ¢i ¡ 0 ¢i 0i
∇ ρ = ∂0i ρ (r0 , t0 ) − 0 i0 ∇ ρ = ∇ ρ ret −
£ ¤
→ , (235)
∂t ∂x ∂ t0 ret ∂ x i0
Calculando o gradiente do tempo t0 :
¯i
∂ t − ¯r − r0 ¯ /c 1 ∂ ¯r − r0 ¯ 1 ¯r − r0 ¯
¡ ¯ ¯ ¢ ¯¢ ¯
1 Ri
¡¯
∂ t0
= =− = = , (236)
∂ x i0 ∂ x i0 c ∂ x i0 c | r − r0 | c | R|
Esse resultado é

∇0 t − ¯r − r0 ¯ /c = ∇0 (t R ) = .
¡ ¯ ¯ ¢
(237)
c

20
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Assim temos:
¡ 0 £ ¤ ¢ i 1 ∂ρ Ri
· ¸
£ 0 ¤i
∇ ρ ret = ∇ ρ ret − , (238)
c ∂ t0 ret |R|
∂ρ
· ¸
£ 0 ¤ 0 R̂
∇ ρ ret = ∇ ρ ret −
£ ¤
. (239)
∂ t0 ret c

Retornando à Eq. (231), temos:

1 1 ∂ρ R̂ 1 £
Z · · ¸ ¸
0
∇ ρ ret − ∂ t0 j(r , t ) ret d 3 r0 ,
0 0
£ ¤ ¤
E(r, t) = − + (240)
(4π) ²0 |R| ∂ t0 ret c c2
∇0 ρ ret
Z " £ ¤ #
1 ∂ρ 1 £
· ¸

∂ t0 j(r , t ) ret d 3 r0 .
0 0
¤
E(r, t) = − + − (241)
(4π) ²0 R ∂ t0 ret cR c2 R

Fazendo uma integração por partes,


Z 0£ ¤
∇ ρ ret 3 0 1 £ ¤
µ ¶ Z µ ¶
R̂ £ ¤
Z
d r = − ∇0 ρ ret d 3 r0 = − ρ ret d 3 r0 , (242)
R R R2
onde usamos
1
¶ µ µ ¶ µ ¶
0 R̂ R̂
∇ =− − 2 = . (243)
R R R2
1 R̂ ∂ρ 1 £
Z ½µ ¶ · ¸ ¾
R̂ £ ¤
ρ ret + ∂ t0 j(r , t ) ret d 3 r0 .
0 0
¤
E(r, t) = − (244)
(4π) ²0 R2 cR ∂ t0 ret c2 R
Essa é a equação de Jefimenko para o campo elétrico. Trata-se de uma generalização da lei de Coulomb
para o caso em que as fontes (de carga e corrente) apresentam dependência temporal, o que inclui a
possibilidade das cargas estarem em movimento. Obviamente, se tomamos ∂ t0 ρ = 0 e ∂ t0 j(r0 , t0 ) = 0,
recaímos no caso coulombiano usual, E(r, t) = [(4π) ²0 ]−1 ρ (r0 )R̂/R 2 d 3 r0 , como esperado.
R© ª

Similarmente, para o campo magnético, temos:


1
Z Z
G (+) (R, τ) −µ0 ∇0 × j(r0 , t0 )dt0 d 3 r0 ,
¡ ¢
B(r, t) = − (245)
(4π)

0 i
Z Z δ t − |r−r | − t0
³h ´
1 c
−µ0 ∇0 × j(r0 , t0 )dt0 d 3 r0 ,
¡ ¢
B(r, t) = − (246)
(4π) 0
|r − r |
µ0
Z 0
∇ × j(r0 , t R ) 3 0
B(r, t) = d r, (247)
(4π) | r − r0 |
Z £ 0
∇ × j(r0 , t0 ) ret 3 0
¤
µ0
B(r, t) = d r. (248)
(4π) |r − r0 |
Realizando procedimentos similares, decorre:

µ0
Z ½ µ ¶ ¾
R̂ R̂
d 3 r0 .
£ 0 0¤ 0 0
+ ∂ t j(r , t ) ret ×
£ ¤
B(r, t) = j(r , t ) ret × 0 (249)
π
(4 ) R 2 R c
Esta é equação de Jefimenko para o campo magnético, correspondente à generalização da lei de Biot-
Savart para o caso em que a densidade de corrente apresenta variação temporal. Note que a condição
∂ t0 j(r0 , t0 ) = 0 reduz essa solução à lei estática de Biot-Savart:

µ0 j(r0 ) × R̂ 3 0
Z µ ¶
B(r, t) = d r. (250)
(4π) R2

21
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4.2 Equações de Jefimenko (método 2)


Podemos encontrar as equações de Jefimenko de uma maneira mais simples, como veremos a seguir. No
caso com dependência temporal, o campo elétrico é dado por

E(r, t) = −∇ A 0 (r, t) − ∂ t A(r, t). (251)

Aplicando o gradiente (em relação ao vetor r) sobre a Eq. (219), temos

1 ρ (r0 , t0 ) 3 0 1 ∇ρ (r0 , t0 ) 1
Z µ ¶ Z µ µ ¶¶
∇ A 0 (r, t) = ∇ d r = 0 0
+ ρ (r , t )∇ d 3 r0 . (252)
(4π) ²0 |r − r0 | (4π) ²0 | r − r0 | |r − r0 |

Como agora ∇ refere-se à coordenada r, vale

1 (r − r0 )
µ ¶ µ ¶
R R̂
∇ 0
= − 3
=− 3 =− 2, (253)
|r − r | |r − r0 | | R| |R|

∂ρ ∂ρ
· ¸ · ¸ µ ¶
0 0 0¯ R̂
∇ρ (r , t ) =
¯ ¯ ¢ ¡
∇ t − r − r /c = −
¯ , (254)
∂ t ret
0 ∂ t ret c
0

onde usamos

∇ (t R ) = ∇ t − ¯r − r0 ¯ /c = − .
¡ ¯ ¯ ¢
(255)
c
¯b
∂ t − ¯r − r0 ¯ /c 1 ∂ ¯r − r0 ¯ 1 ¯r − r0 ¯
¡ ¯ ¯ ¯¢ ¯
1 Rb
¢ ¡¯
b ∂ t0
∇ (t R ) = ∂b t R = b = = − = − = − . (256)
∂x ∂xb c ∂xb c |r − r0 | c |R|

Substituindo tais resultados no gradiente (252), resulta:

1 ∂ρ
Z µ · ¸ ¶
R̂ 0 0 R̂
∇ A 0 (r, t) = − − ρ (r , t ) d 3 r0 , (257)
(4π) ²0 ∂ t0 ret cR R2
1 1 ∂ρ ρ (r0 , t0 ) R̂ 3 0
Z µ · ¸ ¶µ ¶
∇ A 0 (r, t) = − + d r. (258)
(4π) ²0 c ∂ t0 ret R R

Podemos agora calcular a derivada temporal do potencial vetor, dado na Eq. (222), que é encontrada
derivando apenas no numerador:

