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Hidráulica Geral II
Outubro 2002
Hidráulica Geral II - Trabalhos Práticos Laboratoriais
1 Descrição do equipamento
O canal de declive variável (fig. 1-1) a utilizar como elemento auxiliar de formação pedagógica
da disciplina de Hidráulica Geral II é fundamentalmente constituído pelo canal propriamente dito,
pelo tanque de armazenamento de água e pela conduta de alimentação onde está instalada uma
bomba centrífuga.
O canal propriamente dito, construído em aço pintado, está apoiado numa das extremidades no
tanque de armazenamento de água e na outra é suportado por um macaco hidráulico que permite
um deslocamento vertical do apoio, podendo-se assim fazer variar o declive do canal.
Dimensões do canal:
- Comprimento da zona de trabalho: 8m
- Largura da zona de trabalho: 0,3 m
- Inclinação máxima: 2,2 %
- Caudal máximo: 45 m3/h
Por forma a que seja possível observar convenientemente o escoamento no interior do canal este é
constituído lateralmente por diversos painéis de acrílico transparente.
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Figura 1-4
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Figura 1-5
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Figura 1-10
- um descarregador de
soleira espessa, de
coroamento
(fig. 1-10);
Figura 1-11
Figura 1-12
- soleiras de rugosidade
variável (rede metálica e
relva artificial) (fig. 1-12);
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Figura 1-13
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2 Experiências
Numa secção onde ocorra regime uniforme a velocidade U e a altura h que medeia entre a
superfície livre e o fundo do canal são constantes.
Um escoamento que ocorra num canal com caudal, secção e altura constantes tende naturalmente
para o regime uniforme se nenhuma perturbação ocorrer.
NOTA: As considerações acima referidas fazem notar que o regime uniforme não ocorre
imediatamente a jusante do tanque de amortecimento, mas sim em secções mais a jusante, onde já
não se façam sentir as perturbações provocadas pelo bocal de entrada e onde sejam desprezáveis
as devidas à queda no final do canal.
Para aumentar a precisão das observações, dada a existência das perturbações atrás referidas,
recomenda-se que sejam efectuadas diversas medições da altura de água em secções espaçadas
entre si de 10 a 20 cm: o valor médio obtido será a profundidade do escoamento uniforme.
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Para o estudo do regime uniforme em escoamentos com superfície livre utiliza-se a função de
Manning-Strickler, com a seguinte forma:
2
(1) Q = K S AR 3 i
em que:
(*) Quociente entre a secção transversal do escoamento e o seu perímetro molhado. O valor de R
é calculado a partir das características geométricas da secção. No canal em estudo teremos:
A b.h
R= =
P b + 2h
em que:
O coeficiente KS que nos surge na equação (1) depende da natureza das paredes do canal e
encontra-se em tabelas coligidas por diversos autores.
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NOTA: Se as características de rugosidade das paredes e do rasto do canal são diferentes (secção
mista), o valor de KS obtido experimentalmente representa uma média ponderada, de acordo com
a fórmula de Einstein. Assim sendo, sob diferentes condições experimentais poderemos obter
diferentes valores de KS; tal deve-se ao facto de a influência das paredes aumentar com a altura
do escoamento, e portanto com a variação da sua secção.
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O fenómeno provocará uma subida do nível da água Figura 2-3 Vista do canal com os painéis de
relativamente ao rasto do canal, a qual se pode tornar relva artificial instalados.
perigosa no caso de canais de pedra e rocha sem
manutenção à longo tempo, ou que contêm ervas, plantas ou outros materiais (lixo, p. exº).
em que:
6- Pare a bomba e instale um conjunto de painéis por forma a alterar artificialmente a rugosidade
do fundo do canal.
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7- Ligue novamente a bomba, deixe estabilizar o regime uniforme e proceda de acordo com o
descrito nos pontos 4 e 5;
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Considerando um regime uniforme com uma determinada inclinação i, uma secção transversal do
escoamento A e as características do leito, é necessário calcular a velocidade média do
escoamento U e o caudal escoado Q.
Recomenda-se que se adoptem as mesmas condições descritas na Experiência 2.1, por forma a
melhorar a qualidade dos resultados obtidos.
Aplica-se a equação de Chézy para o regime uniforme de escoamento com superfície livre:
(1) U = C Ri
em que:
i = sen α para pequenos ângulos é tomado como sendo a tangente do ângulo α que a
soleira do canal faz com a horizontal; pode-se também tomar como
aproximação de i o valor do ângulo em radianos, mantendo-se o erro dentro
de limites de tolerância aceitáveis (*). O valor de i pode ser regulado no
início da experiência, tornando-se portanto conhecido.
87 R
(2) Bazin C=
γ+ R
100 R
(3) Kutter C=
m+ R
(4) Manning-Strickler C = K SR 6
(*) A escala graduada indica os valores de i em percentagem, devendo portanto os valores lidos
ser divididos por 100 a fim de poderem entrar em cálculos. Por exemplo, estando o indicador de
inclinação próximo do número 3, a inclinação do canal é de 3%, que corresponde ao valor de
cálculo de 0,03.
