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CASCAVEL
PARANÁ - BRASIL
SETEMBRO - 2016
AGRADECIMENTOS
Onde um volume de metano requer dois volumes de oxigênio, para produzir um volume
de dióxido de carbono e dois de vapor de água, assumindo-se que há 58 % de metano no
biogás e 21 % de oxigênio no ar. Logo 1,72 volumes de biogás necessitam de 9,52 volumes de
ar ou 1,0 volume de biogás para 5,53 de ar. Com isso, a razão estequiométrica para combustão
do biogás é 15,3 % de biogás no ar, ou seja, nessa proporção a combustão é completa. Em
situações onde a mistura for pobre em biogás e com excesso de ar, a mistura é chamada de
pobre. Quando há excesso de biogás em relação ao ar a mistura é rica.
Para detectar se uma mistura é rica ou pobre define-se o fator lambda (λ), que é a
relação entre a mistura ar combustível real (A/Creal) e a mistura ar combustível
estequiométrica (A/Cestequiométrica).
𝐴/𝐶𝑟𝑒𝑎𝑙
λ= (1.2)
𝐴/𝐶𝑒𝑠𝑡𝑒𝑞𝑢𝑖𝑜𝑚é𝑡𝑟𝑖𝑐𝑎
Nos motores de combustão interna existe a chamada sonda lambda, a qual tem por
objetivo, manter a mistura perto da faixa estequiométrica, evitando-se assim, um aumento do
consumo de combustível (mistura rica) ou perda de potência no motor (mistura pobre).
1.2.2 Poder Calorífico Inferior
Tabela 1.1. Peso específico e poder calorífico inferior do biogás em função da composição
química
O ciclo otto é usualmente representado pelo ciclo padrão a ar, o qual é considerado um
ciclo ideal, onde: o processo 1-2 é uma compressão isoentrópica do ar (1º Tempo); no
processo 2-3 o calor é transferido (q2-3) durante a ignição do combustível (no momento que o
pistão está no PMS); no processo 3-4 ocorre uma expansão isoentrópica e; no processo 4-1 há
a rejeição de calor (q4-1), enquanto o pistão está no PMI (WYLEN et al, 1998). A figura 1.4
mostra o processo descrito acima.
a) Rendimento total
Segundo Penido Filho (1991) e Dalbem (2008), o rendimento total de um motor de
combustão interna é dado por:
𝜂𝑇 = 𝜂𝑇𝑒 ∗ 𝜂𝑖 ∗ 𝜂𝑚 (1.3)
3600
𝜂𝑡 = 𝐶 ∗𝑃𝐶𝐼 (1.4)
𝑠
1
𝜂𝑇𝑒 = 1 − 𝜌𝑘−1 (1.5)
𝑁𝑒 = 𝑇 ∗ ω (1.6)
𝑁𝑒 = 𝑁𝑖 − 𝑁𝑒 (1.7)
A potência absorvida é aquela utilizada para vencer o atrito entre as partes mecânicas
em movimento (que efetua o bombeamento, aspiração e descarga) e acionar os órgãos
acessórios como: a bomba de óleo, alternador, bomba d'água, etc. A indicada é a potência
desenvolvida no interior do cilindro ocasionada pela combustão da mistura ar e combustível e
obtida por intermédio do ciclo indicado. (PENIDO FILHO, 1991).
A potência efetiva deve ser corrigida em função das condições ambientais: pressão
barométrica, teor de umidade do ar e temperatura ambiente. Essa correção, para o clico otto,
deve ser feita de acordo com a norma NBR ISO 1585 da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) (DALBEM, 2008).
Essa potência efetiva do motor depende do rendimento volumétrico (ηv), ou seja, quanto
menor esse rendimento menos potência o motor terá no eixo (DALBEM, 2008; PENIDO FILHO,
1991). A eficiência volumétrica é a relação entre a massa de ar que se encontra no cilindro, no
início da compressão, e a massa teórica que poderia estar, nas condições atmosféricas de
admissão. Se a aspiração fosse perfeita, todo o espaço liberado pelo pistão, ao deslocar-se do
ponto morto superior ao ponto morto inferior, seria ocupado pela mistura. Porém a massa de ar
admitido é sempre menor, no caso dos motores naturalmente aspirados.