µ0 ∂ t j(r0 , t R ) 1 ∂ t j(r0 , t R )
Z Z
∂ t A(r, t) = d 3 r0 = d 3 r0 . (259)
4π |r − r0 | 4π²0 c2 |r − r0 |
Substituindo os resultados na Eq. (251),

1 ∂ρ 1 ∂ t j(r0 , t R ) 3 0
Z µ· ¸ ¶
R̂ 0 0 R̂
Z
3 0
E(r, t) = + ρ (r , t ) d r − d r, (260)
(4 ) ²0
π ∂ t0 ret cR R 4π²0 c2 | r − r0 |

1 ∂ρ R̂ ∂ t j(r0 , t R ) 3 0 3 0
Z µ· ¸ ¶
R̂ 0
E(r, t) = + ρ (r , t R ) 2 − d r d r. (261)
(4π) ²0 ∂ t0 ret cR R c2 R
Por sua vez, o campo magnético está dado por:

B(r, t) = ∇ × A(r, t), (262)


com vetor potencial dado pela Eq. (222), ou seja,

µ0
µ 0
j(r , t R ) 3 0 µ0 ∇ × j(r0 , t R ) 1
Z ¶ Z µ µ ¶ ¶
0 3 0
∇ × A(r, t) = ∇× d r = + ∇ × j(r , t R d r,
) (263)
4π |r − r0 | 4π |r − r0 | |r − r0 |

22
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uma vez que ∇ × (φj) = φ(∇ × j) + ∇φ × j. Vamos agora calcular ∇ × j(r0 , t R ), ou seja,
¤a
∇ × j(r0 , t R ) = ²abc ∂b j c (r0 , t R )
£
(264)

A componente de corrente j c (r0 , t R ) depende explicitamente das coordenadas r0 e t R . A dependência de


j c (r0 , t R ) em r está implícita e contida dentro de t R . Assim, temos:
¯b
∂ t − ¯r − r0 ¯ /c 1 ∂ ¯r − r0 ¯ 1 ¯r − r0 ¯
¡ ¯ ¯ ¢ ¯¢ ¯
1 Rb
¡¯
∂ t0
∂b t R = = =− = − = − , (265)
∂xb ∂xb c ∂xb c |r − r0 | c |R|

µ ¶b

∂b j c = ∂ t R j c (∂b t R ) = ∂ t R j c − , (266)
c
µ ¶b µ ¶b
¤a R̂ R̂
∇ × j(r0 , t R ) = ²abc ∂ t R j c − = −²abc ∂tR jc ,
£
(267)
c c
¸ ¶a ·· µ ¶¸a
∂j(r0 , t R ) ∂j(r0 , t R )
µµ ¶ · ¸
£ 0
¤a R̂ R̂
∇ × j(r , t R ) = − × = × , (268)
c ∂t ret ∂t ret c

∂j(r0 , t R )
· ¸ µ¶
0 R̂
∇ × j(r , t R ) = × . (269)
∂t ret c
Substituindo esses resultados na Eq.(263), obtemos:

µ0 ∂j(r0 , t R )
Z µ· ¸ ¶
R̂ R̂
∇ × A(r, t) = × − × j(r , t R ) d 3 r0 ,
0
(270)
4π ∂ t0 ret cR |R|2

implicando em:
µ0
Z µ ¶
R̂ R̂
∂ t0 j(r0 , t R ) ret × + j(r0 , t R ) × 2 d 3 r0 ,
£ ¤
B(r, t) = (271)
4π cR R
mesmo resultado obtido anteriormente.

5 Potenciais de Lienard-Wiechert.
Vamos agora determinar como podemos usar os resultados já alcançados para obter os potenciais escalar
e vetor de uma carga pontual em movimento. Neste contexto, seja r0 o vetor que designa a posição de
uma carga pontual, q, que se desloca com velocidade v, onde v = dr0 /dt. As densidades de carga e
corrente associadas são dada por distribuições tipo delta de Dirac centradas sobre a carga:

ρ (r0 , t0 ) = qδ3 r0 − r0 ,
¡ ¢
(272)
j(r0 , t0 ) = qvδ3 r0 − r0 ,
¡ ¢
(273)

Substituindo a densidade de carga na Eq. (218), escrevemos:

|r−r0 |
³h i ´
Z Z δ t− − t0
1 c
qδ3 r0 − r0 dt0 d 3 r0 ,
¡ ¢
A 0 (r, t) = (274)
(4π) ²0 |r − r0 |
Integrando primeiramente em d 3 r0 , temos:

|r−r0 ( t0 )|
³h i ´
Z δ t− − t0
q c
A 0 (r, t) = dt0 . (275)
(4π) ²0 |r − r0 (t0 )|

23
Profº Manoel Messias Ferreira Jr - Notas de Aula - Equações de Maxwell e simetria de calibre

Preliminarmente, sabemos que R = r − r0 ou R = r − r0 , o que enseja

dR dr0 dR
=− 0 → = −v. (276)
dt0 dt dt0

Temos agora que ¯realizar a integral em dt0 , observando que a delta de Dirac somente contribuirá quando
0
t = t − r − r0 (t0 )¯ /c , o que levaria a escrever o vetor posição r0 (t0 ) em função dele mesmo:
£ ¯ ¤
¯

r0 (t0 ) = r0 (t − |r − r0 | /c). (277)

Uma forma de contornar esta dificuldade é fazendo uma mudança de coordenada, t0 → t00 , onde:

¯r − r0 (t0 )¯
¯ ¯
00 0
t = t −t+ , (278)
c

o que leva a
1 dR 0 1 dR
· ¸
dt00 = dt0 + dt = dt 0
1 + , (279)
c dt0 c dt0
p
Sabendo que R = R · R, decorre

dR 1 d 2 d
µ ¶
R
0
= 0
(R · R) = 0
R · R = −v · = −v · R̂, (280)
dt 2R dt 2R dt R

que ao ser substituído na Eq. (279), fornece:

1
· ¸
00 0
dt = dt 1 − v · R̂ . (281)
c

Note que R̂ é o vetor unitário na direção e sentido do vetor R = r − r0 . Fazendo estas substituições na
expressão (275), escrevemos:

δ − t00
¡ ¢
q dt00
Z
A 0 (r, t) = ¤, (282)
(4π) ²0 |r − r0 (t0 )| 1 − 1 v · R̂
£
c

cujo resultado é
q 1
A 0 (r, t) = , (283)
(4π) ²0 κ |r − r0 (t ret )|
tendo

1
· ¸
κ = 1 − v · R̂ = 1 − β · R̂ ,
£ ¤
(284)
c
| r − r0 |
t ret = t − , (285)
c

onde β = v/c. No que concerne ao potencial vetor, dado pela Eq. (221), o mesmo pode ser especificado
para uma carga pontual em movimento usando-se a densidade de corrente (273), levando a

|r−r0 |
³h i ´
Z Z δ t− − t0
µ0 c
δ3 r0 − r0 dt0 d 3 r0 ,
¡ ¢
A(r, t) = qv (286)
4π |r − r0 |
³h i ´
Z δ |r−r0 |
µ0 t− c − t0
A(r, t) = qv dt0 . (287)
4π |r − r0 (t0 )|

24
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A solução para Eq. (287) é obtida seguindo a mesma prescrição do potencial escalar:
µ0 qv
A(r, t) = , (288)
(4π) κ |r − r0 (t ret )|
µ0 j
A(r, t) = , (289)
(4π) κ |r − r0 (t ret )|
with j = qv. As expressões (283), (288) são conhecidas como potenciais de Lienard-Wiechert, originados
por cargas pontuais em movimento. Note que no cálculo dos potenciais A 0 , A, no ponto r, e instante t,
contribui a carga fonte localizada no ponto r0 (t ret ), no instante retardado, t ret = t − |r − r0 | /c.