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A escolha entre as fórmulas (2), (3) e (4) não é um problema essencial no que respeita à precisão
dos resultados, quando comparada com a estimativa rigorosa dos coeficientes de rugosidade γ, m
e KS utilizados no cálculo.
Q = U.A
ou
8- Compare o valor do caudal Q obtido por cálculo com o lido no medidor de caudal.
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Um problema corrente nos escoamentos com superfície livre é o seu dimensionamento, e pode-se
resumir da seguinte forma:
2
(1) Q = K S AR 3 i
em que:
2
Q
(2) = K S AR 3
i
Nesta expressão, o primeiro membro é conhecido, dado que os valores de Q e i são conhecidos.
O segundo membro inclui uma grandeza conhecida, o coeficiente de rugosidade KS, e duas
variáveis desconhecidas:
- a secção A (m2 );
- o raio hidráulico R (m).
No caso presente, tendo definido previamente qual a rugosidade do fundo, a forma da secção do
canal, que é rectangular, e a sua largura b, apenas a altura do escoamento uniforme hu está por
determinar, o que pode ser feito por tentativas, utilizando-se a equação (2) e nela substituindo:
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b.hu
A = b.hu R=
b + 2hu
A velocidade não pode ser nem muito alta, por forma a evitar a erosão do leito, nem muito baixa
para que não ocorra a deposição de sólidos; os limites inferior e superior da velocidade
dependem das características da secção.
Quando a altura hu do escoamento uniforme é conhecida, os taludes do canal terão o seu bordo
superior acima da superfície livre, sendo geralmente a folga considerada não mais de 10% de hu,
com um mínimo de 50 cm.
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A curva de vazão é um gráfico que é utilizado para determinar o caudal Q escoado numa
determinada linha de água através da simples observação do nível h numa dada secção.
Nota: Todas as relações do tipo Q = Q (h) são curvas de vazão, particularmente as utilizadas para
calcular o caudal utilizando descarregadores, canais Venturi e descarregadores de soleira
espessa. Nestes casos é de facto possível determinar o caudal Q obtido medindo simplesmente a
altura de água h da superfície livre acima do rasto do canal numa dada secção.
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1 - escoamento livre;
2 - escoamento afogado.
U21 U22
(1) h1 + = h2 +
2g 2g
(2) Q = h2 b 2g(h1 − h2 )
em que h2 (m) pode ser expressa como sendo h2 = c.a , sendo a (m) a abertura da comporta, que
pode ser medida com uma simples régua, e c o coeficiente de contracção, aproximadamente igual
a 0,63.
Teremos pois:
(4)
[
Q = mba U 2 + (
2 gh + U12 − U 22 )]
em que
h = h1-h2
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(5) Q = 0, 6 ab 2gh
Para que a experiência seja correctamente conduzida deverá obedecer ao seguinte protocolo:
1- Quando a instalação não estiver em funcionamento desça a comporta até obter a desejada
abertura de passagem de água a. Aperte os parafusos de fixação da comporta, meça a (m) e
anote o valor;
2- Ajuste a inclinação do canal e instale, se necessário, um descarregador ou outro acessório;
3- Inicie a bombagem e regule a descarga da bomba até obter o caudal desejado;
4- Espere até se estabelecer o regime uniforme; meça então a altura de água h1 a montante da
comporta;
5- Caso se obtenha um escoamento livre, sendo os valores de a (m) e h1 (m) conhecidos, o caudal
Q (m3 s-1 ) é calculado pela expressão (3);
6- Como verificação, compare os valores de Q calculados anteriormente com o valor lido no
medidor de caudal. Note que Q (m3/h) = 3600 Q (m3 s-1 );
7- No caso de escoamento afogado, meça a altura h2 a jusante da comporta;
8- Sendo conhecidos os valores de h1 (m), a (m), e h2 (m), o caudal Q (m3 s -1 ) é calculado utilizando
a expressão (5). Como verificação, proceda de acordo com o indicado no parágrafo 6.
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Para calcular o caudal escoado utilizando um descarregador de lâmina fina utiliza-se normalmente
a expressão seguinte (excepto para descarregadores em U):
(1) Q = CA 2 gh
em que:
Q é o caudal, (m3 /s);
A é a secção de passagem, (m2 );
C é o coeficiente de descarga;
h é a diferença de nível entre a superfície livre a montante do descarregador e
a altura p (m) do ponto mais baixo da zona de descarga (ver fig. 2-6), (m).
a
2
2 , 410 − 2 2
. 1 + 0,5 a h
2 4
a b
(2) C = 0,3853 + 0, 0246 +
b 1000 h + 1, 6 b h + p
em que:
8
C= µ
15
α
A = h2tg
2
µ é o coeficiente de contracção;
α é o ângulo de abertura da zona de descarga;
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8
(3) Q= µ.h 2 . 2g.h
15
Para valores de h superiores, toma-se valores próximos de 0,72 para o coeficiente µ, à medida
que a secção contraída é cada vez mais estreita.