Os fatores que influenciam na eficiência volumétrica são: perdas de carga no conduto
de admissão; tempos de abertura, fechamento e cruzamento de válvulas; temperatura da
mistura; pressão barométrica; percentagem de gás queimado residual contido na mistura,
inércia da mistura e rotação do motor (PENIDO FILHO, 1991). A relação a seguir é utilizada
para determinar o rendimento volumétrico:
𝑄𝑚
𝑛𝑣 = (1.8)
𝑊0
𝐶
𝐶𝑠 = 𝑁ℎ (1.9)
𝑒
a) Carburação
O misturador utilizado na maioria dos motores a biogás é do tipo venturi e é instalado
antes da entrada da mistura ar combustível na câmara de combustão. A figura 1.5 mostra um
sistema típico de mistura de gás natural ou biogás. O sistema é composto de um filtro, por onde
entra o ar (comburente), uma entrada de biogás para um misturador venturi, uma válvula para
controlar a entrada da mistura ar/combustível para o cilindro do motor.
O misturador venturi utiliza o princípio de bernoulli, da mecânica dos fluidos, onde o
fluxo de ar através de uma seção reduzida provoca uma queda de pressão facilitando a entrada
de um gás combustível e tendo como resultado a mistura ar combustível. A figura 1.6 mostra
um misturador venturi, onde c1 é a velocidade da entrada do venturi, cv a velocidade na seção
contraída do venturi, di o diâmetro do misturador na entrada do motor, dv o diâmetro da seção
contraída do venturi, ci a velocidade da mistura na entrada do motor (MITZLAFF, 1988).
4𝑉
𝐶𝑖 = 𝜋𝑑2𝑖 (1.10)
𝑖
𝑉𝑐 𝑛
𝑉𝑖 = 2000 η (1.11)
60 𝑣𝑜𝑙
𝐴𝑣 𝐶𝑣 = 𝐴𝑖 𝐶𝑖 (1.12)
𝜋𝑑2
𝐴𝑖 = (1.14)
4
b) Taxa de compressão
A razão entre o volume máximo do cilindro do motor e a câmara de combustão é a
chamada taxa de compressão ou razão volumétrica de compressão. Nos motores a gasolina a
taxa de compressão varia de 7 a 9:1 (MITZLAFF, 1988; SOUZA, 2004).
Os motores a gás (gás natural, biogás e outros) podem operar com uma taxa de
compressão mais elevada, quando comparado com a gasolina, entre 12 e 13:1. Isto é possível
porque o poder antidetonante do gás está ligado a concentração de metano (CH4), ou seja,
quanto maior a quantidade maior será a resistência a detonação. Para um motor a biogás a
taxa de compressão não pode exceder a 12:1, pois a composição do biogás não é constante e
isto pode levar a detonação em alguns momentos (ZAREH, 1998; CAÑAVATE, 1988;
MITZLAFF, 1988). Souza (2004) converteu um motor Volkswagem AP 1.8 L, com 4 cilindros e
90 C.V. para biogás e utilizou uma taxa de compressão de 12,5:1. Segundo Mitzlaff (1988) um
aumento de 7 para 10:1 resulta num aumento de potência no motor da ordem de 10 %.
A modificação na taxa de compressão consiste na usinagem da parte superior do
cilindro, com a diminuição da câmara de combustão. Esse processo é irreversível e, após
executado o motor não poderá operar mais com o combustível original.
O ponto de ignição tem que ser avançado, pois a velocidade da chama do biogás é
mais lenta (CAÑAVATE, 1988).
Os motores geradores a biogás podem ser utilizados em áreas rurais utilizando biogás
proveniente de biomassa vegetal ou resíduos animais, ou área urbanas com biogás de aterro
sanitário e sistemas de tratamento de esgoto industrial ou doméstico.