5.1 Campo elétrico de magnético de Lienard-Wiechert

Nesta seção pretendemos construir soluções de campo elétrico e magnético associadas com os potenciais
(283), (288).
Seção em construção....
___________________

(2) Problema resolvido: Considere a equação de onda homogênea, ∇2 A−µσ∂ t A = 0, que pelo método
de Green proporciona a seguinte solução A(r, t) = d 3 r0 G (R,t) A(r, 0), sendo A(r, 0) a configuração
R

inicial do potencial, R = r − r0 , e G (R,t) a função de Green do sistema. (a) Partindo da equação


diferencial de difusão,
∇2 G (R,t) − µσ∂ t G (R,t) = µσδ3 (r − r0 )δ(t), (290)
e usando as técnicas de Fourier, demonstre que

d3p p2 t
Z µ ¶
− i p·R
G (R,t) = e exp − , (291)
(2π)3 µσ

para t > 0. (b) Supondo-se σ = cte, mostre que


³ µσ ´3/2 µσR2
µ ¶
G (R,t) = Θ(t) exp − . (292)
4π t 4t
Como esta função reflete-se na propagação dos sinais eletromagnéticos?
R d3 p R dω
Solução: No presente contexto, vamos propor: G (R,t) = G̃ ω e− ip·R e− iω t , sabendo
(2π) (p, )
(2π)3
R d 3 p − i p· R
que δ3 (R) = , δ (t) = (2dπω) e− iω t . Substituindo tais representações de Fourier na Eq. (290),
R
e
(2π)3
temos:
d3p dω £ 2 d 3 p − ip·R d ω − iω t
Z Z Z Z
− i p·R − i ω t
µσ ω ω µσ
¤
−p − (− i ) G̃ (p, ) e e = e e , (293)
(2π) 3 (2π) (2π) 3 (2π)

o que implica em:


µσ µσ
G̃ (p,ω) = =− . (294)
−p2 + i µσω p2 − i µσω
Substituindo de volta G̃ (p,ω) na expressão geral da função de Green,

d3p dω i µσ
Z Z
G (R,t) = − e− ip·R e− iω t , (295)
(2π) 3 (2π) ip + µσω
2

d 3 p − ip·R +∞ d ω e− iω t
Z Z
G (R,t) = − i e , (296)
(2π)3 −∞ (2π) ω + ip /µσ
2

25
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Figura 2: Contorno de integração no plano complexo de ω, onde no caso ² = p2 /µσ representa o pólo no
plano inferior.

A integral em d ω apresenta um pólo simples em ω = − ip2 /µσ, situado no plano complexo inferior. Veja
Fig. (2).
Vamos calcular a integral (296), fechando o contorno pelo plano complexo inferior de ω− onde Re (ω) <
0, e circulando em sentido horário. Usando o teorema dos resíduos, encontramos:

+∞ dω e− iω t 1 e− iω t
Z · ¸
= (−2π i ) Res (297)
−∞ (2π) ω + ip2 /µσ (2π) ω + ip2 /µσ ω=− ip2 /µσ
+∞ dω e− iω t p2
Z
− i (− i p2 /µσ) t − µσ t
= − ie = − ie . (298)
−∞ (2π) ω + ip2 /µσ
Continuando:

d3p p2
Z
− µσ t
G (R,t) = − 3
e− ip·R e
. (299)
(2π)
OBS.: Como o contorno foi fechado por baixo, temos que exigir t > 0 para que o produto Re (ω) t
seja negativo e a integral se anule no círculo inferior. Se o contorno fosse fechado por cima, isto seria
compatível com t < 0, e teríamos resultado nulo G (R,τ) = 0, uma vez que não há polos no plano complexo
superior. Portanto, o resultado completo, que reflete estas duas informações, deve incluir a função
degrau:
d 3 p − ip·R − pµσ2 t
Z
G (R,t) = − e e Θ (t) . (300)
(2π)3
Vamos agora resolver a integração angular:
Z 2 µZ π
p d p − pµσ2 t

− i pR cos θ
G (R,t) = −Θ (t) e d θ sin θ e , (301)
(2π)2 0
Z 2
p d p − pµσ2 t i ³ i pR
µ ´¶
− i pR
G (R,t) = −Θ (t) e − e − e , (302)
(2π)2 pR
Θ (t) i ∞ − pµσ2 t ³ i pR
Z ´
− i pR
G (R,t) = pe e − e d p. (303)
(2π)2 R 0
onde usamos a expressão (213). Reagrupando:
Θ (t) i ∞ ³ −αp2 + i pr
Z ´
−αp2 − i pr
G (R,t) = p e − e d p. (304)
(2π)2 R 0
onde α = t/µσ. Podemos fazer:

−αp2 + i pR = −α p2 − i pR/α = −α (p − iR/2α)2 − r 2 /4α,


¡ ¢
(305)
−αp2 − i pr = −α p2 + i pR/α = −α (p + iR/2α)2 − r 2 /4α,
¡ ¢
(306)

26
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o que implica em:


2 2 2
e−αp + i pR
= e−α( p− iR /2α) e−R /4α
, (307)
2 2 2
e−αp − i pR
= e−α( p+ iR /2α) e−R /4α
, (308)

Θ (t) i −r2 /4α ∞ ∞


µZ Z ¶
2 2
G (R,t) = e pe−α( p− iR /2α) d p − pe−α( p+ iR /2α) d p . (309)
(2π)2 R 0 0

Fazendo as redefinições: p − ir/2α = p0 , p + iR/2α = p00 , temos:


Z ∞ Z ∞µ Z ∞ Z ∞
R −α( p0 )2 0 r

2 0 2
−α( p− iR /2α)2 0 −α( p0 )
pe dp = 0
p +i e dp = pe 0
dp + i e−α( p ) d p0 , (310)
0 0 2α 0 2α 0
Z ∞ Z ∞µ Z ∞ Z ∞
R r

2 00 2 00 2 00 2
−α( p+ iR /2α) −α( p ) 00 −α( p )
pe dp = 00
p −i e 00
dp = p e 00
dp − i e−α( p ) d p00 , (311)
0 0 2α 0 2α 0
Substituindo tais integrais em (309), as primeiras do lado direito se cancelam, restando:
Θ (t) i 2R −R 2 /4α ∞ −α( p0 )2 0
µ ¶ Z
G (R,t) = i e e dp . (312)
(2π)2 R 2α 0
2 2
Θ (t) e−R /4α 1 π Θ (t) e−R /4α Θ (t) µσR 2
r ³ ´
− 4t
G (R,t) = − = − 3/2 =− exp , (313)
(2π)2 α 2 α 8π α3/2 (4πα)3/2
³ µσ ´3/2 µσR 2
µ ¶
G (R,t) = −Θ (t) exp − , (314)
4π t 4t
0 2
q
onde usamos 0 e−α( p ) d p0 = 12 απ .
R∞

Observe que a função G (R,t) tem a largura de uma gaussiana centrada em R = 0. Em t = 0, esta
largura é nula, indicando G (R,0) = 0, ausência de propagação de sinal. Para t > 0, esta largura torna-se
não-nula, G (R,0) 6= 0, indicando propagação de sinal para R 6= 0− distâncias além da fonte.