Para que a experiência seja correctamente conduzida deverá obedecer ao seguinte protocolo:
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(1)
d (dm) 1 2 3 4
c 0,581 0,572 0,569 0,570
A fórmula (1) é utilizada até se atingir a altura em que o orifício de passagem deixa de ter
contorno circular.
A carga aplicada na zona mais baixa da lâmina do descarregador deve evitar que a jusante a
lâmina líquida adira à superfície da placa de descarga.
h, r, c, m, Q
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(1) Q = CA 2gh
0, 0045 h
2
2
(2) C = 0,6075 + 1 + 0,55
3 h h + p
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A experiência desenvolve-se de
acordo com os passos seguinte:
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Consiste num descarregador de coroamento plano, com a aresta de montante arredondada e sem
contracção lateral.
(1)
O valor de U1 é muito pequeno (regime lento) e pode ser desprezado quando comparado com U2.
(2) U2 = 2g(H − h)
donde:
(3) Q = AU 2 = bh 2 g (H − h )
em que
2
Dado que se verifica a seguinte condição* h= H
3
a fórmula (3) toma o seguinte aspecto:
em que C = 0,385.
2
(*) h = H é a relação entre a altura crítica e a energia correspondente à carga H. De facto, na
3
secção 2 escoa-se o caudal máximo compatível com carga H; portanto na secção 2 o regime é
crítico. Esta condição ocorre em regimes permanentes.
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(1)
Q = 0, 98Cbh 2gh
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7- Como verificação, compare o valor do caudal assim calculado com o valor lido no rotâmetro.
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Num escoamento com superfície livre cada secção é identificada pelas seguintes grandezas
características (ver fig. 2-17):
Figura 2-17
U2 Q2
(1) E=h+ =h+ 2
2g A 2g
em que:
A energia específica representa a energia por unidade de peso do líquido medida relativamente ao
fundo da secção e em unidades SI é expressa em Joule por Newton (J/N), ou seja, em metros.
Esta altura, quando determinada para um determinado valor de caudal, corresponde à ocorrência
de uma energia específica mínima. Quando calculada para uma determinada energia específica
corresponde ao escoamento do caudal máximo.
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2
(3) hc = E para E constante
3
(4) Uc = gh c
Num canal a transição de regime rápido para regime lento ocorre apenas com o correspondente
ressalto hidráulico (ver fig. 2-18).
d) Inclinação crítica
É a inclinação do fundo do canal que permite que um dado caudal Q tenha uma altura uniforme de
escoamento igual à altura crítica.
(5) U = Q / (bh )
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Num escoamento com superfície livre a transição entre um regime rápido de montante e um regime
lento de jusante é feita através de um ressalto hidráulico.
O ressalto é caracterizado pelo número de Froude, tendo particular interesse para essa
caracterização o valor deste parâmetro calculado na secção a montante do ressalto.
Fr = U / gh = Q / bh gh
em que:
Fr1 ≥ 1,7
ou
Fr2 ≤ 0,6
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Q Q
U1 = U2 =
h1b h2b
Anote os resultados.
7- Calcule Fr1 = U1 / gh1 e Fr 2 = U2 / gh 2
Verifique se os valores obtidos estão dentro dos limites indicados.
8- Com os dados disponíveis é possível estimar a energia dissipada no ressalto.
As energias específicas (ver Experiência 2.13) a montante e a jusante do ressalto calculam-se
da seguinte forma:
U12 U 22
E 1 = h1 + E2 = h2 +
2g 2g
∆E = E1 - E2
Nas linhas de água naturais a energia dissipada no ressalto gera erosões indesejáveis no leito,
devendo este ser devidamente protegido na secção onde ocorre o ressalto por forma a evitar que o
leito seja danificado.
(*) A profundidade h1 é estimada quando a instalação não está em funcionamento por medição da
abertura a [m] da comporta. Aplica-se então a relação h1 = c.a, em que c ≈ 0,63 é o
coeficiente de contracção calculado experimentalmente.
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Quando é necessário alimentar uma tomada de água numa captação de água superficial por forma a
obter um caudal constante utiliza-se frequentemente um açude.
Este consiste numa pequena barragem que obriga ao aumento da cota da superfície livre da água a
montante.
Desta forma garante-se a carga hidráulica necessária a um funcionamento correcto da tomada de
água, independentemente do regime do escoamento.
O açude permite ainda que o caudal em excesso seja escoado por galgamento do seu coroamento.
O dimensionamento do respectivo descarregador é efectuado tendo em conta o caudal máximo que
se prevê venha a passar na secção da linha de água onde é construído.
A descarga através do descarregador deve ser, por segurança, efectuada com a lâmina líquida
aderente e sem contracção lateral.
Vários autores (Rebhock, Cregaer e outros) têm proposto vários tipos de perfil para o paramento
de jusante do referido descarregador; no entanto todos propõem um paramento de montante
vertical.
Estruturas semelhantes são por vezes construídas em linhas de água naturais, nomeadamente a
montante dos pilares de pontes. Provocam a separação entre o escoamento a montante e a jusante
do obstáculo, impedindo a propagação para montante do regolfo que estes podem provocar, o que
seria particularmente gravoso em situações de cheia.
Q = CA 2 gh
em que
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