Existem sistemas em propriedades rurais instalados em todo o mundo para geração de
energia, os quais tem potência de geração entre 15 e 50 kW, alguns além de produzir
eletricidade para satisfazer a demanda da propriedade utilizam água quente proveniente do
calor de arrefecimento do motor (STAHL et.al, 1981; COPPINGER et al., 1978; KOELSCH &
JEWELL, 1982). No Brasil tem crescido continuamente a implantação de sistemas de geração
de energia elétrica na área rural, especialmente com resíduos da suinocultura e bovinocultura.
Na área urbana existem estações de tratamento de esgotos, onde há biogás liberado
dos reatores anaeróbios, as quais vem aproveitando o biogás para geração de energia elétrica,
como exemplo, na estação de tratamento da cidade de Iraklio na Grécia, há uma planta de
geração com capacidade de 194 kW (TSAGARAKIS, 2007).
O maior aproveitamento do biogás para geração de eletricidade localiza-se nos aterros
sanitários, cujo objetivo maior é a obtenção de créditos de carbono. No Brasil, existem dois
grandes aproveitamentos: a UTEB (Unidade Termelétrica de Energia Bandeirantes), localizada
no aterro Bandeirantes em São Paulo, com uma potência instalada de 22 MW e o aterro São
João em São Paulo com uma termelétrica de 24,6 MW (16 motores geradores da Caterpillar),
totalizando os dois empreendimentos 46,6 MW.
√3𝑉𝐼
𝑃𝑎 = 1000 (1.15)
A potência ativa (kW) pode ser obtida em função do fator de potência como:
𝑃 = 𝑉𝐼𝑐𝑜𝑠𝜑√3 (1.17)
Quanto menor o fator de potência, mais potência reativa é produzida (kVAr) e, maior
será a potência aparente em relação a ativa, o que demanda sistemas de distribuição de
energia com fiações de maior dimensão.
O rendimento de um gerador elétrico é a relação entre a potência elétrica produzida
(kW), potência ativa, e a potência mecânica absorvida no eixo do motor:
𝑃
𝜂𝑔 = 𝑃 (1.18)
𝑚
c) Sistema de partida
O sistema de partida é composto basicamente de baterias, motor de partida e
alternador. As baterias são de 12 ou 24 Volts, sendo que as de 12 Volts são para pequenos
geradores e as de 24 Volts grandes geradores. A bateria é conectada com um motor de partida
e devem ter capacidade suficiente para fornecer corrente para o giro do motor. As baterias
podem ser de chumbo-ácido ou níquel-cádmio. O motor gerador deve ter um alternador para
carregar a bateria ou um carregador com fonte externa. Em grandes grupos geradores utilizam-
se sistemas de partida com ar comprimido (CUMMINS, 2010).
f) Painel de controle
Os motores geradores de energia elétrica utilizam sistemas baseados em relés, e sua
função é controlar a partida do motor, operação do motor, fazer monitoramento, mostrar falhas
e fornecer indicações, medições e alertas para a interface com o usuário. Os geradores com
conexão à rede de energia elétrica (paralelismo) ou aqueles que demandam alto nível de
desempenho, melhor funcionalidade e outros, utilizam controladores com circuitos eletrônicos.
O sistema de monitoramento, controle e proteção (SMCP) do motor gerador devem incluir
vários avisos e alarmes de desligamento para proteção do motor gerador.
O motor de combustão interna (máquina primária) contém também os seguintes
elementos auxiliares: filtro de óleo lubrificante, filtro de ar com elemento seco recambiável,
sistema de ignição com velas, sensor de baixa pressão no óleo, sensor de temperatura de
resfriamento. Quando a pressão do óleo abaixa, o sensor manda um sinal para um controlador
que interrompe o funcionamento do motor. Quando a temperatura do fluido de arrefecimento
atinge 95 °C o sensor, manda um sinal para o controlador e o funcionamento do motor é
interrompido.
O desempenho de um motor gerador varia com a carga, ou seja, quanto maior a carga
do motor maior a eficiência total. A eficiência total pode ser calculada por:
𝑃
𝜂 = 𝑉∗𝑃𝐶𝐼 (1.19)
Fonte: GE-Energy (2011), Caterpillar (2011), Leão (2010), Biogás Motores (2011).