6 Teorema de Poynting, energia e conservação de energia no campo


eletromagnético
Nesta seção, abordaremos aspectos relacionados ao conteúdo de energia armazenada no campo eletro-
magnético no vácuo ou em um meio material linear. É possível mostrar que esta quantidade de energia
(eletromagnética) é conservada, sendo esta conservação estabelecida pelo teorema de Poynting. Sabe-
mos que uma carga q, submetida à ação de campos E, B, sofre ação da força de Lorentz, F = q(E + v × B),
que realiza trabalho sobre a mesma à taxa:
dW
= qE · v. (315)
dt
Note que a força magnética não realiza trabalho por ser ortogonal à velocidade. No caso em que exis-
tem muitas cargas, q = ρ d 3 r, e estas estão distribuídas um volume V através de uma densidade de
R

corrente, j = ρ v, a taxa de realização de trabalho (potência) sobre as mesmas é possível definir uma
densidade (volumétrica) de força de Lorentz,

f = ρE + j × B ,
¡ ¢
(316)

tal que F = fd 3 r. Note que o trabalho (por unidade de tempo) da força elétrica agora pode ser escrito
R

como ρ E · vd 3 r = E · ρ v d 3 r, ou seja,
R R ¡ ¢

dW
Z
= (E · j) d 3 r. (317)
dt

27
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O trabalho por unidade de tempo sobre as cargas, dado na expressão (317), é realizado às custas da
energia acumulada no campo eletromagnético, obviamente. Note que (E · j) designa trabalho por uni-
dade de tempo por unidade de volume sobre as cargas. Portanto, à medida que o trabalho é realizado, a
energia acumulada no campo eletromagnético é reduzida. Este é o conceito encontrando no teorema de
Poynting, que pode ser formalizado adequadamente usando as equações conhecidas.

6.1 Demonstração do Teorema de Poynting


Da Eq. (4), j = ∇ × H − ∂ t D, de modo que a Eq. (317) é reescrita como
Z Z
(E · j) d 3 r = (E · (∇ × H) − E · ∂ t D) d 3 r, (318)

Usando a identidade,
∇ · (E × H) = H · (∇ × E) − E · (∇ × H) , (319)

e a equação ∇ × E = −∂ t B, temos

∇ · (E × H) = −H · (∂ t B) − E · (∇ × H) , (320)
E · (∇ × H) = −H · (∂ t B) − ∇ · (E × H) . (321)

Inserindo a expressão (321) na Eq. (318),


Z Z
(E · j) d r = − (∇ · (E × H) + H · (∂ t B) + E · ∂ t D) d 3 r.
3
(322)

Para meios lineares e sem dispersão, sabemos que os parâmetros µ, ² são independentes da posição,
do tempo, e da frequência da onda, de modo que:

1
∂ t (H · B) = (∂ t H) · B + H · (∂ t B) = 2H · (∂ t B) → H · (∂ t B) = ∂ t (H · B) ,
2
1
∂ t (E · D) = (∂ t E) · D + E · (∂ t D) = 2E · (∂ t D) → E · (∂ t D) = ∂ t (E · D) .
2

1
Z Z µ ¶
(E · j) d 3 r = −∇ · (E × H) + ∂ t [H · B + E · D] d 3 r, (323)
2
1
Z Z Z
(E · j) d 3 r = − ∇ · (E × H) d 3 r − ∂ t [H · B + E · D] d 3 r. (324)
2

De estudos anteriores, sabemos que a energia acumulada no setor elétrico do campo é dada por 12 [E · D] d 3 r,
R

enquanto a energia acumulada na parte magnética é 21 [H · B] d 3 r. A energia total (elétrica e magné-


R

tica) do campo eletromagnético é dada por

1
Z
U= [H · B + E · D] d 3 r, (325)
2

sendo a densidade volumétrica de energia eletromagnética dada por:

1
u= [H · B + E · D] , (326)
2
1£ 2 ¤ 1 1 2
· ¸
2 2
u = ²E + µ H = ²E + B , (327)
2 2 µ

onde usamos D = ²E e µH = B. Em termos desta quantidade, a Eq. (??) é reescrita como:

28
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Z Z Z
− (E · j) d r = (∇ · S) d r + ∂ t ud 3 r,
3 3
(328)
Z Z Z
∂ t ud 3 r + (∇ · S) d 3 r = − (E · j) d3 r, (329)

cuja forma diferencial é


∂ t u + ∇ · S = − (E · j) , (330)

onde definimos o vetor de Poynting,


1
S = (E × H) = (E × B) , (331)
µ
que representa o fluxo de energia eletromagnética por unidade de tempo, ou seja, energia por unidade
de área por unidade de tempo. Note a dimensão do vetor de Poynting:

ener gia
[S] = . (332)
(area × tempo)

Importante notar que o termo de divergência, V (∇ · S) d 3 r, pode ser transformado numa integral
R
H
de superfície, ∂R (S · n̂) dS, que denota o fluxo de energia pela superfície que limita o volume V de
integração, sendo n̂dS o elemento infinitesimal orientado de área. De fato:
I Z
∂ tU + (S · n̂) dS = − (E · j)d 3 r. (333)
∂R

Na ausência de campos externos, E = 0, obtemos uma equação de continuidade para a densidade de


energia,
∂ t u + ∇ · S = 0, (334)

que estabelece a conservação de energia, U = ud 3 r, dentro do volume V .


R

A conservação de energia do sistema é dada pela Eq. (333), sendo conhecida como Teorema de
Poynting. Designa que a variação temporal da energia do campo, U, somada ao fluxo de energia que
sai (ou entra no) do volume V , é igual a menos o trabalho realizado sobre o conjunto das fontes contidas
no volume V . Desta forma, vemos que:

• Mesmo na ausência de fluxo de energia pela fronteira ∂R, ∂R (S · n̂) dS = 0, a energia guardada
H

dentro da mesma pode variar se há trabalho sendo feito pelo campo. De fato: Se o trabalho
realizado é positivo, (E · j)d 3 r > 0, a energia contida no volume V decresce, ∂ tU < 0; se o trabalho
R

realizado é negativo, (E · j)d 3 r < 0, a energia no volume V aumenta, ∂ tU > 0.


R

• Quando o trabalho (E · j)d 3 r é positivo, o campo eletromagnético doa energia para as cargas
R

(fontes). Tal ganho é assimilado na forma de energia mecânica, ou calor (grau de agitação térmica).

• Portanto, a Eq.(333) prevê um mecanismo de conversão de energia eletromagnética, acumulada


no campo, em energia mecânica (cinética), e vice-versa.

• A Eq.(333) vale tanto para o vácuo, quanto para meios materiais lineares, isotrópicos e não-
dispersivos, em que D = ²E e µH = B. No vácuo, obviamente, temos:


²0 E2 + µ0 H2 ,
¤
u= (335)
2
1
S= (E × B) . (336)
µ0

29
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6.2 Balanço entre energia mecânica e eletromagnética


As últimas interpretações feitas na seção anterior permitem entender que o teorema de Poynting estabe-
lece uma equação geral de conservação de energia para cargas (fontes materiais massivas) em interação
com o campo eletromagnético. Nesta subseção pretendemos detalhar melhor como ocorre a conservação
de energia, focalizando no balanço entre as contribuições eletromagnética e mecânica.
Iniciamos afirmando que E mech denota a energia mecânica das partículas (cargas, fontes) contidas
dentro do volume V , enquanto E f ield corresponde à energia "guardada"no campo eletromagnético,

1
Z Z
E f ield = ud 3 r = [H · B + E · D] d 3 r, (337)
2
Z · 2
1 1 1 2 3
¸ Z · ¸
B 2 3 2
E f ield = + ²E d r = ²E + B d r. (338)
2 µ 2 µ

Supomos que a energia E mech seja sensível apenas ao efeito do campo eletromagnético, que realiza
trabalho sobre as fontes. Deste modo, é lícito afirmar a sua variação temporal somente pode advir do
trabalho realizado pelo campo sobre as fontes, ou seja,

d
Z
E mech = (E · j)d 3 r. (339)
dt
Em vista da expressão Eq. (339), podemos reescrever (333), ∂ tU + (E · j)d 3 r = − ∂R (S · n̂) dS, como:
R R

d d
I
U + E mech = − (S · n̂) dS, (340)
dt dt
I∂ R
d ¡ ¢
E f ield + E mech = − (S · n̂) dS, (341)
dt
I∂ R
d
(E tot ) = − (S · n̂) dS, (342)
dt ∂R

onde U = E f ield . Percebemos assim que a variação temporal da energia total do sistema campo mais
cargas,
E tot = E f ield + E mech , (343)
é igual a menos o fluxo de energia eletromagnética pela fronteira ∂R. Note que se o fluxo é positivo
d
(energia saindo), temos dt (E tot ) < 0, correspondendo ao descréscimo da energia total. A Eq. (341) pode
também ser escrita como,
d
Z Z
u f ield + u mech d r = − (∇ · S) d 3 r,
¡ ¢ 3
(344)
dt V V
levando a seguinte forma diferencial:

d ¡ ¢
u f ield + u mech = − (∇ · S) , (345)
dt
d ¡ ¢
u f ield + u mech + (∇ · S) = 0. (346)
dt
Estas duas últimas equações constituem formas diferenciais do teorema de Poynting.

6.3 Conservação de momento linear no campo eletromagnético, tensor de "stress"de


Maxwell
Outra forma de estudar o sistema composto por cargas e campo eletromagnético é focalizando no mo-
mento linear. Vale observar que o campo eletromagnético, ao realizar trabalho sobre as cargas, modifica
o momento linear das mesmas. Definimos o momento linear total das cargas do sistema confinado no

30
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volume V como sendo P mech , estando o conjunto destas cargas sujeito a uma força total F tot , que re-
presenta a força de Lorentz atuante sobre o somatório das cargas e fontes presentes no volume V. A
d
segunda lei de Newton, escrita para este conjunto de carga, é lida como F tot = dt Pmech . Como a força
atuante sobre cada carga q do sistema é a força de Lorentz, vale:

F total = q tot (E + v × B) = q tot E + j × B, (347)

onde q tot = ρ d 3 r, de modo que F total = ρ E + j × B d 3 r, e


R R¡ ¢

d
Z
ρ E + j × B d 3 r.
¡ ¢
Pmech = (348)
dt
Podemos agora usar as equações de Maxwell para escrever as fontes ρ , j em termos dos campos E, B. De
fato,
1
ρ = ²∇ · E, j = ∇ × B − ²∂ t E, (349)
µ
d 1
Z µ ¶
Pmech = ² (∇ · E) E + (∇ × B) × B − ²∂ t E × B d 3 r. (350)
dt µ
O integrando da Eq. (350) pode ser reescrito como
1
µ ¶
² (∇ · E) E − B × (∇ × B) − ²∂ t (E × B) − ²E × (∇ × E) , (351)
µ

onde usamos (∇ × B) × B = −B × (∇ × B) , e

(∂ t E) × B = ∂ t (E × B) − E × ∂ t B → ∂ t E × B = ∂ t (E × B) + E × (∇ × E) . (352)

Substituindo o resultado (351) em (350), temos


d 1
Z Z · ¸
3
Pmech + ∂ t ² (E × B) d r = ² (∇ · E) E − B × (∇ × B) − ²E × (∇ × E) d 3 r. (353)
dt µ

Dado a estrutrura da equação anterior, o segundo termo do lado esquerdo da equação deve possuir
dimensão de momento por tempo, de modo que a integral ² (E × B) d 3 r possui dimensão de momento
R

linear. Como este termo só envolve os campos (E,B) , pode ser lido como o momento linear do campo,
P f ield , ou seja, Z Z
P f ield = ² (E × B) d 3 r = ²µ (E × H) d 3 r, (354)

onde
g = ²µ (E × H) , (355)
é a densidade de momento linear do campo (por unidade de volume). Com esta nova definição, a Eq.
(353) é reescrita como
d ¡ 1
Z · ¸
²E (∇ · E) − ²E × (∇ × E) − B × (∇ × B) d 3 r,
¢
Pmech + P f ield = (356)
dt µ
d ¡ 1
Z · ¸
Pmech + P f ield = ² E (∇ · E) − E × (∇ × E) − B × (∇ × B) d 3 r,
¢
(357)
dt µ²

A fim de demonstrar a conservação do momento linear, devemos converter a integral da expressão


anterior numa integral de superfície de uma quantidade que possa ser identificado com o momento;
neste caso, tal integral representaria o fluxo do momento pela superfície em questão.
Vamos agora trabalhar um pouco com a notação tensorial para vetores e operadores diferenciais,
na qual um vetor V é genericamente representado como V = V i ê i , onde V i designa sua i − ésima com-
ponente na base { ê i } , sabendo que os índices (letras) latinas assumem os valores i = 1, 2, 3. O produto

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vetorial V × T tem sua component genérica l dada por (V × T)l = ²l jk V j Tk , sendo ²l jk o símbolo de Levi-
¡ ¢i
Civita 3-dimensional. A i − ésima componente do gradiente do escalar φ é ∇φ = ∂ j φ, enquanto a
i − ésima componente do rotacional do vetor T é (∇ × T) i = ² i jk ∂ j Tk . O divergente do vetor T é simples-
mente (∇ · T) = ∂ j T j .
Dentro deste contexto geral, trabalhamos inicialmente com o termo E × (∇ × E) , cuja componente
vetorial arbitrária i é dada por
³ ´
(E × (∇ × E)) i = ² i jk E j (∇ × E)k = ² i jk E j ²kab ∂a Eb = ² i jk ²kab E j ∂a Eb , (358)