𝑃𝑇𝐸∗𝜂
𝑃𝑇𝐶𝐸 = (1.21)
100
𝑃𝑇𝐶𝐸
𝑃𝑂𝑇 = 𝐻𝑂∗𝑐𝑜𝑠𝜑 (1.22)
Aquele que pretende gerar energia elétrica deve apresentar um projeto elétrico a
concessionária de energia elétrica, para devida análise e liberação da mesma. O projeto deve
ser realizado por um profissional habilitado e atender as premissas exigidas pela
concessionária local de energia.
No projeto elétrico devem ser contemplados aspectos técnicos e de segurança de
acordo com os requisitos da rede. O projeto elétrico deve ser composto de diagrama unifilar da
instalação e descrição dos sistemas de medição e proteção, quadro de distribuição,
aterramento e proteção do gerador. Devem ser seguidas as normas da ABNT, NBR
14039:2003 e NBR 5410:2004 e normas de acesso de geração distribuída da concessionária
de energia ou similar.
b) Aterramento
Todas as partes metálicas não destinadas à condução de energia elétrica, tais como
carcaça do transformador, caixa para medidor, caixas para equipamentos de proteção,
aterramento dos para-raios, serão interligados através de cabos de cobre nu com seção de 35
mm2. O cabo de aterramento dos para-raios terá sua descida feita pela lateral do poste e a uma
altura de 3 m será protegido mecanicamente por eletroduto de PVC de 3/4”. O neutro do
transformador deverá ser ligado à malha de terra por meio de cabo de cobre nu com seção de
95 mm2.
O sistema de aterramento deve ser do tipo TN-C, sendo o neutro também o responsável
pela circulação das correntes de falta. A malha de terra será constituída por hastes verticais de
aterramento tipo copperweld, de 5/8” x 2,4 m e deverão ser interligadas por cabo contínuo de
cobre nu, de 35 mm2. A resistência a terra deverá ser inferior a 5,0 Ohm, em qualquer época do
ano e pelo menos uma das hastes de cobre deverá ser colocada em caixa de alvenaria para
inspeções e medições.
c) Quadro de proteção dos geradores
Conforme mencionado anteriormente, o Sistema de Monitoramento, Controle e
Proteção da unidade geradora será abordado no Módulo V.
Durante a instalação dos motores geradores, alguns detalhes importantes devem ser
levados em consideração, principalmente em relação à casa de máquinas.
O motor gerador deve ser alojado em local adequado, com boa ventilação e a
temperatura ambiente inferior a 40 °C. O local deve ser limpo e livre de ácidos e gases
alcalinos, e também aberto e protegido do tempo.
d) Fios condutores
Todos os fios condutores de eletricidade ligando o motor, o gerador e o painel de
controle devem estar enterrados numa canaleta de cabos elétricos.
BIOGÁS ENERGIA AMBIENTAL S/A. Aterro São João Energia Ambiental. Disponível em
www.biogas-ambiental.com.br, acesso em 23/03/2011.
KOELSCH, R.; JEWELL, W. Cogeration of eletricity and heat from biogas St.Joseph. ASAE
Paper, v. 82, n. 3621, 1982.
NISKIER, J., MACINTYRE, A. J. Instalações elétricas. Rio de Janeiro: Ed. LTC, 2000, 550p.
SEADI, T. A., RUTZ, D., PRASSL, H., KOTTNER, M. Biogas Handbook, Esbjerg, Denmark:
Published by University of Southern Denmark, 126p, 2008. Disponível em
http://lemvigbiogas.com, acesso em abril de 2011.
SOUZA, J. Desempenho de um motor de combustão interna ciclo otto operando com gás
natural e biogás. 2004. 85 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) –
Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
STAHL, J. R. et. all. An internal combustion engine fueled with biogás integrad ino na
etanol plant. ASAE Paper. N. MCR 81-202, 1981.
ZAREH, A. Motores a Gás. Lubrificação, Rio de Janeiro, v. 81, n° 04 , p. 2-4, 1998.