= δ ia δ jb − δ ib δ ja E ∂a Eb = E j ∂ i E j − E j ∂ j E i ,
¡ ¢ j
(359)
1 ³ ´ 1 ¡ ¢
(E × (∇ × E)) i = ∂ i E j E j − (E · ∇) E i = ∂ i E2 − (E · ∇) E i , (360)
2 2
onde usamos ² i jk ²kab = ²ki j ²kab = δ ia δ jb − δ ib δ ja . Temos ainda [E (∇ · E)] i = E i ∂ j E j = ∂ j E i E j −
¡ ¢ ¡ ¢ ¡ ¢

E j ∂ j E i , de forma que:
¡ ¢

³ ´ ³ ´ 1 ¡ ¢
[E (∇ · E) − E × (∇ × E)] i = ∂ j E i E j − E j ∂ j E i − ∂ i E2 + (E · ∇) E i , (361)
2
³ ´ 1 ¡ ¢ ³ ´
= ∂ j E i E j − ∂ i E2 − E j ∂ j E i + (E · ∇) E i , (362)
2
³ ´ 1 ¡ ¢
= ∂ j E i E j − ∂ i E2 , (363)
2
uma vez que E j ∂ j E i = (E · ∇) E i . Notando que ∂ i = δ i j ∂ j , podemos ainda escrever
¡ ¢

³ ´ 1 ¡ ¢ ³ ´ 1 ·³ ´ 1 ¸
i j 2 i j
¡ 2¢ i j
¡ 2¢
∂ j E E − ∂i E = ∂ j E E − δi j ∂ j E = ∂ j E E − δi j E , (364)
2 2 2
·³ ´ 1 ¸
[E (∇ · E) − E × (∇ × E)] i = ∂ j E i E j − δ i j E2 .
¡ ¢
(365)
2
Observando o integrando da expressão (356), percebemos que o mesmo pode conter um setor mag-
nético de forma análoga ao elétrico introduzindo-se o termo trivial µ1 B (∇ · B) , com o qual a Eq. (356)
assume a forma:
¸i
d ¡ 1 1
Z ·
¢i
Pmech + P f ield = ²E (∇ · E) − ²E × (∇ × E) + B (∇ · B) − B × (∇ × B) d 3 r. (366)
dt µ µ
Analogamente, vale:

1
·³ ´ ¸
i i j
¡ 2¢
[B (∇ · B) − B × (∇ × B)] = ∂ j B B − δi j B . (367)
2
De posse dos resultados (365) e (367), prossegue:
d ¡ ¢i
Z ½ h ³ ´ ² ¡ 2 ¢i 1
·³ ´ 1 ¸¾
i j i j
¡ 2¢
Pmech + P f ield = ∂ j ² E E − δi j E + ∂ j B B − δi j B d 3 r, (368)
dt 2 µ 2
d ¡ ¢i
Z ½ ³ ´ ² ¡ ¢ 1 ³ i j´ 1
µ
1
¶¾
Pmech + P f ield = ∂ j ² E i E j − δ i j E2 + B B − δ i j B2 d 3 r, (369)
dt 2 µ 2 µ
d 1 ² 1
Z ½ µ ¶¾
i
Pmech + P f ield = ∂ j ²E i E j + B i B j − δ i j E2 + B2 d 3 r.
¡ ¢
(370)
dt µ 2 µ²
Este último resultado é finalmente expresso na forma,
d ¡
Z
¢i
Pmech + P f ield = ∂ j T i j d 3 r, (371)
dt
d ¡
Z
¢i
Pmech + P f ield = T i j n̂ j dS, (372)
dt

32
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onde

1 i j 1 1 2
½ µ ¶¾
ij i j 2
T = ² E E + B B − δi j E + B , (373)
µ² 2 µ²
1 1 1
½ µ ¶¾
T i j = ²E i E j + B i B j − δ i j ²E2 + B2 , (374)
µ 2 µ

é o tensor de stress do campo de Maxwell, também conhecido como tensor de energia-momento. É im-
portante destacar o papel do termo envolvendo o tensor T i j na expressão (372). Este termo proporciona
contribuições de momento linear, a princípio, nas 3 direções do espaço, podendo fornecer componente de
momento não nula mesmo em direções onde o vetor de Poynting (e P f ield ) seja nulo.
Na passagem de (371) para (372), notoriamente usamos o teorema de Gauss,
Z I
∂ j T d r = T i j n̂ j dS,
ij 3
(375)
V
∂R

para expressar o resultado como uma integral de superfície. Ressaltamos que n̂ j é a componente j
do versor n̂ normal (orientado para fora) à superfície ∂R que delimita o volume V . Desta forma, a
integral T i j n̂ j dS designa o fluxo da i-ésima componente do momento linear através da superfície ∂R.
H

Por análise dimensional percebemos que as componentes do tensor T i j possuem dimensão de momento
linear por unidade de tempo por unidade de área, ou seja, força por unidade de área, que corresponde à
tensão ou pressão. No caso, a componente T i j refere-se à componente i da força agindo sobre o elemento
de área dS orientado na direção j; em detalhes:

1. No caso em que i 6= j, temos a componente de força i atuando tangencialmente ao elemento de


área dS cujo versor n̂ j é ortogonal ao eixo i: T i j representa tensao de cisalhamento neste caso.

2. No caso em que i = j, temos a componente de força i atuando ortogonalmente ao elemento de área


dS cujo versor n̂ i é paralelo ao eixo i: T i j representa uma pressão neste caso.

Importante notar que

ener gia momento momento força


= × velocidade = = . (376)
V ol V ol area × tempo area

Esta equivalência permite interpretar as componentes do tensor T i j como uma corrente de densidade
de momento, tal qual comentado na seção 15.2.2 da Ref.2
Para um sistema "ilimitado"(fronteiras muito distantes), é sempre possível supor que os campos E, B
se anulam nas fronteiras, de modo que a integral de superfície seja também nula. Deste modo,

d ¡ ¢ ¡ ¢
Pmech + P f ield = 0 → Pmech + P f ield = cte. (377)
dt

Este resultado estabelece a conservação do momento linear total no sistema cargas + campo
eletromagnético.
Uma outra observação relevante é que a Eq. (371) admite uma forma diferencial. Para obtê-la,
escrevemos tal equação na forma integral,

d
Z Z Z
¢i
ρE + j × B d3r + ² (E × B) i d 3 r = ∂ j T i j d 3 r,
¡
dt
d ∂
Z Z Z
fi d3r + g i d 3 r = ∂ j T i j d 3 r, (378)
dt ∂t

33
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sendo f = ρ E + j × B a densidade volumétria de força de Lorentz. A última expressão leva a


¡ ¢

∂ ∂
fi + gi = ∂ j T i j → g i − ∂ j T i j = −f i , (379)
∂t ∂t
uma versão local (diferencial) da conservação do momento que seria o análogo da Eq. (333) para conser-
vação local de energia.
Podemos ainda analisar melhor as componentes do tensor T i j , explicitadas a seguir na forma de
uma matriz 3 × 3:  11
T T 12 T 13

T i j =  T 21 T 22 T 23  . (380)
T 31 T 32 T 33
Os termos diagonais, T ii , são facilmente identificáveis como a densidade de energia do campo; de
fato:
1 i i 1 1 2 1 1 2
µ µ ¶¶ µ ¶
ii i i 2 2
T = ²E E + B B − ²E + B = ²E + B = u. (381)
µ 2 µ 2 µ
Quanto aos termos não-diagonais (i 6= j) ,
1 i j
½ ¾
ij i j
T = ²E E + B B , (382)
µ
representam fluxos de componentes de momento linear por unidade de tempo. O índice i da componente
T i j indica a direção do fluxo de momento enquanto o índice j refere-se à componente do momento linear
que flui. De fato, a componente T i j indica o fluxo da componente j do momento pelo elemento orientado
de área n̂ i dS.
Note que os resultados aqui deduzidos valem também para o vácuo, sendo obtidos pela simples
substituição ² → ²0 , µ → µ0 . Neste meio, o tensor de stress de Maxwell é dado por:
1
½ ¾
T i j = ²0 E i E j + c2 B i B j − δ i j E2 + c2 B2 .
¡ ¢
(383)
2

Podemos finalizar esta seção comentando que o tensor T i j constitui uma parte (setor espacial) do
tensor de energia-momento T µν do campo eletromagnético, calculado em uma abordagem relativística
da teoria eletromagnética, que considera o campo distribuído através do espaço 4-dimensional de Min-
kowski. Neste caso, os índices gregos µ, ν assumem os valores 0, 1, 2, 3, sendo o 0 usado para rotular a
componente temporal.

T 00 T 01 T 02 T 03 T 00 T 0i
   

 T 10 T 11 T 12 T 13  
   ¯ ¯
¯ 
T µν = 
¯
= ¯  .
 T 20 T 12 T 22 T 23   Tij
  ¯
¯ ¯ 
i0 ¯
T ¯ 
T 30 T 13 T 23 T 33 ¯ ¯

A componente T 00 está ligada à densidade de energia do campo eletromagnético, enquanto a compo-


nente T 0 i está associada à densidade de momento linear do campo.

(3) Problema Resolvido: Considere um capacitor de placas paralelas, p com densidade de carga σ,
área A, contidas no plano x− y, e separadas pela distância d << A. Ortogonalmente ao campo elé-
trico, é aplicado um campo magnético externo B = |B| x̂. Tais placas nsão localizadas em z = ³d/2 e z = ´o
− d/2. (a) Determine as nove componentes do tensor de stress, T i j = ²E i E j + µ1 B i B j − 21 δ i j ²E2 + µ1 B2 ,
na região entre as placas. Qual o fluxo de momento (por unidade de tempo) através do plano x − y?
(b) No estudo da conservação do momento linear, sabemos que vale:
d d
Z Z
Pmech + P if ield = ∂ j T i j d 3 r = T i j n̂ j dS, (384)
dt dt

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onde P f ield = ² (E × B) d 3 r = ²µ (E × H) d 3 r. Esta equação pode ser usada para calcular a força
R R

exercida sobre a placa superior do capacitor? Se afirmativo, calcule tal força.

Solução: (a) Considerando que o espaço entre as placas é permeado pelo vácuo, o campo elétrico
entre as mesmas será dado por: E = (σ/²0 ) ẑ. Sabendo que esta região é também também permeado pelo
campo magnético, B = |B| x̂.

1 1 ©
½ ¾
11 2 2
¡ 2 2 2
T = ²0 c B − δ11 E + c B = ²0 c2 B2 − E2 ,
¢ ª
(385)
2 2
1 1 ©
½ ¾
T 22 = ²0 − δ22 E2 + c2 B2 = − ²0 E2 + c2 B2 ,
¡ ¢ ª
(386)
2 2
1 1 ©
½ ¾
T 33 = ²0 E2 − δ33 E2 + c2 B2 = ²0 E2 − c2 B2 .
¡ ¢ ª
(387)
2 2

T 12 = T 13 = T 23 = 0. (388)
Vemos assim que temos o tensor T i j só possui 3 elementos independentes:
 © 2
− E − c2 B2
ª
0 0

µν 1 
− E + c2 B2
© 2
T = ²0
ª
0 0
ª . (389)

2 © 2 2 2
0 0 E −c B

Fluxo de momento por unidade de tempo é momento/(área x tempo), o que equivale a força/área, ou seja,
pressão. A componente T i j representa a componente i da força agindo sobre o elemento de área dS
orientado na direção j. No caso em que i 6= j, temos a componente de força i atuando tangencialmente
ao elemento dS cujo versor n̂ j é ortogonal ao eixo i, e T i j representa tensão de cisalhamento neste caso.
No caso em que i = j, temos a componente de força i atuando ortogonalmente ao elemento de área dS
cujo versor n̂ i é paralelo ao eixo i, e T ii representa uma pressão neste caso. Em se tratando de pressão
sobre o plano x − y, o elemento associado é T 33 , que representa a força F (3) = F z atuando na direção de
n̂ 3 = ẑ. Neste caso, a força no plano x − y do capacitor vale:

A ©
I
f z = T 33 n̂ 3 dS = ²0 E2 − c2 B2 .
ª
(390)
2
∂R

Item (b): o momento acumulado no campo eletromagnético é proporcional ao vetor de Poynting, e vale
Z Z
P f ield = ²0 (E × B) d r = ²0 (|E| |B| ŷ) d 3 r = ŷ [²0 |E| |B| d A] .
3
(391)

Por apontar na direção ŷ, o momento P f ield não cruza o plano x − y. Entretanto, a expressão (384)
envolve uma outra componente de momento que aponta na direção ẑ, associada ao tensor T i j , e pode
ser usada para calcular a força sobre a placa do capacitor (paralela ao plano x − y). Neste caso, como os
d i
campos são estacionários, temos dt P f ield = 0, de modo que a força na placa será dada simplesmente por:
i d d
f = dt Pmech = T n̂ j dS, ou melhor, f (3) = dt
ij
Pmech = T 33 n̂ 3 dS, o que fornecerá o mesmo resultado
R R

já apresentado na Eq. (390).

7 Magnetic monopoles

Um monopolo magnético é uma carga magnética q m que produz um campo magnético radial,
r
B = qm , (392)
r3

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tal qual o campo elétrico coulombiano produzido por uma carga elétrica q. A história da proposição dos
monopolos magnéticos remonta a pensadores da Idade Média, passando por Henry Poincaré, no final do
século XIX, e por Paul Dirac no início dos anos 30.
Na presença de cargas magnéticas, as equações de Maxwell tornam-se totalmente simétricas, assu-
mindo a forma:

∇ · D = ρ, (393)
∇ · B = ρm, (394)
∇ × E + ∂ t B = −jm , (395)
∇ × H − ∂ t D = j. (396)

A integração da Eq. (394), via teorema de Gauss, conduz à solução radial (392). No que concerne à
Eq. (395), a aplicação do divergente à mesma, leva a:

∇ · (∇ × E) + ∂ t ∇ · B = −∇ · jm , (397)

∂ t ρ m = −∇ · jm → ∂ t ρ m + ∇ · jm = 0, (398)
que constitui uma equação de continuidade estabelecendo a conservação da carga magnética,
Z
q m = ρ m d 3 r. (399)

7.1 Vetor potencial do monopolo magnético

Podemos tentar determinar o potencial vetor A associado a uma carga magnética, lembrando-se que
B = ∇ × A, o que implica
r
B = q m 3 = ∇ × A. (400)
r
Esta equação, entretanto, entra em contradição com a Eq. (394), uma vez que ∇ · (∇ × A) = 0, e ∇ · B =
ρ m 6= 0. Para uma carga pontual,
∇ · B = q m δ (r) . (401)
A fim de discutir esta incompatibilidade, propomos a seguinte forma para o potencial

A(r) = A(θ )∇φ, (402)

onde φ é o ângulo azimutal, e θ o ângulo polar. Lembrando que


1 1
∇ = r̂ ∂r + θ̂ ∂θ + φ̂ ∂φ , (403)
r r sin θ
φ̂ = − sin φ, cos φ, 0 ,
¡ ¢
(404)

resultando em
φ̂ 1 ¡
∇φ = − sin φ, cos φ, 0 ,
¢
= (405)
r sin θ r sin θ
sendo o último resultado em coordenadas cartesianas. Se adotarmos A(θ ) = − q m (1 + cos θ ), temos
1 + cos θ ¡
sin φ, − cos φ, 0 .
¢
A(r) = q m (406)
r sin θ
Este potencial por ser escrito na forma

q m r × ẑ
· ¸
A(r) = . (407)
r r − r · ẑ

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Para mostrar esta equivalência, note que

r × ẑ = r sin θ cos φ, r sin θ sin φ, cos θ × ẑ


¡ ¢

= − ŷr sin θ cos φ + x̂r sin θ sin φ,


r × ẑ = r sin θ sin φ, − r sin θ cos φ, 0 .
¡ ¢

qm r sin θ ¡
sin φ, − cos φ, 0 ,
¢
A(r) = (408)
r r−z
qm r sin θ ¡
sin φ, − cos φ, 0 ,
¢
A(r) = (409)
r r(1 − cos θ )
qm r sin θ (1 + cos θ ) ¡
sin φ, − cos φ, 0 ,
¢
A(r) = (410)
r r(1 − cos θ )
2

qm r(1 + cos θ ) ¡
sin φ, − cos φ, 0 ,
¢
A(r) = (411)
r r sin θ
Esta última expressão é exatamente a Eq. (406), o que demonstra a proposição da expressão geral (407).
Retomando a forma (408)
q m r sin θ ¡ ¢ qm 1 ¡
sin φ, − cos φ, 0 = r sin θ sin φ, − r sin θ cos φ, 0 ,
¢
A(r) =
r r−z r r−z
podemos escrevê-la inserindo as coordenadas cartesianas (x, y), ou seja,
qm 1
A(r) = (y, − x, 0) . (412)
r r−z
Considerando que

B = ∇ × A = ∂ y A z − ∂ z A y x̂ + (∂ z A x − ∂ x A z ) ŷ + ∂ x A y − ∂ y A x ẑ,
¡ ¢ ¡ ¢
(413)

e que A z = 0, temos
B = ∇ × A = − ∂ z A y x̂ + (∂ z A x ) ŷ + ∂ x A y − ∂ y A x ẑ.
¡ ¢ ¡ ¢
(414)
Para encontrar este campo magnético, calculamos as seguintes derivadas:

1 x x 1 z x z/r − 1 x z x z−r
µ ¶ µ ¶ µ ¶
∂z A y = −q m ∂z = −qm − − = −qm − − ,
r r−z r − z r 2 r r (r − z)2 r − z r 3 r 2 (r − z)2
x z x 1 1 − xz + rx ³x´
µ ¶ µ ¶
= −qm − + = − q m = − q m .
r − z r 3 r 2 (r − z) r 3 (r − z) r3

1 y y 1 z y z/r − 1 y z y z−r
µ ¶ µ ¶ µ ¶
∂z A x = q m ∂z = − − = − − ,
r r−z r − z r 2 r r (r − z)2 r − z r 3 r 2 (r − z)2
y z y 1 1 − yz + r y ³ y´
µ ¶ µ ¶
= − + = q m = q m .
r − z r 3 r 2 (r − z) r 3 (r − z) r3

e as derivadas que levam à componente z,


1 x x 1 x x x/r 1 1
µ ¶ µ ¶
∂x A y = − q m ∂x = − − + ,
r r−z r − z r 2 r r (r − z)2 r r − z
µ 2
x (r − z) + rx2 − r 2 (r − z)
µ 2
2x r − zx2 − r 3 + zr 2
¶ ¶
= qm = qm ,
r 3 (r − z)2 r 3 (r − z)2

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µ 2
1 y 2y r − z y2 − r 3 + zr 2
µ ¶ ¶
∂ y A x = q m ∂x = −qm ,
r r−z r 3 (r − z)2

à ¡ !
2x2 r − zx2 − r 3 + zr 2 2y2 r − z y2 − r 3 + zr 2 2 x2 + y2 r − z x2 + y2 − 2r 3 + 2zr 2
µ ¶ ¢ ¡ ¢
∂x A y − ∂ y A x = q m + = qm ,
r 3 (r − z)2 r 3 (r − z)2 r 3 (r − z)2
à ¡ !
2 r 2 − z2 r − z(r 2 − z2 ) − 2r 3 + 2zr 2
µ 3
2r − 2z2 r − zr 2 + z3 − 2r 3 + 2zr 2
¢ ¶
= qm = q m ,
r 3 (r − z)2 r 3 (r − z)2
−2z2 r + z3 + zr 2 z −2zr + z2 + r 2 z −2zr + z2 + r 2
µ ¶ µ ¶ µ ¶
= qm = qm 3 = qm 3 ,
r 3 (r − z)2 r (r − z)2 r (r − z)2
z
= qm 3 .
r
Compondo os resultados, temos:
x y z r
B = qm x̂ + 3 ŷ + 3 ẑ → B = qm . (415)
r3 r r r3
sendo este o campo magnético radial do monopolo. Este resultado mostra que a forma (406) corresponde
de fato ao potencial vetor do monopolo. Podemos ainda mostrar que

A · r = 0, (416)

bastando notar que (r × ẑ) · r = 0.


Apesar do potencial (406) conduzir ao campo B do monopolo, devemos notar que a expressão (411) é
divergente em θ = 0, e regular em θ = π. Isto mostra que o potencial vetor é singular no eixo semi-infinito
z > 0, no qual o campo não será corretamente calculado.

Referências
[1] J. D. Jackson, "Classical Electrodynamics", cap. 6, third edition, John Wiley & Sons.

[2] A. Zangwill, "Modern Electrodynamics", Cambridge University Press, 2013.

[3] M. A. Heald, J.B. Marion, "Classical electromagnetic radiation", Dover Publication, Inc., New York,
2012.

[4] F. Melia, "Electrodynamics", Chicago Lectures in Physics, The university of Chicago Press, Chicago,
2001.

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